Revista do SIPS

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REVISTA DO

Ano III | n° 4

Alimentação da classe C Menos sódio nos embutidos Alternativas para nutrição animal

Carne suína é saudável



ÍNDICE Foto: Tuti Flores

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A classe da fartura Como a alimentação da nova classe média brasileira pode contribuir com a suinocultura nacional

08 Tributação

Artigos

Medidas governamentais tentam melhorar competitividade dos suinocultores

18 - Governador do RS Tarso Genro

14 Código Florestal

26 - Ministro da Agricultura Mendes Ribeiro Filho

Nova legislação provoca poucas mudanças para pequenos suinocultores no RS

Entrevista

24 Qualidade Nutricional

Pedro de Camargo Neto

Carne suína traz benefícios à saúde e é desmistificada por médicos e nutricionistas

05

29 Nutrição Animal

27 Embutidos

Déficit de abastecimento de milho provoca busca por alternativas em ração animal

Brasil terá novas recomendações sobre quantidade de sódio em embutidos

EXPEDIENTE Revista

Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do Estado do Rio Grande do Sul

Praça Osvaldo Cruz, 15 - Sala 914 - Ed. Coliseu Centro - Porto Alegre/RS - Cep 90038-900 (51) 3212-6163 | sipsrs@via-rs.net www.sips.com.br

Diretoria Presidente: OSMILDO PEDRO BIELESKI Vice-Presidente: JOSÉ ROBERTO GOULART Secretário: LORENI DOMINGOS FOSCARINI Tesoureiro: VALMOR JANSEN Diretor Executivo: ROGÉRIO KERBER

Edição Thais D'Avila Produtora de Conteúdo Ltda E-mail: davila.thais@gmail.com Jornalista resp.: Thais D'Avila - MTB 8614-RS Projeto Gráfico e Diagramação: Sarah Souza Foto de capa: A.Marchetti Impressão: Contgraf

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EDITORIAL

O

ano de 2012 foi bastante movimentado para o setor de carne suína no Brasil, tanto do ponto de vista da produção como da exportação. No mercado interno, houve uma turbulência relacionada ao custo elevado de produção, em virtude da alta dos insumos, reflexo do aumento dos preços internacionais da soja e do milho. Os produtores se movimentaram, apresentaram uma agenda de reivindicações ao governo e conseguiram, em parte, superar as dificuldades. Na frente exportadora, tivemos uma excelente notícia: conquistamos um primeiro passo para exportar para o Japão, o maior mercado importador do mundo. O governo japonês avaliou positivamente o status de saúde animal de Santa Catarina. A aprovação do Certificado Sanitário Internacional, autorização que esperamos, deverá ser obtida em breve. Porém, também enfrentamos percalços na rota das exportações, como o embargo russo - continuamos sem respostas satisfatórias sobre o que realmente está ocorrendo - e os entraves para a entrada da nossa carne suína na Argentina, com a introdução de novas autorizações e restrições burocráticas. De janeiro a setembro, o Brasil exportou mais em volume e em receita. A Ucrânia foi o principal destino da carne suína brasileira, seguida pela Rússia. As perspectivas para o setor de carne suína, em 2012, são otimistas: estamos crescendo em produtividade, produção e abrindo novos mercados externos. Pedro de Camargo Neto, presidente da ABIPECS

A

suinocultura gaúcha enfrenta desafios e aproveita oportunidades. Após momentos de grande desempenho, passou a encarar a suspensão – ainda que temporária - das exportações para a Rússia, responsável pela compra da maior parte da carne suína gaúcha. Para muitas atividades, uma queda tão grande significaria o fim da linha. Em vez de desistir, a suinocultura do Rio Grande do Sul seguiu em frente, com a indústria absorvendo o impacto e mantendo a produção nas granjas. A dificuldade colocou em voga a CORAGEM do setor no estado. Agora são os altos preços dos insumos que desafiam o setor. O fato tem provocado reação dos governos na tentativa de ajudar a atividade. Aos poucos, algumas questões, como a produção de milho irrigado, são encaminhadas e esperamos que seja para a solução. Temos a certeza de que o setor atravessará este momento muito fortalecido. Não desistimos porque temos um setor que gera emprego no campo, na indústria e no comércio, provocando efeitos multiplicadores na economia. Temos também incremento em tecnologia, em genética e em boas práticas de produção. Estamos fazendo o nosso melhor e continuaremos assim!

Osmildo Pedro Bieleski, presidente do SIPS

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ESTATÍSTICA

Crescer na CRISE Foto: Divulgação ABIPECS

Setor de suínos aposta no aumento da eficiência e na conquista do mercado interno para superar dificuldades Thais D'Avila

N

a sabedoria oriental, a palavra crise é formada pelos ideogramas que significam “risco” e “oportunidade”. Mesmo sem saber, foi o que a cadeia da suinocultura do Rio Grande do Sul fez, ao longo dos anos de 2011 e 2012, tão difíceis para o setor. Ao mesmo tempo em que a oferta de milho e soja escasseava e o que estava disponível era com custo muito alto, o principal importador da carne suína gaúcha, a Rússia, suspendeu temporariamente as compras. Quem apostou na redução dos alojamentos e queda nos abates, perdeu. O ano de 2012 deve fechar com um número de quase 7,7 milhões de cabeças enviadas para os frigoríficos, mais de 80% com inspeção federal. Este número é quase 4% superior ao volume abatido em 2011. “O Rio Grande do Sul perdeu a primeira posição no ranking dos maiores exportadores de carne suína do Brasil, mas está em segundo lugar, e sempre há a expectativa de retomada de liderança". Segundo destaca o diretor do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos, Rogério Kerber, mesmo com um cres-

cimento tímido, em comparação com outras regiões produtoras, é preciso salientar o incremento de tecnologias e índice de desempenho das granjas.

“Isso é histórico. De toda crise se sai com ganhos de produtividade e eficiência”

O dirigente diz que o foco do setor agora é o aumento do proces-

so de transformação. “O Rio Grande do Sul está industrializando mais, agregando valor nos produtos do setor suinícola e, com isso, ocupando um espaço muito grande existente no mercado brasileiro”, completa. As lideranças das indústrias de suínos do estado apostam que, desta crise, sairão com inovações setoriais, com novas soluções em todas as áreas de produção. “Isso é histórico. De toda crise se sai com ganhos de produtividade e eficiência. Trabalha-se com redução de custos e há mobilização para incorporar conhecimentos desde a propriedade rural até a planta industrial, afirma Kerber". Revista do Sips 2012 | 5


ENTREVISTA

Garantias e TRANQUILIDADE Pedro de Camargo Neto não concorda com algumas exigências, mas garante que para exportar é preciso cumprir as determinações dos compradores

Thais D'Avila

“Aumento do número de leitões desmamados, peso e tempo para o abate dos suínos: em todos os índices de produtividade o RS é líder”

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H

á sete anos, o presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Suínos, Pedro de Camargo Neto, lidera o setor em meio a oscilações de mercado e desafios estratégicos. E a liderança, conforme apontam os indicadores, vem dando certo. Apesar das dificuldades, queda de alguns mercados e barreiras sanitárias e alfandegárias, a suinocultura brasileira avança e vem colaborando com o superávit da balança comercial do agronegócio. Nessa entrevista, Pedro de Camargo fala sobre temas como desempenhos regionais e desafios da questão sanitária. Revista do Sips (RS) - O centro do país vem registrando crescimento na produção de suínos. Como o senhor vê a inserção do Rio Grande do Sul no cenário nacional? Pedro de Camargo Neto – O crescimento paulatino da produção de suínos no Centro-Oeste é um movimento esperado, uma vez que as principais

matérias-primas da ração, soja e milho, são provenientes, em grande escala, de Mato Grosso e Goiás. Já o Rio Grande do Sul registra importante aumento de produtividade. Aumento do número de leitões desmamados, peso e tempo para o abate dos suínos: em todos os índices de produtividade o RS é líder. A crise deste ano é reflexo da perda do mercado da Rússia, lembrando que o RS cresceu muito no passado recente, justamente embarcando para esse mercado. RS - O quê, na sua opinião, falta para o estado gaúcho crescer? Pedro de Camargo Neto – O Rio Grande do Sul é o segundo principal estado produtor de suínos. A questão da reabertura do mercado da Rússia é muito importante. A habilitação de estabelecimentos para a China, também. O Brasil caminha para um futuro brilhante e o RS estará lado a lado. RS - Santa Catarina, área livre de febre aftosa sem vacinação, conquistou recentemente o direito de


