IMAGEM E SEMELHANÇA
Prólogo Mais irônico da questão que era ele um dia excelente para voar. O céu de Janeiro estava tão limpo e azul que era quase difícil observar ele fixamente. Visibilidade foi ilimitada e tinha uma inofensiva e fresca brisa do Norte. O tráfego do aeroporto foi moderado para intenso aquela hora, mas pessoal de terra mantinha os horários previstos. Não havia nenhum avião aguardando a
permissão de desembarque e apenas um par de aviões aguardando sua vez para a decolagem. Era manhã de uma sexta-feira qualquer no aeroporto internacional de San Antonio. A única dificuldade para os passageiros de vôo da Air América 398 tinha sido o acesso ao aeroporto. As obras efetuadas no Ocidente 410, a estrada principal que leva ao aeroporto, produziu engarrafamento de quase dois quilômetros. Noventa e sete passageiros embarcaram no horário agendado, guardaram a bagagem de mãos nos compartimentos superiores, apertaram seus cintos de segurança de e acomodaram-se em seus lugares com livros, revistas e jornais. Como era de costume, a tripulação realizou todas as verificações necessárias. As comissárias de vôo começaram a preparar as bandejas com bebidas e café de que nunca chegam a servir. Foi feita uma última contagem e foi permitido o embarque dos ansiosos passageiros da lista de espera. Foram retiradas as escadas e a aeronave taxiou para final da pista. Pelos autos-falantes a bela voz do comandante informando os passageiros que seriam o seguinte na decolagem. Em seguida, ele explicou que as condições meteorológicas na cidade de destino, Dallas, eram perfeitas, ordenou a tripulação para se preparar para decolagem. Nem ele nem nenhum daqueles que estavam a bordo poderiam suspeitar que o vôo 398 ficasse no ar por menos trinta segundos ar. -Irish! - Sim? -A avião acabou de cair no aeroporto. Irish McCabe levantou os olhos. -Ele se chocou? - E ele está em chamas. Há bola de fogo no final da pista. O diretor de sucessos deixou cair em sua mesa desordenada as recentes pesquisas Nielsen. Movendo-se com agilidade admirável para um homem de sua idade e sua baixa estatura, Irish contornou a sua mesa e saiu como uma bala de seu escritório de vidro, quase trombando com o jornalista que tinha levado o comunicado da sala de imprensa. - Aterrisava ou decolava? –perguntou por cima do ombro. -Não confirmada. -Que sobreviventes? -Não confirmada. -Avião privado ou companhia? -Não confirmada. -Tem certeza de que houve um acidente? Um grupo sombrio de jornalistas, fotógrafos, secretários e observadores rodeavam as emissoras de fatos policiais. Irish tirou todos em volta da TV, pegou o controle e aumentou o volume. -Pista. Atualmente não há nenhum sinal de sobreviventes. Bombeiros do aeroporto destinam-se a plena velocidade para o local de evento. As chamas e fumaça podem ser vistas a grande distância. Helicópteros já chegaram. Ambulâncias são... Começou a dar ordens em voz alta, ultrapassando o volume do rádio, que grasnava ruidosamente. -Você. -Falou ao jornalista que á alguns minutos antes tinha entrado em seu escritório-. Leva a uma unidade móvel e sai daqui rapidamente.
O jornalista e um câmera se separaram do grupo e saíram correndo em direção a porta. -Que foi informado disso? -quis saber Irish. -Foi Martinez. Veio de carro para o trabalho e ficou preso na 410. -Continua lá? -Sim, informando tudo de dentro do carro. -Diga-lhe que fique perto do local de acidente e que grave um vídeo assim que chegar a unidade móvel. Também faremos uso de um helicóptero. Há alguém que telefone e localize o piloto. Reuniremos com ele no heliporto. Olhou para os rostos procurando alguém em particular. - O lke está aqui? –perguntou, referindo-se ao âncora de notícias da manhã. -Está no banheiro. -Vá procurá-lo. Diga-lhe que vá aos estúdios. Faremos um adiantamento informativo. Quero declaração de algum empregado das torre de controle, dos encarregados do aeroporto, companhia aérea, polícia; Algo que possamos emitir antes do Conselho de segurança nos proíba. Vamos, HAL. Que alguém chame Avery em sua casa. Dizer-lhe que... -Não é possível. Ela foi para Dallas hoje, não lembra? -Merda. Eu tinha esquecido. Não, espera – falou Irish, movendo os dedos e com olhar esperançoso-. Ela pode estar ainda no aeroporto. Em caso afirmativo, chegará antes de qualquer pessoa. Peça que ela vá ao terminal da América Air terminal, podendo cobrir a notícia da perspectiva do interesse humano. Quando você falar com ela, me avise imediatamente. Ansioso por obter notícias, voltou-se para os rádios. Adrenalina fluiu pelo seu organismo. A questão significava que não poderia desfrutar do fim de semana, teriam horas extras envolvidas e dores de cabeça, refeições frias e café passado, mas Irish estava sua praia. Não havia nada como um bom acidente de aviação para fechar os sucessos da semana e melhorar as vendagens. Tate Rutledge parou seu carro diante de sua casa. Saudado o capataz do Rancho, que estava saindo de caminhão. Um cão de raça pastor escocês veio correndo e com um salto, subiu em seus joelhos. -Olá, Shep. Ele se abaixou e acariciou a peluda cabeça do cão, que levantou os olhos e viu seu dono com adoração. Centenas de milhares de pessoas olhavam Tate Rutledge com o mesmo tipo de devoção. Havia muito o que admirar nesse homem, desde seu volumoso cabelo marrom até as pontas de suas antigas botas. Era um homem real para homens e uma fantasia das mulheres. Mas por cada fervoroso admirador, tinha um inimigo ainda mais quente. Ordenou Shep, que ficasse para fora, entrou no amplo vestíbulo da casa e retirou os óculos de sol. O solado das botas ecoaram no chão dirigindo-se para a cozinha, de onde veio um cheiro de café feito recentemente. Seu estômago começou a lembrá-lo de que não havia comido antes da viagem a San Antonio. Ele se imaginou comendo um bife, feito com perfeição; Com ovos mexidos e algumas torradas quentes e untadas com manteiga. Seu estômago rugiu mais forte. Seus pais estavam na cozinha, sentados na redonda mesa de carvalho que
estava ali desde que Tate se lembra. Quando entrou, sua mãe fez uma expressão de dor em seu rosto. Estava terrivelmente pálida. Nelson Rutledge, seu pai se levantou imediatamente da mesa e foi até ele de braços abertos. -Tate. -O que acontece? -questionou intrigados-. Olhando para os seus rostos, parece que alguém morreu. Nelson estremeceu. -Não estava escutando o rádio do carro? -Não. Coloquei um cassete. Por quê? -As primeiras pontadas de pânico sobrecarregaram seu coração-. O que aconteceu que demônios? Seu olhar se dirigiu a TV portátil em cima do mostrador. Esse era o centro das atenções de seus pais quando ele entrou no quarto. -Tate - disse Nelson, com a emoção na voz-, canal DOIS acaba de interromper a “roda da fortuna” para dar um adiantamento informativo. Um avião acabou de cair após alguns minutos da decolagem do aeroporto. -Tate começou a respirar entrecortadamente, quase sem som. Ainda não confirmaram o número de vôo, mas penso... Nelson se interrompeu e agitou a cabeça entristecida. Na mesa, Zee colocava um papel de lenço úmido a boca. -Era o avião da Carole? -perguntou Tate com a voz rouca. Nelson fez sim com a cabeça.
Capítulo 1 Cravava as unhas nas névoa cinza que a dominava. Tinha que ter um clarão, tentando se tranqüilizar, apesar de não conseguir vê-lo. Por um instante, pensou que alcança-lo não valia o esforço, mas algo a sua volta resultava em algo tão aterrorizador que a obrigava a seguir adiante. Ela estava com muita dor. Cada vez mais freqüentemente, surgia um abençoado esquecimento para sair em consciência acompanhada por uma dor tão intensa, tão envolvente que era incapaz de localizá-la. Foi em toda parte; em seu interior, na superfície. Dor estava em todos os cantos do seu corpo. Então apenas quando pensava que já não poderia agüentar nem mais um instante, foi invadida por um entorpecimento quente, um elixir mágico que corria de suas veias. Logo a seguir, a tão desejada inconsciência voltava a envolvê-la novamente. Os Momentos de consciência foram aumentando. Apesar de seu estado, os amontoados de sons a ela. Depois de uma grande concentração começou a identificá-los: o apito incessantes de um respirador, o apito constante de máquinas eletrônicas, som suave de solas de borracha em uma peças de chão, o toque do telefone. Numa ocasião em que recobrou a consciência pode discernir pedaços de uma calma conversa em algum lugar perto. -... uma sorte incrível... com todos esse combustível que caiu em cima dela... as queimaduras são na sua maioria superficiais.
-Em quanto... ela poderá acordará? -... paciência... um trauma como esta machuca mais... o corpo. -Quê... aspecto quando... terminado? Cirurgião amanhã. Ele vai... falar com você. -Quando? -... fora do perigo... infecção. -Quê... efeitos sobre o feto? -Que feto? Sua esposa não estava grávida. Palavras não tinham qualquer sentido. Caiam sobre ela como meteoros lançados num vazio escuro. Quis evitá-las, porque não diziam nada a sua inconsciência pacífica. Ansioso por não sentir ou saber absolutamente nada. De modo que desconectou as vozes e afundou-se volta para as suaves almofadas de esquecimento. - Senhora Rutledge? O que pode me ouvir? Sem ser conta respondeu, e seu peito ferido emitido um som suave. Tentou abrir de pálpebras, mas não foi bem sucedida. Notou que um de sues olhos foi levantado à força e um raio de luz perfurou dolorosamente seu cérebro. Finalmente desligaram a luz odiosa. -Ela está recuperando a consciência. Chame imediatamente seu marido - disse a voz de incorpórea. Experimentou voltar a cabeça na direção para as palavras, mas foi impossível se mover. - Tem em mãos o hotel número de telefone? -Sim, doutor. Senhor Rutledge nos deu se sua mulher recuperasse a consciência durante sua ausência. Por trás da névoa cinzenta zarcillos desapareceram. Palavras que anteriormente era incapaz de decifrar formaram agora definições reconhecíveis no cérebro. Entendia as palavras, no entanto, não tinha nenhum sentido. - Sei que ele era extremamente desconfortável, Senhora Rutledge. Estamos a fazer tudo aliviá-lo. Você não pode falar, assim, não tente. Relaxe. Sua família chegará em breve. Uma pulsação rápida soava em sua cabeça. Queria respirar, mas não conseguiu. Uma máquina o fazia; de um tubo ligado à sua boca, bombeavam ar diretamente para os seus pulmões. De modo que tentou novamente abrir os olhos. Conseguiu abrir um olho parcialmente e pela precipitação, pode discernir uma luz tremida. Doía tentar focalizar, mas se concentrou na tarefa e viu que certas silhuetas indistintas começaram ter forma. Sim, encontrava em um hospital. Isto ela já tinha compreendido. Mas como? Por quê? Tinha a ver com o pesadelo que tinha para trás da névoa. Não queria se lembrar, de modo que se esqueceu e foi pensar sobre o presente. Estava imobilizada. Não podia mover braços ou pernas por mais tentasse. Nem a cabeça. Senti como encerrada em uma concha rígida. Paralisia a aterrorizou. Seria ela permanente? Coração começou a bater com fúria. Quase imediatamente uma presença materializou-se ao seu lado. -A senhora Rutledge, nada tem a temer. Você esta bem. -Tem o pulso demasiado rápido - comentou uma segunda presença de toda a cama. – Acho que ela está com medo. -Conseguiu reconhecer a primeira voz-. Ele está
desorientada; não faz idéia do que tudo isto. Uma silhueta vestido de branco inclinou-se sobre ela. -Tudo vai bem. Chamamos o senhor Rutledge, ele já está a caminho. Ficará contente em vê-lo, Hein? Ele está muito feliz por você ter recuperado o conhecimento. -Coitada. Você imagina acordar e ter de enfrentar algo assim? -Não consigo imaginar o que deve se sentir ao sobreviver a um acidente de avião. Um chiado mudo ecoou em seu cérebro. Estava acordada! Sons de metal. Pessoas gritando. Fumaça, densa, preto. Em seguida, chamas e terror absoluto. De modo automático havia efetuou as instruções de emergência repetidas pelos comissários em muitos outros vôos. Uma vez fora da fuselagem em chamas, começou a correr cegamente por meio de um mundo banhado em sangue vermelho e fumaça negra. Apesar agonizante corrida, conseguiu agarrar... Agarrar o que? Recordou que era algo importante, algo que tinha de salvar. Recordava ter caído. Enquanto caiu ela acreditava ser seu último olhar do mundo. Nem sequer sentira dor ao chocar-se contra solo duro. Para então ser encontrada sem inconsciência que até agora tinha se protegido de recordar. -Doutor! -O que acontece? - A pulsação esta rápida. -De acordo, vamos baixar um pouco. Senhora Rutledge - disse o médico imperativamente-, relaxe. Tudo vai bem. Não precisa se preocupar com nada. - Dr. Martin, senhor Rutledge acabou de chegar. -Diga-lhe para esperar aí fora até nós termos estabilizado. -O que acontece? A nova voz parecia que chegar - uma distância de vários quilômetros, embora o tom autoritário. -O senhor Rutledge, por favor, aguarde... - Carole? Subitamente ela estava ciente da sua presença. Estava muito próximo e se inclinou na cama; e disse falou com um tom tranqüilizador. -Você ficará bem. Sei que está assustada e preocupada, mas você ficará bem. E Mandy também, graças a Deus. Tem alguns ossos quebrados e queimaduras superficiais nos braços. Minha mãe está no hospital com ela. Ela ficará bem. Olhe para mim, Carole? Você e Mandy sobreviveram, e é isso que importa agora. Um forte luz fluorescente resplandecia por trás da cabeça do homem, de modo que eu não conseguia ver seu rosto com clareza; mas pode discernir elementos suficientes para ter uma vaga idéia do aspecto que tinha. AgarCarole-me a cada uma dessas reconfortantes palavras e porque elas foram pronunciadas com muita certeza, e acreditou nelas. Levantou sua mão, ou melhor tentou. Ele deve ter sentido seu pedido de contacto humano silencioso porque colocou a mão ligeiramente no longo de seu ombro. Em conseqüência deste contato, sua ansiedade começou a diminuir ou talvez devido ao forte de sedativo que ela havia tomado. Quem ela queria enganar, sentiu-se de alguma forma mais segura com aquele desconhecido de voz poderosa ao seu lado, ao seu alcance. - Ela está dormindo. Você pode deixá-la já, Senhor Rutledge.
– Eu fico. Ela fichou os olhos, fazendo desaparecer a silhueta tremida. A droga era sedutora. Com mecía suavemente, como um pequeno barco a vela em uma Baía de segura. E quem seria Mandy?, perguntou-se. Ela deveria conhecer este homem que a chamou de Carole? E porquê todos a chamavam de Sra. Rutledge? Pensavam que estava casada com ele? Estavam errados, naturalmente. Não entendia nada. Homem estava ainda lá quando despertou novamente. Por aquilo que sabia ele, poderia ter passado minutos, horas ou dias. Dado que o tempo não teve qualquer relevância uma unidade de terapia intensiva, sua desorientação tinha aumentado. Quando abriu os olhos, ele se inclinou e disse: - Oi! Era enervante não poder vê-lo claramente. Só podia abrir um olho. Percebeu que tinha a cabeça totalmente coberta com bandagens e que era a causa da sua imobilidade. Como você informou o médico, não poderia falar. Parte inferior da face parecia ter sido solidificada. -Você me entende, Carole? Você sabe onde está? ?Pisque se me entende. Piscou. -Você se lembra de entrar no avião? Foi anteontem. Você e Mandy passariam alguns dias em Dallas fazendo compras. Lembra-se do acidente? Tentou desesperadamente transmitir que ela não se chamava Carole nem sabia que era Mandy, mas piscou em resposta à pergunta sobre o acidente. -Só houve catorze sobreviventes. Não percebeu que saiam lágrimas do olho, por isso ele utilizou um pano para secá-los. O toque era suave, para um homem com mãos de aspecto tão fortes. -De alguma forma, sabe Deus como, conseguiu escapar do avião em chamas com Mandy. Lembra-se disso? Não piscou. -Bem, não interessa. Seja como for você salvou a vida dela. Ela está preocupada e assustada, claro. Receio que as suas feridas são mais emocionais do que física e, portanto, mais difícil de tratar. Eles engessaram o braço. Não tem qualquer dano grave. Nem sequer precisará de enxerto de pele para queimaduras. –A olhou de forma penetrante-. Você a protegeu com seu próprio corpo. Não compreendeu esta parte, mas era como quase que esse homem falava dos fatos tal como ele conhecia. Foi ele quem parou de olhar para continuar com sua explicação. -O Conselho de segurança no transporte está investigando. Descobriram a caixa preta. Tudo parecia normal e então explodiu um dos motores. Com isso o combustível se incendiara. O avião tornou-se uma bola de fogo. Mas, antes que a fuselagem ficasse totalmente em chamas, conseguiste sair por uma porta de emergência lateral e conseguiu levar Mandy com você. Um dos outros sobreviventes, disse que viu você forçando para abrir o cinto de segurança. Garante que os três se arrastaram até a saída de emergência através da fumaça. Seu rosto estava coberto de sangue, de modo que você se feriu no impacto da aeronave. Não se lembrou de nenhum desses detalhes. Tudo o que veio a sua mente era o
terror de morrer sufocada pela inalação de fumaça, ou se não morrer esmagada. Homem saudava por a sua coragem durante a catástrofe, quando seu único mérito era reagir como qualquer outro ser humano, usando o instinto de sobrevivência. Talvez as memórias da tragédia apareceria gradualmente. Talvez isso não acontecesse nunca. Não queria se lembrar. Reviver esses terríveis minutos após o acidente seria como passar por inferno novamente. Se apenas sobreviveram catorze passageiros, então morreram muitos. O fato de ter saído com vida a deixou perplexa. Por pura coincidência do destino tinha sobrevivido e nunca chegaria a saber porquê. Modo de que sua vista ficou nublada e novamente percebeu que estava a chorar. Sem falar, ele voltou a secar o olho aberto. -Você fez exames de gás e de sangue e decidiram colocá-la no aparelho de ventilação. Sofreu uma pequena concussão cerebral, mas nada de grave. Você rompeu a tíbia direita ao saltar do avião. Você tem mãos vendadas de queimaduras. De qualquer forma, você deve agradecer a Deus que todas as suas feridas exceto inalação de fumaça, são externas. Sei que você está preocupada com a cara - adicionada com alguma ansiedade-. Não vou mentir, Carole. A não ser que você não quiser sue eu diga. Piscou. Ele parou, olhando para ela com preocupação. -Seu rosto foi seriamente danificado. Eu contratei o melhor especialista em cirurgia plástica do Estado. Ele especialista em cirurgia reconstrutiva em vítimas de acidentes como o seu. Seu olho piscou surpreendente, não por consentimento, mas pela angústia. Falou mais alto a sua vaidade feminina, apesar de encontrar acamada em uma unidade intensiva de cuidados, agradecendo a Deus por estar viva. Queria saber qual era a gravidade da deformação em seu rosto. Cirurgia Reconstrutiva parecia um mau sinal. Rompeste o nariz e fraturaste um pómulo. O outro pómulo foi pulverizado. Por isso um de seus olhos está vendado, pois não tem aonde se apoiar. Emitiu um pequeno som de terror puro. -Não, não perdeu o olho. Este é uma sorte. Há também uma fratura na mandíbula. Mas este cirurgião poderá reconstruir tudo. O cabelo crescerá e será feito implantes dentários. Terá a aparência de seus próprios dentes. Ela não tinha nem dentes e cabelo. -Nós temos imagens suas, fotos recentes e tomadas de todos os ângulos. Para recriar seus traços com perfeição. As queimaduras face afetaram apenas a superfície da epiderme, portanto você precisa não precisará de enxertos. Quando cair pele, será como se tivesse perdido dez anos, disse o médico. Suponho que isto de alegrará. As sutis inflexões do discurso passaram quase desapercebido e concentrou-se em vez disso nas palavras-chave. A mensagem recebida foi claramente que, sob todos esses paliativos, parecia um monstro. O pânico a invadiu. O Homem se deu conta, pois novamente Coloque sua mão sobre o ombro. -Carole, não quis explicar-lhe tudo isto para você se alarmasse. Sei que é uma preocupação você. Pensei que seria melhor ser franco e honesto e prepará-la
mentalmente para o sofrimento que aguardam você. Não será fácil, mas toda a família lhe oferece suporte a 100 por cento. -Pausado e abaixou o tom de voz-: Por enquanto deixarei de lado todas minhas considerações pessoais e vou concentrar-me na sua recuperação. Eu ficarei ao seu lado até que estiver completamente satisfeita com os resultados do cirurgião. Eu te prometo. Eu te devo por você salvo a vida de Mandy. Tentou fazer um gesto negativo com a cabeça, mas era impossível. Ela não podia se mover. E esforçar-se de falar com um o tubo na garganta produzia uma terrível dor no esôfago, quimicamente quente. Sua frustração foi aumentando até que entrou uma enfermeira e ordenou o homem que saísse. Quando ele tirou as mãos de seu ombro, sentiu-se perdida e sozinha. A enfermeira administrou uma dose de remédios. Ela sentiu o remédio entrar por suas veias e tentou combater os efeitos anestesiantes, mas provou mais fortes que ela, por isso foi obrigada a sucumbir. -Carole, você me ouve? Após recobrar os sentidos, gemeu lastimamente. Medicação a fazia sentir-se pesada e insensível, como se as únicas células com vida do seu corpo inteiro residiam no cérebro e no resto do corpo estava morto. -Carole? -sussurrou a voz, muito perto da sua orelha vendada. Ele não era o homem chamado Rutledge; tinha reconhecido a voz. Não lembrar-se ele havia deixado. Não sabia quem falava agora. Queria ficar longe dessa voz: não era tranqüilizadora como o senhor Rutledge. -Você está em condição muito ruim e que não pode se levantar. Mas se você achar que vai morrer, não faça nenhuma confissão de última hora, nem mesmo pense em fazê-la. Ela perguntou estava sonhando. Assustada, abriu os olhos. Como de costume, a sala estava bem iluminada. A máscara de oxigênio trabalhava ritmicamente. A pessoa que falava permanecia fora de sua visão periférica. Sentia sua presença, mas não podia vê-lo. -Estamos os dois juntos nisso. E você também bastante envolvida nisso para querer sair agora, e será melhor que nem considere. Tentou em vão esclarecer idéias e não se desorientar. A pessoa continuava a ser apenas uma presença uniforme e indistinguível, uma voz incorpórea e sinistra. -Tate não viverá para ocupar o cargo. Este acidente de avião foi um inconveniente, mas nós poderemos nos beneficiar da situação se você não entrar em pânico. Me ouça?, Se sair dessa, seguiremos como foi planejado. Nunca haverá o senador Tate Rutledge. Ele morrerá antes. Fechou o olho com veemência na tentativa de desaparecer o pânico que a invadira. - Sei que você pode me ouvir, Carole. Não finjas. Segundos depois regressou ao abrir o olho e analisado para trás, como poderia. Ainda não viu ninguém, mas tinha a sensação de que o visitante tinha deixado. Passados alguns segundos, medido pelo ciclo enervante o respirador. Flutuou entre suspensão e lucidez, tentando evitar corajosamente os efeitos das drogas, pânico e inerentes à desorientação de unidade de terapia intensiva. Logo depois chegou uma enfermeira, olhou o soro e você mediu sua pressão. Se
comportou rotineiramente. Certeza de que se tivesse alguém na sala ou tivesse entrado alguém recentemente, a enfermeira faria algum comentário. Satisfeito com o estado da paciente, foi embora. Para quando voltou a dormir, convenceu-se de que era apenas um pesadelo.
Capítulo dois Tate Rutledge, estava de pé em frente a janela de seu quarto de hotel, observada deslocamento do tráfego pela auto-estrada. Luzes intermitentes de trabalhadores e faróis refletiam sobre o molhado de pavimento deixando vestígios aquosa de vermelho e branco. Quando ouviu a porta sendo aberta as suas costa, virou-se, contando com os calcanhares de botas e saudado com um movimento de cabeça estava seu irmão. - Ligue para o seu quarto a poucos - disse-. Onde estavas? -Tomando uma cerveja no bar. Os Spurs jogavam contra os Lakers. -Eu tinha esquecido. Quem ganhou? Virou a cabeça para seu irmão e indicou a estupidez da pergunta. -Papai ainda não voltou? Tate negou com a cabeça, deixou cair a cortina e foi para longe de janela. – Estou morto de fome - disse Jack-. Você está com fome também? -Acho que sim. Não tinha pensado sobre isso. E deixou-se cair em silêncio e fechou os olhos. -Não fará nenhum bem a Carole ou a Mandy, se você não se cuidar, Tate. Você tem um aspecto terrível. – Obrigado. -Estou falando seriamente. -Sei que você fala seriamente - respondeu Tate, baixando os braço e dando um pequeno sorriso ao seu irmão maior. Você é sincero e tem pouco tacto. Por isso que sou político e não você. -Político é uma palavra feia, não lembra? Eddy te ensinou a não usá-la. -Mesmo entre amigos e familiares? -Pode tornar-se um mau hábito. Não é melhor pronuncies mesmo. -Vai, não descansas nunca? -Estou apenas tentando ajudar. Tate baixou a sua cabeça, envergonhado pelo seu mal gênio. -Perdoe. –Pegando o controle remoto da TV, passando, silenciosamente, canal em canal-. Disse a Carole sobre sua face. -O que acontece Ah, sim? Jack Rutledge se colocou na borda da cama, avançou um pouco e apoiou os cotovelos nos joelhos. Ao contrário de seu irmão, estava com calça social, camisa branca e gravata. De qualquer forma, a essa hora estava todo amassado. A camisa engomada havia perdida sua rigidez, tomou o nó de gravata frouxa e arregaçou as mangas da camisa. Calças estavam amassadas, pois tinha passado a maior parte do dia de sentado. -Como reagiu quando disse? -E como é que eu vou saber? -murmurou Tate-. Não vejo nada além de seu olho direito. Veio-lhe lágrimas, por isso eu sei que ela chorou. Conhecendo-a e
sabendo como é vaidosa, acho que está histérica sob todos esses paliativos. Se pudesse se mover, estaria provavelmente correndo para cima e para baixo através dos corredores do hospital e gritando. Você não faria o mesmo? Jack sentou-se cabisbaixo, estudando as mãos tentando se imaginar com elas queimadas e com ataduras. -Você acha que ela se lembra do acidente? - Deu a entender que sim, embora não sei ao certo de quanto se recorda. Nem contei a ela de todos os detalhes em escabrosos, contem apenas que ela e Mandy e doze outros tinham sobrevivido. -Disseram esta noite a notícia de que ainda está tentando casar pedaços de corpos carbonizados para identificá-los. Tate tinha lido os artigos em jornais. Segundo o relatório, era uma cena dantesca. Hollywood que não é possível criar um filme chocante e mais terrível do que a realidade que teve de enfrentar o médico forense e de seu exército dos assistentes. Cada vez que Tate se lembrava que Carole e Mandy poderiam estar entre as vítimas, seu estômago de revirava. Não podia dormir a noite pensando sobre isso. Todos tinham uma história, uma razão para viajar nesse vôo em particular. Cada necrologia era tocante. Na sua imaginação, Tate adicionava os nomes de Carole e Mandy à lista de vítimas: esposa e filha de três anos do candidato ao Senado Tate Rutledge estavam entre os mortos do vôo 398. Mas o destino tinha decidido que deveria ser outra coisa. Não morreram. Graças à coragem espantosa de Carole, conseguiram sair vivas. -Meu Deus, está chovendo mares lá fora - quebrou o silêncio a voz de Nelson, quando você entrara. Trazia uma caixa quadrada da pizza sobre o ombro enquanto com a outra trazia um guarda-chuva encharcado. -Estamos com fome-, afirmou Jack. -Voltei o mais rápido que pude. - Você é maravilhoso, pai? Quer beber algo? -perguntou Tate, enquanto abria um refrigerador pequeno que sua mãe tinha preenchido a primeira noite da sua estadia lá. Cerveja, ou algo sem álcool? -Com pizza?Cerveja. -Jack? -Cerveja. -Como estão as coisas no hospital? -Ele contou a Carole sobre seus ferimentos – respondeu Jack antes que Tate tivesse a oportunidade de responder. -Que sim? -Nelson colocou um pedaço gigante de pizza de boca e deu uma mordida. Com a boca cheia, falou-: tem a certeza que foi uma boa idéia? -Não. Mas se eu estivesse em seu lugar, gostaria de saber que demônio estava a acontecer. Você não? -Presumo - Nelson admitido, e bebeu um pouco de cerveja que Tate tinha servido -. Como estava sua mãe quando você saiu? -Esgotada. Pedi que retornasse ao hotel e falei que queria ficar com Mandy esta noite, mas respondeu, que já tinha entrado na rotina e que, para o bem de Mandy,
não queria quebrar agora. -Foi que disse - comentou Nelson- mas certamente após você ter dado uma olhada em você, decidiu que era você que precisava dormir. Você é que está esgotado. -Isto é o que disse-me - apoiei Jack. Tate tentou pôr um pouco de humor em suas palavras. -Bem, talvez pizza ajudar-me reviver. -Não virar uma orelha surda nossos conselhos, Tate - informou-lhe Nelson duramente-. Não pode permitir-nos se deteriorar sua saúde. -Não tenho nenhuma intenção de que tal aconteça. -Dedicado-me um brinde com a túnica de bebi-lo e adicionado-: agora que Carole recuperou o conhecimento e sabe o que espera, descansarei melhor. -Será um Mamãeento difícil. Para todos - decidiu seu irmão. -Fico satisfeito que tenha mencionado você, Jack. -Tate limpou a boca com uma toalha de papel e mentalmente ficou animado. Era a ponto de por a prova o temperamento de seu pai e seu irmão. Talvez devesse esperar mais seis anos para candidatar-me as eleições. Poucos segundos, ocorreu um silêncio em torno da mesa e, em seguida, Nelson e Jack foram falar simultaneamente, cada um deles tentando ser ouvido por outro. -Você pode não tomar uma decisão, até ver como será a operação. - E sobre todas as horas já investimos? -Muitas pessoas dependem de você. -Você não pode abandonar agora, irmãozinho. Trata-se de eleições que terá de ganhar. Tate levantou sua mão para pedir silêncio. -Sabe quanto eu quero. Que Deus, queria estar na vida é legislativo! Mas eu não pode sacrificar o bem-estar da minha família para nada, até mesmo por minha carreira política. -Tais considerações, não merece Carole. Aos olhos cinzas astutos da Tate colocados em seu irmão. -É minha esposa. Outro silêncio tenso ocorreu. Após limpar a garganta, Nelson disse: -É claro que você deve estar com Carole tudo durante a duração de tempo do seu sofrimento. É admirável que primeiro pense nela e depois em sua carreira política. Já esperava este tipo de reação de sua parte. -Para sublinhar o seguinte comentário, se inclinou sobre os pedaços de pizza na pequena mesa redonda-. Mas lembre-se como Carole o incentivou para que seguisse a carreira política. Penso que ela se sentirá decepcionada, se você se retirar das eleições por sua culpa. Terrivelmente decepcionada - realçando, atingindo a mesa entre eles com seu dedo. E, sob ponto de vista um frio e cínico continuava a falar-, Você poderia utilizar este lamentável acidente em nosso interesse. Ele irá gerar grande publicidade. Enojado pela observação, Tate lançou seu guardanapo enrugado e se levantou. Durante alguns segundos ele andou de um do lado para outro quarto. -Você está de acordo com Eddy... sobre este assunto? Porque ele disse que quase a mesma coisa quando chamado você para discutir a questão. -É o seu diretor de campanha. -Jack tinha ficado mudo e pálido ao pensar que seu
irmão poderia abandonar a carreira antes dela mesmo começar. Se é pago para que você dê bons conselhos. -Para conceder a mim o tabarra, você quer dizer. -Eddy quer que Tate Rutledge se transforme em Senador dos Estados Unidos, como todos nós, e seu desejo tem nada a ver com o salário que é pago. Sorridente amplamente, Nelson estava em pé e deu um tapa nas costas de Tate -. Você ganhará as eleições de Novembro. Carole seria o primeiro a pedir-lhe fizesse. -Verdade - aceitou Tate, com serenidade-. Eu sabia que me daria seu apoio incondicional. Demandas que farei nos próximos meses é tudo posso suportar e algumas delas... -Você tem nosso apoio, Tate - interrompeu Nelson firmemente. -Brindarei a vossa paciência e compreensão quando não puder estar em dois lugares ao mesmo tempo? –Dirigiu para os dois um olhar inquisidor-. Farei o possível para não sacrificar uma responsabilidade por outra, mas sou apenas uma pessoa. -Nós o ajudaramos - garantiu Nelson, - O que mais disse Eddy? -pediu a Jack, aliviado por ter passado a crise. -Ofereceu colocar questionários em envelopes podem ser enviados no final desta semana. - Este sobre atos públicos? Preparou algo mais? -Um pequeno discurso no Instituto do vale. Disse-lhe que você cancelou. -Por quê? -Os caras do Instituto não votam - alegou Tate razoavelmente. -Mas os pais sim. E precisamos todos os mexicanos do vale estejam ao nosso lado. -Já estão. -Não nada certo ainda. -Eu não sei- respondeu Tate- mas isso é um dos casos em que tenho de pesar minhas prioridades. Carole e Mandy vão precisar que lhes dediquem muito tempo. Tenho que selecionar mais cuidadosamente onde gostaria de ir e quando. Cada discurso terá de ser de grande importância, e não creio que um auditório cheio estudantes do Instituto é tão relevante. -Certamente tem razão - interveio Nelson, diplomaticamente. Tate estava ciente de seu pai estava a tentar agradar-lhe, mas não importava. Estava cansado, preocupado e queria ir para a cama ao menos para tentar dormir. Com maior o tacto de possível informou seu pai e seu irmão. Enquanto os acompanhava até a porta, Jack se virou e lhe deu um abraço pela desajeitado. -Desculpe, ter pegado pesado esta noite. Sei que tem muitas coisas na cabeça. -Se não o fizesse, engordaria e eu voltaria em um prazeroso piscar de olhos. Depende de você. E ele lhe dirigiu um sorriso sedutor que deveria aparecer em todos os seus cartazes de campanha. -Se estiver bem para, creio que regressarei para a casa amanhã de manhã anunciado Jack-. Alguém tem de lidar com aquilo e verificar se tudo correr corretamente.
-Como vai tudo lá? -Bem. -Isto é não aquilo que pareceu da última vez que eu estava lá. Fazia dias que não sabem nada da sua filha Francine e vossa esposa... Bem, você sabe em qual Estado se encontrava. -Ele apontava com o dedo para seu mais velho - filho. Coisas têm vindo a uma situação ruim quando um homem perde o controlo da sua família. –olhou para Tate - E no seu caso, o mesmo acontece com você. Os dois deixaram que às suas esposas façam aquilo que eles vêm na mente. -Dirigida novamente Jack-: deve procurar ajuda para Dorothy RAE antes que seja tarde demais. -Talvez depois das eleições - farfulló. Olhou adicionado ao seu irmão-: Eu só estarei à uma hora de carro se você precisar. – Obrigado, Jack. Deixarei você a par dos acontecimentos. -O médico lhe disse quando fariam à operação? -Só quando desaparecer o risco de infecção. Inalação de fumaça prejudicou seus pulmões, de modo que terá esperar duas semanas ainda. Para ele é um verdadeiro dilema, porque se você esperar muito, ossos do rosto começam a ser calcificar no lugar em que estão. - Meu Deus! -murmurou Jack: então em um tom; falsamente Alegre, continuou-: bem, dê lembranças. Dê Dorothy Rae e Fancy também. -Darei. Jack andou no corredor até ao seu quarto. Nelson ficou por alguns Mamãeentos. -Falei com Zee esta manhã. Enquanto Mandy dormia, foi a unidade de terapia intensiva. Carole continua com quadro estável. Tate encolheu um pouco ombros. -É. Espero, para todos os Santos, que o cirurgião sabe o que você está fazendo. Nelson colocou uma mão sobre o braço do seu filho, num gesto silencioso de tranquilidade. Durante um tempo, a Tate colocou a sua própria mão sobre a de seu pai. -O Dr. Sawyer, cirurgião, mostrou hoje o vídeo que fez. Criou o rosto de Carole no computador, utilizando as fotografias que vocês deram. Foi extraordinário. - E acredita que será capaz de reproduzir essa imagem através de cirurgia? -Isto é o que ele diz. Ele me disse que poderia haver algumas diferenças pequenas, mas a maioria delas a favorecerá. -Emitido um som sarcástico-. Isto ela gostará. -Antes que isto acabe, certamente pensara que todos as norte-americanos devem ser igualmente afortunadas - brincou Nelson, com sua característico otimismo. Mas Tate estava a pensar naquele olho único, injetados de sangue e inchados, mas apesar de tudo continuava sendo de um marrom escuro e o olhava com terror. Se perguntou se teria medo da morrer; ou de viver sem o atraente rosto que tinha sido utilizado com grande benefício. Nelson se despediu e retirou-se para seu quarto. Mergulhou profundamente seus pensamentos. Tate desligou a TV e luzes, se despiu e deitou na cama. Flashes de luz eles atravessaram as cortinas, iluminando Mamãeentaneamente o quarto. Um raio trovejou perto do edifício, que tremeram os vidros. Com um olhar duro e firme, Tate continuou a olhar as silhuetas iluminadas. Nem sequer haviam dado um beijo de despedida.
Devido à sua recente e violenta discussão causava uma grande tensão de manhã. Carole estava ansiosa para passar alguns dias da compra em Dallas, mas chegaram com tempo suficiente no aeroporto para um tomar café no restaurante. Acidentalmente, Mandy é derrubou um pouco de suco de laranja. Como sempre, Carole reagiu histérica. Quando saíram da cafeteira viu a mancha no vestido e brigou com a menina por ser tão pouco cuidadosa. -Para o amor de Deus, Carole, nem sequer da para ver a mancha. -disse Tate. -Eu vejo . – E se pos a olhar. Ela o olhou com uma daquelas expressões de raiva que já não o afetava. Ele carregou Mandy em seus braços até a porta de embarque, falando com ela de todas as coisas divertidas que ver e fazer em Dallas. À chegada, a cercou e a abraçou. -Divirta-se, amorzinho. Você me trará um presente. -Posso?, Mamãe -Respondeu claro - Carole distraidamente. -Claro - repetiu Mandy, com um sorriso enorme. -Gosto muito - garantiu-lhe e moveu-se para dar um último abraço. Ingressou e perguntou a Carole se queria ele esperasse até que o avião saísse. Ela respondeu: -Não há nenhuma razão para esperar. Decidiu não discutir mais e limitou-se a garantir que levavam toda a bagagem de mão. -Nos veremos na terça-feira. -Não você chega atrasado a recolher-disse o Carole seu caminho com Mandy a entrada, enquanto uma comissária de vôo, espera-se pegar em cartões de embarque. Pouco antes entrar no corredor, Mandy se virou para dizer adeus. Carole nem sequer virou. Segura e confiante de si, continuou a andar com passos determinados. Foi talvez a razão aquele olho estar agora tão cheia de ansiedade. Confiança em si baseou-se beleza e que tinha sido tirada pelo destino. Odiava a feiúra. Suas lágrimas não eram talvez por aqueles que morreram no acidente, como pensava ele inicialmente. Talvez eram auto-piedade. Talvez tivesse preferido morrer a ficar desfigurada, embora apenas temporariamente. Conhecendo a Carole, não o surpreenderia. Chefe dos assistentes forenses do Condado de Bexar, Grayson foi o último salão. Para esse motivo encontrou e voltou a verificar as informações antes abordar seu supervisor imediato e comentar as estranhas conclusões. -Tem um minuto? Um homem esgotado e mal-humorado, com um avental e borracha luvas, o olhou por cima do ombro. -Em que está pensando, um jogo de golfe? -Não, é isso. -O que acontece? O supervisor retornou para trabalhar em uma pilha de matéria carbonizada, que anteriormente tinha sido um corpo humano. -A ficha dentária Avery Daniels - disse Grayson-. Vítimas nº oitenta e sete. -Já está identificada e foi feita a autópsia. -Consultando um diagrama na parede
apenas para se certificar. Uma faixa vermelha em seu nome-. Efetivamente. -Eu sei, mas... -Não tinha parentes vivos. Um amigo da família o identificou esta tarde. -Mas esses relatórios... -Olha, garoto - disse o supervisor com ranzinza-, tenho corpos sem cabeça, sem mãos ou braços, sem pés ou pernas. E é minha responsabilidade terminar esta noite todos. Assim, se alguém tiver sido já identificado, a autópsia foi feita e está em uma caixa, não me amole com outras informações. De acordo? Grayson guardou x-raio novamente no envelope que tinha chegado e guardou a papelada. -Acordo. Muito bem. E, entretanto eu só queria te ajudar, seu burro! -Claro, naturalmente, quando desejar. Enquanto eu identifico todos estas corpos. Grayson deu com os ombros. Você não é pago para ser Dick Tracy. Se ninguém se importou com essa irregularidade misteriosa, por que eu ficaria? Preocupar-selhe Regressou ao seu trabalho, que consistia em correspondência guias dentários com cadáveres identificados.
CAPÍTULO 3 Tempo também parecia ser em luto. Ela choveu no dia do enterro de Avery Daniels. Na noite anterior, tempestades tinham inundados de todo o domínio do Texas. Que tudo o que permaneceu manhã foi uma chuva de cinzenta odiosa e fria. Com a cabeça descoberta, insensíveis aos inclementos dos tempo, Irish McCabe permaneceu em pé ao lado do caixão. Havia insistido em um buquê de rosas amarelas, sabendo que eram suas preferidas. Intensa e extravagante pareciam contornar a morte, o que era reconfortante. As lágrimas caiam em suas redondas bochechas. O nariz, espesso e cheio de sardas, eram mais vermelho que o habitual, embora não tivesse bebendo muito ultimamente. Avery costumava ser pesado com o tema, disse-lhe que um montante excessivo de álcool você não vai bem pressão o fígado ou sangue ou de seu ventre cada vez mais proeminente. Usaram espesso também com Van Lovejoy por seus abusos de química, mas ele foi apresentado sim algo piripi no enterro, graças ao uísque barato consumidos e porcaria que tinha fumado na Capela. A moda última eliminatória em torno do pescoço de sua camisa foi uma concessão para a solenidade do tempo e deu fé ao fato de que sua estima pelo Avery passou um pouco para além desta alegou pelo resto da humanidade. Outros tiveram Van Lovejoy mais ou menos a mesma opinião que tinha os outros. Avery foi uma das poucas que podiam suporta-lo. Quando o jornalista, atribuído de cobrir a história da trágica morte para o KTEX, solicitou a Van que gravasse um vídeo, o operador ficou com ódio, ele apontou o dedo e saiu da redação sem dizer uma palavra. Esta forma rude de expressão foi típica dele e apenas uma das muitas razões que o aleijavam da humanidade. Quando terminou a breve cerimônia, os participantes do funeral seguiram a trilha de cascalho até carros estacionados na estrada, deixando sozinhos Irish e van sozinhos no túmulo. Em uma distância discreta os empregados do cemitério
esperavam para completar o seu trabalho e retirar-se para o edifício, onde seria seguro contra o tempo. Van tinha quarenta e poucos anos, era delgado como um palito. Seu ventre era côncavo e seus ombros ossos se encurvavam acentuadamente. Os finos cabelos caíam de modo reto, quase atingindo os ombros e marcando seu rosto fino e estreito. Era um hippie antiquado que não tinha evoluído desde a década de 60. Em contrapartida, o Irish era baixinho e robusto. Ao mesmo tempo que Van dava a impressão de que voaria se ventasse mais forte, Irish, parecia ser capaz de ficar em pé com os pés firmemente plantados no chão. Apesar das diferentes formas físicas, nesse dia a posição e expressão triste de um era reflexo um do outro. No entanto, os dois foi Irish que sofreu mais. Em um estranho no ato de compaixão, Van colocou sua mão magra, pálida sobre o ombro do Irish. -Vamos. Vamos nos embebedar hoje. Assentiu Irish distraidamente. Deu um passo, cortou um dos cabos dos botões rosas amarelas, voltou e falou a Van o que faria ao sair de seu refúgio temporário. As gotas de chuva caíram sobre seu rosto e sua capa, mas não o obrigou a acelerar seu passo impertubável. -Ei... Eu vim na limusine - disse, como se acabou recordando ao chegar ao automóvel. -Quer usá-lo para retornar? Irish olhou o furgão de Van. -Irei com você. Despediu-se do chofer da limusine com um gesto de mão e entrou na van. O interior estava em piores condições do que o lado fora. O estofamento rasgado estava coberto com uma toalha de praia e cloth avermelhada, que cobria o restante do carro cheirava fumaça de cigarro de maconha. Van se sentou atrás do volante e colocou a marcha no motor. Enquanto o veículo andava meticulosamente, acendeu um cigarro com seus dedos largos e manchados de nicotina e o passou para a Irish. -Não, obrigado. Após alguns segundos de reconsideração, tomou o cigarro e aspirou profundamente. Avery havia conseguido fazer eu deixar de fumar. Levou meses sem fazê-lo. Fumaça do cigarro produziu um comichão na boca e garganta. -Deus, que bom - comentou e voltando para dar outra tragada. -Onde estamos? perguntou a Van, acendendo um outro cigarro. -Para qualquer onde não nos conheçam. È provável que acabemos montando um número. -Me conhecem em toda parte. O que não disse foi que quando criança montou um número e que, nos lugares que freqüentavam não tinha nenhuma importância. Colocou a primeira, conseguindo riscar todas as marchas. Alguns minutos depois, Van fazia Irish entra por uma porta de vinil vermelho almofadado em um lugar localizado na periferia da cidade. -Nós vamos parar? -perguntou Irish. -Ao entrar eles registram se tem armas de fogo. - E, se não tiver um, dar-vos - respondeu Irish, após a velha piada.
A atmosfera foi lóbrego. Lugares que ocuparam eram separados e escuros. Clientes de manhã pareciam tão taciturnos quanto as decorações de Natal há vários anos colocadas no teto fraco luzes. As aranhas tornaram lhes residência permanente. Uma senhorita nuas sorria sedutoramente de um veludo preto em que foi pintado. Contrastando plenamente com o ambiente, uma Alegre música de mariachi veio de máquina de discos. Van pediu uma garrafa de whisky. - Eu realmente deveria comer algo - murmurou Irish com pouca convicção. Quando o garçom sem cerimônia colocou a garrafa e dois copos em cima da mesa Van pediu algo para comer para Irish. -Não tinha o porquê de fazê-lo - opôs Irish. O operador ainda ombros e preenchida com os dois navios. -Prepara os antigos que ser se você pedir. -Você vem aqui muitas vezes? -Às vezes - respondeu com outro gesto de lacônico. Veio a refeição, mas depois de dar um par de picadas, Irish decidiu que afinal não estava com fome. Deixou o prato de lado e pegou o copo de whisky. O primeiro gole agiu como uma chama em seu estômago. Encheu os olhos de lágrimas. Ar foi inalado com dificuldade. Mas, com uma experiência de um bebedor profissional, se recuperou rapidamente e tomou outra bebida. Lágrimas, todavia, permaneceram em seus olhos. -Vou sentir a falta dela - disse, pouco girar a distraidamente o copo na mesa gordurosas. -Sim, eu também. Poderia ser uma verdadeira chata, mas não tanto quanto os outros. Concluída a canção que tocava na máquina de discos. Ninguém optou por outra, que foi um alívio para a Irish. Música parecia uma ingerência nos seu luto. -Foi como minha filha, você sabe? -falando de forma retórica. Van continuava fumando, um cigarro atrás do outro-. Lembro o dia em que nasceu. Estava lá no hospital, sofrendo com seu pai. À espera. Andando de cima para baixo. Agora tenho que lembrar o dia em que ela morreu. -Tomou outra boa dose whisky e retornou a encher o copo-. Você sabia? Nunca me ocorreu que talvez fosse seu avião. Só pensava na história, em uma maldita notícia. Foi uma história tão pequena que nem mandei um fotógrafo. Eu utilizaria a fotografia dada por uma emissora de Dallas. -Ei, tio, você não culpe por fazer o seu trabalho. Você não podia saber. Irish parou olhando fixamente o conteúdo âmbar seu copo. -Você já teve que identificar um cadáver alguma vez, Van? -Não esperou a resposta-. Eles colocam todos na linha como... - emitido um pequeno suspiro-. Demônios, não sei. Eu tive que ir à guerra, mas deve ser assim. Estava dentro de um saco de plástico com zíper. Não tinha cabelo - parou com voz trêmula-, tinha queimado tudo. E sua pele... OH você Deus! -Cobriu olhos com os dedos. Lágrimas inundavam sua face-. Se não fosse por mim, não teria sido reconhecida. -Ei, tio. Aquelas duas palavras eram o repertório de frases de ajuda de Van. Retornou preencher o copo para Irish, acendeu outro cigarro e silenciosamente deu ao seu parceiro. Para ele acendeu um cigarro de maconha.
Irish inalou a fumaça de seu cigarro. -Graças a Deus, sua mãe não viveu para vê-la assim. Se não fosse o pingente na mão, eu não saberia que era o corpo de Avery. -Seu estômago revirou completamente ao se lembrar da destruição do acidente-. Nunca pensei que iria dizer uma coisa dessas, mas estou satisfeito que Rosemary Daniels não está viva. Uma mãe nunca deve ver seu filho nestas condições. -Acariciou seu copo alguns minutos antes de olhar para o seu parceiro com olhos chorosos-. Eu a amava, Rosemary, quero dizer. A mãe de Avery.Droga, não podia evitar! Cliff, seu pai estava quase sempre fora, em algum buraco remoto do mundo. Sempre que você viajava pedia para que cuidasse delas. Foi meu melhor amigo, mas mais de uma vez que queria matá-lo por causa do que ele fazia. –Tomou outro gole de whisky-. Rosemary sabia, estou certo, mas nós nunca falamos nem uma palavra sobre o assunto. Ela adorava Cliff. Eu sabia. Irish tinham sido como um pai adotivo de Avery, desde que ela completou dezessete anos. Cliff Daniels, era um repórter gráfico conhecido, morreu em uma batalha que aconteceu em um insignificante e impronunciável país da América Central. Sem dar qualquer aviso, Rosemary se suicidou algumas semanas após a morte de seu marido, deixando Avery desconsolada e sem ninguém mais além de Irish, um bom amigo da família. -Estou tão pai de Avery como o próprio Cliff. Talvez a mais. Quando a morte de seus pais, ela veio buscar a mim. Foi a mim que apelou no ano passado quando se meteu naquela confusão em Washington. -Poderia ter colocado o pé na jaca depois daquilo, mas permaneceu uma boa jornalista - comentou Van, envolvido em fumaça de seu cigarro. -Morreu tragicamente com esse erro na consciência. -Bebi um gole-. Veja, Avery tinha a obsessão não fracassar. Era o que mais temia nesta vida. Cliff não parava muito em casa quando ela era pequena, de modo que ainda tentava ganhar a sua aprovação, viver com uma herança do pai muito importante. Nunca falávamos dele. Mas eu sabia - adicionada com tristeza-. Portanto, esse erro de Washington foi tão devastador. Queria superá-lo, para retornar para reconquistar a credibilidade e a auto-estima. Mas o tempo se acabou antes de ter a oportunidade. Maldita seja, morreu pensando que tinha fracassado! A pena e a tristeza daquele homem, tocaram na pouco conhecida fibra sensível na Van. Depositou toda a sua sabedoria para consolá-lo. – I de..., o outro, você sabe, o que sentía por sua mãe... Bem, Avery sabia. Os olhos enrijecidos de chorosos de Irish se fixaram no de Van. -Como você sabe? -Ela Disse uma vez. Perguntei-lhe a quanto tempo vocês dois se conheciam. Ela respondeu que desde de que se lembra. Achava que secretamente você amava a sua mãe. -E ela se importava? -perguntou ansiosamente Irish-. Quero dizer, ela não gostava. Van negou com a cabeça. Irish tirou o botão de rosa do bolso de seu terno escuro e brincou com as frágeis pétalas com seus dedos de gordos. -Me alegro. Eu gostava muito das duas. -Seus ombros pesados começaram a abalar. Fechando dedos formando um punho em torno de rosa-. Meu Deus -
gemeu-, vou sentir tanto a sua falta! Apoiou a cabeça na mesa e soluçou abertamente, enquanto van sentado do outro lado da tabela, tentava a sua maneira superar sua própria pena.
Capítulo quatro Quando Avery despertou, sabia quem era. Em nenhum Mamãeento havia duvidado por completo. Simplesmente, a medicação, juntamente com a concussão cerebral, a havia deixado confusa. No dia anterior - pelo menos pensava que devia ser assim, e que todos aqueles que entravam dentro de seu campo de visão saudando com um "bom dia" – estava desorientada, era totalmente compreensível. Após acordar de vários dias em coma e ver que não é pode se mover, falar ou ver para além de um certo limite, confundiria qualquer pessoa. Quase nunca ficava doente, pelo menos a sério, portanto, era uma situação terrível. A UTI, com suas luzes constantes e a atividade, eram suficiente para interferir no processo mental. Mas que realmente assustava a Avery foi que todos chamavam pelo nome incorreto. Como é que poderiam tê-la confundido com uma mulher chamada Carole Rutledge? Mesmo senhor Rutledge parecia estar convencido a falar com sua esposa. Alguma maneira teria que comunicar o erro. Mas não sabia como fazê-lo e estava apavorada. Ela se chamava Avery Daniels. Estava claramente escrito em sua carta de habilitação, crachá de imprensa e todos os outros documentos de sua carteira. Certamente foram todos destruídos pelo fogo, pensou. Memórias do acidente ainda tendiam a produzir pânico, para isso, com determinação, os deixou para trás com intenção de resolvê-los mais tarde, quando tivesse recuperado forças e resolveria o engano. Onde está Irish? Por que não veio resgatá-la? A resposta óbvia apareceu subitamente. E todo o seu corpo reagiu como se tinha recebido uma corrente elétrica. Seria impensável, insustentável, mas bastante evidente. Se fora confundida com uma senhora Rutledge e presume-se que a senhora Rutledge estava viva, então todos pensavam que Avery Daniels havia morrido. Ela imaginou a angústia do Irish. Sua “morte” havia causado a ele um duro golpe. Neste Mamãeento, se entristeceu, não poderia fazer nada para aliviar o seu sofrimento. Não! Enquanto estivesse viva, havia esperança. Tinha que pensar. Tinha que se concentrar. -Bom dia. Reconhecendo imediatamente a voz. Provavelmente devia ter diminuído um pouco inchaço do olho porque o viu mais claramente. Sua fisionomia, até então embaçadas, estavam nítidas. As sobrancelhas grandes e bem aparadas quase se uniam ao nariz longo e reto. A mandíbula e barba eram forte e tenaz, sem ser agressivo, apesar do comprimento da segunda. Os lábios, firmes, amplos e delgados; o mais inferior um pouco mais
completo do que o superior. Ele fingiu que sorria, mas não com os olhos. Na realidade, não sorria sinceramente. Não era com a alma. Avery questionou o porquê. -Fui informado de que você passou bem a noite. Não há nenhum sinal de infecção pulmonar. Esta é uma notícia maravilhosa. Ela conhecia este rosto, esta voz. Não do dia de ontem, mas de antes. Não se lembrava da onde conhecia este homem. -Mamãe saiu do quarto de Mandy a tempo de cumprimentar você. – Fez um sinal com a cabeça e para alguém que chegava-. Você tem que ficar aqui, Mamãe, se não, ela não poderá te ver. Um rosto de meia idade e excepcionalmente belo apareceu na frente de Avery. O suave cabelo da mulher tinha uma bela mecha prateada que se afastava da frente lisa em uma onda. -Olá, Carole. Estamos todos muito aliviados de que as coisas vão tão bem. Tate me disse que os médicos estão muito satisfeitos com seu progresso. Ele Tate Rutledge! É claro! -Informe-lhe sobre Mandy, MAMÃE. Obedientemente, uma desconhecida falou sobre outra desconhecida: -Ela comeu a maior parte do café da manhã. Ontem à noite sedaram para que ela dormisse um pouco melhor. O gesso do braço a incomoda, mas é natural, suponho. Ela é a mais mimada da ala pediátrica e tem encantado a todas as enfermeiras. – Seus olhos encheram de lágrimas e as secou com um pano de papel - Quando penso que... Tate Rutledge colocou o braço nos ombros de sua mãe. -Mas não aconteceu. Graças a Deus que não aconteceu. Avery percebeu, subitamente, que deveria ser Mandy Rutledge a garotinha de tirou do avião. Lembrou-se de ter ouvidos os gritos da menina e tentou freneticamente tirar o cinto de segurança. Uma vez tirado o cinto, pegou a garotinha aterrorizada, com a ajuda de outro passageiro e passou a densa fumaça, uma fumaça terrível, até a saída de emergência. Porque salvara menina achavam de ela era a senhora Carole Rutledge. Mas isso não era tudo: elas tinham trocado o assento também. Lentamente, voltou a reconstruir, revisando os acontecimentos reais, tudo o que aconteceu. Recordou que, no seu cartão de embarque tinha atribuído a um assento da janela, mas outra mulher estava sentada lá. Não disse nada e limitouse a sentar-se no corredor. A menina estava sentada entre as duas. A mulher tinha cabelos escuros até os ombros, bastantes semelhantes ao de Avery. Seus olhos também eram escuros. Se pareciam bastante. Na verdade, a aeromoça que atendia a garotinha, perguntou quem era a mãe e quem era a tia, implicando que Avery e Carole Rutledge fossem irmãs. O rosto que havia ficado totalmente irreconhecível, como o da senhora Rutledge, por causa das chamas. Haviam-se equivocado na identificação, baseando-se na criança e na numeração dos lugares. Santo Deus, tinha que dizer! -Melhor voltar antes que Mandy fique nervosa, MAMÃE - dizia Tate-. Diga-lhe que irei em seguida. -Até então Carole – despediu-se a mulher - Estou certa de que, quando o Dr. Sawyer tiver terminado com você, estará tão bela como sempre.
