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Entender e atuar no quadro brasileiro
No início deste século, o Brasil vivia uma crise que se arrastava por duas décadas. Nas palavras de Emiliano Affonso, “o país foi quebrando, quebrando e quebrou”. Ele lembra que com a moratória nos anos 1980, parou de haver recursos para o METRÔ-SP e para o transporte público de modo geral.
O ex-presidente da AEAMESP assinala que no final dos anos 1990 e início dos anos 2000, reinava no governo local uma visão muito clara a respeito de investimentos em metrô. Dizia-se que o transporte metroviário era caro; caro para o Brasil e para o Estado de São Paulo. E não apenas caro para implantar como também para operar e manter. Emiliano disse que a AEAMESP nunca aceitou essas colocações.
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Não havia recursos para nenhum tipo de transporte público, mas havia uma tendência de certos setores de não olharem o conjunto dos sistemas e a importância de haver integração. Emiliano afirma que a AEAMESP passou a questionar aqueles que promoviam divisões no setor de transporte público, porque essas divisões tendiam a se aprofundar cada vez mais. Muitos diziam não haver dinheiro para fazer metrô, mas que poderia haver para os corredores de ônibus, e afirmavam que os corredores de ônibus dariam um atendimento igual ao do metrô por um custo muito menor. Para o ex-presidente, a única saída foi atuar para desmistificar esse tipo de afirmação.
Emiliano Affonso conta que os esforços para evitar a cisão haviam sido iniciados antes de sua administração, ainda na gestão de Laerte Mathias, nos anos 1990, e foram evoluindo, e agregando apoio. Já nos anos 2000, começou a haver novos movimentos. A indústria estava se posicionando.
Iniciou-se um trabalho dentro da Semana de Tecnologia, com o objetivo de agregar não somente o sistema metroviário, mas todo setor metroferroviário. Era preciso expandir ainda mais esse engajamento, para que o esforço não ficasse restrito aos sistemas sobre trilhos, devendo alcançar outros modos importantes de transporte público urbano e metropolitano, sobretudo, os ônibus. No METRÔ-SP, cerca de 70% dos passageiros carregados provinham do sistema sobre pneus, assim, não fazia sentido haver uma disputa. O importante é que os setores fossem aliados na proteção do transporte público.
Nesse período a AEAMESP passou a participar da Comissão Metroferroviária, da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP).Também nessa época, a AEAMESP perfilou com a Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (ABIFER), com o Rotary, associações, jornais da Zona Leste e políticos na mobilização pelo início da implantação do trecho na Ana Rosa – Vila Prudente, da Linha 2 – Verde do METRÔ.
A luta em torno da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico – CIDE/Combustíveis, em 2001, serviu de amálgama nesse processo. Emiliano explica que se tratava de um novo tributo, que estava sendo criado em Brasília, e que, na matriz dessa ideia, havia a proibição de qualquer investimento dos recursos auferidos em Estados e municípios. A respeito disso, iniciou-se uma ação, que começou na capital federal – e a AEAMESP foi uma das cabeças dessa ação – para fazer com que os recursos viessem para os Estados e municípios. E o empenho deu resultado.
Emiliano Affonso diz que o movimento obteve conquistas no Congresso Nacional em torno da CIDE/Combustíveis, passando o Estado de São Paulo a receber milhões de reais, já na primeira metade dos anos 2000. Esse movimento acabou gerando o Grupo de Apoio ao Transporte (GAT). O
Qualidade do serviço à população no radar da AEAMESP
GAT foi lançado na 8ª Semana de Tecnologia, em 2002, e tinha participação dos trabalhadores, com o Sindicato dos Metroviários e o Sindicato dos Engenheiros, e participação patronal, com o Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários (SIMEFRE), que representa as indústrias. Envolveram-se também entidades, incluindo a Associação Nacional das Empresas de Transporte Urbano (NTU), que congrega as empresas de transporte de passageiros urbanos e metropolitanos por ônibus urbanos. O grupo foi crescendo e aprofundando suas análises e reivindicações.
Já em 2003, se transformou no Movimento Nacional pelo Direito ao Transporte Público de Qualidade para Todos (MDT). No mesmo processo, foi criada a Frente Parlamentar do Transporte Público.
O MDT foi lançado na 9ª Semana de Tecnologia, em 2003 e passou a contar com uma participação ainda mais ampliada do que o GAT, pois a ele se agregaram os grandes movimentos sociais, especialmente fortes naquele momento e com foco na moradia.
Como presidente da AEAMESP, Emiliano Affonso proferiu diversas palestras para lideranças desses movimentos, mostrando que a questão do transporte é fundamental para a qualificação da moradia. Trata-se de uma ideia simples, mas que estava fora do ângulo de visão daquelas organizações: não adianta haver uma moradia distante, que custe relativamente pouco por mês, mas que não conte com o transporte adequado, que permita às pessoas trabalhar, estudar, passear. Com a distância e sem transporte adequado, não se consegue emprego, porque é caro para o vale-transporte, porque o trabalhador rende menos no seu trabalho, em razão do cansaço acumulado em longas viagens cotidianas.
A partir do trabalho do MDT, com forte contribuição da AEAMESP, os movimentos nacionais por moradia passaram a incorporar em suas plataformas reivindicações quanto ao transporte público, fortalecendo as reivindicações do setor. Em 2016, o MDT, que era um simples movimento, estruturouse como Instituto MDT, uma entidade com personalidade jurídica.