Oficina de alimentação viva e queijos crudíveros

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OFICINA DE ALIMENTAÇÃO VIVA E QUEIJOS CRUDÍVOROS Segundo a ciência arqueológica e a história humana ocidental, a criatura ancestral humana mais remota é a Australopiteque 1 que surgiu há 4 milhões de anos. Há 200 mil anos surge o Homo Sapiens Sapiens. E há apenas 10 mil anos surge a agricultura. Neste intervalo de tempo de quase 4 milhões de anos, humanes comeram alimentos crus, assim como quase todes animais. Nos últimos milênios passamos a cozinhar nossos alimentos utilizando o fogo. Nos últimos séculos aprendemos a refinar óleos, grãos e farinhas. Nas últimas décadas passamos a utilizar largamente os processos de conservamento químico e radioativo, os agrotóxicos e mais recentemente ainda os transgênicos. Pensando nessa perspectiva, perguntamos: o genoma humano (código genético) habituado há quase 4 milhões de anos a alimentação viva, consegue se adaptar tão rapidamente a essas mudanças alimentares decorrentes de um sistema econômico tão acelerado e poluente? O resultado dessa aceleração em nossos organismos é o envelhecimento precoce, a obesidade, a hipertensão, o câncer, a diabetes, as doenças degenerativas e outras patologias comuns da sociedade contemporânea. E enquanto esse processo de envenenamento alimentar e ambiental ocorre, a ciência médica ocidental oferece como solução métodos cirúrgicos invasivos, desenvolvidos por uma sofisticada e milionária indústria de equipamentos e instrumentos médicos, além de fármacos venenosos também produzidos em escala industrial. Nos últimos 10 mil anos de agricultura, as sementes cultivadas por humanes vem sendo amplamente difundidas pelo globo através de um processo de migração. Variedades adaptadas durante séculos e milênios podem ser encontradas em quase todos os continentes. Entretanto, por interesses econômicos, nas últimas décadas os processos de seleção de sementes por laboratório e mais recentemente a modificação genética, tem acelerado a variabilidade das sementes. Se antigamente nosso organismo foi gradualmente se adaptando a sementes que variavam naturalmente com o ambiente, será que conseguiremos em uma ou duas gerações nos adaptarmos a mudanças genéticas realizadas apenas para garantir interesses comerciais de grande escala? As respostas para os possíveis efeitos da alterações genéticas laboratoriais ainda são, 1 A língua portuguesa admite o uso do gênero para a designação de palavras. Na maré contrária desta premissa, é comum os escritos que se posicionam em questionamento a imposição sexista nas línguas, o uso da particula 'x' para abolir a generalização que favorece o gênero masculino em detrimento de outras possibilidades (ex. Humanx). Aqui nos propormos a particula 'e' para que a abolição da generalização seja pronunciável, extrapolando assim, a realidade escrita.