' Os olhos também não sorriem ', pensou Avery, enquanto a mulher saía. -Antes que me esqueça - citado Tate, aproximando-se mais da cama para que ela pudesse vê-lo-. Eddy, pai e Jack enviam lembranças para você. Penso que o pai vai participar da reunião que teremos com o cirurgião hoje à noite, então poderá vê-lo. Jack retornou para casa esta manhã - continuou, sem saber que não falava com sua esposa-. Estou certo de que ele está preocupado com Dorothy RAE. Deus sabe o que está fazendo Fancy sem que ninguém esteja vigiando-a, embora tenha Eddy, lhe dado trabalho voluntário na central. Nenhum deles pode visitar você até você seja transferida para um quarto privado, mas penso que não queira vê-los, Hein? Presumiu-se que ela sabia de quem e o que se referia. Como poderia dizer-lhe que não tinha a menor idéia? Essas pessoas eram desconhecidas. Suas idas e vindas não eram de competência. Tinha que entrar em contato com o Irish. Tinha que dizer a este homem que era viúvo. -Escuta, Carole, no que se refere à campanha... - pelos movimentos de seus ombros, Avery pensou que certamente homem tinha as mãos nos bolsos. Tate inclinou a cabeça de um momento, descansando sua barba sobre o peito antes de voltar a olhá-la-. Vou frente conforme planejado. Pai, Jack, e Eddy são acordados. Eles se comprometeram me dar todo o seu apoio. Antes ia ser uma luta difícil, mas nada que me assustaria. Agora, com isso, será ainda mais difícil. No entanto, estou empenhado. Tate Rutledge havia saído nos noticiários nos últimos tempos. Por isso o nome e rosto que lhe eram familiares, apesar de não o conhecer pessoalmente. Espera-se ganhar as primárias em Maio e em seguida, enfrenta um senador em exercício nas eleições de Novembro. - Não menti sobre minhas responsabilidades para com você e Mandy enquanto estiverem se recuperando, mas chegar ao Congresso é algo que venho me preparando á vida toda. Não queremos esperar outro seis anos para me candidatar, ou perderei todos os aliados que já conquistei. Preciso fazê-lo agora. Após consultar o seu relógio, disse-: é melhor ir ver a Mandy. Prometi dar-lhe um sorvete. Como tem os braços engessados e tudo, compreende bem... - olhando as ataduras Avery nos braços sobre a cama - Você entende. O psicólogo teve a primeira reunião com ela esta manhã. Não há nada com que se preocupar adicionou rapidamente - É mais uma precaução do que qualquer outra coisa. Não quero que fique traumatizada para sempre. – Fez uma pausa, olhando para ela significativamente-. Por conseguinte, não creio que vê-la agora. Sei que parece cruel o que digo, mas estas ataduras lhe dariam um grande choque, Carole. Uma vez que o cirurgião reconstruir o seu rosto e volte a parecer você mesmo, trarei ela para fazer-lhe algumas visitas curtas. Além disso, tenho a certeza de que não tem ânimo para vê-la, neste Momento. Avery tentou falar, mas na boca tinha o tubo do respirador. Tinha ouvido uma enfermeira dizer a inalação de fumaça tinha deixado ás cordas vocais temporariamente inoperante. De qualquer forma, não poderia mover também o maxilar. Piscou vigorosamente a transmitir a sua angústia. Errando a interpretação do piscar de olhos, ele colocou uma mão tranqüilizadora sobre o ombro. -Te prometo que estará desfigurada apenas temporariamente, Carole. O Dr.
Sawyer diz que para nós parece muito pior do que é realmente. Ele virá visitá-la mais tarde e explicará todos os detalhes. Sabe qual aspecto você tinha antes e garante que ficará como quando antes. Tentou negar com a cabeça. Lágrimas de pânico e medo inundaram o olho. Entrou uma enfermeira e Tate parou de falar. -Creio que será melhor deixá-la descansar agora, Senhor Rutledge. Tenho de trocar as ataduras. -Estarei com minha filha. – O chamaremos se ela precisar de ti - falou à enfermeira com bondade – AH, antes que me esqueça, o senhor foi chamado lá embaixo para pegar as jóias da Sra. Rutledge que está no cofre hospital. Foram removidas quando chegou na emergência. – Obrigado. Vou buscá-las mais tarde. "Agora!" ' É agora! '. Gritou a mente de Avery. Não seriam as jóias de Carole Rutledge que estavam no cofre do hospital, mas sim as suas. Quando as vissem dariam conta do terrível engano que haviam cometido. Seria um duro golpe para ele, mas era melhor descobrir o erro agora do que mais tarde. Ele lamentaria a trágica perda dos Rutledge, mas Irish pularia de alegria. Seu querido Irish. Terminaria com sua dor. E o que aconteceria se o senhor Rutledge não recuperar jóias antes que o cirurgião começou a transformar cara em Carole Rutledge? Esse foi seu último pensamento consciente antes de cair novamente as garras de medicação. « Tate não viverá para ocupar cargo. » Estava novamente revivendo o pesadelo. Tentou desesperadamente afastar sua mente. Não pôde vê-lo, mas pressentia a sua presença sinistra rondando em torno de lá, apenas fora do seu campo de visão. Sua respiração despertava por cima do olho descoberto. Era como ser provocado no escuro com um véu transparente: sem ver, mas sentindo, de um modo fantasmagórico. “Não existirá nunca um senador Tate Rutledge. Tate não viverá. Senador Tate Rutledge morrerá antes. Nunca fale... Ele não viverá..." Despertou gritando. Foi um grito silencioso, naturalmente, mas reverberou sobre seu crânio. Abriu o olho e reconheceu as luzes, o cheiro do anti-séptico associado aos hospitais, o som do respirador. Havia dormido, portanto, desta vez foi um pesadelo. Mas, ontem à noite realmente aconteceu. Na noite do dia anterior ainda nem sequer sabia o primeiro nome do Rutledge! Não podia ter se sonhado se não sabia, mas se lembrava claramente de ter ouvido aquela voz ameaçadora e cheia de ódio sussurrando em seu ouvido. Estava a sua mente a brincando com ela, ou Tate Rutledge corria um perigo real? Certa que seu pânico era prematuro. E no afinal das contas, estava fortemente sedada e desorientada. Talvez a ordem dos fatos não fosse correta. Seria errada? Quem gostaria de vê-lo morto? Deus, que perguntas difíceis! Teria que descobrir as respostas. Mas seus poderes de dedução racional pareciam tê-la abandonado, juntamente com outras faculdades. Você não podia pensar com lógica. A ameaça à vida da Tate Rutledge tinha uma enorme e extensa ramificação, mas sentia completamente impotente. Estava muito desorientada para formular uma
explicação ou uma solução. Sua mente trabalhava prazerosamente. Não queria, não podia funcionou bem, apesar do perigo a vida que corria um homem. Avery quase se ofendeu por esta invasão em seus próprios problemas. Não tinha ela suficiente dor de cabeça sem precisar se preocupar com a segurança de um candidato ao Senado? Ele foi incapacitada para não fazer nenhum movimento, embora por dentro, sentia uma terrível frustração. Foi fatigante. Por último não poderia concorrer com vazio mantido as bordas da sua consciência. Tentou superá-lo, mas acabou se rendendo e foi invadida novamente por uma grande calma.
Capítulo cinco -Sua reação não me surpreende em nada. É de se esperar em vítimas de acidentes. -O dr. Sawyer, o apressado cirurgião, sorriu placidamente-. Imagine como você sentiria se o seu belo rosto tivesse sido totalmente pulverizado. -Obrigado pelo elogio - disse Tate com dureza. Naquele momento ele queria quebrar a cara de satisfação daquele cirurgião. Apesar de sua reputação impecável, o homem parecia ter gelo nas veias. Tinha feito um ótimo trabalho em algumas das faces mais famosas do Estado, incluindo jovens faziam sua apresentação na sociedade e tinham tanto dinheiro como vaidade, executivos que queriam manter-se a frente do processo de envelhecimento, modelos e estrelas de TV. Embora suas credenciais fossem impressionantes, Tate não gostou da forma que descartava preocupações de Carole. -Tentei colocar-me no lugar de ela – explicou-. Nestas circunstâncias, penso que ela está agüentando muito bem, melhor do que eu tinha imaginado. -Você está se contradizendo, Tate - comentou Nelson. Ele estava sentado ao lado ZEE no sofá da sala de espera da UTI. – Você acabou informar o dr. Sawyer que Carole parecia preocupar-se terrivelmente quando você falou de cirurgia. -Sei parece contraditório. O que quero dizer é que aparentemente assimilou muito bem a notícia de Mandy e o acidente. Mas quando comecei a falar da cirurgia, ela começou a chorar. Que meu Deus! – falou, alisando os cabelos-. Você pode não imaginar a pena que dá ver alguém chorar por um único olho. É como estar em uma dimensão desconhecida. -A esposa era uma mulher muito bonita, Senhor Rutledge - disse o médico-. As feridas de cara dão pânico. Naturalmente, tem medo de permanecem como um monstro para o resto de seus dias. Parte do meu trabalho é garantir-lhe que seu rosto pode ser reconstruído, mesmo melhorado. -Sawyer fez uma pausa e olhou primeiro um, e então ao outro-. Vejo dúvidas por sua parte. Isto eu não posso tolerar. Preciso de sua cooperação e a sua plena confiança em minha qualidade como médico. -Se eu não confiasse em você, não contrataria os seus serviços - alfinetou Tate cruamente-. Não creio que lhe falte capacidade, apenas compaixão. -A compaixão guardo para meus pacientes. Não gosto de perder nem tempo nem energia sendo simpático com os familiares, o senhor Rutledge. Tudo isso deixo
para os políticos. Como você. Tate e cirurgião se olharam fixamente. Finalmente, Tate sorriu e então emitiu um som de Sarcasmo. - Eu também não gosto de ser simpático, dr. Sawyer. Você me é necessário. Por esta razão está aqui. Também gostaria de dizer que o senhor é o filho da puta mais arrogante que já conheci, mas apesar disso, é o melhor. Por isso cooperarei com você para que consiga com que Carole volte ao normal. -De acordo, então – falou o cirurgião, ignorando o insulto-. Passemos para ver a paciente. Quando entraram na UTI, Tate se adiantou, chegando primeiro na cama da doente. -Carole? Está acordada? Respondeu imediatamente abrindo o olho. Pelo ele podia adivinhar, estava lúcida. -Olá. mãe e pai estão aqui. Tate se afastou e se aproximaram da cama. -Olá novamente, Carole - disse o ZEE-. Mandy me disse que te ama. Tate tinha havia decidido não mencionar o que aconteceu na primeira sessão da menina com o psicólogo. Não estava nada bem; mas, felizmente, o ZEE era sensata para não dizer nada. Se afastou um pouco e deixou que Nelson ocupasse seu lugar. -Olá, Carole. Você nos deu um bom susto. Você não sabe quanto nos deixa felizes com sua recuperação. Ele deu a sua posição a Tate. -O cirurgião está aqui, Carole. Tate deixou dr. Sawyer se colocar ao lado da cama e ele sorriu para a paciente. -Já nos conhecemos, Carole. Só que você não se lembra. Á pedido de sua família vim fazer um reconhecimento no segundo dia de sua internação. O cirurgião de plantão já tinha feito todo o tratamento preliminar em situações de emergência. Agora estou encarregado do caso. Ela ficou alarmada. Tate foi satisfeito ao verificar que Sawyer também tinha percebido medo. Colocou a mão sobre os ombros de sua mulher. -A estrutura óssea de seu rosto foi seriamente danificada. Sei que seu marido já disse que ficará completamente restaurado, mas quero que você ouça eu dizer. Farei de você uma Carole Rutledge mais bonita do que antes. Por debaixo das ataduras, seu corpo inteiro ficou tenso. Tentou negar vigorosamente com a cabeça e começou a fazer alguns sons de guturais desesperados. -O que ela está tentando nos dizer? -Tate perguntou ao médico. -Eu não sei - respondeu com calma-. Ela está com medo. É comum. –Se inclinou sobre ela-. A maior parte da dor vem das queimaduras, mas são superficiais. O especialista do hospital a está tratando com antibióticos. Eu atrasarei a operação até que o risco de infecção, da pele e pulmões, estiver reduzido ao mínimo. Passará entre uma e duas semanas para que possa mover suas mãos. Em seguida, pode começar a recuperação. Danos não são permanente, lhes asseguro. -Aproximou ainda mais-. Agora, vamos falar sobre a face. Raios x foram feitas enquanto estava ainda inconsciente. Estudei-los. Sei o que fazer. Trabalharei com uma equipe de cirurgiões excelentes me ajudaram durante a
operação. Ele tocou a sua face com a ponta da sua caneta, como se chamou de ligaduras. -O Reconstruiremos o nariz e bochechas usando enxertos de osso. Colocaremos o maxilar lugar com pinos e parafusos. Tenho toda uma caixa de surpresas. Ficará uma cicatriz invisível na parte superior da cabeça, assim e assim. Faremos também incisões abaixo cada olho na altura das sobrancelhas. Elas também serão invisíveis. Parte da reconstrução do nariz será feita por dentro, de modo que não haverá nenhuma cicatriz. Depois da operação, ela ficará toda inchada e cheia de hematomas e, em geral, parecerá terrível. Terá que estar preparada. Será necessárias várias semanas antes de você volte a sua grande beleza. - E o que acontecerá com seu cabelo, dr. Sawyer? -perguntou ZEE. -Terei que raspar uma parte, porque vou precisar de pele da cabeça para o nariz. Mas se você se refere ao cabelo que queimou, o especialista me disse que crescerá novamente e, esse é o problema menos importante – contestou sorrindo o rosto vendado-. Receio que por um período de tempo não poderá comer alimentos sólidos. Um especialista em prótese dentária extraíra as raízes dos dentes durante a operação e deve colocará implantes. Depois de três semanas terá novos dentes, exatamente iguais aos que perdeu. Enquanto não tiver dentes, se alimentará por um tubo que irá a boca para o estômago e depois começará com uma dieta suave. Tate observou, enquanto o cirurgião falava com ele, aquele olho de Carole ia de lado para outro como se procurasse um amigo entre eles, ou talvez uma maneira de escapar. Dizia a si próprio que Sawyer sabia o que estava fazendo. Podia até ser que o cirurgião estava acostumado a esse tipo de ansiedade entre seus pacientes, mas à Tate foi terrivelmente preocupante. Sawyer tirou uma fotografia de 20x25 que trazia consigo no bolso. – Quero que veja isso, Senhora Rutledge. -Era uma foto de Carole. Tinha aquele sorriso sedutor que havia feito Tate se apaixonar. Os olhos pareciam brilhar e manhosos. Uma brilhante magia preta incorporava a face-. Será uma operação difícil, mas conseguiremos alcançar o sucesso. Depois oito a dez semanas, contadas a partir da data da intervenção, e este será o aspecto que terá, só que um pouco mais bonita, mais jovem e com cabelo curto. Quem poderia pedir mais? Aparentemente, Carole poderia. Tate viu que, em vez de tranqüilizá-la, a visita do cirurgião tinha a deixado mais nervosa. Avery tentou mover suas extremidades, mas não obteve algum movimento mãos de dedos e pés, mas seus membros ainda eram muito pesados. A cabeça, podia não se mover em absoluto. Entretanto, cada minuto que passava via uma catástrofe que cada vez mais que não parecia ser possível de evitar. Durante dias - era difícil calcular exatamente quantos, mas ou menos uns dez – havia tentado descobrir algum método de informar o mundo da verdade que só ela sabia; até esse momento, não tinha encontrado nenhuma solução. A medida que passavam os dias e que seu corpo foi melhorando, aumentava a sua angústia. Toda mundo pensava que eu era devido ao atraso na operação. Finalmente, Tate anunciou uma noite que a intervenção seria no dia seguinte. -Médicos todos os que irão participar da operação se reuniram esta tarde. Existe um consenso que você excedeu a zona de perigo. Sawyer já deu ordens para prosseguir. Eu cheguei tão depressa como disseram-me.
Tinha um dia só para informar sobre o erro terrível, que estavam cometendo. Era estranho, apesar de considerá-lo parcialmente responsável pela trágica sucessão de eventos, não achava que ele fosse culpado de nada. Na verdade, tinha chegado à esperar suas visitas. Ela sentia-se mais segura quando ele estava ao seu lado. -Acho que posso dizer-lhe agora que no início não gostava de Sawyer - confessou ele sentado na borda da cama-. Demônios! Continuo sem gostar, mas confio nele! Você sabe que não o encarregaria da operação se ele não fosse o melhor. Ela acreditava que, tão piscou. -Tem medo? Piscou novamente. -Não posso dizer que eu estranho. –E ofuscado o semblante-. As próximas semanas serão difíceis, Carole, mas você as superarás. -Seu sorriso endureceu ligeiramente-. Você sempre consegue. -Sr. Rutledge? Quando ele virou a cabeça em direção a voz feminina que de falava com ele, no umbral da porta, Avery observou o perfil de Tate. Carole Rutledge tinha sido uma mulher de sorte. -Solicitou-me que o lembrasse das jóias da senhora Rutledge - disse a enfermeira. Permanece no cofre. O interesse de Avery se avivou. Imaginou o homem entrando em seu quarto e jogando todas as jóias na cama. "Estas não são as coisas de Carole'. ' Quem é você? ', diria. Mas esse cenário ainda não tinha acontecido. Talvez ainda houvesse alguma esperança. -Me esqueço sempre passar no escritório para coletá-los - respondeu para enfermeira, contrariado-. Poderia ir alguém ao buscá-las para mim? -Chamarei e perguntarei -Ficaria muito grato. O coração de Avery começou a bater com força. Recitou uma pequena oração de gratidão. O último momento, estaria a salvo do desastre. Teria que submeter-se a uma intervenção cirúrgica, mas teria a aparência Avery Daniels e não outra pessoa. - Suas jóias não te servirão de nada na sala de operações - dizia Tate-, mas sei que você sentirá muito melhor quando suas coisas estiverem nas minhas mãos. Em sua mente, Avery sorria orelha a orelha. Tudo ia sair bem. O erro seria descoberto a tempo, e ela poderia abandonar essa montanha-russa emocional. -O senhor Rutledge, temo que seja contra as regras do hospital, alguém que não seja o paciente ou um parente próximo, tirarem os pertences do cofre. Eu não posso mandar ninguém buscá-las. Desculpe. -Não importa. Vou tentar buscá-las em algum momento amanhã. Avery perdeu toda a esperança. Seria demasiado tarde. Perguntou a Deus, por que ele estava fazendo isso a ela. Não tinha sido punida o suficientemente para seu erro? Acabaria sendo a sua vida um esforço inútil e interminável para compensar o erro? Já tinha perdido a credibilidade como jornalista, a estima dos seus colegas, o seu estatuto profissional. Tinha que também perder a identidade? -Outra coisa, Senhor Rutledge - acrescentou a enfermeira, dubitativamente-. Existem dois jornalistas no corredor que querem falar com você.
-Que jornalistas? -De uma das estações de televisão. -O que fazem aqui? O que agora? Foi Eddy Pascoal que os mandou? -Não. Essa foi a minha primeira coisa pergunta. Procuram uma boa notícia. Parecem terem ouvido que a intervenção da sra. Rutledge será amanhã. Querem lhe perguntar como o acidente tem afetado sua família e sua carreira política. O que lhes digo? -Dizer-lhes que vão para o inferno. -Não senhor Rutledge, não posso. -Não. Não é pode. Se fizesse Eddy me mataria - murmurou para si próprio-. Digalhes que não farei qualquer declaração até minha esposa e minha filha não melhorarem drasticamente. E se você não saírem, chame a segurança. E digalhes minha parte, que se eles se atreverem a ir a ala pediátrica para falar com minha mãe ou minha filha, diga-lhes que meterei um processo que ele perderão até as calças que vestem. - Sinto por ter molestado com... -Não é sua culpa. Se você tiver quaisquer problemas, vêm e encontrar-me. Quando voltou a virar a cabeça, Avery, via através das lágrimas, que seu rosto estava marcado pelo cansaço e preocupação. -Abutres. Ontem o Jornal reproduziu fora do contexto afirmações, sobre o negócio de gambas na Costa. Esta manhã o telefone não parava de tocar, Eddy já pediu um direito de resposta e pediu que eles se retratassem. Sacudiu sua cabeça indignado pela injustiça. Avery sentiu pena. Tinha passado muito tempo em Washington para saber que os únicos políticos que não sofriam eram aqueles sem escrúpulos. Homens íntegros, como parecia ser Tate, era muito pior. Não a surpreendia, esse aspecto cansado. Não só tinha de lidar com as eleições, mas ele também em resolver os problemas uma filha de traumatizada e uma mulher com seu drama. Só que ela não era a esposa, mas uma desconhecida. Não foi possível dizer que estava a falar para alguém estranho à sua família. Ela não podia protegê-lo d o assédio da mídia ou ajudá-lo com os problemas de Mandy. Não podia sequer avisá-lo que talvez alguém quisesse matá-lo. Ele ficou com ela toda ás noites. Sempre que acordava, ele imediatamente se materializava ao lado da cama. As rugas de seu rosto parecia cada vez mais pronunciada, á medida que a fadiga foi aumentando. Olhos são endurecerão pela falta de sono. Numa ocasião, Avery ouviu uma enfermeira dizer para ele ir descansar, mas ele recusou. -Não me deixe agora. Ele estou com medo. Dentro, ela gritou: « Não, por favor não vá. » Não me abandones. « Eu preciso de alguém: » Na madrugada, outra enfermeira levou uma chávena de café fresco. Era um aroma delicioso; Avery morreu de desejo de tomar um gole. Técnicos entraram para ajustar o respirador. Pouco a pouco era diminuído, á medida que pulmões recuperavam suas funções. O trabalho da máquina foi reduzido drasticamente, embora ela precisava dela por mais alguns dias.
A prepararam para a operação. Enfermeiras mediram sua pressão. Tentou se comunicar com o olhar com alguém alertar-lhes o erro, mas todos ficaram indiferentes com a paciente mumificada. Tate saiu para dar um passeio, e quando voltou, dr. Sawyer o acompanhava. O cirurgião falou feliz: -Como é Carole? Sr. Rutledge me disse que passou um pouco nervosa está noite, mas hoje é o grande dia. Estava estudando seu histórico clínico metodicamente. Maioria das palavras eram completamente banal. Como ser humano, a ela caíam tão mal quanto para Tate.Satisfeito com os sinais vitais, fechou o histórico e passou para uma enfermeira. -Fisicamente, tudo esta maravilhoso. Dentro de poucas horas você terá um novo rosto e estará a caminho de uma recuperação completa. Concentra todos os seus esforços nos sons de guturais que emitia, tentando dizerlhe do erro que estavam prestes a cometer. Erradamente interpretaram seu nervosismo. O cirurgião pensou que estavam discutindo com ele. -Não é possível. Prometo. Dentro de meia hora de começarmos. Novamente, protestaram, utilizando os meios apenas à sua disposição: o olho. Piscou com fúria. -Administrar-lhe um sedativo - ordenou para a enfermeira ao sair. Avery gritava por dentro. Tate se chegou e colocou suas mãos sobre os ombros. -Carole, tudo vai sair bem. A enfermeira injetou uma seringa de narcótico no soro conectado ao seu braço. Avery sentiu pequena picada da agulha na pele. Segundos depois, a sensação familiar começou a invadir, até dormiram os dedos dos pés. Foi o nirvana, que foram capazes de matar o yonquis, um sentimento delicioso ser insensível. Quase imediatamente sentiu leve e transparente. A fisionomia de Tate começou a perder nitidez. -Tudo saíra bem. Eu te juro, Carole. "Eu não sou Carole'. Um tremendo esforço a manter aberto o olho, mas foi fechado e já não o poderia reabrir. -Estarei esperando por você, Carole - disse suavemente. "Sou Avery". Sinto-me de Avery. "Eu não sou Carole'. Mas ele já saia da sala.
Capítulo seis -Que não compreendo por que você está tão irritado. Tate se virou e enfrentou acidamente seu diretor de campanha. Eddy Pascoal argumentou o olhar com equanimidade. A experiência o revelou que Tate estava mal humorado, mas os seus arrebatamentos eram de curta duração. Tal como Eddy esperava, fogo dos olhos de Tate foi se aplacando. Afastou as mãos da cintura, diminuindo a sua posição perdeu antagonismo. - Eddy, por amor de Deus, minha esposa acabou de sair de uma operação
delicada que durou horas! - Eu compreendo. - Mas você não consegue entender por que eu me esquivei quando aqueles jornalistas me cercaram para me fazer perguntas. –Virou a cabeça, incrédulo-. Quer que eu escreva: não estava com humor para dar uma conferência de imprensa. -Acordo, a hora já passou. -Se passado muito. -Mas conseguiste quarenta segundos no noticiário de seis e dez, nas três cadeias. Eu o gravei e voltei a vê-lo depois. Saiu irritado, mas isso é normal, considerando as circunstâncias. Em geral, penso que nos beneficiará. Você parece uma vítima da mídia insensível. Os eleitores compadeceram de vós. Definitivamente dez pontos. Tate sorriu com alguma tristeza, embora fosse deixado cair um sofá. -Você é tão terrível como Jack. Nunca deixa de fazer campanha eleitoral, sempre pensando como nos servirá uma coisa ou outra, ao nosso favor, ou ao contrário. – Colocou as mãos no rosto-. Meu Deus, estou tão cansado. -Toma uma cerveja. Estendeu-lha uma lata gelada que havia tirado do frigobar. Pegou uma também para ele, e sentou-se na borda da cama Tate e durante alguns instantes, beberam em silêncio. Finalmente, perguntou: - Qual é o prognóstico, Tate? Tate suspirou. -Sawyer relinchava como um burro, quando saiu da sala de operação. Ele estava perfeitamente satisfeito com os resultados, que foi seu melhor trabalho em equipe que haviam feito. - Estava fazendo propaganda, ou era verdade? -Espero que se seja verdade. -Quando você poderá ver por si mesmo? -Neste momento não há muito o que ver. Mas, dentro de duas semanas... Fez um gesto abstrato, afundou-se mais sobre o divã e estendeu suas pernas longas. Suas botas quase chegaram a altura do lustrados sapatos de Eddy. As calças jeans de Tate contrastavam com a calça social azul-marinho de Eddy. Até agora, Eddy não tinha mexido com roupas esportivas de seu candidato. Preparavam uma plataforma política onde as pessoas comuns – trabalhadores texanos de classe média - podiam aderir. Tate Rutledge iria ser o defensor dos oprimidos. Ele não se vestia assim por uma manobra política, mas porque era este tipo de roupa que ele usava desde o início do anos 70, quando Eddy o conheceu na Universidade do Texas. - Um dos sobreviventes do acidente morreu hoje - Tate informando com voz tranqüila-. Um homem de minha idade, com esposa e quatro filhos. Tinha muitas feridas internas, mas foi operado e pensavam que ia sobreviver. Morreu de infecção. -Meu Deus! – continuou ele, abanando a cabeça do lado para outro-, imagina ir tão longe para depois morrer de uma simples infecção? Eddy pôde perceber que seu amigo estava mergulhando num poço de melancolia. Isso foi mau para a Tate pessoalmente e para a campanha. Jack expressou
preocupação sobre a atitude mental da Tate, o mesmo que Nelson. Uma parte importante do trabalho de Eddy era levantar a moral de Tate quando decaía. -E Mandy, como está? -perguntou, tentando alegrar seu tom de voz-. Todos os voluntários que trabalham conosco a enchem de mimos. -Colocamos seu cartaz na parede do quarto e assinaram todos. Não esqueça de lhes agradecer. -Todos queriam fazer algo especial para celebrar sua saída do hospital. Te aviso que amanhã ela irá receber um urso de pelúcia maior do que você. Ela é a Princesa destas eleições, como você pode imaginar. Eddy foi recompensado com um sorriso fraco. -Os médicos disseram que os ossos ficaram perfeitos. Queimaduras não deixaram qualquer cicatriz. Ela pode jogar tênis, dançar, o que ela desejar. Tate se colocou de pé e foi pegar outra duas cervejas. Novamente relaxado sobre o divã, continuou: -Fisicamente, será recuperada. Emocionalmente, não sei. -Dê uma oportunidade a menina. Adultos têm sérias dificuldades para assimilar este tipo de trauma. Por isso as companhias aéreas têm psicólogos para aconselhar ás pessoas que sobrevivem a um acidente de avião, como as famílias dos que morrem. -Eu sei, mas Mandy era tímida, para começar. Agora parece ter ficado ainda mais tímida. Bem, posso conseguir que me dê um sorriso se tentar-me com suficiente vontade, mas considero apenas que é para satisfazer-me. Não está animada, não tem vitalidade. Fica aí quieta, olhando fixamente para o espaço. Mamãe disse que chora dormindo e acorda gritando por causa dos pesadelos. -O que diz o psicólogo? -A mesma porcaria – ficando Tate impaciente -. Ela disse que é preciso tempo e paciência, e que eu não deveria esperar tanto Mandy. – Acho mesma coisa. - Não estou zangado com Mandy por não se comportar conforme instruído – se virou irritado -. Foi o que insinuou o psicólogo e ele conseguiu me aborrecer de verdade. Mas minha filha permanece lá sentada, como se carregasse todo peso do mundo sobre seus ombros; e que não é um comportamento normal para uma menina de três anos de idade. - Tampouco sair quase ilesa de um acidente aéreo, - observou Eddy razoavelmente-. Suas feridas emocionais não irão curar durante a noite para o dia, como também não as feridas físicas. -Eu sei. É só que... Demônios, Eddy! Não sei se posso ser o que Carole, Mandy e eleitores necessitam tudo ao mesmo tempo. O maior medo de Eddy era que Tate voltasse na decisão de prosseguir na corrida eleitoral. Quando Jack disse que havia rumores sobre Tate retirar sua candidatura nos círculos de jornalísticos, teriam gostado acabar com as fofocas dos jornalistas e assassiná-los sem ajuda de ninguém. Felizmente, os rumores não atingiram os ouvidos de Tate. Eddy tinha que manter alto o espírito de luta do seu candidato. Se inclinou para a frente e disse: -Você se lembra daquele torneio de tênis da associação que participou, que o ganhou e fez aquele discurso? Tate olhou distraidamente. - Me lembro de algo.
- Me lembro de algo - brincou Eddy-. A razão pela qual você quase na se lembra é porque estava com uma tremenda ressaca. Você esqueceu completamente o torneio e você passou a noite bebendo cerveja e drinks. Tive que tirá-lo da cama a força, colocar você num chuveiro frio e levar você para a quadra antes de nove para que não fossemos eliminados. Tate ria ao se lembrar de seu desempenho. -Onde você quer chegar com essa história? Algum sentido? -O que eu quero demonstrar – referido Eddy, inclinando-se mais a diante, de modo que seu corpo ficou quase para fora da cama - é que conseguiste superar tudo, mesmo no pior caso, porque você sabia que tinha de fazê-lo. Você era a única hipótese que tínhamos de ganhar o torneio e você sabia. Você ganhou e alguns minutos antes de entrar na quadra você vomitou uma dúzia de cervejas. - Isto é algo completamente diferente de um torneio de tênis. - Mas você - Eddy persistente, apontando o dedo - você é exatamente o mesmo. Desde que te conheço, sempre estive á altura das circunstâncias. Naqueles dois anos que passamos juntos na Universidade do Texas; quando fizemos os vôos de treinamentos; no Vietnã, quando você me tirou daquela maldita quando não tinha desejado ser um herói? -Não quero ser um herói. Só quero apenas representar eficazmente o povo do Texas. - E você o fará. E golpeou os joelhos, como se tivesse chegado a uma decisão importante, colocou-se de pé e deixou a cerveja vazia sobre a cômoda. Tate também ficou de pé e casualmente se olhou no espelho. -Meu Deus! - passou mão pela barba cerrada que cobria sua mandíbula-. Quem votaria nisso? Porque não me disse que tinha uma aparência tão terrível? -Não tenho as palavras necessárias. – Deu-lhe alguns tapas nas costas -. Tudo o que você precisa é um pouco de descanso. È melhor se barbear de manhã. -Saía um pouco do hospital. Me disseram que Carole saíra da sala de recuperação por volta das seis e que será levará a um quarto particular. Quero estar lá. Eddy examinou os bicos brilhantes de seus sapatos antes de levantar os olhos e olhar para seu amigo. -A maneira em que você está se comportando com ela... Bem..., penso que é realmente impressionante. Tate assentiu vez com a cabeça, lacônico. – Obrigado. Eddy ia continuar a falar, mas pensou melhor e carinhosamente bateu no braço de seu amigo. Tate não queria conselhos matrimoniais de ninguém, muito menos de um homem solteiro. -Desejo que você vá para cama. Chame-me de amanhã. Estarei à espera que notícias de Carole. -Como estão as coisas em casa? -Na situação estacionária. -Jack disse-me que já colocou Fancy a trabalhar na sede do partido. Eddy começou a rir, sabendo que um comentário um pouco rude sobre sua sobrinha não ofenderia a Tate.
-Durante o dia, eu tenho a feito colocar papéis em envelopes. À noite, sabe-se lá Deus o que ela tem feito. Francine Angela Rutledge passou o portão a 120 km/h em um carro de um ano de serviço que tinha apresentado cinco anos de abuso. Como não gostava de cintos de segurança, voou do assento. Quando caiu esta rindo. Adorava a sensação de vento atravessando seu longo cabelo loiro, mesmo no Inverno. Conduzir a alta velocidade, ignorando os sinais tráfego, era apenas uma das paixões de Fancy. Outra era Eddy Pascoal. Seu desejo por ele era recente e, neste momento, não era correspondida. Confiava totalmente que diminuiria em breve. Entretanto, se entretinha com um garanhão no Holiday Inn Kerrville. O conheceu em um bar de caminhoneiros aberto dia e noite, duas semanas atrás. Havia passado ali depois que saiu do cinema, como era um dos poucos lugares do povo que, quando ia para a casa pela estrada, ficava aberto após dez da noite. No bar, Buck e Fancy estabeleceram olhares, por cima dos reservados de vinil da cor laranja. Ela com a ajuda de uma paja enorme, bebia uma Coca-Cola. Buck estava comendo um hambúrguer. A forma que sua boca, barbaramente, mordia o sanduíche gorduroso a excitou, tal como era a intenção do rapaz. De modo que, saiu de seu reservado, caminhando animadamente como se fosse dirigir-lhe a palavra, em seguida, passou de longa. Pagou a conta rapidamente, sem perder tempo falando com o caixa, como costumava fazer e foi diretamente para seu conversível estacionado fora. Sentada ao volante e sorriu satisfeita. Era apenas uma questão de tempo. Viu pela grande vidraça do café o jovem colocar o último pedaço de hambúrguer a boca e moedas suficientes na mesa para pagar a conta. Em seguida, a sair em rápida perseguição. Depois de trocar nomes e frases sobre questões atuais, Buck, sugeriu encontrarse no dia seguinte à noite, na mesma hora e lugar, para jantar. Fancy tinha uma idéia ainda melhor: descansarem no motel. Buck disse aquilo era maravilhoso, pois tinha acesso a todos os quartos vagos do Holiday Inn. O plano ilegal e arriscado atraiu bastante Fancy. Seus lábios prometera um sorriso estudado e tentador, ao mesmo tempo perverso e divertido. -Estarei lá as sete em ponto - prometeu ela, arrastando as palavras com sua voz mais rouca-. Eu levo o pão, e você leva as gomas. Enquanto que sua moral podia comparar a uma gato cio, foi muito inteligente e muito egoísta para arriscar ficar com uma doença mortal por uma mera transa. Buck não a decepcionou. O que faltava em finura, era compensado com resistência. Ele era tão potente e tinha tanta vontade em satisfazê-la que ela fingia não que as verrugas em seu cu. Além disso, tinha um bom corpo. Por isso tinham se visto seis vezes depois daquela manhã. Passavam á noite, que ele tinha livre, no sórdido apartamento que Buck estava tão orgulhoso; comendo uma horrível comida mexicana fria, bebendo vinho barato e fumando maconha cara - a contribuição de Fancy para a diversão da noite - e transando sobre o tapete, pois comparativamente, parecia para Fancy mais limpo do que os lençóis de cama. Buck era carinhoso, sincero, estava quente, disse que a queria; muitas vezes era bom. Ninguém era perfeito. Exceto Eddy.
Suspirou e jogou a camisa de algodão em cima de peito nu. Com grande desagrado de sua avó ZEE, Fancy não acredita nas restrições impostas pelo sutiã mais do que pensava na imposição do cintos de segurança. Eddy era bonito. Ele sempre estava perfeitamente elegante e vestido como um homem, não como um rapaz. Os tipos locais, predominantemente, fazendeiros de gado e camponeses, usavam roupas Texano. Deus! Vestuário de Texano era boa para ficar em casa. Também ela escolheu a roupa com o maior decote possível para ganhar esse ano como a Rainha do rodeio. Mas o que ela se referia e que estas roupas pertenciam exclusivamente à rodeio. Eddy usava roupas escuras com três peças de vestuário, camisas de seda e sapatos de couro italiano. Por seu aroma, parecia sempre que tinha saído do chuveiro. Imaginava que o chuveiro o deixava quente. Vivia pensando no dia em que podia tocar seu corpo nu, beijando, lamber todos os cantos. Estava completamente segura que tinha um gosto maravilhoso. Só de pensar ficava excitada, mas um em breve gesto de preocupação substituiu a expressão de prazer. Primeiro ia curá-lo desta obsessão com a diferença de idade que existiam entre eles. Depois deveria ajudá-lo a superar o fato que ela era a sobrinha do seu melhor amigo. Não que Eddy tivesse dito diretamente essa era uma das razões para resistir, mas para Fancy não podia ser outra coisa para evitar o descarado convite que mostrava em seus olhos sempre que o olhava. Todos os membros da família ficaram encantados quando se ofereceu como voluntária para trabalhar na sede. Avô a abraçou com tal vigor quase ficou sem respiração; a avó lhe dedicou aquele sorriso insosso e nobre que Fancy odiava e contou a sua voz tibia e fofa que era 'uma ótima notícia, querida'; seu pai lhe parabenizou e sua mãe permaneceu suficiente serena por um tempo para dizerlhe que se alegrava por ela fazer uma coisa muito útil para variar. Fancy tinha preferido que a resposta de Eddy fosse igualmente entusiasmada, mas sua face só denotou divertimento. Disse que "precisamos de toda assistência possível lá." ' Ah, você sabe escrever á máquina? '. Teve vontade de mandá-lo tomar no cú, mas não o fez porque seus avós sofreriam uma parada cardíaca e porque sabia que era exatamente o que Eddy sabia que eu estava com vontade de dizer e não queria dar esse gosto. De modo que levantou a vista com todo o respeito devido e respondeu em um tom de absoluta sinceridade: "Tudo tento fazê-lo melhor, Eddy." O mustang conversível levantou uma nuvem de poeira, quando ela chegou ao portão principal do Rancho e desligou o motor. Tinha esperança de chegar á ala que compartilhava com pais sem encontrar ninguém, mas estava sem sorte. Logo que fechou a porta, seu avô a chamou da sala. -Quem está aí? -Sou eu, avô. A interceptou no corredor. -Olá, pequena. Indo para beijar sua bochecha. Fancy sabia que era sua maneira de verificar se havia bebido álcool, para isso quando chegou em casa chupou três comprimidos hortelã, para neutralizar o cheiro do vinho barato e maconha. O homem se afastou satisfeito. -Onde você foi esta noite?
-No cinema - mentiu vergonhosamente-. Como é TIA Carole? foi a bem, operação? -O médico diz que foi fantástico. É difícil dizer de uma semana, mais ou menos. -Deus, é horrível o que aconteceu com seu rosto, verdade não? - O gesto de tristeza foi desenhado no cara bonita de Fancy. Quando queria, sabia utilizar seus cílios longos e olhos azuis, usados para alcançar um aspecto verdadeiramente angelical -. Espero que tudo saia bem. -Será bem. Sabia, pelo seu sorriso amoroso, que a preocupação tinha enternecido a sua alma. -Bem, estou cansado. O filme foi tão aborrecido que estava quase dormi. Boa noite, avô. Se dirigiu a ele para beijar suas a bochecha, mas mentalmente acovardou. O ia matar cílios se enterara onde seus lábios tinham sido feito apenas uma hora. Entrou pelo corredor central e virou no lado esquerdo por outro. Atravessou as portas duplas no final desde, e se encontrava na ala da casa ele compartilhada com sua mãe e pai. Tina a mão na maçaneta da porta do quarto e estava prestes a entrar quando Jack tirou sua cabeça através da porta do seu próprio quarto. -Fancy? -Olá, Pai – o saudou, sorrindo suavemente. -Olá. Não lhe perguntou onde estavas porque tinha vontade de saber. Por isso ela disse-lhe: -Estava na casa... De um amigo. -Sua pausa foi deliberada, estratégica e ficou recompensada pelo gesto de contrariedade que apareceu na boca e nos olhos de seu pai -. Onde está o Mamãe? Ele olhou por cima do ombro. -Dormindo. Inclusive de onde estava, Fancy podia ouvir os roncos de sua mãe. Simplesmente não estava simplesmente dormindo, mas estava bêbada. -Bem, boa noite – despediu-se Fancy, entrando em seu quarto. Seu pai para o dele. -Como vão coisas na sede do Partido? -Muito bem. -Gosta trabalho? -Okay. Assim tenho algo para fazer. -Você podia voltar para a Universidade. -Vá a merda com isso! Ele fez um rosto, mas não respondeu. Sabia que ele não faria isso. -Boa noite, Fancy. -Boa noite - respondeu em tom impertinente e com grande ruído, fechando a porta do seu quarto.
Capítulo sete -Talvez eu traga Mandy para vê-la amanhã. – olhava Tate determinado-. Já que o inchaço diminuiu poderá reconhecê-la. Avery retornou o olhar. Apesar de sorrir animado sempre que a olhava, intuiu que sua aparência ainda era terrível. Não poderia esconder-se por de trás das vendas, e como dizia Irish, sua aparência o levaria a ter ânsia de vômitos. De qualquer forma, durante a semana depois da operação, Tate nunca evitou olhá-la. Apreciado o componente caritativo da sua personalidade. Ela poderia guardar um lápis nas mãos, você escreveria você uma nota e parece. Fazia alguns dias que tinham retirado as bandagens das mãos. Ficou chocada ao ver a pele vermelha e em carne viva. Tinha as unhas cortadas, o que fazia sua mãos parecem diferentes, feias. Todos os dias, praticava exercícios de fisioterapia, apertando uma bola de borracha. Mas ainda não tinha conseguido manter e controlar um lápis. E quando pudesse fazê-lo, teria muitas coisas a dizer Tate Rutledge. Finalmente tinham retirado o tão odiado respirador. Para seu tormento não foi capaz de emitir um único som; um fato traumatizante para um jornalista que já se sentia insegura em sua carreira. No entanto, o médico declarou para que não se assustasse, pois iria recuperar voz gradualmente. Foi dito a ela que nas primeiras tentativas, certamente ninguém á compreenderia, mas que era normal, considerando que o dano causado pela fumaça tinha feito nas cordas vocais. Além de tudo estava praticamente careca, sem dentes e apenas comia alimentos líquidos com uma pasta. Em geral, sua aparência física permanecia monstruosa. -O que você acha da idéia? -perguntou Tate-. Você se sente animada para ver Mandy? Sorriu, mas Avery sabia que seu coração não estava ali. Dava pena ver aquele homem tentando mostrar bravamente alegre e otimista. As primeiras memórias subseqüentes da operação eram os de sua voz tranqüilizadora, dizendo palavras de encorajamento. Disse então e repetida, todos os dias, que a operação tinha sido um sucesso. Doutor Sawyer e todas as enfermeiras da ala continuaram felicitando sua recuperação rápida e a sua boa disposição. Nestas circunstâncias, de que outra forma poderia se comportar? Poderia chagar a aceitar a perna quebrada se com suas mãos pudesse usar muletas, o que era completamente impossível. Permanecia prisioneira nessa cama de hospital. Pro inferno a boa disposição! Como saberiam que não estivesse louca? Não foi o caso, mas só porque não serviria de nada. Tinham substituído a face da Avery Daniels por outra pessoa. Esta memória cíclica inundava seus olhos de lágrimas amargas. Tate as interpretou erradamente. -Prometo a você não que não deixarei Mandy fique por muito tempo, mas penso o que, se é apenas uma visita curta, ela ficará bem. Já está em casa, você sabe. Todos a mimam, incluindo Fancy. Mas continua a passar ás noites muito mau. Quem sabe, vendo você a tranqüilize. Acho que pensa que mentimos ao dizer que você vai voltar. Pode ser que na realidade ache que está morta. Ela não me disse; mas, além disso, não diz muita coisa.
Desanimado, abaixou a cabeça e olhou as mãos. Avery olhou fixamente seu pescoço. Seu cabelo havia crescido bastante e estava ligeiramente despenteado. Gastava, de olhar para ele. Mais do que o cirurgião brilhante ou os profissionais daquela área do hospital, Tate Rutledge tinha tornado o centro do seu pequeno universo. Cumprindo com o prometido, tinha recuperado a vista do olho esquerdo, uma vez reconstruída suporte para o seu globo ocular. Três dias após a operação, retiram os pontos das pálpebras. Faltava um dia para que removessem o emplastos e gesso do nariz. Tate mandava diariamente flores frescas para seu quarto, como para marcar cada pequeno passo para sua recuperação completa. Sempre sorria quando entrava e nunca deixava de ser demorar. Dava pena a Avery. Ela sabia que estas visitas foram um fardo para ele, mas tentaram escondê-lo. De qualquer forma, ela estava convencida de que morreria se ele deixasse de ir vê-la. Não havia nenhum espelho no quarto; nada, na verdade, refletindo uma imagem. Sabia que este era objetivo. Queria saber que aspecto tinha. Era esse aspecto terrível a razão para a aversão que Tate tentava encobrir? Como que qualquer pessoa com deficiência física, seus sentidos haviam ficados aguçados. Tinha desenvolvido uma sutil percepção, pois adivinhava pensamentos e sentimentos das pessoas. Tate se mostrava amigável e considerado que era sua “esposa”. A decência exigiu que assim fosse. Existiam entre eles, porém, uma distância considerável que Avery não a compreendia. -A trago ou não? Ele estava sentado na borda da cama, tendo o cuidado da perna quebrada, estava elevada. Devido ao frio, estava vestindo por cima da camisa esportiva uma jaqueta de camurça, mas certamente o sol brilhava, pois, quando entrou no quarto, usava óculos escuros. Ele o tinha tirado e guardado no bolso da camisa. Seus olhos eram de um verde escuro e tinha um olhar direto e honesto. Ele era um homem extremamente atraente pensou Avery, tentando ser o mais objetivo possível. Como poderia negar um pedido como este a ele que era tão amável com ela. Embora a pequena não fosse sua filha, ficaria feliz fingindo ser mãe Mandy por uma vez. Assentiu com sua cabeça, algo que conseguia fazer depois da operação. -Maravilhoso. -Seu sorriso acolhedor era sincero-. Falei com á chefe das enfermeiras e disse-me que podia começar a usar as suas próprias roupas, se desejar. Tomei a liberdade de trazer-lhe camisolas e roupões de banho. Talvez fosse melhor Mandy vê-la vestida com qualquer traje conhecido. Avery assentiu novamente. Um movimento na porta atraiu a atenção. Reconheceu o homem e a mulher. Eles eram os pais de Tate, Nelson e Zinma; ou ZEE, como todos a chamavam. -Venha, venha. -Nelson atravessou o quarto na frente da sua esposa e chegou ao pé da cama Avery. - Tem um aspecto maravilhoso, realmente maravilhoso, Hein, ZEE? O olhar da ZEE foi diretamente á Avery. Gentilmente respondeu: -Inclusive muito melhor que antes. -Talvez este médico esteja à altura de seus fabulosos honorários, afinal de contas
- comentou Nelson, sorridente-. Eu nunca confiei muito em cirurgia plástica. Sempre pensei que fosse um capricho que mulheres ricas que gastavam o dinheiro de seus maridos. Mas isto – adiantando-se, levantou a mão e colocou no rosto de Avery - isso vale completamente a pena. A Avery, todos esses elogios alegres a ressentiram porque sabia que sua aparência continuava a ser uma vítima de acidente de avião. Aparentemente a Tate sentiu seu ressentimento, pois mudou de assunto: -É acordado que Mandy vêm amanhã. ZEE virou a cabeça em direção a seu filho. Juntou mãos à altura de cintura e as apertou com força. -Você tem certeza que é uma boa idéia, Tate? Digo tanto por Mandy quanto por Carole? -Não, não sei. Eu estou agindo intuitivamente. -O que diz o psicólogo Mandy? -O que demônios importa o que ele disse? -falou Nelson, com raiva-. Como pode um psicólogo saber, melhor do seu próprio pai, o que é bom para uma criança? – Deu umas palmadinhas nas costas de Tate.- Creio que tens razão. Creio que Mandy ficará muito melhor se puder a sua mãe. -Espero estar certo. Avery pensou que a mulher não parecia muito convencida. Ela partilha da preocupação de ZEE, mas não pôde manifestar. A única esperança que tinha era que o gesto benevolente que estava fazendo por Tate não sair pela culatra e você fazer mais mal do que bem a pequena já emocionalmente frágil. ZEE andou pelo quarto regando as plantas e flores que Avery tinha recebido, não só de Tate, mas de pessoas que nem sequer conhecia. Nunca falavam sobre a família de Carole, ela deduziu que ela não tinha. Sua família era seu marido. Nelson e Tate falaram da campanha, um tópico de conversação que nunca parecia estar fora de suas mentes. Quando referidos Eddy, ela mentalmente associava o nome com a pessoa bem afeitada e a impecavelmente vestida que tinha ido vê-la que duas vezes, sempre acompanhado por Tate. Parecia um tipo agradável, como se fosse o animador do grupo. O irmão de Tate chamava-se Jack. Era maior e uma natureza mais nervosa do que a da Tate. Ou talvez simplesmente parecia que, durante a maior parte do tempo que esteve no quarto, não fez mais do que pedir desculpas pela ausência de sua esposa e filha. Avery deduziu que Dorothy RAE, esposa de Jack, estava permanentemente indisposta por algum tipo de doença, embora nunca houvesse referência ao seu mal debilitante. Fancy era, obviamente, o membro mais polêmico da família. Avery poderia inferir os comentários que ela tinha idade suficiente para dirigir, mas não para ter sua independência. Toda a família vivia junta em algum lugar mais ou menos uma hora carro de San Antonio. Se lembrava vagamente de um Rancho referente ás notícias divulgadas sobre da Tate. Ficou claro que a família tinha dinheiro, assim como o poder inerente a esse. Todos se comportaram com alegria e simpatia para falar com ela. Escolhiam as palavras com cuidado para não a alarmar ou a preocupar. O que escondiam a interessava mais do que o que diziam. Notou que suas expressões, que geralmente eram reservadas. Os sorrisos,
hesitantes ou tensos. A família de Tate foi esposa de uma forma educada, mas sentia um fundo de antipatia. -Este é uma linda camisola - comentou ZEE, fazendo assim com que os pensamentos de Avery voltassem para o quarto. Estava desfazendo as malas que Tate havia trazido e colocava as coisas em um armário estreito-. Talvez você devesse usar este amanhã para a visita de Mandy. Avery fez um sim com sua cabeça. -Falta muito MOM? Penso que ela está começando a se cansar. -Tate ficou mais próximo da cama e olhou diretamente nos seus olhos-. Amanhã será um dia difícil. Será melhor que te deixemos descansar um pouco. -Não se preocupe - incentivou seu Nelson-. Ela está se recuperando perfeitamente, tal como previsto. Vamos ZEE, deixe que fiquem a sós um minuto. - Adeus, Carole – despediu-se ZEE. Saíram do quarto. Tate sentou-se novamente na borda da cama. Tinha o aspecto muito cansado. Teria gostado de ter a coragem de estender a mão para o lado e tocá-lo, mas não tinha. Os gestos que ele tinha com ela eram de consolo, nunca de afeto. -Chegaremos á tarde, depois que Mandy dormir. – Parou de falar e olhou para ela que assentiu com a cabeça. – Chegaremos em torno dos três. Penso que seria melhor se Mandy e eu viermos sozinhos, sem mais ninguém. – Desviou o olhar suspirou com dúvidas - Eu não tenho idéia de como ela reagirá, Carole, assim procura ter em conta que ela sofreu. Sei que você também sofreu igualmente muito, uma barbaridade, certamente, mas você é adulta. Você tem mais defesas que dela. -Retornou a olhá-la nos olhos-. Ela é só uma menina. Lembre-se. – Continuou então aderiu e lhe dedicou um pequeno sorriso-. Que droga, estou certo de que a visita será um sucesso. Ele se pôs de pé. Como é de costume quando ele está prestes a sair, Avery experimentou um momento de pânico. Era sua única conexão com o mundo, a única realidade. Ao ir embora, ele levava a sua coragem junto, deixando-a só, amedrontada e marginalizadas. -Descanse e dorme bem esta noite. Nós veremos amanhã. Como sempre na despedida, seus dedos roçaram um nas mãos do outro, mas não beijou. Nunca beijava. Não havia muitas áreas acessíveis para o beijo, mas Avery pensou que um marido iria encontrar formas de beijar a esposa se realmente quisesse. Observou enquanto ele saía e desaparecia através da porta do quarto. A solidão invadiu todos os cantos do corpo. A única maneira que combatê-la era pensando e passava todas as horas de planejando como dar a trágica notícia á Tate Rutledge que ela era não quem ele pensava. Sua esposa estava, sem dúvida, enterrada em um túmulo com o nome de Avery Daniels. Como ela diria isso? Que como poderia dizer a ele que alguém próximo dele queria vê-lo morto? Pelo menos um mil vezes na semana passada tentando se convencer que seu visitante fantasmagórico foi apenas um pesadelo. Calculava que vários fatores simultâneos poderiam tê-la feito alucinar. Era mais fácil acreditar que a pessoa que pronunciou essas palavras fosse uma alucinação. Mas estava plenamente consciente da realidade, aquilo aconteceu realmente. Em sua mente, as palavras apareciam tão claras como uma lagoa tropical. As tinha
memorizado. O tom sinistro e a inflexão da voz tinham ficado plenamente gravados em seu cérebro. O homem falou muito claro. Não ocorreu nenhum erro. Devia ser um membro da família Rutledge porque só eles permitiram a entrada na unidade de terapia intensiva. Mas quem? Nenhum revelou ódio contra Tate; pelo contrário, todos pareciam adorá-lo. Foi considerando um por um. O pai? Impossível, era evidente que tanto o pai como a mãe o considera um herói. Jack? Não parecia ter nenhum rancor contra seu irmão caçula. Embora Eddy não fosse um membro direto da família, o tratavam com tal e o companheirismo entre Tate e seu melhor amigo era óbvio para todos. Faltava ainda ouvir e ver Dorothy RAE e fancy, mas estava convencida que tinha ouvido uma voz masculina. Nenhuma das vozes recentes pertenciam ao seu visitante. Então como, poderiam entrar em seu no quarto um desconhecido? O homem não era um estranho para Carole, pois de dirigiu a ela como confidente e conspirador. Será que Tate sabia que sua esposa conspirava com alguém? Será que ele pensava que alguém queria machucá-lo? Era por isso que o consolo e o encorajamento dado a ela era uma proteção que usava como se fosse uma barreira invisível? Avery sabia o que ele proporcionava para ela, era nada mais do que era esperado. Deus, como queria sentar-se com a Irish e explicar todos os componentes do quebra-cabeça, como muitas vezes tinham feito antes de entrarem em uma história complexa! Tentavam localizar os itens que faltavam. Irish tinha uma quase Sobrenatural intuição quando de tratava do comportamento humano, e ela valorizava muito sua opinião mais do que as de todos os outros. Pensar sobre os Rutledge produzia uma terrível dor de cabeça, de modo que ficou agradecida pelo sedativo injetado está noite que a ajudou a dormir. Ao contrário da iluminação constante da unidade de terapia intensiva, neste quarto apenas foi ativado com um pequeno abajur sobre a pequena mesa. Debatendo entre o sonho e a realidade, se permitiu pensar no que aconteceria se assumisse indefinidamente o papel de Carole Rutledge. Adiaria a viuvez de Tate, Mandy teria um apoio materno durante sua recuperação emocional; talvez Avery Daniels pudesse descobrir um assassino e ser saudada como uma heroína. Em seu interior, começou a rir. Irish pensaria que tinha ficado definitivamente louco. Gritaría e chillaría e certamente comprometeria a dar-lhe um flagelo boa apenas como uma idéia tão absurda. Mesmo assim, era uma idéia interessante. Que história teria quando terminasse a comédia: política, relações humanas e intriga. A fantasia levou a dormir.
