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Índice
6 Entrevista 11 Editorial 14 Política 16 Educação 20 Economia 22 Segurança 26 Saúde 28 Imóveis 30 Esportes 34 Capa 40 Meio ambiente 42 Comportamento 44 O assunto é... 46 Cidades 58 Turismo 50 Tecnologia 54 Moda&Beleza 56 Cultura 62 Gastronomia
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Médico especialista diz que hospitais do ABC são referência
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Politicamente correto faz fumantes mudarem de hábitos
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Região abre espaço aos cursos paradesportivos
Colunistas 19
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Marcos Cazetta
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Wallace Nunes 4
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Patricia Bono
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Tamyres Barbosa
Ana Teresa Cury
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Luiz Paulo Bellini Jr.
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Celso Pavani
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Seguindo o ritmo nacional, ABC ganha novos empreendedores de sucesso
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O Assunto é... Política: presidente do Tigre diz que volta à linha de frente pelas mãos de Luiz Marinho
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O que impede o jovem atual de morar sozinho?
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São Bernardo realiza 2ª Feira Literária, voltada ao público infantojuvenil
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Roupas e acessórios Geek ganham força e marcam presença no mercado
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Entrevista
“A área de saúde no País é nociva”
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ndré Evaristo é um jovem médico, mas fala como se já tivesse anos de experiência. Sem pretensões políticas, este especialista em cirurgia da coluna diz que o sistema de saúde na região precisa melhorar, mas afirma que muitos hospitais públicos e privados fazem o que podem para dar um tratamento melhor para a população. Em entrevista à Leia ABC, ele faz um diagnóstico da região, critica as operadoras de planos de saúde e ainda diz que a classe precisa entender que “unida pode mudar de fato o sistema, que é deficitário há séculos”. Wallace Nunes - wallace@leiaabc.com
Leia ABC – Como está o serviço médico no ABC? André Evaristo (A.E.) – É preciso dar dois caminhos. O serviço privado e o público. A começar pelo segundo, e o que vou falar não é novidade, que deixa muito a desejar. Tanto em volume de atendimento quanto na complexidade dos procedimentos. Mas há hospitais públicos na região, como o Mário Covas, cuja direção faz o melhor para atender de forma mais adequada a população. Em relação ao público, entendo que estamos muito próximos ao que há de melhor na capital. Leia ABC – E nos privados? A.E. – Temos hospitais de alta qualidade e referência, como o Cristóvão 6
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da Gama (em Santo André), que presta um bom serviço ao cidadão. Leia ABC – Nos últimos anos, a demanda aumentou muito, pois várias pessoas adquiriram planos de saúde. Como é possível atender a todos sem problemas? A.E. – É possível absorver todo o público para qualquer tipo de tratamento, desde que não se tenha um impedimento por parte do governo e das operadoras de planos de saúde. Leia ABC – Como assim? A.E. – Nos dias atuais, encontram-se impedimentos, principalmente, das operadoras. Elas se recusam a prestar atendimento para procedimentos considerados complexos, porque sabem que terão prejuízo com isso. Leia ABC – Mas o valor pago para os planos de saúde não é o suficiente? A.E. – Muitos planos de saúde não cobrem situações complexas de todos os tipos. Leia ABC – As operadoras não cobrem, por quê? A.E. – Algumas cobrem, outras não. Depende do plano e da operadora. O fato é que pacientes hoje são obrigados a recorrer a liminares na Justiça para que consigam fazer os procedimentos. E, quando não encontram alternativas, recorrem aos SUS. Mas nem sempre isso é possível, pois, para alguns casos, não há equipamentos necessários para cirurgias complexas.
Leia ABC – Por que você acha que acontece isso? A.E. – O momento atual é complicado. A área de saúde no país é nociva para a população. Há uma mistura de interesse comercial e ganho excessivo com saúde. As operadoras cada vez mais estão propensas a aumentar suas margens de lucro, independentemente da qualidade dos tratamentos ou do que está sendo oferecido para os pacientes. Leia ABC – Isso não faz parte do capitalismo? A.E. – Minha opinião é que não se deve brincar com isso. A saúde do indivíduo tem de estar em primeiro lugar, e não ser baseada em lucro. Mas sim na necessidade do paciente, para que seja realizado o que for necessário, independentemente do custo. Leia ABC – Mas esses problemas existem há anos e só ganharam mais notoriedade porque a situação atual da saúde já foi pior. A.E. – São frequentes as punições que algumas operadoras estão tendo por causa do mau atendimento. A ANS (Agência Nacional de Saúde) tem recebido inúmeras queixas quanto à falta de qualidade dos planos de saúde em relação aos atendimentos. A crítica às operadoras de saúde vêm tanto da população quanto dos profissionais. Leia ABC – Explique melhor A.E. – Hoje a operadora credencia o médico que ela acha que é conveniente
para a rede de atendimento. No caso de o médico sair padrão, exigido pela operadora, ele perde o credenciamento. Acontece que muitos vivem desse credenciamento. Leia ABC – Então os dois lados são reféns das operadoras de saúde? A.E. – Sim. A população, que reclama da qualidade do atendimento, dos altos preços que são pagos sem que se tenha a garantia de que fará o procedimento, e ainda os médicos, que vivem sob pressão para baixar os custos dos tratamentos. Leia ABC – E de quem é a culpa? A.E. – Não quero dizer quem são os culpados, mas está claro que há falta de leis que determinem exatamente como é que deve funcionar o sistema de saúde no país. Leia ABC – Como reverter esta situação? A.E. – É difícil. As operadoras de saúde são empresas monstruosas, com enormes margens de lucros. Elas fazem um forte lobby junto aos políticos em Brasília. Por exemplo, nesses últimos tempos tivemos a punição das operadores, sendo proibidas de vender planos até que fossem regulamentadas as normas do sistema de saúde.
Camila Bevilacqua
Leia ABC – Mas a Agência Nacional de Saúde (ANS) não tem fiscalizado de maneira adequada? A.E. – A ANS tem tomado medidas que objetivam melhorar o atendimento das operadoras, mas estas empresas têm ganhado liminares na Justiça e muitas vezes revertem o caso. Repito, o lobby que as operadoras fazem às vezes é muito maior que a capacidade de organização da classe médica para resolver o problema. Leia ABC – Mas, se os médicos se juntassem, isso não poderia ser revertido? A.E. – Eu acho que a classe médica é desunida. Se muitos entenderem qual é o poder político da nossa | Outubro de 2013 7
Entrevista profissão, pois há um contato diário com o paciente, teríamos mais atitude para melhorar a saúde no Brasil. Mesmo sendo médico, entendo que ainda não compreendemos o poder que temos de barganha. Hoje o médico atende em torno de 40 a 50 consultas por dia. Leia ABC – Qual é o salário de um médico nos dias atuais? A.E. – Plantão médico por 12 horas de trabalho no serviço privado gira em torno de R$ 1 mil a R$ 1,5 mil. No serviço público, o valor sobe para R$ 2 mil ou R$ 3 mil, mas a carga de trabalho também sobe e chega a 20 horas semanais. Leia ABC – Não é o suficiente? A.E. – Não. O salário de um médico deve ser equiparado a um salário de um juiz do STF (Supremo Tribunal Federal), juntamente com um plano de carreira, no caso dos médicos que atuam no serviço público.
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Leia ABC – Não é corporativismo da sua parte? A.E. – Por quê? Mostre-me um médico formado e com residência que estudou menos do que um juiz? O que ocorre é que ninguém entende o valor de um médico para a população. Leia ABC – Qual é a sua opinião sobre a chegada dos médicos estrangeiros? A.E. – Hipócrita. Esta medida dá a entender para população que o problema da saúde no país é a falta de
“O problema não é a falta de médicos e sim de estrutura e pagamento para profissionais da saúde”
médicos. Não é. O problema é a falta de pagamento adequado tanto para os médicos quanto para os outros funcionários da área da saúde. Falta de estrutura, de higiene e de asseio. Este é o grande problema. O fato de trazer profissionais externos para atender em áreas remotas não vai resolver o problema da saúde, porque o profissional vai atender no Acre, numa sala que tem mofo, que não tem medicação. Totalmente sem condições de trabalho. Leia ABC – É possível fazer uma estimativa de custo para a cirurgia intrainvasiva? A.E. – Para o procedimento invasivo, o tratamento da dor, de nucleoplastia e rositomia, mais o custo de material, gastam-se R$ 20 mil a R$ 30 mil. Ainda tem o custo da internação hospitalar, que gira em torno de R$ 5 mil a R$ 6 mil, e finalmente os honorários do médico, o que depende de quanto ele pode cobrar.
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Editorial
Convocação Um veículo de comunicação é o que tem mais poder no mundo democrático. Veicular notícias de interesse para a população, seja de um bairro, de uma cidade, de um estado ou do país, é sempre uma maneira de mostrar o que há de bom ou de errado nestes lugares. Na região, diversos veículos tentam passam a informação do cotidiano dos fatos. Alguns se sobressaem pelo tipo de cobertura, outros pela maneira como impõem (sim, isso mesmo) a notícia. A
não é apenas mais um veículo que quer passar informação. Como
periódico mensal de atualidades, fazemos o máximo para colher a cada mês as notícias mais importantes para o leitor, sejam relacionadas a um fato corriqueiro ou a um de grande importância. Dou exemplos: Gastronomia e Cotidiano. No primeiro, temos feito “a prova dos nove” e afirmamos que a região do ABC tem o que há de melhor no quesito comer bem. Restaurantes, bistrôs e quiosques, entre outros lugares, mostram que a comida das sete cidades da região do ABC não deixa a desejar para os melhores lugares da capital. No que se refere ao dia a dia, mostramos o que pode ser melhorado ao publicarmos fatos relevantes e de assuntos de interesse para você leitor, além de apresentar as virtudes do que há aqui. Mas o recado serve também para outras posições. Por isso, nós da equipe editorial convocamos você, leitor e formador de opinião, a participar. Leia, opine, questione, curta e mostre que está engajado a tornar sua cidade melhor em todos os aspectos. Estamos prontos para fazer o melhor e para tanto entendemos ser necessário uma maior exposição e participação efetiva dos nossos leitores. Nosso email: redacao@leiaabc.com Aguardamos opiniões e sugestões. Obrigado e boa leitura!
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Mirante
Wallace Nunes Jornalista wallace@leiaabc.com
...trocou de partido. Para se lançar candidato a deputado federal no ano que vem o ex-prefeito de Santo André trocou de legenda. Nos primeiros dias de outubro se filiou ao PSB do governador e pré-candidato presidencial Eduardo Campos e da ex-ministra Marina Silva. O médico andreense vai ter que se rebolar para se eleger, pois precisará de muitos votos e torcer para que as estrelas “puxadas de votos” não disputem o pleito. Fotos: divulgação
Concorrência por votos será forte
Correto Fabio Picarelli, presidente da seccional da OAB de Santo André, agiu de forma coerente ao anunciar que não vai disputar nenhum cargo político no pleito eleitoral do ano que vem e continuará à frente da entidade. A atitude foi considerada um passo de grandeza por muitos políticos da região.
Advocacia vem primeiro
Elogios ao parceiro O prefeito Carlos Grana (PT), de Santo André, me disse pessoalmente que anda contente com o trabalho do secretário Paulo Serra (PSD). “Baita dum parceiro. Quem disser que há algo de errado, quero que fale, pois até o momento meu governo está, sim, se dando muito bem com os membros dos partidos coligados (sic).”
Camila Bevilacqua
Aidan Ravin, o agora socialista...
Pronto para mais parceiras
Apoio do sindicato na região
Barba na corrida Barba, pré-candidato petista à Assembléia Legislativa, tem feito visitas aos amigos. Uma dessas visitas aconteceu no Força Viva, uma sociedade de amigos da terceira idade onde toda semana são realizados diversos eventos para entreter pessoas acima dos 60 anos. Um dos comandantes da entidade é o advogado e presidente do conselho Valdir Tirapani.
Em maus lençóis José Auricchio Jr., o secretário estadual de Esportes, ainda diz que é candidato a deputado estadual, mas nada tem feito para fazer valer sua candidatura. Até o momento não há nada. Ah, desculpem-me, há sim: uma denúncia contra sua pasta de que é acusada de cobrar “pedágio” para a aprovação de projetos. O valor seria de cerca de R$ 35 mil. A denúncia foi feita pelo empresário Jorge Martins Muzy. O empresário carioca apresentou projeto na secretaria em setembro de 2012 para promoção de uma corrida de kart. O empresário queria autorização para captar R$ 800 mil para viabilizar o evento. Auricchio Jr. nega de forma efusiva a afirmação.
Problema na época de eleição
Bobagem da Rede Ao contrário do que disse um jornal de circulação na região, a Rede de Sustentabilidade, o quase partido da ex-ministra Marina Silva, não teve nenhuma assinatura rejeitada no ABC. Segundo e-mail da Justiça Eleitoral para meu e-mail, nada tem a ver com assinaturas que não deram certo na região.
Ajudar o governador na região
Eliminando um cancro O prefeito de Mauá, Donisete Braga, anunciou que a administração municipal retomou o controle do serviço de transporte coletivo púbico da cidade. A medida foi anunciada após o Tribunal de Justiça de São Paulo cassar liminar que autorizava uma das empresas que atuam na cidade atualmente a explorar o lote 2 do transporte em Mauá. A prefeitura poderá agora implantar um sistema de transporte moderno, com investimentos na construção de novos terminais rodoviários e abrigos de ônibus, além da integração com os trens e tarifa mais justa.
Tucano sempre
Donisete se diz feliz com a medida
Orlando Morando, deputado estadual e candidato à reeleição pelo PSDB, não cogita mudar de partido, apesar das sérias disputas internas dentro da legenda em São Bernardo do Campo. Na sua leitura, ele é o único político que pode realmente ajudar o governo Geraldo Alckmin a ter um aumento de votos na região e fazer frente ao PT. “São todos membros do partido e eu os respeito”, teria dito o deputado aos correligionários.
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As especulação sobre os rumos do governo por causa das várias mudanças em pouco tempo
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Wallace Nunes - wallace@leiaabc.com
ão Caetano do Sul, o município com o maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do país, parece que está sem governo. Explica-se: o prefeito Paulo Pinheiro está com grande dificuldade para governar a cidade. Desmandos e ingerências do secretariado, aliados ao fato da falta de caixa para pagar as necessidades básicas, geraram certa confusão na administração. Para piorar, uma reforma administrativa anunciada no mês passado, para ocorrer nos meses subsequentes e dar mais dinamismo ao governo, naufragou. E agora o que se vê é o desembarque de pessoas importantes, como os secretários Eduardo Casonato (Chefia de Gabinete) e Jarbas Zuri (Planejamento e Gestão). No fim de março, Marcos Dal’Mas deixou a Ouvidoria Municipal, após conflito entre sua mulher, a vice-prefeita Lúcia Dal’Mas (PMDB), e o chefe do Executivo municipal. Considerado o homem forte do governo do prefeito peemedebista, Zuri, que foi coordenador de campanha de Pinheiro, alegou motivos de saúde para deixar o governo. “Farei uma cirurgia vascular e a recuperação vai demorar. Além disso, quero estar bem para o ano que vem. Vou me dedicar a várias campanhas, como a de Nilson Bonome, pré-candidato a deputado estadual pelo PMDB de Santo André, de Michel Temer, vice-presidente da República, e de Paulo Skaf, pré-can-
Paulo Pinheiro: nem as medidas para conter os efeitos do passivo ajudaram 14
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Carro desgovernado? didato ao governo do Estado”, alega. Fontes governistas na Câmara entendem que a saída de pessoas importantes do primeiro escalão do governo demonstra “claramente” que há falta de sintonia no paço municipal. O problema da insatisfação começa com a vice-prefeita. Rebelada desde março, Lúcia Dal’Mas comenta nos bastidores que anda temerosa com os rumos do governo Pinheiro. “Não tirou o pé do freio desde que assumiu”, teria dito ela para um vereador membro da bancada governista que, em entrevista à LEIA ABC, pediu anonimato. Professora licenciada, Lúcia Dal’Mas fora escolhida para o cargo
Divulgação
Política
apenas por causa de uma pesquisa de intenção de voto à época. Nos bastidores do Palácio da Cerâmica, suas declarações polêmicas não têm sido levadas a sério, pois, segundo comentários, é “uma vice que não atrapalha”.
A filha
O temor maior é a filha de Paulo Pinheiro. Considerada a verdadeira artífice da campanha e real articuladora, Gislene (Gera) Pinheiro é muito ouvida pelo pai. Assuntos dos mais diversos dos rumos de seu governo são tratados nas fileiras da família Pinheiro. “Isso demonstra que o círculo de pessoas em que ele confia é muito restrito. Talvez seja por isso que haja certa ciumeira de altos membros do secretariado a respeito da filha”, conta o vereador governista. Ainda assim, todos têm ciência de que a insatisfação da população com os rumos da cidade, que está sob o comando do PMDB, não tem surpreendido ninguém. Entre os moradores, o que se comenta é que o governo é inoperante e está paralisado por causa das centenas de obras herdadas do governo José Aurichio Jr. (PTB), mas tal fato não se justifica, haja vista que era preciso fazer um esforço para que ao menos fosse possível mostrar à população a cara do governo do peemedebista. Paulo Pinheiro tomou algumas medidas para conter os efeitos do passivo, como o pagamento de pendências na área de esporte, e cortou ao máximo em todas as áreas. Também excluiu as gratificações e horas extras dos funcionários comissionados, o que rendeu uma economia de dinheiro mensal significativa.
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Educação
Lívia Sousa - livia@leiaabc.com
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e há uma profissão em que a frase “matar um leão por dia” se encaixa bem, certamente é a de professor. Aliás, dois ou mais “leões” diários, pois para transmitir conhecimento os profissionais enfrentam problemas ainda sem solução. A lista de questões a serem resolvidas é mais complexa do que se imagina, indo de itens discutidos com frequência, como a precária infraestrutura no ambiente de trabalho e o baixo salário, à violência nas salas de aula, que nos últimos anos despertou preocupação entre os docentes. De acordo com uma
pesquisa divulgada pelo Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo, 44% dos 1.400 profissionais entrevistados afirmaram já ter sofrido algum tipo de afronta em sala de aula e 57% deles consideram as escolas um lugar violento. Na região do ABC, um dos casos de violência brutal no ambiente escolar e que ganhou repercussão nacional ocorreu em setembro de 2011, em São Caetano do Sul, quando um aluno do quarto ano da Escola Municipal Alcina Dantas Feijão baleou uma professora. Após atingir a profissional na altura do quadril, o garoto de 10 anos atirou duas vezes contra a própria cabeça. A docente sobreviveu, mas o estudante morreu no hospital. Práticas semelhantes comprovam que a ação se tornou comum dentro das salas de aula. “Um aluno da quinta série levou uma faca, mexeu com algumas pessoas e ainda disse que ia me matar. Fiquei decepcionada por ter vivenciado isso depois de 19 anos de profissão”, desabafa a professora de geografia L.V., de 42 anos, em entrevista à Leia ABC. A profissional, que prefere não se identificar, leciona em duas escolas da região, sendo uma pública e
Shutterstock
Uma das profissões mais importantes do mundo, a atuação como professor pode estar com o fururo comprometido: segundo especialistas, o interesse pela atividade diminuiu
outra particular. Conhecendo “os dois lados da moeda”, ela garante que o nível de qualidade entre as instituições se iguala, contrariando o que é repetidamente especulado pela mídia. “Se você pensa que na instituição particular está diferente, não está”, assegura.