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publicamente, uma incógnita, embora biólogues e especialistas da medicina alternativa e convencional defendem radicalmente que os organismos geneticamente modificados (OMGs) são perigosíssimos para nossa saúde. Recentemente um estudo publicado na gabaritada biblioteca científica Public Liberary of Science revela que o DNA dos OMGs, como milho e soja são transferidos e assimilados pelo genoma humano. Atualmente, há a modificação genética declarada e a ocultada. No Brasil, quase todo milho e soja são geneticamente modificados. No caso do milho, foram registradas 397 variedades de milho criolo desde o seu surgimento como cultivo na região onde atualmente fica o México. Entretanto, com as variações genéticas induzidas pelo sistema capitalista, hoje há 12 variedades disponíveis em mercado, sendo que a principal disponível é um OMG e recebe mais agrotóxico que as outras – afinal, o milho laboratorial da Monsanto foi planejado justamente para resistir a mais aplicações de agrotóxicos. Um dos cereais mais importantes da humanidade é o trigo, que possivelmente se originou no centro da Ásia. Quando germinado ou utilizado como broto/grama, é uma semente extremamente saudável. Entretanto, suas versões não-orgânicas, trituradas e assadas em forma de pãozinho de padaria são quase uma bomba de amido para a saúde. Cientistas como Leila Oda, defensora da modificação genética e ex-presidente da Agência Nacional de Biossegurança, já afirmou publicamente que desde 2003, 80% do trigo mundial é obtido por mutação genética. Portanto, acreditamos que praticar a alimentação viva é, do ponto de vista do consumo, uma ação política que, entre outras coisas, questiona a lógica de capitalização, produção, refino e comercialização de toda a alimentação humana. Hoje, nossa alimentação é regulada pelos Estados e corporações que nos empurram uma verdadeira gama de RAÇÕES INDUSTRIAIS planejadas. Neste planejamento, com tanto conhecimento sobre os malefícios sobre a saúde, praticar a alimentação viva também é uma atitude transformadora para o corpo. Com saúde, não dependeremos de fármacos venenosos, de cirurgias açougueiras e da invalidez aposentadoria degradante que o estado planeja para seus habitantes. De fato, um mito precisa ser quebrado: dizem que nossa expectativa de vida está aumentando, mas aumentando em relação a qual período? Se compararmos o ser humano do século XXI com os trabalhadores do período da revolução industrial ou idade média, estamos vivendo mais. Mas quando se fala em sociedades tradicionais saudáveis e de expectativa de vida mais longeva que a ocidental muitas pessoas duvidam, afinal de contas, qual é a perspectiva histórica de saúde que nos contam desde que somos pequenos? Os laticínios e as carnes são altamente envenenados por antibióticos, vacinas e produtos químicos. O pretexto é que esses métodos aumentam a validade desses alimentos. Mas para que aumentar a validade? Para nossa saúde ou para as grandes corporações não perderem sua mercadoria tão rápido nas gôndolas dos supermercados excludentes aos mais pobres? Pensando na memória afetiva do nosso paladar que geralmente conhece todos esses produtos industriais comestíveis e não-alimentares, a alimentação viva precisa ser prazerosa e isso inclui a “simulação” de texturas e sabores. Por isso, pães vivos, queijos vivos e outros tipos de

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alimentos que são tradicionalmente cozidos - e atualmente processados - devem ser pesquisados para que possamos ter uma experiencia de vida alimentar mais alegre. A Alimentação Viva é rica em aminoácidos simples ao invés de proteínas de complexa digestão. É rica em carboidratos simples ao invés do cancerígeno amido em excesso. E é rica é ácidos graxos ao invés das gorduras saturadas e trans presentes largamente na alimentação industrial. A Alimentação Viva tem enzimas e combinações de minerais e vitaminas que evitam que esses processos ocorram. A Alimentação Viva é naturalmente mais alcalina, enquanto a alimentação industrial é extremamente acidificante. Estamos disponibilizando algumas receitas bem comuns na alimentação viva, como o Pão Essênio e os queijos fermentados de sementes oleaginosas maceradas. Estas receitas são ótimas para que possamos construir um cardápio mais amigável aos padrões alimentares estabelecidos. Incentivamos a livre adaptação das receitas ao gosto pessoal, você pode incluir temperos e ervas aromáticas no pão, queijo e molhos por exemplo. PÃO ESSÊNIO A receita deste pão remonta ao povo Essênio, que viveu na região da atual Palestina e que é descrito por historiadores da idade antiga, alguns deles romanos, que atualmente está sendo redescoberto através dos Manuscritos do Mar Morto. Os especialistas dizem que esses manuscritos, descobertos perto do Mar Morto no século XX, são evangelhos perdidos, e que um deles foi escrito ou translitera acontecimentos e diálogos da vida de Jesus Cristo. O Pão Essênio é um pão feito com trigo germinado, que apenas depois de ser germinado é triturado e desidratado ou “assado” na luz solar – atualmente esse processo também é feito em desidratadores de alimentos. Esse pão é muito saboroso e praticamente igual, em algumas questões de paladar, ao pão integral asssado que estamos acostumados atualmente. Para a germinação dos grãos de trigo é necessário deixá-lo imerso em água limpa e pura, por dois dias, lembrando sempre de trocar a água cerca de três vezes ao dia. A imersão na água irá proporcionar a liberação de alguns resíduos deixando o líquido escuro, é importante trocá-la sempre quando a água não estiver tão límpida. Depois de germinados você deve triturar os grãos num liquidificador ou processador de alimentos, e então adicione a pasta obtida numa forma, tabuleiro ou bandeja e ponha para desidratar no sol durante dois dias . REJUVELAC Para este fermentador natural podemos deixar o trigo recém germinado num recipiente com água por um período de 1 a 3 dias. Essa água retém as substâncias vivas do trigo e fermenta, formando este líquido fermentado que é o ancestral da cerveja, O rejuvelac é utilizado hoje na metodologia da alimentação viva diretamente como bebida isotônica, ou para fermentar sucos e dar origem a refrigerantes e bebidas alcoólicas vivas ou para fermentar sementes oleaginosas maceradas (hidratadas) e fazer queijos vivos.