Capítulo oito Eu estava mais nervosa do que no dia que se apresentou pela primeira vez naquela horrível emissora de TV em Arkansas há oito anos: as palmas das mãos suavam, garganta foi seca, tremendo feito vara verde, apertando o microfone muito forte e contando uma história ao vivo sobre um parasita que estava afetando
agricultores de porco. No final, o Diretor de notícias recordou-lhe divertido que a doença afetava os suínos, não aos agricultores. Mas deu o emprego de todas as formas. Isso também como um teste. Seria capaz de Mandy detectar o que ninguém tinha sido capaz, de que a mulher por trás da face destroçada não era Carole Rutledge? Durante o dia, enquanto as fofoqueiras e amorosas enfermeiras a lavavam e a vestiam, enquanto a fisioterapeuta fazia os exercícios com ela, uma pergunta não parada rondar sua cabeça: queria realmente que descobrissem a verdade? Não tinha chegado a qualquer conclusão. Neste momento, o que importava por quem tomavam? Era impossível alterar o destino. Ela estava viva e Carole Rutledge morta. Alguma força cósmica decidiu o resultado do acidente aéreo, não ela. Tinha tentado com desespero, com suas severamente limitadas capacidades, notificar todos ao erro, mas sem qualquer sucesso. Já podia fazer nada. Até poder utilizar papel e caneta para se comunicar, teria que permanecer como Carole. Enquanto interpretava esse papel, poderia investigar um pouco dessa história estranha e recompensar Rutledge Tate pela sua bondade. Se ele achava que Mandy se beneficiaria pelo fato de ver sua mãe, então Avery fingiria momentaneamente o ser. Pensou que, para a menina, era melhor interar-se da morte de sua mãe, logo que possível, mas não era capaz de dizer. Com um pouco de sorte, sua aparência, não a assustaria na medida de lhe causar uma regressão. A enfermeira amarrou um pano na cabeça, onde o cabelo estava muito curto. -Aí está. Não está mal - comentou, ao avaliar o seu trabalho-. Dentro de duas semanas, este seu bonito marido não poderá tirar os olhos de cima você. Sabe, claro que sabe, que todas as enfermeiras solteiras e algumas das mulheres casadas - adicionando em tom irônico-, estão loucamente apaixonadas por ele Circulando em torno de cama, esticar os lençóis e organizando as flores, cortando os botões que começavam a murchar. Você não se importa, não é verdade? Está acostumada a ver outras mulheres o persigam. A quanto tempo estão casados? Quatro anos, creio que ele disse que uma das jovens. -Deu alguns tapinhas no ombro de Avery -. O médico de Sawyer faz milagres. Você verá. Os dois serão o par mais bonito de Washington. -Você não está a par dos acontecimentos? Ao ouvir o som da sua voz, o coração Avery começou a bater mais rápido. Olhou para a porta e o viu na beirada. Num segundo entrou no quarto, disse a enfermeira: - Estou convencido de que o dr. Sawyer faz milagres, mas você tem certeza de que vou ganhar as eleições? -Tem o meu voto. Seu riso foi profundo e rico, tão confortável como uma desgastada e antiga manta. -Maravilhoso. Precisarei de todos os votos possíveis. -Onde está a pequena? -A deixei com as enfermeiras. Em um momento vou até ela. Dando por encerrada a conversa, a enfermeira sorriu para Avery e piscou para ela. -Boa sorte. E como estavam sozinhos, Tate se aproximou da cama.
-Olá. você está muito bonita. -Suspirou profundamente-. Bem, ela está aqui. Não sei como ela vai reagir. Não quero te desiludir... Ele parou de falar ao examinar seus seios. Estava grande; a camisola de Carole. Avery viu uma expressão de surpresa na face da Tate e o seu coração bateu com veemência. -Carole - disse com voz rouca. Eu sabia! Meu Deus! Que como poderia explicar? -Você está muito magra - sussurrou. Delicadamente, fez uma pressão com uma mão em lado de seu peito. Ele olhou todo o seu corpo. O sangue Avery fluiu para o local onde foi a mão. Sua garganta emitiu um som de pequeno e fraco. -Não quer dizer que você apenas aspecto ruim, só... que está diferente. Suponho que é lógico que você tenha perdido vários quilos. – Eles se olharam durante alguns momentos e em seguida, ele tirou a mão - Vou buscar Mandy. Avery suspirou profundamente, tentando se acalmar. Até esse momento não você tinha notado do qual desconcertante seria a verdade para ambos. Ou, até que ponto seus sentimentos por ele tinham aumentado. A carícia a deixou tão fraca como seu membros. Mas não se deu ao luxo mostrar suas emoções. Preparou-se para o que à espera. Inclusive fechou os olhos, receando a expressão de horror na face da menina quando veria pela primeira vez sua 'mãe' desfigurada. Ouviu-os entrar e aproximar-se da cama. -Carole? Lentamente, abriu os olhos. Tate carregava Mandy em seus braços. Ela usara um vestido azul-marinho, meias compridas da cor branca e sapato de couro azul marinho. Tinha o braço esquerdo de engessado. Seu cabelo era escuro e brilhante, denso e abundante, mas não tão longo como lembrava Avery. Como se tivesse lendo seus pensamentos, Tate explicou: -Tivemos que cortar o cabelo porque as pontas foram chamuscadas. O cabelos dela chegavam á altura do bumbum. As franjas caíam em cima dos solenes olhos marrons, tão grandes e redondo como moedas e resignados assim como um coelho entre dois fogos. Era uma linda garota embora parecia completamente impassível. Em vez de mostrar repulsa, medo ou curiosidade, que teria sido reações normais, não manifestou qualquer sentimento. -Dê a mamãe o presente que você trouxe - disse Tate. Na mão direita trazia um buquê de margaridas. Timidamente as estendeu a Avery e quando seus dedos não conseguiram segurá-las, Tate a tirou de Mandy suavemente colocou-as no peito de Avery. -Vou colocá-la aqui sentada na cama enquanto eu vou encontrar um vaso com água para colocar as flores. Tate acomodou Mandy na borda da cama, mas a menina começou a chorar e temerosamente se agarrou a ele. -Está bem, não irei. Deu um sorriso a Avery e sentou atrás Mandy, quase sem apoiar-se na borda do
colchão. - Hoje ela pintou este desenho - comentou, dirigindo-se a Avery por cima da cabeça de Mandy. Do bolso exterior da camiseta tirou um pedaço de papel dobrado e o abriu -. Diga a ela o que é, Mandy. Os desenhos coloridos não pareciam absolutamente nada, mas Mandy sussurrou: -Cavalos. -Os cavalos do vovô - Tate explicou-. Ontem ela foi andar a cavalo, portanto esta manhã, sugeri que o desenhasse para você enquanto eu estava trabalhando. Avery levantou sua mão e fez de um sinal para colocassem o desenho em frente a ela. Estudou-o cuidadosamente, ante de Tate colocá-los também sobre seu peito, juntamente com o buquê de margaridas. -Penso que a mamãe amou seu desenho. Tate continuava a olhar Avery de modo estranho. A menina não se importava tanto se gostou ou não de seu trabalho artístico: Mexendo a tala de gesso que estava no nariz de Avery. -O que é isso? -São ligaduras que a avó e eu te falamos, lembra? –Continuou dirigindo-se a Avery - pensei que iriam removê-la hoje. Ela virou a palma da mão de baixo para cima. -Amanhã? Avery assentiu com um movimento leve de cabeça. -Por que o colocaram aí? -pediu Mandy, que ainda estava intrigado pela tala de gesso. -É um pouco como o gesso. Protege a face da mamãe até ela ficar bem, é como o gesso protege seu braço enquanto você não pode usá-lo. Mandy ouviu a explicação e retornou em seguida, novamente olhou com seu rosto grave para o de Avery. -Mamãe está chorando. -Acho que é porque está muito feliz em te ver. Avery assentiu, fechou os olhos, os manteve fechado durante vários segundos e voltou a abri-los. Assim, espera-se transmitir um forte sim. Estava contente em ver aquela menina com tão facilmente poderia ter morrido queimada. O acidente tinha deixado nela marcas emocionais, mas a menina sobreviveu e iria superar seus medos e sua timidez. Avery também sentiu acuada pela culpa e a tristeza de não ser que eles achavam que era. Em um desses movimentos súbitos que só criança sabe fazer, Mandy estendeu a mão, pronta para colocá-la na bochecha ferida Avery. Tate segurou sua mão em que ela entrasse em contacto com a pele. Então pensou melhor, conduziu ele próprio a mão de Mandy ao rosto de Avery. -Você pode tocar, mas muito delicadamente. Para que não machuque a mamãe. Os olhos da menina se encheram de lágrimas. -MOM tem dor. Começou a tremer o lábio inferior e se inclinou para adoente. Avery não poderia suportar ver a angústia Mandy. Em resposta a um sentimento materno espontâneo, levantou o braço e acariciou com a mão ferida a cabeça da menina. Usando a força que a dor permitia, orientando a cabeça para descansá-la em seu peito. Mandy se deixou levar e ajeitou o corpo pequeno contra o dela, que
continuou acariciando a cabeça e tentou emitir algum som. O mudo gesto tranqüilizador foi transmitido para a menina. Após alguns instantes, parou de chorar, imperdigou-se e timidamente anunciou: -Eu não derramei leite, MOM. O coração de Avery derreteu. Eu queria tomar a menina em seus braços e abraçála com muita força. Gostaria de dizer que o de leite não importava nem um pouco, porque as duas tinham sobrevivido a uma catástrofe. Em vez disso, viu Tate colocar-se em pé e colocar Mandy em seus braços. -Não queremos aumentar em demasia a visita. Manda um beijo para a Mamãe, Mandy. – Ela não o fez. Em vez disso, abraçou o pai no pescoço e afundou o rosto sobre o ombro. Tate deu com os ombros, como uma desculpa-. Na próxima. Voltarei imediatamente. Saiu por uns minutos e voltou sozinho. -Ela está com as enfermeiras. Elas lhe deram um picolé. Se deixou cair na borda da cama e ficou um momento com sobre os joelhos. -Que tudo correu tão bem, talvez a traga outro dia desta semana. Acho, pelo menos que tenha corrido bem. O que você acha? –Olhou por cima do ombro para encontrar sua resposta. - A viu assentir e encarar novamente mãos-. Não sei o que Mandy está pensando, é difícil saber ela pensa em alguma coisa. Parece que formos capazes de nos comunicar, Carole. -Este desespero de sua voz quebrou o coração-. Antes, uma visita ao McDonald a fazia dar pulos de alegria. Agora, nada de nada. – Apoiou os cotovelos nos joelhos e colocou a cabeça entre as palmas das mãos-. Tenho tentado de tudo para me comunicar com ela. Nada funciona. Já não sei mais o que fazer. Avery levantou o braço e acariciou os cabelos cacheados. Ele se assustou, virou a cabeça bruscamente e quase deu-lhe um golpe na mão. Ela a retirou a mão com uma rapidez que uma dor terrível invadiu todo o braço. Gemeu. -Desculpe – desculpando-se Tate, colocando-se imediatamente de pé-. Está bem? Você deseja que eu chame alguém? Avery fez um movimento negativo com a cabeça e tentou colocar o lenço que começou a escorregar de volta a cabeça. Ela se sentia exposta e mais nua do que nunca. Gostaria de poder desejar esconder sua feiúra. Quando ele estava convencido de que já, estava ser dor, disse: -Não se preocupe Mandy. Dê-me tempo, que estou certo de que ficará bem. Não devia ter te falado sobre o assunto, é só que estou muito cansado. A campanha vai a mais e... Não importa. Estes são meus problemas e não teus. Tenho que ir. Sei que a nossa visita foi muito difícil para você. Adeus, Carole. Desta vez nem sequer acariciou seus dedos ao modo de despedida.
Capítulo nove -Estamos te aborrecendo, Tate? Com cara de culpa levantou o olhar para o seu diretor de campanha. -Desculpe.
Tate, reconhecendo que Eddy tinha todo o direito de estar aborrecido com ele, limpou a garganta e a arrumou o cinto de couro. Deixou de dar voltas na caneta que tinha entre seus dedos. Eles estavam passando o dia em casa, reunidos para encontrar o próximo passo da estratégia a seguir, nestas últimas semanas de campanha antes das primárias. -Exatamente, em que ponto perdeu o rumo? -Em algum lugar entre El Paso e Sweetwater - responderam Tate-. Olhe, Eddy, você tem certeza de que é absolutamente necessário passar pelo oeste do Texas? -Absolutamente necessário – parou Jack-. Com o preço do petróleo bruto na sua forma atual, as pessoas precisam todas as injeções de ânimos que pode dar-lhes. -Quero dizer a verdade. Você sabe o que penso dar falsas esperanças e fazer promessas vazias. -Compreendo completamente seu ponto de vista, Tate - Nelson citou - mas o Senador Dekker é parcialmente responsável pela situação que enfrenta o mundo do petróleo. Foi a favor do acordo assinado com os árabes. Temos que falar este ponto para estes trabalhadores desempregados. Tate lançou a caneta em cima da mesa e levantou-se. Colocou as mãos nos bolsos da calça, se colocou em frente da janela. Fazia um dia espetacular. Primavera era ainda incipiente, mas começou a florescer os lírios. Nos pastos, as ervas começaram a ficar verde. -Será que não concorda com a observação de Nelson? -perguntou Eddy. -Concordo plenamente - respondeu Tate, dando-lhes as costas-. Sei devo ir lá fora e realçar a loucura de Dekker e incentivar as pessoas, mas também preciso estar aqui. -Com Carole. -Sim. E Mandy. -Pensei que o psicólogo de Mandy tinha dito que a única coisa necessária era tempo e que, quando Carole regressasse para a casa, Mandy melhoraria substancialmente - observou Jack. -Verdade. -Portanto, se você estiver aqui ou não, não é de grande importância para Mandy. E não há nada que pode fazer por, Carole. -Posso estar com ela - respondeu Tate ansiosamente; ficou na defensiva e virando-se para com eles. -Fazendo o quê? Ficar olhando para aquele dois olhos arregalados - acusados ele Jack-. Deixe Deus, coloquei a pele de galinha! A face da Tate incendiou-se de fúria devido do comentário desagradável de seu irmão. -Cale-se, Jack, - ordenou Nelson zangado. Tate adicionado observação: -Olhar com esses dois olhos de arregalados é tudo, pode fazê-la, Jack, mas ainda é minha responsabilidade fazê-lo. Não deixei isso claro há semanas? Com um profundo suspiro de sofrimento, Eddy se deixou cair sobre um sofá. -Pensei que estivéssemos todos de acordo que Carole ficaria melhor nesta clínica privada do que aqui em casa. -Estávamos.
-Ali eles são tratados como membro da realeza, melhor do que no hospital acrescentou Jack-. Está melhor a cada dia. Foi uma piada, que dizem os olhos. Uma vez que a vermelhidão desaparecer e voltar a crescer o cabelo, ficará linda. Em então, qual é o problema? -O problema é que ainda está se recuperando dos traumas e algumas graves feridas físicas - respondeu Tate zangado. -Ninguém está discutindo isso - Nelson intervindo-. Mas é preciso aproveitar todas as oportunidades, Tate. Você tem responsabilidades eleitorais que não podem ser negligenciadas, como você não pode negligenciar a sua mulher. -Você acha que não tenho conhecimento disto? –Perguntou aos três. - Você está ciente - disse Eddy-. E Carole também o é. -Talvez. Mas ela não melhora quando estou fora. O dr. Sawyer disse-me que fica muito deprimida. -Como demônios como sabe se ela fica deprimida ou a morrer de risos? Segue sem dizer uma maldita... . - Jack! Nelson falou em um tom de voz que frequentemente utilizava durante sua carreira militar para converter pilotos arrogantes em arrependidos humilhados. Fez o papel do Coronel aposentado, olhou fixamente seu filho mais velho. Raramente repreendia seus filhos quando pequenos, usando apenas o castigo, quando era absolutamente necessário. Em geral, um piscar de olhos e esse tom de voz produziam o efeito desejado. -Tenha um pouco consideração para a situação do vosso irmão, por favor. Em respeito a seu pai Jack se calou, voltando a sentar no sofá com evidente exasperação. -Carole seria a primeira a dizer que deveria fazer esta viagem – se dirigiu Nelson a Tate, com voz tranqüila. – Eu não te diria se não estivesse totalmente convencido. -Concordo com o Nelson - Eddy com suporte. - E eu concordo com vocês dois. Antes do acidente, ela iria fazer as malas comigo. – E mexeu com o pescoço, tentando fazer desaparecer fadiga e a tensão acumulada -. Agora, quando digo que vou embora, vejo pânico em seus olhos. Esse olhar me persegue. É tão patético... Sinto-me culpado. Antes de me ausentar por muito tempo, tenho de levar em conta como ela reagirá a minha partida. Fez um inventário silencioso das suas reações. Em cada uma das faces viu um argumento ao ponto para ser exposto e que, por consideração para com ele, calavam-se suas opiniões. Exalou um profundo suspiro. -Merda. Vou sair um pouco. A grandes passos deixou á sala e a Casa. Em menos de cinco minutos estava subindo em um cavalo e a galopando em uma das pastagens do Rancho, rodeado por cabeças de gado. Não tinha nenhum destino em particular na cabeça; só precisava de privacidade e a paz que poderia fornecer ao ar livre. Naqueles dias não era quase nunca ficava sozinho, mas nunca tinha sentido tanta solidão durante toda sua vida. Seu pai, Eddy e Jack poderiam aconselhá-lo sobre as questões políticas, mas as decisões pessoais eram exatamente isso, “pessoais”. Ele só poderia tomá-las. Não desejava pensar na forma em que Carole o havia tocado. Se perguntava o que aquele toque significava.
Após duas semanas do ocorrido, sua deram-lhe cabeça deu milhares de voltas e seguia ser entender. Devido à sua reação de surpresa, que não durou mais do que uma fração de um segundo; tempo suficiente para que as pontas de seus remexessem as raízes dos seus cabelos. Mas considerou aquela carícia a mais importante que ele e Carole haviam partilhado, mais importante do que seu primeiro beijo, do que a primeira vez que eles fizeram amor... e a última vez que fizeram. Desmontou do cavalo ao lado de um rio alimentado por uma manancial que caia das colinas de calcário. Carvalho e Cedros apareciam em todo solo rochoso. Vento era forte, vindo do Norte; o sol queimava as suas bochechas e faziam cair lágrimas em seus olhos. Tinha saído sem casaco, mas o sol ainda estava quente. A carícia o surpreendeu tanto porque não era um pequeno gesto característico dela. Naturalmente que sabia tocar um homem, mesmo depois de tudo o que aconteceu entre eles, as recordações mais antigas ainda conseguiam excitá-lo. Com grande capacidade, a Carole utilizava o toque para comunicar seus desejos, tanto se decidisse ser lúdica, sutil ou simplesmente obscena, sabiam como transmitir seus desejos. Desta vez foi diferente. Sentia a diferença. Seu gesto era de preocupação e compaixão; espontâneo, produto de um coração inocente e não de uma mente calculista, sincera e não o contrário. Não parecia nada ao Rei. O som de um cavalo que chegava o fez virar a cabeça. Nelson desmontou do cavalo com quase a mesma agilidade que tinha mostrado Tate minutos mais cedo. -Pensei que seria uma boa idéia dar um passeio. Faz um dia maravilhoso. Levantou os olhos para admirar o céu azul e limpo de nuvem. -Droga. Você veio conspirar. Nelson deixou rir e indicou com um gesto da cabeça que ele deveria se sentar em uma das rochas esbranquiçadas. -Zee viu você sair e sugeriu que já era tempo de pausa na reunião. Servindo sanduíches para os outros e me mandou a sua procura. Disse que você parecia estar irritado. – E Estou. - Pois é melhor que passe. -Não é tão fácil. -Sabíamos desde o início que esta campanha seria um horrenda, Tate. O que espera? -Não É a campanha. Estou preparado para isso - respondeu com um gesto de determinação no rosto. -Então é a questão de Carole. Você sabia que isso tampouco não seria uma tarefa fácil. Tate virou a cabeça de golpe e disse diretamente: - Você se deu conta de como ela mudou? -O médico avisou você que a sua aparência iria sofrer ligeiras modificações, mas quase não se nota. -Não são alterações físicas. Refiro-me a forma como tem de reagido a coisas. -Não posso dizer que reparei. Como, por exemplo, o que? Tate mencionou várias vezes em que aos olhos de Carole haviam registrado
dúvidas, insegurança, medo. Nelson ouviu todas as palavras cuidadosamente; considerou tempo suficientemente para dizer nada. -Gostaria de dizer que sua ansiedade é natural, não acha? Tinha o rosto de destroçado. Isto assustaria qualquer mulher, mas uma mulher com a aparência de Carole... bem, a idéia de perder a beleza seria suficiente como para produzir uma certa insegurança. -Presumo que você tenha razão, só que eu teria esperava dela raiva e não medo. È muito difícil de explicar. Isto é algo que sinto. Distraidamente, lhe disse sobre a primeira visita de Mandy. – Regressei com ela três vezes e durante cada visita, Carole chora e abraça com vigor, a menina. -Porque penso que ela poderia tê-la perdido. – É mais do que isso, pai. Um dia, quando ainda estava no hospital, ao sair do elevador, eu a encontrei sentada em uma cadeira de rodas, aguardando a minha chegada. Foi antes de ela colocar os dentes. Levava na cabeça um lenço preso e a perna engessada. -Intrigado, virou a cabeça de um lado para outro-. Tinha um aspecto horrível, mas estava ali, valente como ninguém. Agora, diga-me Carole faria uma coisa assim? -Tina vontade de vê-lo, de mostrar a você que já podia se levantar da cama. Tate considerou essas palavras alguns momentos, mas não se convenceu. Em que momento da sua vida Carole tinha tentado agradar alguém? Seria capaz de jurar que, apesar da sua incapacidade para sorrir, por dentro o estava fazendo ao vê-los chegar, ele e Mandy. -Então você acha que ela está brincando? - Não - Respondeu Nelson, dubitativamente-. Penso que é... temporário. -Sim - disse-. Eu enfrento a realidade, a Tate. Você sabe. Não quero me meter em sua vida pessoal. ZEE e eu desejamos que você, Jack e suas famílias fiquem aqui no Rancho conosco. E porque é isto que desejamos, procuramos sempre não meter em seus assuntos particulares. Se eu fizesse o que realmente tenho vontade de fazer, garantiria que Dorothy RAE recebesse ajuda profissional para resolver seu problema e daria umas boas palmadas em Fancy por todas as ocasiões que deveria ter apanhado e não aconteceu. -Fez uma pausa antes de continuar-: Talvez devesse ter dito isso antes do que agora, mas esperava que você tomasse a iniciativa corrigir seu casamento. Sei que o Carole e você se distanciaram nos últimos anos. -Levantou palmas das mãos-. Você não precisa me dizer porquê. Não preciso saber. Isso é algo que sinto, você sabe? Que droga, todos os casamentos têm momentos difíceis ocasionalmente. ZEE e eu, esperamos que entre vocês haja paz, e que tenham outro filho, que vás a Washington e que possam viver juntos por muitos anos. Talvez esta tragédia resolva seus problemas e que vocês se unam novamente. Mas - adicionando não espere que Carole mude completamente em conseqüência do que lhe aconteceu. Acho, que você precisará de mais paciência para se entender com ela agora do que a que você tem até agora. Tate resumiu o discurso de seu pai, escolhendo os pontos relevantes e lendo nas entrelinhas. – Está a dizer que Ando à procura de algo que não existe, não é verdade? -Estou a dizendo que é uma possibilidade. Normalmente, quando alguém fica
muito próximo de morte, passa então para uma temporada em que vê tudo cor de rosa. Eu mesmo vi acontecer com pilotos que abandonaram suas aeronaves e viveram para contá-las. Você sabe, que em um abrir e fechar olhos compreende tudo o que iriam perder, sentem-se culpado de não valorizar sues entes queridos e prometem mudar, melhorar a sua atitude geral para com a vida, se tornar uma pessoa melhor; tais coisas. -Colocou mão sobre Tate - Penso que é o que você está vendo em Carole. Não quero que tenhas falsas esperanças e que pense que este incidente tornou a Carole num modelo de esposa. Dr. Sawyer assegurou retirar algumas das imperfeições da face, mas não mencionou a todas as imperfeições da sua alma - adicionando com um sorriso. -Suponho que você está certo - respondeu Tate, tenso-. Na verdade, sei que tem razão. É exatamente o que estava a fazer, procurar melhorias que não existem na realidade. Nelson usou o ombro da Tate de apoio para se levantar. -Não seja tão duro com você mesmo ou com ela. O tempo e paciência são investimentos essenciais. O que vale a pena merece uma espera, pode ser longa; assim dura toda uma vida. Montaram nos cavalos e dirigiram-se para a casa. Durante o caminho de volta falaram pouco. Chegando à porta do estábulo Tate se apoiou na sela e se voltou para seu pai. -Sobre daquela viagem ao oeste do Texas... - Sim? Nelson foi um semicírculo com a perna direita e saltou do solo. -Estou preparado para chegar a um compromisso. Uma semana. Não posso ficar muito tempo fora. Nelson acertou carinhosamente a coxa Tate com as rédeas que estavam em suas mãos e entregou à Tate. -Estava certo de que você voltaria a razão. Direi Eddy e Jack. Dirigiram-se a casa. -Pai. -Nelson parou e virou-. Obrigado - disse Tate. Nelson fez um gesto que não tinha nenhuma importância. -Guarde bem os cavalos. Tate levou seu cavalo em direção ao estábulo, puxando o Nelson às costas. Desmontou e iniciou o processo de descanso que aprendeu logo que você começou a montar. Mas, dentro de alguns minutos deixou a mão esquerdo nas costas da cavalo e ficou a olhar perdido no espaço. Naquela noite precisava de sua compaixão e ternura. Queria confiar nos motivo que havia levado a acariciá-lo. Por bem de seu casamento e de Mandy, tinha a secreta esperança de que essas mudanças fossem permanentes. Com o tempo saberia, mas certamente seu pai tinha razão. Era quase um sonho que Carole houvesse mudado, quando suas ações anteriores tinham demonstrado que não era confiável. Não poderia lhe oferecer o benefício da dúvida sem todos e principalmente ele próprio, pensavam que era um idiota em pensar que poderia confiar nela. -Maldita seja!
Capítulo dez -Após isto, pretendemos enviar-lhe para o pequeno território, assim que proferir um discurso no Texas Tech. – A medida que Jack detalhava o itinerário da Tate à sua cunhada, um novo pensamento veio a sua cabeça-. Sabe, Tate, existem muitos fazendas de algodão naquela região. Gostaria de saber se Eddy pretende enviar-lhe para falar em algumas dessas fazendas. -Se ele não pensou, você deve fazer. Quero que você vá. -Eu Tomarei nota para preparar algo. Da cama, Avery observava os dois irmãos. Eram suficientemente semelhantes para considerá-los da mesma família, mas havia bastante diferentes para que se tornassem pessoas completamente diferentes entre si. Jack era três anos mais velho que Tate. Seu cabelo era mais escuro, começando a se tornar escasso. Não era exatamente gordo, mas seu tipo não era tão elegante como seu irmão. Dos dois, Tate era muito mais bonito. Embora o aspecto de Jack tivesse nada de ofensivo, tão pouco sobressaia de forma alguma. Parecia uma peça de um jogo. No caso da Tate seria impossível que isto acontecesse. -Perdoe-nos por ocupá-lo por tanto tempo, Carole. - Percebeu que Jack nunca a olhava diretamente quando falava com ela. Sempre se dirigia a alguma outra parte do seu corpo: peito, mão ou gesso da perna-. Não o que faríamos se não fosse uma coisa importante. Seus dedos se fecharam com a caneta enorme que tinha na mão e escreveu, “de acordo" em um caderno. Jack inclinou a cabeça, leu o que ela havia escrito e dirigiu-lhe um sorriso fraco e assentiu friamente. Existia algumas vibrações desagradáveis entre Jack e sua cunhada. Avery perguntou qual seria a causa. - Tate me disse que você conseguiu dizer algumas palavras hoje. É ótima notícia. A todos nos encantará em saber o você tem a nos contar quando puder voltar a falar. Avery sabia que a Tate não teria nenhuma graça o que tinha de lhe contar. Gostaria de saber por que ainda não havia escrito seu nome, por que razão continuava a se fazer passar por sua esposa mesmo depois de recuperar suficiente os movimentos da mão para usar a caneta. Nem sequer ela tinha as resposta a estas perguntas. A ansiedade produzida por este tema fazia saltar lágrimas. Jack imediatamente se levantou e começou a sair pela a porta. -Bem, está a ser tarde e Estou longe de casa. Boa sorte, Carole. Você vêm, Tate? -Ainda não, mas o acompanharei até a saída. Após dizer que voltaria em seguida, acompanhou seu irmão. -Creio que a magoou falar sobre sua viagem - comentou Jack. -Faz alguns dias que está com um pouco de mau humor. -Deveria estar feliz por estar recuperando a voz, não acha? -Acho que é muito frustrante tentar falar claramente quando não é possível. Tate chegou perto de algumas portas de vidro da luxuosa clínica e abriu uma. -Ei, Tate, que você viu algo estranho na caligrafia dela? -Como estranho?
Foram para o lado para deixar passas um par de enfermeiras, seguidas por um homem carregando um vaso de cobre cheio de crisântemos. Jack saiu para fora, mas colocou as mãos na porta para que ela não fechasse às suas costas. -Carole escreve com a mão direita, Hein? -Sim. - Então por que está usando a esquerda? -Logo que Jack levantou a questão, deu com os ombros-. Apenas pareceu estranho. – Tirou a mão e a porta começou a fechar – Nos vemos em casa, Tate. -Dirija com cuidado. Tate ficou olhando seu irmão fixamente até que outra pessoa chegou á porta e ser ficou olhando com curiosidade. Deu a volta e retornou pensativamente, ao quarto de Carole. Durante sua ausência, Avery pensou muito no que havia mudado. Percebeu que a mudança de atitude já fazia mais de uma semana. Continuou a visitá-la regularmente, mas já não diariamente. Tinha pedido desculpas ao princípio, pois sabia que estava completamente submerso na campanha eleitoral. Sempre que vinha, continuava a trazer flores e revistas, e como ela já podia comer alimentos sólidos, comidas, para aumentar a excelente, embora chata comida de hospital. Pediu ainda que instalasse um vídeo e abastecê-la com uma variedade de filmes. Mas muitas vezes ele se revelou distante e de mau humor, reservada a tudo o que ela dizia.Suas visitas nunca eram longas. A medida que melhorava o rosto de Carole, Tate tornou-se mais distante. Nem tinha voltado a levar a menina. Ela escreveu no caderno o nome de Mandy, seguido de um ponto de interrogação e o assinou: Tate deu com os ombros. -Pensei que se as visitas estavam causando mais mal do que bem. Você poderá passar muito tempo com ela quando voltar para casa. Essas palavras frias a feriram. As visitas Mandy tornaram-se um dos pontos altos em sua monótona existência. Além disso, a decisão de suspender lhes foi certamente melhor. Estava ficando demasiadamente apegada a aquela menina e queria desesperadamente ajudar em suas crises. Uma vez que não teriam a oportunidade, foi uma boa idéia quebrar todos os laços emocionais, logo que possível. O afeto desenvolvido por Tate era algo muito mais complexo e tornaria consideravelmente mais difícil de quebrar quando saísse deste mundo para retornar à seu próprio. Pelo menos teria algo para lembrar: ingredientes para escrever uma boa história sobre o homem candidato ao Senado dos Estados Unidos e alguém que o queria matar. A curiosidade jornalística de Avery era galopante. O que não iria bem no casamento Rutledge? Porque Carole queria ver seu marido morto? Avery queria explorar todas as possibilidades de chegar a verdade. Você aos fatos talvez a tiraria dos destroços que era a sua vida profissional. No entanto, a idéia de publicar a verdade deixou um gosto ruim na boca. Problemas de Tate Rutledge pertenciam a ela agora que tanto como a ele. Não era sua culpa que caíram nela; mas eles foram impostos. Mas não podia simplesmente dar-lhes as costas. Por algum motivo estranho, que desafia qualquer explicação, sentia-se obrigada à Tate a compensar os defeitos no
Carole. A única vez que estendeu a mão compassiva, ele a rejeitou com dureza, mas o conflito entre Tate e Carole ultrapassava os problemas normais de um casamento. Quase se podia dizer que havia uma dimensão muito mais malévola. Ele a tratava como se fosse uma fera enjaulada. Tratavas de todas as suas necessidades, mas mantendo uma certa distância. Suas palavras eram suspeitas, como se não pudesse confiar em seu comportamento. Também sabia Avery, a prudência de Tate relativo à sua esposa era fundada. Carole, juntamente com outro indivíduo tinha um plano para matá-lo. Como e porquê eram as perguntas que a perseguiam a todo momento. Estes preocupantes pensamentos foram arquivados temporariamente quando Tate voltou. Apesar de o receber com um sorriso acolhedor enquanto abordada sua cadeira de rodas, ele se chegou com uma expressão de sisuda. -Por que você está escrevendo com a mão esquerda? Avery ficou paralisada. Por isso tinha chegado o grande momento da verdade. Teve esperança de poder escolher o tempo, ela própria, mas eventos estavam se adiantando. Tinha sido que estúpida! Era altamente improvável que Carole Rutledge foi canhota. Levantou os olhos e o olhou com súplica, conseguindo guturalmente dizer seu nome. Que "Deus me ajude", orou ao tentar manter a caneta com a mão esquerda. Uma vez que revelasse a sua identidade, teria de pô-lo a par dos planos para assassiná-lo. A única vez limite nunca foi atingiria sua sede. O crime poderia levar a cabo no dia seguinte ou naquela noite. E não poderia acontecer nada até o mês de Novembro, mas era essencial para avisar imediatamente. A quem acusaria da família? Se não o disse quando pode controlar uma caneta, foi porque não tinha dados suficientes. Esperou em vão a cada dia que passados fornecer-lhe qualquer nova pista. Uma vez, salientado os escassos dados, o que pensaria ele? O ele que iria fazer? Por que ele iria ouvir uma mulher que por quase dois meses, tinha se passado por sua esposa? Acharia que era um oportunista sem perdão, que queria fazê-lo se aproximar incomodativamente verdade que ela não estava verdadeiramente de fato preocupada com seu bem-estar e a Mandy. A caneta mudou-se sob pressão cuidadosa de seus dedos. Escreveu a letra d. A mão abalada com tanta violência abaixou a caneta. Abatido, escorregou por volta e foi finalmente, capturadas entre a cadeira e o estofamento. Tate a recuperou. Seus dedos fortes afundou-se a carne dela. Voltou a colocar a caneta entre seus dedos e novamente levou a mão no sentido do caderno. -De onde? Implorante, o observou, silenciosamente implorando seu perdão. Em seguida, terminou a palavra que havia começado. Quando terminou de escrever, colocou o caderno na frente de sua face. -Doer - eu ler-lhe-. Dói se você usar a mão direita? Avery afogada em sua culpa, assentiu com sua cabeça e gemeu: -Dói me. Levantou a mão direita, onde a pele permanecia sensível. Sua mentira era justificada, disse a si própria. Não poderia dizer a verdade antes
de poder explicar tudo detalhadamente. Uma mensagem mal escrita, algumas palavras-chave sem desenvolvimento apenas deixaria mergulhado em um frenesi de raiva e confusão. Neste estado mental, nunca acreditaria que alguém queria matá-lo. Ele emitiu uma risada leve e curta. -Você assustou Jack. Não acredito que eu não reparei. Eu acho que tinha muitas coisas na cabeça para contabilizar todos os detalhes para me dar conta dos detalhes- Colocou as mãos sobre os rins e arqueou as costas, estirando-se demasiadamente - Bem, eu também tenho que seguir meu caminho e está ficando tarde. Disseram-me que removeram seu gesso amanhã. Fico feliz. Você poderá começar a se mover melhor. Os olhos Avery se inundaram de lágrimas. Esse homem, que tem sido tão carinhosa com ele, e iria odiá-la, quando descobrisse a verdade. Durante as semanas da sua recuperação, inadvertidamente, tinha tornado o seu cordão umbilical. Se ele estava ciente disto, ela dependia dele para recuperar a sua saúde física e mental. E teria que recompensar a sua bondade contando-lhe três verdades terríveis: sua esposa estava morta, no seu lugar havia uma jornalista da televisão, que também sabia todos os aspectos secretos da sua vida privada, e alguém iria tentar matá-lo. Lágrimas não provocaram Tate compaixão, mas sim sua fúria. Parou de olhá-la irritado e ao fazê-lo, fixou-se na a pilha de jornais que o vento da janela desarrumou. Avery tinha solicitado as amáveis enfermeiras. Tratava-se de jornais antigos que falavam sobre o acidente aéreo. Tate assinalou. - Não compreendo suas lágrimas, Carole. Seu rosto está esplêndido. Você poderia estar morta, por amor de Deus! E Mandy também. Nós não? Você não pode se considerar uma mulher com sorte? –Arrebatou-se e respirou profundamente, controlando seu mau humor com um ato voluntário.- Desculpe, sinto muito. Não foi minha intenção magoar você. Sei que você sofreram bastante. É só que poderia ter sido muito pior. Todos nós poderíamos ter sofrido muito mais. -Pegou sua jaqueta, que usava muitas vezes com os jeans e a colocou. - Até então. Sem dizer uma palavra mais, foi embora. Durante um longo período de tempo Avery ficou olhando o umbral vazio. Entrou uma enfermeira e ajudou-lhe preparar para dormir. Tornar-se a passado da cadeira de rodas para as muletas, mas ainda não adaptava muito bem a troca. Ao se apoiar doíam suas mãos. Quando já estava sentada na cama e sozinha, estava exausta. Sentia o corpo tão cansado como espírito, no entanto, não conseguia dormir. Tentou imaginar a expressão que levaria a face da Tate quando descobrisse a verdade. Sua vida sofreria outra desordem num momento de grande vulnerabilidade. Logo que a palavra vulnerável formou-se em sua mente, Avery ficou assustada por outro pensamento novo e terrível: uma vez que fosse revelada a verdade, ela também estaria à mercê da pessoa que queria matar Tate. Por que não havia pensado nisso antes? Quando Avery Daniels, um jornalista de televisão tinha descoberto, o culpado reconheceria seu grave erro e sentiria obrigado a corrigi-lo. Ela se encontrava tão exposta ao perigo como Tate. A julgar pelo tom calculista e
mortal de sua voz, o possível assassino não hesitar nem um instante em liquidar ambos. Ela sentou na cama e observou atentamente as sombras do quarto, como se fosse enfrentar um estranho desconhecido. A batida do seu coração produziu um eco em todo o seu corpo. Deus, o que poderia fazer? Como poderia proteger? é Como poderia proteger Tate? Se fosse realmente, Carole ela... Antes mesmo que a idéia de desenvolver completamente, sua mente começou a criar impedimentos, ambos da consciência como prático. Não poderia ser executada. Tate enterraria. O assassino também enterraria. Mas se ela fosse capaz de interpretar esse papel, tempo suficiente para determinar quem era o inimigo secreto da Tate, talvez pudesse a salvar sua vida. No entanto, era inconcebível para pôr no lugar de outra mulher. E o que aconteceria com a sua vida? Oficialmente, Avery Daniels já não existia. Ninguém a procuraria. Ela não tinha marido, filhos ou família. Sua carreira estava destroçada. Devido a um erro - um terrível erro de apreciação – ela era considerada uma fracassada. Não só não tinha sido a altura de seu pai, mas também tinha falhado. Trabalhar na KTEX em San Antonio, era como se tivesse sido condenada a trabalho anos forçado. Apesar da estação gozar de uma boa reputação no mercado e mesmo que fosse eternamente grata à Irish por darlhe um trabalho enquanto ninguém estava dispostos a dar uma entrevista, o trabalho lá era comparável a um exílio na Sibéria. Estava apartada dos círculos jornalísticos que realmente importava. KTEX estava muito longe de ser um trabalho na cidade de Washington. Mas, uma história sensacional tinha caído diretamente do céu. Tinha se tornado a senhora Tate Rutledge, poderia relatar ao vivo sobre uma campanha para o Senado e a uma tentativa de assassinato deste. Não só cobriria as informações, mas também a viveria. Que melhor forma para se tornar de novo a número um? Quantos jornalistas haviam tido em sua vida uma oportunidade assim? Conhecia dezenas que dariam o braço direito para estar em seu lugar. Sorriu pobremente. Ela tinha oferecido o braço, mas sim face, o nome e a sua identidade. Salvar a vida de um homem e retornar a reafirmar em sua carreira, seria recompensa suficiente para tal indignidade. E quando finalmente soubessem a verdade, ninguém poderia acusá-la de exploração. Ela não tinha procurado essa oportunidade; ela havia sido imposta. Nem poderia estar usando o Tate. Ainda mais para restaurar sua credibilidade profissional, que queria salvar sua vida, que atualmente tinha tornado algo precioso para ela. Os riscos eram enormes, mas não conhecia nem um único jornalista de importância que não houvesse se arriscado para conseguir o reconhecimento profissional. Seu pai arriscava diariamente para estar à altura da sua profissão e seu valor foi reconhecido com um prêmio Pulitzer; se ele estava disposto a se arriscar em todas as suas matérias. Porque poderia esperar menos dela? No entanto, tinha conhecimento que precisava ser uma decisão racional. Deveria enfrentar isso de uma forma pragmática e não com sentimentalismo. Estaria assumindo o papel da esposa de Tate e tudo o que implicava nesta relação. Ela
iria viver com sua família, sendo constantemente observada por pessoas que sabiam como era Carole intimamente. A enormidade do desafio a intimidava, e ao mesmo tempo era irresistível. As conseqüências poderiam ser terríveis, mas a recompensa não teria preço. Cometeria um milhão de erros, como a de escrever com a mão errada. Agora, sempre teve a capacidade de raciocinar com inteligência. Inventaria desculpas pelos seus erros. Poderia chegar a funcionas? Seria capaz de levar a cabo? Se atreveria? Retirou as roupas de cama, tomou as muletas e chegou ao banheiro. Sob a implacável luz fluorescentes olhou sua face no espelho, comparou-a com o a de Carole pendurado na parede como uma imagem de encorajamento. A pele parecia nova, tão rosa e suave como a de um bumbum de bebê, como prometeu doutor Sawyer. Abriu os lábios e examinou a prótese dentária, que era uma duplicata de dentes de Carole Rutledge. Passou a mão no cabelo escuro, que começava a crescer. Não se via as cicatrizes, a não ser se fosse vista com uma lente de aumento. Com o tempo, todos os sinais desapareceriam, eventualmente ficaram invisíveis. Não se deu ao luxo de cair em auto-compaixão, enquanto o arrependimento e a sua ânsia pela aparência anterior feriam seu coração. Era o seu destino. Tinha um novo rosto que poderia tornar-se o passaporte de uma nova vida. Assumiria a identidade de Carole Rutledge a partir do dia seguinte. Avery Daniels não tinha nada a mais a perder.
Capítulo Onze Enfermeira satisfeita deu-lhe uma última olhada. – Você tem um cabelo maravilhoso senhora Rutledge. – Obrigado - respondeu Avery com tristeza-. Só que há pouco. Durante sete dias de ausência de Tate, tinha recuperado voz completamente. Ele estava prestes a chegar a qualquer momento; ela estava nervosa. -Não - dizia a enfermeira-, isso é o que quero dizer. Nem todos podem ter um cabelo tão curto. Está fenomenal. Avery olhava pelo pequeno espelho em sua mão, tirou a franja de sua testa e dubitativamente disse: -Assim o espero. Ela estava sentada em um sofá com a perna direita descansando num banquinho. Tinha uma muleta em sua cintura. Tinha as mãos colocadas no seu Colo. Enfermeiras estavam tão nervosas como ela própria, pela chegada iminente da Tate, após ter permanecido fora da cidade por mais de uma semana. A tinham enfeitado como a uma namorada à espera de seu futuro marido. -Ele chegou - anunciou uma delas em um sussurro, colocando sua cabeça através da porta. A enfermeira junto a Avery deu aperto sobre o ombro. -Você está maravilhosa. Ele ficará encantado. Não ficou encantado, mas sim momentaneamente surpreendido. Ela o observou
abrir um pouco mais os olhos quando ele a viu sentada no divã, vestido com a camisola de Carole que ZEE havia trazido a alguns dias. -Olá, Tate. Ao ouvir sua voz, ficou ainda mais surpreendido. Coração deu um salto. Ele sabia! Teria cometido outro erro? Carole o chamava por algum outro nome? Conteve a respiração, esperando que ele a parasse pondo o dedo em sua cara e dizendo: sua impostora mentirosa! Em vez disso, limpou a garganta com dificuldade e retornou a saudação. -Olá, Carole. Através do seu nariz perfeitamente estilizado, exalou pequenos filetes ar, porque não queria expressar o seu alívio deixando a respiração de escapar, pois a estava contendo durante tanto tempo até chegava a doer o peito. Ele entrou no quarto e com o ar distraído, deixando um envelope e um buquê de flores sobre a mesa de noite. -Está muito bonita. – Obrigado. - E você pode falar - adicionado um sorriso desconfortável. -Sim. Até quem fim. -Você tem uma voz diferente. - Já nós haviam avisado que poderia acontecer, não se lembra? -respondeu rapidamente. -Sim, mas não esperava a... - se um gesto com os dedos sobre a garganta- A ronquidão. -Talvez desapareça com o tempo. -Eu gostei. Ele não podia tirar os olhos de cima dela. Se coisas entre os dois fossem como deveria ser, ele estaria de joelhos acariciando o seu novo rosto com os dedos, como se fosse um cego, surpreendendo-se com a suavidade da pele e mostrando todo o seu amor. Com grande decepção da parte dela, Tate manteve-se a uma cuidadosa distância. Como de costume, usava jeans. Eles eram manchados com traço, mas eram antigos e suave o suficiente cobrir a parte inferior do seu corpo como uma luva. Avery não queira se perder em sua própria curiosidade feminina, e com determinação, levantou os olhos para cima da camiseta esportiva. A vista ali também era muito boa. Seu olhar era quase tão penetrante como dele. Nervosa, cobriu o peito com a mão. – Você está me olhando fixamente. Baixou sua cabeça, por apenas uma fração de segundo antes de voltar a levantála. -Desculpe. Suponho que realmente não esperava que votasse a assemelhar-se você mesma. ... Você está como antes. Exceto pelo cabelo. Um tremor de prazer abalou o corpo, porque seu disfarce tinha funcionado. -Tem frio? -O que? Como frio? Não. - tentado desesperadamente mudar o assunto - O que é isto? Ele seguiu o olhar até o pacote que tinha trazido. -Ah, são suas jóias.
-Jóias? Se desfez toda a sua alegria. O pegou com dificuldade. -As que usava desde no dia do acidente. Hospital me chamou ao departamento administrativo para me lembrar que elas continuavam no cofre. Passei lá para recolhê-las. Me esquecia sempre. – Estendendo o envelope. Avery ficou olhando o envelope como se fosse uma cobra venenosa e dava realmente medo de tocá-lo. No entanto, compreendendo que era impossível evitá-lo, o pegou -. Não tomei ao trabalho de fazer um inventário do conteúdo, mas talvez seja melhor você o fazer agora. Ela deixou cair o envelope em seus seios. -Vou fazê-lo mais tarde. -Achei que quisesse recuperar suas coisas. -Ah, sim. Simplesmente não é muito confortável colocar jóias agora. -Fechou a mão e depois a abriu devagar, estendendo os dedos-. Minhas mãos já estão quase normais, mas continua ainda doer. Penso que seria difícil retirá-los se colocasse anéis. -Seria a primeira vez que aconteceria, não é verdade? Pelo menos ao que referese a sua Aliança. As duras palavras a deixaram atônita. Notou que ele também não usava a Aliança e teve a tentação de dizer para defender Carole, mas refreou seu impulso. Se Carole tivesse removido o anel de cometer algo ilícito, como ele havia insinuado, era melhor evitar a questão por um tempo. Tate sentou-se na borda da cama. O silêncio hostil tornou-se mais profundo. Avery foi o primeiro a rompê-lo: -Saiu tudo bem na viagem? -Sim, muito bem. Foi cansativo. -Te vi quase todas as noites na televisão. As multidões pareciam ser enlouquecidas. -Todos se alegraram com os resultados obtidos. - Os analistas políticos dizem que sua vitória será esmagadora. -Assim o espero. Retornou para produzir outro silêncio, enquanto cada um deles tentava sem muito sucesso, não olhar fixamente. -É Mandy? Ser deu com os ombros, despreocupado. -Ela está bem -Avery franziu a testa hesitante – Ta certo, não tão bem. – Levantou-se e começou a andar pelo quarto, suas botas formavam pequenos sulcos no tapete - MOM em disse que ela anda tendo pesadelos. Ela acorda gritando quase todas ás noites, por vezes até mesmo quando cochila. Ela anda pela casa como se fosse um fantasma. Estendeu as mãos como se fosse pegar algo e as fechou no vazio. -Ela não se interessa sobre nada, sabe? Ninguém pode falar com ela, nem eu nem o psicólogo. -Pedi a ZEE que a trouxesse. Ela me disse que você tinha dito que não o fizesse. -Sim, é verdade. -Por quê? -Não achava uma boa idéia que ela viesse enquanto eu estava ausente.
Não insistiu mais, embora estivesse com a vontade de perguntar o porquê. Talvez provocasse outro debate e não estava preparada para isso. - Eu estou com saudade. Talvez, quando eu voltar para casa, as coisas melhorem. Seu cepticismo era evidente: - talvez. -Ela perguntou por mim alguma vez? -Não. Avery abaixou seu olhar para seu peito. -Compreendo. -Bem, e o que esperava, Carole? As pessoas devolvem na mesma moeda. Durante um tempo se confrontaram com um olhar; seguido de lei, ela cobriu os olhos com a mão. Lágrimas inundaram os olhos. Ela chorava pela menina que não tinha recebido o amor suficiente de sua mãe. Pobre pequena Mandy. Avery sabia o que significava falta de afeto por parte de um dos pais. Aquilo justificava fingir ser mãe de Mandy quando, inicialmente, havia pensado que seria melhor para Mandy saber da morte de sua mãe, o mais rapidamente possível. -Droga! -exclamou Tate em voz muito baixa. Cruzou o quarto e colocou ligeiramente a mão sobre a cabeça de sua esposa. Seus dedos acariciaram os cabelo como uma pequena massagem-. Desculpa. Não foi minha intenção fazer você chorar. Mandy melhorará, pode ter certeza. -Após alguns instantes, acrescentou-: - Talvez fosse melhor eu ir embora. - Não! -Levantado a sua cabeça. Continuando a cair as lágrimas - Gostaria que você ficasse. -Já está na minha hora. -Por favor, fique um pouco mais. – Estou cansado e de mau humor devido a viagem. Não sou muito boa companhia. -Não me importa. Ele negou-se com a cabeça. Com coragem, Avery tentou esconder sua grande desilusão. -Então eu o acompanharei. Pegou a muleta e apoiou todo seu peso sobre ela se levantou. Mas a mão nervosa e suada deslizou pela manga, fazendo ela perder o equilíbrio. -Para o amor de Deus, tenha cuidado! Os braços de Tate a cercaram. O envelope com jóias caiu ao solo, mas nenhum dos dois se deu conta. A segurou com o braço por trás e seus dedos fortes colocados nas costelas, sob a suave saída do tórax. Embora a ajudasse lentamente chegar a cama, Avery se segurou a ele, agarrando com os dedos o tecido da camiseta. Inalou seu aroma: limpa, mas de homem que gosta de ar livre; fragrância mais masculina, com uma ligeira persistência de cítricos. Sua força a inundava e o bebia como se fosse um elixir. Reconheceu, em seguida, o que tinha tentado ocultar durante os longos e sinuosos dias de sua ausência: queria tornar-se a senhora Rutledge para poder estar mais perto de Tate. Baseou-se na saudade que sentiu durante a sua viagem e o prazer que experimentou ao vê-lo entrar no quarto, na desejava ser uma razão tão válida como qualquer outro motivo. Era pelo menos igualmente forte.