Muitos deveres, poucos direitos
Camila Bevilacqua
Considerados arquitetos da mente humana, os professores já tiveram dias de prestígio no Brasil, com antigos profissionais garantindo que trabalhar na área era sinônimo de respeito, poder e até status. Apesar de ainda figurar entre as profissões mais importantes do mundo, no Brasil a desvalorização da categoria passou de temor a uma realidade cada vez maior. “Temos que começar a provocar a sociedade e fazer com que ela volte a olhar o docente de uma maneira diferenciada”, afirma José Jorge Maggio, presidente do Sindicato dos Professores do
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Educação como mercadoria preocupa José Maggio
Qualidade versus lucro
ABC (Sinpro ABC), entidade que conta com aproximadamente três mil filiados. Com a responsabilidade de formar um cidadão crítico, a professora L.V. esperava ter mais espaço para fazer a diferença na sociedade quando chegou às salas de aula. “Com o passar do tempo, percebi que isso não depende só da minha vontade”, explica ela, que fez magistério após cuidar de crianças na escola de uma igreja, aos 12 anos. Bem diferente das expectativas, quem mergulha na profissão se depara com um contexto desfavorável, como o defasado piso salarial da categoria, uma das principais queixas dos docentes em greves e protestos. São R$ 1.576 mensais por oito horas diárias de trabalho aos profissionais da rede pública, que na prática cumprem uma jornada ainda maior e são desrespeitados inclusive pela chamada Lei do Piso – que estabelece, entre outras condições básicas, um terço da carga horária para o preparo da aula ministrada em sala. Maggio garante que o volume de trabalho é ainda mais intenso entre os
professores das redes privadas de ensino superior, com o agravante de não contarem com um piso salarial definido. “As escolas particulares se renderam às novas tecnologias e, por conta disso, os professores estão trabalhando muito. Eles passam um determinado tempo com o aluno e também trabalham a distância, sem remuneração, com a correção extra de provas e atividades”, diz. Além do baixo retorno financeiro, os profissionais da educação também lutam pelo direito a dois planos: o de saúde, inexistente aos profissionais das escolas públicas e fornecido em condições básicas aos docentes das redes privadas; e o de carreira, que dá margem ao sentimento de injustiça entre a categoria com novatos e veteranos recebendo o mesmo salário. “Não adianta mais ser aquele professor que faz o curso, coloca o diploma embaixo do braço e acha que vai ser a mesma coisa. Os alunos estão muito diferentes e você tem que se atualizar para acompanhar o ritmo deles. Se você estuda e se prepara para isso, deveria receber mais”, argumenta L.V.
Se o salário não supre a longa jornada de trabalho desses profissionais, as condições oferecidas no ambiente de trabalho também não atendem às expectativas. Tanto as escolas públicas como as privadas deixam a desejar no quesito infraestrutura, ferramentas para a realização de atividades práticas e superlotação em sala, prejudicando o andamento das aulas (nas instituições públicas brasileiras o número de alunos em sala chega a 50, enquanto no Japão, por exemplo, são apenas dez estudantes no mesmo espaço). “Se de repente você perceber que tem jovens talentosos em música ou em qualquer outra atividade, as instituições não estarão preparadas para desenvolver esse lado do estudante”, afirma o presidente do Sinpro ABC. Testemunha da precariedade das instituições onde trabalha, L.V. revela que nos últimos tempos as escolas públicas ofereceram ferramentas mais modernas aos docentes (como o tablet), mas não o acesso à rede sem fio, o que impede o uso do aparelho. Já na instituição particular onde atua, é a falta de organização que atrapalha: as aulas de informática quase nunca ocorrem no laboratório, seja por conta dos equipamentos que não funcionam e ficam constantemente sob os cuidados de técnicos, ou simplesmente pela falha no sinal da internet. “É como se o laboratório não existisse”, diz ela, assegurando ainda que o ensino privado tornou-se um “baú de dinheiro”. Aliás, a mercantilização das instituições particulares é vista por Maggio como um perigo que também atinge as universidades privadas do país, inclusive algumas da região do ABC. Para ele, o método de ensino adotado por elas – que trabalham com o chamado currículo mínimo, evitam contratar professores doutores (mais caros) e contam com turmas de até 130 estudantes por sala – pode prejudicar a formação de futuros professores. “No Brasil não existe regulamentação do ensino superior privado e até o momento o Ministério da Educação (MEC) não se preo| Outubro de 2013 17
Camila Bevilacqua
Educação
Maísa Altarugio, da UFABC: classe docente precisa se unir cupou em fazer qualquer tipo de regramento. Precisamos lutar para fazer valer a educação como uma mudança, uma questão de soberania social”, comenta. Na opinião de Maisa Helena Altarugio, especialista em educação da Universidade Federal do ABC (UFABC), há tempos a escola deixou de ser um local privilegiado para se adquirir conhecimento e, na maioria das vezes, os ensinamentos lá transmitidos não condizem com os problemas reais enfrentados pelos alunos, o que torna as aulas desmotivantes. “Por isso a necessidade de termos profissionais bem formados e atualizados em sala de aula, que transformem a instituição em um lugar de sentido para estudantes e docentes”, diz ela.
Futuro da profissão
Apesar da paixão e da vocação, muitos professores decidem abandonar a profissão. Dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) mostram que, de 2007 para 2009, 522.576 profissionais da educação básica no país desistiram das salas de aula, passando de 2.500.554 para 1.977.978 docentes em atuação. Outra pesquisa, feita pela Fundação Victor Civita, também mostra 18
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que o futuro da profissão é preocupante. De acordo com o documento “Atratividade da Carreira Docente no Brasil”, somente 2% dos alunos do ensino médio se interessam em seguir a carreira. Maísa Helena garante que nem mesmo o aumento da oferta de cursos de licenciatura nos últimos anos pelo governo federal tem atraído os estudantes. “Outros esforços, como o Programa de Bolsas de Iniciação à Docência (PBID), do qual a UFABC faz parte, têm colaborado muito na formação inicial de licenciandos, mas não é suficiente para atrair e manter os alunos na profissão”, completa a especialista. Apesar disso, os especialistas
acreditam que o quadro pode ser revertido. Maggio frisa que, para se chegar ao objetivo, alguns pontos devem ser revistos pelo governo, como o percentual do Produto Interno Bruto (PIB) destinado à educação – que depois de discussões na Conferência Nacional da Educação (Conai) passou de 5% para 7,5%, e com as mobilizações sociais a perspectiva é de que chegue a 10% em 2020 – e o fim da aprovação automática pelas instituições públicas. “O conteúdo passado em sala é meio que já estabelecido, vem pronto. O material chega dizendo como você deve cumprir e fazer, mas o professor que está ali todos os dias e lida com a educação normalmente não é ouvido”, comenta Maggio. Além dos encaminhamentos já citados – como melhores salários e plano de carreira satisfatório –, condições adequadas para a formação inicial e continuada, a coletividade e união da categoria, muitas vezes desunida em sua luta diária, também devem ser discutidas. “Os professores precisam de apoio incondicional dos gestores da educação, em todos os níveis, desde a sua unidade escolar até os mais altos escalões. Evidentemente, não podemos considerar que apenas as condições externas ao professor são as responsáveis pela sustentação da profissão, mas é fundamental que ele também reflita sobre a sua própria prática, sobre o significado do ser e do estar na profissão”, frisa Maísa Helena.
Mês do professor No Brasil, em 15 de outubro comemora-se o Dia do Professor. A data surgiu após Dom Pedro I decretar, no mesmo dia de 1827, a criação das primeiras escolas primárias em toda vila, cidade ou lugarejo do país. Naquela época, o ensino incluía as disciplinas leitura, escrita, as quatro operações matemáticas e noções de geometria (para as meninas, esta última era substituída por prendas domésticas como culinária, bordado e costura). A commoração do Dia do Professor teve início em 1947, na cidade de São Paulo, quando o professor Salomão Becker propôs uma reunião com a equipe da escola em que trabalhava para discutir, entre outros assuntos, os problemas da profissão e o planejamento das aulas. Com o sucesso do encontro, outras instituições passaram a adotar a data e, 16 anos depois, o dia 15 de outubro se tornou feriado escolar.
Seu bolso
Os templos de consumo do ABC
J
á estamos no mês de outubro, fim de ano chegando e com ele as festas de fim de ano, décimo terceiro aumentando a renda das famílias e, com isso, o aumento das vendas do comércio.Na região do Grande ABC não é diferente. No entanto,neste ano teremos mais opções para nossas compras de fim de ano. Os reflexos da alta na economia brasileira nos últimos anos ainda podem ser observados na região. Com a forte expansão do setor imobiliário, o comércio tende a se expandir para atender a estes novos habitantes. Prova disso tem sido a abertura de novos shoppings centers por todo o ABC. Tivemos a abertura do Park Shopping São Caetano e do São Bernardo Plaza Shopping, além do Golden Square e do Atrium Shopping, que estão prestes a abrir suas portas.
Para quem tem grande apetite para as compras, estes novos centros comerciais serão um prato cheio, pois trarão novas marcas para o mercado regional, aumentando assim o número de opções para escolha do consumidor. Além disso, o aumento da quantidade de lojas vendendo produtos similares aumenta a competitividade. Aí esta o segredo do sucesso! É hora de o consumidor pesquisar e pechinchar, para garantir a qualidade e o preço mais baixo. Olhando por outros aspectos o 'que esses centros comerciais trazem para a região, podemos destacar o aumento no número de empregos que a inauguração de um shopping center traz. Segundo estudo publicado pela Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), os municípios que recebem a instalação de um shopping de porte médio têm um crescimento de 34% no número de postos de trabalho, ante14% nas cidades que não possuem shopping, estes postos são gerados não somente pelas lojas, mas também pelo desenvolvimento de empresas que se desenvolvem em seu entorno. A valorização imobiliária também é outro ponto a ser destacado. O estudo da Abrasce também informa que a valorização dos imóveis localizados no entorno dos shoppings podem ser 46% superior aos das demais localidades. Portanto, vale a pena aproveitarmos esta onda positiva gerada por estes novos templos de consumo, seja comprando produtos por preços mais baixos, seja aumentando a rentabilidade do nosso patrimônio ou até mesmo alavancando a carreira profissional! Camila Bevilacqua
Divulgação
Marcos Cazetta Economista e especialista em finanças pessoais marcoscazetta@hotmail.com
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MonaVie: garantia de idoneidade e atuação com marketing multinível
Fotos: Divulgação
Economia
Reuniões são usadas para atrair novos “membros”
Pirâmides na mira Empresas com promessas de altos lucros, horários flexíveis e empreendedorismo são investigadas por enriquecimento ilícito
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Especial para Leia ABC Mohamed Waleed
proposta de se tornar dono de um negócio em que é possível escolher os horários de trabalho e ainda lucrar muito e de forma rápida nem de longe é nova, mas continua atraindo pessoas. Em geral, essas companhias angariam colaboradores pela internet e em reuniões de apresentação com promessas de altos lucros para atuar com vendas de VOIP (serviço de telefonia de voz via internet), rastreamento veicu20
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lar, cosméticos e aparelhos eletrônicos. “Ninguém mais quer ter chefe”, afirma Enio Garcia, membro do grupo TelexFree, empresa de telefonia que, segundo ele, movimenta cerca de R$ 160 bilhões só no Brasil. O problema é até onde todas as promessas são verdadeiras, já que muitas vezes o negócio pode não trazer os resultados esperados. Nos últimos meses, empresas de marketing multinível – entre elas a TelexFree e a BBom – entraram na mira de investigações da Justiça Federal. A suspeita é que essas companhias estejam praticando o sistema de lucro pirâmide, proibido no país. Segundo o advogado Thiago Anastácio, a diferença entre os dois tipos de negócio é difícil de vislumbrar. O marketing multinível funciona em uma rede fechada de caráter recíproco, de venda e compra de pro-
dutos, que visa angariar sempre novos compradores, que virarão vendedores. “Por exemplo, o cidadão João entra na rede comprando o produto “xis”. Ele passa a ser do grupo de compradores do vértice José, que lhe vendeu o produto. Quando João conseguir compradores e futuros vendedores para os produtos, ele criará o seu próprio grupo de novos compradores trazidos por ele”, explica Anastácio. Na situação hipotética, José lucraria ainda mais com as vendas de João e de seu novo grupo, afirma o advogado. Já no sistema pirâmide, em vez de lucrar com os produtos, o lucro é do mercado de capitais e dos investimentos que os novos integrantes fazem. As taxas de adesão estão entre as fontes de renda dessas empresas. Segundo Anastácio, existe um rendimento exacerbado nos primeiros meses, com “taxas estratosféricas” e
BBom: taxa de adesão de R$ 600
o desaparecimento do lucro nos meses subsequentes. “Além, é claro, do sistema organizacional de captação de novos investidores, tendo como público-alvo grupos que são escolhidos pela capacidade de capital e que recebem panoramas de lucros incabíveis pelas regras do mercado”, acrescenta. Membro da TelexFree, Garcia diz que a empresa não atua como sistema de pirâmide, mas sim como marketing multinível. Pessoas dedicadas e com tempo livre para desenvolver o negócio caracterizam o perfil dos colaboradores. Para iniciar na empresa é feito um cadastro ao custo de US$ 50 por uma franquia de contas VOIP. A pessoa começa então as vendas do serviço de telefonia e pode indicar amigos para ganhar comissões. Ele, que já indicou 17 amigos, afirmou que é possível obter sustento financeiro e até enriquecimento, o que depende basicamente do empenho de cada um. “Não é como a forma convencional em que você se esforça na empresa e quem sobe de cargo é o amigo do chefe”, afirma. Outra empresa que conquista cada vez mais adeptos no ABC é a Monavie, especializada na comercialização de produtos alimentícios saudáveis, segundo o ex-integrante Fábio Pereira. O processo para fazer parte da empresa é similar ao da TelexFree. “Pode começar com baixo investimento,
com a compra da franquia de R$ 600”, diz ele. “Para crescer, é preciso vender o produto e montar uma equipe, pois a empresa paga uma porcentagem sobre o trabalho das pessoas indicadas. Não cheguei longe, pois não montei a rede e só vendi”, confessa, admitindo que o sistema se mantém com a conquista de novos vendedores.
Justiça está de olho
A companhia de rastreadores de veículos BBom, uma das investigadas, também tem representatividade na região do ABC paulista e conta com reuniões organizadas via redes sociais para atrair mais funcionários. Os novos associados pagam taxa de adesão de R$ 600 e também devem montar uma rede para receber as comissões. O crescimento acentuado de em-
Setecentas unidades do Procon emitem alertas contra o golpe, que envolve cerca de três milhões de pessoas
presas do ramo despertou a suspeita de enriquecimento ilícito por sistema de pirâmide financeira. Tanto a BBom quanto a TelexFree tiveram bens bloqueados e atividades suspensas pela Justiça federal em julho. A justificativa é que o esquema pode se tornar insustentável e lesar os associados. Caso fique comprovada a existência de pirâmide financeira, os “funcionários” das empresas terão que procurar a Justiça para serem ressarcidos. Estima-se que cerca de três milhões de pessoas estejam ligadas ao golpe, segundo informações da força-tarefa formada por promotores, procuradores federais, ministérios da Justiça e da Fazenda e Polícia Federal. Para apoiar o trabalho, 700 unidades do Procon ficarão responsáveis por emitir alertas diante de reclamações de clientes contra as companhias. Dependendo do tipo de negócio, pode ser enquadrado como estelionato, crime contra a economia popular, contra o sistema financeiro ou ser apenas astúcia empresarial, salienta Anastácio. “Se ficar comprovado o crime, as penas serão altas.” No entanto, colaboradores que desconheçam a existência de enriquecimento piramidal e sejam lesados não se enquadram como culpados, complementa. Por isso vale a pena ficar atento quando a promessa de enriquecimento é excessivamente atraente. | Outubro de 2013 21
Segurança Para coibir os roubos, moradores fazem o que podem para se proteger em suas casas. Estado e prefeituras da região criam gabinete de segurança
J
Especial para Leia abc Mohamed Waleed
ordanópolis, um dos bairros mais tradicionais de São Bernardo do Campo, sofre com a criminalidade. Assaltos se tornaram uma rotina para moradores e comerciantes locais e a percepção é de que ladrões veem o bairro como “Meca da classe média da região” e que, por isso, podem roubar à vontade, pois a noção de segurança é mínima. A reportagem de LEIA ABC percorreu ruas do bairro e encontrou vítimas recentes da criminalidade. A maioria delas concordou em conversar com a reportagem, na condição de manter o anonimato. “Dias atrás entrou um cara na minha casa, por volta das 16h. Estava com minha esposa e filhos na residência. Levaram quase tudo que podiam de eletrodomésticos. A família conseguiu se trancar e chamar a polícia. Os gritos acabaram espantando o bandido, que foi preso em seguida”, conta um funcionário público estadual. “Quase na mesma hora, outra casa perto da minha foi invadida e também fizeram a mesma coisa.” “Uma fiel que é muito religiosa deixou de frequentar os cultos da igreja por causa da violência que está assustando”, revela o zelador de um templo batista localizado no bairro. O caso mais recente ocorreu na rua Juracy Camargo. Uma funcionária da UBS Jordanópolis, que está funcionando temporariamente no local, teve o carro levado por arrombadores de veículos. “Estou indignada”, conta Cleusa, que pede para que se divulgue apenas seu primeiro nome. Por causa da ação quase diária dos bandidos é que os moradores e comerciantes resolveram colocar “a mão no bolso” e tentar se prevenir contra as 22
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abordagens dos larápios que agem destemidamente. Muitos moradores e comerciantes têm gasto dinheiro para transformar a casa ou o estabelecimento comercial em uma fortaleza. Instalação de grades, arame farpado para proteger o muro, câmeras de segurança, entre outras medidas, para conter os assaltos. A conta pelos investimentos chega a cerca de R$ 2,5 mil. Já é clichê dizer que os bandidos estão soltos e a população vive presa. Várias casas de bairros estritamente residenciais, como é o caso de Jordanópolis, em São Bernardo, Jardim São Caetano, em São Caetano, e Paraíso, em Santo André, têm portões de 2,5 metros de altura, evolução de arame farpado e cerca elétrica. Exagero? Muitos moradores dizem que não e se justificam. “Antes de ter isso, já fui assaltada oito vezes. Chega um momento em que não se aguenta mais”, explica uma professora universitária moradora do bairro Paraíso.
Gabinete de segurança
Para conter a escalada da violência na região, o Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana de São Paulo e a Secretaria de Segurança Pública do Estado assinaram uma resolução que prevê a criação do Gabinete Metropolitano de Gestão Estratégica (Gamesp) para debater assuntos relacionados ao combate ao crime no ABC. As sete cidades da região serão as primeiras a receber o gabinete, que vai cuidar da integração das polícias Civil, Militar e Federal, permitindo maior monitoramento de informações da criminalidade na Grande São Paulo. A estratégia é ter uma unidade do Gamesp em cada uma das cinco sub-regiões da metrópole. “É mais uma tentativa de articular as políticas públicas voltadas à segurança urbana para a metrópole. É um tema difícil, cada vez mais complexo. O estado depende muito da ação dos prefeitos e estamos dispostos a colaborar, entendendo que a responsabilidade é do governo estadual, mas compreendendo que ações complementares por parte dos
municípios são essenciais para o êxito do programa”, destaca o presidente do Conselho Metropolitano e prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT). A ação visa fazer com que os prefeitos colaborem com as ações tomadas pelo governo
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estadual. Cada gabinete ficará responsável por discutir políticas públicas para o setor. Entre as propostas já acertadas estão a criação de novas centrais de segurança para cada região, a integração da investigação de quadrilhas que atuam no ABC, melhoria da iluminação pública e o combate aos desmanches de carros e ao tráfico de drogas. A proposta da Prefeitura de São Paulo para ter policiais atuando na região periférica da cidade durante o período noturno não foi aprovada. Segundo Haddad, a administração vai buscar alternativas para fazer o policiamento nesses locais, mas negou que a medida fará com que a Operação Delegada para o combate ao comércio clandestino acabe. A região metropolitana de São Paulo não é a primeira do estado a receber unidade do Gamesp. As regiões de Campinas, Baixada Santista, Vale do Paraíba e Litoral Norte, Ribeirão Preto e Jundiaí já foram contempladas com o projeto.