Foto: Divulgação Abipecs

Pedro de Camargo Neto na Abipecs

exportar para o Japão. Qual a sua opinião sobre a vacinação contra a febre aftosa no rebanho brasileiro? Pedro de Camargo Neto – Na verdade, ainda falta aprovar o Certificado Sanitário Internacional para podermos falar que temos o direito de exportar para o Japão. Conquistou-se o mais difícil, que foi a avaliação sobre o status de saúde animal de Santa Catarina. A vacinação precisa ser vista como uma fase intermediária para erradicar a doença. A ideia sempre foi um dia parar de vacinar. Agora, é preciso parar (de vacinar) com responsabilidade, somente quando as condições de vigilância e emergência sanitária estiverem a contento. RS - Na sua opinião, a barreira relacionada à vacinação contra febre aftosa pode ser protecionismo disfarçado de cuidado sanitário? Pedro de Camargo Neto – Não se pode ignorar que o vírus da febre pode causar sérios prejuízos à economia da

pecuária de qualquer país. É justo que se preocupem. É responsabilidade nossa oferecer garantias e tranquilidade. Certamente, porém, existem exageros que podem ser vistos como protecionismo. RS - A questão sanitária hoje é o principal entrave para a busca de novos mercados? Como está hoje a estrutura interna de indústrias e granjas em termos de sanidade? O produtor e a indústria têm feito seu trabalho? Pedro de Camargo Neto – Sim, as indústrias têm feito o seu trabalho de forma eficiente. Na luta pela abertura de mercados no exterior, o governo precisaria fazer melhor o seu dever de casa, isto é, respondendo a contento às demandas dos nossos potenciais importadores. Sanidade animal, porém, é de responsabilidade coletiva, a indústria e o produtor não conseguem equacionar a questão sozinhos. Trata-se de saúde pública.

“É preciso parar (de vacinar) com responsabilidade, somente quando as condições de vigilância e emergência sanitária estiverem a contento”

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TRIBUTAÇÃO

Proteção para o mercado GAÚCHO O objetivo de aumentar a participação da carne suína gaúcha no mercado interno levou os governos estadual e federal a promover medidas para deixar a produção e a contratação mais baratas, além de dificultar a entrada de produtos de outros estados

DUTO NAC PRO IO NA L

BR

R$ 100

DUTO GAÚ PRO CH O

RS

R$ 100

Mateus Ferraz

Desde o início do mês de outubro, todo o recolhimento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) do Rio Grande do Sul está concentrado na indústria. A medida visa a qualificar o controle do Estado sobre a arrecadação de tributos. O governo também teve a intenção de melhorar a competitividade da cadeia suinícola perante outros estados da federação. Atualmente, segundo a Secretaria Estadual da Fazenda (Sefaz), apenas 35% dos produtos de origem suína consumidos no Rio Grande do Sul são produzidos pelas indústrias gaúchas. O restante vem de outros estados. É neste ponto que a medida implementada pelo governo tenta atuar. Concentrando o pagamento do ICMS em apenas um elo da ca8 | Revista do Sips 2012

deia, a iniciativa impede a vantagem de produtos que tenham isenção em seus estados de origem e que, por isso, teriam preço reduzido ao entrar no RS. Antes de chegar em solo gaúcho, as empresas devem fazer o cálculo para o recolhimento do tributo. A conta pode ser feita também no momento em que ingressar no estabelecimento comercial. “O recolhimento será feito sobre a Margem de Valor Agregado (MVA) definida, que é de 60% para todos os produtos”, relata o subsecretário da Receita Estadual da Sefaz, Ricardo Neves Pereira . Na prática, o produto que entrar no Rio Grande do Sul com valor de R$ 100, terá o cálculo para o ICMS devido sobre esse valor e mais o acréscimo de 60%. Assim, a incidên-

cia do tributo vai recair sobre R$ 160, que seria o preço estimado de venda no varejo. Pereira afirma que, se uma empresa de fora do estado quiser ter as mesmas condições competitivas, terá que trazer uma planta para o solo gaúcho. Essa é uma forma, segundo o subsecretário da Receita Estadual, de combater a guerra fiscal efetuada por outras unidades da federação. “Essa margem igualaria as condições de ambos. Porém, como nossa indústria local tem benefícios, como incentivos fiscais para a compra de animais de criadores gaúchos, o débito será menor para produzir aqui apesar de o imposto de substituição tributária ser o mesmo”, explica Pereira.


Ajuda em boa hora Foto: Arquivo pessoal

R$ 100 + MVA 60% = R$ 160

O tributarista Sílvio Borba acompanha o setor há anos e acredita que o incentivo do governo veio em um bom momento. Segundo ele, são boas as expectativas de aumento de consumo no mercaPreço final do interno, em boa parte pelo reconhecimento das qualidades da carne suína, mas também pela alta no preço dos cortes bovinos no varejo. “Isso faz com que os consumidores busquem outras alternativas que pesem menos no bolso”. Borba relata que existe a preocupação do governo em melhorar a performance da cadeia suinícola gaúcha, mas faz uma ressalva. “Hoje o estado tem Preço final programas de curto e médio prazos, como a substituição tributária ou a desoneração do ICMS nas importações de outros estados do milho e da soja para a criação. Agora, o objetivo deve ser focado em medidas de longo prazo para que haja a estabilidade que o setor precisa, sem esquecer os outros elos que compõem a cadeia”.

R$ 160

R$ 160

Indústria paga menos tributos

Uma outra medida, anunciada pelo governo federal no mês de setembro, que trata sobre a redução na carga de impostos na folha de pagamento das indústrias de 40 setores diferentes, também impacta a suinocultura. A chamada “desoneração da folha” implementa uma redução na contribuição previdenciária dos funcionários. Em vez dos atuais 20% sobre a folha, será recolhido 1% sobre o faturamento total da empresa. Já quem exporta 100% da produção vai ficar isento de pagamento sobre os ganhos. Como o objetivo

é reaquecer a economia brasileira, o Governo Federal condicionou a desoneração à manutenção dos empregos existentes. A notícia foi recebida de forma positiva pela cadeia de suínos. Isso porque a industrialização da carne conta com intenso uso de mão de obra. Só no Rio Grande do Sul, o setor gera quase 15 mil empregos diretos. No entanto, o tributarista Sílvio Borba relata que este é um momento de análise. “Ainda há desconfiança por parte de muitas empresas. A legislação é relativamente nova e gera dúvidas. Acredito que as empresas exportadoras terão mais vantagens.” Conforme o tributarista, as empresas que atendem o mercado

nacional vão precisar separar as receitas geradas a partir dos produtos que são vendidos para dentro do Brasil, sujeitos à tributação de 1%, dos itens que são exportados. No caso de vendas para fora do país, conforme previsto na Constituição, não há incidência de tributos. Logo, nesse caso, entende-se que há isenção para o elo industrial. Margem de Valor Agregado (MVA) É a diferença entre os valores praticados pela indústria e pelo varejo. A Receita estadual acompanha os produtos através da nota fiscal eletrônica de venda das fábricas e, depois, pesquisa o preço de venda para o consumidor final. No caso dos itens da carne suína, essa diferença ficou em 60%.

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ABASTECIMENTO Foto: Vilmar Rosa

Milho no RS: de olho na PRODUTIVIDADE Governo quer incentivar o aumento da produção por área através do uso de tecnologias. O maior rendimento pode ser obtido por meio de irrigação em todo o Rio Grande do Sul Thais D'Avila

A

crise gerada pelo desabastecimento de milho no Rio Grande do Sul na safra 2011/2012 fez com que o setor suinícola procurasse apoio junto às autoridades estaduais e federais. A falta do cereal é cíclica, e a cadeia vinha se socorrendo de importações de outros estados ou países. Mas na última safra, a quebra de 50% na produção estadual, e a disparada nos preços da commodity por conta da seca nos

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Estados Unidos, tornou a situação ainda mais preocupante. O governo do Rio Grande do Sul acredita que alguns procedimentos podem ajudar a reduzir o déficit de milho para abastecer a demanda para criatórios de suínos, aves e bovinos de leite. A estratégia passa pelo aumento da produtividade através da irrigação. O ideal seria fomentar o plantio de milho em áreas com média de chuva mais favorável à cultura. O pro-

blema, conforme o secretário-adjunto da Agricultura, Cláudio Fioreze, é que existe uma limitação de área nas regiões tradicionais de produção de milho, como o Planalto Médio e os Campos de Cima da Serra. “Lá os produtores preferem plantar soja, por causa do preço do grão e da liquidez.” Por isso, conforme o secretário, “a conclusão foi de que o melhor caminho será investir nos ganhos de produtividade da lavoura do milho com a irrigação".