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QUEIJOS VIVOS Para fazer Queijos Vivos basta ter um punhado de sementes oleaginosas maceradas e triturá-las bem com rejuvelac, limão, sal e opcionalmente missô. Depois, deixa-se esta pasta num pedaço de tecido Voil (“voal”) pingando o líquido excedente por um período de 8 horas até 48 horas. Depois de retirar a pasta do voal, ela estará fermentada, mais firme e pode ser guardada sob refrigeração por alguns dias. MOLHO DE TOMATE VIVO A partir de um punhado de tomates secos vivos (desidratados no sol), adiciona-se um tomate fresco no processador de alimentos ou liquidificador, o suco deste tomate será suficiente para dar o aspecto de molho pastoso e grosso. Sugerimos adicionar algumas ervas e temperos frescos para obtenção de tomate seco, como manjericão, salsa, coentro, cebolinho, alecrim, hortelã e afins. REFOLGADO VIVO A base de qualquer refolgado é o aquecimento a com a adição de gordura. Sabia que nosso calor interno pode ser utilizado para refogar vegetais? Podemos fazer couve, berinjela e demais vegetais refogados com óleo, sal e amassando bem com as mãos, por alguns minutos. Antes de amassar você pode adicionar ervas aromáticas, alho, cebola ou outros temperos e então usar o calor de suas mãos para refolgar os vegetais. O sabor do alho, por exemplo, é bem similar ao do alho refolgado no fogo. SALADA DE RAIZES VIVAS O amido não é nosso amigo. Largamente presente na alimentação tóxica e contemporânea, o amido – além das carnes, laticínios, açúcar, álcool e drogas licitas e ilícitas – causa alto teor de acidez orgânica. O sangue humano tem um pH que naturalmente varia entre 7,35 e 7,42. Entretanto, quando está ácido – abaixo de 7,35 – faz com que as hemoglobinas carreguem menos oxigênio para as células. O oxigênio que não é carregado corretamente fica “livre” no organismo, e forma os famosos “radicais livres”, que causam acidez em todo o organismo, envelhecimento precoce e doenças degenerativas como o câncer. Para fazer a salada de raízes vivas é necessário retirar delas o excesso de amido que as conservam, para isto basta ralar as raízes e deixar por algumas horas em água limpa, trocando-a quando estiver branca. Repita este processo pelo menos duas vezes. Esperamos que apreciem as receitas e que este material contribua para o questionamento da política alimentícia alienadora que estamos reféns. Nós da Alquimia Verde e da Dhuzati cremos que é importante pensar a alimentação não apenas para obtenção de uma melhor saúde, mas sobretudo como aspecto cultural e sociabilizante de realidades políticas antiautoritárias, exploradoras e desconectadas com o meio.

Bom apetite e Deliciem-se

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Para mais referências: LIVROS: Libertação Animal e Revolução Social Brian A. Dominik

Sem Açúcar – Com Afeto Sônia Hirsch

A Política Sexual da Carne Carol J. Adams

Regenerando sua Saúde pela Alimentação Rober Masson

A Dieta do Yin e do Yang João L. Curvo

Em defesa da comida Micheal Pollan

As Hortaliças na Medicina Doméstica Alfons Balbach

O Dilema do Onívoro Michael Pollan

Sugar Blues William Dufty

O Fim dos Alimentos Paul Roberts

Cem anos de Mentira: como proteger-se dos produtos químicos que estão destruindo a sua saúde Randall Fitzgerald

A alimentação do amanhã Hervé This

As conseqüências da modernidade Antony Giddens

Transgênicos: sementes da discordia José Eli da Veiga

VÍDEOS: Ouro Azul – A Guerra Mundial Pela Água Food Inc. The Corporation A História Das Coisas If A Tree Falls - A História da Frente pela Libertação da Terra

Revertendo a diabetes em 30 dias Um homem, uma vaca, um planeta Nossos filhos nos acusarão Sabe da verdade sobre o leite Sementes da Liberdade O Silêncio das Abelhas

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