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Em forma
Alimentos funcionais são aliados da saúde Tamyres Barbosa Nutricionista tatatri@gmail.com
A
limentos funcionais são aqueles que contêm substâncias ou nutrientes que forneçam benefícios à saúde, além dos tradicionais nutrientes já contidos neles, seja como prevenção ou tratamento de doenças. São considerados alimentos promotores de saúde e podem estar associados com a diminuição dos riscos de algumas doenças crônicas, como diabetes e colesterol alto. Cada dia mais, as pessoas estão se conscientizando e buscando melhor qualidade de vida. Dentro dessa busca está a alimentação. O que mais se destaca nesse grupo de pessoas é a busca por alimentos que podem trazer algum benefício à saúde. Para suprir a demanda por healthyfoods (comidas saudáveis), a indústria tem unido tecnologia e desenvolvido novos produtos. É uma nova categoria de alimentos, nos quais
Substância
são aproveitadas essas qualidades. Entre eles estão alimentos fortificados, enriquecidos, alterados ou mesmo alimentos genéricos, como ovos ou frutas com suas propriedades naturalmente potencializadas. Podemos ver o movimento do mercado em números. Este segmento cresce anualmente cerca de 10% e em quatro anos representará 40% do total de alimentos distribuídos entre Estados Unidos, Europa e Japão. No Brasil, estima-se um mercado de U$ 700 milhões/ano. Porém um ponto deve ser ressaltado: não basta apenas consumir uma vez por semana ou por mês para que alimento não tenha seu efeito desejado. Procure um profissional nutricionista para que ele indique a quantidade a ser consumida. Inclua no seu dia a dia alimentos funcionais e potencialize sua saúde, seja tratando ou se prevenindo de algum problema.
nonono nonono Alimentos funcionais são aliados da saúde Efeito
Onde encontrar
ÁCIDOS GRAXOS
4 Protetor contra cânceres de mama e próstata
Azeite de oliva
ÔMEGA-3
4 Evita a formação de coágulos sanguíneos na parede arterial 4 Diminui a pressão sanguínea 4 Aumenta o colesterol bom 4 Reduz o colesterol ruim
Peixes de água fria (arenque, sardinha, salmão, atum, bacalhau) e frutos do mar
4 Protetor para doenças cardiovasculares
Óleos vegetais, azeite, óleos de canola, milho, girassol. Nozes, soja e gergelim
4 Ajudam a diminuir o colesterol dietético presente no intestino 4 Podem colaborar na redução da absorção do colesterol ruim 4 Propriedade de auxiliar no controle de alguns hormônios sexuais e aliviar os sintomas da TPM por atenuar a queda de estrógeno que ocorre nessa fase
Soja e inhame
ÔMEGA-6
FITOESTERÓIS (ISOFALVONAS)
ANTOCIANINAS (FLAVONOIDES)
4 Anticarcinogênicas 4 Anti-inflamatórias 4 Antialérgicas
Cereja, uva, morango, amora e berinjela
CAROTENOIDES
4 Essenciais para a visão 4 Protegem contra a oxidação e contra doenças cardiovasculares
Cenoura, abóbora e mamão
LICOPENO
4 Reduz a concentração de radicais livres 4 Previne o ataque cardíaco por impedir a oxidação do colesterol ruim
Tomate, goiaba e melancia
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Saúde
A cronologia das leis antifumo no Brasil 1988 – Obrigatoriedade da frase “O Ministério da Saúde adverte: fumar é prejudicial à saúde” nas embalagens dos produtos derivados do tabaco 1990 – Obrigatoriedade de frases de alerta em propagandas em rádio e televisão 1996 – Comerciais de produtos derivados do tabaco só podem ser veiculados entre 21h e 6h. Fumar em locais fechados passa a ser proibido (exceto em fumódromos) 2000 – É proibida a propaganda de produtos derivados de tabaco em revistas, jornais, outdoors, televisão e rádio. Patrocínio de eventos culturais e esportivos e associar o fumo às praticas esportivas também passam a ser proibidos 2001 – A Anvisa determina teores máximos para alcatrão, nicotina e monóxido de carbono. Imagens de advertência passam a ser obrigatórias em material de propaganda e embalagens de produtos fumígenos 2002 – É proibida a produção, comercialização, distribuição e propaganda de alimentos na forma de produtos derivados do tabaco 2003 – Passa a ser obrigatório o uso das frases “Venda proibida a menores de 18 anos” e “Este produto contém mais de 4.700 substâncias tóxicas e nicotina, que causa dependência física ou psíquica. Não existem níveis seguros para consumo destas substâncias” 2005 – É promulgada Convenção Quadro de Controle do Tabaco. Primeiro tratado mundial de saúde pública, do qual o Brasil é signatário 2008 – Novas imagens de advertência, mais agressivas, passam a ser introduzidas nos rótulos de produtos derivados do tabaco 2010 – A Anvisa publica duas consultas públicas sobre produtos derivados do tabaco: uma prevê o fim do uso de aditivos e a outra regulamenta a propaganda desses produtos, bem como exposição nos pontos de venda, e prevê nova frase de advertência nas embalagens 2011 – Lei federal proíbe fumar em locais fechados e a Anvisa proíbe o uso de aditivos em produtos derivados do tabaco 2012 – A Anvisa publica resolução que restringe aditivos em cigarros
Politicamente
incorreto Medidas rígidas mudam os hábitos dos fumantes, que são obrigados a repensar sobre o consumo do tabaco em público e o próprio vício
N
Lívia Sousa - livia@leiaabc.com
unca houve dúvidas quanto às consequências que o cigarro traz à saúde, mesmo quando o produto protagonizava comerciais e acompanhava personagens em novelas e filmes. O fato é que, se antes havia todo tipo de discurso para inibir a prática, agora há o apoio da legislação contra o seu consumo. O cerco começou em 1988, com a obrigatoriedade da frase de advertência nas embalagens dos produtos derivados do tabaco. Passou às propagandas em rádio e televisão e ganhou tons mais rígidos nas décadas seguintes (ver boxe), com o ápice ocorrendo em agosto de 2009, quando o Estado de São Paulo adotou a Lei Antifumo – hoje válida para todo o território nacional. Com a ditadura do “politicamente correto” estabelecida de vez, o número de fumantes no Brasil caiu. De acordo com uma pesquisa realizada entre 1989 e 2010 pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e divulgada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), um em cada dez cidadãos deixou de fumar depois que a restrição da propaganda de cigarros em veículos de comunicação entrou em vigor, mostrando ainda que a maior parte dos brasileiros apoia a criação de medidas contra o fumo. “Acho adequado a Lei Antifumo
e a proibição dos comerciais de cigarro, assim como acredito que seja adequado não relacionar essas propagandas com o consumo de bebida alcoólica”, diz o engenheiro Claudio Ceregatti, de 52 anos, fumante e morador do bairro Assunção, em São Bernardo do Campo. Ceregatti, que hoje consome menos de um maço de cigarros por dia, começou a fumar aos 14 anos, junto com amigos. O acesso ao produto se dava em frente à escola onde estudava, que comercializava cigarros avulsos. “Fumar era bacana na época”, afirma. Quem também deu a primeira tragada cedo foi o industriário José Antônio Oliveira de Sousa, de 50 anos. “Não sei dizer ao certo a idade em que comecei a fumar, mas foi na base da brincadeira, com os amigos. Hoje fumo, mas respeito as leis”, declara ele, que mora no bairro Jardim Vera Cruz, também em São Bernardo. Os especialistas afirmam que a descoberta precoce do cigarro funciona como uma perigosa afirmação social, que, com o tempo, pode acarretar uma série de doenças e facilitar a entrada do indivíduo no alcoolismo e nas drogas. “Quem fuma todos os dias, mesmo que seja um cigarro, já é considerado um dependente”, declara Elie Fiss, professor titular de pneumologia da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC). “A queima de um cigarro libera de 1.500 a 1.600 substâncias de uma só vez. Todas elas contêm células cancerígenas e causam bronquite crônica, enfisema pulmonar, problemas cardíacos, problemas vasculares periféricos, câncer de pulmão, câncer de bexiga, entre outras doenças. Nas mulheres, também acarretam embolia pulmonar”, aponta.
Cigarro, família e preconceito
A oferta para deixar o cigarro de lado é ampla, mas são as psicoterapias em grupo, os antidepressivos, os repositores de nicotina e as associações de medicamentos as mais procuradas por quem deseja parar de fumar. “Devemos personalizar o tratamento de acordo com a maneira de cada pessoa”, explica Elie Fiss. Apesar das opções, há quem ainda não consiga se desprender do tabaco, sendo o psicológico o principal entrave da batalha saúde versus vício. Segundo o pneumologista, quem consegue ficar de três a quatro semanas sem entrar em contato com a substância geralmente alcança o basta.Claudio Ceregatti e José Antônio, entretanto, seguiram o caminho oposto. “Tentei parar de fumar uma vez, quando entrei em comum acordo com minha esposa, que também fumava. A decisão não se deu por conta de doenças, foi porque queríamos parar mesmo. Ela conseguiu; já eu fiquei seis meses sem colocar um cigarro na boca e voltei, porque fumar faz parte da minha vida. Se fico sem fumar é como se faltasse algo”, conta Ceregatti, dizendo ainda que sua dependência não é desesperadora, e sim algo controlado. Já José Antônio tentou diminuir a quantidade de cigarros consumidos diariamente com a aplicação de adesivos que inibem o desejo de fumar (os chamados emplastros com nicotina, que fazem a substância ser absorvida diretamente pela pele), mas não pretende abandonar o tabaco de vez. “Os adesivos fizeram efeito durante duas semanas, só que a vontade falou mais alto.”
Em casa, Claudio fuma somente na área de serviço
Fotos: Camila Bevilacqua
Mudança de hábitos
Claudio Ceregatti acredita que as leis fizeram do fumo um vício tolerável, já que antes as pessoas eram praticamente obrigadas a conviver com a prática por não haver uma proibição oficial em relação ao cigarro em lugares fechados. Até chegar a este consenso, porém, o engenheiro admite ter burlado as regras sociais entre a família, chegando a fumar dentro do quarto da própria filha. Hoje, consumindo o tabaco somente na área de serviço
de sua residência, confessa não escapar do preconceito perante a sociedade. “Como politicamente correto sou chamado de burro, suicida, louco e fraco.” A esposa, que conseguiu parar de fumar, também pressiona o companheiro a largar o vício. “Ela diz que, se ela conseguiu parar de fumar, eu também consigo.” Para o industriário José Antônio, que também já fumou dentro de casa, a cobrança fica por conta da família. “Ele acha ruim, mas chamo atenção. Não faço isso por egoísmo. Faço pela saúde, até porque vi meu pai adoecer e minha mãe, que ainda fuma, ser internada por conta do cigarro”, explica a dona de casa Fátima Aparecida Rodrigues, de 51 anos, esposa de José. As filhas Ana Paula Rodrigues de Sousa, de 26 anos, e Isabela Rodrigues de Sousa, de 20, também se posicionam contra o vício do pai. Manipuladora farmacêutica e auxiliar de enfermagem, respectivamente, as duas alegam que o maior incômodo fica por conta do forte odor característico da substância. “Minha relação com o cigarro é péssima, porque eu não gosto do cheiro. Sempre falava para o meu pai não fumar dentro de casa, porque também tenho sinusite e rinite, problemas alérgicos que o cigarro ajuda a piorar. De tanto cobrá-lo, ele passou a fumar na garagem”, declara Ana Paula. Além do cheiro “sufocante”, Isabela, como fumante passiva, também se preocupava com a própria saúde. “Pedia para parar e dizia que estava me matando junto com ele”, alega. Apesar das leis estabelecidas nas últimas décadas, que contribuíram para a queda da população fumante no país, o pneumologista Elie Friss é categórico. “O Brasil é o maior produtor de cigarro do mundo. Acredito que o número de fumantes só irá diminuir mais quando o cigarro parar de ser vendido”, finaliza.
Esportes
Treinamento Mesmo ainda falhando quando o assunto é acessibilidade, o Brasil é uma potência em esportes para deficientes. Com natação e atletismo adaptados, região do ABC se destaca em programas de inclusão
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Especial para Leia abc Thais Sabino
número de pessoas com deficiências motoras, visuais, auditiva e intelectual somou 45,6 milhões no último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar de o Brasil ainda estar engatinhando na acessibilidade às pessoas com necessidades especiais, em relação às atividades físicas e esportivas o Brasil já é uma potência, segundo o diretor-técnico do Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB), Edilson Alves da Rocha. “O Brasil é referência em esportes paraolímpicos. As conquistas de direitos são importantes para firmar o país como referência em acessibilidade para os deficientes”, afirma. “Temos cada vez mais atletas e posso dizer que nos últimos dez anos dobrou a quantidade. Hoje temos mais de dez mil atletas deficientes em primeira linha.” A maioria das pessoas com deficiência parte para o atletismo, segundo ele, pela acessibilidade facilitada, pois nem sempre existem piscinas adaptadas ou podem arcar com o custo da cadeira de rodas especial para esportes. “As atividades físicas ajudam na reabilitação e certamente dão mais liberdade ao deficiente para fazer as coisas sem auxílio”, afirma Rocha. Segundo ele, com os exercí-
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cios, nota-se mais facilidade de se locomover com a cadeira, em se transferir da cadeira para o vaso sanitário ou o banco do carro, além de todos os benefícios para a saúde em geral. Os estados que mais se destacam na oferta de esportes para deficientes são São Paulo e Rio de Janeiro, mas Rocha cita também a região Nordeste como “celeiro do esporte paraolímpico”. As principais cidades, além de terem infraestrutura necessária – como transporte e algumas vias adaptadas –, possuem centros de treinamento e associações focadas em oferecer a inclusão social dos deficientes.
O cenário no ABC
Um dos destaques da região paulista é o programa da Associação pela Cidadania das Pessoas com Deficiência (Acide), que há 11 anos oferece, em parceria com a Prefeitura de Santo André, aulas de natação gratuitas para crianças e adultos com necessidades especiais. Criada por um grupo de pais e pessoas com deficiência, a organização que tinha por objetivo reivindicar o reconhecimento das necessidades desses cidadãos, criou o Núcleo de Apoio à Natação Adaptada de Santo André (Nanasa). As aulas acontecem com acompanhamento de monitores preparados e proporcionam melhora no quadro dos pacientes. Uma das alunas é Ma-
Fotos: Divulgação
adaptado Programa Nanasa, em Santo André: 240 inscritos na fila de espera
ria Angélica Magalhães, 48 anos, que faz natação desde os 25. Angélica teve poliomielite com um ano e sete meses. “Atingiu tudo, do pescoço para baixo, mas graças a Deus regrediu e ficou apenas nos membros inferiores”, lembra. Atualmente, ela usa aparelhos ortopédicos e muletas para andar, mas a deficiência nunca a impediu de ir atrás do que queria. A funcionária pública, mãe de dois filhos, já foi cabeleireira, dirige o próprio carro, se formou em administração e em direito, área em que também é pós-graduada, e quando não está na piscina está trabalhando ou fazendo peças em artesanato. Após uma semana de aula no Nanasa, o professor de Maria Angélica a convidou para participar da equipe de Santo André e participar dos jogos regionais. “Num primeiro momento, eu disse não, mas ele me explicou que eu competiria com pessoas com a mesma deficiência que a minha. Então, resolvi encarar”, conta, admitindo que a decisão trouxe muitas medalhas e vitórias. “Para mim, o programa é um incentivo para me aprimorar cada vez mais e conquistar muitos pódios.” Para alcançar os objetivos, ela pratica natação quatro vezes por semana, alternando treinos moderados e fortes. O trabalho da organização não acaba na piscina. Periodicamente, os
No Creeba, em São Bernardo, aulas gratuitas de basquete para cadeirante alunos são levados para mergulhar e passear em praias e parques, participar de oficinas de arte, entre outras atividades. O programa seleciona 240 inscritos na fila de espera para fazerem aulas às terças e quintas-feiras ou às quartas e sextas-feiras, em turmas de 40 alunos, nos períodos da manhã, tarde e noite. A Associação pela Cidadania do Deficiente (Acide) também oferece o curso Nadando em Família,
que durante 16 finais de semana ensina conhecimentos básicos de natação e hidroginástica a 114 familiares de pessoas com deficiência. A Prefeitura de Santo André tem ainda o Centro de Referência da Pessoa com Deficiência, com atividades diversas como palestras e ginásticas laborais. Em São Bernardo do Campo, o espaço esportivo para os deficientes é o Centro Recreativo Esportivo Es-
Fábrica de atletas Em comemoração aos dez anos de existência, o Clube de Atletismo BM&FBovespa construiu um novo centro de treinamento em São Caetano em 2012, espaço com ginásio indoor e pista ao ar livre, além de estrutura para musculação, fisioterapia, nutrição, psicologia e vestiários. Espaço dedicado aos atletas com e sem deficiência, o local é frequentado por nomes como Alan Fonteles e também por competidores como a campeã mundial do salto com vara Fabiana Murer e o maratonista Marílson Gomes dos Santos. Entre as modalidades, estão pista de corrida de 60 metros e áreas para saltos em distância, para salto com vara e para arremesso de peso. A obra custou cerca de R$ 20 milhões e foi feita com proposta sustentável, com reciclagem de materiais, armazenamento da água de chuva para os jardins e arquitetura que evita o uso excessivo de ar-condicionado. Onde se exercitar: Núcleo de Apoio à Natação Adaptada de Santo André - Complexo Esportivo Pedro Dell’Antonia - Rua São Pedro, 27, Vila América – Santo André - Telefones: 4972-2821 e 4972-4032 Centro de Referência da Pessoa com Deficiência - Rua Dr. Cesário Mota, 51. Centro – Santo André - Telefones: 4990-2886 e 4436-5030 Centro Recreativo Esportivo Especial Luiz Bonício (Creeba) - Rua Benedetto Marson, 35, Vila Marchi – São Bernardo do Campo - Telefone: 4351-5940
pecial Luiz Bonício (Creeba). Criado em 2006, o órgão ministra aulas gratuitas de atletismo, natação, basquete para cadeirante e natação. A prefeitura do município tem a intenção de ministrar vôlei para cadeirantes. Os esportes são dedicados aos moradores do município e os treinos geralmente acontecem duas vezes por semana, de acordo com cada modalidade. São Caetano não tem agenda fixa de atividades para os portadores de necessidades especiais, mas não deixa de agir em prol da inclusão. No final de agosto, a cidade sediou o Fórum do Esporte para Pessoas com Deficiência, que teve palestras e depoimentos de atletas deficientes. “Nesses testemunhos destaco a força que essas pessoas passam a todos nós, com exemplos para aprendemos a valorizar mais a cada dia as pequenas adversidades das quais reclamamos”, comenta Gilmar Tadeu, secretário de Esportes de São Caetano do Sul. A Secretaria de Esporte e Turismo da cidade colocou à disposição equipamentos esportivos para novas atividades e possíveis alterações visando à integração e acessibilidade. O município do ABC paulista também sediou a terceira etapa da Copa Brasil de Xadrez para deficientes visuais, no Clube Avi Leste, em setembro. A final está marcada para dezembro no clube. | Outubro de 2013 29
O assunto é... Luiz Fernando Teixeira, pré-candidato à Assembleia Legislativa diz que terá que “correr” para conciliar entre o esporte e a política, caso seja eleito Wallace Nunes - wallace@leiaabc.com
Por que o senhor pretende se lançar candidato? Sou candidato por convocação e solicitação do Prefeito Luiz Marinho (São Bernardo), que entendeu a importância da nossa região se fortalecer. Estamos pensando primeiro na cidade. Hoje, em São Bernardo do Campo, temos três deputados, sendo que um é da base de sustentação do prefeito e dois da oposição (ao governo Luiz Marinho). Ele (o prefeito) entende a importância no fortalecimento da base de apoio e pediu uma liderança que pudesse lograr êxito. Então, me convocou e partir daí me segue pré-candidato. Ele crê que eu possa ter uma boa disputa, com chances de me eleger, por isso me convocou para esse processo. O senhor será candidato do ABC ou de São Paulo? Sou pré-candidato primeiramente do ABC. Tenho pensado muito na lógica e não vejo alguém com mandato regional. Pensando a nossa região, temos o consórcio do ABC, que discute os problemas regionalmente e tem um mandato preocupado com o ABCDMRR como um todo. O que temos visto são lideranças locais pensando somente nas suas cidades. Então eu me coloco como pré-candidato do ABC, em primeiro lugar, mas sem
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Vou somar dúvida nenhuma sou candidato a deputado estadual. Naturalmente, a influência desse tipo de candidatura é maior por abranger o estado todo, mas minha primeira ideia é atuar no plano regional.