Medidas Foto: Kátia Maracon

Desde o ano passado, o governo gaúcho vem implementando uma série de medidas para tentar socorrer os produtores que dependem do milho para abastecer os criatórios. Uma delas foi a reativação da Câmara Setorial do Milho. Em 2011 também aconteceu o alinhamento estratégico da cadeia produtiva. “Fizemos um mergulho na realidade da produção e abastecimento de milho aqui no RS, no sentido de estabelecer algumas ações mais emergenciais e também ações estruturais pra dar conta do déficit histórico de abastecimento”, conta Fioreze. Além disso, está em análise um projeto que incentiva a ampliação da capacidade de armazenagem. A medida atuaria em duas linhas:

uma estimulando a construção de silos secadores, de baixo custo, para pequena propriedade, e outra voltada para o aumento da capacidade de estocagem das cooperativas. “Esta-

mos estudando qual é a engenharia financeira que nós vamos montar pra desenvolver esse projeto, dando preferência para estocagem de milho”, adianta Fioreze. Foto: Kátia Maracon

RS não deve exportar O estado tem, em média, um déficit no abastecimento de milho em torno de dois milhões de toneladas. “Por conta dessa compra, nós acabamos tendo uma perda média de arrecadação de R$ 80 milhões por ano". Essa importação, conforme o secretário-adjunto, poderia ser menor apenas reduzindo as exportações. Fioreze admite que pelo menos 750 mil toneladas do cereal gaúcho são enviadas para as áreas produtoras de suínos de Santa Catarina. Isso ocorre pela logística, que favorece o escoamento da região noroeste gaúcha para o estado vizinho. De qualquer forma, se os preços no mercado interno fossem mais atrativos, a permanência desse milho ajudaria a reduzir o déficit existente. Revista do Sips 2012 | 11


Irrigação é a saída mais inteligente Foto: Kátia Maracon

De olho no aumento da produtividade, o governo gaúcho acredita na irrigação como forma de melhorar o desempenho das culturas, em especial a do milho. Levantamentos realizados pela Secretaria da Agricultura apontam que a lavoura irrigada pode triplicar o rendimento, em relação à média de produtividade estadual. No caso do milho, poderia saltar de 55 sc/ha para 150 sc/ ha. Fioreze completa que “associada a boas práticas de manejo do solo, de rotação de culturas, de correção da fertilidade, a irrigação pode levar a produzir 250 sc/ha. Mas só a água já triplica". O “Mais Água, Mais Renda”, Programa Estadual de Expansão da Agropecuária Irrigada, lançado em março de 2012, é o maior projeto de incentivo na história do país. Conforme Fioreze, “não existe notícia em nenhum estado do Brasil que haja algo similar”. O diferencial do programa é que equaciona, em primeiro lugar, a questão ambiental, agilizando o licenciamento para açudes de até 10 hectares e para lavouras irrigadas de até 100 hectares, por produtor. “Isso contempla mais de 90% das si-

Público Alvo

Linha de crédito

Agricultor/ pecuarista familiar

Pronaf

Médio produtor

Pronamp

Outros produtores

Moderinfra

tuações; dificilmente os projetos de irrigação têm uma dimensão maior do que essa”. Para conseguir o licenciamento basta entrar no site da Secretaria da Agricultura, baixar a licença e anexar ao projeto técnico. A responsabilidade sobre a localização e o dimensionamento do açude na propriedade rural é do técnico e do produtor. Para estar de acordo e obter financiamentos, por exemplo, basta assinar um documento de licença e emitir a ART (Anotação de Responsabilidade Técnica).

Reembolso por parte do governo 100% na última parcela 75% na 1a e última parcela 50% na 1a e última parcela

O Mais Água, Mais Renda tem ainda um viés econômico, que viabiliza o financiamento de projetos de irrigação para produtores de todos os portes, através de diferentes linhas de crédito. Uma das vantagens do programa é que é fundamentado e executado pelo produtor, sem passar pelas estruturas do estado. “Não é o governo que vai licenciar a empresa responsável pela construção do açude. O produtor contrata tudo, utilizando as linhas de financiamento existentes nas redes bancárias”.

Somando esforços

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ainda agregaria mais milho na produção do estado. O secretário acredita que somando o volume de milho que é exportado, ao que é possível conseguir com o aumento de produtividade através da irrigação e o plantio em áreas de várzea, seja possível reduzir à metade o déficit do cereal no Rio Grande do Sul.

Foto: Kátia Maracon

O Instituto Riograndense do Arroz está estudando o cultivo de milho em áreas de várzea. Cláudio Fioreze estima que, apesar de ser um projeto de mais longo prazo, é possível incrementar a área plantada com o grão em 150 mil hectares. Seria uma alternativa para o produtor de arroz diversificar a produção, melhorar o solo, e


ARTIGO Foto: Camila Domingues/Palácio Piratini

OTIMISMO permanente Tarso Genro Governador do

E

ntre tantas virtudes que caracterizam o nosso povo, a capacidade de trabalho das famílias gaúchas é uma das mais reconhecidas. Os homens e as mulheres do campo carregam essa virtude de forma mais evidente, pois precisam enfrentar todo o tipo de adversidades, tanto climáticas como as do mercado. Esse é o caso dos produtores de suínos do Rio Grande do Sul. Nossa cadeia produtiva se consolidou entre as maiores do país, transformando o Estado num grande exportador de carne suína do Brasil. São milhares e milhares de famílias, espalhadas por todas as regiões, que vivem da suinocultura. Por isso, os momentos de crise deste setor geram reflexos imediatos na economia gaúcha. Desde o começo da gestão, adotamos medidas para aumentar o consumo

rs

de carne suína. Uma delas foi estimular a utilização da carne nos cardápios de escolas, presídios, entre outras instituições públicas. Já para enfrentar as dificuldades impostas por outros países, estamos trabalhando em busca de novos mercados. Também concedemos estímulos fiscais para manter a competitividade do nosso produto. O mais importante é que estabelecemos uma relação franca e propositiva com os suinocultores gaúchos. Este diálogo é fundamental para enfrentar as dificuldades momentâneas do setor, mas também essencial para comemorar os períodos de alta. Vamos seguir trabalhando desta forma para, juntos, conquistarmos os melhores resultados para nossos produtores. O bom resultado da cadeia dos suínos, será um bom resultado para o Rio Grande.

“Nossa cadeia produtiva se consolidou entre as maiores do país, transformando o Estado num grande exportador de carne suína do Brasil”

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AMBIENTE

Novo Código Florestal: Pequenos produtores com menor IMPACTO Imagem: Secretaria do Meio Ambiente

Suinocultores e órgãos reguladores no Estado ainda estão em fase de adaptação à legislação D. Sartori

A

lei do novo Código Florestal Brasileiro, em vigor desde maio de 2012, foi mais uma vez alterada em outubro. Mesmo depois que o Congresso aprovou modificações em alguns ítens polêmicos do projeto, a presidente Dilma Rousseff vetou alguns pontos. A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, disse, em entrevista coletiva, que os vetos seguiram três princípios: “Não anistiar, não estimular desmatamentos ilegais e assegurar a inclusão social no campo em torno dos pequenos proprietários”. É que o texto aprovado por deputados e senadores desagradou a presidência porque retirou o chamado efeito escadinha, que determinou regras diferentes de recomposição nas margens de rios conforme o tamanho da propriedade. Por enquanto, tanto os órgãos reguladores nos estados quanto os produtores 14 | Revista do Sips 2012

Imagem ilustrativa que delimita a área no entorno de uma Unidade de Conservação

rurais ainda estão se adequando à nova legislação. No caso da suinocultura, a maioria dos criadores gaúchos está em propriedades com até dois módulos fiscais. São considerados, portanto, pequenos produtores rurais. Para eles, a lei prevê alguns benefícios. A recomposição da Reserva Legal, que é uma área que deve ser protegida dentro da propriedade, é um desses pontos. O restabelecimento do que foi desmatado é obrigatório. Mas, para propriedades com até quatro módulos fiscais, só vai ser considerada Reserva Legal a vegetação nativa existente em julho

de 2008. As Áreas de Preservação Permanente (APPs) são outro ponto de muita polêmica no novo Código. Localizadas em topos de morros, encostas, margens de rios, veredas ou margens de brejos e várzeas que devem, obrigatoriamente, ser preservadas. Só as atividades já consolidadas estão permitidas. Para o assessor de meio ambiente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul, Alexandre Scheifler, as novas normas vão trazer tranquilidade para quem produz. “A segurança jurídica é maior para o agricultor”, completa.