Ele a ajudou se sentar na borda da cama e suavemente, acariciou o músculo da perna ferida. -Você teve fraturas múltiplas. Osso ainda não é tão forte como achava. -Suponho que não. -Tínhamos razão ao decidir o que você ficaria aqui até depois das primárias. Toda esta atividade seria demais para você. -Sem dúvida. Justificava-se sua resposta, porque, quando ZEE informou da decisão tomada sem consulta-la, nem pedir o seu consentimento, sentiu-se abandonada, como se fosse uma vergonha para a família, uma vergonha que deveria permanecer oculta, longe do público. -Tenho muita vontade de voltar para casa, Tate. Suas cabeças estavam juntas. Ela via o seu novo rosto refletido nas pupilas de seus olhos. O calor daquele homem a envolvia. Desejava que ele a abraçasse. Queria abraçá-lo. Eu queria dizer: toca-me, Tate, abraçar-me, beije-me. Por uma fração de segundos ele pareceu considerar; mas então se afastou. -Vou agora - disse bruscamente-, para que você possa descansar. Ela pegou a sua mão e a apertou com toda a força que era capaz. – Obrigado. -Pelo quê? -Por..., por flores e... por ajudar-me a retornar para a cama. -Não há de que - sem prestar a maior atenção nas palavras e removendo a mão. Ela gemeu como um animal ferido. -Por que razão você sempre rejeita minha gratidão? -Não se faça de tola, Carole - sussurrou irritado-. Sua gratidão significa nada para mim e sabe porquê. Se despediu rapidamente e saiu do quarto. Avery estava ferida. Havia esperado mais daquele encontro. Suas fantasias não pareciam nada com a dura realidade, mas o que poderia esperar de um marido que obviamente não tinha grande interesse por sua esposa? Tinha pelo menos não havia percebido a mentira. Do ponto de vista profissional, estava ainda em terra firme. Voltou ao sofá e pegou o envelope, abriu e esvaziou seu conteúdo na mão. O seu relógio de pulso já não funcionava, o vidro foi totalmente destruído. Faltava um pingente, mas não era uma grande perda. O objeto que mais importava não estava ali. Mas a onde estava a corrente? Em seguida, se lembrou. Não estava usando a corrente quando ocorreu o acidente. Estava com Carole Rutledge. Afundou-se no sofá, lamentando a perda de uma peça tão querida, mas espantouse imediatamente. Mais tarde iria lidar com seus sentimentos. Neste momento tinha de agir. Alguns minutos mais tarde, uma enfermeira levantou os olhos de sua prancheta. -Boa noite, a senhora Rutledge. Gostou da visita do seu marido? -Muito, obrigada. –Se inclinou para a enfermeira-. Tenho de pedir um favor. Seria possível você pôr isto no correio para mim amanhã? -A enfermeira leu o endereço escrito. - Por favor - insistiu Avery, antes da enfermeira pudesse fazer qualquer
pergunta. -Será um prazer - respondeu, embora fosse óbvio que o pedido parecesse estranho-. Estará no correio pela manhã. -Preferia que não mencionasse isso a ninguém. Meu marido já me acusa de ser sentimental demais. -Acordo. Avery deu várias notas, tirados da generosa quantidade que Tate tinha deixado com ela antes de viajar. -Aqui tem dinheiro suficiente para os selos, penso. Obrigado. Aquilo representava outra ruptura com Avery Daniels. Retornando para o quarto atribuído para a senhora Carole Rutledge.
Capítulo Doze De meias, Irish McCabe se dirigiu a geladeira em busca de outra cerveja. Abriu a lata e enquanto bebia a espuma que aparecia no topo, olhou no congelador para ver que poderia fazer para jantar. Ao não encontrar nada seria melhor do que a fome, decidiu passar sem qualquer comida e continuar a tomar a cerveja. De volta a sala, pegou a pilha de cartas que tinha deixado na mesa de sala. Enquanto assistia distraidamente, uma partida de futebol na televisão, ordenou a correspondência, lançando de lado os anúncios e faturas. -Olha isso! Se juntaram todas as rugas escondidas sobre as sobrancelhas quando chegou ao envelope grande. Não havia qualquer remetente, mas o carimbo postal era da cidade. Abriu o envelope ao pôr o dedo na guia, colocar-lhe a cabeça para baixo e deixando o seu conteúdo cair sobre seu colo. Respirou profundamente e fez um movimento de rejeição, como se algo desagradável tivesse caído sobre ele. Ficou olhando fixamente para as jóias enquanto seus pulmões estavam tentando recuperar a respiração e seu coração deixasse de bater tão vigorosamente. Demorou alguns minutos para se acalmar o suficiente para examinar o relógio destruído. Tinha imediatamente reconhecido, como o de Avery. Com prudência, pegou o brinco de ouro que ele tinha visto adornando os ouvidos de Avery. Levantou-se rapidamente e cruzou a sala para um ambiente de trabalho que quase nunca usada, exceto para se esconder. Abriu uma pequena gaveta e tirou o envelope entregue no necrotério no dia que você identificou o corpo de Avery. “suas coisas”, disse o legista se desculpando. Lembrou de ter colocado a corrente no envelope sem sequer olhar dentro dele. Até aquele momento não tinha sentido vontade de olhar e tocar em seus pertences pessoais. Era supersticioso, e colocar suas mãos nas coisas de Avery era tão desagradável quanto como roubar túmulos. Tinha esvaziado seu apartamento, pois o proprietário tinha exigido. Não ficou com nada, exceto para algumas fotografias. Suas roupas e outros objetos utilizáveis
foram doados a diferentes organizações caridades. A única peça que parecia a Irish valer a pena guardar, foi a corrente que serviu para identificar o cadáver. Seu pai o dera quando era uma menina, e Irish não lembrava de ver Avery sem ele. Abriu o envelope que tinha sido na sua área de trabalho durante todo esse tempo e ele solto o conteúdo sobre a desordenada mesa. Junto a corrente de Avery, tinha algumas peças de diamantes, relógio de ouro, duas pulseiras em forma de aros e três anéis, dois dos quais formaram uma Aliança matrimonial. A terceira era um monte de safiras e diamantes. Todos juntos, valiam muito mais do que as jóias Avery, mas para Irish McCabe não tinham nenhum valor. Obviamente, peças pertenciam a alguma das outras vítimas, talvez mesmo um dos sobreviventes. Por que ninguém as estavam procurando? Foi lamentada a perda? Ele deveria investigar o assunto e tentar devolvê-las para seu proprietário. Neste momento, na única coisa que poderia pensar eram as jóias de Avery: relógio de pulseira e o brinco que acabaram de enviar para a sua caixa postal. Quem os enviou? Por agora? Aonde haviam estado durante todo este tempo? Examinou o envelope, procurando alguma pista sobre o remetente. Não havia nada. Não parecia ser proveniente de um órgão municipal. As letras escritas em letras maiúsculas no envelope pareciam insegura, quase infantil. -Como quem demônios...? – Perguntou ao apartamento vazio. Ele pensava que já havia superado a dor da perda de Avery, mas não era assim. Ele deixou fortemente sobre o divã e ficou olhando fixamente a corrente com os olhos cheios de lágrimas. Colocou-o, entre os dedos como se fosse um talismã que milagrosamente poderia fazê-la aparecer. Mais tarde tentaria resolver o mistério de como jóias tinham sido trocadas com os pertencentes de outra vítima. Neste momento, eu queria era afogar-se em sua dor. -Não vejo por que não. -Tenho dizer porquê. -O que há de errado em que eu o acompanhe a Corpus Christi, quando for esta semana? -É uma viagem de negócios. Vou ser ocupado preparando os comícios de Tate. A face da Fancy adotou um gesto de mal humorado. -Se quisesse realmente, deixaria que eu fosse. Eddy Pascoal a observou de relance. -Suponho que isso já dá a resposta. Apagou as luzes da sede da campanha. O local estava localizado em um centro comercial e anteriormente era uma loja de animais. O aluguel era barato. A localização central e com fácil acesso de qualquer lugar na cidade. A única desvantagem era o cheiro a animais mantidos em gaiolas. -Por que me trata tão mal, Eddy? -gemeu Fancy, enquanto ele utilizada a chave para fechar bem o portão. -Por que é tão pesada? Atravessaram juntos o estacionamento até o carro, um prática Ford sedan que ela não conhecia. Ele abriu a porta de passageiros. Ao entrar, ela aproveitou para se roçar com a parte frontal de seu corpo. Enquanto Eddy deu a volta no carro para se sentar no banco do condutor, Fancy
ficou olhando o seu recente corte de cabelo. O barbeiro tinha cortado muito curto. Ocupando o topo na lista de "queixas" eram, primeiro o carro e, em segundo lugar, o barbeiro. Homem se colocou ao volante e deu partida no motor. Ar condicionado ligou automaticamente, e o interior do carro foi invadido com um ar quente e úmido. Eddy feita uma concessão a sua aparência de “homem recém saído da ducha” e afrouxou a gravata e desabotoou os botões da a camisa. Fancy também tentou ficar confortável. Desabotoando a blusa até a cintura e então brincando, abrindo e fechando o traje e oferecendo Eddy uma excelente visão de seus seios se quisesse aproveitá-lo. Se irritou um pouco mais ao ver que o seu interesse era nulo. Estavam manobrando o carro no cruzamento que conduzia a rampa e posteriormente a estrada. -Você é gay, ou o que? – o espetou com mau humor. Ele deu uma risada. -Porque assim perguntas? -Porque, se deu desse a metade do que te ofereço á outros caras, eu ficaria todo tempo deitada de costas. -Por como você me diz sei o que você faz – E voltou a olhá-la de soslaio-. Ou é o que é só sabe falar? Aos olhos azuis dos Fancy ficaram arregalados, mas era muito inteligente para se cansar. Em vez disso, se espreguiçou no assento do carro com preguiça sinuosa de um gato e pediu maliciosamente: -Por que não comprova você mesmo, Senhor Pascoal? O homem negou com a cabeça. -Tem uma malcriada incorrigível, fancy, você sabe?Deveria saber - respondeu com despreocupação, enquanto o atusaba adorados sorrisos loiros-. É o que disse-me toda a gente. Movendo para o ar condicionado, que expulsava agora um ar gelado. Tirou o cabelo de pescoço e refrescara de ar frio a pele, que apareceu cheia de suor. -? Você é? -Se eu sou o que? -Gay. -, Não, eu não sou. Ela levantou e inclinou seu corpo sobre ele. Com as mãos continuava a mexer nos cabelos, o que realçava seus peitos. Ar frio tinha endurecia seus mamilos, que se sobressaia por debaixo do tecido de blusa. -Então como você pode resistir aos meus encantos? Atrás havia ficado a caravana de tráfego da estrada e se dirigiam na direção Noroeste para o Rancho. Eddy revistou o corpo com um olhar lento, fixando todos os detalhes sedutores. Ela produzia certa satisfação ver o movimento garganta subindo e descendo devido a dificuldade que tinha de engolir. -Você é uma menina muito bonita, Fancy. -Seus olhos momentaneamente se colocam nos peitos, onde os mamilos escuros e eretos eram encarados sob a camisa-. Uma mulher muito bonita. Ela diminuiu lentamente os braços, deixando o cabelo cair-lhe por todo o rosto e ombros. -Então?
-Você é a sobrinha do meu melhor amigo. - E? -Que, você me está proibida. -Que idiota você é! Você é um puritano, Eddy, que é o que você é. Um conservador. Um gazmoño de mojigato. Ridículo. -Ao seu tio Tate não pareceria ridículo. Nem ao seu pai ou ao seu avô. Se eu tocasse em um fio de seu cabelo, qualquer um deles ou três, me perseguiriam com uma espingarda. Fancy o braço por cima do e acariciou a coxa com o dedo, sussurrando: - E não parece divertido? Ele retirou a mão e a devolveu ao seu lugar. -Não, eu não sou burro. Caiu derrotada no seu lugar, aborrecida e dedicou-se a observar a paisagem. Esta manhã havia deixado de propósito seu carro no Rancho e viajou para San Antonio com seu pai, com a idéia de ficar até tarde e conseguir retornar com Eddy. Meses de insinuações sutil não tinham levado lugar nenhum. Dado que a paciência nunca foi uma das suas virtudes, tomou a decisão acelerar o ritmo de sua perseguição. Buck, as Botas; Em menos de um mês tornara-se uma pessoa possessiva e ciumenta. Em seguida, foi para cama com o homem responsável pelo extermínio de formigas. Esse caso durou até que ela descobriu que ele era casado. O que realmente a desagradava não era seu Estado civil, mas sentimento de culpa após o sexo, do que mal humoradamente tomava conta dela. O remorso elimina todo o prazer do sexo. Após o exterminador, houve vários outros homens, mas não era mais de diversões para passar o tempo até Eddy de rendesse. A esperava a estava cansando. Na verdade, foi começando a cansa totalmente. Os últimos três meses haviam quase terminado com suas reservas de bom humor. Até em algumas ocasiões começava a invejar a sua tia Carole, que sendo o centro de todas as atenções. Enquanto Fancy gastava horas infindáveis fechando envelopes e fazer pesquisas telefônicas naquele barulhento, sujo e malcheiroso escritório, lotado de pessoas que vinham para contribuir com apenas dez dólares, e a Carole tratavam como uma Rainha nesta cara clínica privada. Mandy era outra pedra em seu sapato. Aquela menina, malcriada desde o primeiro dia, estava ainda mais insuportável desde o acidente de avião. Não fazia nem uma semana que vovó tinha repreendido duramente Fancy quando ele discutiu com a prima menor por ter comido todas as bolachas. Na opinião de fancy, faltava um parafuso na menina. Olhar vazio era bastante fantasmagórico. Ela estava se tornando um robô, todavia, todos beijavam o seu rabo. Por outro lado, seu pai perdeu todas as estribeiras na última vez que ela foi multada por excesso de velocidade e ameaçou tirar o carro se ela voltasse a ser multada. Disse, ainda, que teria de pagar a multa com seu próprio dinheiro. Claro que as ameaças de seu pai nunca se tornavam realidade, mas seus gritos a deixavam realmente nervosa. Não acreditava que seu tio fosse candidato a essas eleições. Pelo comportamento de todos, diria que seu tio se candidataria a Presidente da nação. Venceu por maioria absoluta, coisa que não a impressionou em nada. Não conseguia compreender por que gastaram uma boa quantidade de
dólares para pagar um analista político, quando ela poderia anunciaram-lhes os resultados meses atrás e de graça. O sorriso de seu tio fazia as mulheres suspirarem. Não tinha qualquer importância, o que dizia nos seus discursos; mulheres votavam nele porque ele era bonito. Mas alguém a tinha perguntado alguma coisa? Não. Ninguém perguntava a sua opinião nunca. No entanto, o futuro parecia bem apresentado. Superou favoravelmente primárias, Eddy não teria muitas distrações. Sua mente estaria mais clara e ele poderia pensar nela. Em princípio, confiou no sucesso do seu projeto, mas já não estava tão segura. O homem fugia de suas seduções com mais habilidade que fosse capaz de qualquer homem. Tal como ele a via, nem sequer estava perto de sua meta. Virou a cabeça para olha fixamente. Por fora, pelo menos parecia estar tão tranqüilo. Ela poderia ser mais feia do que a verruga de uma bruxa, a julgar pelo que ele estava fazendo. Talvez fosse a hora de jogar a prudência de lado, deixar de pisar em ovos e embora apenas servisse para isso, dar um bom susto ao Sr. Atildado. -O que você acha que uma chupada? Movendo-se uma calma estudada Eddy colocou seu braço direito por trás do banco. -Pensando bem gostaria, só se for agora. Ela ficou vermelha como um tomate e apertou os dentes. -Não se atreva a me tratar com condescendência, filho da puta. -Então pare de se oferecer como se fosse uma prostituta barata. As palavras baixas, não me excitam e tão pouco deixar os seios a mostra. Não estou interessado, fancy, e este seu jogo infantil está a começar a cansar. -Você é um maricas. Ele ria. -Criar no que quiser, só para salvar seu orgulho. -Isto é o que faz, você dorme com outra pessoa, porque não é normal que um homem fique tanto tempo sem transar. – Cercou-o novamente e agarrou sua camisa pela manga. - Com quem você se deita, Eddy, com alguém que trabalha na sede? -Fancy... - Com a ruiva, aquela que não tem nenhuma bunda? Por isso, aposto que é ela! Ela é divorciada, segundo dizem e é certamente muito quente. -Se agarrou mais energicamente na sua manga-. Por que têm de transar com uma velha como ela, se você poderia fazer comigo? Parou o carro na entrada circular perante a casa. A agarrou pelos ombros e a agitou. -Porque eu não me deito as crianças, especialmente as que abrem as pernas antes do Galo de dizer, que vêm! A raiva só conseguiu aumentar o desejo de Fancy. As paixões de qualquer tipo a excitavam grandemente. Soltando fogo pelos olhos, abaixou a mão e o acariciou na braguilha com a palma da mão. Seus lábios mostravam um sorriso de satisfação. - Mas, vamos, Eddy, amor - sussurrou sensualmente-. A sua arquitetura é dura. Amaldiçoando-a, afastou-se e saiu do carro.
- E no que se refere a você, assim permanecerá. Fancy ficou o tempo necessário para abotoar a blusa e arrumar-se antes de entrar na casa. A luta tinha resultado em empate. Não havia ido para a cama, mas ele a desejava. Este pequeno passo á frente a animaria um pouco... Mas não indefinidamente. Chegando a porta que dava a ala de sua casa, apareceu a sua mãe. Dorothy RAE caminhava ereta, mas tinha olhos ligeiramente vidrados por causa dos efeitos de vários copos. -Olá, Fancy. -Vou a Corpus Christi por alguns dias - anunciou. Se Eddy se recusa a levá-la, iria surpreendê-lo aparecendo na cidade-. Vou de manhã, dê-me um pouco de dinheiro. -Não pode ir agora. O punho Fancy encontrou apoio no seu lindo quadril. Seu olhos semi-cerraram como costumava ocorrer quando seus desejos não eram atendidos imediatamente. - E porque não? -Nelson disse que tínhamos de estar todos aqui - respondeu à sua mãe - Carole volta para casa amanhã. -Droga! -murmurou Fancy-. Justo o que me faltava.
Capitulo Treze. Viu-o no espelho. Sentada no pequeno tocador de seu quarto na clínica, Avery olhou a Tate diretamente nos olhos ao vê-lo entrar. Sustentaram esse olhar enquanto ela colocava com lentidão a maquiagem sobre a superfície espelhada da mesa. A seguir, virou-se e olharam-se cara a cara. Ele lançou o abrigo e várias carteiras de grandes armazenes sobre a cama, sem deixar de olhá-la. Com as mãos fortemente apertadas sobre seu peito, Avery sorriu nervosa. -A incerteza está me matando. -Está linda. Ela se umedeceu os lábios, que já brilhavam graças ao batom. -O maquiador veio esta manhã e deu-me umas lições. Faz anos que me maquilo, mas pensei que seria melhor que me dessem algumas aulas. Ademais, a consulta está incluída no preço do quarto. Voltou a sorrir. Em realidade, o que queria era uma desculpa para melhorar a forma de maquiarse de Carole, que, em opinião de Avery, resultava exagerada. -Tenho utilizado uma técnica nova. Parece-te que me fica bem? Levantou a cara para que ele pudesse a estudar melhor. Apesar de não querer se acercar bem mais, o fez. Pôs as mãos sobre os joelhos, inclinou-se sobre ela e lhe examinou o rosto cuidadosamente.
-Nem sequer vêem-se as cicatrizes. Nada. É incrível. -Obrigado. Dedicou-lhe o clássico sorriso que uma mulher oferece a seu carinhoso marido. Exceto que Tate nem era seu marido nem carinhoso, pois se levantou e lhe deu as costas. Avery fechou os olhos momentaneamente, tentando dissimular seu desanimo. Tinha descoberto que não era um homem dado a perdoar. Ele Havia perdido toda a confiança em Carole, que se confiasse nela ia resultar uma batalha difícil. -Está se acostumando a meu novo aspecto? -Pouco a pouco. -Há diferenças -comentou, em um tom inseguro. -Pareces mais jovem. -Olhou-a rapidamente acima do ombro e baixinho acrescentou- E mais linda. Avery levantou-se do tocador e dirigiu-se para ele. Posou uma mão sobre seu braço e obrigou-o a dar a volta. -Para valer? -Sim. -Mais linda? Em que sentido? Igual que se tinha descoberto sua incapacidade para perdoar, também conhecia a grande habilidade que tinha para controlar o mau humor. Nesses momentos estava-o provocando. Seus olhos cintilavam, mas Avery não se rendeu. Sentia-se obrigada a conhecer as diferenças que existiam entre ela e Carole. Investigação, disse-se a si mesma. Tate blasfemou com impaciência, arrumando os cabelos. -Não o sei. Simplesmente estás diferente. Talvez seja a maquiagem, o cabelo..., não o sei. Estás bem, vale? Podemos deixá-lo assim? Estás... -Baixou a vista e voltou a olhar à cara. A seguir, examinou seu corpo e parou o olhar-. Estás bem. Meteu a mão no bolso de sua camisa e extraiu uma nota escrita a mão-. Mamãe e eu te compramos as coisas que nos pediste. –Olhou as sacolas e leu a lista de objetos-. O perfume em pulverizador Ysatis. Não tinham as coisas de banho que querias. -Já as comprarei mais adiante. -Meias. É este a cor que querias? Disseste bege claro. -Está bem. -Remexeu nas sacolas, localizando os objetos à medida que ele os enunciava. Extraiu da caixa a garrafa de perfume, abriu-a e aspergiu-se no punho com o borrifador-. Olha, cheira. Colocou o punho contra sua bochecha, de maneira que ele se viu obrigado a voltar a cabeça para cheirar. Ao fazê-lo, seus lábios roçaram o antebraço. Imediatamente olharam-se. -Muito bom -disse, e tirou o rosto antes de que Avery tivesse tempo de baixar o braço-. Uma camisola com mangas. -De novo interrogou-a-: Desde quando tens começado a te pôr algo para dormir, e menos algo com mangas? Avery, cansada de estar à defensiva, contestou irada: -Desde que sobrevivi a um acidente de avião e acabei com queimaduras de segundo grau nos braços. Tate, com a boca aberta e a ponto de replicar, decidiu não o fazer. Voltou ao último objeto da lista e leu:
-Sutiã nº 34. -Desculpe-me. Ela tirou a peça da sacola, retirou as etiquetas e voltou ao dobrar. Os sutiãs que lhe tinham levado dos seios de Carole resultaram ser demasiado grandes. -O que você acha? -Ter diminuído um número. -Em que isso pode me afetar? A Avery, o desprezo de seu semblante fez-lhe desviar o olhar. -Em nada, suponho. Esvaziou as sacolas e colocou os objetos junto às coisas que tinha disposto para pôr ao dia seguinte. As peças que Zee e Tate tinham levado do armário de Carole lhe iam bastante bem. Elas só eram um pouco grandes. Evidentemente, Carole tinha os peitos e as cinturas mais cheias e com mais curvas, mas Avery justificou sua perda de importância pela dieta líquida seguida durante tanto tempo. Inclusive iam-lhe bem os sapatos de Carole. Sempre que era possível mantinha os braços e as pernas tampados, preferindo calça às saias. Temia que a forma de suas coxas e os tornozelos a delatassem. Até esse momento, ninguém tinha comentado nada. Para os Rutledge, ela era Carole. Estavam convencidos. Ou não? Por que não tinha voltado a falar com ela o que conspirava com Carole? Essa preocupação era tão persistente como um mosca zumbia continuamente na cabeça. Ao pensá-lo, morria de medo, de forma que se concentrou mais na personalidade de Carole, fazendo um esforço para evitar todos os erros que pudessem a delatar. Por enquanto, tinha tido sorte. Não era consciente de ter cometido nenhum erro terrível. Agora que a partida era iminente, estava nervosa. Ao conviver de baixo do mesmo teto que os Rutledge, especialmente com Tate, aumentariam as oportunidades de cometer erros. Ademais; apareceria de novo como a esposa de um candidato ao Congresso e estaria obrigada a enfrentar os problemas relacionados com aquele assunto. -Que vai ocorrer manhã, Tate? -Eddy disse-me que te preparasse. Senta-te. -Isso parece ser sério - caçoou uma vez se sentaram um em frente ao outro. -O é. -Tens medo de que meta o pé pelas mão na frente da imprensa? -Não, mas posso te garantir que eles sim cometerão alguma imprudência. Como era uma crítica a sua profissão, se ofendeu: -Como, por exemplo, que? -Te farão centos de perguntas pessoais, examinarão teu rosto, buscando cicatrizes; esse tipo de coisas. Seguramente te farão mais fotos amanhã que durante toda a campanha eleitoral. -Não lhe tenho medo às câmeras. Tate sorriu irônico. -Já o sei. Só que amanhã, quando sair de aqui, te atormentaram. Eddy tentará controlá-lo tudo, mas, já sabes, estas coisas têm tendência a ser caóticas. -Meteu
a mão de novo no bolso da camisa, sacou outro pedaço de papel e deu a Avery. Memorize isto esta noite. É uma breve declaração que Eddy escreveu para que a lesse. Terá um microfone preparado. Que ocorre? -Isto. -Agitou o pedaço de papel diante de seus narizes-. Se eu ler isto, acharão que sou uma atrasada mental. Ele suspirou e se esfregou a testa. -Eddy temia que dissesse isso exatamente. -Qualquer pessoa que ouça estas palavras achará que o acidente afetou mais a meu cérebro que a meu rosto. O mais pintado suporá que me encerraste em um hospital até que recuperasse a sensatez, como algo tirado de Jane Eyre. Manter à esposa mentalmente doente... -Jane Eyre? Você começou a ler. Durante um momento ficou cortada, mas replicou rapidamente: -Vi o filme. Em qualquer caso, não quero que as pessoas pensem que tenho uma disfunção cerebral e que tudo o que digo tenho que escrever de antemão. -Simplesmente não fale besteiras, OK? -Conheço bem a língua inglesa, Tate - disse aborrecida-. Sou capaz de juntar mais de três palavras em um dado momento e me comportar em público. Rasgou a folha ao meio e atirou-a ao chão. -Aparentemente Você se esqueceu do incidente em Austin. Não podemos nos permitir erros como aquele Carole. Como não conhecia o erro cometido por Carole em Austin, não pôde se defender nem se desculpar. De todo modo, não devia esquecer que Avery Daniels tinha experiência falando ante as câmeras de televisão, que estava bem versada no campo dos meios de comunicação; e, evidentemente, o mesmo não podia se dizer de Carole Rutledge. Com voz mais tranqüila, retificou: -Sou consciente do quanto são importantes todos os atos públicos a partir de agora até o mês de novembro. Tentarei comportar-me adequadamente e vigiar minhas palavras. -Sorriu arrependida e recolheu os pedaços do papel rasgado Inclusive memorizarei este insultante discurso. Quero fazer o que mais te convenha a ti. -Não te molestes em ser amável comigo. Se de mim dependesse, nem sequer permitiria que fizesses estas declarações. Eddy acha que deves fazê-lo para aliviar a curiosidade do público. Jack e papai estão de acordo com ele. De maneira que é para comprazer-lhes a eles, não a mim. Pôs-se em pé. Avery levantou-se rapidamente. -Como está Mandy? -Igual. -Disseste-lhe que regressarei a casa amanhã? -Escutou-me, mas é difícil saber o que estava pensando. Preocupada pela falta de melhora no estado da menina, Avery pôs-se uma mão na base do pescoço e esfregou-lho pensativamente. Tate lhe roçou a mão. -Isso me recorda algo. -Dirigiu-se à americana, que continuava aos pés da cama, e sacou algo de um dos bolsos-. Já que o hospital fez-se um favor de perdeu tuas jóias, Eddy tem pensou que seria melhor que nós comprássemos outra aliança.
Disse que todos os votantes quereriam te ver com uma. Não lhe tinha mentido exatamente. Quando Tate perguntou pelas jóias, lhe contou que, ao abrir o envelope da caixa forte do hospital, encontrou as jóias de outra pessoa, não as de Carole Rutledge. «Dei-lho a uma das enfermeiras para que se fizessem cargo de isso», lhe disse, e ele perguntou então: «E onde estão as tuas?» Ao que ela contestou: «Deus sabe. Suponho que se trata de um desses equívocos difíceis de explicar. Fala com a companhia de seguros.» Tate estava extraindo um singelo aro de ouro de uma caixinha forrada de camurça e comentou: -Não é tão elegante como a outra, mas serve. -Gosto - disse Avery quando se colocou do anel no dedo. Viu que ele levava um aro que fazia jogo com o seu. Ela segurou a sua mão e pronunciou seu nome em um sussurro. Inclinou a cabeça sobre as mãos unidas, seguras entre seus peitos. Inclinou-se ainda mais e, com maciez, beijou os anéis. -Carole -protestou ele, tentando libertar a mão-. Não o faças. -Faz favor, Tate. Quero te agradecer por tudo o que tens feito por mim. Por favor, deixa-me que o faça. – Ela suplicou que aceitasse sua gratidão-. Teve muitas vezes, inclusive desde o princípio, quando recobrei a consciência, em que quis morrer. Seguramente poderia tê-lo conseguido se não tivesse sido por todos os ânimos que me deste. Tens sido... -Se engasgou e não fez nenhum esforço por segurar as lágrimas que lhe caíam pelas bochechas-. Tens sido uma maravilhosa fonte de valor durante todo este tempo. Obrigado. Falava com o coração. A cada uma das palavras era verdade. Seguindo o impulso de suas emoções, chegou-se a ele de pontinhas di pé e lhe roçou os lábios com os seus. Ele retirou a cara. Avery ouviu-lhe tomar fôlego surpreendido. Vacilou por um momento enquanto olhava-a de acima abaixo. E então Tate inclinou a cabeça e seus lábios entraram brevemente em contato, ligeiramente, quase sem tocar-se. Ela acercou mais o corpo, tentou chegar até seus lábios e disse em voz muito baixa: -Tate, beije-me, por favor. Com um pequeno gemido, Tate uniu seus lábios. Rodeou-lhe as costas com o braço e a puxou para ele. Desentrelaçou os dedos, posou a mão sobre sua garganta, acariciou-a com o polegar e enquanto, com a língua, brincou a tentar colocá-la entre seus lábios. Ao colocá-la o fez até o fundo. De repente, interrompeu o beijo e levantou a cabeça. -Que demo...? Totalmente abraçados olhou-a diretamente aos olhos. Ainda que tentando se apartar dela, não deixava de lhe olhar os lábios. Fechou os olhos, negou com a cabeça algo que não podia se explicar e voltou a colar sua boca à dela. Avery devolveu-lhe o beijo, libertando todo o desejo que tão secretamente tinha alimentado durante aqueles últimos meses. Suas bocas uniram-se plenas de desejo e excitação. Quanto mais conseguia ele dela, mais queria ele e mais queria lhe dar ela. Com a mão na cintura dela, a atraiu para seu membro ereto. Avery se arqueou contra ele, levantou as mãos até seu pescoço e lhe fez baixar a cabeça,
desfrutando da mistura de texturas que apalparam nas pontas de seus dedos: o cabelo, a roupa, a pele. E naquele momento acabou-se tudo. Apartou-a e separou-se vários centímetros. Agoniada, viu-o esfregar-se a boca com o revés da mão, tentando apagar seu beijo, e emitiu um breve som lastimável. -Não funcionará, Carole - disse em tom cortante-. Não conheço este novo jogo que inventaste, mas até que aprenda as normas, me nego a participar. Sinto o que te ocorreu. Dado que és minha esposa legal, fiz o que considerei meu dever. Mas não tem nada que ver com meus sentimentos. Não mudou em absoluto. Entendeu? Não mudou nada. Pegou seu desporto americano, colocou em cima do ombro e saiu do quarto sem dirigir-lhe um só olhar. Eddy saiu para o pátio. Os raios de sol primaveril haviam feito florescer as plantas. Os arbustos de adelfas floresciam em vasos de cerâmica ao redor da piscina. As rosas cobriam as parterres. Mas era noite nessa altura e os botões tinham fechado na ausência de luz solar. O pátio estava iluminado por luzes colocadas no chão entre plantas. Produzindo sombras altas e finas em paredes de estuque da Casa Branca. -Que estás fazendo aí fora? -perguntou Eddy. O solitário, afundado em uma rede, contestou secamente: -Pensando. Pensava em Carole, no aspecto de seu rosto refletido no espelho ao entrar na habitação. Resultava incandescente. Lhe resplandeciam os olhos, como se sua chegada significasse algo especial para ela. Decidiu que era uma boa comédia. Durante uns momentos insensatos chegou inclusive a cair em suas garras. Que imbecil. Se simplesmente tivesse saído da habitação, se não a tivesse tocado nem a beijado, nem desejado que as coisas fossem de outra forma, não estaria nesse momento tratando mau a seu amigo, agarrado a uma garrafa de whisky e acabando com batalha perdida contra uma ereção que se negava a desaparecer. Irritado consigo mesmo, pegou a garrafa de Chivas Regal e verteu um pouco mais sobre os cubos de gelo que descansavam no fundo do copo. Eddy sentou-se em outra rede perto de Tate e contemplou-o preocupado. Tate, ao ver que o observava com uma olhada franca e crítica, disse: -Se não gostas o que vês, vai a outro lugar. -Vá, vá, estamos de mau humor, eh? Ele estava excitado e desejando a uma esposa infiel. A infidelidade poderia chegar a perdoá-la, um dia, mas não o outro. Nunca perdoaria o outro. -Tens visto a Carole? -perguntou Eddy, adivinhando a causa do mau humor de Tate. -Sim. -Deste-lhe as declarações que tem que ler? -Sim. Sabes o que fez? -Disse-te que tas metesses por aí? -Mais ou menos. Rasgou a folha ao meio. -Escrevi-o por seu próprio bem.
-Diga-lhe tu. -A última vez que lhe disse algo por seu próprio bem, me chamou filho da puta. -Esta noite ficou a ponto de desejar o mesmo. –Quer ela acredite ou não, irá encontrar com a imprensa pela primeira vez após o acidente vai ser uma dureza, inclusive para uma mulher tão dura como Carole. Ainda que só seja pela curiosidade estarão frenéticos. -Já lhe disse isso, mas não gosta de receber conselhos não solicitados nem que lhe ponham palavras na boca. -Bom - disse Eddy, esfregando-se a nuca calmamente-, não te preocupes até que não chegue o momento. Seguramente ficará bem. -Parece confiar em que assim será. -Bebeu um gole de whisky e, depois, agitou o copo entre as palmas das mãos, enquanto observava a uma mosca lançar-se de forma suicida sobre um dos focos situados entre os arbustos-. Está... Eddy inclinou-se para diante. -Está que...? -Demônios, não o sei - murmurou Tate-. Diferente. -De que maneira? Para começar, estava diferente, mas isso não disse a seu amigo. -É mais suave. Agradável. -Agradável? Soa-me a mim como se tivesse protagonizado uma pataleta esta noite. -Sim, mas esta é a primeira. O acidente e todo o que ocorreu a tem serenado um pouco, creio. Parece mais jovem, mas comporta-se como uma pessoa bem mais madura. -Dei-me conta disso. É compreensível, não te parece? Carole de repente deu-se conta de que é mortal. -Eddy ficou olhando fixamente ao solo de terraço abaixo de seus pés-. E, pessoalmente, como estão as coisas entre vocês? -Tate jogou-lhe uma mirada feroz-. Se não é assunto meu, mo dize. -Não é assunto teu. -Estou a par do que ocorreu em Forte Worth na semana passada. -Não sei de que demônios me estás falando. -A mulher, Tate. -Tinha muitas mulheres por aí. -Mas só uma te convidou a sua casa após o comício. Pelo menos, só uma que eu saiba. Tate esfregou as sobrancelhas. -Deus meu, não se te escapa nada, verdade? -Não quando se refere a ti. Não até que saias eleito senador. -Bom, pois fica-te tranqüilo. Não fui. -Já o sei. -Então, por que o mencionas? -Quiçá deverias ter ido ao seu quarto. -Tate soltou uma breve gargalhada de surpresa-. Tinhas vontades? -Quiçá. -Sim que você tinha vontade – disse Eddy, contestando a sua própria pergunta És humano. Tua mulher leva meses incapacitada, e inclusive antes que ocorresse tudo isto...
-Você se engana, Eddy. -Todos os membros da família sabem que as coisas não vão bem entre vocês. Eu me limito a falar do óbvio. Sejamos sinceros. -Tu podes ser sincero. Eu me vou para a cama. Eddy segurou-o pelo braço dantes de que pudesse se levantar. -Pelo amor de Deus, não se aborreça comigo e se vá com este mau humor. Estou tentando fazer-te um favor. -Esperou uns instantes, para dar tempo a Tate de controlar a sua ira-. A única que disse é que faz muito tempo que não tens relações sexuais acrescentou em tom tranqüilo-. A privação faz que fique nervoso e irritadiço, e isso não é bom para ninguém. Se todo o que precisas para recuperar o bom humor é um grande idiota, devia saber. -E tu de que farás? -perguntou Tate, arriscando-se-. Me arranjar uma mulher? Eddy pareceu ficar decepcionado. -Há formas de fazê-lo com discrição. -Você contou isso a Gary Hart. -Ele não era inteligente. -E tu o és? -Já podes estar seguro disso. -Sabes o que diria papai se te ouvisse me fazer esta oferta? -Ele é um idealista - contestou Eddy com despreocupação -. Nelson crê-se realmente o da maternidade e o pastel de maçã. Moralidade é seu segundo apelido. Eu, na verdade, sou um realista. Nos esmeramos bem, mas, embaixo de todos nossos gestos, o homem segue sendo um animal. Se precisas transar e tua mulher não te quer, pois te vais à cama com outra. – Para finalizar este cruel resumo, Eddy encolheu-se de ombros eloqüentemente-. Em uma situação como a tua, Tate, um pouco de infidelidade matrimonial resultaria benéfica. -Que te faz supor que preciso um transa desesperadamente? Eddy sorriu e pôs-se de pé. -Vi-te em ação, recordas? Há um gesto tenso ao redor de tua boca, o qual significa que faz tempo que não libertas tua tensão nervosa. Reconheço esse mau humor. Pode até ser candidato as eleições, mas segues sendo Tate Rutledge. O pênis não sabe que deve se comportar como um menino bom até após as eleições. -Estou jogando todo meu futuro nestas eleições, Eddy. Tu o sabes. Estou a ponto de fazer realidade meu desejo de ir a Washington como senador. Achas que seria capaz de arriscar esse sonho por vinte minutos de infidelidade matrimonial? -Não, suponho que não - reconheceu Eddy com um tímido suspiro-. Só tentava ajudar. Tate pôs-se de pé e ofereceu-lhe um sorriso. -O próximo que vais dizer é para que serve os amigos? Eddy riu-se entre dentes. -Algo tão falado? Estás caçoando? Dirigiram-se para a porta principal da casa. Em um gesto de companheirismo, Tate passou um braço pelos ombros de Eddy. -És um bom amigo. -Obrigado. -Mas Carole tinha razão em uma coisa.
-Em que? -És tonto. Rindo-se juntos, entraram na casa.
Capítulo catorze Avery pegou um óculos de sol. -Penso que se ele seria melhor não colocá-los - acreditava Eddy-. Não queremos pensem que estamos escondendo algo. - De acordo. – Os tirou e os colocou dentro do bolso de casaca de seda que fazia par com as calças - Estou bem? – Perguntou nervosa a Tate e Eddy. Eddy levantado o polegar e disse: -Impactante. -A piada muito ruim - comentou Tate com um sorriso. Avery passou a mão pelo curto cabelo da nuca. -Que meu cabelo...? - Muito elegante - tranqüilizou-a Eddy. Depois, juntou as mãos e esfregou vigorosamente as palmas-. Bom, já fizemos os abutres esperar bastante. Vamosnos. Juntos, os três saíram da habitação pela última vez e percorreram o corredor até a entrada. Já se tinham despedido dos empregados, mas ao passar pela enfermaria ouviram desejos de boa sorte. -Uma limusine? -estranhou-se Avery quando chegaram à fachada de vidro fumê do edifício. A horda de jornalistas ainda não podia os ver, mas ela distinguia claramente o que tinha no exterior. Um cadillac negro encontrava-se estacionado na frente, com um motorista uniformizado a seu lado. -Para que os dois pudéssemos te proteger - explicou Eddy. -Proteger-me de que? -Da multidão. O motorista já guardou suas coisas no bagageiro. Dirija-se ao microfone, fale teu discurso, nega-te educadamente a responder a suas perguntas e, a seguir, vais-te para o carro. -Olhou-a um momento, como querendo se assegurar de que tinha entendido suas instruções, e se voltou para Tate-: Tu podes contestar um par de perguntas se queres. Calibra sua simpatia. Enquanto estiver bom para você, aproveite a situação. Se a coisa põe-se feia, utiliza a Carole como desculpa para sair. Preparados? Adiantou-se para abrir a porta. Avery olhou a Tate e perguntou: -Como agüentas que te dê tantas ordens? -Para isso lhe pago. Tomou nota mental de não criticar a Eddy. Na opinião de Tate, seu diretor de campanha estava acima de toda crítica. Eddy estava-lhes sujeitando a porta. Tate tomou-a pelo braço e animou-a a sair. Os jornalistas e os fotógrafos até esse momento, era uma massa informe e clamorosa; então, fez-se um silêncio expectante ao ver que a esposa do candidato ao Senado aparecia ante eles após meses de reclusão. Avery saiu ao exterior e dirigiu-se ao microfone, tal como lhe tinha dito Eddy que
fizesse. Parecia-se a Carole Rutledge. Sabia-o. Resultava surpreendente que a troca não tivesse sido detectada por nenhum dos mais chegados a Carole, nem sequer seu marido. Mas, claro, nenhum deles tinha razões para duvidar que ela era quem dizia ser. Não estavam buscando uma impostora e, portanto, não a viam. Mas, enquanto acercava-se ao microfone, temeu que os estranhos detectassem o que não tinham feito os íntimos. Alguém podia saltar da multidão, apontar com um dedo acusatório e gritar: impostora! Por isso, o estalido de aplausos espontâneos a surpreendeu. Aos três, também a Tate e inclusive a Eddy, que não perdia nunca a compostura, a todos os tomou totalmente por surpresa. Avery deu uns passos vacilantes e olhou a Tate com insegurança. Ele lhe dedicou seu resplandecente sorriso de herói norteamericano, o qual a compensou por toda a dor e toda a angústia sofridas desde o acidente. Sua confiança ficou tremendamente estimulada. Com elegância, fez um gesto para que cessassem os aplausos. À medida que foram calando, pronunciou um tímido obrigado. A seguir, limpou a garganta, virou ligeiramente a cabeça, se umedeceu os lábios com a língua e começou a recitar o breve discurso. -Obrigado, senhoras e senhores, por estar aqui para dar-me as boas-vindas após minha longa hospitalização. Desejaria estender publicamente minhas condolências a todos aqueles que perderam a entes queridos naquele terrível vôo 398 de Air América. Segue resultando-me incrível que minha filha e eu sobrevivêssemos a tão horrível e trágico acidente. Provavelmente não o tivesse conseguido de não ter sido pelo constante apoio e ânimo de meu marido. A última frase ela tinha agradado às declarações preparadas por Eddy. Ousadamente, pegou a mão a Tate e, após uns momentos de dúvida, da que só ela foi consciente, ele deu um ligeiro apertão. -Senhora Rutledge, considera responsável a Air América do acidente? -Não podemos fazer nenhum comentário até que não finalize a investigação e a junta Nacional de Segurança no Transporte publique os resultados - contestou Tate. -Senhora Rutledge, tem intenção de processá-los por danos e prejuízos? De novo Tate respondeu por ela: -Nestes momentos não temos intenção de apresentar nenhuma demanda judicial. -Senhora Rutledge, recorda ter tirado a sua filha do avião em chamas? -Recordo-o agora - disse dantes de que Tate pudesse abrir a boca-. Mas não ao princípio. Respondi a um instinto de sobrevivência. Não recordo ter tomado uma decisão consciente. -Senhora Rutledge, em algum momento da reconstrução de seu rosto, chegou a duvidar que se pudesse fazer? -Confiava plenamente no cirurgião eleito por meu marido. Tate inclinou-se sobre o microfone para que pudessem ouvir acima do ruído. -Como podem vocês se imaginar, Carole tem vontade de chegar a casa. Nos desculpem, por favor. Empurrou-a para diante, mas a multidão lançou-se sobre eles. Um jornalista particularmente pesado interpôs-se em seu caminho e colocou um microfone ante Tate.
-Senhor Rutledge, a senhora Rutledge o acompanhará agora em sua campanha eleitoral? -Carole tem preparadas algumas viagens. Mas terá ocasiões em que se sentirá mais a vontade em casa com nossa filha. -Como está sua filha, senhor Rutledge? -Está bem, obrigado. Agora, se pudéssemos... -Padece alguma seqüela após o acidente? -Que pensa sua filha das ligeiras alterações em seu aspecto físico, senhora Rutledge? -Sem mais perguntas, faz favor. Com Eddy abrindo-lhes espaço entre a multidão, chegaram a sortear a obstinada multidão. Em sua maioria eram simpáticos, mas, mesmo assim, ver-se rodeada por tanta gente dava-lhe a Avery a sensação de que se afogava. Até então sempre se encontrava do outro lado, uma jornalista colocando um microfone na cara de alguém que estivesse atravessando uma crise pessoal. O trabalho de qualquer jornalista era conseguir a notícia, aquele ponto que os demais não tinham, tomando qualquer medida que fosse necessária. Tinha-se pouca consideração por quem estava ao outro lado do microfone. Nunca gostou desse aspecto de seu trabalho; seu erro fatal nos meios de comunicação não se produziu pela falta de sensibilidade, mas sim por um excesso dela. Pelo rabo do olho viu o logo de KTEX pintado em um lado de uma câmera. Instintivamente, voltou a cabeça naquela direção. Era Van! Durante um milésimo de segundo esqueceu que era um estranho para ela. Esteve a ponto de pronunciar seu nome e saudá-lo calorosamente. O pálido rosto delgado e o rabo de cavalo resultavam-lhe maravilhosamente familiares e encantadores. Ansiava poder abraçá-lo e sentir aquele ossudo peito sobre o seu. Por sorte, seu rosto permaneceu impassível. Girou-se sem fazer gesto algum de reconhecimento. Tate acompanhou-a até a limusine. Uma vez acomodada no assento traseiro e protegida pelo vidro fumê, olhou pela janela de atrás. Van, ao igual que todos os demais, abriu caminho entre a multidão, com a câmera de vídeo colocada sobre seu ombro e o olho colado ao visor. Tinha saudades a sala de redação, com seu profundo cheiro de cigarro, o som dos telefones, os barulhos das emissoras da polícia, e os teletipos. O constante entrar e sair de jornalistas, câmeras e produtores parecia-lhe a Avery que ficava á anos luz. À medida que a limusine afastava-se do lugar que tinha sido seu refúgio durante semanas, sentiu uma terrível nostalgia pela vida de Avery Daniels. Que teriam feito com seu apartamento e com suas coisas? O teriam metido tudo em caixas para lho dar a uns desconhecidos? Quem se estaria pondo sua roupa, dormindo entre seus travesseiros, utilizando suas toalhas? De repente sentiu como se a tivessem despido e violado. Mas tinha tomado a irrevogável decisão de manter a Avery Daniels indefinidamente morta. Não só sua carreira, senão sua vida e a de Tate estavam em jogo. A seu lado, Tate acomodou-se no assento. Encostou nela uma perna com a sua. Tocou-lhe imperceptivelmente um peito com o cotovelo. Colocou firmemente a anca junto à sua. Por enquanto estava onde queria estar.
Eddy, sentado no assento em frente a ela, lhe deu umas palmadinhas no joelho. -Fizeste-o muito bem, inclusive ao improvisar. Foi um bonito gesto o de apanhar a mão de Tate como o fizeste. A ti que te pareceu, Tate? Tate estava afrouxando a gravata e desabotoando o colarinho. -Foi estupendo. -Assinalou com o dedo a Eddy-. Mas não gosto dessas perguntas a respeito de Mandy. Que tem que ver ela com a campanha e as eleições? -Nada. A gente mostra-se simplesmente curiosa. -Que se vão à merda os curiosos. É minha filha. Quero que esteja protegida. -Quiçá esteja excessivamente protegida. O tom rouco da voz de Avery atraiu rapidamente a atenção de Tate. -E isso que significa? -Agora que já me viram, deixarão de te molestar com perguntas sobre mim e se limitarão aos temas importantes. Durante sua convalescença, tinha seguido com detalhe a campanha eleitoral lendo todos os jornais a sua disposição e vendo as notícias da televisão. Tate tinha ganhado nas primárias, mas a verdadeira batalha estava ainda por vir. Seu oponente em novembro seria o senador titular, Rory Dekker. Dekker era uma instituição na política de Texas. Pelo que Avery recordava tinha sido senador desde sempre. Ia ser uma luta similar à que mantiveram David e Golias. A incrível vantagem a favor de Dekker, junto com a audaz valentia de Tate contra um rival tão imponente, tinha levantado mais interesse por estas eleições que por qualquer outra de recente memória. Em quase a cada boletim de notícias mencionava-se pelo menos durante quinze segundos sua carreira eleitoral no Senado e, como bem sabia Avery, inclusive quinze segundos resultavam uma invejável quantidade de tempo. Mas, enquanto Dekker utilizava sabiamente seu tempo para expor os pontos de seu programa, Tate perdia preciosos segundos em perguntas relacionadas com o progresso de Carole. -Se não tivéssemos mantido Mandy tão protegida a sete chaves - acrescentou, com muito cuidado-, mais cedo a curiosidade por ela desapareceria. Com um pouco de sorte, começarão a interessar por outra coisa, como teu plano de ajuda aos agricultores com hipotecas. Eddy observou-a com suspeita, mas com verdadeiro respeito. -É possível que tenha razão, Tate. O rosto de Tate refletia uma mistura de ira e dúvida. -O pensarei - foi tudo o que disse dantes de se voltar para olhar pela janela. Seguiram a viagem em silêncio até chegar à sede central da campanha. -Todo mundo tem vontade de te ver, Carole. Pedi-lhes que não se te fiquem olhando como a um monigote, mas não posso te garantir que não o vão fazer avisou Eddy enquanto saía do carro ajudada pelo motorista-. Acho que com boa vontade passará muito mais rápido. -Sim passará. Sem oferecer nenhuma escolha, Tate apanhou-a pelo braço e conduziu-a para a porta. A prepotência dele a deixava de cabelos em pé, mas tinha curiosidade de ver o quartel geral da campanha, de maneira que seguiu-o pacificamente. No entanto, e à medida que chegavam à porta, o terror começou a invadir-lhe o estômago. A
cada nova situação era uma prova, um campo minado que devia atravessar com habilidade, tentando à cada segundo não errar. Ao abrir as portas acederam a um lugar em um estado de caos absoluto. Os trabalhadores voluntários contestavam a telefones, faziam telefonemas, fechavam sobres, abriam envelopes, grampeavam, desgrampeavam, levantavam-se, sentavam-se; todo mundo estava em movimento. Após o silêncio e a tranqüilidade da clínica, Avery sentiu como se a acabassem de meter em uma jaula de macacos. Tate tirou-se a americana e se enrolou a camisa. Uma vez ciente de sua presença, todos os voluntários detiveram sua tarefa para falar com ele. Era evidente que todos os ocupantes da habitação o consideravam um herói e estavam dedicados a lhe ajudar a ganhar as eleições. Também ficou perfeitamente claro que a palavra de Eddy Paschal era lei, porque, conquanto os voluntários a olhavam de esguelha e pronunciavam saudações educadas, ninguém ficou olhando fixamente para ela. Sentindo-se incômoda e insegura no papel que devia representar, seguiu caminhando por trás de Tate. Emanando uma confiança contagiosa. -Olá, senhora Rutledge - disse-lhe um jovem-. Tem um aspecto esplêndido. -Obrigado. -Tate, esta manhã o governador fez uma declaração felicitando à senhora Rutledge por sua total recuperação. Elogiou a coragem de Carole, mas, ao referirse a ti, e cito textualmente, disse que eras um perigoso liberal que os Texanos deveriam temer. Aconselhou ao público votante que não deixassem que seus sentimentos pela senhora Rutledge os influenciassem na hora de votar em novembro. Como quer responder? -Não quero. Pelo menos não em seguida. Esse presunçoso filho da puta quer provocar-me e fazer-me parecer um dragão que solta fogo pela boca. Não lhe darei essa satisfação. Ah, e o que o presunçoso filho da puta que fique entre nós. O jovem riu-se e dirigiu-se rapidamente para um computador para prepará-la nota de imprensa. -Que dizem as últimas pesquisas? -perguntou Tate aos ocupantes da habitação geral. -Não estamos ligando para as pesquisas -contestou Eddy com tranqüilidade, se acercando a eles. Em algum momento pelo caminho tinha recolhido a Fancy, que contemplava a Carole com seu habitual relutância. -Vá que não! -replicou Tate, opondo-se à evasiva resposta de Eddy-. Por quantos pontos perco? -Catorze. -Um mais que na semana passada. Não me canso de repetir que não há nada de que se preocupar. Todos se riram da análise otimista que fazia. -Olá, tio Tate. Olá, tia Carole. -Olá, Fancy. A garota sorriu angelicalmente, mas a malícia latente intranqüilizou a Avery. A única vez que Fancy foi ao hospital, passou todo o momento se troçando das cicatrizes, que eram ainda visíveis. A crueldade da garota irritou tanto a Nelson
que lhe ordenou que saísse da habitação e que não voltasse. Não parecia a ter importado. Só com a olhar, se via que era uma raposa calculista e egoísta. Se Fancy tivesse dez anos a menos, Avery aconselharia que lhe dessem uns bons tapas na bunda. No entanto, sua opinião de Carole parecia ir para além do habitual rancor adolescente. Parecia ter um profundo e duradouro ressentimento contra ela. -É esta tua nova aliança? -perguntou, olhando a mão esquerda de Avery. -Sim. Tate deu-ma ontem à noite. Levantou a mão de Avery com a ponta dos dedos e, com gesto depreciador, examinou o anel. -Não tinha mais diamantes, eh? -Tenho um trabalho para ti - interveio Eddy, lacônico-. Vêem aqui. Tomou a Fancy pelo cotovelo, fez-lhe girar-se e empinou-a em direção oposta. -Uma menina muito agradável - murmurou Avery. -Umas boas palmadas não lhe iriam mau. -Estou de acordo. -Olá, senhora Rutledge. Uma mulher de média idade acercou-se a eles e lhe deu a mão. -Olá. Alegro-me de vê-la de novo, senhora Baker - contestou, após consultar o nome da etiqueta que levava pendurada do bolso da camisa. Desapareceu o sorriso da senhora Baker. Olhou nervosamente a Tate. -Eddy disse que deverias ler estas notas de imprensa, Tate. Têm que sair manhã. -Obrigado. O farei esta noite e lhas darei a Eddy para que as traga pela manhã. -Está bem. Não precisa de tanta pressa. -Equivoquei-me, verdade? -perguntou-lhe Avery enquanto a mulher afastava-se. -É melhor nós irmos. Despediu-se com um adeus que incluía a todos os membros da habitação. Eddy saudou com o braço na outra ponta da sala, mas continuou falando pelo auricular do telefone que tinha colocado entre a orelha e o ombro. Desde a esquina de sua mesa, Fancy saudou sem vontade. Tate conduziu a Avery para o sedan prateado estacionado no exterior. -Não tem mais limusine? -Agora somos pessoas normais. Avery se embebedou o olhar e os sons da cidade enquanto abriam-se passo entre o denso tráfico do meio dia. Fazia muito tempo que seu mundo não mais do que algumas paredes estéreis. A velocidade com que se movia tudo, o caos, a cor e a luz a intimidavam após meses de isolamento. Também a excitavam. Tudo resultava carinhosamente familiar, mas ao mesmo tempo novo, como deve de ser a primavera para um animal que sai de sua hibernação. Quando passaram pelo aeroporto e viu a decolagem dos aviões, se lhe pôs a tremer e todos seus músculos tencionaram. -Estás bem? Rapidamente, parou de olhar a pista de aterrissagem e viu que Tate a observava com cuidado. -Sim, estou bem. -Serás capaz de voltar a subir a um avião? -Não sei. Suponho que sim. A primeira vez sem dúvida será a mais dura.