Há espaço para eleição de todos os concorrentes que disputam uma vaga na Assembleia a partir do ABC? Eu não penso assim. Mauá, por exemplo, tinha dois e na próxima eleição tem condições de fazer dois a três deputados. Santo André tinha dois deputados, o [Pastor] Bittencourt (PV) e o [Carlos] Grana. Abriu-se a lacuna do Grana e agora Santo André tem condição de eleger até três deputados. Hoje, na nossa cidade, o PT tem três candidatos – a candidatura do [Teonílio] Barba tem um perfil estadual, que é o papel dos metalúrgicos no estado inteiro. Isso se tudo se repetir na eleição do Grana, que foi muito bem votado na capital e no estado todo. Creio que a candidatura do Barba é forte e com grande potencial. A candidatura da Ana do Carmo também deve ser bem-sucedida e acredito muito na eleição dela. Quanto à minha, claro que acre-
dito na minha eleição, mas naturalmente a oposição vai trabalhar para eleger um de seus candidatos. Com a saída do deputado Alex Manente (PPS) do páreo, a nível estadual (que, segundo ele vai disputar uma vaga para federal), a oposição tinha dois deputados, mas acho que elege um deles.
Ser deputado é o primeiro passo de muitos na linha de frente da política? Nesse primeiro momento, fui convocado para ser candidato a deputado estadual e isso significa, sim, o meu retorno à linha de frente. Eu vinha atuando há muito tempo nos bastidores, mas agora venho em outra missão, como deputado estadual. Pode ser o primeiro passo de muitos? Talvez, mas é difícil prever. Quem comanda minha vida é Deus. No momento, fui convocado para entrar nesse processo para ser deputado estadual e não me foi colocado qualquer outro projeto “a priori”. Agora, o futuro a Deus pertence. É possível conciliar a política com a presidência de um clube que está ganhando muita notoriedade no estado?
Deus me guiou até agora e o futuro a ele pertence
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Claro! Você tem vários parlamentares presidentes de clube. Há deputados federais como os presidentes do Atlético Mineiro e do Cruzeiro. Vários parlamentares que saíram do futebol permanecem presidentes dos seus clubes e estão como parlamentares. Creio que seja possível conciliar sim. O que não pode é deixar uma coisa atrapalhar a outra. Se faltar tempo para uma das duas coisas começa a prejudicar. Então temos que ficar atentos para checar quando um começa a atrapalhar o outro.
Camila Bevilacqua
Muitos entendem que o senhor deveria continuar atuando nos bastidores, por causa do poder e o trânsito em todos os partidos. O que o senhor acha disso? Acredito na conciliação na política, no ato de fazer política com a arte de somar e não como muitos políticos que subtraem e dividem. Na política, se você não puder multiplicar, no mínimo some. Creio que essa convocação siga justamente o conceito de somar. Eu volto à política na linha de frente pelas mãos de Luiz Marinho. Ele tem esse perfil de dialogar com os demais partidos, inclusive com a oposição, e acredito que a política se faz construindo com todos. É a arte de conversar com a oposição e com demais partidos, trabalhar ideias. Volto para a linha de frente nesse sentido e não creio que fique lacuna nenhuma. Ajudei vários políticos quando pude e fui solicitado, e vou continuar ajudando enquanto puder e for necessário. Acho interessante esse novo momento. Resisti muito a vir para a linha de frente, pois entendia que poderia ser ocupado por outra pessoa, mas agora acho tranquilo. Regresso com o objetivo de fazer a política de somar, de ampliar o leque em busca de construção de uma sociedade mais justa.
Convocação: Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo, o fez voltar à linha de frente da política
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Imóveis
Sem sair de casa Aumenta a oferta de condomínios com características de clube, que oferecem aulas de dança, pilates, ioga e espaço fitness com o suporte de treinadores adequados Especial para Leia abc Thaís Sabino - redacao@leiaabc.com
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raticar exercícios sem sair do condomínio é uma mordomia já incorporada no dia a dia de muitas pessoas. A grande novidade é que, mais do que simplesmente oferecer um espaço fitness, os condomínios estão agregando valor ao serviço, por meio de parcerias com academias renomadas ou da contratação de profissionais especializados para treinamento. Os serviços de assessoria esportiva podem ir de auxílio no uso dos aparelhos de musculação até a contratação de professores de balé, ioga, pilates, circo, ginástica localizada e natação, com grade de aulas de acordo com as preferências dos moradores. “Diria que nos últimos três anos a procura dobrou”, estima Airton Santos, sócio e gerente da empresa de assessoria desportiva Qualy. No ABC, diz ele, o mercado é muito promissor, devido aos grandes empreendimentos que estão sendo entregues. Além da comodidade, a vantagem do serviço é o baixo custo. Para compor uma grade de atividades mais completa, com aulas de ioga, pilates e dança, o valor pode chegar a R$ 140 por apartamento, preço ainda abaixo do mercado. Santos explica que geralmente o plano de atividades físicas é decidido em assembleia entre os moradores. “Pode ser grade fixa com valor cobrado como parte do condomínio ou a forma de serviço
pay-per-use, em que apenas quem utilizar paga pelo serviço.” Com a mudança na dinâmica familiar e os pais trabalhando o dia inteiro, a possibilidade de colocar os filhos em atividades que não exijam deslocamento ganha pontos pela praticidade. Atentas a isso, as construtoras que já oferecem a infraestrutura necessária estão lucrando com a iniciativa, garante o executivo. Por enquanto, as parcerias entre condomínios e assessorias desportivas são firmadas diretamente com os moradores. O problema é que, por vezes, a falta de equipamentos e as características na construção das áreas de lazer e esporte impedem a prática de certas atividades, o que acaba gerando custos de reformas para os moradores. “Um exemplo é a piscina cercada de decks escorregadios, que vêm sem os ganchos para fixação de raias. Frequentemente vemos esteiras, bicicletas e máquinas sucateadas em menos de dois anos, pois, dependendo do volume de utilização, os equipamentos precisam ser profissionais, e não residenciais”, exemplifica Santos. O problema poderia ser resolvido se as construtoras começassem a “usar o know-how das academias para a concepção da área de exercícios físicos. Já realizamos cinco projetos desse tipo para três construtoras diferentes”, diz o CEO da Runner Licenciamentos, Dilson Mendes.
A rede de academias já vislumbra entrar no negócio nos próximos anos. “Os novos condomínios com grandes academias certamente precisarão de instrutores”, prevê Mendes. Segundo ele, sem orientação profissional, por mais bem estruturado que seja o espaço, os moradores não conseguem usufruir da forma adequada. Mendes não vê o crescimento da modalidade como ameaça ao negócio e garante que pode, no futuro, até colaborar para o aumento do número de matriculados nas academias. Isso porque nas academias o que se avalia não são apenas os aparelhos e aulas oferecidos, mas tambéma socialização com novas pessoas, a criação de laços de amizade e o convívio.
“A valorização das atividades além do apartamento é uma tendência que só deve crescer nos próximos anos”, afirma o corretor Nelson Gonzales
Lazer em primeiro lugar
Um empreendimento de destaque no ABC é o Espaço Cerâmica, que faz propaganda há alguns anos como um condomínio de luxo diferenciado. Próximo ao shopping de São Caetano, o local terá atividades de lazer para todos os gostos a que a classe A tem direito e ainda ficará ao lado de um parque de área verde. De acordo com o corretor de imóveis Nelson Sanita Gonzalez, a valorização das atividades, além do apartamento, é uma tendência que só deve crescer nos próximos anos. “As construtoras estão priorizando cada vez mais o lazer, como diferencial do condomínio”, diz, ressaltando que a procura por “condomínios-clubes” ainda varia muito de acordo com o perfil de quem está comprando, mas cresceu muito em função da correria e da rotina diária. Com ambientes cada vez menores e preços ainda exorbitantes, as opções de lazer chegam como uma recompensa pelo tamanho dos miniapartamentos. Alguns chegam a ter menos de 60 metros quadrados e, ainda assim,ultrapassam R$ 200 mil. Em São Caetano, este valor pode subir para R$ 300 mil. Apesar do custo alto, esse tipo de imóvel é um bom investimento, garante Gonzalez. “Ter um apartamento em condomínio que proporcione área de lazer, como a de um clube, agrega valor para quem está comprando e também para quem está vendendo”, afirma o corretor.
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Empreendedorismo Movimento de “interiorização” coloca o ABC na lista de regiões com elevado potencial de consumo, atraindo novos empreendedores
Nani Soares - nani@leiaabc.com
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epois de anos mantendo a alcunha de “país do futuro”, o Brasil parece finalmente ter chegado lá. Ao menos é o que acredita o grupo de brasileiros que tem deixado para trás o sonho de seguir uma carreira corporativae está investindo na abertura do próprio negócio. Nos últimos dez anos, o número de empreendedores no Brasil cresceu 44% e nem mesmo os altos e baixos da economia desanimam os futuros empresários. Em 2002, 20,9% da população estava envolvida na criação ou administração de um negócio, percentual que chegou a 30,2% em 2012, segundo a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor 2012 (GEM), realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em parceria com o Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP). As grandes oportunidades para empreender estão em regiões ainda pouco exploradas ou negligenciadas há algum tempo, como as cidades de Santarém (PA), Campina Grande (PB) e Porto Velho (RO). Embora bastante desenvolvida, o ABC é uma das regiões com alto potencial para novos negócios, especialmente por suas dimensões geográficas: abrange sete cidade se tem uma população de 2,6 milhões de pessoas, com características muito similares quando se trata de consumo. A unidade regional do Sebrae atua há 18 anos na região e tem registrado a mudança na atividade empreendedora. Até setembro de 2013, a regional já tinha atendido mais de oito mil empresas interessadas em algum tipo de orientação ou mesmo nas diversas palestras gratuitas em áreas como finanças, marketing, jurídico, recursos humanos e inovação. São cerca de 30 palestras por dia, das quais participam, em média, 30 pessoas em cada uma. Notoriamente marcada pela atuação das indústrias, o per34
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no ABC
fil das novas empresas que estão surgindo no ABC já não é o mesmo de outros tempos e cerca de 50% delas agora são da área de serviços. O ranking estadual é liderado pelo comércio, que abocanha 43% dos novos empreendimentos, seguido pelas categorias de serviços (36%), indústria (11%) e agropecuária (10%). De acordo com Fábio Costa de Souza, consultor da unidade do Sebrae, as indústrias perderam participação na região ao longo dos anos, o que abriu espaço para os novos negócios. No cenário atual, destacam-se segmentos como alimentação fora do lar (food service), beleza e estética, construção civil e demais áreas relacionadas. Algumas mudanças no perfil dos empreendedores também são perceptíveis. O nível de escolaridade aumentou e os empresários estão cada vez mais jovens.
O percentual de pessoas que estão abrindo negócios na faixa de 25 a 49 anos pulou de 6% para 12%. Com a vocação regional passando por transformação, mudaram também as necessidades dos moradores e nichos pouco tradicionais começam a ser explorados. O grande problema é que não mudou a dificuldade que o brasileiro tem em se planejar, especialmente em um momento de euforia como agora. A maior parte das pessoas procura o Sebrae quando a empresa já está com algum problema e não para se planejar. “A procura é muito reativa, quando a empresa já está em crise. No Brasil, não há cultura de informação e o empreendedorismo não é fomentado. Mesmo com os avanços, não tem nada muito estruturado nesse sentido”, ressalta Souza, explicando que muitos inicialmente não elaboram
um plano de negócios e só depois pensam num planejamento estratégico se houver necessidade de corrigir a rota. “É vantajoso investir em um negócio no ABC, mas é preciso identificar os mercados em ascensão. Qualquer negócio é rentável, desde que sejam usadas as ferramentas corretas É muito comum querer investir em um segmento que esteja em alta no momento, mas sem uma boa administração a coisa não decola”, alerta ele. Apesar disso, com a região se consolidando enquanto mercado consumidor, mais negócios continuarão surgindo, muito em função das novas necessidades da população. “É isso que vem permitindo uma mudança na curva de possibilidades. O cenário é bem favorável, mas a qualidade dos serviços prestados ainda precisa melhorar.” | Outubro de 2013 35
Regionalização cria oportunidades
Fotos: Camila Bevilacqua
Vinculado à regional do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) – Santo André, o Núcleo de Jovens Empreendedores (NJE) é um dos termômetros do desenvolvimento econômico da cidade. Considerado o mais ativo entre os 39 núcleos criados no estado, o NJE Santo André promoveu recentemente o 4º Happy Business, evento que promove networking entre os empreendedores da região. A cidade também vai sediar o próximo congresso de jovens empreendedores, a ser realizado em setembro de 2014 e que envolverá rodadas de negócios, networking, feira e palestras. A expectativa é receber cerca de 1.500 participantes em três dias de evento.“Temos percebido o crescimento no interesse por assuntos ligados ao empreendedorismo”, revela Felipe Pioli, coordenador do NJE. Segundo ele, a região do ABC é economicamente forte pela soma das cida-
“50% das novas empresas são na área de serviços”, afirma Fábio Souza, do Sebrae 36
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des e pela proximidade com São Paulo. “Ter um pensamento ‘bairrista’ seria enfraquecer este mercado. Temos integrantes com negócios em Santo André, São Caetano, São Bernardo do Campo e Mauá”, diz. Duas mudanças significativas são apontadas pelo executivo: o perfil dos empreendedores da região, composto por muitos jovens, e o acesso à informação. É essa facilidade quanto aos caminhos para abrir um negócio que tem ajudado a alavancar a atividade não só nas sete cidades, mas também em todo o país. Há diversas organizações e entidades que promovem e incentivam o empreendedorismo, além de vasta informação na internet. O próprio Cies preúne mensalmente todos os NJE em sua sede, quando define estratégias e ações de fomento como o Feirão do Imposto, que visa conscientizar a população sobre a quantidade de impostos embutidos nos mais diversos produtos, entre outras atividades. Com um cenário tão propício, as oportunidades estão por toda parte e o sucesso depende basicamente do tipo de negócio, do público que se quer atingir e das particularidades de cada cidade, bem como do perfil e esforço de cada empreendedor. Ainda assim, alguns setores continuam em alta. “Os setores de maior destaque são os de tecnologia da informação. Negócios ligados a este setor crescem acima da média justamente pela flexibilidade e poder de inovação. A Prefeitura de Santo André estuda há algum tempo e obteve aprovação recentemente para a criação de um Parque Tecnológico na cidade.” Entre os modelos de negócio com maior destaque estão as franquias, consideradas seguras por serem estruturadas em um modelo já pronto e, portanto, testado. Rogério Feijó, diretor de inteligência de mercado da Associação Brasileira de Franchising (ABF), explica que o empreendedorismo tem se desenvolvido bastante em todo o país, mas alguns mercados ainda estão subexplorados. Relegadas a segundo plano, muitas cidades brasileiras acompanharam o desenvolvimento dos grandes centros urbanos e hoje despontam como novos centros de
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Felipe Pioli, do Núcleo de Jovens Empreendedores da Ciesp: expectativa de receber 1.500 pessoas no 4º Happy Business consumo, tornando-se uma grande oportunidade para os negócios. “As empresas estão de olho nestes mercados porque já perceberam que as melhores oportunidades estão fora das grandes capitais. Assim como as cidades do interior do Brasil, a região do ABC paulista é um grande mercado a ser explorado”, avalia Feijó. A região da capital paulista e todo o seu entorno passam por um momento de mudança e agora são os serviços, e não mais a indústria, que lideram a demanda, num reflexo direto da falta de tempo das pessoas. No caso do ABC, as pessoas fixadas na região estão percebendo que podem desenvolver negócios com base em um perfil mais regional, com a vantagem de conhecerem bem o público-alvo. Ou seja, assumem o papel duplo de fornecedor e consumidor. A inauguração de diversos shoppings na região demostra que não só há uma demanda a ser atendida como há também diversas oportunidades se abrindo, especialmente porque, além dos negó-
cios envolvendo o complexo de compras em si, se criam oportunidades também à sua volta. “Por questões de deslocamento, as pessoas querem ficar mais próximas de onde moram, fazer programas perto de casa. Isso significa consumir mais na região, o que revela a necessidade de mais negócios com esse viés”, destaca ele. Apesar de ser uma região macro, abrangendo sete cidades, tem homogeneidade, o que garante características peculiares em uma área com enorme potencial de consumo a ser explorado. Atualmente, são apenas 844 unidades franqueadas na região, ante 9.048 na cidade de São Paulo. “Para investir, não é preciso estudar cada cidade, pois todas têm características muito similares, inclusive quanto à renda”, completa. O ranking de franquias abertas no ABC é liderado pelo setor de food service, com 32,10%, seguido dos segmentos de esporte, saúde, beleza e lazer (17,8%) e educação e treinamento (12,6%). Em todo o país, o food service apresenta-se como a grande oportunidade do momento e 20% das franquias abertas são
Music Kolor, de Rafael Romano é a única do país a personalizar guitarras no segmento. Muitos empreendedores são atraídos pela diversidade da categoria, já que é possível montar desde uma franquia de carrinho de sorvete até de um restaurante mais sofisticado. Segundo Feijó, uma série de fatores contribui para tornar a região atraente aos olhos de novos investidores, como o cenário macroeconômico, a facilidade de obtenção de crédito, o acesso à informação e, claro, a percepção de que hoje está mais fácil colocar algumas ideias em prática. Contribui para a atividade empreendedora na região a construção do Rodoanel, concluído apenas parcialmente, mas que já facilitou o acesso à região. “Mais acessível, a região ganhará visibilidade”, diz.