Cadastro Ambiental Rural Mas para que a APP continue sendo utilizada, a lei obriga que o produtor esteja inscrito no Cadastro Ambiental Rural (CAR). No Rio Grande do Sul, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, através do Departamento de Florestas e Áreas Protegidas (DEFAP), será o órgão responsável. O CAR ainda não está em operação. A ideia é de que os produtores sejam chamados para o cadastramento. Só depois disso podem aderir ao Programa de Regularização Ambiental, uma exigência para se produzir em APPs. Para os criadores de suínos, o Programa vai determinar, por exemplo, tratamento de resíduos, além da manutenção da qualidade da água e do solo.

Na mais recente modificação da lei, publicada em outubro de 2012, a adequação ao PRA determina a suspensão por um ano da aplicação de sanções a proprietários rurais que desmataram APPs antes de 22 de julho de 2008, desde que eles apresentem planos de recuperação das áreas degradadas nesse mesmo prazo de um ano. O assessor de meio ambiente da Fetag orienta os produtores a não procurarem a Secretaria do Meio Ambiente por enquanto. Como o processo ainda não está implantado, explica, não há como fazer o cadastro. Além disso, o tratamento para os pequenos produtores, conforme prevê a lei, será diferenciado. “Deve

ser feito de forma gratuita e simplificada”, complementa Scheifler. O diretor do Defap, Roberto Magnos Ferron, explica que é preciso, antes de começar a operar o CAR, esperar que as alterações na lei estejam definidas. Segundo ele, no caso de propriedades rurais acima de quatro módulos fiscais, será exigido o georreferenciamento. Já para as pequenas propriedades, o tratamento será diferenciado. Depois do cadastro, um técnico pago pelo estado deve visitar a propriedade para definir, por exemplo, onde será a reserva legal ou a APP. “Mas, antes, o governo tem que decidir qual órgão fará isso e de quanto será o investimento necessário”, salienta.

Unidades de conservação

APA Terras indígenas Unidades de conservação estaduais, federais e parques

Imagem: Secretaria do Meio Ambiente

Uma das preocupações é com as propriedades que estão nos limites das Unidades de Conservação. A lei prevê que áreas com características naturais importantes devem ser preservadas. Isso significa que, em Unidades controladas pela legislação estadual, em um raio de 10 km, estão proibidas atividades consolidadas, como a suinocultura. No caso das unidades federais, a lei determina que a zona de amortecimento seja de 3 km. No RS há 34 unidades de conservação estaduais e federais. Não existe um levantamento de quantas propriedades estão nesses locais, mas, segundo a Fetag, muitos criadores estariam irregulares, segundo o novo Código Florestal. “Essas propriedades deveriam ter tido um tratamento diferenciado”, defende Scheifler.

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O que muda para o produtor A aprovação do Novo Código trouxe mudanças importantes para os produtores rurais. Entenda os pontos que podem trazer mais impacto para quem está no campo: 1. Reserva Legal: área protegida dentro de uma propriedade rural. Em propriedades de até quatro módulos fiscais, será considerada Reserva Legal a vegetação nativa existente em julho de 2008. Amazônia Cerrado Outras áreas

80% 35% 20%

2. Áreas de Preservação Permanente (APPs): de acordo com a lei, são consideradas APPs as áreas, cobertas ou não por vegetação nativa, com funções ambientais de

preservar recursos hídricos, paisagem, estabilidade geológicas, biodiversidade, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas, como topos e encostas de morros, entorno de rios ou cursos d’água, várzea, nascentes e olhos d’água. Fica autorizado o uso de APP em atividades já consolidadas. Mas, para que ela continue sendo utilizada, é necessário o Cadastro Ambiental Rural, além de seguir as normas do Programa de Regularização Ambiental. 3. Multas: as recebidas até julho de 2008 estão suspensas durante o período de adequação ao novo código. As que foram recebidas depois deste período estão valendo.

Entenda a tramitação do Código

O texto do Novo Código Florestal foi aprovado pela Câmara dos Deputados em maio de 2011. Em dezembro do mesmo ano, passou pela votação no Senado. Com novas alterações, precisou voltar à Câmara em abril de 2012. Depois disso, foi encaminhado para sanção da Presidente Dilma, que vetou alguns pontos, entre eles o artigo 61, sobre as exigências de recuperação das Áreas de Preservação Permanente (APPs) e recomposição da cobertura vegetal nas margens dos rios. Em setembro, a Medida Provisória retornou ao Congresso.

Novas Alterações

De volta ao Congresso, deputados e senadores aprovaram novas mudanças na Medida Provisória. A principal delas beneficia médios produtores rurais. Pela proposta do governo, agricultores e pecuaristas com propriedades 16 | Revista do Sips 2012

entre quatro e dez módulos fiscais teriam de recompor 20 m de APP em margens de rios com mais de 10 m de largura. O texto aprovado em Brasília reduziu o raio da APP em propriedades de 4 a 15 módulos fiscais. A presidente Dilma vetou nove pontos. Entre eles, está a recomposição entre cinco e cem metros de vegetação nativa das APPs nas margens de rios, dependendo do tamanho da propriedade e da largura dos rios que cortam a área. Além disso, o que foi decretado com os vetos determina o funcionamento do CAR. Pelo texto, entre os dados do cadastro estão informações do proprietário ou responsável pelo imóvel rural, planta do perímetro do imóvel, da localização dos remanescentes de vegetação nativa, das APPs, das Áreas de Uso Restrito, das áreas consolidadas e da localização das Reservas Legais.

Prazos para adequação Os produtores terão, em média, cinco anos para se adequar às novas regras. O prazo vale a partir da publicação da lei, em 28 de maio de 2008. Depois deste período de cinco anos, quem não estiver inscrito no Cadastro Ambiental Rural, perde o direito a financiamentos agrícolas. A MP 571 prevê, ainda, que as entidades encarregadas de realizar o CAR devem estar adaptadas em seis meses, contados também a partir da publicação da lei. No caso do Rio Grande do Sul, a responsabilidade é da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, através do Departamento de Florestas e Áreas Protegidas.

Você sabia?

O dia 22 de julho de 2008 é um marco na legislação ambiental. Para recomposição da reserva legal, por exemplo, será considerada a vegetação nativa existente antes desse dia. Mas, você sabe por quê? É que nesta data, foi publicado o Decreto nº 6514, que obriga a averbação de reserva legal junto ao órgão ambiental competente.


PROPRIEDADES

Programa exige cadastro anual de PRODUTORES Programa Nacional de Sanidade Suína pretende evitar a entrada de novas doenças no Brasil e erradicar as que ainda existem em algumas regiões do país D. Sartori

G

arantir a sanidade do rebanho é uma tarefa que requer trabalho constante e em equipe. Além de políticas públicas e do controle das indústrias, a conscientização de cada criador é fundamental. É o que pode fazer a diferença para a imagem do Brasil no exterior e para a preservação dos criatórios. Programa Nacional de Sanidade Suídea, existente desde 2004, é uma regulamentação que obriga produtores rurais e indústrias a se cadastrarem anualmente nas Inspetorias Sanitárias. No Rio Grande do Sul, este cadastro deve ser feito na Secretaria

de Agricultura do estado. Para cada tipo de granja ou de entidade, transportadores, veterinários ou indústrias envolvidas no processo, há uma exigência diferente. O coordenador do programa gaúcho, Antônio Augusto Rosa Medeiros, explica que a maior preocupação é evitar a entrada de doenças exóticas, como a Peste Suína Africana, e erradicar as que ainda existem no país, como a Peste Suína Clássica. “Este trabalho, além do aspecto social e de saúde pública, procura dar competitividade à cadeia produtiva para superar restrições mercadológicas”, completa.

O cadastro deve ser atualizado anualmente nas Inspetorias Veterinárias (IVZs). No caso dos criadores, a exigência é da declaração anual de rebanho. Isso significa que, até 31 de maio de cada ano, o produtor deve procurar a Inspetoria Veterinária e declarar o número de animais que possui na propriedade. Para quem não fizer a atualização, a

multa é de 2% sobre o valor de cada animal que não foi declarado. No caso das Unidades de Produção de Leitão, além do cadastro anual, existe o Cadastro Complementar, que deve ser preenchido mensalmente. O processo é semelhante: o criador deve ir até a Inspetoria Veterinária e declarar quantos animais nasceram na granja duran-

Quem deve se cadastrar A legislação determina que todos os criadores de suínos, sejam de granjas comerciais, de reprodução ou dos criatórios caseiros, devem estar cadastrados.