-Não sê se conseguiremos que Mandy queira voar de novo. -Pode ser que supere o medo mais facilmente que eu. As crianças às vezes são mais duros que os adultos. -Talvez. -Tenho muita vontade de vê-la. Já faz semanas. -Está crescendo. -Para valer? Um sorriso cobriu seu rosto. -No outro dia sentei-a sobre meu colo e vi que sua cabeça me chegava já até a barba. Compartilharam um sorriso durante uns segundos e, depois, os olhos de Tate apagaram-se, desapareceu-lhe o sorriso e voltou a concentrar no tráfico. Sentindo-se apartada, Avery perguntou: -Que passa com a senhora Baker? Em que me equivoquei? -Só faz duas semanas que trabalha conosco. Não a conhecias. O coração de Avery colou um salto. Essas coisas tinham que ocorrer. Cometeria um montão de erros e teria que buscar desculpas rápidas. Baixou a cabeça e esfregou as sobrancelhas com o dedo índice e o polegar. - Desculpe-me, Tate. Devo de ter parecido uma hipócrita. -Sim. -Tem paciência comigo. A verdade é que tenho lapsos de memória. Às vezes, a seqüência dos fatos confunde-me. Não consigo recordar com clareza alguns lugares, ou a pessoas. -Faz semanas que me dei conta disso. Há coisas das que dizes que não têm nenhum sentido. -Por que não me disseste nada? -Não queria que te preocupasses, de maneira que consultei com um neurologista. Disse que a concussão seguramente te fez perder algumas memórias. -Para sempre? Encolheu-se de ombros. -É difícil dizê-lo. Algumas coisas seguramente te voltarão à cabeça pouco a pouco, e outras quiçá não. Secretamente, a Avery gostou de conhecer o diagnóstico do neurologista. Se errasse, podia utilizar a falta de memória como desculpa. Estendeu o braço e cobriu a mão de Tate com a sua. -Desculpe-me se te causei problemas. -Estou seguro de que o entenderá quando lho explique. Apartou a mão de embaixo da sua e colocou ambas sobre o volante para virar à saída da estrada. Avery concentrou-se na rota que estavam tomando. Teria que saber chegar até sua casa, não? Tinha nascido em Denton, uma cidade universitária ao norte de Texas, e passou a maior parte de sua infância em Dallas, a base de trabalho de Cliff Daniels como fotógrafo independente. Como ocorria com a maioria dos Texanos, o orgulho nacional fazia parte de seu caráter. Apesar de que se ter gastado centenas de dólares em professores de dicção, em um esforço por erradicar seu acento, no coração se sentia totalmente texana. A paisagem montanhosa sempre foi uma de suas áreas preferidas. As
suaves colinas e os ribeiros subterrâneos eram belos em qualquer época do ano. Os botões estavam completamente abertos, cobrindo o campo como um manto de cor de safira. Outras resplandecentes flores selvagens apareciam naquele: óleo natural, e os rebordes de cor uniam-se assemelhando a um quadro de Monet. Enormes cantos sobressaiam da terra como molares torcidos, evitando que a paisagem era meramente bucólica. As paixões surgiam nessa paisagem onde os cavaleiros espanhóis, estabeleceram impérios, os guerreiros comanches caçaram rebanhos de potros selvagens e os colonialistas verteram seu sangue para obter a independência. A terra parecia pulsar com os fantasmas daquelas pessoas indomáveis que conseguiram domesticá-la, ainda que não a dominar. Seus espíritos ferozes rondavam por ali, como os gatos selvagens que habitavam nas grutas da zona; invisíveis, mas reais. Os falcões em busca de presas deslizavam-se lentamente. Cabeças de gado pastavam na escassa erva que crescia entre os arbustos de cedros. Como benévolos vigilantes, algumas arvores estendiam seus enormes ramos sobre o terreno rochoso, proporcionando sombra para o gado, os cervos, os alces e outros pequenos animais de caça. Enormes ciprestes elevavam-se às orlas dos rios; o amplo volume do Guadalupe achava-se densamente povoado de seus sinuosos troncos, de suas protuberâncias nodosas e de seus levianos ramos. Era uma terra rica em contrastes e em folclore. Avery adorava-a. E, ao que parece, Tate também. Enquanto conduzia, observava a paisagem com a apreciação de alguém que a descobre pela primeira vez. Girou por um caminho marcado com dois pilares de pedra. Suspendido entre eles se via um cartaz de ferro forjado, no que podia se ler «Rancho Rocking R». Pelos artigos sobre a família Rutledge que tinha lido em segredo durante sua convalescença, Avery sabia que o Rocking R tinha uma extensão a mais de dois mil hectares e que acolhia um impressionante rebanho de gado de primeira. Dois afluentes do rio Guadalupe e um do Blanco abasteciam a preciosa água. Nelson tinha herdado a terra de seu pai. Desde sua aposentadoria das forças aéreas, dedicou seu tempo a converter o rancho em um negócio rentável, viajando a outras partes do país para estudar as diferentes raças de gado em uma tentativa de melhorar as de Rocking R. Em um artigo do Texas Monthly aparecia uma imagem da casa, mas Avery não pôde averiguar grande coisa naquela foto. Desde o alto de uma pequena colina pôde vê-la ao longe. Estava construída com adobe branco como uma fazenda espanhola, com três asas que formavam uma ferradura ao redor do pátio central. Desde o centro, tinha-se uma vista espetacular do vale e do rio. A imensa casa tinha um telhado de telhas vermelhas, que nesses momentos refletia o sol do meio dia. A entrada se arqueava, formando um semicírculo adiante da entrada principal. Uma majestosa arvore proporcionava sombra a toda a fachada dianteira, e o musgo acinzentado pendurava de seus ramos. Uns gerânios de cor escarlate intenso apareciam nas macetas à cada lado da porta central, à que Tate a conduziu ao baixar do carro. Era a quintessência de Texas, extraordinariamente belo, e, como compreendeu Avery de repente, seu novo lar.
Capitulo Quinze Toda a casa estava mobiliada com o gosto e o estilo que um esperaria de Zee. A decoração era tradicional, muito agradável e cômoda. Todas as habitações eram espaçosas, com altos tetos de vigas e amplas janelas. Zee tinha construído um bom lar para sua família. O almoço esperava-os no pátio. Serviu-se sobre uma mesa de piquenique debaixo um enorme guarda-sol amarelo. Após abraçar a Nelson e a Zee, Avery dirigiu-se a Mandy e ajoelhou-se. -Olá, Mandy. Tinha muitas vontades de ver-te. Mandy olhava fixamente ao solo. -Tenho sido boa. -Claro que tens sido boa. Papai já mo tem dito. E estás muito bonita. -Acariciou o curto cabelo de Mandy-. Está-te crescendo o cabelo e já te tiraram o gesso. -Posso comer já? A avó disse-me que poderia o fazer quando tu chegasses. Sua indiferença rompeu o coração de Avery. O mais lógico tivesse sido que tivesse umas enormes vontades de lhe contar coisas a sua mãe após uma separação tão longa. Enquanto sentavam-se ao redor da mesa, uma criada entrou com uma bandeja de comida e deu-lhe as boas-vindas. -Obrigado. É bom estar de novo aqui. Um comentário vazio, mas seguro, pensou Avery. -Traz-lhe a Carole um pouco de chá gelado, Mona -pediu Nelson, proporcionandolhe assim a Avery o nome da mulher-. E lembra-te de pôr-lhe açúcar para valer. Sem ser conscientes disso, a família lhe proporcionava algumas pistas como essa. A partir delas podia averiguar os hábitos e os gostos de Carole. Permanecia continuamente alerta aos erros que pudesse cometer, ainda que só os pais de Tate e Mandy se achavam presentes. Justo quando estava se felicitando por sua excelente atuação, um enorme e peludo cão entrou no pátio. Acercou-se uns centímetros aos pés de Avery, dantes de dar-se conta de que era uma desconhecida. Suas quatro patas se tensionaram e começou a rosnar desde o mais profundo de sua garganta. Um cão, o animal doméstico da família! Por que não se lhe tinha ocorrido uma coisa assim? Em vez de esperar que os outros reagissem, tomou a iniciativa. -Que lhe ocorre? Estou tão mudada? Não me reconhece? Tate passou uma perna acima do banco da mesa e acariciou-lhe o lombo. -Vêem aqui, Shep, e deixe de rosnar. Olhando a Avery com olhos cautelosos, o cão acercou-se e colocou o focinho sobre a cadeira de Tate, que lhe acariciou atrás das orelhas. Com indecisão, Avery estendeu a mão e acariciou-lhe o focinho. -Eh, Shep. Sou eu. O cão cheirou-lhe a mão com suspeita. Por fim, satisfeito de que não constituía
nenhum perigo, lhe lambeu cálidamente a palma da mão. -Isso está melhor. Sorrindo, dirigiu-lhe uma mirada a Tate, que a observava incrédulo. -Desde quando é amiga de meu cão? Avery olhou desesperadamente a seu ao redor. Nelson e Zee pareciam totalmente assombrados por seu comportamento. -Desde..., desde que tenho estado a ponto de morrer. Suponho que sinto uma estranha união com todas as criaturas vivas. O incidente ficou esquecido e o almoço continuou sem novidade. No entanto, uma vez acabado, Avery tinha vontade de se retirar para seu quarto e utilizar o banheiro; só que, naquela enorme casa, não sabia onde se encontrava. -Tate -perguntou-, Já guardaram a minha bagagem? -Acho que não. Precisa dela? -Sim, faz favor. Deixando a Mandy ao cuidado de seus avôs, Avery seguiu-o pelo pátio até onde estava estacionado o carro no lado de fora. Ela pegou a menor mala mais; ele, a maior. -Eu poderia ter levado as duas -disse Tate acima de seu ombro enquanto voltavam à casa. -Não importa. Manteve-se por trás dele para poder assim o seguir. Duas largas portas conduziam a um longo corredor. Uma das paredes do corredor era de vidro e dava ao pátio. Ao outro lado apareciam vários dormitórios. Tate entrou em um deles e deixou a mala no chão, adiante da porta do armário. -Mona te ajudará a desfazer a bagagem. Avery assentiu com a cabeça, mas estava distraída olhando o dormitório. Era espçoso e claro, com um tapete de cor açafrão e mobiliário de madeira clara. A colcha e as cortinas eram de lençóis floridos; excessivamente floreado para o gosto de Avery, mas obviamente caro e bem feito. Tomou nota de todos os detalhes com uma só olhadela, desde o despertador digital colocado no criado-mudo até a foto de Mandy em um porta-retrato de prata sobre o tocador. Tate disse: -Vou-me um momento ao despacho. Seguramente será melhor que descanses esta tarde, para voltar à normalidade pouco a pouco. Se... O suspiro de assombro de Avery deteve-o. Seguiu seu olhar até o retrato de tamanho natural de Carole pendurado na parede oposta. -Que te ocorre? Com a mão sobre a garganta, Avery engoliu saliva com dificuldade e disse: -Nada. É que..., é que não me pareço muito a esse quadro agora. Resultava-lhe desconcertante olhar os olhos da única pessoa que com segurança sabia que ela era uma impostora. Aqueles olhos escuros e cheios de conhecimento troçavam-se dela. Tirou o olhar do quadro, dedicou um sorriso a Tate e timidamente passou a mão pelo curto cabelo. -Suponho que não estou completamente acostumada à mudança ainda. Se
Importaria se eu retirasse o retrato? -Por que me ia importar? Este é teu dormitório. Faz o que te dê a vontade. -Dirigiuse à porta-. Nos veremos à hora da janta. Sem fazer o menor ruído fechou a porta ao sair. Sua falta de interesse era inquestionável. Sentiu como se a tivessem abandonado na Antártida e estivesse vendo se afastar o último avião pelo horizonte. Tinha-a depositado onde pertencia, e considerava já o dever cumprido. «Este é teu dormitório.» A habitação estava mais limpa que um museu, como se ninguém a tivesse ocupado durante muito tempo. Supôs que teriam passado uns três meses desde que Carole saiu aquela terrível manhã do acidente. Correu as portas do armário. Tinha suficiente roupa como para vestir a um exército, mas todas e a cada uma das peças eram femininas, desde o abrigo de peles até o camisola mais extravagante. Nada no armário pertencia a Tate, bem como também não nenhum dos objetos que se viam sobre o escritorio ou nas várias caixas. Avery, desanimada, sentou-se na borda da ampla cama de casal. «Teu dormitório», tinha dito. Não nosso dormitório. Bom, pensou com tristeza, não tinha por que se preocupar já pelas relações conjugais, não? Essa preocupação podia deixar a um lado. Não teria relações íntimas com Tate porque este já não as compartilhava com ela. Dada sua atitude durante as últimas semanas, não a surpreendeu em absoluto, mas sim que lhe produziu uma grande desilusão. No entanto, junto com a desilusão sentia também certa vergonha. Não que tivesse tido a intenção de se deitar com ele sob falsos pretextos e nem sequer sabia se o desejava. Estaria mau, muito mau. Não obstante... Ficou olhando fixamente o retrato. Carole Rutledge parecia sorrir com certa malícia. -Filha de puta -susurrou Avery com mordacidade-. Vou descobrir o que fez para que ele deixasse de te querer. Verá como eu consigo. -Há suficiente comida por aí? Quando Avery se deu conta de que Nelson se dirigia a ela, lhe dedicou um sorriso desde a outra ponta da mesa. -Suficiente, obrigado. Apesar de ser boa a comida na clínica, ista era maravilhosa. -Você emagreceu muito -observou ele-. Temos que conseguir que engordes um pouco. Não tolero gente fraca em minha família. Ela sorriu e atingiu o copo de vinho. A ela não gostava do vinho, mas evidentemente a Carole sim. Tinham-lhe servido um copo sem perguntar-lhe se apetecia-lhe ou não. Bebendo lentamente durante todo o jantar, quase se tinha acabado a garrafa de vinho de borgonha que acompanhava à carne. -Teus seios desapareceram quase por completo. Sentada enfrente de Avery, Fancy segurando o garfo entre dois dedos, balançando-o insolentemente de acima abaixo enquanto pronunciava a sarcástica observação. -Fancy, abstenha-se de fazer comentários maleducados, faz favor - recriminou Zee. -Não estava sendo maleducada. Só sincera. -O tato é uma virtude tão admirável como a sinceridade, jovenzinha - comentou
severamente seu avô desde onde presidia a mesa. -Jesús, só... -E é de mau gosto que uma jovenzinha utilize o nome do Senhor em vão acrescentou friamente-. Não vou tolerar. Fancy deixou cair o garfo ruidosamente sobre o prato. -Não entendo. Todos os membros desta família falam de como ela está magra. Eu sou a única que tem a coragem suficiente para dizer algo em voz alta e por pouco não me comem viva. Nelson dirigiu-lhe um olhar duro a Jack, que ele corretamente interpretou como a ordem de que fizesse algo com respeito ao mau comportamento de sua filha. -Fancy, faz favor, comporta-te. Este é um jantar para dar as boas-vindas a Carole. Avery pôde ler nos lábios uma «menuda gilipollez!» Susurrado. Sentada preguiçosamente, ficou em silêncio e mal humorada, brincando com a comida e obviamente esperando o momento em que lhe dessem permissão para levantar da mesa. -A mim me parece que está lindissíma. -Obrigado, Eddy -contestou Avery com um sorriso. Ele lha devolveu e brindou com o copo de vinho. - Alguém viu a tua atuação na saída do hospital esta manhã? Viu-se nos boletins informativos das três emissoras locais. -Não se pode pedir mais -comentou Nelson-. Serve-me um pouco de café, Zee. -Claro. Encheu sua caneca antes de passar o bulê de café aos outros á mesa. Dorothy Rae recusou o café e pegou em seu lugar a garrafa de vinho. Seus olhos posaram-se sobre os de Avery ao outro lado da mesa. O sorriso acolhedor de Avery foi recebido com um olhar claro de hostilidade. Com gesto desafiante, Dorothy Rae voltou a encher seu copo de vinho. Era uma mulher atraente, ainda que o excesso de álcool tenha deteriorado seu aspecto. Tinha o rosto inchado, especialmente ao redor dos olhos, que, por outra parte, eram de uma bonita cor azul. Tinha tentado arrumar-se para o jantar, ainda que sem conseguir que seu aspecto fosse de todo correto. Levava o cabelo preso desordenadamente com dois grampos, e estaria muito melhor sem aquele maquiagem tão inexperiente aplicada. Não participava na conversa a não ser que se dirigissem a ela. Toda sua atenção se centrava em um objeto inanimado: a garrafa de vinho. Avery chegou rapidamente à conclusão de que Dorothy Rae Rutledge era uma pessoa extremamente infeliz. Nada tinha feito mudar aquela primeira impressão. A razão da infelicidade de Dorothy Rae seguia sendo um mistério, mas Avery estava segura de uma coisa: amava a seu marido. Estava na defensiva com Jack, como precisamente nesse momento, quando ele discretamente tentou colocar a garrafa de vinho fora de seu alcance. Apartou-lhe a mão e segurou na garrafa, bebendo de um gole o que estava em seu copo. E, no entanto, em momentos inadvertidos, Avery surpreendeu-a olhando a Jack com grande desespero. -Tens visto as modelos dos novos cartazes? -perguntou-lhe Jack a seu irmão. Avery estava fentre Tate e Mandy. Apesar de estar sociavel com todos durante o jantar, era particularmente consciente da presença dos dois, mas por razões completamente diferentes.
Após Avery ter cortado a carne de Mandy em pequenos pedaços, a menina comeu com cuidado e em silêncio. A experiência de Avery com crianças era limitada, mas sempre que os observava mostravam-se faladores, curiosos, nervosos e, em algumas ocasiões, até irritantemente ativos. Mandy era anormalmente quieta. Não se queixava. Não era curiosa. Não fazia mais que comer mecanicamente pequenos pedaços de comida. Tate comia com eficácia, como se lhe faltasse o tempo que demorava em jantar. Quando acabaou, começou a brincar com seu copo de vinho, ao mesmo tempo que tomava pequenos goles, o que deu a Avery a impressão de que não podia esperar a que acabassem os demais. -Vi-os esta tarde -disse, como resposta à pergunta de Jack-. Meu slogan preferido é o da base sólida. -«Tate Rutledge, uma nova base sólida» -citou Jack. -Esse é o melhor. -Redigi-o eu. Tate disparou-lhe com um dedo a seu irmão e lhe olho de volta. -Seguramente por isso foi o que gostei mais. Sempre tens feito bem isso de chegar ao fundo das coisas. Que te parece a ti, Eddy? -Soa-me bem. Vai com nosso programa de tirar o Texas da atual crise econômica e voltar a endireitá-la. Você é alguem que pode construir o futuro do Estado. E, ao mesmo tempo, sugere sutilmente que está desmoronando a base de Dekker. -Papai? Nelson estava esfregando-se pensativamente o lábio inferior. -Eu gostei daquele que dizia algo de justiça para todos os texanos. -Estava bom - reconheceu Tate -, mas um pouco sensível. -Talvez seja isso que faça falta em tua campanha -replicou seu pai, franzindo o cenho. -Tem que ser algo com o que Tate se sinta cômodo, Nelson - disse Zee a seu marido, ao mesmo tempo que começava a cortar um bolo de coco. O primeiro pedaço foi pára Nelson, que esteve a ponto do atacar antes de lembrar o porque da celebração. -Esta noite, o primeiro pedaço deve ser de Carole. Seja bem vinda a casa. Passando para ela o prato. -Obrigado. Não gostava o coco bem mais que do vinho, mas aparentemente a Carole sim, de maneira que começou a se comer o bolo enquanto Zee servia e os homens que retomaram a discussão a respeito da estratégia a seguir na campanha eleitoral. -Ou seja que deveríamos seguir com esse slogan e fazer que comecem a imprimir os cartazes? -Esperemos um par de dias dantes de tomar uma decisão definitiva, Jack. -Tate jogou um olhar a seu pai. Apesar de que Nelson comer com satisfação seu pedaço de bolo, seguia franzido o cenho porque não tinham elegido sua frase favorita-. Só os olhei por em cima hoje. É tão só uma primeira impressão. -Que pelo geral é a melhor -argumentou Jack. -Seguramente. Mas temos em um dia ou dois para pensá-lo, verdade? Jack aceitou um prato com um pedaço de bolo.
Dorothy Rae recusou o que lhe ofereceram. -Teríamos que começar a imprimir esses cartazes antes do final de semana. -Me decidirei muito antes. -Pelo amor de Deus! Poderia alguém...? -Fancy apontava com a mão para Mandy. Mover o pedaço de bolo do prato à boca tinha-se revelado muito difícil para uma menina de três anos. O vestido estava coberto de migalhas e o glacê coco cobrialhe a boca. Tinha tentado remediar o problema limpando-se, mas a única que conseguiu foi sujar ainda mais as mãos-. È muito nojento ver este fantasma comer. Posso me levantar da mesa? -Sem esperar a que a permissão lhe fosse dada empurrou a cadeira, se pôs de pé e atirou a guardanapo sobre o prato -. Vou a Kerrville a ver se tem um filme novo. Alguém quer vir comigo? -Incluiu a todos no convite, mas seus olhos se posaram sobre Eddy, que contemplava atenciosamente seu pedaço -. Suponho que não. Deu meia volta e saiu da habitação. Avery alegrou-se de ver sair àquela malcriada. Como se atrevia a falar com uma menina indefesa com tanta crueldade? Levou Mandy a seu colo. -O bolo está demasiado bom para comero sem que se caiam algumas migalhas, não é verdade, querida? Cobriu-se o dedo índice com o guardanapo de lino, molhou-o no copo de água e pôs-se a limpar-lhe a boca à pequena Mandy. -Tua filha está-se-te escapando das mãos, Dorothy Rae -observou Nelson-. Essa saia que levava era tão curta que quase não lhe cobria as partes íntimas. Dorothy Rae apartou-se a lisa franja da frente. -Eu o tento, Nelson. É Jack o que a permite fazer o que dá vontade. -Isso é uma maldita mentira! -protestou seu esposo-. Tenho conseguido que vá trabalhar a cada dia, ou não? Isso é algo bem mais edificante que o que tens conseguido tu. -Deveria estar estudando -afirmou Nelson-. Nunca se lhe deveria ter permitido que abandonasse os estudos sem terminar o semestre. Que vai ser dela? Que tipo de vida vai levar sem ter uma educação? -Moveu a cabeça, como predizendo algo terrível-. Pagará caro ter escolhido mau. E vocês também. Você colhe o que planta, já o sabeis. Avery sentia-se de acordo com ele. Fancy estava totalmente descontrolada e, sem dúvida alguma, era culpa de seus pais. Não obstante, opinava que Nelson não deveria discutir os defeitos dos pais adiante de todos os demais. -Acho que só um banho resolverá o problema de Mandy -disse, agradecida de ter uma desculpa para levantar da mesa-. Perdoais-nos? -Precisa ajuda? -perguntou Zee. -Não, obrigado. -Então, dando-se conta que estava usurpando o ritual noturno de Zee, que seguramente tinha desfrutado muito com ele, acrescentou-: Já que é a primeira noite que estou em casa, gostaria de deitá-la eu mesma. Foi um jantar estupendo, Zee. Obrigado. -Irei mais tarde despedir-me de Mandy -disse Tate, enquanto Avery saía da habitação com a menina nos braços. -Bom, já vejo que nada tem mudado. Dorothy Rae cruzou a habitação, cambaleando, e derrubando uma dos cadeiras colocadas diante da enorme TV. Jack ocupava a outra cadeira.
- Ouviu? -perguntou, quando passaram vários segundos e ele não contestava. -Já te ouvi, Dorothy Rae. E, se por «nada tem mudado» quer dizer que voltou a ficar emburrada esta noite, então tens razão. Não tem mudou nada. -O que quero dizer é que não podes tirar os olhos da mulher de teu irmão. Jack levantou-se da cadeira como um raio e desligou o televisor, deixando a Johnny Carson a médio chiste. -Estás bêbada e és repugnante. Vou para cama. Deslocou-se agrandes passos na sala ao lado. Dorothy Rae fez um esforço para levantar da cadeira e seguí-lo. Arrastava por trás a bainha do roupão. -Não tente negar -disse com um soluço-. Estive te observando. Durante todo o jantar você ficou babando, olhando a Carole e sua nova cara bonita. Jack tirou a camisa, fez uma bola com ela e a lançou ao cesto da roupa suja. Inclinou-se para desamarrar os sapatos. -À única à que caí babando nesta família é vocêi quando te embebedas e não podes te controlar. De reflexo, ela limpou a boca com a palma da mão. As pessoas que tinham conhecido a Dorothy Rae quando era jovem não podiam crer o que tinha sido dela na maturidade. Foi a mais bela de Lampasas quando estudava no colgial e seu reino durou os quatro anos escolares. Seu pai era um conhecido advogado do povo; ela, sua única filha, o centro de todas suas atenções. A forma em que a mimava fazia inveja a todos aqueles que a conheciam. Duas vezes ao ano levava-a a Dallas para que se comprasse a roupa de temporada em Neiman-Marcus. Aos dezesseis anos presenteou-a com um Corvette conversível. À mãe deu-lhe um ataque e vociferou que era muito carro para uma garota tão jovem, mas Hancock lhe serviu outro copo a sua mulher e lhe disse que, se tivesse desejado sua despreciável opinião sobre qualquer coisa, a teria pedido. Ao acabar os estudos secundários, Dorothy Rae marchou-se em todo seu esplendor à Universidade de Texas, em Austin. Conheceu Jack Rutledge durante o primeiro ano, apaixonou-se loucamente por dele e decidiu agarrá-lo para sempre. Nunca a tinham negado nada na vida, e não estava disposta a começar perdendo ao único homem do que verdadeiramente estava apaixonada. Jack, enquanto esforçava-se em passar em seu segundo ano de Direito, também se apaixonou por Dorothy Rae, mas não podia pensar em se casar até terminar a faculdade. Seu pai não só esperava que aprovasse, mas também que tivesse as melhores notas da classe. E outra coisa queria também seu pai, que fosse cavalheiro no que se referia às mulheres. De maneira que, quando Jack finalmente sucumbiu à tentação e acabou com a virginidade de Dorothy Rae Hancock, se viu no dilema de decidir que tinha prioridade: a cavalherismo em frente às damas, ou a responsabilidade ante as exigências paternais. Dorothy Rae o adiantou para tomar uma decisão quando, chorando, disse a ele que sua mestruação estava atrasada. Em pânico, Jack pensava que um casal prematuro era melhor que um bebê imprevisto, e rogou a Deus que Nelson estivesse convencido do mesmo. Dorothy Rae e ele viajaram a Oklahoma durante o fim de semana, se casaram em segredo e comunicaram a grata notícia a seus pais após consumado o ato. Nelson e Zee ficaram muito decepcionados, mas, após Jack lhes assegurar que não tinha
intenção de abandonar os estudos, aceitaram a Dorothy Rae no seio da família. Os Hancock de Lampasas não acharam a notícia tão boa. A fuga quase acabou com a vida do papai de Dorothy Rae. De fato, caiu fulminado por um ataque ao coração em um mês após o casamento. À instável mãe de Dorothy Rae foi internada em um hospital por causa de seu alcoolismo. No dia em que lhe deram alta, em várias semanas mais tarde, foi considerada curada. Três dias depois, colidiu contra o pilar de uma ponte enquanto dirigia embreagada. Morreu no ato. Francine Angela nasceu após dezoito meses do casamento de Dorothy Rae com Jack. Ou foi a gravidez mais longa da história, ou ela enganou a Jack para que se casarem. Ele nunca a acusou de nenhuma das duas coisas; mas, como uma penitência auto imposta, Dorothy Rae sofreu dois abortos, um depois de outro, quando Fancy era ainda só um bebê. O último dos abortos resultou quase mortal, de modo que o médico uniu-lhe as trompas para impedir futuras gravidez. Para afogar a dor física, emocional e mental que isto lhe causava, Dorothy Rae começou tomando um coquetel pela tarde. E, quando isso deixou de funcionar, passou a se tomar dois. -Como pode se olhar no espelho sabendo que estás apaixonado da mulher de teu irmão? -perguntou-lhe a seu marido. -Não estou apaixonado. -Não estás apaixonado? -Inclinou-se sobre ele, envenenando o ar entre eles com o ar intoxicados de seu fôlego-. A odeia porque o trata como um trapo. Limpa-se os pés contigo. Nem sequer dás-te conta de que todas essas mudanças nela são simplesmente... -Que mudanças? -Em vez de pendurar as calças no cabide que sustentava na mão, os deixou cair em uma cadeira-. Já nos explicou sobre a mão esquerda. Tendo conseguido sua atenção, Dorothy Rae endireitou-se e adotou o ar de superioridade que só os bêbados conseguem . -Outras mudanças -disse com altivez-. Não percebeu? -Quiçá. Como quais? -Como todo o caso que está fazendo por Mandy e a forma que baba por Tate. -Você está errada. Ela amadureceu. -Ja! -soltou indelicadamente-. Ela? Amadureceu? Deus santo, estás cego no que se refere a ela! -Tentou focar seus olhos azuis-. Desde o acidente de avião é como uma pessoa diferente, e tu o sabes. Mas tudo é comédia -afirmou com conhecimento. -E por que ela faria uma coisa assim? -Porque quer se beneficiar de alguma maneira. -Vacilou em direção a ele e colocou um dedo no seu peito, para conseguir maior ênfase -. Seguramente está fazendo o papel da boa esposa do senador para poder viajar com ele a Washington. Que farás então, Jack? Eh? Que farás então com teus desejos pecaminosos? -Quiçá me porei a beber e te farei companhia. Ela levantou uma mão trêmula e o apontou com um dedo. -Não mudes de tema. Tu queres a Carole. Eu te conheço - acabou dizendo com outro soluço. Jack, uma vez mais aborrecido com aquele discurso de alcoólico, acabou de
pendurar a roupa e, a seguir, voltou metodicamente ao quarlo, apagou as luzes e abriu a cama. -Vêem à cama, Dorothy Rae -disse cansadamente. Ela lhe agarrou o braço. -Nunca me quiseste. -Isso não é verdade. -Pensou que o tivesse enganado para que você se casasse comigo. -Nunca disse nada disso. -Eu achei que estava grávida! Pensava-o! -Já sei que sim. -Porque eu não queria pensar que pudesse sair com outras mulheres. -Seus olhos se semicerraram de forma acusatória-. Já sei que te foste com outras. Me enganou tantas vezes que não é surpreende que eu beba. -As lágrimas inundavam-lhe a cara. Colou-lhe no ombro nu, sem força-. Bebo porque meu marido não me quer. Nunca me quis. E agora está apaixonado da mulher de seu irmão. Jack meteu-se na cama, deu-se a volta e tampou-se com a roupa da cama. A indiferença aumentou a irritação de sua esposa. De joelhos, arrastou-se até o centro da cama e começou a dar-lhe pontadas nas costas. -Dime a verdade. Dime quanto a queres. Dime quanto me odeias a mim. Sua ira e sua força ficaram rapidamente esgotadas, como ele já sabia que ocorreria. Derrubou-se a seu lado e dormiu de imediato. Jack incorporou-se e tampou-a; depois, suspirou resignado, pôs-se de custado e tentou dormir.
Capitulo Dezesseis -Pensei que já estivesse na cama. Tate falou desde a porta do banheiro de Mandy. Avery estava de joelhos ao lado da banheira, onde Mandy jogava com um montão de bolas de sabão. -Seguramente deveria estar, mas ficamos brincando um pouco com as bolas de sabão. -Já vejo. Entrou e sentou-se sobre a tampa do vaso sanitário. Mandy lhe deu um sorriso. -Ensina ao papai o que sabe fazer - disse Avery. Obediente, a menina encheu-se as mãos de borbulhas e começou a soprar, fazendo que as bolhas de sabão voassem por todas partes. Algumas caíram sobre os joelhos de Tate, qua as espalhou. -Vá, Mandy! É você quem está tomando banho, não eu! A menina começou a rir e pegou outro punhado. Nesta ocasião uma massa de sabão caiu sobre o nariz de Avery, que, com grande alegria de Mandy, a fez estourar. -Será melhor que acabemos com isto antes de que as coisas fiquem piores. Inclinou-se sobre a banheira, deslizou as mãos sobre as axilas de Mandy e tirou-a. Tate esperava para envolver a sua filha com uma toalha.
-Passa-ma. -Cuidado. Escorrega quando está molhado. Mandy, coberta com uma suave toalha rosa, foi conduzida ao quarto adjacente e depositada ao lado de sua cama. Seus pézinhos atarracados afundaram-se no espesso tapete. O veludo suntuosos cobriu os dez dedinhos. Tate sentou-se no borda da cama e começou a secá-la com mãos experientes. -Pijamas? -pediu, olhando a Avery com expectativa. -Ah, sim. Já o trago. Tinha uma alta cômoda com seis gavetas e um tocador largo com outros três. Onde guardariam os pijamas? Acercou-se ao tocador e abriu a primeira gaveta. Meias e calcinhas. -Carole, na segunda gaveta. Avery respondeu com altivez. -Também precisará roupa íntima. Ele desenrolou a toalha que cobria a Mandy, e ajudou a se pôr a roupa de baixo e lhe pôs o pijama acima da cabeça, enquanto Avery preparava a cama. Tate tomou no braços a Mandy e meteu-a no leito. Avery pegou um pente de cima da cómoda, sentou-se ao lado de Tate à beira da cama e começou a pentear a Mandy. -Cheiras muito bem -susurrou, se inclinando para beijar as rosadas bochechas quando acabou de penteá-la-. Queres um pouco de talco? -Como os teus? -perguntou Mandy. -Sim, como os meus. Voltou à cômoda a por a pequena caixa de música que continha pós de talco e que tinha divisado ali pouco dantes. Regressou à cama e abriu a tampa. Começou a soar uma melodia de Tchaikovski. Cobriu a elegante borla com pós de talco e, a seguir, estendeu-os pelo peito, a tripa e os braços. Mandy inclinou para atrás a cabeça. Avery acariciou-lhe o pescoço com a borla de pós de talco. ,Rindo, Mandy encolheu os ombros e afundou os punhos no peito. -Isso faz cócegas, mamãe. A forma em que se dirigiu a ela surpreendeu a Avery e lhe encheu os olhos de lágrimas. Abraçou à menina com força. Passaram uns segundos dantes de que pudesse voltar a pronunciar palavra. -Agora sim que cheira bem, verdade, papai? -E tanto que sim. Boas noites, Mandy. A beijou, deslizou-a por entre as almofadas e a colcha de verão. -Boas noites. Avery inclinou-se lentamente para beija-la na bochecha, mas Mandy rodeou-lhe o pescoço com seus braços e deu-lhe um sonoro e úmido beijo na boca. Depois, pôs-se de lado, abraçou a seu querido ursinho e fechou os olhos. Ficou surpreendida pela espontánea mostra de afeto, Avery voltou a colocar em seu lugar a caixa de música, apagou a luz e seguiu a Tate pelo corredor até seu próprio dormitório. -Para o primeiro dia... Não pôde dizer nada mais, pois ele a agarrou com força pelo antebraço e a obrigou a entrar na habitação e a encostar-se na parede mais próxima. Mantendo uma mão firmemente ao redor de sua bíceps, Tate fechou a porta para que não pudessem os ouvir e apoiou a palma da outra mão na parede, cerca de sua cabeça.
-Que aconteceu? -exigiu saber ela. -Cale a boca e escute. - Acercou-se ainda mais, a cara tensa de ira-. Não sei o que está jogando comigo. E, sabe o que é mais, não me importa nem um pouco. Mas, se começar a brincar com os sentimentos de Mandy, te jogarei daqui tão rápido que a tua cabeça dará voltas, entendeu? -Não, não estou entendo. -Um caralho, que não entende! -gruniu-. Toda essa doçura e essa representação de alegria é um montão de lixo. -Representação? -Sou um adulto. -És um bruto. Solta o meu braço. -Reconheço tuas interpretações teatrais. Mas Mandy é uma menina. Para ela as coisas são para valer, e responderá a elas. -Acercou ainda mais seu corpo-. E depois, quando voltar a ser como antes, a deixará irreparavelmente traumatizada. -Eu... -Não posso permitir que ocorra uma coisa assim. Não o permitirei. - Confie muito pouco de mim, Tate. -Não me confio em absoluto. Ela respirou fundo e profundamente. Ele a olhou de acima abaixo, de um modo desagradável. -De acordo, esta manhã impressionaste à imprensa em benefício meu; obrigado. Apanhaste-me da mão durante a roda de imprensa; muito doce. Levamos as mesmas alianças matrimoniais; que romântico. -Fez um gesto despreciativo-. Inclusive tem alguns membros da família, que acho deveriam ser mais espertos, pensando que tens experimentado algum tipo de transformação no hospital, que tens encontrado a Cristo ou algo parecido. -Baixou a cabeça até que ficou a tão só uns centímetros da dela-. Conheço-te demasiado bem, Carole. Sei que antes de entrar a matar é quando te mostras mais doce e amável. -Aumentando a pressão sobre seu braço, acrescentou-: Eu conheço a ciência verdadeira, recordas? Agoniada, Avery disse ferventemente: -Estou mudada. Sou diferente agora. -Uma merda! Simplesmente mudou de tática, isso é tudo. Mas não me importo quão bem represente o papel de esposa perfeita do candidato; ficarás fora. O que te disse antes do acidente segue em pé. Após as eleições, seja qual seja o resultado, te vais, amor. A ameaça não a assustou em absoluto. Avery Daniels já tinha perdido tudo , inclusive sua própria identidade. O que a deixou totalmente surpreendida foi que Tate Rutledge, sobre cuja integridade tivesse apostado sua vida, era falso após tudo. -Manipularia ao público dessa maneira? -começou em um susurro-. Serias capaz de fazer toda a campanha eleitoral comigo a teu lado, fazendo o papel de esposa fiel, saudando, sorrindo e lendo pequenos discursos escritos especialmente para mim, só para conseguir mais votos? -Tinha levantado a voz toda uma oitava-. Porque um candidato felizmente casado tem melhores possibilidades de ganhar que um em pleno processo de divórcio, não é assim? O olhar de Tate voltou-se duro como uma pedra. -Boa tentativa, Carole. Jogue a culpa em mim se isso diminui o seu remorso por
tuas próprias manipulações. Sabe perfeitamente por que não te joguei de aqui faz já muito tempo. Quero ganhar estas eleições e não mentir a todos aqueles que me apoiam. Não mentirei a esses votantes. Não vou fazer nada que impeça meu sucesso, inclusive se isso supõe fingir que sou feliz contigo. -Uma vez mais, submeteu-a a um olhar de terrível ódio-. A cirurgia tem conseguido que a superfície pareça melhor, mas segues estando podre por dentro. Avery estava tendo certas dificuldades em manter separadas de si mesma as calunias dedicadas a Carole. Tomava-se a cada insulto a peito, como se estivesse falando com ela e não com a esposa difunta. Queria defender das críticas, lutar com armas de mulher. Porque, conquanto sua feroz ira intimidava-a, também resultava excitante. A ira não fazia mais que intensificar seu atrativo sexual. Emanava dele com tanta potência como o aroma de sua loção pós barba. A boca aparecia dura e cruel. Acalmá-lo converteu-se no objetivo de Avery. Levantou a cabeça, desafiando àquele olhar de ódio. -Estás seguro de que sou a mesma? -Totalmente seguro. Deslizou os braços acima de seus ombros e juntou as mãos na nuca. -Estás seguro, Tate? -Pôs-se de nas pontas dos pé e roçou com seus lábios abertos os dele-. Absolutamente seguro? -Não faças isto. Só te converte em mais puta. -Não sou uma puta! O insulto chegou-lhe ao coração. De alguma maneira, se estavla prostituindo com o marido de outra mulher para atingir a glória; mas isso não a motivava tanto como o crescente desejo sexual, que era mais potente que o que jamais tinha experimentado. Com ou sem a exclusiva, tinha o genuino desejo de dar a Tate a ternura e o amor que lhe tinha faltado em seu casal com Carole. -Não sou a mulher de antes. Juro que não. Inclinou a cabeça para um lado e alinhou seus lábios com os dele. Com as mãos acariciou-lhe a nuca, enredou os dedos em seu cabelo e obrigou-o a acercar-se a ela. Se realmente desejava-o, podia resistir-se, assegurou-se Avery a si mesma. Mas ele permitiu que lhe acercasse a cabeça. Animada, utilizou delicadamente a ponta de sua úmida língua para explorar-lhe os lábios. Os músculos do homem se tensionaram, mas aquilo era um sinal de debilidade, não de resistência. -Tate. Suavemente lhe mordiscou o lábio inferior com os dentes. -Cristo! A mão com a que estava apoiado na parede caiu. Avery viu-se impelida para atrás e amorteceu o peso de seu corpo, ficando presa entre ele e a parede. Um braço rodeou-a fortemente pela cintura. A outra mão lhe segurou a mandíbula, quase rompendo-a com seus fortes dedos. Sustentou-a imóvel enquanto a beijava vorazmente. Esmagou sua boca aberta contra a dela, afundando a seguir a língua na suave e úmida cavidade. Deixou-a quase sem respiração, inclinou a cabeça na outra direção e atormentoua com rápidos e hábeis tremuladas de língua em torno dos lábios. Ela colocou as mãos sobre suas bochechas. Apoiou as palmas e percorreu-lhe os pómulos com as pontas dos dedos, enquanto entregava-se totalmente ao beijo.
Tate começou a manusear a roupa, meteu a mão baixo a saia, e por dentro da calcinha, enchendo-se de excitação com a suave carne feminina. Ela gemeu de prazer quando a dobrou ao meio contra seu pênis inchado e se esfregou justo na fissura. Avery sentiu seu próprio fluxo e invadiu-a uma sensação de febrilidade. Seu sexo estava molhado e cálido. Doíam-lhe os peitos. Os seios se firmaram. E nesse momento viu-se bruscamente abandonada. Piscou várias vezes para recobrar a lucidez. Foi-se-lhe a cabeça para atrás e golpeou a parede. Sujeitou-se com as mãos para não cair ao solo. -Admito que é uma representação muito boa -lhe disse ele em um tom duro. Tinha as bochechas rosadas e os olhos dilatados. Respirava breve e entrecortadamente. Não és tão descarada como antes, tens mais classe. Diferente, mas igualmente excitante. Talvez mais excitante ainda. Ela baixou o olhar à volumosa braguilha das calças, um olhar que convertia em supérfluas as palavras. -De acordo, estou absismado -admitiu com um rosnado de mau humor-. Mas prefiro que me dê um ataque antes de voltar a meter na cama contigo. Saiu do dormitório. Não fechou a porta inesperadamente, senão que a deixou aberta, algo que resultava mais insultante que se tivesse saído irado. Com grande dor de coração e abatida, Avery ficou a só no quarto de Carole, com as roupas de Carole, com os aborrecimetnos de Carole. Todos os membros da família se tinham fixado nas desconcertantes contradições da personalidade de Carole, mas seu estranho comportamento mantinha acorda pela noite a uma pessoa em concreto. Após passar horas passeando pelos terrenos que rodeavam a casa, buscando respostas na escuridão, o insomne lhe propôs uma pergunta à lua. «Que está planejando essa filha de puta?» Resultava difícil precisar em que consistiam concretamente as mudanças. As diferenças do rosto eram sutis, conseqüência da cirurgia estética. O cabelo mais curto dava-lhe um aspecto diferente, mas isso era insignificante. Tinha perdido uns quilos, fazendo-a parecer mais delgada que dantes, mas não se podia descrever como uma grande perda de importância. Quanto ao físico estava quase exatamente igual que dantes do acidente. Eram as mudanças não físicas os que se notavam e os - que pareciam tão misteriosos. «Que está planejando essa filha de puta?» Julgando por seu comportamento desde o acidente, poderia chegar a pensar-se que o contato com a morte a tinha provisto de consciência. Mas isso não podia ser. Ela não conhecia o significado dessa palavra. Ainda que, à vista de toda a boa vontade que estava dispensando, ficava claro que isso era o que queria que pensasse todo mundo. Cabia a possibilidade de que Carole Rutledge se tivesse arrependido? Que estivesse buscando a aprovação de seu marido? Que pudesse chegar a ser uma mãe amante e carinhosa? «Não me faças rir.» Era uma estupidez que mudasse de tática agora, depois de ter estado fazendo muito bem o trabalho que se tinha encarregado: destruir a alma de Tate Rutledge, para que, quando a bala explodisse em sua cabeça, quase lhe resultasse uma bênção.
Carole Navarro era perfeita para levar a cabo a missão. Por suposto, tiveram que ensiná-la um pouco, a vestir corretamente e lhe ensinar a não utilizar continuamente palavrões. Mas, uma vez conseguido o objetivo, resultou ser uma surpreendente fonte de diversão, inteligência, refinamento e beleza, à que Tate não foi capaz de se resistir. O não sabia que o talento de sua esposa tinha sido apurado de toda obscenidade, que sua inteligência era tão só produto de uma refinada mente de rua, sua elegância adquirida e sua sexualidade, suavizada com falsa moralidade. Tal como estava planejado, o homem caiu na armadilha, porque ela prometia todo o que ele buscava em uma esposa. Carole manteve o engano até após o nascimento de Mandy, o qual também fazia parte do plano. Para ela resultou um alívio pôr em marcha a segunda fase e começar a ter aventuras amorosas. Os grilhões da respeitabilidada fazia tempo que a oprimiam. Tinha perdido a paciência. Uma vez libertada, sua atuação foi perfeita. Deus meu, que maravilhoso foi ser testemunha da desgraça de Tate! A exceção da indiscreta visita à unidade de cuidados intensivos do hospital, não tinham feito menção alguma da secreta aliança desde o dia em que Carole e Tate foram apresentados quatro anos atrás. Nem mediante palavras nem com atos chegou-se a desvelar nunca o pacto contraído quando a recrutou para fazer o trabalho. Mas, desde o acidente, estava mais evasiva que de costume. Observava-o tudo com grande detalhe. Fazia algumas coisas bastante raras e estranhas, inclusive tratando-se de Carole. A família inteira estava-se dando conta dos recursos pouco familiares de sua personalidade. Quiçá atuava unicamente por diversão. Isso casaria com sua forma de ser. Desfrutava sendo perversa só pelo prazer que lhe tentava a perversidade. Não era sério, mas parecia ter tomado a iniciativa, mudando o plano de ação sem consulta prévia. Pudesse ser também que não tivesse tido ainda a oportunidade do consultar. Poderia saber algo a respeito de Tate que ninguém mais conhecesse e sobre o qual tivesse que atuar de imediato. Ou quiçá a muito puta, e isso era o mais provável, tinha decidido que ser a esposa de um senador valia bem mais a pena que o dinheiro que devia cobrar no dia em que a Tate Rutledge o metessem em um ataúde. Afinal de contas, a metamorfosis coincidia com as eleições primárias. Fora qual fosse o motivo, esse novo comportamento seu resultava totalmente irritante. Seria melhor que tivesse cuidado, ou se veria excluída do trato. A essas alturas, todo podia funcionar já com ou sem sua participação. Não se dava conta disso essa estúpida zorra? Ou tinha compreendido por fim que uma segunda bala lhe estava destinada a ela?
Capitulo Dezessete
-Senhora Rutledge, que surpresa. A secretária pôs-se em pé para dar as boas-vindas a Avery quando esta entrou na antessala do escrotório de advogados que Tate compartilhava com seu irmão. Para inteirar-se de onde estava teve que buscar a direção na lista telefônica. -Olá. Como está? Não se dirigiu à secretária por seu nome. O http://xixona.dlsi.ua.es/apertium/webform/index.php?direccion=&word=cartelito colocado sobre a mesa dizia <Crawford», mas não queria se arriscar. -Muito bem, e você está fabulosa. -Obrigado. -Tate disse-me que estava mais linda que nunca, mas há que o ver para o crer. Tate tinha-lhe dito isso? Não tinham tido uma conversa íntima desde a noite em que a beijou. Resultava-lhe difícil achar que ele tivesse feito à secretária um comentário tão lisonjeiro sobre seu aspecto. -Está no escritório? Estava-o. Tinha visto o carro estacionado fora. -Encontra-se com um cliente. -Pensei que não se estava ocupando de nenhum caso. -Claro que não. -Mary Crawford alisou a saia para baixo da cintura e voltou a sentar-se-. Está com Barney Bridges. Já sabe o caráter que tem. De qualquer modo, prometeu uma forte contribuição à campanha, de maneira que, quando a trouxe pessoalmente, Tate encontrou um pouco de tempo para o receber. -Bom, já que vim até aqui, demorarão muito? Espero? -Faz favor. Sente-se. -A secretária mostrou o conjunto de sofás e cadeiras da sala de espera, estofadas em tecido listrado de cor vinho tinto e azul marinho-. Apetece-lhe um café? -Não, obrigado. Não tomarei nada. Com freqüência recusava o café, pois preferia não tomar nada a ter que bebê-lo muito doce como o que tomava Carole. Sentou-se em uma das cadeiras, tomou um dos últimos números de Field and Stream e começou a folheá-la ociosamente. Mary continuou escrevendo a máquina, tal como estava fazendo quando entrou Avery. Essa impetuosa visita ao escritório era perigosa, mas tratava-se de uma medida desesperada que devia tomar para não fiar louca. A que se dedicava Carole Rutledge durante todo o dia? Avery estava vivendo no rancho mais de duas semanas, e ainda tinha que descobrir uma sozinha atividade construtiva na que tivesse estado envolvida a esposa de Tate. Tinha demorado em vários dias em localizar as coisas do dormitório e das outras habitações da casa às quais tinha acesso. Olhava continuamente acima do ombro, não querendo alertar a ninguém do que se trazia entre mãos. Finalmente, sentiuse cômoda com a disposição da casa e conhecedora dos lugares nos que se guardavam os objetos de uso diário. Pouco a pouco, começou a conhecer também os arredores da casa. Nessas ocasiões levava-se a Mandy, para que não parecessem nada mais que inocentes passeios. Carole usava um carro esportivo norte-americano. Com grande consternação de
Avery, resultou não ser automático. Ela não era demasiado hábil conduzindo esse tipo de carros. As primeiras vezes que saiu com ele quase se acidentou, ao mesmo tempo que deixou fora de serviço todas as marchas. Mas, assim que sentiu-se segura, inventou-se recados para sair de casa. O estilo de vida de Carole era terrivelmente aborrecido. A seu rotina faltavam-lhe espontaneidade e diversão. O aborrecimento começava a enloquecer a Avery Daniels. No dia que encontrou a agenda pessoal em uma gaveta do criado-mudo, se pegou a ela como um mineiro a uma pepita de ouro. Mas um exame de suas páginas revelou muito pouco, exceto os dias nos que Carole ia ao salão de beleza. Avery não nunca ligou para pedir hora. Seria um luxo poder passar várias horas à semana em um salão de beleza, algo que Avery Daniels nunca tinha tido tempo de fazer; mas não podia se arriscar a deixar que a cabeleireira de Carole lhe tocasse o cabelo ou lhe fizesse a manicure, pois poderiam detectar algo que os demais não viam. A agenda não lhe deu pista alguma do que fazia Carole para encher em seus dias. Obviamente, não era membro de nenhum clube. Tinha poucos ou nenhum amigo, porque ninguém telefonava. Aquilo foi uma surpresa e um alívio para Avery, que tinha temido que uma manada de confidentes caíssem sobre ela, esperando retomar as coisas onde as tinham deixado dantes do acidente. Em aparência, tais amizades não existiam. As flores e os cartões recebidos durante seu convalecência deviam de ser de amigos da família. Carole não tinha nenhum trabalho, nenhum passatempo. Avery concluiu que devia se sentir agradecida. Que teria ocorrido se Carole se tivesse dedicado à escultura ou fora artista, arpista ou uma calígrafia experiente? Suficientes dificuldades tinha tido já aprendendo em privado a escrever e a comer com a mano direita. Ninguém esperava que fizesse nenhuma tarefa do lar, nem sequer sua própria cama. Mona ocupava-se de tudo na casa e na cozinha. Um jardineiro ia duas vezes por semana a ocupar das plantas do pátio. Um vaqueiro retirado, demasiado velho para o cuidado do gaado ou para o rodeio, ocupava-se do estábulo e dos cavalos. Ninguém lhe animava a que retomasse nenhuma atividade nem interesse algum que tivessem ficado suspendidos por causa do acidente. Carole Rutledge foi uma mulher preguiçosa. Avery Daniels não o era. Abriu-se a porta do escritório de Tate. Saiu acompanhado de um homem de média idade e largas costas. Riam-se. O coração de Avery acelerou-se ao ver a Tate, que luzia um genuíno sorriso. As linhas de seus olhos estavam enrrugadas com um sentido do humor que nunca compartilhava com ela. Eddy insistia continuamente que mudasse os jeans, as botas e as camisas esportivas por uma camisa social e uma gravata. Ele se negava, a exceção das ocasiões em que tinha que aparecer em público. -A quem tenho que impressionar? -perguntou-lhe a seu preocupado diretor de campanha durante uma das discussões sobre sua vestimenta. -A vários milhões de votantes -contestou-lhe Eddy. -Se não consigo impressionar pelos valores que defendo, não se vão impressionar pelo que levo em cima. E Nelson comentou divertido:
-A não ser que seja merda. Todos se riram e ali finalizou a discussão. A Avery gostava dessa forma de vestir. Estava sensacional. Escutava com a cabeça inclinada, formando um ângulo que ela tinha chegado a, encontrar adorável. Uma mecha de cabelo caía-lhe sobre a frente. Tinha a boca aberta, desenhando um amplo sorriso e mostrando uns fortes dentes brancos. Ainda não se tinha reparado de sua presença. Em momentos assim desfrutava o observando, dantes de que o desprezo por sua esposa lhe transformasse o belo sorriso em algo horrível. -Isto sim que é uma sorte! A profunda voz grave acordou a Avery de seu romântico sonho. O visitante acercou-se rapidamente a ela, com suas curtas e rechonchas pernas que lhe recordaram as de Irish. Cedo viu-se asfixiada por um abraço de exuberante afeto. -Maldita seja! Estás mais linda que nunca, e não achei que isso jamais fosse possível. -Olá, senhor Bridges. -Senhor Bridges? Merda. De onde tens sacado isso? Disse-lhe a mamãe quando saístes pela televisão que estavas bem mais linda que dantes. Ela esteve de acordo comigo. -Alegro-me de que gostem. Mexeu cerca da ponta de seu nariz dois dedos atarracados que sustentavam um puro. -Agora escuta ao velho Barney, querida. Essas pesquisas não significam absolutamente nada, me ouves? Não têm nenhuma maldita importância. Disse-lhe a mamãe no outro dia que essas pesquisas valem uma merda. Achas que apostaria meu dinheiro por este garoto -disse, golpeando com força a Tate entre os ombros- se não pensasse que ia á lhe apertar os parafusos a esse maldito Dekker no dia das eleições? Eh? -Não, senhor, tu não, Barney - contestou ela, se rindo. -Tens toda a razão, não o faria. - Meteu-se o puro em uma esquina da boca, atraiu-a para si e voltou a lhe dar um estrondoso abraço-. Me encantaria vos convidar a comer, mas tenho uma reunião de diáconos na igreja. -Não quero distraí-lo -interveio Tate, tentando se manter sério-. Obrigado de novo por teu donativo. Barney recusou as obrigado com um gesto da mão. -Mamãe manda-te o seu por correio hoje. Tate experimentou uma verdadeira dificuldade ao engolir. -Pensei..., pensei que o cheque era em nome dos dois. -Vamos, garoto, não. Essa só era minha parte. Tenho que me marchar. A igreja está bem longe de aqui e mamãe enfada-se se conduzo o Vette a mais de cento dez pela cidade, de maneira que prometi-lhe não o fazer. Há demasiados loucos por aí. Cuidem-vos, ouvis-me? Afastou-se a grandes passadas. Após ter fechado a porta, a secretária levantou a vista para Tate. -Tem dito sua parte? -Isso é o que tem dito. -Moveu a cabeça, incrédulo-. Deve de ser verdade que as pesquisas parecem uma merda.