Jovens e com perfil inovador
Usar o know-how adquirido ao longo de uma carreira na área de turismo foi a estratégia do empresário Daniel Alvino para abandonar a vida de funcionário. O pontapé inicial foi dado em 2008, quando ele investiu R$ 5 mil na organização de excursões junto com a noiva Marina. Apesar do sucesso (o
Daniel Alvin, da Me Leva Tur: explorando o déficit de agências na região
retorno do investimento veio em apenas seis meses), a Me Leva Tur só começaria a operar oficialmente um ano depois. Localizada em Santo André, a agência tem uma estrutura enxuta, com o próprio casal executando todas as operações. Os cerca de 20 guias turísticos que integram a equipe são contratados conforme o fechamento dos pacotes. Com foco em solteiros e jovens casais, a aposta é principalmente em viagens temáticas como Rock in Rio, Oktoberfest, Carnaval de Salvador (BA) e Ouro Preto (MG), além da famosa Spring Break, em Cancun. Em 2012, a agência atendeu cerca de cinco mil clientes, com as vendas sendo feitas principalmente por telefone e e-mail, apesar de operar também virtualmente. Assim como Guilherme Paulus, que criou a CVC para atender às montadoras instaladas no ABC, a ideia de Alvino é explorar melhor o turismo na região, embora de forma mais ampla, já que a maior parte dos clientes atendidos é de São Paulo – apenas 20% moram no ABC. Além de fomentar o interesse da população por turismo, de quebra o empresário conseguiu fugir do saturado mercado da capital paulista. “Enquanto no ABC existem apenas cerca de 350 agências de turismo, em São Paulo o número ultrapassa quatro mil. A maior parte das pessoas acaba comprando de agências de São Paulo por falta de opções aqui”, explica ele. Para aumentar a carteira de clientes, | Outubro de 2013 37
Disposto a personalizar sua guitarra, o jovem procurou na internet empresas que fizessem o trabalho e ficou surpreso por não encontrar quase nenhuma. “Eu não queria só mudar a cor, queria realmente personalizar”, afirma. Diante da dificuldade, decidiu que ele mesmo faria a personalização, usando os equipamentosde funilaria e pintura da oficina do pai mantida nos fundos da casa da família, na Vila Guarani, em Santo André. O resultado foi tão bom que logo vieram pedidos de amigos e conhecidos, que ele prontamente se dispôs a executar em paralelo às aulas de música que lecionava. Personalizando de cinco a dez guitarras por mês, Romano percebeu que podia fazer da atividade um negócio efetivo, à medida que a demanda aumentava. Para isso fez um curso no Sebrae, onde descobriu que a administração que mantinha estava completamente errada,
“Assim como as cidades do interior do Brasil, a região do ABC paulista é um grande mercado a ser explorado”, avalia Rogério Feijó, da ABF
Mudanças no perfil empreendedor Monitorando o perfil das micro e pequenas empresas no Estado de São Paulo há 12 anos, o Sebrae/ SP identificou algumas mudanças no perfil dos empreendimentos. Entre os destaques está o nível de escolaridade média do empreendedor: 64% dos proprietários das empresas constituídas entre 1995 e 1999 tinham, pelo menos, o ensino médio concluído. Entre 2003 e 2007, este percentual subiu para 79%. A participação das mulheres na População Economicamente Ativa (PEA), composta por pessoas que estão ocupadas ou procurando uma ocupação, também vem crescendo ao longo dos anos. Em 2000, a participação das mulheres na PEA era de 42%, com projeção para atingir 49% (próxima à participação masculina) em 2020. A participação das mulheres na modalidade conta própria (empreendimentos sem empregados) também apresentou um crescimento considerável, passando de 32% em 2000 para 47% em 2020.A categoria empregadores (empreendimentos com empregados) registrava 24% em 2000, participação que deve chegar a 42% em 2020. Em ambos os casos, a participação da mulher em atividades empreendedoras demonstra uma clara evolução.
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Camila Bevilacqua
um novo portal está sendo desenvolvido e o casal já faz planos de expandir o portfólio, passando a atuar também com cruzeiros. Até o final do ano, três funcionários deverão ser contratados. “Se mantivermos o crescimento, logo poderemos abrir uma filial em São Paulo”, diz ele, estimando um aumento de 10% no número total de clientes até dezembro de 2013. Apesar de todos os aspectos mercadológicos envolvendo o negócio, o empresário admite que o fator emocional também pesou na escolha da localidade. Criados no ABC (embora ele tenha nascido no Rio de Janeiro), nem ele nem a noiva queriam cortar laços com o lugar onde cresceram. Gostam tanto que acabaram de comprar o primeiro apartamento, em São Caetano do Sul, onde vão morar depois de casados. “Aqui nos sentimos em casa e num segmento como o nosso, com desafios como mão de obra qualificada e o fantasma da sazonalidade, conhecer a região ajuda, principalmente porque nossa principal divulgação ainda é o boca a boca.” Apontado como uma das melhores formas de aumentar as chances de sucesso, o empreendedorismo por oportunidade tornou-se um dos principais tópicos na cartilha dos empreendedores. E foi de olho na oportunidade que o empresário Rafael Romano, de 24 anos, passou de consumidor frustrado a empreendedor.
Fotos: Camila Bevilacqua
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mas que o negócio tinha potencial para crescer. Pôs “ordem na casa” e engatou outros cursos, também sob orientação do Sebrae, e o negócio deslanchou. Atualmente, a Music Koloré é a única empresa brasileira a realizar o trabalho e personaliza mensalmente cerca de 35 instrumentos musicais, como guitarras e baixos, a preços que variam de R$ 300,00 a R$ 1.000,00, além de realizar serviços de luthieria em geral.A empresa tem atraindo clientes até de outros países, mas os principais ainda são do Sul e Sudeste do Brasil. Se estar situada na região do ABC não teve reflexos diretos no desenvolvimento da empresa, certamente não ter gastos com aluguel ajudou o empresário a manter os custos baixos. “Além disso, meu pai também ajuda, pois tenho apenas um funcionário. Devo contratar mais dois até o fim do ano”, diz. Para o empresário Rogério Lima, abrir uma empresa na região era acertar dois alvos com um único tiro: atenderia a um nicho promissor e ainda teria a chance de atuar em uma região que conhecia bem, o que resultaria em parcerias estratégias eficientes no que tange à clientela. No fim de 2011, Lima investiu R$ 150 mil na abertura da Espelho Meu Design, loja especializada na fabricação de espelhos decorativos. O negócio foi aberto enquanto ele ainda tra-
Espelho Meu Design, de Rogério Lima: faturamento de R$ 25 mil
balhava como escultor de criação na General Motors e manteve a jornada dupla até o início de 2013, quando largou a montadora para se dedicar somente ao negócio. Natural de São Caetano do Sul, ele
conta que a escolha pelo ABC envolveu diversos aspectos, inclusive práticos. Uma loja em São Paulo teria um custo muito maior, por exemplo, especialmente em virtude do público que ele pretendia atingir. Com os contatos mantidos em São Caetano, conseguiu não só uma boa localização para o estabelecimento, como ainda obteve um bom desconto no valor do aluguel. O mais importante, porém, foi considerar o perfil da população. Embora a procura por pessoas de municípios vizinhos tenha aumentado, 50% da clientela de Lima ainda é de São Caetano. “Eu sabia que seria bom começar por aqui por conta do alto poder aquisitivo. Nosso público-alvo são os grupos A1 e A2, jovens descolados que procuram objetos de decoração diferenciados, apesar de termos clientes de todas as idades”, revela.
Os preços variam de R$ 900 e R$ 1,8 mil, mas o empresário garante o diferencial do produto. A maior parte das vidraçarias vende espelhos decorativos cortados em acrílico, com dimensões pequenas e fixação por meio de fita dupla face, o que dificulta a remoção para pintura ou mesmo manutenção da parede. Os espelhos de Lima vêm com penduradores e um duplo layer (duas placas com as astes cortadas para compor o painel), ideia que inclusive já foi registrada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). A meta do empresário é aproveitar melhor a capacidade de produção da fábrica e vender entre 50 e 80 espelhos por mês até o início de 2014, dobrando o faturamento atual de R$ 25 mil. “Não temos concorrentes e acreditamos em nosso produto. Será uma questão de tempo para as pessoas nos descobrirem, aumentarmos o faturamento e, quem sabe, até abrirmos filiais”, conta.
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Meio ambiente Mais da metade da população brasileira não tem rede de tratamento de esgoto em casa. Este é só um dos dados de estudo divulgado sobre a situação do saneamento básico nas cem maiores cidades do país – no ABC, Mauá, Diadema e Santo André têm qualidade duvidosa
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Camila Bevilacqua
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Redação - redacao@leiaabc.com
erviços de coleta de lixo e tratamento de esgoto deixam a desejar em três cidades do ABC. Mauá, Diadema e Santo André foram os municípios que, pela ordem, foram os que mais caíram no ranking da entidade que avalia a qualidade desses serviços nas cem maiores cidades brasileiras Das quatro cidades da região que aparecem no mapeamento, tiveram queda no ranking Santo André (caiu do 25º para 26º lugar), Diadema (do 30º para 35º) e Mauá (do 46º para 62º). São Bernardo foi a única que evoluiu, passando do 48º para o 39º lugar. Uberlândia (Minas Gerais) e Jundiaí, no interior paulista, estão na primeira e segunda colocações, respectivamente. Os piores desempenhos foram das paraenses Santarém e Ananindeua. O estudo, feito pelo Instituto Trata Brasil, foi realizado com base em dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), aponta que as cidades do ABC perderam posições. “O fato de ficar estagnado já derruba as cidades no ranking, já que tem outras que investiram para melhorar”, diz o executivo do instituto, Édison Carlos. Ainda segundo o diretor da entidade, a queda nas posições não significa, necessariamente, que a qualidade do serviço prestado na região piorou. “O ABC possui índices altos de atendimento de água esgoto.” Carlos atribui, por exemplo, a melhora de São Bernardo no ranking ao aumento nos investimentos aplicados pela
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Sabesp cita melhorias e promete ampliar tratamento A Sabesp, que opera os serviços de água e esgoto de São Bernardo, cita o alto volume de investimentos na cidade como fator responsável para a melhoria no ranking do Instituto Trata Brasil. A companhia afirma que o município “está hoje entre as cidades que mais recebem investimentos diretos da Sabesp e tem contado com a parceria do poder público municipal no desenvolvimento de projetos”. Segundo a empresa, serão investidos R$ 400 milhões em obras nas cidades das bacias hidrográficas da Billings e da Guarapiranga, entre 2011 e 2014. A companhia também cita os projetos Tietê e Pró-Billings, que têm como objetivo elevar o índice de tratamento na cidade para 90% até 2015. O Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André (Semasa) afirma que os próximos levantamentos do SNIS já apontarão números melhores, já que refletirão o resultado de obras projetadas. A autarquia promete elevar para 70% o índice de tratamento até o ano que vem.
Sabesp. Em 2011, o valor arrecadado no município com contas de água e esgoto foi de R$ 237,2 milhões. Deste total, R$ 52 milhões foram gastos em melhorias na rede, o equivalente a 21,9% da renda. Em 2010, a quantia representava 12,24%. A cidade também teve alta no índice de esgoto tratado, passando
de 16,97% para 20,98%. A perda d’água, no entanto, ainda é alarmante: cerca de 48,65% do recurso não é tarifado devido a fraudes, falhas em medidores ou ligações clandestinas. Em 2010, o índice era de 51,46%. Em um ano, os investimentos em melhorias no saneamento básico foram
reduzidos, proporcionalmente, nos outros três municípios do Grande ABC avaliados. Santo André, em 2011, aplicou apenas 3,13% do valor arrecadado, taxa que em 2010 era de 6,45%. Dos cem municípios estudados, ocupa a sétima pior posição neste item. Diadema gastou 8,86% do montante recebido, enquanto Mauá injetou 7,23%. Nas quatro cidades, a média foi de 10,88%. “O ideal era que fossem aplicados 30% do total. É um número alto, mas que também gera economia na saúde”, acrescenta Carlos. Mauá apresenta péssimo desempenho no quesito tratamento de esgoto: apenas 4,72% do material produzido é tratado. Diadema apresentou boa evolução de 2010 para 2011, passando de 12,29% para 22,29%. O município que trata a maior parte dos resíduos coletados é Santo André, com 33,51%. A média nacional, diz Carlos, é de 38%. Segundo o presidente, as companhias de saneamento deveriam investir mais em redes coletoras. “A ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) ABC, na divisa de São Caetano e São Paulo, é suficiente para atender toda a demanda da região.” O especialista acredita que a o Grande ABC deva melhorar este índice nos próximos anos devido às obras em andamento para construção de coletores-tronco, com a inauguração da unidade prometida para 2013.
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Comportamento
Geração conectada Idosos adotam novo comportamento e se rendem à tecnologia
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Lívia Sousa - livia@leiaabc.com
ricotar e cuidar do lar estão ficando cada vez mais distantes da rotina dos idosos. A terceira idade se permitiu conhecer as novas tecnologias e o resultado não poderia ser diferente: os smarphones e os tablets – e, quem diria, até os games – caíram no gosto desta turma que, na região do ABC, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ganhou mais 85,8 mil pessoas de 2000 a 2010. Apesar disso, a internet ainda é a ferramenta que mais prende a atenção deles. Também de acordo com o IBGE, o contingente de brasileiros com 50 anos ou mais que se conectaram entre 2005 e 2011 saltou 222,3%, percentual correspondente a 5,6 milhões de cidadãos. Motivos para adotar a nova postura não faltam e variam conforme as características de cada indivíduo, mas parte considerável desses idosos já vem de uma geração que deu seus primeiros passos tecnológicos na década de 1950, quando presenciaram a corrida espacial e o início da televisão. Quem se viu em meio a mensagens eletrônicas e redes sociais a partir dos 65 anos de idade confirma que a família também ajuda na mudança comportamental, sendo ela muitas vezes a principal responsável por abrir os caminhos da tecnologia. “Observava meus filhos e netos no computador e minha curiosidade também me fez começar a utilizá-lo”, conta Isolda Inês Maia Curvo, aposentada de 79 anos e moradora de Cuiabá, no Mato Grosso. Além da influência de pessoas próximas, o que contribuiu para alavancar a participação dos idosos na categoria foi 42
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a divulgação da mídia, que nos últimos anos deu mais espaço aos cursos destinados à inclusão digital na terceira idade. Foi assim que Teresinha Oliveira Frias, de 80 anos, teve seu primeiro contato com o universo virtual. “Soube o que realmente era o computador e a internet com a faculdade da terceira idade. Antes disso, nunca havia mexido na máquina”, diz a também aposentada, que mora na região central de Santo André.
Difícil, não impossível
Quem se depara com o novo muitas vezes encontra dificuldades e Divulgação
“Observava meus filhos e netos no computador e minha curiosidade também me fez começar a utilizá-lo”
“quebra a cabeça” até se adaptar com cada ferramenta. Isolda, que hoje utiliza tablet e smartphone e tem conta ativa em e-mail, Facebook, WhatsApp, Twitter e Instagram, não hesitou em procurar ajuda de pessoas experientes no assunto. “Tinha medo de fazer algo que pudesse estragar tudo, mesmo não sabendo exatamente o quê. Meu neto arrumou um professor que me ensinou algumas noções básicas e vi que, se errar, posso voltar e começar novamente”, conta ela, assegurando que agora aprende com os próprios erros. Já a andreense Teresinha afirma que nem mesmo os entraves iniciais a assustaram, sendo os professores e os próprios colegas de faculdade seus maiores incentivadores. “Quem gosta tem interesse e quer saber como os programas funcionam, vai fuçando e aprende tudo”, diz. Mesmo com o interesse crescente da faixa etária pelas atuais tecnologias, as dificuldades de manuseio continuam a retrair alguns idosos, já que grande parte dos aparelhos não é fabricada com foco neste público. O acesso à instrução e o tamanho apropriado das letras nos teclados ou tela estão entre as principais queixas de quem deseja – mas desiste – se conectar na terceira idade.
Conquistas
Hoje está claro que os idosos não se isentam do grupo que expande e compartilha experiências virtuais. No caso deles, o que mais chama a atenção é a possibilidade de fazerem novas amizades e retomar o contato com familiares distantes. Isolda, por exemplo, participa da vida das netas que moram no Rio de Janeiro e dos netos e bisnetos que vivem no Canadá, além de ficar por dentro dos acontecimentos mundiais e garantir o entretenimento diário. “Acompanho meus programas favoritos, dou palpites e leio o que acontece entre as celebridades. Se vejo qualquer comida diferente, sei também que consigo a receita na internet”, completa a cuiabana. Quando necessário, pede ajuda aos netos e recorre a soluções por meio de um site de buscas. O imediatismo é outro benefício apreciado pela terceira idade, sendo Teresinha uma de suas maiores admiradoras. É por meio da internet que a aposentada paga contas pessoais e, com o e-mail, conversa com a irmã e envia fotos e cartões personalizados feitos por ela própria.
Camila Bevilacqua
Para Fernanda Varkala Lanuez, gerontóloga e integrante do Conselho Consultivo da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) de São Paulo, o que pode ajudar a quebrar esta barreira é rever tanto os preços, ainda considerados altos pelos idosos, quanto os investimentos destinados ao aprimoramento de aparelhos voltados a este público. “Essas tecnologias ainda são muito caras para a maior parte da população idosa brasileira. Também é importante ressaltar a importância do investimento em ações voltadas a esta população, visto que até 2050 o Brasil estará entre os sete maiores países em relação ao número de idosos”, explica.
Faculdade da terceira idade fez Teresinha se conectar “A agilidade é ótima e essencial. Você manda e as pessoas já respondem na hora”, declara. “Quando se está on-line o tempo passa rápido, você nem percebe. Há dias em que mando mensagens às duas da manhã e a turma dá risada, pergunta se isso é hora de ficar no computador”, afirma entre risos. No entanto, pesquisas norte-americanas revelam que os benefícios ultrapassam o entretenimento e a resolução de obrigações sem sair de casa. Realizada pela Universidade do Arizona, uma delas mostra que o Facebook pode ajudar os idosos a manter o cérebro hábil e rápido. Outra, feita pela Universidade da Califórnia, afirma que o videogame contribui para que essas pessoas realizem duas ou mais tarefas simultaneamente com mais facilidade. “O número de pesquisas aumenta a cada dia e estimula os idosos a expandir essa utilização para suas casas, mas temos que tomar cuidado com o isolamento que essas ferramentas têm levado. Nunca o contato social deve ser trocado pelo virtual”, alerta a especialista Fernanda Varkala.
Cautela
Da mesma maneira que reconhecem os pontos positivos da tecnologia, os idosos sabem que o caminho também pode ser inverso. Não é raro encontrar casos em que a troca de identidade por golpistas se faz presente e acaba em episódios problemáticos tanto para eles quanto para os mais jovens. “Nem sempre sabemos se a pessoa com quem conversamos é aquela que diz ser, mas sempre que desconfio de algo ou alguém peço ajuda aos filhos ou netos”, diz Isolda. Para Teresinha, a perda de uma relação aprofundada é o que mais a incomoda. “O e-mail é prático e rápido, mas tira um pouco do sentimento. Uma carta escrita de próprio punho é mais íntima. Para as pessoas mais próximas, sempre escrevo um bilhete”, explica. As duas, que se aventuraram neste meio após anos, hoje não abrem mão da tecnologia. Teresinha afirma não se inteirar de detalhes como os megabytes e a velocidade da banda larga e diz que o que já sabe sobre tecnologia supre suas necessidades. Já Isolda pretende avançar ainda mais. “Qualquer coisa que vier de novidade vou, pelo menos, experimentar”, finaliza. | Outubro de 2013 43
Cidades
O alto preço da
liberdade Apesar do aumento no número de brasileiros que moram sozinhos, dificuldade em arcar com os gastos ainda é o grande empecilho para jovens saírem de casa
sonho de todo adolescente é sair debaixo das “asas” dos pais e morar sozinho, com toda a liberdade a que tem direito. O pensamento – rebelde a princípio – não só tem se estendido além da adolescência como também se transformou em atitude, com o número de jovens que moram sozinhos crescendo em todo o país. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indicam que, entre 2009 e 2011, 800 mil brasileiros passaram
a morar sozinhos e se somaram aos sete milhões que já tinham conquistado a sonhada liberdade – aumento de 0,7%. O fenômeno é liderado pela região Centro-Oeste, que aumentou em dois pontos percentuais o número de moradores “solitários”, com uma proporção de 13,8% dos domicílios com apenas um morador. Com isso, a região supera o Sudeste, até então campeão no ranking de 2009, com uma proporção de 13,1% de moradores sozinhos. Com tanta gente interessada em morar sozinha, foi criada uma verdadeira indústria para atender a este novo perfil de brasileiro, que inclui imóveis e serviços pensados para ele. No entanto, se a ideia parece tentadora cada vez mais cedo, também não leva tempo para se constatar que é uma escolha que não representa festa e alegria todo o tempo, seja pelas responsabilidades que implica ou pelas necessidades financeiras. O fato é que a dificuldade de conseguir arcar com as despesas ainda é o principal empecilho para muitos jovens, que têm que lidar com a frustração de permanecer morando com os pais. “Na verdade, a frustração é posterior à relação com os pais e depende da mesma:
Camila Bevilacqua
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Nani Soares - nani@leiaabc.com
“Quanto pior for a relação com os pais, maior será a frustração ao ficar”, afirma Elaine Polizello
quanto pior for a relação, maior será a frustração”, explica Angélica Capelari, professora do curso de psicologia da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp). Os jovens que optam por morar sozinhos buscam independência a partir do próprio espaço, mas não são maioria, segundo ela. Ainda há um grupo grande de jovens que, mesmo independentes financeiramente, continuam morando com os pais, pois têm outros planos e sabem que colocá-los em prática seria mais difícil se assumissem obrigações caseiras. Para a psicóloga Elaine Polizello de Oliveira, embora seja preciso considerar o nível socioeconômico e cultural dos envolvidos, vários fatores influenciam na decisão de morar sozinho, mas de forma geral o desejo de liberdade tem sido desencadeado pelo maior acesso à educação e ao trabalho. Há também os casos de dependência psíquica, quando os jovens percebem essa condição e alimentam o desejo por maior autonomia. Nesses casos, escolhem um momento específico para “cortar o cordão umbilical”, como o ingresso na universidade, para morar em cidades distantes. Assim como limita o avanço educacional, a questão financeira ainda é um grande impedimento para se manter sozinho. Outra situação comum é pais dependerem do salário dos filhos para complementar a renda familiar, o que significa que a falta de dinheiro pode afetar os dois lados. Em ambos os casos, o relacionamento pode ser afetado e gerar frustrações. “Se ficarem juntos por conta de dinheiro, é necessário lidar com a realidade incondicionalmente, agindo com respeito, mas mostrando que os recursos disponíveis não possibilitam a satisfação do desejo naquele momento e que juntos podem tentar fazer com que o objetivo seja alcançado”, orienta Elaine. Se a decisão do jovem for realmente sair de casa, os pais devem tentar entender e ajudar na medida do possível, mas sem exageros. “Para que este atinja a maturidade, não devem ficar custeando tudo e cuidando da manutenção da casa do filho. Se for man-
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tenedora, em função de estudos, por exemplo, deve colocar alguns limites quanto à economia necessária.” Por vários motivos, os homens continuam sendo os que mais pensam em morar sozinhos, reitera a psicóloga. Além da cultura patriarcal que predomina no país, há a questão econômica, já que as mulheres ainda recebem salários menores. Para completar, elas ainda são educadas para verem como principal porta de saída
de casa o casamento. No entanto, as coisas estão mudando, ainda que lentamente. Na avaliação de Elaine, esse “desmembramento” da família brasileira nada mais é do que um novo modelo, o que representa uma evolução dos costumes, reforçando que em alguns casos a distância acaba sendo benéfica, pois fortalece os laços entre os membros da família e ainda pode favorecer o processo de amadurecimento daquele jovem.