Granjas Comerciais ▪ Estrutura física adequada ao tipo de exploração, com manejo, alimentação, condições higiênico-sanitárias satisfatórias e assistência médico veterinária permanente ou eventual. Podem ser granjas de ciclo completo, Unidades de Produção de Leitões ou granjas de terminação. Granjas de Reprodutores ▪ Granjas com finalidade de distribuir e/ou comercializar suídeos para fins de reprodução. Criatórios de suídeos ▪ São explorações de subsistência, caseiras, sem característica comercial.

Como se cadastrar

te aquele período. Para as granjas de terminação, a declaração deve ser feita a cada lote recebido. Somente com todos esses dados atualizados, o produtor garante a Guia de Trânsito Animal (GTA), documento oficial de trânsito que propicia a rastreabilidade dos animais. É através da GTA que as vendas e o transporte de animais podem ser feitos. Revista do Sips 2012 | 17


No Rio Grande do Sul, afirma Medeiros, esse processo está completamente informatizado e é realizado através do Sistema de Defesa Agropecuária, que permite, em tempo real, registrar e acompanhar todas as movimentações de animais. “Essa informação do controle do trânsito permite o mapeamento e o estudo dos fluxos de trânsito. É imprescindível para a vigilância epidemiológica, pois a movimentação de animais é uma das principais formas de disseminação de doenças”, explica. Segundo o coordenador do programa, existem 250 IVZs espalhadas pelo estado. Além disso, há 13 coordenadores da equipe técnica de sanidade suína localizados em regiões com maior concentração de suinocultura.

Envolvimento da cadeia produtiva

18 | Revista do Sips 2012

Granjas de Reprodutores No caso de criadores que comercializam animais para fins de reprodução, a regra é um pouco diferente. Conforme a Instrução Normativa nº 19/02, as granjas devem ser Reprodutoras de Suídeos Certificadas (GRSC). Além do cadastro atu-

alizado anualmente, o proprietário deve manter, em uma pasta própria, todos os documentos relacionados ao controle sanitário, como: - cópia da licença ambiental emitida pelo órgão competente; - cópia do formulário de colheita e envio de material ao laboratório (Monitoramento Sanitário em Granjas Certificadas); - cópia dos resultados dos exames laboratoriais; - cópia dos testes alérgicos de Tuberculose Comparativa; - cópia do Certificado de GRSC; - avaliação do Grau de Vulnerabilidade à Entrada de Agentes Patógenos, realizado anualmente; - uma via do termo de visita de cada visita efetuada; - uma via do relatório técnico trimestral.

Suspeita de doença

Criadores, veterinários e indústrias são responsáveis por notificar a Inspetoria Veterinária em caso de qualquer suspeita de doença. Só em 2011, foram 170 notificações, segundo o coordenador do Programa Nacional de Sanidade Suína da Secretaria de Agricultura. Em cada fase da criação, explica Antônio Augusto Rosa Medeiros, há um índice de mortalidade que, se atingido, deve ser notificado. Segundo a Norma Interna nº 5, os percentuais são de (ver tabela): Fase de criação

Depois da notificação, técnicos da Inspetoria Veterinária devem ir à granja para recolher material e enviar para análise laboratorial. “É um processo que dá transparência e credibilidade”, defende Medeiros. É porque, conforme o coordenador, pode identificar precocemente o reaparecimento de doenças como a Peste Suína Clássica, da qual o Rio Grande do Sul e outros doze estados e mais o Distrito Federal são considerados livres. Índice de mortalidade

Terminação

9%

Maternidade

15%

Creche

6%

Matrizes

2%

Tabela: SEAPA-RS

Não são apenas produtores que devem manter o cadastro atualizado. É importante o envolvimento de toda a cadeia produtiva. Transportadores e médicos veterinários habilitados para emissão de GTA, entidades, como sindicatos rurais, associações de criadores e conselhos municipais, centros de eventos onde acontecem exposições ou leilões, agroindústrias, cooperativas, frigoríficos e abatedouros, fábricas de ração, casas agropecuárias, laboratórios de diagnóstico e de produção de insumos também precisam estar cadastrados e informar todo o tipo de movimentação. Medeiros explica que estas informações permitem um melhor controle de toda a cadeia. “Estas informações oferecem elementos relativos à identificação da área de trabalho, população total, unidades de criação, tipos de exploração, recursos existentes, acidentes geográficos e vias de acesso principal”.

“É imprescindível para a vigilância epidemiológica, pois a movimentação de animais é uma das principais formas de disseminação de doenças”


Foto: Tuti Flores

ESPECIAL

A classe da FARTURA Empresas de todos os segmentos vêm tentando entender o que pensa, quer e espera do futuro a nova classe média brasileira. A Classe C tem um estilo bem diferente do qual os empresários vinham se dedicando a agradar até agora Revista do Sips 2012 | 19


ESPECIAL Thais D'Avila

O

20 | Revista do Sips 2012

“A elite adora tons pastéis, o pretinho básico. Já a classe C adora cores, é tudo alegre, extravagante, farto”

rece nas pesquisas. Quando você explora um pouco mais, você descobre o que elas pensam e o que elas fazem. Só que voce só descobre o que elas realmente fazem tendo o convívio com as pessoas".

Quem são, onde estão A Classe C hoje compreende quase 54% da população brasileira. Conforme a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE), abrange as famílias que têm renda média per capita de até R$ 1.019,00 por mês. Acima disso, são consideradas Classe A e B. Entre 2001 e 2011, a nova classe média acabou se tornando protagonista do consumo no país, com a ampliação de 228,3% nos gastos com produtos e serviços. O poder de compra destes consumidores, conforme a SAE, supera R$ 1 trilhão. E a classe econômica intermediária do Brasil ainda pode crescer. As projeções do Data Popular apontam que, com o avanço econômico, as atuais classes D e E vão subir e portanto, engordar a fatia C no Brasil, que deve passar de 58% em 2014. A região brasileira com maior concentração de pessoas pertencentes à classe C é a Sul. Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul têm 64%, ou 27,6 milhões de habitantes encaixados nesta categoria.

Fonte: Data Popular

integrante da nova classe média brasileira quer melhorar de vida, mas não mudar de estilo de vida. Quer ter fartura na mesa, mas sem abrir mão do arroz e feijão que julga ser o prato mais nutritivo. Quer uma casa melhor, mas sem sair da comunidade onde vive. Essas características foram conhecidas através de diversas pesquisas realizadas pelo Instituto de Pesquisa Data Popular. A empresa, criada há pouco mais de dez anos, começou como uma agência de publicidade. O problema é que a distância entre o mundo corporativo e a Classe C não permitia que os empresários entendessem a importância do segmento para a economia brasileira – e também a forma de abordá-lo. Os executivos não sabem chegar na Classe C, não por falta de vontade, mas por falta de conhecimento, explica o sócio-diretor do Data Popular, Renato Meirelles. “A elite adora tons pastéis, adora o pretinho básico. Já a classe C adora cores, é tudo alegre, extravagante, farto”. Segundo Meirelles, o que a elite chama de "brega", tem a ver com as referências estéticas da própria cultura popular brasileira. Então, as pesquisas surgiram como uma forma de comprovar, de demonstrar às empresas como agir para alcançar esse público tão amplo e ao mesmo tempo com hábitos tão diferentes dos que o setor falava até pouco tempo atrás. Além da análise de indicadores como os gerados pela Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílios (PNAD) e outros censos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Data Popular

realiza seus próprios levantamentos, utilizando, entre outras ferramentas, a metodologia de pesquisa etnográfica, que consiste em morar, por um determinado período, dentro de uma comunidade, para compreender o seu funcionamento. O sócio-diretor do Data Popular, Renato Meirelles, disse que essa foi a forma encontrada para conseguir resultados mais fidedignos. “A gente acredita que uma coisa é você saber o que as pessoas dizem que fazem, que é o que apa-


A classe C e a importância da alimentação A alimentação para a classe C é uma categoria de consumo que representa algo muito profundo. Quem sempre precisou economizar para comer, dividir o alimento entre vários integrantes da família, agora quer fartura. Os pratos à francesa, por exemplo, com pequenas porções arranjadas com uma estética requintada, não agradam esses consumidores. “A dona de casa da Classe C quer um prato cheio. Isso tem a ver com essa lógica da fartura, de poder celebrar que melhorou de vida. Isso tem a ver com a estética de um corpo mais cheio e redondo”, diz Meirelles. Ele afirma ainda que essa quantidade maior de alimento também pode ter a ver com o tipo de trabalho que é feito, em geral, mais braçal, e que exige um consumo maior de calorias.