Mary riu-se. Avery também. Mas o sorriso de Tate desapareceu após entrar no escritório e fechar a porta. -Que fazes aqui? Precisas dinheiro? Quando se dirigia a ela nesse tom frio e expeditivo, que reservava para as ocasiões em que se encontravam sozinhos, a cada palavra era como se lhe arrancassem as entranhas. Produzia-lhe uma grande dor. E também fechava suas lacunas. -Não, não preciso dinheiro -replicou secamente, enquanto se sentava na cadeira de adiante da mesa-. Tal como me sugeriste, fui ao banco e voltei a assinar todos os papéis. Expliquei-lhes o da mudança em minha assinatura -acrescentou, flexionando a mão direita-. De maneira que sempre posso estender um cheque quando precise dinheiro. -Então, por que tens vindo? -Preciso outra coisa. -Que? -Algo que fazer. A inesperada afirmação causou o efeito desejado. Conseguiu toda a atenção. Mantendo-lhe o olhar com total ceticismo, ele se reclinou na cadeira e colocou os pés na borda da mesa. -Algo que fazer? -Exatamente. Tate juntou as mãos sobre a fivela do cinto. -Escuto-te. -Me aborreço, Tate. -Se despiu de toda a sua frustração. Inquieta, levantou-se da cadeira-. Todo o dia metida no rancho, sem nada produtivo em que me ocupar. Estou farta de não fazer nada. Minha mente começa a apodrecer. Quase estou a ponto de pôr-me a comentar os seriados de tv com Mona. Enquanto passeava-se sem rumo pelo escritótio, tomou nota de vários detalhes, principalmente de que tinha fotografias emoldurada de Mandy por todas partes, mas nenhuma de Carole. Os diplomas e as fotografias elegantemente emoldur. Buscando pistas de seu passado, deteve-se ante uma ampliação de uma foto tomada no Vietnã. Tate e Eddy estavam de pé adiante de um bombardeiro, rodeando-se os ombros com os braços em uma pose de camaradagem. Ambos sorrisos eram igual de convencidos. Avery tinha-se inteirado acidentalmente de que foram parceiros de habitação, até que Tate pospôs seus estudos para alistar-se nas forças aéreas. Até esse momento não se tinha dado conta de que estiveram juntos na guerra. -Desde quando te preocupa a mente? -perguntou-lhe, o que fez que ela se desse a volta. -Preciso atividade. -Inscreva-se numa academia. -Já o fiz, no mesmo dia que o médico me examinou a tíbia e me deu permissão para o fazer. Mas a classe só dura uma hora três vezes por semana. -Inscreva-se em outra. -Tate! -Que? De que demônios vai tudo isto? -Estou tentando te explicar. E tu te obstinas em te negar a me escutar.
Ele olhou de relance à porta, consciente da secretária sentada ao outro lado. Baixando a voz, disse: -Gostas de montar a cavalo, mas não o fizeste nem uma sozinha vez desde que tens regressado a casa. Não, não o tinha feito. A Avery também gostava de montar a cavalo, só que não conhecia as aptidões de Carole como ginete e não queria arriscar sua sorte sendo ou demasiado boa ou demasiado inexperiente. -Tenho perdido interesse -contestou com pouca convicção. -Já me imaginei que ocorreria -apontou ele sardônicamente-, assim que tirasses as etiquetas dos preços de toda essa equipe tão caro. Avery tinha visto toda a roupa de montar no armário de Carole e se perguntou se alguma vez se teria posto aqueles calças de montaria e a casaco curto. -Já voltarei ao usar dentro de um tempo. Dando-se tempo para pensar, observou a fotografia de Nelson com Lyndon B. Johnson, quando este era ainda membro do Congresso. Impressionante. Tinha várias fotografias de Nelson em uniforme que lhe proporcionaram uma crônica de sua carreira militar. Uma foto em particular chamou-lhe a atenção, porque recordava a foto de Tate e Eddy. Na fotografia, o braço de Nelson posava-se carinhosamente sobre o ombro de um cadete das forças aéreas; um jovem surpreendentemente atraente e cavalheiro como Nelson. Uma forma ao fundo, como um gigante, se via um monstruoso bombardeiro. Escrito a máquina na parte inferior da foto podia ler-se: «Comandantes Nelson Rutledge e Bryan Tate, Coréia do Sul, 1951.» Bryan Tate. Um parente de Nelson? Um amigo? Seguramente, porque Nelson tinha-lhe posto a seu filho o mesmo nome. Avery voltou-se de novo, tentando não mostrar maior interesse na fotografia da que pudesse demonstrar alguém que já a conhecia. -Dá-me trabalho na sede da campanha. -Não. -Por que? Fancy trabalha ali. -O qual é razão suficiente para que tu não te metas. Podem rodar cabeças. -A ignorarei. Ele negou com a cabeça. -Temos um montão de novos voluntários. Já se estão calcando uns a outros. Eddy tem-se que inventar tarefas para lhes dar trabalho a todos. -Tenho que me ocupar em algo, Tate. - Diga-me por que, pelo amor de Deus! Como Avery Daniels funcionava melhor debaixo de pressão, estava acostumada a se mover a grande velocidade e não tolerava a inatividade. A vida sedentaria que levava Carole Rutledge a estava voltando louca. Não poderia nem proteger do assassinato nem escrever uma história sobre o atentado se ele continuava a mantendo afastada. Tanto seu próprio futuro como o dele dependiam de que ela participasse ativamente na campanha ao igual que o resto dos suspeitos. -Tenho a sensação de que deveria ajudar de alguma maneira. Soltou uma brutal gargalhada breve e sarcástica. -A quem te achas que estás enganando? -Sou tua esposa!
-Só momentaneamente! A feroz réplica silenciou-a. Tate, vendo a expressão ferida de seu rosto, susurrou um rápidamente e disse: -De acordo, se queres fazer algo por mim, continua te comportando decentemente com Mandy. Está-se abrindo um pouco, parece-me. -Está-se abrindo muito. Minha intenção é que melhore a cada dia -Apoiou as mãos sobre a mesa e inclinou-se sobre ele, ao igual que fazia quando lhe pedia permissão a Irish para cobrir uma história que ele desaprovava-. Nem sequer Mandy e seus problemas ocupam-me o tempo suficiente. Não posso estar com ela a todas horas. Vai à escola três manhãs à semana. -Estiveste de acordo com a psicóloga quando o propôs. -E sigo estando de acordo. O relacionar com outros meninos resulta extremamente benéfico. Precisa desenvolver certas habilidades sociais. Mas, enquanto ela está no colégio, passeio pela casa, matando o tempo até que chega a hora da ir recolher. A cada tarde dorme uma longa cesta. -Inclinou-se mais adiante-. Faz favor, Tate. Estou-me apodrecendo. Tate segurou o olhar durante longo momento. Finalmente, baixou a vista para o decote aberto de sua blusa de seda e em seguida levantou-a e pareceu enfadarse consigo mesmo pelo mero fato de ter perdido ligeiramente o controle. Se limpou a garganta e perguntou enfadado: -De acordo, que sugeres? A tensão de Avery diminuiu um pouco. Pelo menos estava disposto a discutí-lo. Endereçou-se. -Deixa-me trabalhar na sede da campanha. -Não. Então deixa-me que te acompanhe em tua viagem na semana que vem. -Não -repetiu, com forçada decisão. -Faz favor. -Tenho dito que não. Enfadado, pôs os pés no solo, levantou-se e deu a volta na mesaCarole, e eu não suporto as brigas que acontece. -Como, por exemplo, que? -Como que? -Se escandalizou, incrédulo de que a memória lhe falhasse de tal maneira -. A última vez que me acompanhaste, te queixaste do quarto, da comida, de tudo. Chegaste continuamente tarde, quando sabias o muito que Eddy queria cumprir o horário. Fizeste comentários bobos com a imprensa, que a ti te pareceram graciosos e que o resto da humanidade considerou de mau gosto e ofensivos. E aquilo só foi uma viagem de três dias para estudar o terreno dantes de tomar minha decisão final. -Não será assim desta vez. -Não terei tempo para estar contigo. Quando não esteja dando um discurso, o estarei escrevendo. Ao cabo de umas horas te começarás a queixar de que não te faço caso e de que não tens nada que fazer. -Encontrarei coisas que fazer. Posso preparar café, pedir biscoitos, apontar seus lápis, atender ao telefone, devolver telefonemas, fazer recados. -Trabalhos domésticos. Temos todo tipo de gente que faz essas coisas. -Mas algo poderei fazer.
Estava-lhe seguindo muito de perto enquanto dava voltadas pelo escritório. Quando se deteve, chocou com ele por detrás. Tate deu-se a volta. -Após o primeiro dia já não te resultaria inovador e estarias cansada de tudo, te queixando e com vontades de voltar a casa. -Não é verdade. -Por que tens de repente tantas vontades de te meter em isto? -Porque -argumentou, a cada vez mais irritada- estás-te apresentando ao Senado, e é responsabilidade minha, como esposa tua, te ajudar a ganhar. -Uma merda! Ouviram-se três golpes secos na porta. Segundos depois, abriu-se e entraram Eddy e Jack. -Perdoem-nos -disse o primeiro-, mas ouvimos todos os gritos quando chegamos e pensamos que quiçá pudéssemos atuar de árbitro. -Que está ocorrendo? -Jack fechou a porta por trás de si-. Que fazes aqui? -Vir ver meu marido -replicou Avery-. Se parece-te bem a ti, Jack. Apartou-se a franja da frente, um gesto beligerante que restava a remediar a situação. -Tranqüiliza-te, pelo amor de Deus! Só perguntava. Jack sentou-se no pequeno sofá apoiado contra a parede. Eddy meteu-se as mãos nos bolsos das calças e ficou olhando o tapete persa entre seus resplandecientes sapatos. Tate regressou a sua mesa e sentou-se. Avery estava demasiado excitada para sentar-se, de maneira que dirigiu-se à mesa e apoiou-se nela. -Carole quer acompanhar na viagem da semana que vem -informou Tate. Jack disse: -Deus, outra vez não! -Por que não? -replicou Avery. -Vamos discutí-lo - argumentou Eddy. Tocou-lhe o turno a Tate: -Não gostas da ideia, Jack? Seu irmão jogou-lhe uma mirada de desgosto a Avery, encolheu-se de ombros e susurrou: -É tua mulher. A atenção de Tate transladou-se a Avery. -Já conheces as razões as quais me oponho . -Algumas delas são justificadas- disse ela em tom conciliador, o admirando por não criticar a sua esposa adiante dos outros homens-. O farei melhor desta vez, agora que sei o que me espera e o que se espera de mim. -Eddy? O exame que Eddy estava submetendo ao tapete finalizou quando Tate pronunciou seu nome. Levantou a cabeça. -Não há dúvida alguma de que um lindo casal é um produto mais fácil de vender que o de um homem bonito sozinho. -Por que? -Imagem, principalmente. Um casal representa todos os valores que defendem os norte-americanos, um lar, o sonho americano. O casal significa que, uma vez que
chegues a Washington, não vai a torrar o dinheiro dos contribuintes contratando secretárias lindrisada. Eddy sorriu sutilmente e reconheceu: -Ao menos em teoria. As mulheres votantes te respeitarão por ser um marido fiel e um pai responsável. Aos homens gostarão que não sejas de homossexual nem estejas caminho do ser. -Apesar de todos os refinamentos modernos, aos votantes poderia intranquilizálos confiar em um homossexual. Um candidato bem parecido produz um intrínseco ressentimento entre os votantes masculinos. Ter uma mulher a teu lado convertete em um deles. -Em outras palavras, a miséria busca companhia -sentenciou Avery sarcasticamente. A modo de desculpa, Eddy encolheu-se de ombros: -Eu não me inventei as normas, Carole. Ela repartiu sua mirada de asco entre os três. -Então, qual é o veredicto? -Tenho uma ideia. -Adiante, Eddy. Ao igual que antes, Tate descansava os pés sobre a borda da mesa e estava encostado na cadeira de couro. Avery teve a tentação de tirar-lhe as botas da mesa, só para que perdesse o equilíbrio e um pouco de seu sangue frio. Eddy disse: -Em nome de Carole, recusei o convite que lhe fizeram para o jantar que se celebra nesta próxima sexta-feira. -A dos governadores sulistas em Austin? -Exatamente. Desculpei-a do jantar alegando que, apesar de todos os progressos realizados, não se encontrava ainda em condições de assistir a um jantar de gala. -Voltou-se para ela-. Poderia voltar a chamar e aceitar. É um grupo de gente dos dois partidos, de maneira que não se fará campanha ativa; trata-se só de uma oportunidade para apertar mãos, ver a gente e que o vejam a um. Comprovaremos tudo bom desenvolvem-se as coisas essa noite e, sobre essa base, decidiremos o da viagem. -Uma prova, em outras palavras -disse Avery. -Se assim queres o considerar -repôs Eddy em tom tranqüilo. Dirigiu-se a Jack e a Tate-: Foi muito bem na roda de imprensa ao sair do hospital. A opinião de Eddy tinha uma grande importância para Tate, mas as decisões finais eram sempre suas. Olhou a seu irmão maior, que permanecia irrascívelmente silencioso. -A ti que te parece, Jack? -Suponho que estou de acordo - contestou, a olhando com ressentimento-. Sei que a papai e a mamãe gostariam que os de dois apresentassem uma frente unida. -Graças aos dois por vossos conselhos. Recolheram a sutil indireta. Jack saiu do escritório sem dizer nem uma palavra. Com um movimento de cabeça, Eddy despediu-se de Avery e fechou a porta após sair. Tate sustentou-lhe a mirada a Avery durante uns momentos.
-De acordo -aceitou relutantemente-. Ganhaste-te a oportunidade de convencerme de que podes ser uma ajuda mais que um estorvo quando começarmos a campanha em sério. -Não te desapontarei, Tate. Prometo-o. Ele franziu o cenho, com gesto de dúvida. -Sexta-feira pela noite. Sairemos de casa às sete em ponto. Esteja preparada.
Capitulo Dezoito -Eu já vou . O timbre da porta soou duas vezes. Avery foi a primeira em chegar. Segurou a maçaneta e abriu. Ali estava Van Lovejoy, entre os gerânios. Avery ficou gelada. Seu expectante sorriso de boas-vindas voltou-se de pedra e seus joelhos começaram a tremer. Encolheu seu estômago. Van reagiu com similar intranquilidada. Suas costas encorvada endireitou-se de imediato. Um cigarro pendia dentre seus dedos. Piscou repetidamente. Avery, com a esperança de que suas pupilas estivessem dilatadas por causa da maconha e não pela surpresa, reuniu toda a compostura possível. -Olá. -Sim, isto... -Fechou os olhos um momento e moveu sua cabeça de cabelo lacio-. Senhora Rutledge? -Sim? Ele cobriu o coração com sua mão ossuda. -Deus meu, durante uma fração de segundo você se parecia exatamente a... -Entre, faz favor. Não queria ouvir pronunciar seu nome. Com grande dificuldade conseguiu evitar o impulso de pronunciar o seu com alegria. Resultava-lhe quase impossível não o abraçar ferozmente e lhe dizer que estava por trás da melhor história de sua carreira. Mas desde o princípio tinha-se metido em aquilo sozinha. Contar a Van poria também em perigo sua vida. Por muito reconfortante que resultasse ter um aliado, não podia se permitir aquele luxo. Ademais, não queria se arriscar a que tudo se fosse ao fracasso simplesmente por confiar nele. Van não era do tudo de confiança. Pôs-se de lado e ele se uniu a ela na entrada. O mais natural teria sido que olhasse a seu ao redor, contemplando a impressionante casa, mas, em vez disso, a observava fixamente a ela. Avery se compadeceu de sua confusão. -Você é...? -Oh, perdão. -Limpou-se timidamente as palmas das mãos nos jeans e estendeu o braço direito. Ela lhe deu a mão-. Van Lovejoy. -Eu sou Carole Rutledge. -Já o sei. Estava ali no dia em que saiu da clínica. Trabalho para KTEX. -Entendo. Apesar de que o pobre tentava levar uma conversa normal, seus olhos não se apartavam dela. Para Avery era uma agonia estar tão perto de um amigo e não
poder se comportar com normalidade. Tinha um milhão e meio de perguntas a fazer, mas decidiu propor a que logicamente lhe tivesse formulado Carole. -Se está aqui em nome da cadeia de televisão, não deveria que ter falado primeiro com o senhor Paschal, o diretor de campanha de meu marido? -O já sabe que ia vir. Enviou-me a produtora. -A produtora? -Vou gravar um anúncio para televisão aqui na quarta-feira próxima. Vim hoje para estudar o terreno. Não lhe disse ninguém que ia passar? -Eu... -Carole? Nelson entrou no recibidor, submetendo a Van a um olhar de severa desaprovação. Nelson sempre estava limpo e bem vestido como um militar. Suas roupas não tinham nem uma só rruga e seu cabelo canoso estava sempre bem penteado. Van era a antítese. Sua blusa suja procedia de um restaurante chinês que se especializava em ostras. O obsceno lema escrito na blusa dizia: «tira-me, chupame, coma-me cru.» Seus jeans já passados de moda estavam verdadeiramente andrajosos. Os sapatos esportivos não levavam cordões. Avery duvidou que possuísse um par de meias, porque nunca levava. Tinha um aspecto enfermo e anêmico, até o ponto de estar demacrado. Os ombros puntiagudos lhe sobressaíam por embaixo da blusa. Se não andasse sempre encorvado, todas seus costas ficariam perfeitamente desenhadas; por assim o dizer, as costas se dobrava sobre o torso côncavo. Avery sabia que aqueles dedos manchados de nicotina e com as unhas sujas resultavam em superdotados horas ao manusear um vídeo. Esses olhos vazios eram capazes de uma incrível intuição artística. Pelo contrário, Nelson só via a um hippie eterno, uma vida jogada a perder. O talento de Van ficava tão bem oculto como a verdadeira identidade de Avery. -Nelson, apresento-te ao senhor Lovejoy. Senhor Lovejoy, o coronel Rutledge. Nelson parecia relutante a dar a mão a Van e o fez muito rapidamente-. Vim para estudar a casa e preparar o espaço publicitário que vão gravar na semana que vem. -Você trabalha para Produções MB? -perguntou Nelson friamente. -Algumas vezes trabalho para eles. Quando buscam o melhor. -É. Disseram que alguém viria hoje. -Aparentemente, Van não era o que esperava Nelson-. Mostrarei a casa. O que quer ver, o interior ou o exterior? -As duas coisas. Qualquer lugar que Rutledge, sua esposa e sua filha acostumem a passar o tempo. Situações normais é o que disseram que queriam. Lixo sentimental. -Pode ver todas as partes da casa que queira, mas não terá acesso a minha família, senhor Lovejoy. Minha esposa se sentiria ofendida por essas palavras grosseiras de sua blusa. -Não é ela quem a leva posta, por que porcaria iria se importar? Os olhos azuis de Nelson ficaram gelados. Estava acostumado a que pessoas que ele considerava inferior o tratassem com maior deferência. A Avery não teria surpreendido nada se o tivesse agarrado pelo colarinho e pelo pescoço da camisa para o pôr imediatamente na rua. Se o assunto de Van não estivesse diretamente
relacionado com a campanha de Tate, seguramente o teria feito. Tudo o que disse foi: -Carole, rogo-te que desculpes o que acabas de ouvir. Com licença. Vão voltou-se para ela. -Já nos veremos, senhora Rutledge. Perdoe que eu tenha ficado olhando, mas se parece tanto a... -Agora estou acostumada que as pessoas me olhe -interrompeu rapidamente-. É normal que a todo mundo lhe produza uma verdadeira curiosidade. Nelson inclinou impaciente a cabeça. -Por aqui, Lovejoy. Van dirigiu-lhe um novo olhar assombrado antes de seguir a Nelson pelo corredor. Avery retirou-se a sua habitação e apoiou-se na porta depois de fechar a suas costas. Respirou profundamente e reteve com grande esforço umas lágrimas de nervosismo e remorso. Tiria gostado se agarrar ao delgado braço de Van e, após uma jubilosa reunificação, pedir-lhe informação. Como estava Irish? Seguia triste por sua morte? Estava-se cuidando? Que tinha passado com o novo homem do tempo? Demitiram-no, ou foi-se por vontade própria? Que tinha tido a secretária grávida, um menino ou uma menina? Quais eram as últimas fofocas do departamento de vendas? Seguia o gerente sendo-lhe infiel a sua mulher? Não obstante, era consciente de que quiçá Van não se mostrasse tão contente da ver como ela a ele. Bom, estaria encantado de que seguisse viva, mas, uma vez se recuperasse do susto, quase podia lhe ouvir dizer: «Que demônios achas que estás fazendo?» Com freqüência, também Avery se fazia a mesma pergunta. Queria a história, sim, mas o que a ela a motivou podia não chegar a se cumprir em absoluto. Salvar-lhe a vida a Tate foi a razão básica pela- qual decidiu ocupar o lugar da recém falecida esposa de Tate. Mas seguia sendo verdadeiro isso? Onde estava a ameaça que se supunha que existia? Desde que chegou à casa, tinha-se convertido em uma observadora curiosa. Existia uma verdadeira discórdia entre Jack e Dorothy Rae; Fancy parecia capaz de provocar a um santo; Nelson era um despota; Zee, arrogante; Eddy, totalmente eficaz. Mas nenhum deles tinha demonstrado mais que adoração e carinho para Tate. Queria descobrir ao assassino em potencial e conseguir a história que lhe faria recuperar o respeito e a credibilidade que tão estúpidamente sacrificou por um ato de pouca sensatez. A presença de Van tinha-lhe recordado aquilo. Com sua chegada tinha-se dado conta também de que não se estava concentrando tanto no incrível da história, senão na gente que fazia parte dela. Isso não resultava surpreendente. A objetividade sempre foi um dos aspectos mais difíceis de sua carreira, o único elemento essencial do jornalismo que se lhe tinha escapado. De seu pai herdou o interesse e a habilidade pelo jornalismo; no entanto, a capacidade de seu progenitor para descartar o fator humano não fez parte da herança. Tinha de fato feito grandes esforços para desenvolver o dom da objetividade, mas por enquanto tinha fracassado. Temia não o aprender nunca se misturando com os Rutledge. Só que não podia ir embora já. A maior falha de seu cuidadoso plano era que não
tinha deixado aberta uma via de escape. A não ser que pusesse ter todas as cartas sobre a mesa, não tinha mais eleição que seguir e se tomar as coisas tal como se apresentassem, incluídas as visitas por surpresa de velhos amigos. Chegou a sexta-feira. Avery passou as longas horas da tarde jogando com Mandy em seu quarto, depois que a menina acordasse da cesta. Sentadas a uma pequena mesa, fizeram dinossauros com argila até que Mandy disse que tinha fome e se foi com Mona. Às cinco, Avery tomou banho. Enquanto se maquiava, tomou um pequeno aperitivo que lhe serviu Mona. Arranjou-se o cabelo com creme modelador. Seguia tendo-o curto e elegante, mas já não tão severo. A parte superior tinha crescido o suficiente como para lhe dar uma bonita forma. Acentuou os distintos e atrativos resultados finais com uns caros brincos de diamantes. Às seis e quarenta e cinco, quinze minutos dantes da hora, já estava pronta. Encontrava-se no banheiro, perfumando-se, quando Tate entrou de repente a grandes passadas. Sua não anunciada e desacostubrada visita a surpreendeu. Ele dormia no sofá cama na saleta junto ao dormitório. Uma porta comunicava as duas estâncias, mas permanecia sempre fechada com chave pelo lado da sala. A saleta estava decorado em tons sutis e masculinos, assemelhando a um clube de cavalheiros. Tinha um pequeno banheiro contiguo. O lavabo não era muito maior que o de uma pia e a ducha com grandes dificuldades servia para um adulto. No entanto, Tate preferia aquelas exiguas habitações a compartilhar o espacioso banho e o dormitório de sua esposa, com dois grandes vestidores unidos por uma parede de espelhos, uma banheira de mármore, uma claraboia no teto e metros de tapetes felpudos. A primeira coisa que passou pela cabeça de Avery quando o viu entrar foi que tivesse mudado de idéia e que não poderia o acompanhar. No entanto, não parecia estar aborrecido, simplesmente irritado. Deteve-se em seco ao divisar sua imagem no espelho. Satisfeita de que seus esforços tivessem valido a pena, se voltou para ele com os braços aos lados. -Gostas? -O vestido? Ele vestido é estupendo. -A conta de Frost Brothers nos dará uma ideia do bonito que é. Ela sabia que era um vestido maravilhoso. Negro e irregularmente coberto de lentejuelas, cobria-lhe o peito, os ombros, as costas e os braços até as bonecas. Desde o escote até os joelhos estava forrado de seda negra. A beleza do vestido ficava ainda mais ressaltada por umas faixas de lentejuelas iridiscentes ao redor do pescoço e das bonecas. Era um vestido insinuante, mas decente e que recordava algo a Audrey Hepburn. Não tinha gastado o dinheiro por razões egoístas. Aquela noite não queria levar nada que tivesse pertencido a Carole; desejava aparecer nova para Tate, diferente, diferente ao que fosse ela. Ademais, todos os trajes de noite de Carole eram muito escotados e chamativos, não do gosto de Avery. Precisava algo ligeiro, mas com mangas longas. Era consciente da importância de não deixar demasiado corpo descoberto para que
não pudesse se conhecer sua verdadeira identidade. Esse vestido tinha todas as vantagens. -Dinheiro bem gasto -murmurou Tate de má vontade. -Querias algo em particular? Ou veio ver se estava atrasada? -Eu sou o que me atrasei, temo. Não encontro as abotuaduras da camisa. Visteos? A ela não lhe tinha passado inadvertido que só estava parcialmente vestido. Tinha uma gota de sangue na barbla, como prova de um barbeado rápido e apressado. Estava ainda descalço, levava o cabelo úmido e despenteado, secado tão só com a toalha, e vestia a camisa emgomada que continuava desabotoada. A longa frada da camisa pendurava-lhe acima da calça do smoking. A vista dos cabelos de seu peito nu fez Avery a boca água. O estômago era duro e liso como um tambor. Dado que ele não tinha subido ainda a bragueta, teve uma não restringida vista daquele corpo, até o umbigo e o elástico branco da cueca. Em num reflexo umedeceu os lábios. Seu coração batia com tal força que sentia que o tecido do vestido roçava a pele. -as abotuaduras? -perguntou debilmente. -Pensei que Talvez tivesse deixado aqui. -Podes olhar se quiser. Fez um gesto para o closet, onde, durante uma de suas explorações, tinha descoberto uma série de artigos de tocador masculinos. Registrou duas gavetas antes de encontrar o pequeno porta jóias negro. Dentro tinha uns botões de pescoço de ônix e gêmeos fazendo jogo. -Precisa ajuda? -Não. -Sim. Acercou-se bloqueando-lhe a saída. -Já mas arranjo. -E te enrrugarás a camisa enquanto faze-lo. Deixe que eu faço. Recusou seus protestos com um gesto da mão e inseriu a primeira abotoadura. Com a palma da mão roçou o espesso cabelo do peito. Era suave e estava úmido. Desejava afundar a cabeça naquele corpo. -Que é todo isso? Ela levantou a vista e lhe seguiu a mirada. -Ah, os desenhos de Mandy. -Várias ilustrações desenhadas estavam coladas com fita adesiva no espelho-. Não te deu nenhum? -Claro que sim. Só que não esperava que os teus estivessem tão à vista. Costumavas dizer que não podias suportar a desordem. Tens terminado? Inclinou a cabeça para comprovar o lento progresso. Suas frentes quase chocaram. -Um mais. Está quieto. É teu estômago o que está fazendo esses ruídos? Comeu algo antes. Ele duvidou um instante e, a seguir, tomou do prato um pedaço de maçã e uma rodela de queijo. Fincou os dentes na maçã e o som dos mordiscos resultou terrivelmente erótico. -Os gêmeos? Tate passou-os e estendeu o braço esquerdo. Avery meteu o gêmeo pelos
cordões e abriu-o para que permanecesse em seu lugar. -O outro Passou-o, junto com o braço direito. Avery negava-se a separar-se dele, de modo que, quando acabou, jogou a cabeça um pouco para atrás e o olhou de perto. -E a gravata borboleta? Engoliu e contestou: -Em minha habitação -Você pode fazer sozinho? -Perfeitamente. Obrigado. -Não há de que. Mesmo, podendo sair já, não o fez. Ficou uns minutos mais, observando-a, com o aroma de seu banho e o perfume impregnando a habitação. Finalmente, retrocedeu e dirigiu-se à porta. -Estarei pronto dentro de cinco minutos. Quando Tate regressou à habitação em que dormia, teve a sensação de ter escapado por um fio. A ducha devia estar demasiado quente; por que, se não, não conseguia se tranqüilizar? Culpou sua torpeza às necessárias pressas e à noite importante que lhe vinha em cima. Teve que fazer e desfazer o nó da gravata até conseguir que ficasse bem, não encontrou meias que fizessem jogo e demorou dez minutos para acabar de se vestir. No entanto, quando ela saiu da habitação, respondendo ao telefonema na porta, não fez nenhum comentário sobre o atraso. Juntos entraram no salão, onde Zee estava lendo um conto a Mandy. Nelson via na televisão a seu favorito detetive perseguindo aos maus e levando-os finalmente a justiça. Levantou a vista quando entraram e emitiu -um longo assobiu. -Os dois parecem o noivo e a noiva que saem nos bolos nupciais. -Obrigado, papai -contestou Tate, em nome dos dois. -Não se pode dizer que pareça uma noiva com esse vestido negro, Nelson. Tate estava seguro de que sua mãe não tinha intenção que o comentário fosse insultante, mas assim o pareceu. Produziu um silêncio embaraçoso, rompido finalmente por Zee, que acrescentou: -Mas está muito linda, Carole. -Obrigado -respondeu quedamente. Desde o dia em que se conheceram, Zee se tinha mostrado muito reservada em sua relação com Carole. Teria preferido que a relação tivesse terminado antes de chegar ao casal, ainda que nunca disse nada. Foi mais carinhosa com Carole quando estava grávida de Mandy, mas o afeto maternal cedo desapareceu. Durante os meses anteriores ao acidente de avião, Zee criticava mais abertamente a Carole. Tate sabia por que, claro. Nem seu pai nem sua mãe eram tontos ou cegos, e sempre estavam na contramão de qualquer coisa que pudesse ferir os sentimentos de Jack ou dele. Essa noite, no entanto, tinha abrigado a esperança de que tudo corresse bem. Já qur a noite em si prometia ser tensa. E, ainda que o comentário irreflexivo de sua mãe não estragasse de todo, também não ajudava nada a aliviar a tensão existente. Graças a Mandy recuperou-se algo o bom humor. Deslizou-se do colo de sua avó e acercou-se timidamente a eles. Tate ajoelhou-se.
-Vêem a dar-me um grande abraço. Mandy rodeou-o com os braços e afundou a cara em seu pescoço. Surpreendendo-o, Carole também se ajoelhou a seu lado. -Irei dar-te um beijo quando voltarmos. De acordo? Mandy levantou a cabeça e assentiu com solenimente. -De acordo, mamãe. -Porta-te bem com a avó e com o avô. Mandy assentiu de novo, apartou os braços de Tate e abraçou a Carole. -Adeus. -Adeus. Dá-me os beijinhos de boas noites. -Tenho que ir à cama agora? -Não, mas eu quero meus beijinhos por adiantado. Mandy beijou a Carole ruidosamente na boca e, a seguir, voltou com sua avó. Normalmente, Carole queixava-se quando Mandy lhe estragava o maquiagem ou amassava a roupa. Todo o que fez nessa ocasião foi se limpar suavemente com um lenço de papel. Tate não conseguia o entender, a não ser que estivesse interpretando o papel de boa mãe à perfeição. Só Deus sabia com que motivo. Esse novo afeto por Mandy era provavelmente todo mentira. Sem dúvida tinha-o aprendido lendo revistas e vendo programas de televisão durante a convalecência. Tomou-a do braço por embaixo do cotovelo e conduziu-a para a porta principal. -Pode ser que cheguemos tarde. -Diriga com cuidado -disse Zee. Nelson abandonou seu detetive com pistola e seguiu-os até a porta. -Se fosse um concurso de beleza e votasse esta noite, ambos ganhariam. Não podem imaginar o orgulho e contamento que estou de vos ver sair aos dois juntos e tão lindos. Estava sugerindo seu pai que se esquecessem e perdoassem os acontecimentos anteriores? Tate apreciava sua preocupação; simplesmente, pensava que não poderia lhe dar o gosto. Perdoar? Sempre tinha sido algo difícil. Não era desse tipo de pessoa. Mas, ao sentar Carole no prateado interior de couro de seu carro, desejou poder fazê-lo. Se pudesse apagar toda a ira, a dor e o ódio, e começar de novo com sua esposa aquela noite, quereria o fazer? Tate tinha sido sempre tão escrupulosamente honesto consigo mesmo como com todos os demais. Se Carole estivesse e comportasse como essa noite, sim, quereria começar de novo, disse a si mesmo. Singelamente, desejava-a. Gostava quando estava assim, falando tranqüilamente, de bom humor e atraente. Não esperava que se mostrasse rígida. Tinha demasiada vitalidade e inteligência para ser uma colega silenciosa e obediente. Não queria que fosse assim. Ele gostava das faíscas, de ira, ou de humor; sem elas, uma relação era tão inssosa como uma comida sem sal. Ela sorriu enquanto ele deslizava por trás do volante. -Nelson tem razão. Estás muito bonito esta noite, Tate. -Obrigado. -E só porque estava já farto de se mostrar desdenhoso, o tempo todo, acrescentou-: Tu também. Avery resplandeceu com um sorriso. Nos velhos tempos, ele se tivesse dito: «À
merda com chegar tarde, vou fazer o amor a minha mulher», e tivesse-a tomado ali mesmo, no carro. Essa fantasía passou-lhe pela cabeça: Afundar a cabeça em seus peitos, deslizarse em seu profundo e úmido interior, ouvir seus gemidos de prazer no orgasmo. Gemeu, e tentou disimular rapidamente com uma tosse. Tinha saudades a espontaneidade, a diversão de transar com alguém a quem amava. Para dissimular a feroz iluminação de seus olhos, que ela reconheceria imediatamente como excitação, pôs um óculos escuros, apesar de que já ter caído o sol. Enquanto conduzia, admitiu que tinha saudades os tempos passados, mas que não tinha saudades dela. Porque, conquanto as relações sexuais foram apaixonadas e freqüentes, não existia uma verdadeira intimidade. Aquele intercâmbio cerebral e espiritual tinha estado ausente em seu casamento desde o princípio, ainda que ele não colocasse nome a essa carência até bem mais tarde. Não podia ter saudades do que nunca tinha tido, mas seguia desejando. Ganhar as eleições ao Senado seria grato, e o princípio do que esperava que fosse uma vida pública; mas a vitória ficaria manchada por sua infelicidade matrimonial. Quanto mais grato, e seu futuro político quanto mais brilhante se pudesse compartilhar com uma esposa que o amasse! Resultaria mais singelo desejar a lua, pensou. Ainda que Carole tivesse esse amor que oferecer, e não era o caso, ele não o aceitaria. Tinha destruído qualquer possibilidade disso fazia já muito tempo. A atração física seguia ali, inexplicavelmente mais forte que nunca, mas os laços emocionais tinham morrido. E de jeito nenhum aceitaria o um enquanto se lhe negava o outro. Supôs que tais resoluções não tinham chegado ainda ao pênis. Olhou a Carole de relance. Estava lindíssima. Sua mãe tinha-o expressado bem: demasiada altivez, demasiado refinamento e demasiada sensualidade para ser uma noiva. Tinha o aspecto de uma esposa bem amada e bem servida; não como Carole.
Capitulo Dezenove Eddy Paschal saiu da ducha. Rapidamente passou a toalha pelos braços, o peito e as pernas. Jogou-a sobre o ombro, atingiu o outro extremo e esfregou-se as costas enquanto dirigia-se do banheiro ao dormitório. Assim que cruzou a ombreira da porta, deteve-se em seco. -Que...? -Olá! Não sabia que gostavas das revistas porno. Fancy estava esticada em diagonal sobre sua cama. Apoiada sobre um cotovelo, sustentava-se a cabeça com a mão e folhava um exemplar de Penthouse que tinha encontrado no criado-mudo. Após um desapaixonada olhar a uma garota em pose provocativa, levantou os olhos e dedicou-lhe um sorriso travesso. -Que garoto tão mau. -Que demônios fazes aqui? Cobriu-se rapidamente com a toalha. Fancy esticou-se com perícia felina.
-Estava tomando o sol na piscina e entrei aqui para refrescar um pouco. Eddy vivia em um apartamento em cima da garagem do rancho. Pouco depois que o contrataram para levar a campanha de Tate, perguntou que se podia alugar o lugar. Os Rutledge protestaram com veêmencia, e Zee foi a mais enérgica: -Nas dependências do serviço? Nem falar! Tate agregou, ademais, seus próprios protestos, deixando claro que, se Eddy ia viver no rancho, o faria na casa com o resto da família. Eddy explicou que lhe resultava conveniente viver separado deles e manter ao mesmo tempo sua própria intimidade. O apartamento da garagem cumpria ambos requisitos. Finalmente, acederam e ele se transladou ali. Seu intimidade acabava de ser transgredida. -Por que refrescarte aqui? -perguntou enfadado-. Não funciona o ar acondicionado da casa? -Não sejas vulgar. -Apartou de lado a revista e incorporou-se até ficar sentada-. Não te alegras de me ver? -Certamente há bastante que ver -murmurou, se secando o cabelo úmido. Era fino, liso e claro-. Tenho visto tiras mais largas que esse biquini. Parece-lhe bem a Nelson que vás por aí vestida assim? As carnes transbordavam em abundâcia do pequeno traje de banho. -Ao avô não lhe parece bem nada que seja erótico -contestou depreciativamente-. Juro que não entendo como conceberam a meu pai e ao tio Tate. Aposto a que o avô canta O hino de batalha da república enquanto transa com à avó. Ou quiçá aquilo de Lá vamos, à selva. -Seu rosto ficou coberto por uma expressão pensativa-. Simplesmente, não posso imaginar a ela se correndo, e tu? -És impossível, Fancy. - Para sua tristeza riu das imagens que ela acabava de, sugerir. Depois, pôs-se as mãos nas cinturas e olhou-a com reprovação - Serias tão amável desaparecendo enquanto visto-me? Disse-lhe a Tate que me reuniria com ele e com Carole no Waller Creek, e já estou atrasado. -Posso ir contigo? -Não. -Por que? -Não há mais passes. -Tu poderias solucionar. -Ele voltou a negar com a cabeça-. Por que não? Me arranjaria em um periquete. -Trata-se de um assunto de gente adulta e aborrecida, Fancy. Ficarias tensa de aborrecimento. -Tu sim que estarias tenso se eu fosse. Mas asseguro-te que de nenhum modo me aborrecerías. Dedicou-lhe um guiño libertino. -Marchas-te ou que? -Farei o que me apeteçe -contestou entre dentes. Se desamarrou o sutiã do biquini, deixou-o cair e jogou-se para atrás apoiando-se nos cotovelos-. Que te parece meu bronzeado? Seus seios apareciam suaves e redondos, surgindo de uma faixa de pele rosada entre o peito e o estômago morenos. As aréolas eram de grande tamanho e seus seios rosados estavam eretos. Eddy levantou a cabeça para o teto e fechou os olhos com força.
-Por que fazes isto agora? Vamos, levanta-te. Põe-te o biquini e saia imediatamente de aqui. Acercou-se à cama e estendeu o braço para ajudar-la a se levantar. Fancy aceitou sua mão, mas não a utilizou para se levantar, mas a conduziu até seu peito e pressionou a palma sobre o centro. Seus olhos resplandeciam de excitação e maldade. Enquanto com uma mão obrigava-lhe a rolar a seu sobre o seio, utilizou a outra para tirar-lhe a toalha, e emitiu um gemido de surpreendido prazer. -Guau, Eddy, tens uma pênis maravilhoso! Olhou-a com avidez e, enquanto, foi-se acercando à beira da cama. Rodeou o pênis com os dedos, apertou-o com o punho, esticando-o e alongando-o. -É grande. Pára quem a guardas? Para essa feia ruiva da sede? Para minha tia Carole? Levantou a cabeça e examinou-lhe o torso inteiro. A fria mirada de seus olhos a alarmou durante uns instantes, mas decidiu que gostava mais quando estava enfadado. Assim o reto era maior. -Eu posso fazer e farei mais por ti que qualquer um delas. Depois dessa promessa sussurrada, inclinou-se sobre ele para demonstrar. Com as primeiras e hábeis caricias de sua úmida língua, os joelhos de Eddy cambalearam. Segundos depois, Fancy estava de costas no centro da cama e ele deitado sobre ela e com a língua dentro de sua boca, fincando até a garganta. -Oh, Deus! Oh, Jesús! Sim, sim! - gemeu Fancy enquanto suas mãos acariciavamna com rudeza. Ele lhe sujeitou os braços acima da cabeça e começou a lhe atacar os peitos com a boca, os chupou com ardor, os mordiscou, os lambeu furiosamente enquanto a garota se retorcia embaixo, tão perdida no jogo amoroso que demorou vários segundos em se dar conta de que já não a estava tocando. Abriu os olhos e viu-o de pé ao lado da cama uma vez mais, sorrindo divertido. -Que..,? Só quando tentou se sentar descobriu que tinha os braços estavam por trás da cabeça. Pôs-lhos diante e viu que as mãos estavam atadas com a parte superior do biquini. -Filho de puta! -gritou-. Desata-me as mãos! Tranqüilamente, Eddy dirigiu-se à cômoda e tirou uma cueca da primeira gaveta. Enquanto punha-os, disse: -Que boca suja. -Desata-me, filho de puta! -Estou seguro de que a uma dama -sublinhou a palavra dama arqueando uma sobrancelha escépticamente- com tantos recursos se lhe ocorrerá alguma maneira de se libertar. Sacou seu smoking de aluguel do saco plástico e começou a vestir-se. Durante o momento que durou a operação, Fancy não deixou de insultar com todos os epítetos que seu fértil mente e seu ilimitado vocabulario foram capazes de produzir. -Poupa-te os comentários -disse Eddy friamente quando a brincadeira deixou de ser divertida-. Só quero saber uma coisa. -Jódete! -Que quer dizer com aquele comentário a respeito de Carole e eu?
-O que você acha? Chegou até a cama em três grandes passadas, agarrou a Fancy pelo cabelo e envolveu a mão com ele até que começou a esticá-lo. -Não sei que pensar. Por isso o pergunto. Ela se assustou e perdeu um pouco de seu sangue frio. -Em algum lugar estará fodendo. E por que não com a tia Caróle? -Em primeiro lugar, porque não me excita. -Isso é mentira podre. -Por que mentira? -Porque a vigia como um falcão, especialmente desde que voltou para casa. Eddy continuou olhando-a friamente. -É a esposa de meu melhor amigo, têm seus problemas e preocupa-me que seu casamento possa chegar a afetar os resultados da campanha eleitoral. -Vá casamento! -replicou Fancy com sarcasmo-. Ele não pode nem a ver porque ela não tem parado de ftransar com outros. O muito leal de meu tio Tate, não agüentará toda essa merda de sua esposa, só ficará com ela até que tenham passado as eleições. -A seguir, Fancy sorriu e quase ronrronou-: Mas sabes que? Se queres transar com a Carole, acho que acabou sua sorte. Tenho a impressão de que estão fazendo as pazes. Parece-me que lhe está dando, se ele quer o tomar, o que antes do acidente te estava dando a ti. Pouco a pouco, a mão de Eddy foi-se relaxando e soltou o cabelo. -Uma grande teoria, Fancy. -Seu tom de voz era frio e tranqüilo. Dirigiu-se ao tocador, meteu-se um lenço no bolso da calça e colocou o relógio de pulso-. O único que ocorre é que te equivocas. Nunca aconteceu e nunca acontecerá nada entre Carole e eu. -Quiçá pergunte-lho, a ver que me contesta. -Eu de ti -disse baixinho, se dirigindo a ela acima do ombro- me calaria minhas zelosas especulações. Sem poder-se servir das mãos, Fancy se contoeceu até o borda da cama e pôs-se de pé. -Já te estás passando com isto, Eddy. Desata-me as mãos. Ele inclinou a cabeça a um lado, como se considerasse cuidadosamente sua exigência. -Não, acho que não. Acho que mais vale que ponha certa distância entre tu e eu antes de que te desates. -Não posso sair de aqui até que não tenha as mãos livres. -Exatamente. Seguiu-o até a porta. -Faz favor, Eddy -gemeu. Seus grandes olhos azuis encheram-se de lágrimas-. Estás sendo muito cruel. Isto não é um jogo para mim. Já sei que me consideras uma qualquer por me lançar sobre ti, mas pensei que era eu quem tinha que dar o primeiro passo porque se não tu não o farias nunca. Quero-te. Faz favor, quer-me tu também. Faz favor. Eddy pôs a mão na curva de sua cintura e deu-lhe um carinhoso apertão. -Estou seguro de que encontrarás qualquer outro jovem que agradecerá que te tenha deixado tão excitada. -Filho de puta! -Suas bochechas puseram-se de cor escarlata. A humildade desapareceu de imediato-. Tens toda a razão! Claro que encontrarei um homem!
Foderei até me saciar! O deixarei seco! Lhe... -Que passes uma boa noite, Fancy. Sem cerimônia alguma, a apartou de seu caminho e baixou correndo as escadas até chegar a seu carro estacionado. Fancy fechou inesperadamente a porta com o pé. Quando Avery saiu do tocador de senhoras, nem sequer se deu conta do homem que falava pelo telefone público. Estava ansiosa por voltar à festa. O banquete tinha sido interminável e o último orador resultou aborrecidíssimo. No entanto, uma vez que pode se levantar e misturar entre a gente, Tate converteu-se no centro de atenção. Parecia como se todos os assistentes quisessem o conhecer e lhe dar a mão, tanto se eram membros do partido como se não. Inclusive seus rivais políticos mostravam-se simpáticos. Ninguém tinha sido hostil, pelo menos não o suficiente como parar querer o ver morto. Respeitavam-no ainda que suas ideias não resultavam unanimemente populares. Era uma agradável sensação estar a seu lado como esposa. A cada vez que a apresentava a alguém, o fazia com um verdadeiro grau de orgulho que a eletrisava. Ela não tinha cometido nenhum erro. Com dissimulação recolhia dele as pistas quando se lhes acercava alguém que conhecia a Carole. A noite estavase desenvolvendo esplendidamente. E Tate tinha-lhe rozado o braço quando ela se desculpou para ir ao tocador, como se o horrorizara aquela breve separação. Quando passava pela fila de telefones públicos, uma mão apareceu de improviso e a sujeitou pela boneca. Emitiu um grito de surpresa e deu-se a volta para enfrentar ao homem que a tinha agredido. Ia vestido com esmoquin, coisa que fazia presuponer que fazia parte do banquete. -Como vão as coisas, querida? -Solte-me. Supondo que era alguém que tinha bebido demasiado, tentou inutilmente libertar seu braço. -Não tão rápido, senhora Rutledge. -Susurrou o nome de forma insultante-. Quero ver de perto o novo rosto do que tanto se fala. -Acercou-a a ele de um estirão-. A exceção do cabelo, estás igual. Mas diga-me o que realmente quero saber, ainda estás quente? -Solte-me já disse. -Que ocorre? Tens medo que teu marido veja? Não te preocupes. Está demasiado ocupado fazendo campanha eleitoral. -Me porei a gritar como uma louca se não soltar meu braço neste instante. O homem riu-se. -Estás enfadada porque não fui te ver no hospital? Não tiria sido muito elegante que um de seus amantes tirasse seu marido do leito da dor. Ela o olhou fixamente, com muita ira. –As coisas mudaram. -Ah, sim? -Acercou seu rosto ao dela-. Já não o traí como antes? Enfadada e assustada, tentou de novo libertar seu braço, coisa que só parecia aumentar a excitação do homem, que dobrou o braço por trás das costas e a acercou mais a seu corpo. O fôlego que lhe invadiu o rosto era úmido e estava impregnado de álcool. Tentou apartar a cabeça, mas ele segurou sua mandíbula com a mão que tinha livre.
-Que te passa, Carole? Acha que é uma deusa agora que Tate já tem crescido na carreira política? Que mentira! Rory Dekker lhe dará um pé na bunda, e o sabes. Apertou com maior força os dedos, fazendo-lhe dano na mandíbula. A dor e o ultraje fizeram-na gemer-Agora que achas que pode chegar a Washington, lha estás mamando bem, não? Esta noite olhaste-me como se fosse transparente. Quem demônios te achas que és, cacho puta, para ignorar dessa maneira? Ele tascou com dureza um beijo nos lábios, estragando-lhe a pintura de lábios que se acabava de pôr e lhe produzindo náuseas quando tentou lhe meter a língua entre os dentes. Ela fechou com força os punhos e lhe empurrou os ombros quanto pôde. Tentou dar-lhe uma joelhada entre as pernas, mas o estreito vestido impediu-lho. Ele era forte; não podia o mover. Deixou-a sem ar. Sentiu que a invadia uma terrível debilidade e que se ia desmaiar. Longinquamente primeiro e mais forte depois, ouviu umas vozes que se acercavam. Ele também as ouviu. Apartou-a de um empurrão e sorriu ironicamente. -Farias bem em recordar quem são teus amigos. Deu a volta à esquina segundos antes de que aparecessem duas mulheres caminho do lavabo. Deixaram de falar quando viram a Avery. Ela se deu a volta rapidamente e retirou do guancho o telefone como se estivesse a ponto de fazer um telefonema. Assim que teve-se fechado a porta depois delas, se desmoronou sobre a prateleira debaixo do telefone. Rompeu-se uma unha com as pressas por abrir a bolsa com lentejuelas de Carole em busca de um lenço de papel. Encontrou um e limpou a boca, esfregando com força para fazer desaparecer qualquer traço daquele odioso beijo que lhe tinha sido imposto por um ex amante de Carole. Pegou uma bala de menta, e a colocou na boca e limpou os olhos chorosos com o lenço. Durante a briga tinha-se desenguanchado um brinco; voltou a colocá-lo. As duas mulheres saíram, falando em susurros ao passar a seu lado. Avery murmurou algo como se falasse por telefone e se sentiu como uma idiota interpretando um estúpido papel. Mas, depois de tudo, tinha se convertido em uma grande atriz, não?, Já que conseguia enganar um amante de Carole. Quando finalmente se sentiu com forças suficientes para enfrentar à multidão, pendurou o telefone e deu a volta para regressar. Ao fazê-lo, um homem apareceu de improviso na esquina e correu para ela. Vendo tão só um smoking diante seu, gritou atemorizada. -Carole! Pelo amor de Deus, que ocorre? -Tate! Avery lançou-se sobre ele e lhe rodeou fortemente a cintura com os braços. Descansou a bochecha sobre a aba de seu paletó e fechou os olhos para apagar a imagem do outro homem. Indeciso, Tate abraçou-a. Suas mãos removeram-lhe a seda contra o corpo, à medida que acariciava-lhe as costas. -Que ocorre? Que te passou? Uma senhora apartou-me do grupo e disse-me que parecias estar mau. Encontras-te bem? Imediatamente tinha abandonado a festa e foi em sua ajuda, apesar de que se supunha que ela era uma esposa infiel. Qualquer escrúpulo que lhe ficasse na
contramão de querer deitar com o marido de outra mulher desapareceu naquele mesmo instante, pois Carole não se tinha merecido um homem assim. -Oh, Tate, sinto muito. -Levantou o rosto e olhou-o-. Sinto muito. -Que sentes? -Levantou-a com firmeza pelos ombros e agitou-a suavemente-. Importasse em dizer que demônios está acontecendo? Como não podia lhe dizer a verdade, tentou encontrar uma explicação lógica. Quando encontrou uma, se deu conta de que não era do todo uma mentira. -Suponho que não estou preparada para estar rodeada de tanta gente. A multidão é enorme e senti-me asfixiada. -Mas se parecias encontrar-te muito bem. -E estava-o. Divertia-me. Mas de repente senti-me pressionada. Era como voltar a estar vendada. Não podia respirar, não podia... -De acordo. Entendo-o. Terias que me ter dito algo. Vamos. Tomou-a do braço. Ela protestou: -Não temos que ir embora. -A festa está-se acabando de toda forma. Chegaremos antes que ninguém a que nos tragam o carro. -Estás seguro? Ela queria ir emborar. Regressar à sala do banquete e quiçá ter que voltar a se enfrentar àquele desagradável rosto não poderia suportar. No entanto, esta era sua prova. Não queria jogar tudo a perder e ter que ficar no rancho quando ele fossem viajar. -Estou seguro. Vamos-nos. Não disseram grande coisa no caminho de regresso a casa. Avery sentou-se sobre os pés e pôs-se de lado para olhá-lo. Desejava tocá-lo, reconfortá-lo e que a reconfortasse, mas se limitou ao olhar sem mais. Todo mundo estava deitado quando chegaram a casa. Em silêncio, dirigiram-se à habitação de Mandy, tal como lhe tinham prometido, e lhe deram um beijo de boas noites. Ela respondeu meio dormida, mas não se acordou. Quando percorriam o corredor para seus respectivos dormitórios, Tate disse de passagem: -Assistiremos a várias funções formais. Provavelmente será melhor que leves esse vestido na viagem. Avery voltou-se rapidamente e olhou-o de frente. -Queres dizer que posso ir? Ele ficou olhando uma mancha acima de sua cabeça e respondeu: -A todo mundo lhe parece uma boa ideia. Não querendo que se livrasse com tanta facilidade, lhe deu um pequeno olhar na aba do paletó. Olharam-se diretamente aos olhos. -Só me interessa tua opinião, Tate. Manteve-se calado durante uns tensos momentos dantes de dar sua resposta: -Sim, parece-me uma boa ideia. Eddy te dará um itinerario da viagem para que saibas que roupa deves levar. Boas noites. Terrivelmente desiludida pela escassez de entusiasmo, observou-o seguir pelo corredor até entrar em sua habitação. Desanimada, entrou em seu dormitório sozinha e preparou-se para dormir. Examinou o vestido para ver se o ex amante de Carole, fosse quem fosse, tinha-lhe causado algum dano, mas felizmente
encontrava-se em perfeito estado. Quando apagou a luz se sentiu esgotada, mas, depois de uma hora de tentar conciliar o sonho sem o conseguir, se levantou e saiu da habitação. Fancy decidiu entrar pela cozinha, por que talvez seu avô quisesse fazer uma emboscada na sala. Abriu a porta, tirou o sistema de alarme e, silenciosamente, voltou a ligá-lo. – -Quem é? Fancy? Fancy deu um grito de terror. -Deus meu, tia Carole! Deste-me um susto de morte! Alongou a mão até o interruptor da luz. -Santo Céu! -Avery deu um salto da cadeira junto à mesa da cozinha e voltou a cara de Fancy para a luz-. Que te passou? Fez uma careta quando examinou o olho inchado e o lábio sangrando da garota. -Quiçá possa-me emprestar teu cirurgião -contestou Fancy antes de descobrir que sorrir a fazia sentir dor. Tocando com a ponta da língua o corte que lhe sangraba, se afastou de sua tia-. Estou bem. Dirigiu-se a geladeira, tirou um litro de leite e serviu-se um copo. -Não seria melhor que visse um médico? Quer que eu te acompanhe ao prontosoccorro? -Demônios, não. E quer fazer o favor de baixar a voz? Não quero que os avôs vejam isto. Não me deixariam em paz nem um minuto. -Que te ocorreu? -Pois foi assim. -Com os dentes inferiores comeu-se uma bolacha recheada de creme -. Fui a essa discoteca de má reputação. Estava lotada. Sexta-feira á noite, já sabes, dia de pagamento. Todo mundo andava de bom humor. E vi a um desses tios com um pênis verdadeiramente atraente. - Comeu os dois pedaços de bolacha e colocou a mão no jarro para tirar outra-. Levou-me a um motel. Bebemos cerveja e fumamos uns baseados. Suponho que ele passou um pouco, porque, quando nos pusemos ao fazer, não se lhe levantava. Naturalmente, culpou-me a mim de seu fracasso. Enquanto narrava a história, limpou as migalhas das mãos e bebeu leite do copo. -Bateu em você? Fancy olhou-a com a boca aberta e tentou jogar-se a rir. -Se me bateu? -repetiu imitando-a-. Que droga te parece? Claro que me bateu. -Você poderia ter se machudado muito, Fancy. -Não posso crer! -exclamou, abrindo os olhos incrédulos-. Sempre gostou de se inteirar de minhas aventuras amorosas, dizias que te produziam um prazer indiretamente, queira o que queira dizer isso. -Eu não consideraria um bofetada na cara uma coisa muito romântica. Também te ? Fancy seguiu a mirada de sua tia, que observava os círculos olhos ao redor dos punhos. -Sim -contestou amargamente-, o filho de puta atou-me as mãos. Carole não tinha por que saber que o filho de puta ao que se referia não era o vaqueiro bêbado e impotente. -Estás louca se vais-te a um motel com o primeiro desconhecido que se apresenta, Fancy.