Planejar para ter certeza
Na contramão da realidade de quem sai de casa, a compradora Flávia Silva, de 26 anos, se viu morando sozinha num lugar que antes comportava toda a família, cinco pessoas ao todo. Após o casamento das duas irmãs e com o pai se instalando em Iperó, interior do Estado de São Paulo, depois de meses de idas e vindas a trabalho, Flávia viu o sonho de morar sozinha se concretizar. Entretanto, o início não foi tão agradável quanto imaginava:
Cidades me assustam as responsabilidades e tampouco as despesas financeiras, mas quero ter meu espaço, um lugar que eu possa mobiliar do meu jeito e que tenha a minha cara”, diz. A divergência de ideias e estilo de vida é o que motiva a designer Paula Coradini, de 24 anos, a elaborar planos para morar sozinha, sonho que acalenta desde 2010. Com a grana curta, o projeto teve que ser adiado, mas ganhou força novamente há pouco tempo, a partir de uma melhora na renda de Paula, que agora é de R$ 3 mil por mês. A designer já fez os cálculos e constatou que, se a renda não era suficiente antes, agora não é exatamente o valor ideal para bancar a independência. Assim, mantém o projeto em stand-by até obter estabilidade suficiente para dar o passo sem correr o risco de ter que voltar atrás. A ideia mais provável, porém, é que ela divida o imóvel com alguém, o que deve reduzir consideravelmente os gastos mensais. Justamente por não ter certeza de quando e como sairá de casa, Paula optou por não contar sobre o plano para os pais e pretende fazê-lo somente quando tiver certeza de que vai realmente sair. O objetivo é evitar um provável mal-estar, a exemplo do que ocorreu com a irmã, que também foi morar sozinha e cuja reação dos pais não foi exatamente das melhores. Passado o “susto” inicial, a expectativa é que eles aceitem a decisão como mais uma etapa da vida da filha. “Nossos motivos para sair são diferentes, mas isso é normal. Cada filho tem o seu timing e razões que lhe convêm, mas em geral para os pais nunca é fácil”, admite. Segundo ela, a dificuldade do jovem sair de casa envolve uma série de fatores, que vão desde a saturação no mercado de trabalho à alta especulação imobiliária. Assim, quem resolve enveredar por este caminho precisa se preparar bem, o que geralmente leva tempo. “Hoje, sair de casa não é tão simples como na época dos nossos pais, então não é uma vontade fácil de realizar”, diz.
Flávia Silva mora sozinha, mas tem liberdade parcial: a casa é dos pais 46
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Segundo a psicóloga Elaine Polizello de Oliveira, é prudente se programar bem antes de dar o passo, especialmente porque, mesmo com todas as benesses, a sensação inicial de liberdade pode dar lugar à preocupação se não houver uma preparação adequada para essa nova etapa na vida. Algumas vezes o jovem se perde no orçamento e acaba recorrendo aos pais, o que demonstra que precisa aprender a se organizar e a viver a partir do que ganha. “O deslumbramento inicial é natural e necessário, pois ajuda amadurecer e a lidar com a realidade. Liberdade é bom, mas também impõe regras e são elas que no final vão conduzir à real liberdade. Tem jovens que, ao morar sozinhos, ficam muito mais em casa do que quando moravam com os pais”, diz. Quando se decide morar sozinho, a última coisa que passa pela cabeça é voltar para a casa dos pais, mas a verdade é que nem sempre há outra solução. Se esta for a única alternativa, o ideal é haver uma discussão entre todos os envolvidos. É preciso ter em mente que uma possível volta trará mudanças na vida de toda a família, e não só de quem volta, alerta Elaine. Para quem retorna, a volta pode vir acompanhada do sentimento de frustração, por isso a possibilidade deve ser encarada com o máximo de maturidade e compreensão possíveis.
Camila Bevilacqua
a falta que sentia dos pais era tamanha que ela chegou a entrar em depressão. Para se reerguer e vencer a solidão, investiu no máximo de atividades possíveis após o trabalho. Fazia academia, pós-graduação e intercalava com aulas de inglês. “Chegava sempre exausta em casa e não tinha tempo para me sentir sozinha”, conta. Também ajudou o fato de ter que aprender atividades simples da rotina de quem mora sozinho, como recolher o lixo e colocá-lo para fora no dia certo, a separar as roupas pela cor na hora de lavar, não deixá-las tempo demais no varal e pegar leve no amaciante, bem como deixar a casa “minimamente habitável”. “Percebi o quão importante é o valor destes afazeres domésticos que minha mãe vivia nos cobrando quando eu era mais nova e que me torturavam. Agora, se eu não fizer essas coisas, ninguém as fará para mim.” A lição, no entanto, foi aprendida a duras penas e depois de experiências como lixo apodrecendo no quintal. Com uma renda mensal de R$ 4 mil, Flávia arca com os mantimentos e as contas básicas como luz, água, telefone e uma diarista, embora ela e a mãe façam regularmente uma faxina mais pesada. “O que às vezes me incomoda é que, uma vez a casa não sendo minha, ainda continuo sob as regras dos meus pais, como ter horário para chegar e sair, além de regras internas”, afirma. O objetivo dela é ter o “próprio canto”, plano que tem sido adiado em virtude da preocupação em assumir um compromisso tão longo, além do valor das parcelas ainda ser bastante alto. Ainda assim, a ideia é conseguir em até dois anos, decisão que a família não só apoia como incentiva. Para ela, comprar o próprio imóvel é uma forma de garantir um espaço seu e ainda fazer um bom investimento. Justamente por essa importância, é um projeto que requer um bom planejamento, já que é preciso abdicar de algumas coisas para conseguir cumprir os pagamentos. Nada disso, porém, a desmotiva. “Não
Ponto Justo
Fazendo a América Patricia Bono Advogada, mestre em direitos difusos e coletivos, articulista e conferencista. bono@uol.com.br
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o início do século XX, o Brasil engrossou a lista de imigrantes que aqui chegavam para trabalhar nas fazendas de café. Esta lista era alargada pelos imigrantes italianos, portugueses, espanhóis e japoneses. A história da maior parte destes imigrantes convergia para uma fuga de uma pobreza que assolava principalmente a Europa, em razão das guerras, da fome e das dificuldades econômicas. O país, então, se acostumou e assimilou vários sotaques e teve sua tradição montada com ingredientes destas outras culturas, o que foi absolutamente enriquecedor. Nada mau para um país de características rurais que, em 1900, tinha 17 milhões de pessoas espalhadas por suas terras continentais. O censo de 2010, todavia, nos apresentou uma população de mais de 190 milhões de pessoas, onde 84,4% vivem em área urbana. Deste total, mais de 286 mil são imigrantes que possuem residência no país há mais de cinco anos. Mas o que torna o Brasil um país tão atraente? Não temos inverno rigoroso. Não temos notícias de tufões, terremotos e tsunamis. Mas é só isso? O português é a sétima língua mais falada no mundo, mas isso é um atrativo? Para um estrangeiro se instalar em terras tupiniquins há um calvário de documentos e procedimentos. Para se fixar de modo definitivo no Brasil é necessário que o estrangeiro obtenha o visto permanente, o qual tem finalidade imigratória. É concedido pela representação consular brasileira competente no país de origem daquele que pretende radicar-se no Brasil, ao amparo da Lei nº 6.815/80, bem como das resoluções do Conselho Nacional de Imigração – (CNI). Claro que estamos tratando de pessoas normais, não daquelas que acessam o território nacional sem autorização (ainda que acompanhadas de figura governamental), nem de pessoas que, a exemplo de Ronnie Biggs, cometem crimes em seus países de origem e se aproveitam de o Brasil não ter relacionamento de extradição com o mundo todo. Nem estamos tocando em Battistis da vida que, mesmo condenado em terras
italianas por quatro homicídios, recebeu todas as benesses que a irresponsabilidade presidencial pode lhe dar. De qualquer forma, o que mais se observa nos imigrantes que chegam não é mais o sonho de se “fazer a América”, mas a esperança de se viver em um lugar onde a beligerância entre países, ainda que de cunho econômico, não seja tão patente. Acabam, então, desembarcando em terras onde a guerra civil está institucionalizada, mas velada; onde o acesso à educação é inconstante, onde a saúde pública é tratada com desdém. Mas quem faz escolhas deve sempre assumir as consequências que lhe são oferecidas. Eixos políticos internacionais que nos eram tão longínquos começam a roçar nossas costas. Num mundo de mega-aviões, internet e tantas outras tecnologias à disposição, talvez os motivos que antes se viam propícios para o início de guerras sanguentas tenham trocado de vulto. Economias fortes suplantam países com sistemas jurídicos capengas e políticos despreparados ou corruptos. Talvez a América não seja mais aquela dos sonhos e, certamente, quem escolhe uma porta, fecha todas as outras. http://g1.globo.com/brasil/noticia/2012/04/numero-de-imigrantes-cresceu-867-em-dez-anos-no-brasil-diz-ibge.html 2 http://extraconsult.com.br/noticias.php?id=60 1
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Turismo
Paraíso caribenho Especial para Leia abc Thais Sabino
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guas cristalinas, em temperatura morna, praias rodeadas por natureza e um clima de verão o ano inteiro. Com estas características, as Bahamas são perfeitas para receber turistas ao longo do ano. O país independente é formado por mais de três mil ilhas, banhadas pelo mar azul-turquesa do Caribe. A principal ilha é Nassau, onde está localizado o aeroporto, que recebe voos do mundo inteiro, mas o local também é destino de cruzeiros marítimos. Roupas leves, protetor solar e cuidados com a hidratação são fundamentais para garantir uma estadia tranquila e o aproveitamento de tudo 48
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o que as praias têm para oferecer. Composto por diversas residências coloridas, o lugar conta com uma ampla infraestrutura turística. E passeios, táxis e serviços de guias de turismo podem ser encontrados em quase todas as partes da ilha. Os preços não costumam ser exorbitantes e a moeda aceita é o dólar americano. Uma das principais atrações de Nassau é o resort Atlantis, que fica em uma ilhota vizinha, a Paradise Island, e é acessível por táxi. Partindo do porto, o custo é de US$ 4 por pessoa. O Atlantis é um resort de luxo e, além de excelente opção de hospedagem, tem acesso às praias Covem Paradise Lagoon, Atlantis Beach e Paradise lgação Fotos: Divu
Cartão-postal da região, as ilhas que formam as Bahamas são o cenário ideal para quem busca sol e paisagens paradisíacas
Beach. As atrações, no entanto, não param por aí. O resort conta também com um parque aquático equipado e um aquário que permite interação com golfinhos. Para passar o dia, basta pagar uma taxa de cerca de US$ 70 por pessoa, com almoço incluído. Para quem não quer se limitar às instalações do Atlantis, ao lado há
uma praia pública com vista de tirar o fôlego. Os moradores reconhecem os turistas de longe e oferecem serviços como aluguel de cadeiras, guarda-sol, além de passeios de jet-skie bananaboat.Como nas praias brasileiras, em Nassau também é comum a passagem de vendedores ambulantes de artesanato e produtos locais. Uma das ofertas imperdíveis é o drinque típico, chamado Bahama mama, uma combinação de rum, xarope de romã, suco de laranja, suco de abacaxi e gelo. Em Nassau, é difícil passar frio: além do calor de 30°C, comum nesta época do ano, a água azul-turquesa é morna. Todas as fotos de anúncios turísticos da região exibem nada além da realidade e o mar é realmente incrível, completamente transparente. A prova da preservação da praia caribenha é a quantidade de cardumes que passam entre as pessoas. Love Beach, Cabbage Beach e Cable Beach também estão na lista das praias paradisíacas das Bahamas e merecem visita, com excursões para todas elas saindo do porto. Em ambiente mais urbano, próximo ao centro comercial de Nassau, estão o Museu Pirata, igrejas e construções históricas que rendem boas fotos. O museu ainda conta a história da ilha, que envolve disputas, aventuras e guerras entre piratas. Para conhecer o centro comercial, o turista pode optar por passeio de charrete ou fazer todo o percurso a pé.
Compras em Nassau
As lojas de Nassau ficam todas concentradas próximas ao porto e os carros-chefes de vendas na ilha são joias, relógios, perfumes e maquiagem. As pedras preciosas, por exemplo, atraem clientes de várias regiões do mundo, assim como aficionados por relógios suíços, como a marca Rolex. Diamantes para dar brilho a anéis de compromisso também estão na lista dos itens que fazem a cabeça dos visitantes.
Opções de hospedagem: *Diárias variam de acordo coma época do ano e aprocura de turistas, por isso devem ser consultadas diretamente com os hotéis. Coral Towers Atlantis – Paradise Island Situado na Lagoon Beach, é um resort cinco estrelas,que inclui parquet aquático, cassino e campo de golfe. Royal Towers Atlantis – Paradise Island O resort oferece quartos decorados com casino e um habitat de vida marinha natural. The Cove Atlantis – Paradise Island O resort tem suítes com vista para o mar, piscinas e uma seleção de atividades para adultos, como jogos e jantares. One&Only Ocean Club – Paradise Island O resort conta com campo de golfe, quadra de tênis, spa e área aquática para os hóspedes. The Reef Atlantis – Paradise Island O resort luxuoso tem um cassino gigante e parque aquático com interação com animais. British Colonial Hilton – Nassau O hotel conta com praia privativa e piscinas ao ar livre. Graycliff – Nassau Instalado em uma mansão restaurada de 1740, o hotel tem piscinas e restaurantes típicos para os hóspedes. Orchard Garden Hotel – Nassau Localizado a 400 metros da praia Montagu, o hotel tem piscinas, espaço para churrasco e serve café da manhã continental aos hóspedes.
Para quem não vai às Bahamas com o intuito de fazer compras, uma visita às lojas de suvenires pode ser interessante para ter um objeto que lembre o local, Na avenida principal está a maioria dos estabelecimentos que comercializam camisetas, xícaras, copos, chaveiros, imãs de geladeira, entre outros, com referên-
cia ao local. Os famosos charutos cubanos e bebidas locais também podem ser encontrados no centro comercial de Nassau. A cerveja típica da região, a Kalik, é vendida praticamente a cada esquina. Ainda no centro, estão restaurantes famosos como Burger King, Hard Rock Café e a cafeteria Starbucks. | Outubro de 2013 49
Tech
CloudComputing: muito mais que nuvem Luiz Paulo Bellini Junior* bellini@awdigital.com.br Luiz Paulo Bellini Junior é especialista em marketing digital com ênfase em Search e Analytics. É sócio da AW Digital (bellini@awdigital.com.br). Quais são os temas que você mais gostaria de ler aqui? Envie um email com sua opinião.
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este mês, eu gostaria de aproveitar este espaço para apresentá-lo(a) ao Mashable.com, líder mundial em informação da geração conectada. O website dedica-se a cobrir assuntos como cultura digital, mídia social e tecnologia. Seis milhões de pessoas o seguem nas redes sociais e mais de 20 milhões acessam o site mensalmente. Um artigo publicado no Mashable.com é compartilhado na rede social a cada segundo. Você deve estar se perguntando: por que tanta apresentação? Porque o assunto deste mês está baseado nas informações publicadas no Mashable e nas experiências compartilhadas entre os seus visitantes nas redes sociais. Ou seja, conteúdo armazenado e coletado totalmente na nuvem, ou mundialmente conhecida como Cloud. O que é Cloud? Para que serve a computação na nuvem e como você pode se beneficiar dela? É confiável? Para quem não conhece o assunto, parece algo abstrato. Mas você vai ver como isso pode mudar a sua vida. Pode ser que você já esteja usando e nem saiba. Se você está na rede social ou usa alguma aplicação de armazenamento de arquivos on-line, você usa a nuvem – você só não consegue vê-la. OCloud não é algo físico. Você não consegue tocá-lo. A computação na nuvem é formada por uma rede de servidores espalhados pelo mundo. Cada servidor tem uma função diferente e as informações entre eles circulam a cada milionésimo de segundo. Por exemplo: você tira uma foto com seu smartphone. Esta fica armazenada na memória do seu telefone até que você posta a imagem no Instagram, ou no Facebook. A partir daí, ela já está na nuvem e você pode apagá-la do seu aparelho, liberando espaço para mais fotos. Ou, em vez de colocar sua foto na rede social, você pode armazená-la em aplicações como Google Drive, Drop Box, Copy ou iCloud. A partir disto, você consegue acessá-la de qualquer aparelho com acesso à internet.