Consumo de carne

de espaço para crescer. O consumo desse tipo de carne está associado a momentos festivos e, portanto, não está presente com regularidade na mesa do consumidor da classe média. Os pesquisadores apontam que é nessa classe e também na D e E, onde existe a maior possibilidade de crescimento de consumo. Para isso, alertam que é preciso esclarecer o consumidor sobre os benefícios deste tipo de carne. “O que interessa para classe C é a fartura. Então é preciso dar a ideia de que enche o prato com a melhor qualidade e gastando menos. O desafio da cadeia é colocar a lógica da fartura presente no cotidiano desse consumidor”. Outro obstáculo a ser superado para aumentar a venda de

Foto: Tuti Flores

A carne representa um item importante na alimentação da Classe C. “É a mistura, a parte nobre da refeição”, explica Meirelles. Antes, a proteína animal utilizada era o ovo e a salsicha, produtos mais baratos. Com a evolução econômica, o consumidor da nova classe média passou a comprar carne e outros produtos com maior valor agregado. No Brasil, o consumo de carne é maior, conforme a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do IBGE, nos estados das regiões Norte e Sul do país, com média anual superior a 70kg/hab. Para a classe C, as despesas familiares com proteína animal, dentro do quesito alimentação, representam 48%. Já a carne suína tem um gran-

A categoria alimentação corresponde a 18,49% dos gastos dos consumidores da nova classe média. Produtos e serviços vêm aumentando seus percentuais rapidamente. Mas isso não quer dizer que o consumidor esteja gastando menos, em reais, com a alimentação. Foi só o percentual que diminuiu, diz Meirelles. “Se eu ganhava R$ 100/mês e gastava R$ 20/mês com alimentação, quando passei a ganhar R$ 200/mês, aí o meu gasto com alimentação foi R$ 36/mês. O percentual diminuiu de 20% para 18%, mas ainda assim, o gasto com alimentos subiu de R$ 20 para R$ 36”.

carne suína, conforme Meirelles, é oferecer mais cortes e divulgar receitas práticas para serem executadas no dia-a-dia da dona de casa e não apenas nos assados de fim-de-semana. Aumentar a presença desses produtos em cardápios de restaurantes também é um ponto importante, pois com o aumento do poder aquisitivo das famílias, o número de refeições realizadas fora de casa vem crescendo. Revista do Sips 2012 | 21


ESPECIAL

De estagiário a sócio-diretor Foto: Patricia Stavis

O publicitário Renato Meirelles, de 35 anos, é sócio-diretor do Instituto Data Popular. Filho de psicólogos, estudou a vida toda em bons colégios particulares. Em um determinado momento, decidiu que precisava de novas experiências. “Eu achava que aqueles colégios eram coisa de burguês, e quando, para fugir disso, eu fui estudar em colegio público, comecei a conhecer essa nova realidade. E ao entrar para o movimento estudantil, conheci o Brasil inteiro”. Até entrar para a militância, Meirelles queria ser advogado. Ao participar da campanha “Eu Sou da Paz”, sobre o desarmamento, conhe-

22 | Revista do Sips 2012

ceu o mundo da propaganda. “Aí eu pensei: o que dá certo é eu falar pra muitas pessoas”. Na faculdade de publicidade teve um professor que estava abrindo a agência Data Popular, e foi convidado para um estágio. De lá para cá, vem ajudando o mundo empresarial a conhecer melhor o “meio” da pirâmide, através de relatórios e palestras. Aliás, são mais de 80 palestras por ano, em todo o país. Entre um evento e outro, Meirelles também realiza pessoalmente as pesquisas etnográficas, permanecendo por vários dias “morando” com as famílias nas comunidades mais simples. É nessa convivência que Mei-

relles consegue captar informações que uma entrevista com perguntas e respostas não apontaria. Numa dessas oportunidades, o publicitário sentia que a permanência na casa da família ainda tinha algumas barreiras. “Quando pela primeira vez eu repeti o prato de comida, eu vi uma cara de alívio no rosto de todo mundo. Foi aí que a dona de casa me disse: ‘pensei que você não tinha gostado do meu tempero'. Já o marido foi ainda mais duro: ‘pensei que você achava que, por eu ser pobre, não teria como oferecer dois pratos de comida’. Foi aí que eu percebi a importância da fartura para eles”, conta.


ARTIGO Foto: Divulgação Ministério da Agricultura

Qualidade e RECONHECIMENTO Mendes Ribeiro Filho Ministro da Agricultura

A

carne suína brasileira é uma das melhores do planeta. Nos últimos dez anos, a melhora na qualidade das rações e do material genético tem viabilizado a manutenção dos animais na granja até alcançar maior peso, gerando mais lucros. A consequência direta disso é maior oferta de carne com o mesmo número de animais produzidos, e mais qualidade na carne ofertada ao consumidor e destinada ao processamento industrial. O reconhecimento dessa qualidade está nas nossas vendas internacionais. O País é, atualmente, o quarto maior exportador mundial do produto, vendendo 582 mil toneladas em 2011. Apesar de também estarmos entre os maiores consumidores mundiais do produto – 2,6 milhões de toneladas no ano passado –, ficamos muito atrás na média de consumo por pessoa. Enquanto na União Europeia o consumo anual per capita foi de 40,2 Kg em 2011, no Brasil a média é de 15 kg. Para aumentar esses números, é necessário trabalhar a imagem do produto para atingir, até o final de 2015, o consu-

mo médio de 18 kg per capita/ano. O Governo Federal tem feito sua parte. Além de negociações importantes para a abertura de mercado, foram prorrogadas as dívidas de custeio e de investimento da produção 2011/2012 do setor, com ampliação do pagamento por até cinco anos. Outra medida importante foi a definição do preço mínimo para suínos vivos nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Além disso, foi criada uma linha de financiamento para estocagem de leitões, com juros de 5,5% ao ano, ao valor de referência de R$3,60/kg de leitão vivo. O produtor ainda conta agora com limite de crédito ampliado para retenção de matrizes por produtores independentes, de R$ 1,2 milhão para R$ 2 milhões. As medidas econômicas visam apoiar a produção da carne mais consumida no mundo. E continuaremos priorizando as necessidades do segmento, fomentando um produto que, além de uma ótima fonte de nutrientes essenciais, possui baixíssimo teor de gordura, graças ao emprego de modernas técnicas de criação e abate.

“É necessário trabalhar a imagem do produto para atingir, até o final de 2015, o consumo médio de 18 kg per capita/ ano”

Revista do Sips 2012 | 23


ALIMENTAÇÃO

Carne suína: uma Vilã no passado, a carne mais saudável do que aquela que suína se transforma na me- contempla muitos cortes de outras lhor aliada para quem quer carnes. ter uma dieta equilibrada e Além de não fazer mal, saudável, consumindo profaz bem! teína magra Mateus Ferraz

O

uvir uma história na infância e repeti-la ao longo dos anos é algo normal. Um exemplo disso é o que leva, ainda hoje, muitas pessoas a pensarem que a carne suína faz mal à saúde. Atualmente, sabe-se que a dieta que contém produtos da suinocultura pode ser 24 | Revista do Sips 2012

A carne suína é muito mais saudável do que a consumida há algumas décadas, quando os criatórios tinham o objetivo de suprir a necessidade de banha – conhecida na época como “ouro branco”. Com a inserção do óleo de soja, que atendeu esse mercado, o suinocultor precisou mudar o foco. E foi aí que surgiu o suíno light, com muito mais carne magra do que gordura. “Os animais chegavam a ter seis ou sete centímetros de capa de

gordura e hoje não chega a um centímetro”, destaca a engenheira de alimentos da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Cinara Shibuya Batista. Esse animal foi obtido a partir do melhoramento genético e da melhoria nas condições da criação, além da ração, que passou a ser mais equilibrada. A carne suína ainda reserva uma peculiaridade. A gordura é mais fácil de ser retirada dos cortes, já que ela fica do lado de fora do músculo. Em bovinos e aves, a operação é dificultada pela característica dos animais, que apresentam partes gordas entremeadas