-Estou louca? Você é que está enchendo uma bolsa com cubos de gelo. -Para teu olho. Fancy afastou de lado o saco de gelo. -Não me faças nenhum favor, OK? -O olho está ficando roxo. Está a ponto de ficar tão inchado que não poderá abrílo. Quer que teus pais te veja assim e que tenha que lhes contar a história que acaba de me contar? Irritada, Fancy agarrou o saco de gelo e a colocou sobre o olho. Sabia que sua tia tinha razão. -Queres água oxigenada para o lábio? Uma aspirina? Algo para a dor? -Tenho bebido a suficiente cerveja e fumado os suficientes baseados para não sentir dor. Fancy sentia-se confusa. Por que se mostrava tão simpática sua tia Carole? Desde que regressou daquela luxuosa clínica comportava-se de um modo realmente estranho. Buscava-se coisas que fazer, em vez de passar todo o dia sentada sem mover o cu. E realmente parecia que lhe voltava a gostar o tio Tate. Sempre tinha considerado tonta a Carole por jogar à ruleta russa com seu casamento. O tio Tate era lindo. Todas as garotas que conhecia estavam loucamente apaixonadas dele. Se seu instinto nesse campo era correto, e ela o considerava excelente, devia de ser estupendo na cama. Se tivesse gostado de alguém que a quisesse tanto como Tate queria a Carole quando se casaram. Tratava-a como a uma rainha. Foi uma imbecil jogando-o tudo a perder. Quiçá ela tinha chegado à mesma conclusão e estava tentando o recuperar. Impossível, pensou Fancy zombadoramente. Uma vez traíu ao tio Tate, estavas na lista negra para sempre. -Que fazes acorda tão tarde -perguntou- e sentada aqui sozinha na escuridão? -Não podia dormir. Pensei que um pouco de chocolate quente me iria bem. Tinha uma caneca meio vazia de chocolate sobre a mesa. -Chocolate quente? Que riso. -Um remédio contra a insônia, adequado para a mulher de um senador -contestou com um triste sorriso. Fancy, que não se mordia nunca a língua à hora de fazer perguntas, inquiriu: -Estás tentando mudar? -Que queres dizer? -Sabes perfeitamente o que quero dizer. Estás mudando de imagem, com a esperança de que o tio Tate saia eleito e fique contigo e te leve a Washington. Adotou um tom confidencial, uma pose de coisas de mulheres-. Diga-me, tens deixado de transar com todos, ou só com Eddy? Sua tia levantou a cabeça inesperadamente. Pôs-se pálida. Mordeu-se o lábio inferior e susurrou: -Que tens dito? -Não te faças a inocente. Suspeitei-o sempre -replicou Fancy em tom desenvuelto. Tenho-lho perguntado a Eddy. -E daí disse-te? -Nada. Não o negou. Não o admitiu. Respondeu como um cavaleiro. -Saindo grosseiramente, dirigiu-se à porta que dava às outras habitações da casa-. Não te preocupes. Já há bastante merda dando voltadas por aqui. Não direi ao tio Tate. A
não ser que... -Voltou-se de novo com atitude combativa-. A não ser que voltes a dormir com Eddy. A partir de agora transará comigo e não a ti. Boas noites. Sentindo-se satisfeita por ter conseguido ser tão inequivocamente clara, Fancy saiu da cozinha pavoneando-se. Uma olhadela ao espelho confirmou-lhe que tinha a cara feita um asco. Não se lhe ocorreu até dias depois que Carole foi a única da família que se fixou em seu olho roxo e no lábio partido, e que não lhe tinha dito nada a ninguém.
Capitulo Vinte O apartamento de Van Lovejoy era como um pesadelo de decoraçção e lar. Dormia sobre um estreito colchão sustentado por uns tijolos de cimento. O resto dos móveis estavam igualmente desvencilhados, comprados de segunda mão em brechós. Tinha uma triste e poerenta piñata, uma estátua sacrílega de Elvis Presley, pendurando do aplique da luz. Tratava-se de uma lembrança que se trouxe de uma visita a Novo Laredo. O tesouro de dentro -vários quilos de maconha- era já unicamente história. A exceção da piñata, o apartamento carecia de adornos. As demais estâncias vazias achavam-se cheias de vídeos. Estes e a equipamneto que utilizava para duplicar, editar e visionar suas fitas constituíam os únicos pertences de algum valor no apartamento, e seu valor era inestimável. Van estava melhor equipado que muitas produtoras videográficas pequenas. Por todas partes se viam pilhas de catálogos de vídeo. Estava subscrito a todos eles e a cada mês os lia cuidadosamente em busca de algum que não tivesse ou que não tivesse visto. Gastava-se quase todo o salário em manter a videoteca bem abastecida e em dia. Sua coleção de filmes rivalizava com qualquer loja de aluguel de vídeos. Estudava técnicas cinematográficas e de produção. Seus gostos eram eclécticos, desde Orson Welles até Frank Capra, desde Sam Peckinpah até Steven Spielberg. Tanto em branco e preto como em tecnicolor, os movimentos das câmeras o fascinavam. Além de filmes; sua coleção incluía séries e documentários, junto com a cada centímetro de fita que ele tinha gravado ao longo de toda sua carreira. Era bem conhecido em todo o Estado que, se precisava um vídeo de qualquer acontecimento e não se encontrava em nenhum lugar, Van Lovejoy de KTEX, em San Antonio, o teria. Dedicava todo seu tempo de lazer a ver fitas. Essa noite, sua atenção estava posta no material gravado no rancho Rocking R em uns dias dantes.Tinha entregado as fitas na Produtora MB, mas não sem antes fazer cópia para si mesmo. Nunca sabia quando algo que tivesse filmado anos antes poderia resultar em algo útil e valioso, de maneira que guardava cópia de tudo. Na pós-produção, a produtora escreveria o guião, editaria, gravaria as vozes, misturaria a música e o resultado final seria um espaço publicitário de diferentes durações. O trabalho de Van apareceria esterilizado e poluído quando o anúncio aparecesse por televisão. Ele não se importava. Já lhe tinham pago. O que lhe interessava eram as tomadas espontâneas. Tate Rutledge resultava um homem carismático em televisão e ao natural. Bonito
e rico, era todo um sucesso, o tipo de homem que Van normalmente odiava por princípio. Mas, se ele fosse um votante, votaria a esse tipo só porque parecia disparar diretamente desde a cadera. Não dizia tolices, nem sequer quando o que dizia não era particularmente o que a gente queria ouvir. Pudesse ser que perdesse as eleições, mas não seria por falta de integridade. Seguia pensando que algo lhe ocorria à menina. Era graciosa, ainda que, em opinião de Van, todos as crianças eram iguais. Quase nunca pediam que fizesse vídeos de crianças, mas, quando isso ocorria, sua experiência era que ou os ameaçavas ou os subornavas para que se estivessem quietos e se comportassem devidamente, em especial ao repetir as tomadas. E isso não ocorreu com a filha de Rutledge. Esteve quieta e não lhe deu nenhuma problema. Não tinha feito nada, ponto; a não ser que o mandassem, e então se movia como uma boneca à que lhe tivessem dado sensata. Quem melhor fazia-a reagir era Carole Rutledge. Era ela a que realmente tinha cativado a Van. Uma e outra vez tinha passado as fitas, as gravadas no rancho e as do dia em que abandonou a clínica. A mulher sabia que devia fazer ante uma câmera. Ele teve que dirigir a Rutledge e à menina, mas não à mulher. Ela era natural, sempre se situava nos lugares bem iluminados e sabia instintivamente o que devia fazer. Parecia intuir o que ele ia fazer antes de que o fizesse. Seu rosto reclamava primeiros planos. Sua linguagem corporal não era nem afetado nem automatizado, como no caso da maioria de aficionados. Era uma profissional. Bem parecido com outra profissional, à que conheceu e com a que trabalhou resultava fantasmagórico. Durante horas tinha permanecido adiante de sua escritorio visionando uma e outra vez os vídeos de Carole Rutledge. Quando se movia incorretamente, estava seguro de que o fazia a propósito, como se se desse conta do bem que o fazia e quisesse dissimular. Sacou uma fita e meteu outra, uma que tinha gravado para poder ver a câmera lenta. Conhecia bem a cena. Mostrava aos três membros da família passeando por um prado verde; Rutledge com sua filha em braços e sua esposa ao lado. Van tinha planificado a cena para recolher o sol que se punha por trás da colina, convertendo às personagens em uma silueta. Era estupenda, pensou ao voltá-la a ver por enésima vez. E naquele momento deu-se conta! A senhora Rutledge voltou a cabeça e sorriulhe a seu marido. Tocou-lhe o braço. O sorriso dele se gelou. Moveu o braço; ligeiramente, mas o suficiente como para evitar a caricia de sua esposa. Se não tivesse estado visionando a fita a câmera lenta seguramente Van nem sequer notaria a sutil rejeição. Estava seguro de que, uma vez editada a fita, essa cena ficaria fora. Os Rutledge acabariam parecendo um casal feliz. Mas algo não ia bem no casal, ao igual que algo raro lhe passava à menina. Algo não prestava em Camelot. Van era um cínico por natureza. Não lhe surpreendia nada que o casal não funcionasse. Supôs que ocorria com todos, e não se importava. No entanto, a mulher seguia-o fascinando. Teria jurado que ela o reconheceu naquele dia antes de se apresentasse. Ele estava sempre pendente das
expressões e as reações, e não pôde se equivocar ao perceber a momentânea surpresa em seus olhos e a leve respiração entrecortada. Apesar de que os recursos não serem idênticos e de que o penteado não era o mesmo, a semelhança entre Carole Rutledge e Avery Daniels era incrível. Os movimentos de Carole eram exatamente iguais aos de Avery, e a afetação inconsciente estranhamente evocadora. Deixou que se acabasse a fita. Fechou os olhos e se beliscou e esfregou o nariz com o índice e o polegar até sentir dor, como se quisesse tirar a idéia da cabeça, porque o que estava pensando era simplesmente uma loucura, algo do além. Mas a idéia não saía de sua mente e não podia a tirar da cabeça, por mais louca que fosse. A alguns dias atrás, entrou no escritótio de Irish, deixou-se cair em um dos cadeirões e perguntou: -Tens tido oportunidade de ver a fita que te deixei? Como de costume, Irish estava fazendo seis coisas diferentes ao mesmo tempo. Mexendo no cabelo cinza encaralolado. -Fita? A dos Rutledge? Que temos sobre aquele montão de ossos humanos que encontraram no condado de Comal? -perguntou-lhe a gritos a um repórter que passava por adiante de seu escritótio. -Que te parece? -perguntou Van, uma vez que atraíu de novo sua atenção. Irish tinha voltado a fumar desde que Avery já não estava ali para lhe dar bronca. Parecia querer recuperar o tempo perdido. Acendeu outro cigarro com a butica do anterior e começou a falar através de uma nuvem de fumaça. -O que? -A fita -contestou Van, irritado. -Por que? Estás multi empregado como cinegrafista? -Jesús -murmurou Van, e começou a levantar do cadeirão. De real humor, Irish fez-lhe um sinal para que voltasse a se sentar-. Que queres que veja? Concretamente, quero dizer. -A mulher. Irish jogou-se a rir. -Apaixonaste-te dela? Van recordava sua irritação quando Irish não se fixou na semelhança entre Carole Rutledge e Avery Daniels. Isso deveria de ser uma indicação do ridículo de seus pensamentos, porque ninguém conhecia a Avery melhor que Irish. Fazia já mais de duas décadas que a conhecia quando a apresentou a Van. Não obstante, a teimosia e a impertinencia de Irish obrigaram-lhe a demonstrar que tinha razão. Acho que parece-se muito a Avery. Irish estava-se servindo uma caneca de café bem espesso da cafeteria colocada sobre a desordenada prateleira. Olhou a Van fixamente. -E daí há de novo em isso? Alguém já comentou o mesmo assim que Rutledge se meteu em política e começamos ver a ele e a sua mulher pela televisão. -Suponho que eu não estava aqui naquele dia. -Ou estavas demasiado passado de maconha para recordá-lo. -Quiçá. Irish voltou ao escritorio e sentou-se com esforço. Trabalhava mais que nunca, dedicando ao trabalho longas e inecessárias horas. Todos os da redação falavam
disso. O trabalho atuava como remédio para sua perda. Católico como era, não se suicidaria diretamente, mas acabaria se matando por excesso de trabalho, álcool, fumo e stress; todas as coisas que Avery carinhosamente tentava lhe proibir. -Tens conseguido averiguar quem te enviou suas jóias? -perguntou Van. Irish tinha-lhe contado o estranho incidente, e pareceu-lhe raro naquele momento, mas esqueceu-o até que se encontrou cara a cara com Carole Rutledge. Pensativo, Irish negou com a cabeça. -Não. -Tentaste-o? -Fiz alguns telefonemas. Evidentemente, não queria falar disso. Van insistiu: -E? -Consegui pôr-me em contato com algum tonto do cu que não queria se molestar. Disse que, após o acidente, o caos foi tão total que qualquer coisa é possível. «Como confundir dois cadáveres?», Perguntou-se Van. Tivesse gostado de gostado essa pergunta, mas não o fez. Irish estava sobrevivendo a morte de Avery o melhor que podia, só que não estava sendo muito fácil. Não tinha necessidade alguma de ouvir a disparatada hipótese de Van. Além do mais, ainda quando fosse possível, não fazia sentido. Se Avery estivesse viva, estaria vivendo sua própria vida, não a de outra pessoa. De maneira que decidiu não lhe propor a possibilidade a Irish. Tinha transbordado sua imaginação, isso era tudo. Por causa de um montão de estranhas coincidências tinha elaborado uma absurda e ilógica teoria. Irish seguramente tivesse-lhe dito que tinha o cérebro cozido por causa da maconha, o qual com muita probabilidade era verdadeiro. Não era mais que um inútil, um joão ninguém. Um réprobo. Que droga sabia ele? Mas, de todas formas, meteu outra das fitas dos Rutledge no magnetoscopio. O primeiro grito acordou-a. O segundo registrou-o. E o terceiro fez que se descobrir e saltasse da cama. Avery agarrou um robe, abriu de par em par a porta de seu dormitório e correu pelo corredor até a habitação de Mandy. Segundos após sair de sua cama, encontrava-se ao lado da menina. Mandy estava retorcendo-se e gritando. -Mandy, querida, acorda já. -Esquivou de um punho agitado-. Mandy! Tate apareceu ao outro lado da cama. Ajoelhou-se sobre o tapete e tentou dominar a sua filha. Uma vez sugurado suas mãos, o corpo retorceu-se de um lado a outro, enquanto agitava a cabeça sobre a almofada e os calcanhares se afundavam no colchão. Continuava gritando. Avery colocou as mãos sobre a bochecha da menina e pressionou com força. -Mandy, acorda. Acorda, cariño. Tate, que fazemos? -Segue tentando acordá-la. -Tem outro pesadelo? -perguntou Zee, ao entrar correndo com Nelson. Zee colocou-se por trás de Tate. Nelson permaneceu ao pé da cama de sua neta. -Ouviam-se os gritos inclusive em nossa ala -comentou-. Pobrezinha. Avery golpeou ligeiramente as bochechas de Mandy. -Sou eu mamãe. Mamãe e papai estão aqui. Não passa nada. Não te vai passar nada. Gradualmente, os gritos foram apaziguando-se. Assim que abriu os olhos, lançou-
se aos braços abertos de Avery, que a abraçou com força, lhe pôs uma mão sobre a cabeça e pressionou contra seu pescoço a carinha inundada de lágrimas. Os ombros de Mandy agitavam-se, seu corpo inteiro retorcia-se por causa dos soluços. -Deus meu, não tinha nem idéia de que seus pesadelos eram tão fortes. -Tinha-as quase toda noite quando tu ainda estavas no hospital -lhe disse Tate-. Depois foram diminuindo pouco a pouco. Levava em várias semanas sem ter nenhuma. Eu esperava que desaparecessem por completo quando tu regressasses a casa. Seu rosto mostrava uma grande preocupação. -Há algo que possamos fazer? Tate olhou a Nelson. -Não. Acho que se acalmará agora e se voltará a dormir, papai, mas obrigado. -Vocês dois tendes que pôr fim a isto. Imediatamente. Tomou a Zee pelo braço e conduziu-a para a porta. Ela parecia relutante a sair e olhou angustiada a Avery. -Se porá bem -disse Avery, lhe esfregando as costas a Mandy, que seguia soluçando, o pior já passou. -Às vezes voltam a começar -apontou Zee com intranquilidade. -Ficarei com ela o resto da noite. Quando ela e Tate ficaram sozinhos com a menina, Avery perguntou: -Por que não me contaste que os pesadelos eram tão terríveis? Ele se sentou na mecedora junto à cama. -Tinhas teus próprios problemas que resolver. Os sonhos deixaram de aparecer com tanta regularidade, tal como predisse a psicóloga. Pensei que se lhe estavam passando. -Igualmente terias que mo ter contado. Avery continuava sustentando com força a Mandy, mexendo-se e murmurando frases tranquilizadoras. Não a soltaria até que visse que Mandy estava preparada. Por fim, a menina levantou a cabeça. -Estás melhor agora? -perguntou-lhe Tate. Mandy assentiu. -Desculpe por tido um sonho tão mau - susurrou Avery, limpando as bochechas úmidas com os polegares-. Queres contar a mamãe? -Vai apanhar-me -gaguejou entrecortadamente. -Que é o que te vai apanhar? -O fogo. Avery estremeceu-se com suas próprias lembranças. Apoderavam-se dela às vezes inesperadamente e com freqüência demorava vários minutos em se repor. Como pessoa adulta, lhe resultada difícil enfrentar a suas lembranças do acidente; como seria para uma menina pequena? -Eu te tireii do fogo, não te lembras? -disse Avery docemente-. Já não há mais fogo. Mas segue dando medo quando o pensas, verdade? Mandy assentiu. Em certa ocasião, Avery fez uma entrevista a um conhecido psicólogo infantil e recordava que o homem disse que, negar a autenticidade dos temores de uma criança era o pior que podia fazer um pai. Primeiro tinha que reconhecer os medos
dantes de que se pudessem resolver e, com sorte, superar. - Talvez um lençol fresco e úmido seja agradável -sugeriu Avery a Tate, que se levantou da mecedora e regressou aos poucos minutos com uma toalinha-. Obrigado. Ele se sentou a seu lado enquanto esfregava a cara de Mandy. Em um gesto que produziu ternura a Avery, tomou o urso e o colocou nos braços da menina, que se agarrou ao animal de pelúcia. -Estás preparada para voltar à cama? -perguntou-lhe Avery com carinho. -Não. Com aprenssão, seus olhos saltaram de um lado ao outro da habitação. -Mamãe não te vai deixar. Eu me dormirei aqui contigo. Acomodou a Mandy e, a seguir, se deitou a seu lado, as duas cara a cara e com as cabeças compartilhando a almofada. Tate cobriu-as, apoiou as mãos na almofada e inclinou-se para beijar Mandy. Não levava em cima nada mais que uma cueca. Seu corpo tinha um aspecto excepcionalmente forte e belo à suave luz da noite. Quando estava a ponto de se pôr de pé, seu olhar se cruzou com o de Avery. Agindo impulsivamente, ela colocou uma mão sobre sua torso peludo e levantou ligeiramente a cara para beijar-lo nos lábios. -Boas noites, Tate. Ele se incorporou lentamente. Enquanto fazia-o, a mão de Avery deslizou-se por seu peito, pelos duros e bem formados músculos, pelos peitos, pelo denso e forte cabelo, pelo estômago; até que as pontass de seus dedos roçaram na borracha elástica das cuecas e caíram a um lado. -Volto em seguida -murmurou Tate. Esteve fora só uns minutos, mas, quando regressou, Mandy já dormia tranqüilamente. Levava posta uma bata ligeira, ainda que a tinha deixado aberta. Quando se acomodou na mecedora viu que os olhos de Avery seguiam abertos. -Essa cama não é para duas. Estás cômoda? -Estou muito bem. -Não acho que Mandy se inteire de nada se te levantas agora e te vais a teu quarto. -Eu me inteiraria. E disse-lhe que ficaria com ela o resto da noite. -Acariciou a ruborizada bochecha da menina com os dedos-. Que vamos fazer, Tate? Ele descansou os cotovelos sobre os joelhos, se inclinou para diante e se afundou os polegares nos olhos. Uma despenteada mecha de cabelo caía-lhe sobre a frente. Com a incipiente barba, a fissura vertical da barba parecia mais pronunciada. Suspirou, com o que se alargou seu torso baixo o batín. -Não o sei. -Achas que a psicóloga está-lhe fazendo algum bem? Levantou a cabeça. -Tu achas que não? -Não deveria pôr em dúvida a eleição que fizestes teus pais e tu enquanto eu estava hospitalizada. Sabia perfeitamente que não devia meter nesse assunto. Era um problema pessoal e Avery Daniels não tinha nenhum direito a meter os narizes. Mas não podia ficar à margem vendo como se ia deteriorando a estabilidade emocional de
uma menina. -Se tens alguma ideia convido-te a que ma contes -a animou Tate-. Estamos falando de nossa filha. Não me porei a discutir quem tem tido a melhor ideia. -Conheço um médico de Houston -começou a dizer. Tate arqueou uma sobrancelha, com curiosidade-. Ele... vi-o por televisão em um dia e fiquei muito impressionada pelo que disse e pelas ideias que expôs. Não parecia arrogante. Era muito direto e prático. Dado que o médico de agora não está conseguindo progredir muito, quiçá deveríamos levar a Mandy ao ver. -Não temos nada que perder. Pede hora. -Chamarei manhã. -Sua cabeça afundou-se mais na almofada, mas não apartou a mirada de Tate. Ele estava sentado na mecedora com a cabeça descansando sobre a colcha rosa-. Não tens que te ficar toda a noite aqui sentado, Tate -disse com carinho. Seus olhos encontraram-se e sustentaram-se a mirada. -Sim que tenho que o fazer. Avery ficou dormida olhando como a olhava ele.
Capitulo Vinte e um Avery foi a primeira a acordar. Era muito cedo e o quarto estava a escuras, ainda que a lâmpada de noite continuasse acesa. Sorriu tristemente ao dar-se conta de que a pequena mão de Mandy descansava sobre sua bochecha. Tinha os músculos doloridos de estar tanto tempo na mesma posição; de não fosse por isso, seguramente tinha voltado a dormir. Sentindo a necessidade de esticar-se, tirou a mão de Mandy, colocou-a sobre a almofada e, com muitíssimo cuidado para não acordar à menina, se levantou. Tate dormia na mecedora. A cabeça pendurava-lhe tanto a um lado que quase descansava sobre o ombro. Parecia uma postura muito incômoda, mas seu abdômen subia e baixava rítmicamente e ela distinguiu a suave respiração na tranqüila habitação. O pijama aberto deixava descoberto o torso e as cinturas. Tinha dobrado o joelho da perna direita e a esquerda, esticada a diante. Suas pantorrillas e os pés estavam bem formados. As mãos eram venosas e velludas. Uma delas pendurava do braço da mecedora e a outra se apoiava sobre seu estômago. O sonho tinha-lhe apagado as linha de rugas de preocupação. As pestanas desenhavam negros semicírculos sobre as bochechas. Relaxado, sua boca era sensual, capaz de proporcionar grandes prazeres a uma mulher. Avery supôs que faria o amor com intensidade, apaixonadamente e, bem, como fazia todo o demais. A emoção transbordou em seu coração até doer. Sentiu umas terríveis vontades de chorar. Amava-o. Não só para fazer méritos e compensar seus fracassos profissionais, se deu conta de que também tinha assumido o papel de esposa porque se tinha apaixonado dele antes tão sequer de poder pronunciar seu nome. Amava-o quando o observava através de um velo de vendas e dependia do som de sua voz para ter o
ânimo suficiente de lutar por sua vida. Estava interpretando o papel de sua esposa porque desejava ser sua esposa. Queria protegê-lo. Queria cicatrizar as feridas que lhe tinha infligido uma mulher egoísta e vingativa. Queria deitar-se com ele. Se ele reclamasse seus direitos conjugais, o compareceria com muito gosto. Aquela seria sua maior mentira, e ele não poderia perdoá-la quando ao final se descobrisse sua verdadeira identidade. A odiaria mais que a Carole porque pensaria que o tinha enganado. Nunca acharia que seu amor era verdadeiro. Mas era. Tate removeu-se. Quando levantou a cabeça, fez uma careta de dor. Tremeramlhe as pálpebras, abriu os olhos e olhou-a. Estava a curta distância dele. -Que horas são? -perguntou com voz rouca e sonolenta. -Não o sei. Cedo. Dói-te o pescoço? Passou-lhe os dedos pelo cabelo despenteado e, a seguir, dobrou as mãos em torno de seu pescoço. -Um pouco. Deu-lhe um massagem nos músculos do pescoço, tentando relaxar-los. Ao cabo de um momento cobriu-se com roupão, jogando um lado sobre o outro. Encolheu a perna esticada e sentou-se erguido. Avery perguntou-se se sua massagem tinha-lhe produzido uma ereção matutina e não queria que ela o visse. -Mandy segue dormindo -comentou ele por dizer algo. Queres café da manhã? -Basta-me um café. -Prepararei o café da manhã. Estava amanhecendo. Mona não se tinha levantado ainda e a cozinha estava a escuras. Tate começou a pôr café no filtro da cafeteira. Avery dirigiu-se ageladeira. -Não se incômode -disse Tate. -Não tens fome? -Posso esperar até que Mona acorde. -Gostaria de preparar-te algo. Ele se voltou de costas e pediu, como sem lhe dar importância: -Bom. Um par de ovos, suponho. Conhecia suficientemente bem a cozinha como para encontrar todos os utensilios necessários para preparar o café da manhã. Tudo foi bem até que começou a bater os ovos. -Que fazes? -Ovos mexido. Pa... para mim -mentiu quando a olhou estranhado. Não tinha nem ideia de como gostava dos ovos a ele-. Toma. Acaba com isto e eu me dedicarei às torradas. Se entreteve colocando manteiga às fatias de pão quando saíram da tostadora, ao mesmo tempo que de relance via que Tate preparava dois ovos fritos, os punha em um prato e os levava à mesa junto com seus ovos mexidos. -Faz muito tempo que não comeomos juntos. Mordeu um pedaço de pão e começou a comer os ovos e bebeu um gole de suco de laranja. Naquele momento deu-se conta de que era a única que comia. Tate estava sentado á frente com a cabeça entre as mãos e os cotovelos apoiados na mesa.
-Nunca temos comemos juntos, Carole. Tu odeias café da manhã. Com isso foi difícil engolir. Se agepou ao copo de suco. -Me faziam tomar quando estava na clínica. Já sabes, após que implantarem a dentadura para que pudesse comer alimentos sólidos. Tinha que voltar a ganhar peso. -Ele seguia a olhando fixamente; evidentemente, não acreditava-. Me..., acostumei-me a comer e agora o tenho saudades quando não o tomo. -À defensiva, acrescentou-: Por que armas um escândalo por nada? Tate pegou seu garfo e começou a comer. Seus movimentos eram demasiado controlados como para ser naturais. Estava enfadado. -Poupa-te as moléstias. Ela supôs que se referia às moléstias que lhe esperavam no futuro. -Que moléstias? -Fazer-me o café da manhã é só outra de teus maquinações para que volte a te querer. Perdeu todo o apetite. O cheiro da comida fez-lhe sentir náuseas. -Maquinações? Aparentemente, ele também tinha perdido o apetite. Apartou o prato. -Café da manhã. Vida doméstica. Essas mostras de carinho como me acariciar o cabelo ou me dar um massagem. -Parecia gostar-te. -Importam-me um rábano. -Sim que te importas! -Um caralho! -Se reclinou na cadeira, olhando-a fixamente, a mandíbula transbordando de ira-. A fricção e os doces beijos de boas noites posso chegar a engolir se for necessário. Se quer fingir que somos um casal carinhoso e apaixonado, adiante. Por mim podes fazer o ridículo. Simplesmente, não esperes que eu te trate da mesma forma. Nem sequer por meu posto no Senado voltaria a meter na cama contigo, e só com o que acabo de dizer podes te imaginar o muito que te desprezo. -Fez uma pausa para recuperar a respiração-. Mas o que mais me incômoda é tua repentina preocupação por Mandy. Fizeste uma boa atuação ontem pela noite. -Não era teatro. Ele ignorou a negativa. -Será melhor que sigas adiante com tua atuação maternal até que ela esteja completamente curada. Não poderia suportar outra recaída. -És um ingrato... -Avery estava começando a enfadar-se-. Interessa-me tanto a recuperação de Mandy como a ti. -Sim. Seguro. -Não acredita em mim? -Não. -Isso não é justo. -Que é você para falar de justiça. -Preocupa-me muitíssimo Mandy. -Por que? -Por que? Porque é nossa filha. -Também era o que abortas-te! Isso não te impediu o matar! Essas palavras atravessaram-na como uma faca. De fato, colocou um braço sobre
o estômago e dobrou-se como se se estivessem fundindo seus órgãos vitais. Conteve a respiração durante vários segundos enquanto observava-o muda de surpresa. Reluntante a olhá-la, ele se levantou e se deu a volta. No aparador da cozinha serviu-se outra caneca de café. -Ao final você não me inteirou, claro - Seu tom de voz era frio como o gelo. Quando voltou para se enfrentar a ela cara a cara, seu olhar era igualmente penetrante e gélido - Mas um estranho me informou de que minha mulher já não estava grávida... -Jogando faíscas, afastou o olhar. De novo era como se não pudesse suportar vê-la-. Podes imaginar-te como me senti, Carole? Aí estavas, muito próximo da morte, e eu queria te matar com minhas próprias mãos. Voltou a cabeça e, enquanto observava-a com um olhar penetrante, fechou a mão em um punho. De sua memória borrosa, Avery recordou vozes. A de Tate: «O menino... efeitos sobre o feto?» E a de outra pessoa: «Menino? Sua mulher não estava grávida.» Aqueles retalhos de conversa não tinham significado nada para ela. Não o entendeu. Tudo se misturou com as inumeráveis conversas que ouviu antes de recuperar por completo o conhecimento. Tinha-o esquecido até esse momento. -Achas que não me daria conta do fato de que não estavas grávida? Mostraste-te muito ansiosa de jogar-me na cara que estivesses grávida, por que não me contaste também do aborto? Avery moveu a cabeça compungida. Não tinha palavras para lhe contestar. Nenhuma explicação. Mas agora sabia por que Tate odiava tanto a Carole. -Quando o fizeste? Tem que ter sido poucos dias dantes de tua viagem a Dallas. Não querias os incômodos de um bebê, era isso? Teria sido um estorvo em tua vida. -Acossou-a com força e, com grande estrondo, golpeou a superfície da mesa-. Contesta-me, maldita seja! Dei algo! Já é hora de que falemos disto, não te parece? Avery gaguejou: -Eu..., eu pensei que não teria muita importância. -O rosto de Tate transformou-se com tal ferocidade que ela pensou que lhe ia colar. Tentando com rapidez defender-se, exclamou-: Já conheço suas ideias sobre o aborto, senhor Rutledge! Quantas vezes te ouvi pregar que a mulher tem direito a eleger? Aplica-se isso a todas as mulheres do estado de Texas menos a tua esposa? -Sim, maldita seja! -Que hipocrisia! A puxou pelo braço e pô-la de pé. -Os princípios que se aplicam ao público em geral não necessariamente têm que ver com minha vida pessoal. Este aborto não era um tema eleitoral. Era meu filho. -Seus olhos voltaram a entrecerrar-se-. Ou não o era? Foi outra mentira para evitar que te jogasse de casa, além de toda a demais merda? Tentou imaginar-se como tivesse reagido Carole. -Precisam-se dois para fazer um menino, Tate: Tal como esperava, tinha chegado ao fundo da qüestão. Imediatamente, soltou-lhe o braço e apartou-se dela. -Verdadeiramente lamento aquela noite. Deixei-o bem claro assim que ocorreu.
Tinha jurado não voltar a tocar teu corpo de puta. Mas tu sempre soube em que botões tocar, Carole. Durante dias esteve me cercando como uma gata no cio, maullando tuas desculpas e prometendo ser uma fiel e carinhosa esposa. Se eu não tivesse bebido tanto aquela noite teria sido capaz de reconhecer a armadilha que me tinhas preparada. -Olhou-a de acima a abaixo com total desprezo-. É isso o que estás fazendo agora, preparando outra armadilha? Por isso tens se comportado como uma esposa modelo desde que saístes da clínica? Diga-me acrescentou, apoiando as mãos sobre as cinturas-. Equivocaste-te aquela noite e ficaste grávida por erro? Ou ficar grávida e abortar era parte de teu jogo para atormentar-me? É isso o que tentas fazer de novo, conseguir que te deseje? Demonstrar que podes meter em tua cama outra vez, inclusive se isso significa sacrificar o bem-estar de tua filha? -Não -recusou Avery com voz rouca. Não podia suportar esse ódio, apesar de saber que não ia dirigido contra ela. -Já não tens nenhum poder sobre mim, Carole. Nem sequer odeio-te já. Não vales a energia que se requer para te odiar. Podes ter todos os amantes que te dêem a vontade. Já verás como não me importo um pouco. A única forma na que poderias me fazer dano agora seria através de Mandy, e te verei no inferno antes de que faças isso. Aquela tarde saiu a montar a cavalo. Precisava o espaço e o ar livre para pensar. Sentindo-se ridícula com aquela roupa de montar tão formal, pediu-lhe ao garoto do estábulo que preparassem um cavalo. A égua tentou fugir dela. Enquanto o velho vaqueiro ajudava-a a montar, disse: -Suponho que ela não esqueceu ainda das chicotadas que você deu da última vez. A égua estava assustada porque não reconhecia o cheiro do ginete, mas Avery deixou que o homem pensasse o que quisesse. Carole Rutledge tinha sido um monstro, abusou de seu marido, de sua filha e de tudo que entrava em contato com ela. A cena do café da manhã tinha deixado a Avery com os nervos á flor da pele, mas ao menos já sabia a que devia se enfrentar. O ódio de Tate por sua esposa era comprenssível. Carole tinha intenção de perder o filho, fora realmente seu ou não; ainda que, se ffez antes do acidente, seria sempre um mistério. Reconstruíu o palco. Carole era infiel e não mantinha em segredo seus andanças. A infidelidade devia ser intolerável a Tate, mas, com sua carreira política em jogo, decidiu permanecer casado até após as eleições. Durante um tempo indeterminado, não se tinha deitado com sua mulher. Inclusive mudou-se a outra habitação. Mas Carole conseguiu seduzí-lo para que fizesse o amor com ela uma vez mais. Filho poderia ser de Tate ou não, o aborto de Carole foi uma qüestão política, e Avery estava convencida de que assim o tinha planejado. Punha-a doente pensar na publicidade negativa e nas graves repercussões se alguém chegasse a se inteirar. As conseqüências políticas para Tate seriam tão profundas como as pessoais. Quando regressou do passeio a cavalo, encontrou a Mandy ajudando a Mona a preparar uns biscoitos. A mulher dava-se muito bem com Mandy, de maneira que Avery alabou os biscoitos de Mandy e a deixou ao cuidado de Mona.
A casa estava tranqüila. Tinha visto a Fancy desaparecer em seu Mustang anteriormente. Jack, Eddy e Tate estavam sempre na cidade a essa hora do dia, trabalhando na sede da campanha ou em seu escritório de advogados. Dorothy Rae encontrava-se enclausurada em sua ala da casa, como de costume. Mona disse que Nelson e Zee tinham ido a Kerrville a passar a tarde. Ao chegar a seu dormitório, Avery atirou a chicote sobre a cama e utilizou o tirabotas para descalçar-se. Entrou no banheiro e abriu as torneiras da ducha. Não foi primeira vez, que uma sensação estranha a invadiu. Teve a impressão de que alguém tinha estado no dormitório durante sua ausência. Pôs-se de de prontidão enquanto examinava detenidamente o tocador. Não recordava se tinha deixado o pincel ali em cima. Tinham movido o pote de creme para as mãos? Estava segura de que não tinha deixado o porta jóias aberto e com um colar de pérolas meio saído. Fixou-se também em que algumas coisas do dormitório estavam mudadas de lugar. Fez algo que não tinha feito desde que chegou à habitação de Carole: fechou a porta com chave. Se tomou banho e pôs-se um grosso roupão. Intranqüila e preocupada, decidiu esticar-se um momento antes de vestir-se. Ao descansar a cabeça sobre a almofada ouviu um pequeno crack. Encontrou uma folha de papel entre a almofada e cama. Examinou-o com receio. O papel tinha sido dobrado em dois, mas não se via nada escrito na parte de fora. A deixava horrorizada a idéia de desdobrá-lo. Que esperaria encontrar o intruso? Que andaria buscando? Uma coisa era segura: a nota não era uma casualidade. Tinham-na colocado de forma deliberada e inteligente em um lugar onde ela, e só ela, pudesse a encontrar. Abriu o papel. Uma sozinha linha aparecia no centro, escrita a máquina: «Seja o que seja o que lhe estás fazendo, funciona. Adiante.» -Nelson. -Hum? Seu despistada resposta fez franzir o cenho a Zinnia. Deixou seu pincel do cabelo a um lado e deu-se a volta sobre o taburete do tocador. -Isto é importante. Nelson apartou uma esquina do jornal. Ao ver que estava preocupada, dobrou o jornal e pressionou sobre o escabelo até ficar bem sentado. -Sinto-o, querida. Que tens dito? -Nada ainda. -Ocorre algo? Encontravam-se em seu dormitório. As notícias das dez, que viam diariamente, tinham terminado. Estavam-se preparando para ir à cama. O escuro cabelo de Zee resplandecía graças ao recente tingimento. Sua cutis, bem cuidado, por causa do duro sol de Texas, era suave. Não tinha excessivas rugas de preocupação. E também não tinha excessivas rugas de alegria. -Algo está ocorrendo entre Tate e Carole. -Acho que hoje brigaram-se. -Ele se levantou da poltrona e começou a desvestirse-. Os dois estavam terrivelmente silenciosos à hora do jantar. Zee também se tinha fixado na hostilidade que se respirava no ambiente aquela noite. No referente ao humor de seu filho menor era especialmente sensível.
-Tate não estava simplesmente de mau humor, senão enfadado. Seguramente Carole tem feito algo que não lhe sentou bem. -E, quando Tate está enfadado -continuou Zee, como se ele não tivesse falado-, é quando Carole está mais dicharachera. Sempre que ele está irritado, ela o provoca ainda mais se comportando de forma ridícula e frívola. Nelson pendurou cuidadosamente as calças no armário. A desordem era anatema. -Pois esta noite não estava nada frívola. Mal tem pronunciado uma palavra. Zee apoiou-se no taburete do tocador. -Isso é o que quero dizer, Nelson. Estava tão de mau humor e tão preocupada como ele. Seus brigas nunca eram assim. Coberto só com as cuecas, Nelson apartou o lençol e se meteu no leito. Colocou as mãos baixo a cabeça e ficou olhando fixamente ao teto. -Ultimamente tenho notado várias coisas que não têm nada que ver com a velha Carole. -Graças a Deus -disse Zee-. Começava a pensar que me estava ficando louca. Alivia-me saber que alguém mais se deu conta. -Apagou os lustres e meteu-se na cama ao lado de seu marido-. Não é tão superficial como antes, verdade? -O encontro com a morte tem-a serenado. -Quiçá. -Não acredita? -Se isso fosse tudo, poderia acreditar. -Que mais há? -interessou-se Nelson. -Mandy por uma parte. Carole é uma pessoa diferente quando está com ela. Alguma vez tens visto a Carole tão preocupada por Mandy como o estava ontem à noite após o pesadelo? Recordo uma vez, quando Mandy tinha quarenta de febre. Eu estava desesperada e pensei que teria que a levar ao proto-socorro. Carole mostrou-se totalmente desinteresada, disse que todos os meninos tinham febres. Mas, ontem pela noite, Carole estava tão afetada como Mandy. Nelson deu-se a volta incômodado. Zee sabia por que. Uma racionalização dedutiva irritava-o. As coisas eram ou brancas ou negras. Acreditava só nos absolutos, com a exceção de Deus, que, para ele, era um absoluto tão seguro como o céu e o inferno. A parte disso, não cria em nada intangível. Era cético no que se referia a psicólogos e à psiquiatría. Em sua opinião, qualquer pessoa valiosa podia resolver seus problemas sem a ajuda dos demais. -Carole está-se fazendo maior, isso é tudo -sentenciou-. O trauma que tive de suportar a madurou. Vê as coisas sob um prisma diferente. Finalmente tem começado a apreciar o que tem, Tate, Mandy, esta família. Já, era hora de que começasse a serenar-se. Zee desejava poder-se crer aquelas palavras. -Só espero que dure. Nelson deu-se a volta, pondo-se de cara a ela, e colocou o braço no oco de seu cintura. Beijou a frente, onde começava o estopim cinza. -Que é o que esperas que dure? -Sua atitude carinhosa para Tate e para Mandy. Desde fora parece querê-los. -Isso é bom, verdade? -Espero que esteja sendo sincera. Mandy é tão frágil que temo que não pudesse
enfrentar a outra rejeição se Carole voltasse a ser uma pessoa impaciente e mal humorada. E Tate -suspirou- quero que seja feliz, especialmente neste momento de sua vida, tanto ganhe as eleições como se não. Merece ser feliz. Merece que o queiram. -Sempre te preocupaste pela felicidade de teus filhos, Zee. -Mas nenhum dos dois tem tido um casamento feliz, Nelson -lamentou com tristeza-. Tiria desejado que as coisas fossem diferentes. O dedo de Nelson tocou-lhe os lábios, tentando traçar um sorriso que não aparecia. -Não tens mudado em absoluto. Segues tão romântica como sempre. Atraiu para sim seu delicado corpo e a beijou. Com suas grandes mãos tirou-lhe a camisola e de um modo possessivo acariciou a carne nua. Fizeram o amor a escuras.
Capitulo Vinte e dois Durante dias, Avery rompeu-se a cabeça tentando encontrar uma forma de pôr-se em contato com Irish. Uma vez que, depois de um exame de consciência, chegou à conclusão de que precisava conselho, enfrentou o problema de como lhe informar de que não tinha perecido nas chamas do acidente do vôo 398. Fizesse o que fizesse, seria cruel. Se simplesmente aparecia na porta de sua casa, poderia não sobrepor sua impressão. Se ligasse, pensaria que era um trote, porque seu tom de voz já não era o mesmo. De maneira que decidiu mandar uma nota a sua caixa de correios que utilizou para enviar suas jóias á algumas semanas antes. Seguramente estranhou receber aquilo por correio sem explicação alguma. Não suspeitaria já que alguma circunstância misteriosa rodeava sua morte? Passou horas pensando em como redigir uma nota tão peculiar. Não conhecia nenhuma fórmula para informar a um ser querido, que acredita estar morta, de que estás, em realidade viva e em pé. Finalmente, decidiu que a única maneira do fazer era sendo direta e sincera. Querido Irish: Não faleci no acidente de avião. Te explicarei a estranha seqüência dos acontecimentos na quarta-feira próxima em teu apartamento, às seis em ponto. Um abraço, Avery. Escreveu-o com a mão esquerda -um luxo naqueles dias-, para que reconhecesse imediatamente sua letra, e o enviou sem pôr remitente no envelope. Tate tinha-se mostrado bastante mau educado com ela desde a discussão do café da manhã do sábado anterior. Quase alegrava-se da circunstância. Apesar de que a antipatía não era dirigida a ela, suportaria as conseqüências de seu outro eu. O distanciamiento fazia-o tudo mais soportável. Não se atrevia a pensar em como reagiria quando descobrisse a verdade. Seu ódio por Carole não seria nada ao que sentiria por Avery Daniels. O mais que podia esperar era que lhe desse a oportunidade de se explicar. Até então, não tinha outra possibilidade que demonstrar que não se movia por motivos egoístas.
A primeira hora da manhã da segunda-feira marcou uma consulta com o doutor Gerald Webster, o conhecido psicólogo infantil de Houston. Tinha todas as horas ocupadas, mas ela não aceitou um não por resposta. Utilizou a fama de Tate para assegurar-se uma hora do solicitado tempo do médico. Pelo bem de Mandy, não se sentiu culpada ao se fazer importante. Quando informou a Tate da consulta, ele assentiu bruscamente com a cabeça. -O apontarei na agenda. Avery tinha feito coincidir cconsulta com um dos dias em que, de todos modos, estariam em Houston pela campanha. A parte desse breve intercâmbio de palavras, tinham pouco que se dizer. Isso lhe dava a ela mais tempo para ensaiar o que diria quando se encontrasse cara a cara com Irish. Não obstante, na quarta-feira pela tarde, quando deteve o carro adiante da pequena e modesta casa, seguia sem ter nem ideia do que ia dizer, e nem sequer de como começar. Tinha o coração em um punho enquanto percorria o caminho e especialmente quando viu o movimento por trás das cortinas da janela. Dantes de chegar ao porche, a porta abriu-se de par em par. Irish, com aspecto de querer arrancar-lhe os membros um a um com suas mãos, saiu a grandes passadas e exigiu saber: -Quem caralho és e a que demônios jogas? Avery não deixou que sua ferocidade a intimidasse. Continuou adiante até chegar a ele. Irish era só um pouco mais alto, de modo que, como ela levava saltos, se olharam diretamente aos olhos. -Sou eu, Irish. -Sorriu cálidamente-. Vamos para dentro. Só com o contato daquela mão sobre seu braço, toda a agresividade de Irish se evaporou. O furioso irlandês murchou-se como as pétalas das flores mais frágeis. Foi uma cena patética. Em uns segundos tinha passado de ser um púgilista beligerante a converter em um idoso confuso. A gélida expressão de rejeição de seus olhos azuis ficou repentinamente enturvada por lágrimas de dúvida, surpresa e alegria. -Avery? És...? Como...? Avery? -Te contarei tudo dentro. Tomou-o do braço e obrigou-lhe a dar-se a volta, porque parecia não saber já utilizar os pés e as pernas. Com um pequeno empurrazinho o fez cruzar a ombreira. Fechou a porta depois dele. A casa, pensou com tristeza, estava nas mesmas más condições que Irish, cujo aspecto a tinha deixado atônita. Estava mais gordo e, no entanto, o rosto aparecia emaciado. As bochechas e a barba penduravam flácidamente. Os capilares vermelhos cobriam-lhe o nariz e os bochechas. Estava bebendo muito. Nunca foi um modelo de elegância, pois se vestia só com a idéia de ir decente, mas agora estava realmente mau. Seu desalinho ia além de um carinhoso traço de personalidade; era prova de uma degeneração do caráter. A última vez que viu seu cabelo era cinza; agora estava quase completamente branco. Ela era a culpada de todo isso. -Oh, Irish, Irish, perdoa-me. Com um soluço, derrubou-se sobre ele e rodeou aquele enorme corpo com seus braços e apertou com força.
-Tens outra cara. -Sim. -E a voz rouca. -Já o sei. -Reconheci-te pelos olhos. -Alegro-me. Não tenho mudado por dentro. -Tens bom aspecto. Como estás? Apartou-a um pouco e, com torpeza, acariciou-lhe os braços com seus grandes e ásperas mãos. -Estou bem. Curada. -Onde tens estado? Pela Virgem María, não posso crer! -Nem eu também não. Deus, alegro-me tanto de ver-te! Se apertaram um ao outro e choraram. Pelo menos mil vezes em sua vida tinha recorrido ao consolo de Irish. Em ausência de seu pai, Irish beijou os cotovelos arranhados, arrumou os brinquedos quebrados, examinou suas notas do colégio, assistiu com ela a espetáculos de dança, deu sermões, a felicitou e a compadeceu. Mas desta vez Avery sentia a mais velhas dos dois. Tinham investidos os papéis. Ele era quem se agarrava com força a ela e quem precisava carinhos. De alguma forma, aos tropeções chegaram até o sofá, ainda que mais tarde nenhum dos dois recordou como chegaram ali. Quando tiveram cessado as lágrimas, Irish esfregou a cara com as mãos, bruscamente e com impaciência. Estava envergonhado. -Pensei que estarias bravo -disse Avery, depois. de soar-se pouco delicadamente com um lenço de papel. -Estou-o, muito bravo. Se não estivesse tão contente de te ver, te daria uma boa surra. -Só me bateu uma vez, naquele dia que insultei a minha mãe, e depois choraste com mais força e durante mais tempo que eu. - E roçou a bochecha-. És um macio, Irish McCabe. Pareceu contrariado e irascível. -Que tem passado? Teve amnésia? -Não. -Então, que? -perguntou, estudando-lhe detenidamente o rosto-. Não estou acostumado a que tenhas este aspecto. Pareces... -Carole Rutledge. -Exatamente. A esposa de Tate Rutledge, sua difunta esposa. -Uma luzinha acendeu-se em seus olhos-. Ela também viajava nesse avião? -Identificaste meu cadáver, Irish? -Sim. Pela corrente. Avery negou com a cabeça. -Identificaste o corpo dela. Ela levava a minha corrente. As lágrimas voltaram-se a acumular nos olhos de Irish. -Estavas queimada, mas teu cabelo, teu... -Parecíamos-nos o suficiente como pára que nos tomassem por irmãs só uns minutos antes da tentativa de decolagem. -Como...
-Escuta e to contarei. -Avery colocou suas mãos sobre as dele, uma silenciosa petição de que deixasse de interromper-. Quando recuperei o conhecimento no hospital, em vários dias após o acidente, estava vendada de pés a cabeça, não podia me mover, só via com um olho e não podia falar. Todo mundo me chamava senhora Rutledge. Ao princípio pensei que quiçá sim que tinha amnesia, porque não recordava ter sido a senhora Rutledge ou a senhora ninguém. Estava confusa, dolorida, desorientada. Então, quando recordei quem era eu, me dei conta do ocorrido. Tínhamos-nos trocado os assentos, entendes? Explicou-lhe com detalhe as angustiosas horas que tinha passado tentando explicar o que só ela sabia. -Os Rutledge contrataram os serviços do doutor Sawyer para que me reconstruir a cara, o rosto, o rosto da suposta Carole, utilizando fotografias dela. Não tinha forma humana de que pudesse lhes alertar de que estavam cometendo um erro. Irish extraiu as mãos de embaixo das de Avery e passou-lhas pela flácida mandíbula. -Preciso uma copo. Queres uma? Regressou ao sofá momentos depois com um copo cheio em seus três quartos partes de whisky. Avery não disse nada, ainda que olhou o copo com reprobação. Desafiante, Irish tomou-se um bom gole. -De acordo, até agora te sigo. Cometeu-se um terrível erro enquanto eras incapaz de comunicar-te. Uma vez foste capaz de comunicar-te, por que não o fizeste? Em outras palavras, por que segues fazendo o papel de Carole Rutledge? Avery pôs-se de pé e começou a passear-se pela desordenada habitação, fazendo uma ineficaz tentativa de pôr ordem enquanto meditava uma resposta. Convencer a Irish de que sua charada era viável e justificada ia ser difícil. Sua opinião sempre tinha sido que os jornalistas davam as notícias, não as criavam. Seu papel era observar, não participar. Esse ponto foi uma discussão contínua entre ele e Cliff Daniels. -Alguém tem intenção de assassinar a Tate Rutledge antes de que se converta em senador. Irish não esperava em absoluto ouvir nada semelhante. Seu braço ficou paralisado entre a mesa e a boca quando estava a ponto de beber um gole de whisky. O licor verteu-se pela borda do copo e caiu sobre sua mão. Distraidamente, secou na calça. -Que? -Alguém tem intenção... -Quem? -Não o sei. -Por que? -Não o sei. -Como? -Não o sei, Irish -disse, levantando a voz à defensiva-. E também não sei nem onde nem quando, ou seja que te poupa as perguntas e me escuta. Ele agitou o dedo, a apontando. -Pode ser que ainda te dê a surra por me responder. Não esgote a minha paciência. Já me fizeste passar pelo inferno, um verdadeiro inferno. -Também não para mim tem sido exatamente uma festa -replicou irritada.