O Cloud está em todo lugar, a todo momento, muitas vezes gratuitamente. Mas nem sempre foi assim. Segundo Ricardo Amorim (@ricamconsult), há 25 anos, armazenar 10GB custava US$ 460.288. Das aplicações de armazenamento de dados mencionadas anteriormente, o Google Drive e o Copy permitem 15GB de espaço cada um, o Drop Box começa com 2GB e o iCloud, com 5GB. Ou seja, se você gerenciar seus arquivos entre as quatro plataformas, terá 37GB sem pagar um centavo. Imagine o impacto destas mudanças para os negócios. De acordo com a consultoria IDC, o CloudComputing ajudou organizações no mundo todo a economizar US$ 400 bilhões, só no ano de 2011. No Brasil, 2013 será o ano da computação em nuvem. Este tipo de negócio cresceu 120% nos últimos três anos. Atualmente, movimenta US$ 257 milhões. A estimativa da IDC é que o ramo continue se expandindo 74,3% ao ano até 2015, quando deverá registrar investimentos de US$ 789 milhões. As principais vantagens do Cloud são: escalabilidade e redução de custos. Esta tecnologia está alterando os modelos de negócio e ampliando recursos. Por exemplo, em uma das minhas empresas possuímos apenas um servidor local e utilizamos servidores na nuvem para gerenciar uma série de documentos. A maioria das soluções que utilizamos, de controle de projetos a ERP, fica hospedada no Cloud e os ganhos de eficiência são impressionantes. Por último, a computação da nuvem é confiável? Sim e não. Tudo depende de como você gerencia o serviço. Os maiores players globais no assunto – Google, Apple e Microsoft – confirmaram que farão grandes investimentos no quesito segurança. Mas tão certo quanto os impostos e a morte é que em algum ponto no futuro a aplicação web vai cair. Isso já ocorreu com a Amazon, o Facebook e o Instagram. Então, assim como tudo na vida, antes de começar é melhor planejar. Bem-vindo(a) ao Cloud.
Por dentro
Fazendo história desde 1933
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ão 80 anos de luta. O tempo para o Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá passa, mas como toda entidade de ajuda aos trabalhadores, rapidamente, sem que ninguém perceba. O atual presidente da entidade, Cícero Firmino, o Martinha ressalta a importância da trajetória de luta sindical para avançar nas questões trabalhistas do País. “Participamos de todas as greves metalúrgicas na Região, junto com os demais sindicatos da categoria. Sofremos cinco intervenções pela ditadura. Nascemos antes da CLT. Além de apoiar outros assuntos de âmbito político e social, como o petróleo é nosso, a questão da pesca estrangeira nos mares brasileiros, fim da ditadura militar, entre outros”, destaca. A fundação oficial do sindicato ocorre em 23 de setembro de 1933, porém, a entidade já estava nas ativas cinco anos antes e, segundo o dirigente, a entidade tem uma importância histórica nas conquistas da categoria na Região e no País. “Este é o segundo sindicato mais antigo do ABCD.” Martinha diz estar convicto que o papel das entidades sindicais mudou de acordo com a modernização e os itens de luta. “No inicio lutávamos até por papel higiênico nos banheiros e bebedouros nas fábricas. Isso mudou. Avançamos, houve conquistas. hoje não é preciso decretar greve para forçar o patrão para conversar. Agora mandamos um comunicado e de bate pronto à secretária já agenda uma reunião.”
Filiados
Dos tempos da plena industrialização do País, final da década de 60 até os anos 80 tudo era diferente e centenas de filiados estavam presentes nas fichas de sindicalizados. Hoje a entidade conta com 35 mil metalúrgicos na base. “Depois com a abertura econômica na década de 1990,
durante a gestão do ex-presidente, Fernando Collor, muitas fábricas fecharam ou reduziram postos de trabalho. Uma Cofap, por exemplo, tinha 12 mil trabalhadores, hoje a empresa que tem mais funcionários na base tem 1.500”. Segundo ele, as novas tecnologias, a crise econômica da década de 1990 e outros fatores influenciaram para chegar a estes dados.
Fusão sindical
Durante três anos (1993-1996) o sindicato se unificou com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, mas, a gestão não avançou e por isso as entidades se dividiram novamente. Apesar de ser filiado à Força Sindical desde 2000, o Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá foi à primeira entidade a ser filiada à CUT (Central Única dos Trabalhadores). “Nossa intenção é jamais nos afastar das nossas raízes”, diz o atual presidente do sindicato. “Poucas entidades chegam aos 80 anos. Mas nosso orgulho vai além da longevidade. Tem a ver com a vitalidade, com a participação da entidade nas lutas imediatas por salários e condições de trabalho da categoria, mas também pelas lutas universais pelas liberdades democráticas.” Diante de ameaças concretas aos direitos dos trabalhadores, como a representada pelo PL (Projeto de Lei) 4.330, que legaliza a terceirização de atividade-fim e tem potencial para esfacelar as relações de trabalho conforme as conhecemos, o sindicalista diz que a única saída é a militância.
Mercado de trabalho
Agência virtual Em virtude da praticidade e dos bons resultados, encontrar trabalho por meio das redes sociais virou mania entre os internautas
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Nani Soares - nani@leiaabc.com
e há algumas décadas conseguir uma vaga no mercado de trabalho significava bater de porta em porta com o currículo na mão ou mesmo distribuí-lo diariamente em agências de emprego, as ferramentas agora são outras. A mais recente – e começa a ser cada vez mais utilizada – são as redes sociais, que estão elevando o patamar do conhecido networking. Mais do que simplesmente criar um perfil onde se expõem gostos e preferências, as redes sociais tornaram-se “vitrines” para divulgação do perfil profissional. Assim, são utilizadas desde redes específicas para tal finalidade, como o LinkedIn, até redes populares de socialização, como o Facebook. Mas será que as pessoas estão sabendo usá-las corretamente para conseguir trabalho? “As redes sociais são grandes aliadas na busca de uma vaga no mercado de trabalho, auxiliando tanto os candidatos quanto as empresas. A velocidade na troca de informações e o número de pessoas que têm acesso às informações são as principais mudanças para empregados e empregadores”, avalia Fernanda Correr, coordenadora de recrutamento e seleção da empresa Holomática. Ao contrário do LinkedIn, que oferece informações profissionais detalhadas, as informações obtidas em mídias sociais como Facebook e Twitter são outras, mas ajudam a conhecer melhor o candidato e servem para complementar o seu perfil. “Uma dica para as pessoas que buscam
por emprego é que ampliem a rede de relacionamentos, focando também em empresas que oferecem e divulgam vagas”, esclarece Fernanda. Manter uma ampla rede de relacionamentos realmente aumenta as chances no mercado, segundo Eline Kullock, presidente do grupo Foco, pois permite visibilidade e ainda possibilita uma maior troca de informações entre os contatos, auxiliando na divulgação das pessoas. Contudo, não basta fazer deste o único caminho. “Conseguir uma boa posição profissional depende de muitos fatores e um deles é a rede de amigos e contatos, que pode sim ajudar. Mas o profissional não pode achar que apenas com essa base vai conseguir um emprego e lá permanecer”, alerta. Mesmo sendo mais utilizadas para lazer, as redes sociais são uma das melhores ferramentas na busca por emprego, assegura Eline. Se usadas de forma inteligente e sensata, podem trazer excelentes resultados. Para as empresas, constituem uma ferramenta eficiente e barata quando se trata de abordagem, além de servirem como instrumento de averiguação do comportamento dos candidatos, possibilitando conhecer facetas que eles dificilmente mostrariam em uma entrevista, quando geralmente as pessoas costumam manter o autocontrole. Já para os profissionais, a ferramenta é eficiente, porque ajuda a desenvolver uma melhor percepção sobre a forma de exposição. Cientes de que cada vez mais as empresas checam as páginas sociais antes de qualquer contratação, as pessoas acabam adotando um comportamento diferenciado e mais adequado, pois sabem que isso aumenta as chances de ser recrutado, garante Eline.
Ainda restrito
Apesar de populares, acredita-se que nem todos utilizeam a ferramenta na hora de conseguir uma vaga, sendo uma prática mais comum entre jovens da chamada geração Y, o que já é um avanço, haja vista que há cinco anos era praticamente uma exclusividade dos profissionais da área de comunicação. A jornalista Bruna Lavrini, de 23 anos, é uma das pessoas que aderiram
a este tipo de procura de emprego. Para garantir resultado, Bruna segue vários perfis de vagas e afirma que a demanda continua grande. “Sou uma dessas pessoas que pensam que enviar um currículo nunca é perda de tempo. Mesmo que você não seja o perfil procurado para a vaga anunciada, a empresa já fica te conhecendo e um dia eles podem precisar de alguém com suas habilidades.” Há cerca de quatro anos, a jornalista foi contratada como estagiária temporária depois de ver o anúncio de uma vaga no Twitter. Bruna conta que foi mais um golpe de sorte do que algo pensado estrategicamente, mas garante não se arrepender. Pelo contrário, acha que este é o novo caminho para os profissionais. “Acho que hoje as redes sociais são o principal vínculo de relacionamento entre as pessoas. Elas tornaram a vida de todos mais prática, já que é tudo tão corrido. Em meus últimos empregos, pude observar que o processo de seleção era feito quase que exclusivamente por meio delas”, comenta. O videomaker Airo Munhoz, de 23 anos, mantém as redes sociais como uma das principais fontes de divulgação dos seus trabalhos e é por onde consegue muitos deles, chegando a conseguir até seis por mês, entre vídeos institucionais e trabalhos universitários. “Noventa por cento dos trabalhos que eu consegui foram por conta da minha rede de contatos”, garante. A contratação é apenas verbal e detalhes como valor e prazo de execução são combinados previamente. Apesar da informalidade, ele garante que nunca teve problema com o pagamento ou de qualquer outra natureza. A divulgação é o tradicional “boca a boca”, que, além de não ter custo algum, ainda é muito funcional, segundo ele. Munhoz diz que já usou ativamente o Twitter e o Instagram, mas decidiu reduzir o tempo on-line e preferiu concentrar a procura por trabalho apenas no Facebook. Para quem dispõe de tempo hábil, no entanto, ele indica manter-se ativo em todas as redes sociais, pois elas certamente são muito mais úteis do que podem parecer num primeiro momento.
Desafios e armadilhas
Apesar de ter ganhado força, a divulgação de vagas via mídias sociais acaba não sendo indicada para todas as profissões, sendo mais funcional para determinadas profissões. No caso de atividades operacionais como motorista e cozinheiro, por exemplo, pode não ser tão eficiente. “As áreas administrativas ou gerenciais são mais acessíveis e fáceis de trabalhar com estas ferramentas, atingindo um público-alvo com maior eficácia”, explica Fernanda, da Holomática. Os especialistas são unânimes em uma coisa: mesmo com todas as ferramentas disponíveis atualmente, a maior parte das pessoas não se atualiza com a mesma velocidade com que surgem novas tecnologias. Para piorar, geralmente as pessoas não sabem usá-las corretamente, de forma a explorar todo o potencial oferecido em termos de resultado. No caso das redes sociais, muitas vezes são usadas de forma inconsequente, e a maioria acredita que, por se tratar do perfil pessoal, pode expor qualquer ideia e a qualquer preço. “As redes sociais devem ser usadas com cautela. É recomendado ter atenção ao que está sendo publicado em seu perfil, como fotos, comportamentos e preferências, pois isso pode ser decisivo em um processo seletivo”, reitera Fernanda. Eline, do grupo Foco, não só concorda como também diz que muitas vezes os candidatos são reprovados depois que as empresas analisam os perfis em redes sociais. “Não saber se portar, escrever o que vem à cabeça, se expor, envolver-se em polêmicas e esquecer que aquilo é sua vitrine para o mundo e que estão te vendo e observando são erros fatais”, alerta. Outras armadilhas comuns são erros de português, linguagem coloquial, uso de gírias e não atualização do perfil. “É interessante postar sempre conteúdo relacionado à sua área, participar de grupos, socializar mesmo. Não estar em nenhuma rede social é o pior de tudo. Hoje em dia, para quem quer se recolocar no mercado, não ter um perfil atualizado no LinkedIn é inaceitável”, conclui.
Moda&Beleza
Nerd repaginado Cultura geek invade as passarelas e conquista fashionistas, tornando-se sinônimo de estilo e até de sofisticação O mote da série The Big BangTheory, uma das mais populares nos Estados Unidos e exibida no Brasil pela TV a cabo, é a cultura nerd, ilustrada na figura dos quatros jovens cientistas que protagonizam a trama. Mais do que uma sitcom de comédia, o programa colocou em evidência um dos perfis mais caricatos da nossa cultura: o conhecido nerd, popularmente chamado assim por costumeiramente ser alguém muito dedicado a estudos, livros e com gostos característicos como HQs, tecnologia, cultura, produtos eletrônicos, games, jogos, cartoons, ficção científica e designs. Se você pensou em alguém com aparência estranha e pouco atraente, com óculos de armações grandes e roupas que lembram o armário da vovó, geralmente “desengonçado”, sem muito interesse por moda e ridicularizado pelos mais populares da escola, saiba que este perfil mudou. Os nerds atuais mantêm a mesma bagagem cultural, mas certamente não só têm outra aparência e nomenclatura (foram rebatizados de geeks), como também estão influenciando o mundo da moda. Os geeks são jovens “descolados”, que fazem questão de preservar alguns elementos tradicionais como os famigerados óculos de armação grande. A diferença é que o fazem de forma totalmente repaginada e charmosa. Neste universo estão peças como as camisas sociais com gola abotoada até o final (de preferência xadrez) e coletes de tricô, além de calças de alfaiataria em tons mais fechados como marrom, verde-musgo e mostarda. Como acessórios, os óculos retrô de armações redonda ou quadrada, com ou sem grau e, para os mais ousados, gravatas-borboleta e até suspensórios. 54
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Nani Soares - nani@leiaabc.com
Esta adaptação do que outrora representava a total falta de estilo tem feito tanto sucesso que acabou sendo adotada por diversos outros grupos além dos legítimos geeks e, quem diria, o conceito foi parar nas passarelas. “O conceito Hi-Low (que mistura peças caras e baratas) é perfeito para se encaixar neste perfil, onde se unem peças de baixo custo (ou vintages) com peças mais elaboradas, de grandes marcas e superatuais. O estilo geek traz esse dedinho do passado, das peças mais sem graça, e dá para elas o charme necessário para alinhar num look contemporâneo”, explica Paula Castro, consultora de imagem e professora na faculdade Fefisa e nas Etecs de São Paulo. Segundo ela, o que antes parecia ser inadequado, com os nerds usando peças que em nada estavam alinhadas com as tendências de moda, acabou revelando certo charme, principalmente por ser um estilo totalmente único. O caráter exclu-
sivista acabou chamando a atenção dos fashionistas, que levaram a proposta para as passarelas e, consequentemente, de volta às vitrines. Paralelamente, celebridades passaram a adotar o estilo, se não no look total, ao menos com alguma referência, como um óculos ou camiseta. “O que parecia ser uma moda passageira, por ter nascido de uma tribo que não era bem aceita, acabou se tornando referência para os amantes de tendências de moda”, esclarece Paula. Meninos e meninas têm se deixado levar para a nova moda, mas o público masculino está em vantagem quando se trata de um maior número de possibilidades de caracterização com a proposta, o que acaba servindo como incentivo.
De acordo com Paula, qualquer um pode aderir à tendência, desde que tomados os devidos cuidados para que não ocorram excessos, como o uso de determinadas estampas muito infantilizadas que podem conceder um ar muito juvenil (porém fake) a pessoas de certas idades. A principal diferença entre o estilo dos nerds clássicos e dos geeks é que os primeiros usavam roupas mais largas, enquanto os outros usam peças mais ajustadas, tanto masculinas quanto femininas. Ou seja, as peças geeks têm a referência estética dos nerds, mas com modelagem contemporânea. Beth Salles, consultora de moda do Senac, explica que a moda geek veio para ficar, pois trata essencialmente da liberdade de “ser e poder se expressar como é”. Sendo a roupa um código de comunicação, ela retrata uma nova geração, de pessoas descoladas e com interesses em comum. E, justamente por isso, estas pessoas não precisam ser necessariamente discretas, e sim fiéis ao seu estilo. “Enquanto os nerds eram tímidos e mais isolados, os geeks são mais livres, espontâneos, assumem o seu estilo e não se afastam da vida social. Ao contrário, participam ati-
vamente dela, por isso são aceitos mais facilmente”, afirma. Se a antiga moda nerd não era bem vista, a moda geek é totalmente diferente e já é sinônimo de alguém sofisticado e cool, que tem estilo. A preocupação nesse caso não é cometer excessos, e sim manter-se original e autêntico. Isso significa que é preciso ter originalidade, embora se “fantasiar” de geek possa soar falso demais e comprometer o look. Assim, se você não se enquadra totalmente ao estilo, pode adotar algumas peças curinga para garantir que está “antenado”. O melhor acessório para isso são os óculos, que podem ser usados por pessoas de qualquer idade, além de calças de cor mostarda, tênis no modelo All Star e camisetas com mensagens. Coletes, calças skinnys e bijuterias com ícones tecnológicos também são uma boa pedida. “Os óculos dão um ar cool, divino sempre. Redondos são mais atuais para os homens, enquanto para as mulheres armações quadradas são mais indicadas”, aponta Beth, ressaltando que o item é fundamental no armário de um geek legítimo. Além dele, não podem ficar de fora do armário feminino saia curta xadrez ou escocês, meias três quartos, sapato Oxford ou All Star e camiseta. No dos meninos, calça skinny, blusa xadrez, tênis de cano alto e relógio.
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Cultura
Pavilhão de letras Sucesso em 2011, Feira Literária de São Bernardo do Campo estima receber dez mil visitantes por dia
inguém duvida de que o estabelecimento de políticas públicas de acesso ao livro e de promoção da cultura literária corrobora para a efetivação da igualdade de oportunidades a todos. Carregando esta bandeira, teve início no dia 27 de setembro, e vai até 13 de outubro, a segunda edição da Feira Literária de São Bernardo (Felisb), no histórico Pavilhão Vera Cruz. O evento é destinado exclusivamente à literatura infantojuvenil e integra os festejos do aniversário da cidade que, no dia 20 de agosto, comemorou 460 anos. Em sua abertura, a feira contou com a presença do prefeito Luiz Marinho, que falou sobre a importância das práticas de fomento e difusão da leitura por meio de políticas públicas.“Precisamos estimular cada vez mais o processo da leitura, desde a mais tenra idade. Se isso acontecer, o indivíduo fará uso desse instrumento durante toda a vida”, declarou. A estimativa é que o evento receba cerca de dez mil visitantes por dia. O valor do ingresso é de R$ 2,00, com a garantia de meia-entrada para crianças até 12 anos, professores da rede estadual e maiores de 65 anos. Para alunos e professores da rede municipal de São Bernardo a entrada é gratuita. A expectativa da Secretaria Municipal de Educação é que, por dia, aproximadamente oito mil estudantes da rede municipal visitem os estandes da Felisb. Para os alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), a Secretaria de Educação reservou os dias 3 e 10 de outubro, quando rodas literárias e outras atividades terão como foco este público específico. Já os alunos das creches – entre zero e 3 anos – receberão
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Expositores e formação de leitores Aproximadamente, 60 editoras mantenedoras e associadas à FNLIJ, como a Brinque-Book, Ática, Scipione, Moderna, Salamandra, Rocco, Record, Cia das Letrinhas e Cosac Naify, entre outras, participarão da Felisb. Aos docentes e também ao público em geral serão oferecidos descontos na aquisição de livros, em mais uma ação integrada de incentivo à leitura. Por ser um evento de caráter educacional e voltado ao público infantojuvenil, não serão expostos livros didáticos, de referência, religiosos ou de autoajuda. Isso significa que o acervo obedece à política de seleção de obras da Secretaria Municipal de Educação, que está de acordo com os critérios de avaliação praticados pela FNLIJ. A professora da rede pública municipal Inês Cristina Castilho Pauli não escondia a ansiedade por trazer seus alunos à feira. “Eles adoram! E para nós, como docentes, é muito gratificante encontrar links entre os assuntos tratados em sala de aula e os livros paradidáticos expostos aqui.” Já Tarsila, de 8 anos, vibrava com a variedade de livros. Mesmo estudando em uma escola particular do município, a garota fez questão de comparecer e levar alguns exemplares para casa. “Adoro ler e contar histórias”, disse, sorridente.
a visita dos escritores, autores e ilustradores nas unidades escolares. Por dia, quatro escolas municipais serão visitadas, totalizando quarenta creches. Durante toda a feira, o livro e a leitura constituirão o cerne das atividades, sendo que escritores, ilustradores e editoras estarão em contato direto com o público, sempre abordando seus trabalhos e experiências dentro do universo literário.