Foto: Divulgação

a aliada à SAÚDE com a carne. Benefícios à saúde Ainda hoje, muitas pessoas acreditam que é muito perigoso ingerir qualquer corte sem estar muito bem assado ou cozido devido ao risco de contrair doenças como a cisticercose. No entanto, com os avanços da cadeia suinícola e os manejos de higiene e sanidade realizados diariamente, esse risco caiu a zero. O controle e os cuidados implementados hoje nos criatórios acabam com qualquer possibilidade de o suíno se contaminar. “Os animais que são criados em granja só comem ração à base de milho e soja. Assim, é impossível que eles tenham contato com fezes humanas, que são

os agentes transmissores”, afirma o biomédico Roberto Figueiredo, conhecido como Doutor Bactéria que participa de quadros sobre saúde em um programa de TV, alertando sobre a melhor forma de consumir alimentos sem contaminação. No entanto, Doutor Bactéria destaca que é preciso ter alguns cuidados com a doença, como evitar comprar carne sem saber a procedência ou com preços muito inferiores aos praticados pela maioria dos açougues. “A compra de carnes de qualquer animal deve ser feita em açougues certificados”. Outro ponto apontado por ele diz respeito ao asseio com as saladas. “Quando consumimos verduras e legumes, eles

devem ser bem lavados, com o uso de água sanitária, para que nenhum parasita seja ingerido”.

Ao prato A segurança no consumo da carne faz com que novas receitas e formas sejam incorporadas ao cardápio. A chef de cozinha Fernanda Moreira diz que os cortes de suínos devem ser consumidos ao ponto. “Podemos fazer a substituição em todos os pratos que levam carne bovina. Estrogonofe, lasanha, carne moída e bifes são exemplos disso”. relata. “A carne suína é muito saborosa e também muito suculenta quando servida ao ponto, sem ficar muito tempo no fogo”, completa. Revista do Sips 2012 | 25


Foto: www.sxc.hu

ALIMENTAÇÃO

Você sabia? - Que a carne suína é a mais consumida no mundo (cerca de 39% do total), seguida dos cortes de frango (30%) e de bovinos (24%)? - Que uma das principais vantagens da carne suína frente a cortes de outros animais é a quantidade reduzida de sódio (substância que eleva os riscos de hipertensão arterial)? - Que os cortes suínos são ricos em potássio, que ajudam a estabilizar a pressão sanguínea? - Que relação entre sódio e potássio faz com que a carne suína seja recomendada para quem sofre de pressão alta? - Que a melhor forma de consumir qualquer tipo de carne é cozida ou assada (ao ponto, com o centro do corte rosado) e não bem passado? - Que os cortes suínos são ricos em vitaminas, como as do complexo B, e elementos como cálcio, fósforo e ferro?

Suíno light Foram necessárias poucas décadas para que o teor de gordura da carne suína sofresse grande redução. Há 50 anos, o percentual de gordura de alguns cortes chegava a 35%. Há 20 anos, esse índice já estava em cerca de 6%. Outro dado importante é a quantidade de colesterol que está 10% menor do que há meio século. Na tabela é possível conferir as características em comparação com os principais cortes de suínos, bovinos e aves.

26 | Revista do Sips 2012

100g de carne crua

Energia (kcal)

Proteína (g)

Colesterol (mg)

Gordura (g)

Lombo suíno

176

22,6

55

8,0

Pernil suíno

186

20,1

59

10,9

Chuleta suína

280

28,9

82

8,6

Coxa de frango com pele

161

17,1

97

9,3

Sobrecoxa de frango com pele

255

15,5

88

19,7

Maminha bovina

153

20,9

51

63

Coxão mole bovino sem gordura

169

21,2

84

7,7

Fraldinha bovina

221

17,6

54

14,1

*Tabela Brasileira de Composição de Alimentos – Taco (Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação (Nepa) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp))


ALIMENTAÇÃO

Embutidos mais SAUDÁVEIS Foto: www.sxc.hu

A preocupação com a saúde provoca novas metas para a redução do consumo de sal em vários países.No Brasil, até 2013, será a vez dos embutidos terem o teor de sódio reduzido

Mateus Ferraz

A redução da quantidade de sódio na alimentação humana é um desafio para órgãos ligados à saúde no mundo todo. No Brasil não é diferente – consumimos em média mais do que o dobro da quantidade de sal recomendada pela Organização Mundial da Saúde. E não é apenas a pitada que vai sobre a salada ou a batatinha que preocupa. O sódio contido nos alimentos industrializados, como os embutidos, está na mira das autoridades. O sódio é usado como conservante em produtos como salsichas, linguiças, presuntos, hambúrgueres e empanados. É que o sal foi uma das primeiras formas encontradas pelo homem para aumentar a vida útil de alimentos perecíveis, como as carnes. Só que agora, com os avanços da produção e o aumento do controle sanitário, a quantidade necessária é significativamente menor. A indús-

tria que trabalha dentro dos processos adequados não precisa utilizar conservantes em altos níveis, o que pode deixar os embutidos mais saudáveis para o consumo. Mesmo com a redução observada nas últimas décadas, a indústria suinícola mira no futuro e, a partir de discussões com o Governo Federal, busca uma nova realidade de alimentos que permaneçam com o mesmo sabor, porém mais saudáveis. Aos poucos, mais saúde! Diversas categorias de alimentos estão sob a mira das autoridades

para a redução do uso de sódio. A diminuição gradativa do elemento adicionado no macarrão, em pães, bolos e biscoitos, e em outros produtos como cereais, margarina, caldos e temperos já foi acordada entre governo e indústrias. Até 2020, a expectativa dos órgãos de saúde é reduzir em mais de 20 mil toneladas o uso da substância nociva, principalmente, ao bom funcionamento do coração. Os próximos integrantes da lista são os embutidos. Salsichas, linguiças, presuntos, hambúrgueres e empanados terão que ser feitos Revista do Sips 2012 | 27


com menos sódio, atendendo metas progressivas e atingindo o objetivo de redução final em oito anos. A diminuição não deve ser traumática para a indústria. Atualmente, não há a mesma necessidade de uso do sal como há algumas décadas, quando o aditivo cumpria outras funções. “Ao longo dos anos, foram desenvolvidas outras técnicas, por exemplo, para a conservação. Hoje, há o cozimento, a esterilização, o que aumentou também a gama de produtos sem a necessidade de usar tanto sal”, relata a engenheira de alimentos da Instituto Nutrifor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Daiana de Souza. Embora não haja uma data de início para a medida, a Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (Abia), deve assinar um acordo com os representantes da cadeia da carne suína em 2013. Para isso, serão concedidos prazos para a adaptação, viabilidade tecnológica, alterações nas fórmulas dos produtos e experiências. O esboço de metas para a redu-

ção gradual do sódio em embutidos já foi elaborado. No momento, os números estão em discussão e ainda não são os definitivos. No entanto, os percentuais terão que estar de acordo com uma determinação do Ministério da Saúde que quer diminuir o consumo de sal pela população. Possibilidades Há discussões sobre alternativas ao uso do sal nos embutidos. Uma delas, é buscar outras substâncias com propriedades parecidas com a original. “O cloreto de potássio é utilizado como um substituto para reduzir o teor de sódio do sal. Pode-se dizer que a mistura do composto ao produto original produz o sal light”, destaca a nutricionista do Instituto Nutrifor, Bruna Pontin. Uma outra possibilidade que pode acelerar esse processo é a revisão da resolução do Grupo do Mercosul (GMC/Mercosul Nº 73/97), sobre aditivos para carnes e produtos cárneos, que pretende inserir novos compostos ao uso diário das indústrias.

Novos negócios A partir da preocupação com a saúde e a redução gradativa de compostos que podem levar à hipertensão e a outros problemas circulatórios, surge um novo nicho de mercado. Segundo o professor da faculdade de Administração do Instituto Brasileiro de Gestão de Negócios (IBGEN), Gerônimo Grando, o consumidor médio está com idade mais avançada e se preocupa em manter uma alimentação saudável. “Países da Europa e da América do Norte têm esse cuidado há mais tempo e já consolidaram um mercado específico”. Grando explica que os clientes idosos demandam itens específicos, devido à necessidade de uma dieta balanceada. Ainda assim, esse não é o único mercado a ser explorado. “O produtor inovador que aceitar correr riscos e modificar seu padrão produtivo deve saber comunicar tais modificações ao seu consumidor final. O mercado está pronto e ávido por produtos que venham atender a uma demanda por bens diferenciados”, conclui.

Produto Meta 2012 (mg) Meta 2014 (mg) Meta 2016 (mg) Meta 2018 (mg) Meta 2020 (mg) porção de 100g Empanados

650

540

440

360

300

Linguiça cozida

1250

1050

880

740

600

Linguiça fresca

1250

1050

880

740

600

Salsicha

1170

1000

860

740

650

Presunto

1750

1300

980

740

650

Hambúrger

770

580

435

330

300

28 | Revista do Sips 2012

Foto: www.sxc.hu / Tabela: Abia

Metas


NUTRIÇÃO

Trigo é alternativa rentável para SUÍNOS Com a alta nos preços internacionais dos grãos, criadores de suínos perdem competitividade e precisam buscar soluções para a nutrição animal D. Sartori

vender para o mercado exterior. É que a seca derrubou a safra dos Estados Unidos, um dos maiores produtores mundiais, e o mercado externo passou a ser mais atrativo. Os reflexos podem ser sentidos diretamente nas granjas e nas indústrias. Em setembro de 2012, por exemICPSUÍNO/EMBRAPA

O índice referente aos custos de produção de SC

VARIAÇÕES DO ÍNDICE

200

150

plo, o custo de produção de suínos calculado pela Embrapa, o ICPSuíno, manteve-se estável. Mesmo assim, demonstra que a nutrição compôs mais de 80% da estrutura de formação do índice. No ano, os custos de produção aumentaram 28,23%, como mostra a tabela abaixo.

2012

183,56 PONTOS SET-2012

143,69

JAN

100

143,37

142,03

141,23

147,48

149,07

FEV

MAR

ABR

MAIJ

UN

ÚLTIMOS 12 MESES 2011

2012

50

139,61

137,70

136,31

143,69

143,37

0

JAN

FEV

MAR

ABR

MAIJ

142,03

183,09

183,56

JUL

AGO

SET

141,23

147,48

149,07

JUL

AGO

SET

165,54

Z OUT 165,54

NOV 183,09

DE 183,56

Z UN

OUT

NOV

DE

ESTRUTURA DO ICPSUÍNO NO MÊS ATUAL nutrição 80,77% instalações, rebanho, equipamentos 6,14% mão de obra 3,45% manutenção, financeiro, Funrural 2,85% transporte 2,25% diversos, outros 2,14% sanidade 1,89% energia elétrica 0,52%

ACUMULADO NO MÊS, ANO E 12 MESES SET-12 ANO 12 MESES

0%

-0,04%

-0,04%

-0,21%

0,23%

0,02%0

,11%

0,02%

-4,03%

32,31%

-2,14%

26,55%

2,84%

0,51%-

0,10%0

,50%

-0,17%

0,29%

0,52%0

,02%

0,35%

-1,66% 0,53%

0,53% mão de obra

nutrição

sanidade

instalações transporte energia elétrica manutenção financeiro rebanho Funrural equipamentos

diversos outros

Revista do Sips 2012 | 29

Tabela: IPCSUÍNO/ EMBRAPA

A

limentar os animais representa o principal custo para quem produz suínos no Brasil. Em média, em uma granja de ciclo completo, 65% dos gastos são com a nutrição dos animais. Mas, segundo a Embrapa Aves e Suínos, dependendo da época do ano, o percentual pode subir para até 75%. Um valor que pesa no bolso de toda a cadeia produtiva, desde criadores, passando pela indústria até o consumidor final. É que a base da alimentação está na soja e no milho. E com a alta nos preços dos grãos, o setor perde em competitividade. A saída é encontrar alternativas que possam garantir nutrição adequada a custos mais baixos. A produção brasileira de grãos na safra 2011/2012, conforme levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), vai alcançar 165,9 milhões de toneladas. Só no milho, a colheita atingiu 72,73 milhões de toneladas, crescimento de 26,7% em relação ao último ciclo. Na soja, a situação é diferente e, segundo a Conab, houve queda de 11,9% na produção. Mesmo assim, a colheita totalizou 66,38 milhões de toneladas. Mesmo colhendo de sobra, o Brasil prefere


Formulação das Rações

Nutrientes

dade e na creche, por exemplo, requer atenção redobrada. Os animais chegam a receber, em um curto período, até três tipos de ração. A tabela

Ração Gestação Ração Lactação Ração Pré-inicial

abaixo, desenvolvida pela Embrapa Suínos e Aves, mostra os níveis nutricionais recomendados para cada fase de produção.

Ração Inicial

Ração Crescimento Ração Terminação

Energia Metaboliz. (kcal/kg)

3210

3300

3360

3300

3280

3250

Proteína bruta %

13,5

18,0

18,0

16,0

15,0

13,0

Lisina %

0,60

1,00

1,40

1,15

0,85

0,72

Metionina

0,18

0,34

0,42

0,35

0,27

0,20

Metionina + Cistina %

0,39

0,70

0,84

0,70

0,56

0,44

Treonina %

0,40

0,65

0,84

0,75

0,60

0,46

Triptofano %

0,12

0,20

0,25

0,21

0,16

0,13

Cálcio %

0,75

1,20

0,90

0,85

0,72

0,50

Fósforo total %

0,60

0,85

0,75

0,70

0,60

0,40

Fósforo disponível %

0,32

0,65

0,55

0,40

0,28

0,19

Sódio %

0,15

0,20

0,15

0,15

0,15

0,15

Tabela: EMBRAPA

Para cada fase da criação são necessárias fórmulas específicas de ração. Alimentar os leitões durante o período em que ficam na materni-

Obs: os microminerais e as vitaminas necessárias são obtidas pela inclusão de núcleo ou Premix mineral vitamínico na proporção recomendada pelo fabricante

O vilão do desperdício

30 | Revista do Sips 2012

compostos naturais que não são produzidos pelos animais, e que permitem o melhor aproveitamento dos nutrientes da dieta quando adicionadas à alimentação, já que aumentam a digestibilidade. É uma tática que reduz custos e ainda traz outras vantagens, como a melhora da saúde intestinal dos animais. Gustavo Lima explica, ainda, que é possível reduzir a granulometria das dietas através da moagem. A explicação é simples: grãos ou farelos moídos finamente são digeridos mais facilmente pelos animais. Pesquisas feitas na Embrapa demonstram que a redu-

Foto: Gustavo Lima

Alternativas de nutrição podem melhorar a lucratividade do produtor. Mas o pesquisador da Embrapa alerta para outra solução, bem mais simples: utilizar melhor os recursos que já estão disponíveis nas granjas. O desperdício de ração é de 6%, em média, mas pode chegar a 20%, por causa de comedouros mal-ajustados e problemas nas instalações e nos equipamentos. Além dos ajustes, tarefas simples de serem executadas, algumas ferramentas nutricionais podem ser utilizadas para reduzir o custo de produção. O uso de enzimas na dieta é um bom exemplo. São

ção no tamanho da partícula em aproximadamente 20% promoveu maior retenção de energia do milho, o equivalente ao ganho de cerca de 2,5% no custo de um quilo da dieta.


ASSOCIADOS

Alibem Coml. de Alimentos Ltda www.alibem.com.br

Brasil Foods S.A. www.brasilfoods.com

Coop. Central Oeste Catarinense Ltda www.auroraalimentos.com.br

Coop. dos Suinoc. de Encantado Ltda www.dalia.com.br

Coop. dos Suinoc. do Caí Superior www.ourodosul.com.br

Coop. Reg. Languiru Ltda www.languiru.com.br

Coop. Reg. Sananduva Carnes Deriv. Ltda www.majestade.com.br

Coop. Reg. Trit. Serrana Ltda www.cotrijui.coop.br

Coop. Santa Clara Ltda www.coopsantaclara.com.br

Coop. Trit. Getulio Vargas Ltda www.cotrigo.com.br

Cotripal Agropecuária Cooperativa www.cotripal.com.br

Doux-Frangosul S/A www.doux.com.br

Endler Ind. de Carnes e Derivados www.endler.com.br

Excelsior Alimentos S/A www.excelsior.ind.br

Fazenda Tradição Alimentos Ltda www.fazendatradicao.com.br

Frigorífico Nova Araçá Ltda www.nicolini.com.br

Frigorífico Rio Pardinho Ltda Fone: (51) 3704-5065

Seara Alimentos Ltda www.seara.com.br Revista do Sips 2012 | 31


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