Cabe dizer que tudo foi cuidadosamente planejado para receber o público que percorrerá o pavilhão. Além dos inúmeros estandes das editoras convidadas, foram criados a “Biblioteca da Criança” (com quase mil livros dispostos de maneira a facilitar o manuseio pelas crianças), o “Espaço do Ilustrador” e até um cantinho especialmente reservado à leitura para bebês. Na hora da fome, os visitantes poderão recorrer à lanchonete montada pelo restaurante-escola do Centro de Formação dos Profissionais da Educação (Cenforpe).
Fotos: Camila Bevilacqua
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Ana Teresa Cury - redacao@leiaabc.com
História e parcerias
Sucesso de público visitante nas duas semanas em que foi realizada em 2011, a 1ª Feira Literária de São Bernardo garantiu um acervo de cerca de 150 mil livros às bibliotecas da rede municipal de ensino da cidade. Somados a vários títulos literários adquiridos pela
Com quase mil títulos, a “Biblioteca da Criança” foi idealizada de modo a facilitar o manuseio Elizabeth Serra, da FNLIJ: “É uma raridade nas gestões de cidades um investimento de tamanho porte”
Prefeitura de São Bernardo do Campo, via Secretaria de Educação, outros 78 mil livros foram doados aos alunos das Escolas Municipais de Educação Básica (Emebs) que visitaram o evento no Pavilhão Vera Cruz. Dados o reconhecimento e os resultados positivos da iniciativa, esta ação transformou-se na Lei
Municipal nº 6.204, de 28 de maio de 2012, que instituiua Feira Literária do Município de São Bernardo do Campo, com realização a cada dois anos. Criada em 23 de maio de 1968, a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) é a seção brasileira do International Board on Books for Young People (IBBY) e constitui-se como uma instituição de direito privado, de utilidade pública federal e estadual, de caráter técnico-educacional e cultural, sem fins lucrativos, estabelecida na cidade do Rio de Janeiro. Tem como missão promover a leitura e divulgar o livro de qualidade para crianças e jovens, defendendo o direito dessa leitura para todos, por meio de bibliotecas escolares, públicas e comunitárias. De acordo com a secretária-geral da FNLIJ, Elizabeth Serra, a ação é acima de tudo um investimento na cidadania. “É uma raridade nas gestões de cida-
des um investimento de tamanho porte. Além de pioneira, São Bernardo do Campo é um exemplo. Eu não conheço nenhuma cidade deste país que promova um investimento como este na formação de leitores e professores, bem como na compra de livros”, comenta. Exultante por participar pela segunda vez da feira, a representante da FNLIJ completa: “Esta iniciativa viabiliza a ampliação do repertório de escolhas literárias dos alunos e, consequentemente, a ampliação de sua visão de mundo; tem-se, pois, como resultado a formação de cidadãos críticos, a partir da democratização do acesso à cultura escrita e da prática da leitura”. Serviço: O Pavilhão Vera Cruz fica na avenida Lucas Nogueira Garcez, 756, Jardim do Mar. A 2ª Feira Literária de São Bernardo acontece entre os dias 27/09 e 13/10, de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, e aos sábados e domingos, das 10h às 20h.
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Cultura
Dicas Cinema
Fotos: Divulgação
Ação engajada Em Elysium, o diretor sul-africano Neill Blomkamp, esquece os ETs de seu filme de estreia, Distrito 9, mas não o subtexto político. Na primeira metade da obra, são apresentadosdois universos radicalmente opostos a seus habitantes. Iniciadas as sequências de ação, entretanto, a originalidade cede espaço ao manjado estilo “mais do mesmo” de Hollywood. Os fãs do gênero não ficarão decepcionados, porém, àqueles que se entusiasmaram com o engajamento inicial, restará uma ponta de decepção. O elenco mostra um trabalho eficiente, mas foi Wagner Moura quem arrancou elogios da crítica de diversas publicações, incluindo o New York Times.
teatro
Gianecchini e Maria Fernanda Cândido em novo drama teatral
Reynaldo Gianecchini e Maria Fernanda Cândido estrelam A Toca do Coelho, dirigida por Dan Stulbach. No elenco, estão ainda Selma Egrey, Simone Zucato e Felipe Hintze.A obra chega ao Brasil após ganhar o Pulitzer e arrebatar a plateia na Broadway, em Nova York.O espetáculo fala sobre um casal feliz que sofre uma perda chocante. Os dois tentam se reerguer em meio a sentimentos como culpa, desejo e dor. Vai lá: Teatro Faap (11 3662-7233). Sexta, 21h30; sábado, 21h; domingo, 18h. Até 15/12/2013.
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Livro
Casagrande abre o jogo Consagrado jogador de futebol, ícone da “democracia corinthiana”, comentarista da TV Globo e dependente químico em recuperação, o craque narra sua trajetória diante de seu maior desafio: abandonar o vício em cocaína e heroína e reencontrar a si mesmo. Em meio a fotos emblemáticas, temas como o futebol, a família, os amigos e a política estão presentes. Contudo, a luta pela própria sobrevivência e pelo restabelecimento do autocontrole é a tônica da história de Casagrande. Corajoso e verdadeiro, ele aborda, sem pudores, diversos aspectos de um assunto ainda visto como tabu. Vai
lá: de Walter Casagrande e Gilvan Ribeiro, 264 páginas. Preço médio: R$ 29,00.
O que o amor significa para você? Como o amor platônico difere do amor romântico? Como o amor que recebemos de um pai se distingue do amor que recebemos de um amigo? Ou de um cão? Mostrando a visão do amor e da paixão através de desenhos, pinturas, fotografias e instalações, a Pinacoteca recebe, até 17 de novembro, a exposição Amor Paixão – Liebe Leidenschaft. São obras de 22 artistas brasileiros e alemães sobre o tema, com curadoria da artista plástica Damara Bianconi.
Vai lá: Pinacoteca de São Bernardo do Campo. Rua Kara, 105, Jardim do Mar. Até 17 de novembro, de terça a sábado, das 9h às 17h, e quinta até às 20h30. Grátis.
A arte brasileira nas 30 edições da Bienal de São Paulo
DVD
Romance e intrigas no pós-guerra Em 1920, enquanto a Inglaterra se recupera da Primeira Guerra Mundial, a épica terceira temporada traz de volta todos os personagens do suntuoso cenário de Downton Abbey. As vidas e os amores da família Crawley e dos serviçais que trabalham para ela são desvendados, enquanto romance, ambição e desejo reinam na mansão. Vai lá: 1ª a 3ª temporadas – 11 volumes Preço médio: R$ 159,00
Exposições
Pinacoteca de SBC expõe as várias faces do “Amor”
A mostra 30 × Bienal busca apresentar as transformações da arte brasileira que ocorreram em suas trinta edições. O visitante tem a chance de apreciar obras de artistas como Almicar de Castro, Helio Oiticica, Beatriz Milhazes, Regina Silveira, Miguel Rio Branco e Amelia Toledo. Além disso, a expografia de Felipe Tassara foi planejada com o intuito de incorporar a arquitetura do Pavilhão, de autoria de Oscar Niemeyer. O Educativo da Bienal preparou visitas orientadas, ateliês, encontros com artistas, palestras e uma programação especial para famílias. Mais detalhes no site: www.30xbienal.org.br. Vai lá: Pavilhão do Ibirapuera, até 8 de dezembro. Grátis.
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Bastidores
Engajamento ou autopromoção?
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ergunta que não quer calar: tem ou não o artista o direito/dever de se manifestar diante das questões de cunho político que desenham os destinos da nação? Fato posto é que, de tempos em tempos, a política invade a arte e vice-versa. Seja no exercício da profissão, seja em tantas e tantas célebres situações em que o artista supostamente se despoja de seu “manto sagrado”, encarnando apenas sua “persona cidadã”, são muitos os casos de engajamento nas mais diversas causas, no Brasil e pelo mundo afora. Um exemplo? Recentemente, a atriz global Bárbara Paz compartilhou duas imagens para protestar contra a decisão do STF que considerou válidos os embargos infringentes no caso do mensalão. Ao lado das colegas de emissora Susana Vieira, Carol Castro, Nathalia Timberg e Rosamaria Murtinho, Bárbara usou uma roupa preta e escreveu na legenda da foto: “Atrizes em luto pelo Brasil!”. Pronto: o circo estava montado! A tal imagem foi replicada, em todas as mídias, tal qual os Gremlins de Spielberg (diretor este, aliás, do vídeo Don’t Vote, produzido em 2008, em que atores hollywoodianos pediam à população que votasse na eleição em que Barack Obama se elegeu presidente dos EUA), sofrendo todos os tipos de montagens e remontagens possíveis. E ainda houve, em profusão, outros tantos, anônimos ou não, que acharam oportunas as imitaçõese as sátiras ao gesto. Do lado oposto da arena, o ministro Celso de Mello, autor do voto de minerva, alertava, categoricamente, que a validação dos tão mal-afamados
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Ana Teresa Cury Especialista em cultura anatcury@gmail.com
embargos infringentes constitui verdadeira garantia contra o arbítrio e contra pressões ilegítimas exercidas fora do âmbito da Justiça, como fazem diuturnamente alguns meios de comunicação. Em meio à reflexão que a divergência de opiniões sempre suscita, logo me lembrei do imenso bafafá em torno do vídeo É a Gota D’Água + 10 (http://www.youtube.com/ watch?v=2sv75Ltx5gI), que contava com uma respeitável constelação de atores e atrizes globais. A ampla divulgação do mesmo pelas redes sociais rendeu a coleta de um milhão de assinaturas, enviadas à presidente Dilma Rousseff, pedindo a interrupção imediata das obras de Belo Monte e a abertura de um amplo debate sobre o tema. Em contrapartida, não tardaram também as represálias, sob a forma de vídeos produzidos por defensores de Belo Monte: “Tempestade em copo d’água”, proveniente da Faculdade de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Verifique os fatos, da Universidade de Brasília (UnB). Tais réplicas atacavamo caráter amadorístico e parcial dos argumentos dos artistas acerca do tema e o perigo da propagação de informações errôneas e inverídicas. Lanço, pois, a você, prezado leitor, algumas de minhas dúvidas: • Até onde a liberdade de expressão do artista entra em conflito com seu irrefutável papel como formador de opinião? • É imprescindível ao artista deter total conhecimento acerca do assunto que o levou a se manifestar, sob pena de disseminar, inexoravelmente, a ignorância e os desatinos? • Somos tão indefesos e incapazes a ponto de sermos seduzidos pela forma (e pela fama...), sem contestarmos o conteúdo? • É possível diferenciar sensacionalismo e autopromoção do verdadeiro engajamento político a que todo e qualquer cidadão, em um país democrático, faz jus? Confesso que eu mesma ainda não encontrei respostas cabais a tais questões. Certeza, contudo, tenho uma: ainda prefiro me deparar com a foto de Xandy, Carla Perez & Cia encenando luto político a lamentar a ausência de manifestação, seja por censura ou por mero desinteresse de meus compatriotas. | Outubro de 2013 61
Gastronomia
Do jardim para a
cozinha
Base para pratos quentes, sobremesas e, principalmente, saladas, as flores comestíveis são uma boa opção para surpreender o paladar
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Nani Soares - nani@leiaabc.com
izem que quanto mais colorido o prato, mais saudável ele é. Pois, em plena primavera, uma prática gastronômica que ganha força nos restaurantes é a degustação de flores comestíveis. Embora utilizadas para diversos fins culinários como pratos quentes e até frituras (é possível fazer tempurá de rosa, por exemplo), além de doces e drinques, as flores comestíveis são usadas principalmente como entrada, em saladas perfumadas e saborosas. A maior parte das espécies tem sabor intenso, mas em nada compromete as características dos demais ingredientes usados nas receitas. Assim, o doce de violeta, por exemplo, é muito apreciado, pois, além da cor vibrante, tem sabor único, mas as opções de sobremesa são muitas. Com a finalidade de servir como base para pratos principais, as flores comestíveis ainda funcionam bem na decoração de qualquer prato, numa tradução perfeita de paladar e visual. As mais conhecidas são amor-perfeito, rosa, lavanda, capuchinha, borago e calêndula, que se juntam às tradicionais flores de abóbora, manjericão e do tomilho. Também é possível aromatizar vinagres e azeites ou mesmo fazer cubos de gelo para deixar seus drinques mais alegres. Sensíveis, demandam alguns cuidados para manter a vivacidade, como ser 62
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embaladas individualmente e ser acondicionadas em câmaras frias, mantidas a temperaturas que variam entre 14°C e 15°C. Na hora de servir, o ideal é que sejam adicionadas ao prato somente na hora da degustação, para evitar que murchem e percam o frescor. Mas não se engane: mesmo sendo espécies conhecidas, as flores comestíveis são cultivadas diferentemente das flores encontradas em floriculturas. Além do cultivo diferenciado, não levam agrotóxicos, por exemplo. Isso significa que, se a ideia for receber os amigos com uma bela salada colorida, nem pense em comprar naquela floricultura da esquina. Lembre-se de que algumas, ha princípio, podem ser perigosas para a saúde ou ser até tóxicas. Assim, há locais especializados nesse tipo de venda e com a popularização do assunto é fácil encontrar um bom fornecedor. Ele também poderá indicar quais as espécies mais apropriadas para o que se pretende. “Na primavera o consumo aumenta, mas elas ficam muito mais bonitas no inverno”, explica Deborah Orr, proprietária da Dro Ervas e Flores. Pioneira na venda de flores para consumo, a loja atua desde 1997 como fornecedora de brotos, ervas e flores para restaurantes, hotéis e, claro, consumidores finais. São cerca de 150 caixas vendidas diariamente, com cerca de 40 flores em cada uma. “Alguns restaurantes compram duas vezes por semana”, conta Debo-
rah, que, aos 27 anos, toca o negócio criado pela família. O portfólio da Dro inclui mais de 40 variedades de flores e o estabelecimento conta com mais de 200 clientes, inclusive restaurantes renomados como o D.O.M., do chef Alex Atala. O grande mercado consumidor de flores comestíveis são os estabelecimentos de alto padrão e com foco nas classes A e B, o que tem atraído muitas empresas fornecedoras. O problema é que, visando um custo mais baixo, alguns estabelecimentos compram de empresas intermediárias e acabam comercializando flores impróprias para consumo. “A pessoa pode passar mal, mas certamente nunca vai suspeitar de que foram as flores”, alerta. Na fazenda de dois alqueires da empresa, tanto as flores quanto os demais itens produzidos são cultivados de forma orgânica, conforme a vontade de John Robert Orr, irmão da empresária e fundador do negócio, que inicialmente tinha como foco a produção de alface. Com a morte dele, o pai de Deborah resolveu levar a empresa adiante, mas há seis anos passou o comando para a filha.
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Harmonizar
Harmonização no espeto
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varanda Gourmet, item diferenciado no segmento imobiliário atualmente, está mudando a forma das reuniões em torno do churrasco, que ganha versões com menos participantes e tornou-se um evento mais intimista e elaborado. No entanto, como saber qual a bebida ideal para aquele churrasco - seja em casa, na churrascaria ou em um elegante restaurante -e como harmonizo carnes? Esta pergunta foi feita por vários leitores e para tentar ajudar (e pensando neste universo vasto que o assunto pode proporcionar), fui procurar meu amigo Lucas, chefe de cozinha do El Chivito e especialista no assunto. Com muito a explorar, decidimos abrir uma cerveja e iniciamos nossa conversa falando da Parrilla Argentina, que tem como característica grelhas inclinadas em formato de canaleta para escorrer a água e a gordura durante o preparo, Seu corte tradicional é o Bife Ancho, localizado no início do contra filete com um grau de marmoreio alto (gordura entre as fibras da carne), que proporciona maciez e um suave sabor especial. É ideal para ser harmonizado com cervejas do estilo Stout com notas de defumado, como a Esmoke da Sumé-
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Celso Pavani celsopavani@ig.com.br
ria, Barba Negra da Karavelle ou Stout Saint Bier, esta com maltes torrados e extra torrados. Entre os vinhos não pode faltar um bom Malbec com estágio em tonéis de carvalho ou um Cabernet Sauvignon, de preferência com a madeira bem integrada. Na Parrilla Uruguaia, onde a lenha está mais presente (o que acentua o toque de defumado), o destaque são os cortes de cordeiros como Palheta e Carré, que concentra bastante gordura, conferindo um sabor suave, delicado, porém mais apurado. Neste caso são indicadas bebidas com mais carbonatação, ou seja, gás carbônico. “A acidez também é necessária para limpar o palato”, comenta Lucas. A dica são cervejas do estilo Weiss Beer, como Karavelle Weiss, Hefe Weizem da Saint Bier cerveja de trigo com notas de especiarias e que leva maltes tostados, ou outras com estas características. Os vinhos seguem a mesma regra e as castas mais indicadas são Cabernet Sauvignon, Malbec ou um Syha Chileno. Em dias mais quentes, um branco Sauvignon Blanc Reserva pode ser uma boa pedida e até pode-se arricar um bom espumante BRUT ou uma Cava. Se você segue a linha mais tradicional, em seu churrasco não pode faltar a Picanha, maturada ou não. Essa carne que possui alto grau de gordura em suas extremidades, o que a torna macia, porém de estrutura firme. Para ela também vale as regras já citadas e uma boa dica de harmonização são as cervejas mais alcoólicas do estilo IPA (Indian Pale Ale) ou as Strongs, que são mais lupuladas e com um amargor residual. Para os vinhos devem ser consideradas as regras de acidez, além de ser importante ter vinhos com boa estrutura. Não esqueça as guarnições: entradas e saladas poderão ser acompanhadas de uma boa cerveja Pilsen ou vinhos brancos, rosés e tintos mais leves. Mas principalmente não esqueça que “o ponto certo da carne esta na sua mão”. Serviço: * EL CHIVITO - A GRIFE DA CARNE www.elchivito.com.br
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Onde retirar um exemplar RIBEIRÃO PIRES ACIARP Frans Café
Centro Centro
Rua Stella Bruna Cecchi Nardelli, 257 Av. Fortuna, 100
Vila Rio Grande
Av. Lidia Poloni, 28
RIO GRANDE DA SERRA ACIARGS
MAUÁ Banca P. Itália Churrascaria Estrela MG Pães e Doces: Vadão Restaurante
Praça Itália Parque São Vicente Jd.Haydee Jd. Pílar
R. São Silvestre na Praça Itália Av. João Ramalho, 1981 Av. Dom José Gaspar, 490 Avenida Portugual, 576
DIADEMA Acapulco Doceria & Buffet Churrascaria Boiadero Clube Chácara 3 irmãos Padaria Joal Santos Padaria Sabor do Pão ACEDiadema SANTO ANDRÉ
Centro Piraporinha Centro Centro Centro Jd. Donini
Avenida Alda, 244 Av. Piraporinha, 100 Av. Sete de Setembro, 531 Rua Manoel da Nobrega, 1222 Av. Ver. Juarez Rios de Vasconcelos, 140 Rua Turmalinas, 108
ACISA Banca Benedetti CI Santo André CI Colégio Consórcio Intermunicipal ABC Empório D’ivino El Chivito Frans Café Frans Café Fit 3 Centro de Treinamento Super Banca
Centro Santa Tereza Campestre Vila Guiomar Centro Vila Bastos Bela Vista Campestre Jardim Vila Bastos Vila Bastos
Av. XV Novembro, 442 Av. Dr. Alberto Benedetti, 282 Av. D. Pedro II, 3049 Rua Silveiras, 70 Av. Ramiro Colleoni, 5 Rua Dr. Messuti, 329 Rua Edu Chaves, 8 Av. Portugal, 1126 Rua das Figueias, 181 Av. Dr. Messuti, 41 Av. Lino Jardim, 1168
SÃO CAETANO DO SUL ACISCS CI São Caetano Etalele Frans Café Padaria Nova Portuense Revistaria Casinha das Letras
Centro Santa Paula Santo Antônio Centro Santo Antonio Centro
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