-Razão pela qual me controlei até agora -gritou ele-. Mas deixa de contar-me tolices. -Não estou contando tolices. -Então, que é isso de que alguém quer assassinar a Rutledge? Como demônios o sabes? O crescente mau humor do homem tranqüilizava-a. A um Irish assim podia o manejar muito melhor que à triste figura de fazia uns minutos. Tinha anos de prática no que se referia a discutir com ele. -Alguém me disse que iam assassinar a Tate antes de que pudesse tomar posse de seu cargo. -Quem? -Não o sei. -Merda! Não comeces outra vez. -Se me der uma oportunidade, te explicarei. Ele tomou outro gole, afundou um punho na palma da outra mão e, finalmente, relaxou e acertou no sofá, dando a entender que estava disposto a se estar quieto e a escutar. -Achando que eu era Carole, alguém me visitou quando estava na unidade de cuidados intensivos. Não sei quem era. Não pude ver porque tinha o olho vendado e estava situado além de meu ombro. -Narrou o incidente, repetindo ameaça-a palavra por palavra-. Estava aterrorizada. Quando já podia me comunicar quem era, tive medo de fazer. Não podia revelar os fatos sem pôr em perigo minha vida e a de Tate. Irish guardou silêncio até que terminasse. Ela regressou ao sofá e se sentou a seu lado. Quando ele começou a falar, seu tom de voz era cético. -O que me estás dizendo, então, é que tens assumido o papel da senhora Rutledge para impedir que assassinem a Tate Rutledge. -Exatamente. -Mas não sabes quem tem intenção do matar. -Ainda não, mas Carole sim que o sabia. Ela fazia parte de tudo isto, ainda que desconheço a relação que tem com a outra pessoa. -Já. -Esfregou-se pensativamente a pele flácida baixo da barba-. Esse visitante que... -Tem que ser um membro da família. Não teriam deixado entrar ninguém mais na unidade de cuidados intensivos. -Alguém poderia se ter escondido. -Possivelmente, mas não creio. Se Carole tivesse contratado um assassino, este se teria limitado a desaparecer quando ela ficou incapacitada. Não teria ido ameaçála para que ficasse calada, não te parece? -É teu assassino. Diga-me tu. Averry voltou a pôr-se de pé inesperadamente. -Não acredita? -O que acredito que você acredita. -Mas pensas que tenho imaginado. -Estavas drogada e desorientada, Avery -argumentou em um tom razoável-. Disseste-o tu mesma. Estavas meio cega de um olho e, perdoa o chiste, não vias nada com o outro. Achas que a pessoa era um homem, mas bem pudesse ter sido
uma mulher. Pensas que era um membro da família Rutledge, mas também poderia ter sido qualquer. -Aonde queres ir parar, Irish? -Seguramente trata-se de um pesadelo. -Eu também comecei a pensar o mesmo, até faz em uns dias. Extraiu da bolsa a folha de papel que tinha encontrado debaixo de seu travesseiro e lhe deu. Irish leu a mensagem escrita a máquina. Quando sua mirada preocupada voltou a coincidir com a dela, Avery disse: -Encontrei-o debaixo da meu travesseiro. É de carne e osso, como vês. Segue achando que sou Carole, seu comparsa. E continua tendo a intenção de levar a cabo o que estava planejado a princípio. A nota tinha alterado drasticamente a opinião de Irish. Se limpou a garganta, intranqüilo. -É o primeiro contato que tem tido contigo desde a noite do hospital? -Sim. Voltou a ler a mensagem e comentou: -Não diz que vá assassinar a Tate Rutledge. Avery olhou-o com retraimiento. -Este é uma tentativa de assassinato bem pensado. Os planos eram em longo prazo. Seria estranho que se arriscasse ao pôr por escrito. Evidentemente, escreveu uma nota abstrata, por se talvez a interceptassem. As palavras supostamente inocentes significariam algo diferente por completo para Carole. -Quem tem acesso à máquina de escrever? -Todo mundo. Há uma no escritorio da sala familiar. Essa é a que se utilizou. Comprovei-o. -Que quer dizer ele ou ela com «seja o que seja o que estás fazendo»? Avery apartou a mirada com culpabilidada. -Não estou segura. -Avery. Voltou bruscamente a cabeça. Nunca tinha podido lhe ocultar a verdade a Irish. Dava-se conta sempre. -Tenho estado tentando levar-me melhor com Tate que sua mulher. -Por alguma razão em particular? -Resultou óbvio desde o princípio que tinham problemas. -Como te deste conta? -Pela forma em que a trata. Isto é, a mim. Mostra-se educado, mas isso é tudo. -Já. Sabes por que? -Carole teve, ou tinha intenção de ter um aborto. Inteirei-me disso na semana passada. Já tinha descoberto que era uma mulher egoísta e que se cria o centro do mundo. Era-lhe infiel a Tate e era um desastre de mãe com sua filha. Sem levantar demasiadas suspeitas, tenho estado tentando encher o vazio que se tinha produzido entre eles dois. De novo Irish perguntou: -Por que? -Para inteirar-me um pouco melhor do que estava ocorrendo. Tinha que chegar ao fundo do problema dantes de poder começar a descobrir o motivo do assassinato. Evidentemente, notaram-se minhas tentativas de melhorar o casamento. O assassino supõe que é a nova tática de Carole para fazer confiar a Tate. -
Esfregou-se os braços como se de repente sentisse frio-. Existe, Irish. Sei-o. Esta é a prova -acrescentou, assinalando a nota com a cabeça. Sem decidir-se, Irish atirou a folha de papel sobre a mesinha do café. -Suponhamos que há um assassino. Quem o vai descobrir? -Não tenho nem ideia -contestou, com um suspiro de derrota-. São uma grande família feliz. -Segundo tu, há alguém em Rocking R que não está tão contente. Ela lhe proporcionou uma lista oral dos nomes de todas as pessoas e a relação que tinham com Tate. -A cada um deles tem interesses pessoais, mas nenhum destes interesses têm nada que ver com Tate. Seus pais adoram-no. Nelson é o indiscutível chefe de família. Ele manda, e é severo e carinhoso alternativamente. Zee resulta mais difícil de classificar. É uma boa esposa e uma boa mãe. Comigo se mantém distante. Acho que sente verdadeiro ressentimento para Carole por não fazer mais feliz a Tate. -E os demais? -É possível que Carole tenha tido uma aventura amorosa com Eddy. -Eddy Paschal, o diretor de campanha de Rutledge? -E seu melhor amigo desde a universidade. Não estou do todo segura. Só me baseio no que me contou Fancy. -Outro tópico. E como te trata a ti esse Paschal? -É educado, nada mais. Claro está, não me insinuei como Carole. Se tinha algo entre eles, quiçá simplesmente assuma que se acabou com o acidente. Em qualquer caso, está trabalhando em corpo e alma para que Tate ganhe as eleições. -A garota? Avery negou com a cabeça. -Fancy é uma menina mimada tão amoral como uma gata de rua no cio. Mas é demasiado irresponsável para ser uma assassina. Não é que esteja acima disso; simplesmente não se tomaria a moléstia. -O irmão? Jack, chama-se? -É terrivelmente infeliz em seu casamento. -Meditou, franzindo o cenho pensativa-. Mas Tate não tem nada que ver com isso. Ainda que... -Ainda que? -Jack dá um pouco de pena, em realidade. Pensas que é competente, bonito e encantador até que o vê ao lado de seu irmão pequeno. Tate é o sol, Jack é a lua; reflete a luz de Tate, mas não tem nenhuma própria. Trabalha tanto como Eddy na campanha, só que, se algo vai mau, sempre a culpa é dele. A mim me dá lástima. -Dá-se lástima a si mesmo? O suficiente como para cometer um fratricidio? -Não estou segura. Mantém-se distante. Tenho-o pegado várias vezes observando-me e acho que há uma verdadeira hostilidade. De todos modos, por fora parece se manter indiferente. -E sua mulher? -Dorothy Rae pode sentir-se o suficientemente zelosa como para matar, mas iria a por Carole dantes que a por Tate. -Que te faz pensar isso? -Estive olhando o álbum de fotos da família, tentando conseguir algo de
informação. Dorothy entrou no salão pegou uma garrafa de vodka do armário das bebidas. Já estava bêbada. Quase nunca a vejo, exceto à hora de jantar, e então não diz nem palavra. Por isso me surpreendeu tanto quando, sem vir a conto, começou a me acusar de lhe roubar a Jack. Disse-me que eu queria reiniciar o assunto onde o deixei dantes do acidente. -Carole também se deitava com seu cunhado? -perguntou Irish com incredulidade. -Parece que sim. Ou pelo menos tentava-o. -A ideia tinha-a angustiado muito a Avery. Tinha a esperança de que fosse um delírio alcoólico que Dorothy Rae se tinha chegado a imaginar enquanto estava encerrada em seu quarto com as garrafas de vodka-. É absurdo -disse, pensando em voz alta-. Carole tinha a Tate, que poderia querer de Jack? -Sobre gostos não há nada escrito. -Suponho que tens razão. -Estava tão concentrada em seus próprios pensamentos que se perdeu o tom irônico de Irish-. Em qualquer caso, neguei ter nenhum interesse em seu marido. Chamou-me raposa, puta, destruidora de lares; coisas dessas. Irish passou uma mão pela cabeça. -Essa Carole devia de ser um bom elemento. -Não sabemos ao certo de dormia com Jack ou Eddy. -Mas devia de deixar umas pistas o suficientemente claras para que muitos o pensassem. -Pobre Tate! -E daí é o que pensa esse pobre Tate de sua esposa? Avery voltou a mostrar-se retraída: -Pensa que perdeu a criança com má intenção. Sabe que tinha outros amantes. Conhece perfeitamente suas negligências como mãe e que estas deixaram cicatrizes em sua filha. Felizmente, ainda pode se investir o processo. -E é uma responsabilidade da que tu te fizeste cargo também, não é verdadeiro? O tom crítico de sua voz fez que Avery levantasse a cabeça. -Que queres dizer? Irish deixou que pensasse ela mesma um momento, foi à cozinha e voltou com o copo cheio de novo. Plantou-se adiante do sofá com as pernas abertas e bem firmes. -Estás-me contando a verdade a respeito do visitante noturno do hospital? -Como podes o duvidar? -Te explicarei como posso o duvidar. Vieste a mim..., quando foi isso?, Faz quase dois anos, com o rabo entre as pernas e precisando um trabalho, qualquer trabalho. Acabavam-te de despedir da cadeia de televisão por cometer umas das maiores falhas na história do jornalismo. -Não tenho vindo aqui esta noite para que me lembre. -Pois bem, quiçá tenha que to recordar! Porque acho que isso é o que há por trás de todo este maldito plano teu. Aquela vez também te meteste em águas demasiado profundas. Sem ter comprovado os fatos, informaste de que um jovem deputado de Virginia tinha assassinado a sua esposa antes de estirpar um tiro nele mesmo. Avery pressionou-se a testa com os pulsos ao recordar aqueles terríveis acontecimentos.
-A primeira jornalista em chegar à cena do crime, Avery Daniels -proclamou Irish teatralmente, sem nenhuma compaixão por ela-. Sempre por trás de uma boa história, cheiraste sangue fresco. -Exato, isso é o que passou! Literalmente! -Cruzou os braços cobrindo-se o estômago-. Vi os corpos, ouvi gritar àqueles meninos aterrorizados pelo que acabavam de descobrir ao chegar a casa do colégio. Vi-os chorar pelo que seu pai tinha feito. -Supostamente feito, maldita seja! Nunca aprendes, Avery. Supostamente assassinou a sua esposa dantes de espalhar seus próprios célebro pela parede. Irish tomou um gole de whisky-. Mas tu informaste ao vivo, omitindo aquela pequena palavra legal e deixando à cadeia de televisão ao albur de um julgamento por difamação, que perdeste ante as câmeras, Avery. A objetividade desapareceu por completo. As lágrimas caíam-te pelas bochechas e então, então, como se não tivesses dito já suficiente, lhe perguntaste ao público em geral como qualquer homem, especialmente um cargo público eleito, podia fazer algo tão brutal. Avery levantou a cabeça e olhou-o com desafio. -Já sei o que fiz, Irish. Não preciso que tu me recordes o erro que cometi, faz dois anos que tento o esquecer. Equivoquei-me, mas tenho aprendido. -Merda! -gritou-. Voltas a fazer exatamente o mesmo outra vez! Metes-te em um lugar no que ninguém te autorizou a entrar! Creias as notícias, não informas de elas! Não é esta a grande oportunidade que esperavas? Não é esta a história que vai voltar a te pôr em primeira fila? -De acordo, sim! -exclamou histérica-. Essa é uma das razões pelas que me meti. -Essa é a razão pelo que tens feito tudo em tua vida. -Que estás dizendo? -Segues tentando ser como teu pai. Queres meter em seus sapatos, estar a sua altura, coisa na que sentes que tens fracassado. -Acercou-se a ela-. Deixa-me que te diga algo, uma coisa que não queres ouvir. -Agitou a cabeça e pronunciou a cada uma das palavras claramente-. Não vale a pena. -Basta já, Irish! -Era teu pai, Avery, mas também meu melhor amigo. Eu o conheci durante bem mais tempo e muito melhor que tu. Queria-o, mas podia julgá-lo com muita mais objetividade que tu ou tua mãe. Com um braço apoiou-se no sofá e inclinou-se sobre ela-. Cliff Daniels era um fotógrafo brilhante. Em minha opinião, o melhor de todos. Não estou negando em absoluto o talento que tinha com uma câmera fotográfica. Mas era incapaz de fazer feliz à gente que o queria. -Eu era feliz. Quando ele estava em casa... -O qual foi uma pequena fração de tua infância, uma fração muito pequena. E ficavas desconsolada a cada vez que se despedia. Eu vi a Rosemary agüentar suas longas ausências. Inclusive quando ele estava em casa, ela seguia triste, porque sabia que duraria pouco. Passava o tempo todo temendo no dia em que voltasse a ir embora. Cliff alimentava-se do perigo. Era seu elixir, sua força vital. Para tua mãe foi uma doença que devorou sua juventude e sua vitalidade. Ele perdeu a vida rapidamente e com clemência. A morte dela foi lenta e angustiosa. Demorou anos em chegar. Muito antes daquela tarde em que se engoliu o frasco de comprimidos, tinha já começado a morrer. De modo que por que se merece tua cega admiração e a obstinada determinação que tens de pôr a sua altura, Avery?
O prêmio mais valioso que ganhou nesta vida não foi aquele maldito Pulitzer, senão tua mãe, só que ele era demasiado estúpido como para se dar conta disso. -O que passa é que tens inveja dele. Com firmeza, Irish olhou-a diretamente aos olhos. -Sim, tinha inveja da maneira em que Rosemary o queria. Naquele momento, ela perdeu todo seu prumo. Às apalpadelas, tomou-lhe a mão e levou-lha a sua bochecha. As lágrimas caíam-lhe em abundância. -Não quero que nos briguemos, Irish. -Pois sinto-o, porque já tens a briga montada. Não posso permitir que continues com isto. -Tenho-o que fazer. Estou comprometida. -Até quando? -Até que saiba quem ameaça a Tate e possa o descobrir. -E depois que? -Não o sei -soluçou deprimida. -E daí passa se esse suposto assassino não faz o trabalho? Suponhamos que é todo uma cortina de fumaça, seguirás indefinidamente sendo a senhora Rutledge, ou simplesmente em um dia te enfrentarás com Tate e lhe dirás: ah, na verdade? Admitindo-lhe a ele o que só tinha aceitado ela mesma em uns dias dantes, declarou: -Ainda não o sei. Não me deixei nenhuma boa via de escape. -Rutledge tem que saber, Avery. -Não! -Pôs-se de pé de um salto-. Ainda não! Não posso me render tão cedo! Tens que me jurar que não lho dirás! Irish retrocedeu uns passos, surpreendido por sua violenta reação. -Deus! -susurrou de repente, ao dar-se conta da verdade-. De maneira que tratase disso. Queres o marido de outra mulher. Por isso queres seguir sendo a senhora Rutledge, porque Tate Rutledge é bom na cama?
Capitulo Vinte e três Avery apartou-se dele para reprimir o desejo de lhe dar um soco. -Você disse algo muito desagradável, Irish. Acercou-se à janela e, alarmada, viu que já estava escurecendo. Tinha dito que iria de compras e que não voltaria para o jantar. Mesmo assim, tinha que ir embora cedo. -Muito desagradável, sim -concedeu Irish-. Essa foi minha intenção. A cada vez que estou a ponto de ceder ante ti, me lembro das inúmeras noites posteriores ao acidente, quando bebia até ficar inconsciente. Sabes?, Cheguei inclusive a considerar a idéia de abandonar tudo. Avery deu-se a volta lentamente, seu rosto já não estava endurecido pela ira. -Faz favor, não me digas isso. -Pensava, à merda com esta vida. Me arriscarei na próxima. Tinha perdido a Cliff e
a Rosemary. Tinha perdido a ti. Perguntei a Deus: ouve, quem poderia agüentar tantos abusos? Se não tivesse temido por minha alma imortal, tal qual é... Sorriu timidamente. Ela o abraçou e descansou sua bochecha sobre o ombro. -Quero-te. Eu também sofria por ti, tanto quer acredite ou não. Sabia como te afetaria minha morte. Ele lhe deu um grande abraço, e não era a primeira vez que deseja que ela realmente sua filha. -Eu também te quero. Por isso não posso deixar que sigas com isto, Avery. Apartou-se um pouco dele. -Agora não posso voltar atrás. -Se há alguém que quer matar a Rutledge... -Há. -Então, tu também corres perigo. -Sei-o. Quero ser uma Carole diferente para Tate e para Mandy, mas, atuo de uma forma muito diferente, o cúmplice achará que traí-o, que aquela Carole não é a Carole para valer -acrescentou muito séria-. Vivo aterrorizada que me descubram. -Quiçá já o tenham feito e tu não o saibas. -Também sou consciente disso -admitiu com um tremor. -Van se deu conta. Reagiu surpreendida e a seguir exalou lentamente. -Já me perguntava se isso ocorreu. Quase deu-me um infarto quando abri a porta. Irish contou sua conversa com Van. -Eu estava muito ocupado e não lhe prestei muita atenção naquele momento. Pensei que estava sendo tão pesado como sempre. Agora, acho que estava tentando me dizer algo. Que queres que lhe diga se o volta a mencionar? -Nada. Quanto menos pessoas souberem melhor, tanto por seu bem como pelo meu. Van conhecia a Avery Daniels. Os Rutledge não. Não podem comparar à nova Carole com ninguém. Atribuem suas mudanças ao acidente e às traumáticas sequelas. -Segue sem ser um bom argumento -disse ele preocupado-. Se não há nenhum plano de assassinato, e rogo a Deus que não o tenha, o mais que podes esperar de tudo isto é o coração destroçado. -Se rendo-me agora e para mais tarde sair viva, teria feito tudo por nada. Não tenho toda a história ainda. E que passaria se assassinassem a Tate? Que passaria se pudesse ter evitado e não o tivesse feito? Achas que poderia viver com essa culpa toda minha vida? Irish esfregou-lhe suavemente a mandíbula com os nudillos dos dedos. -Você o ama, verdade? Fechou os olhos e assentiu em silêncio. -Ele odiava a sua mulher. Portanto, odeia-te a ti. -Acertaste de novo -admitiu com um sorriso triste. -Como vão as coisas entre vocês? -Não me deitei com ele. -Não te perguntei isso. -Mas isso é o que querias saber. -O farias? -Sim -contestou sem duvidar um instante-. Desde o momento em que recuperei o
conhecimento até o dia em que saí da clínica, foi maravilhoso comigo, absolutamente encantador. A forma em que trata a Carole em público está fora de toda reprovação. -E como a trata em privado? -Com friamente, como um marido traído. Estou ocupando-me disso. -Que passará então? Se cede e faz o amor contigo, não te parece que se dará conta da diferença? -Você acredita? -Inclinou a cabeça ligeiramente para um lado e tentou sorrir-. Não dizem os homens que todos os gatos são pardos na escuridão? Ele a olhou com reprovação. -De acordo, digamos que não se dê conta. Como você se sentirá sabendo que ele acha que está fazendo o amor com outra pessoa? Isso não se lhe tinha ocorrido. Ao pensá-lo, franziu o cenho. -Quererei que saiba que sou eu. Já sei que é errado o enganar, mas... -Suas palavras foram perdendo-se enquanto lutava com a pergunta à que ainda não tinha resposta. Deixou-a sem resolver e disse-: E também está Mandy. Quero-a, Irish. E ela precisa desesperadamente uma mãe que cuide dela. -Estou de acordo. Que ocorrerá quando tenhas acabado teu trabalho e a abandones? -Não a abandonarei... -E como achas que se sentirá Rutledge quando te revelar à família? -Não o revelarei. -Não gostaria nada estar ali quando tentar explicar. Pensará que o utilizaste. -Fez uma pausa para conseguir um maior ênfases-. E terá razão, Avery. -Não, se com isso lhe salvo a vida. Não achas que chegaria a me perdoar? Soltou um taco quase inaudível. -Você errou de profissão. Terias que ter sido advogada. Serias capaz de discutir até com o demônio. -Não posso deixar que minha carreira acabe em desonra, Irish. Tenho que corrigir os erros que cometi em Washington e voltar a ganhar credibilidade como jornalista. Quiçá só esteja tentando ser a filha de meu pai, mas tenho que o fazer. -Seus olhos olharam-no, buscando entendimento-. Não tenho fiu atrás desta oportunidade de ouro; a oportunidade caiu sobre mim. Tenho que tirar o maior proveito. -Estás-te enfrentando mau ao problema -a repreendeu com carinho, levantando a barba com o dedo índice-. Emocionalmente estás demasiado comprometida, Avery. Tens demasiado coração para permanecer à margem. Tu mesma tens admitido que queres a essa gente. As amas. -Mais uma razão para ficar. Alguém quer matar a Tate e deixar órfã a Mandy. Se está em minhas mãos, tenho que impedir que isso ocorra. O silêncio de Irish foi como ter levantado a bandeira branca da rendição. Ela olhou ao relógio de parede. -Tenho de ir-me. Mas, primeiro, tens algo que me pertence? Em menos de um minuto estava colocando ao redor do pescoço a corrente de ouro. No mercado não tinha um grande valor, mas era o objeto que mais valorizava na vida. Seu pai o trouxe do Egito em 1967, quando o contratou Newsweek para documentar o conflito entre aquele país e Israel. Pressionou o broche e abriu o
relicario. Olhou a fotografia que tinha em seu interior. Uma era de seu pai. Na foto, vestia roupa de batalha e levava uma câmera fotográfica de 35 mm pendurada ao pescoço. Era a última foto que se tinha feito. Mataram-no poucas semanas depois. A outra foto era de sua mãe. Rosemary, bela e pequena, sorria à câmera, mas com tristeza. Quentes e salgadas lágrimas inundaram os olhos de Avery. Fechou o relicario e esfregou-o entre as palmas da mão. Não tinha perdido tudo. Ainda tinha isso, e ainda tinha a Irish. -Agradeço por você tê-lo guardado - disse com voz rouca. -Estava nas mãos da mulher morta. Avery assentiu com a cabeça, pois era difícil falar. -Mandy gostou dele e eu o dei pára que ela olhasse. Quando estávamos a ponto de decolar, Carole se aborreceu porque Mandy brincava com a corrente. Tirou-o de suas mãos. Isso é a última recordação que tenho antes do acidente. Irish mostrou as jóias de Carole. -Elas reviraram o estômago quando abri o envelope que me enviaste. Você o mandou, verdade? Ela lhe contou como tinha ocorrido e concluiu: -Não sabia que fazer com tudo isto. -Por que não o atiraste tudo ao lixo? -Suponho que interiormente desejava me pôr em contato contigo. -Queres suas jóias? Negou com a cabeça, e olhou a singela aliança que levava na mão esquerda. -Sua súbita reaparição requereria uma explicação. Tenho que manter as coisas da forma mais singela possível. Irish amaldiçoou com impaciência e apreensão. -Avery, vá embora, agora. Esta noite. -Não posso. -Por todos os diabos! Tens herdado a ambição de teu pai e a compaixão de tua mãe. É uma combinação perigosa, mortal nestas circunstâncias. Desafortunadamente, tens herdado também a ternura de ambos. Avery soube que tinha cedido por completo quando perguntou com pena: -Como posso te ajudar? Tate estava de pé no recibidor quando entrou. Avery pensou que seguramente tinha estado esperando a que chegasse, mas ele tentou o fazer passar por uma coincidência. -Por que vens tão tarde? -perguntou, sem quase olhar em sua direção. -Não te deu Zee meu recado? Disse-lhe que tinha que fazer algumas últimas compras antes da viagem. -Pensei que chegarias mais cedo. -Tinha muitas coisas que comprar. -Ia com um montão de sacolas, aquisições que tinha feito antes de se encontrar com Irish-. Poderias ajudar-me a levar estas coisas à habitação? Ele apanhou alguns pacotes e a seguiu pelo corredor. -Onde está Mandy? -Já está dormindo. -Oh, tinha a esperança de chegar a tempo de ler um conto.
-Pois terias que ter voltado dantes. -Leram-lhe algum conto? -Mamãe leu-lhe um. Eu fui me despedir dela e fiquei até que dormiu. -Irei vê-la dentro de um momento. Fixou-se ao passar pelas cristaleras do corredor em que Nelson, Jack e Eddy conversavam sentados a uma das mesas do pátio. Zee estava esticada em uma rede, lendo uma revista. Fancy brincava na piscina. -Estás perdendo a conferência. -Eddy está repassando de novo o itinerario. Eu já o ouvi mil vezes. -Podes deixar essas sacolas em cima da cama. Tirou-se a jaqueta de lino, deixou-a ao lado das sacolas e tirou-se os sapatos de salto. Tate movia-se a seu ao redor, como se estivesse a ponto de se lançar sobre ela. -Aonde tens ido de compras? -Aos lugares de sempre. Era uma pergunta estúpida, já que todas as elegantes sacolas levavam os nomes dos estabelecimentos. Durante um terrível momento, perguntou se a teria seguido a casa de Irish. Era impossível. Tinha feito um percurso tortuoso, olhando constantemente pelo retrovisor para assegurar-se de que não a seguiam. Medidas de segurança como essa, seriam absurdamente melodramáticas em uns meses atrás, se tinham convertido em algo habitual. Não gostava de viver desonestamente nem estar continuamente em guarda; e essa noite em especial, após a emotiva visita a Irish, tinha os nervos destroçados. Tate tinha escolhido uma péssima noite para interrogá-la e pô-la à defensiva. -Por que me estás submetendo a um interrogatório por ter ido as compras? -Não estou fazendo nada. -Pois não o parece. Está espumando como um cão raivoso. - Chegou um pouco masi perto dele - Que esperavas encontrar? Cheiro de cigarro? A álcool? A sêmen? Algo que pudesse confirmar suas desagradáveis suspeitas de que passo a tarde com um amante? -Já aconteceu anteriormente. -Já não! -Por que tipo de imbecil me tomas? Esperas que me ache que uma operação de cara te tenha convertido em uma esposa fiel? -Podes acreditar no que quises! -gritou-lhe-. Só que me deixa em paz enquanto acredite! Dirigiu-se à porta do armário e quase arrancou a maçaneta ao abrí-la irritada. As mãos tremiam com tal força que seus dedos eram incapazes de desabotoar os botões situados nas costas da blusa. Amaldiçoou baixinho os inúteis esforços. -Deixa que te ajude. A voz de Tate soou perto dela, com uma nota de desculpa em seu tom. Empurrou a cabeça um pouco para frente, deixando exposto o pescoço, tomou-lhe as mãos, colocou-as aos lados e desabotoou a blusa. -Tivesse resultado uma cena familiar -comentou, quando tirou o último botão. A blusa deslizou-se pelos braços. Deixando-a contra o peito e voltou-se para olhálo. -Não respondo muito bem aos interrogatórios, Tate.
-Igualmente que eu ao adultério. Ela inclinou ligeiramente a cabeça. -Suponho que o mereça. -Durante uns minutos observou-lhe fixamente a garganta e o forte pulso que ali batia. A seguir, voltou a levantar a vista-. Mas, desde o acidente de avião, dei-te alguma razão para duvidar do meu afeto por ti? Viu que a comisura do lábio se movia com um pequeno espasmo. -Não. -Mas Continua a não confiar em mim. -A confiança se ganha. -Não tenho voltado a conseguir a tua? Não contestou. Em vez disso, levantou a mão e passou o dedo índice pela corrente de ouro que levava ao redor do pescoço. -Que é isto? O roçar de sua mão quase a fez derreter-se. Arriscando de uma vez a mostrar mais de seu corpo do que o tinha feito até então, deixou que a blusa caísse ao solo. A corrente pendia na fissura entre seus peitos, intensificado pelo sutiã transparente. Ela percebeu como ele continha a respiração. -Encontrei-o em uma joalheria de segunda mão -mentiu-. Bonito, verdade? -Tate olhava fixamente a delicada peça de ouro com o apetito de alguém faminto ante o último pedaço de comida do mundo-. Abre-o. Após duvidar um momento, decidiu a tomar a corrente na palma da mão e pressionou o berço. As fotografias não estavam. Avery tinha retirado as fotos de sua mãe e de seu pai, deixando ao cuidado de Irish. -Quero pôr tua foto e a de Mandy. Ele lhe esquadrinhou os olhos. A seguir, olhou longamente a boca, enquanto esfregava a corrente entre o polegar e o índice. Quando o fechou, o som pareceu extremamente forte. Devolveu o disco de ouro a seu lugar entre os peitos e deixou a mão ali. Com as pontas dos dedos acariciou as suaves curvas, quase sem manter contato com a pele; mas a Avery queimavam-na quando chegavam. Sem deixar de tocá-la voltou a cabeça. Estava livrando uma batalha consigo mesmo, confirmada pelo tremor da mandíbula, a turbulenta indecisão nos olhos e a respiração entrecortada. -Tate. -A lastimera inflexão de seu tom de voz obrigou a Tate a voltar a olhá-la. Em um susurro acrescentou-: Tate, nunca abortei. -Colocou os dedos sobre seus lábios antes que ele pudesse pronunciar palavra-. Não abortei nunca porque não estava grávida. O irônico era que se tratava da verdade mais absoluta, mas teria que confessar ter mentido para que ele a cresse. Levava dando-lhe voltadas na cabeça fazia dias. Não tinha nem idéia de se Carole ficou grávida e abortou ou não. Mas Tate também não o saberia nunca. Lhe resultaria mais fácil perdoar uma mentira que um aborto e, dado que esta parecia ser a maior barreira para chegar a uma reconciliação, queria fazer desaparecer. Por que ia ter que fazer penitência pelos pecados de Carole? Uma vez tinha comçado, o resto da mentira saiu com facilidade. -Só te disse-que estava grávida pelas razões que tu citaste no outro dia. Queria fazer alarde disso. Queria provocar-te. -Posou as mãos sobre suas bochechas-.
Mas não posso deixar que sigas achando que matei a teu filho. Vejo que te faz muiti mal. Após uma longa e escrútinadora olhada, Tate rompeu o contato e deu um passo atrás. -O vôo a Houston sai às sete da manhã da terça-feira. Poderás agüentá-lo? Tinha abrigado a esperança de que suas palavras libertassem uma onda de perdão e de amor frustrado. Tentando não mostrar sua desilusão, perguntou: -O que? A de manhazinha, ou o vôo em si? -Ambas coisas. -Não te preocupes. -Isso espero. -Dirigiu-se à porta-. Eddy quer que tudo funcione como o mecanismo de um relógio. Na segunda-feira pela noite, Irish chamou a seu escritório o encarregado de política nacional de KTEX. -Estás preparado para esta semana? -Sim. A gente de Rutledge mandou-nos o horário hoje. Se informamos de tudo isto, teremos que lhe dedicar a mesma quantidade de tempo a Dekker. -Deixa que eu me ocupe disso. Teu trabalho é informar de tudo o que ocorre na campanha eleitoral de Rutledge. Quero relatórios diários. Na verdade, te acompanhará Lovejoy em vez da câmera que te tinha atribuído antes. -Deus meu, Irish -se queixou o jornalista-. Que tenho feito eu para merecer a esse tio? É um doido. Não se pode confiar nele. A metade do tempo cheira mau. Continuou com uma ladaínha de objeções. Preferia estar com qualquer outro que não fosse Van Lovejoy. Irish escutou em silêncio. Ao finalizar a petição do jornalista, repetiu: -Lovejoy irá contigo. O jornalista saiu do escritório ácido. Se Irish dizia uma coisa duas vezes era inútil discutir. Irish tinha tomado essa decisão em uns dias dantes. Inclusive dantes de começar, o jornalista não tinha possibilidade alguma de lhe ter feito mudar de opinião. Avery pensava que não corria nenhum perigo iminente, mas era impetuosa e teimosa, e com freqüência tomava decisões que mais tarde pagava caras. Não podia se crer o lío no que se tinha metido agora. Deus Santo, tinha-se convertido em outra mulher! Era demasiado tarde para convencê-la de que não assumisse a identidade de Carole Rutledge, e ia fazer todo o possível para se assegurar de que tal interpretação não lhe custasse a vida. Lembraram manter-se em contato através da caixa de correios se o telefone resultava perigoso. Ele lhe entregou uma chave da caixa. Não serviria de muito em caso que precisasse ajuda imediata. Essa rede de segurança não era mais sólida que uma teia de aranha, mas ela se tinha negado a aceitar a pistola que lhe ofereceu. Todo aquele assunto de espionagem punha os nervos á flor da pele. Só de pensar o obrigava a jogar mão dos antiácidos. Nesses dias estava tomando tantas pastilhas para a acidez de estômago como whisky. Era demasiado velho para uma confusão assim, mas não podia ficar quieto, sem fazer nada, e deixar que matassem a Avery. Já que não podia ser seu anjo da guarda, faria algo melhor: mandaria a Van. Ter a Van por ali seguro que a poria nervosa, mas, se se metia
em algum lío durante a campanha, teria a alguém em quem confiar. Van Lovejoy não era grande coisa, mas, por enquanto, supunha a única solução que tinha Irish.
Capitulo Vinte e quatro O primeiro obstáculo na cuidadosamente organizada campanha de Eddy ocorreu no terceiro dia. Encontravam-se em Houston. Aquela manhã, Tate dirigiu, no café da manhã, um apaixonado discurso a um ruidoso grupo de estivadores. Foi bem recebido. A seu regresso ao hotel do centro da cidade, Eddy entrou em sua habitação para retornar os telefonemas que tive durante sua ausência. Os demais reuniram-se na suite de Tate. Jack ocupou-se dos jornais da manhã, examinando-os em busca de artigos relacionados com Tate, com seu oponente ou com as eleições em geral. Avery estava sentada no chão ao lado de Mandy, que fazia rabiscos em um caderno de desenho. Tate esticou-se na cama, depois de colocar uns quantos travesseiros por trás da cabeça. Acendeu o televisor para ver um concurso. As perguntas eram estúpidas, as respostas, frenéticas e o presentador, odioso; mas às vezes algo tão banal relaxava a mente e abria novas vias de pensamento. As melhores ideias chegavam quando não estava concentrado. Nelson e Zee faziam um palavras cruzadas juntos. Eddy interrompeu o tranqüilo palco. Entrou correndo na habitação mais excitado que nunca. -Apaga esse aparelho e escuta. Tate utilizou o comando a distância para apagar o aparelho. -Bom -disse com um sorriso expectante-, você já tem a atenção de todos, senhor Paschal. -Um dos clubes Rotario mais importantes do Estado se reúne hoje ao meio dia. É a reunião mais importante do ano. Toma-se juramento aos novos oficiais, e as esposas estão convidadas. O orador que tinham preparado se pôs doente esta manhã. Querem que vás tu. Tate incorporou-se e passou suas longas pernas ao outro lado da cama. -Quantas pessoas? -Duzentas cinquenta, trezentas. -Eddy retirava entre os papéis de sua maleta-. Trata-se de importantes homens de negócios e profissionais, pilares da comunidade. O Clube Rotario mais antigo de Houston. Seus membros têm muito dinheiro, inclusive nesta má época. Aqui tens. -Lançou-lhe a Tate várias folhas de papel-. Este foi um discurso estupendo que deste em Amarillo no mês passado. Olhe. E, pelo amor de Deus, tira essa roupa esportiva e põe-te um traje conservador. -Parecem gente mais apropriada para Dekker. -O são. Por isso é importante que vás. Dekker descreveu-te como um menino com a cabeça nas nuvens, no melhor dos casos, ou um louco liberal, no pior dos casos. Demonstra-lhes que tens os pés firmemente plantados no chão e que não tens cornos nem uma fila em ponta. -Olhou acima do ombro-. Tu também estás
convidada, Carole, te põe o mais linda possível. As mulheres. -Não posso ir. A atenção de todos se deslocou bruscamente de Eddy a ela, onde seguia sentada no chão com Mandy, sustentando uns lápis de cores na mão e um desenho do Pato Donald no colo. -Mandy tem uma consulta com o doutor Webster hoje à uma. -Merda! -Tate passou a mão pelo cabelo-. É verdade. Tinha-me esquecido. Eddy repartiu sua mirada incrédula entre os dois. -Não podes nem sequer considerar a possibilidade de jogar a perder esta oportunidade. Temos subido um ponto nas pesquisas nesta semana, Tate, mas ainda nos ganham por uma boa margem. Este discurso poderia significar muitos dólares para a campanha, dólares que precisamos para pagar anúncios na televisão. Jack atirou a um lado o jornal dobrado. -Marca outra consulta com o doutor. -Que te parece, Carole? -perguntou Tate. -Sabes o muito que me custou conseguir esta. Seguramente não me daria hora até dentro de várias semanas. E, ainda que desse-ma, não acho que seja bom para Mandy pospor a visita. Tate viu que seu irmão, seu pai e o chefe da campanha se olhavam os uns aos outros. Queriam que pronunciasse um discurso ante essas influentes personagens, e tinham razão. Os conservadores, fiéis seguidores de Dekker, precisavam que lhos convencesse de que ele era um candidato viável e não um louco principiante. No entanto, quando olhava a sua mulher sentia a força de sua tranqüila mirada. Iam amaldiçoá-lo fizesse o que fizesse. -Deus! -Eu poderia ir ver ao psicólogo com Carole -se ofereceu Zee-. Tate faça o discurso. Nós te contaremos mais tarde o que tenha dito o médico de Mandy. -Agradeço-te a oferta, mamãe, mas é minha filha. -E isto poderia significar sair eleito -argumentou Eddy, levantando a voz. Jack levantou-se e subiu as calças, como se estivesse a ponto de começar um combate de boxe. -Estou completamente de acordo com Eddy. -Por um discurso não vou perder as eleições. Papai? -Acho que tua mãe é a que tem oferecido a melhor solução. Sabes que não tenho muita fé nos psiquiatras, de maneira que não me molestaria o mais mínimo em ir ouvir o que este tem que dizer de minha neta. -Carole? Sua esposa tinha deixado que a discussão tivesse lugar ao seu redor sem dizer palavra alguma, o que era muito pouco característico dela. Desde que Tate conhecia-a, nunca tinha deixado de dar sua opinião. -As duas coisas são terrivelmente importantes, Tate -ouviu-lhe dizer-. Tens que o decidir tu. Eddy amaldiçoou baixinho e olhou-a com grande irritação. Tivesse preferido que vociferara e que desvariara para conseguir o que queria. Tate pensava exatamente o mesmo. Resultava bem mais fácil dizer-lhe que não a Carole quando se punha insuportável e inflexível. Ultimamente, utilizava para expressar-
se mais seus escuros e eloquentes olhos que a estridência de sua voz. Decidisse-se pelo que se decidisse, alguém se desagradaria. O fator decisivo foi a própria Mandy. Observou seu carinha séria. Ainda que não tivesse podido compreender a controvérsia que tinha lugar ao seu redor, parecia se desculpar por todo o bagunça que estava causando. -Chama-lhes, Eddy, e desculpe-se amavelmente. -A postura de Carole relaxou, como se tivesse estado em tensão até ouvir a decisão final-. Diga-lhes que a senhora Rutledge e eu temos outro compromisso. -Mas... Tate levantou a mão para impedir um bombardeio de recriminações. Dedicou a seu amigo uma mirada dura e cheia de determinação. -A primeira obrigação que tenho é com minha família. Prometeste-me teu entendimento, recordas? Eddy dedicou-lhe uma mirada dura também e exasperada e, a seguir, saiu batendo a porta. Tate não podia culpar pela irritação. Ele não tinha um filho, era responsável tão por si mesmo; como ia entender a divisão de sua lealdade? -Espero que saibas o que estás fazendo, Tate -disse Nelson, se levantou e tomou a Zee da mão-. Vamos tentar acalmar a nosso chefe de campanha. Marcharam-se juntos. Jack estava tão excitado como Eddy. Olhou com dureza a Carole. -Satisfeita? -Já basta, Jack! -exclamou Tate irritado. Seu irmão assinalou a Carole com um dedo acusador. -Está-te manipulando com a história essa da boa mãe. -O que ocorre entre Carole e eu não é em absoluto assunto teu. -Em geral, não. Mas, dado que estás-te apresentando às eleições, tua vida privada é assunto de todos. Qualquer coisa que tenha que ver com a campanha é assunto meu. Tenho dedicado anos de minha vida a tua carreira política. . -E agradeço tudo o que tens feito. Mas hoje vou tomar uma hora livre pelo bem de minha filha. Não me parece que esteja pedindo demasiado e, ainda que o seja, não discutas comigo. Após voltar a olhar a Carole com hostilidade, Jack saiu da suite e bateu a porta. Avery pôs-se de pé. -É isso o quevocê acredita, Tate? Que se trata só de que estou fazendo o papel de boa mãe? O pior do caso era que não sabia que pensar. Desde suas primeiras conquistas sexuais à idade de quinze anos, Tate tinha controlado todas suas relações com as mulheres. Gostava às mulheres e a ele, a sua vez, também gostava delas. E respeitava-as. A diferença do que ocorria com a maioria dos homens a quem se lhes davam bem as citas, suas amigas entre o sexo feminino eram quase tantas como seus amantes, ainda que muitas da primeira categoria lamentavam secretamente não se ter unido nunca às filas da segunda. Sua relação mais séria foi com uma mulher divorciada de San Antonio. Ela vendia bens imobiliarios, e com muito sucesso. Tate gostava do seu sucesso, mas não a amava o suficiente como para competir com ele à hora de conseguir seu tempo e sua atenção. Também tinha deixado claro desde o princípio que ela não queria ter filhos. Após um noviado de dois anos, separaram-se como amigos.
Jack era o que geralmente contratava e despedia aos empregados do escritório de advogados, mas, quando Carole Navarro foi em busca de trabalho, seu irmão pediu sua opinião a Tate. Nenhum homem do mundo podia olhar a Carole impassivamente. Seus grandes olhos escuros atraíram sua atenção, seu tipo prendia sua imaginação e seu sorriso cativou o coração. Deu sua aprovação e Jack contratou-a como ajudante jurídico. Muito cedo, Tate violou seus próprios conceitos éticos e convidou-a para jantar afim de celebrar um caso que o júri tinha falhado a favor de seu cliente. Ela esteve encantadora e sedutora, mas a noite acabou à porta de seu apartamento com um amistoso aperto de mãos. Durante umas semanas mantiveram compromissos amistosss. Uma noite, quando Tate tinha agüentado todo o possível, a tomou em seus braços e a beijou. Ela devolveu o beijo com gratificante paixão. Progrediram com naturalidada até a cama e o ato sexual foi profundamente satisfatório para ambos. Ao cabo de três meses, o escritório de advogados perdia a uma empregada, mas Tate ganhava uma esposa. A gravidez chegou de surpresa. Ele se adatou em seguida e de bom grado à ideia de ter um filho antes do esperado; Carole não. Queixava-se de sentir-se prisioneira por uma responsabilidade não desejada. Seu sorriso sedutor e seu riso contagioso passaram a ser lembranças. As relações sexuais converteram-se em algo tão obrigatório que a Tate não se importou quando cessaram por completo. Tinham amargas discussões. Nada do que ele fazia gostava a Carole nem lhe interessava, de modo que deixou do tentar e dedicou de todo seu tempo e suas energias à eleição, ainda que ainda faltavam anos. Assim que nasceu Mandy, Carole dedicou-se a recuperar seu bom tipo. Fazia ginastica com frenética dedicação. Tate perguntou-se por que. E, então, as razões de sua atividade fizeram-se aparentes. Soube quase com certeza no dia em que teve o primeiro amante. Não tentou dissimular-lo, e também não as outras infidelidades que seguiram. Sua defesa foi a indiferença, que, para então, era genuina. Olhando atrás, tivesse desejado divorciar naquele momento. Uma separação clara tivesse sido o melhor para todos. Ao longo de muitos meses ocuparam a mesma casa, mas viviam vidas separadas. Então, uma noite, ela o visitou em sua habitação, com um aspecto imbatível. Nunca soube que foi que a fez ir vê-lo aquela noite; seguramente o aborrecimento, talvez o ódio, talvez a vontade de seduzí-lo. Fora qual fosse a razão, a abstinência sexual e um excesso de álcool com seu irmão durante uma partida de póquer o impulsionaram a aproveitar da oferta. Nas piores horas da separação considerou a idéia de retomar sua história com a corretora de imóveis ou cultivar outra relação só pela libertação física que poderia lhe proporcionar. Finalmente, negou-se esse luxo. Uma aventura sexual era um grave erro para um homem casado; para um candidato político, supunha o final. Meter-se em algo assim e que o descobrissem seria um suicídio. Tanto se descobriam-no como se não, as promessas significavam algo para ele, ainda que era evidente que não significavam nada para sua esposa. Como um idiota, seguiu sendo fiel a Carole e às palavras que pronunciou durante a
cerimônia matrimonial. Semanas após aquela noite, ela lhe anunciou com hostilidade que estava grávida de novo. Ainda que Tate duvidava seriamente de que o filho fosse seu, não sabia mais em que acreditar. Carole disse a gritos que ela não queria ter outro filho. Foi naquele momento quando esteve seguro de que já não a queria, que fazia muito tempo que não a queria e que nunca mais poderia a querer. Tinha chegado a essa conclusão em uma semana justo antes de que ela se embarcasse no vôo 398 a Dallas. Sacudiu a cabeça para sair daquele terrível sonho. Ia ignorar sua pergunta a respeito do de ser uma boa mãe, igual que ignorou a afirmação de que nunca esteve grávida. Temia o velho jogo de pôr-lhe a isca diante. Não se pronunciaria de jeito nenhum até que estivesse seguro de que a recente mudança de Carole era permanente. -Por que não pedes que nos subam a comida e assim não teremos que sair antes da consulta com o doutor Webster -sugeriu, mudando de tema. Ela parecia igualmente disposta a deixar correr o assunto. -Que te apetece? -Qualquer coisa. Um sanduiche de rosbife frio me iria bem. Quando se sentou na borda da cama para utilizar o telefone que estava sobre o criado-mudo, Avery cruzou as pernas de um modo maquinal. Os músculos estomacais de Tate se tensionarm ao ouvir o roçar de suas meias. E, se ainda desconfiava, por que tinha tantas vontades de fazer o amor com ela? Merecia um dez pelo esforço, isso podia o admitir. Desde que regressou a casa, e inclusive antes, tinha feito todo o possível para reconciliar-se com ele. Não se punha nunca de mau humor, se esforçava para se dar bem com a família e se tomava um interesse sem precedente em suas idas e vindas, em seus costumes, em suas atividades. Era a antítese da impaciente e mal humorada mãe que era anteriormente. -Exatamente, um sanduíche de creme de amendoim -dizia ao auricular-, e com geléia de uva. Já sei que não está no menu, mas isso é o que gosta de comer. O inquebrantável amor de Mandy pelos sanduíches de creme de amendoim com geléia de uva era quase já uma piada entre os dois. Acima do ombro, Carole dedicou-lhe um amplo sorriso. Deus, como gostaria saborear daquele sorriso! Recentemente tinha-o feito. Sua boca não tinha o sabor das mentiras e as infidelidades. Os beijos que lhe devolvia eram doces e deliciosos e... diferentes. Analisando-o bem -e o tinha feito muitas vezes ultimamente-, se deu conta de que beijar-la foi como se beijar uma mulher pela primeira vez. O que deveria ser familiar se tornou único. Os escassos beijos surpreenderam-no, deixando-lhe impressões indeletáveis. Teve que exercer uma autodisciplina monástica para não ir para além, quando o que na realidade queria fazer era explorar aquela boca com tranqüilidade, até encontrar uma explicação a esse fenômeno. Ou talvez não fosse um fenômeno. Estava diferente com o cabelo curto. Quiçá a cirurgia estética tinha alterado o rosto o suficiente como para parecer uma mulher diferente por completo. Era um bom argumento, mas não o convencia do tudo.
-Em seguida sobem-no. Mandy, recolhe os lápis de cores e guarda na caixa, faz favor. É hora de comer. Agachou-se para ajudá-la e, ao inclinar-se, a estreita saia de seu traje se estendeu por detrás. O desejo o remoía, e o sangue fluiu a suas veias. Isso era comprensível, pensou de imediato. Fazia tanto maldito tempo que não tinha estado com uma mulher... Mas também não acabava de crer. Não desejava a qualquer mulher; se esse fosse o caso, poderia resolver o problema com um sozinho telefonema telefônico. Não, desejava a essa mulher, a essa Carole, a essa esposa à que estava começando a conhecer. Às vezes, quando a olhava aos olhos, era como se nunca a tivesse conhecido dantes e o antagonismo reinante entre eles tivesse ocorrido a outro. Por impossível que parecesse, gostava dessa Carole. Ainda mais impossível, se tinha apaixonado um pouco dela. Mas o negaria até no leito de morte. -Alegro-me de que nos tenhas acompanhado -disse Avery, lhe sorrindo timidamente. Uma recepcionista tinha-os acomodado no escritório do doutor Webster para que esperassem a sua consulta privada. -Era a única decisão que podia tomar. O psicólogo levara quase uma hora com Mandy. Aquela espera, até que lhes informassem do diagnóstico, os estava pondo muito nervosos. A conversa banal era uma forma de aliviar a tensão que os invadia. -Estará Eddy irritado comigo durante o resto da viagem? -Falei com ele antes de sair do hotel. Desejou-nos sorte com Mandy. Suponho que mamãe e papai conseguiram o acalmar. Em qualquer caso, nunca se irrita para valer. -Isso sim que é estranho, não te parece? Tate consultou seu relógio. -Quanto tempo vai durar a entrevista com a menina, pelo amor de Deus? -Olhou à porta a suas costas, como desejando que se abrisse-. Que dizias? -O de que Eddy não se irrita nunca. -Ah, sim. -Encolheu-se de ombros-. Ele é assim. Quase nunca perde o controle. -Um homem de gelo -murmurou. -Eh? -Nada. Brincou com a correia da bolsa, pensando nas conseqüências de seguir com o tema. Irish tinha-lhe aconselhado que se inteirasse de todo o possível sobre essas pessoas. Sua carreira baseava-se na habilidade de fazer as perguntas pertinentes, mas propondo de um modo sutil. Era hábil na hora de arrancar uma informação de pessoas que às vezes não tinha vontade de falar nem de compartilhar seus segredos. Decidiu pôr a prova seu talento e ver se seguia intacto. -E daí relação tem com as mulheres? Tate deixou a um lado a revista que acabava de apanhar. -Que mulheres? -As mulheres de Eddy. -Não o sei. Desse tema não fala comigo.
-Não fala de sua vida sexual com seu melhor amigo? Eu pensava que todos os homens se trocavam informação sobre isso. -Os garotos quiçá, os homens não precisam o fazer. Eu não sou um voyuer e Eddy não é um exibicionista. -É heterosexual? Tate lançou-lhe uma mirada gélida. -Por que? Recusou-te? -Vai ao diabo! Abriu-se a porta. Os dois separaram-se culpadamente. A recepcionista disse: -O doutor está acabando com Mandy. Estará com vocês em seguida. -Obrigado. Após ter-se apartado, Avery voltou a inclinar-se para diante na cadeira. -Só estou perguntando por Eddy porque tua sobrinha está tentando o seduzir e tenho medo de que acabe mau. -Minha sobrinha? Fancy? -Riu-se com incredulidade-. Está perseguindo a Eddy? -Disse-mo a outra noite, quando chegou a casa com a cara machucada. -A Tate apagou o sorriso da boca-. Exatamente, Tate. Envolveu-se com um vaqueiro em um bar, tomaram uns copos e fumaram uns baseados. Como o tipo não pôde conseguir uma ereção, culpou a Fancy e lhe deu uma boa surra. Ele suspirou profundamente. -Deus! -Não te fixaste no olho arroxeado e o lábio inchado? -Ele negou com a cabeça-. Bom, não te sintas demasiado culpado. Também não fixaram-se em isso seus pais -acrescentou com amargura-. Fancy é como um móvel. Está aí, mas ninguém se fixa realmente nela... a não ser que se comporte de forma extravagante. Em qualquer caso, agora tem uma fixação por Eddy. Como achas que responderá ele? -Fancy é só uma menina. Avery olhou-o com extranhesa. -Pode que sejas seu tio, mas não estás cego. Tate encolheu-se de ombros, incômodo. -Eddy saía com muitas garotas quando estávamos na universidade. No Vietnã freqüentava os bordéis. Sei que é heterosexual. -Está saindo com alguém nestes momentos? -Sai com algumas das mulheres que trabalham na sede da campanha, mas geralmente se trata de algo de tipo platónico, saídas em grupo. Não me chegou nenhum rumor de que se esteja deitando com nenhuma delas. Seguramente muitas estariam dispostas se ele propusesse. -Mas Fancy? -Tate negou com a cabeça, duvidando-. Não acho que Eddy a tocasse. Não se envolveria com uma mulher que é mais vinte anos jovem que ele; Especialmente Eddy, é demasiado inteligente. -Espero que tenhas razão, Tate. -Após uma pausa pensativa, olhou-o e agregou-: E não porque eu esteja interessada nele. Tate não teve tempo de fazer nenhum comentário, pois se abriu a porta do despacho e entrou o médico.
Capitulo Vinte e cinco -Não se sinta culpada, senhora Rutledge. A culpa que possa sentir pelos erros passados não lhe ajudará nada a Mandy agora. -Como devo me sentir, doutor Webster? Disse explicitamente que sou responsável pelo atraso no desenvolvimento social de Mandy. -Tem cometido alguns erros. Todos os pais o fazem. Mas você e o senhor Rutledge já têm dado o primeiro passo para resolver o problema. Passam mais tempo com Mandy, e isso é excelente. Comemoram seus lucros mais mínimos e tiram importância a seus fracassos. Precisa esse tipo de reforço por sua vez. Tate franzia o cenho. -Isso não parece grande coisa. -Ao invés, é muito. Se surpreenderia de quanto importa a aprovação dos pais. -Que mais teríamos que fazer? -Perguntem sua opinião com freqüência. Mandy, quer sorvete de creme, ou de chocolate? Obriguem-na a tomar decisões e a seguir comemorem suas decisões. Há que conseguir que vocalize seus pensamentos. Minha impressão é que até agora não o têm deixado fazer. Observou-os por embaixo de suas sobrancelhas cor de orín, que seria mais adequadas em um tratador de gado com uma pistola ao cinto que em um psicólogo infantil de trato amável. -Sua filha tem muito má opinião de si mesma. -Avery pressionou seu punho contra os lábios e apertou-os contra os dentes-. Algumas crianças mostram sua falta de autoestima comportando-se mau e atraindo assim a atenção sobre eles. Mandy converteu-se em uma pessoa introvertida. Considera-se transparente, de pouca ou nula importância. Tate afundou a cabeça entre os ombros. Desolado olhou a Avery e viu que as lágrimas lhe caíam pelas bochechas. -Sinto tanto -susurrou Avery, desculpando a Carole, que não se merecia perdão algum. -Não é tudo culpa tua. Eu também estava aí. Deixei que muitas coisas passassem quando deveria ter intervindo. -Desafortunadamente -interrompeu o doutor Webster, conseguindo que o casal voltasse a prestar atenção-, o acidente de avião não fez mais que aumentar sua ansiedade. Como se comportou no vôo do outro dia? -Armou bastante confusão quando tentamos lhe pôr o cinto de segurança contestou Tate. -A mim me custou bastante pôr o meu -confessou Avery sinceramente-. Se Tate não me tivesse convencido, duvido que tivesse agüentado a decolagem. -Entendo-o perfeitamente, senhora Rutledge. Como se comportou Mandy após a decolagem? Olharam-se o um ao outro e, a seguir, Avery respondeu: -Agora que o penso, se portou muito bem. -Isso é o que tinha imaginado. Verão, ela lembra que você pôs o cinto, senhora Rutledge, mas nada mais. Não recorda que você a resgatou. Avery colocou-se uma mão sobre o peito.
-Quer dizer que culpa a mim do acidente? -Até um verdadeiro ponto, temo que sim. Tremendo, tampou a boca com a mão. -Deus meu! -Será um verdadeiro passo adiante quando permitir que sua mente reviva de novo a explosão. Então, recordará que você a resgatou. -Isso poderia ser um inferno para ela. -Mas necessário para conseguir uma cura total, senhor Rutledge. Está lutando contra as lembranças. Em minha opinião, esses pesadelos periódicos levam-na até o momento do impacto. -Dizia que o fogo a devorava -comentou Avery baixinho, recordando o último pesadelo de Mandy-. Há algo que possamos fazer para estimular sua memória? -A hipnose é uma possibilidade -contestou o médico-. Mas eu preferiria deixar que sua memória evoluísse de um modo natural. A próxima vez que tenha uma desses pesadelos, não a acordem. -Deus! -Já sei que parece cruel, senhor Rutledge, mas ela tem que reviver o acidente para chegar ao outro lado, para chegar à segurança dos braços de sua mãe. Há que exorcizar o terror. Não será capaz de superar o medo e o terror inconscientes para sua mulher até esse momento. -Entendo -disse Tate- mas vai ser muito duro. -Sei-o. -O doutor Webster pôs-se de pé, recordando de modo que seu tempo tinha acabado-. Não invejo o ter que estar a seu lado a deixando reviver essa horrível experiência. Gostaria de voltar a vê-la dentro de dois meses, se parece-lhes bem. -Parece-nos estupendo. -E antes disso, se o crêem necessário. Chamem-me quando queiram. Tate deu-lhe a mão ao doutor Webster e depois ajudou a Avery a levantar da cadeira. Não era a mãe que inconscientemente Mandy temia, mas para o caso podia o ser. Todo mundo culparia a Carole. Inclusive com o apoio da mão de Tate baixo seu cotovelo, quase não podia se ter em pé. -Boa sorte com sua campanha -desejou-lhe o psicólogo a Tate. -Obrigado. O médico tomou as duas mãos de Avery entre as suas. -Não se desespere pelo sua culpa. Estou convencido de que quer muito a sua filha. -É verdadeiro. Disse-lhe que me odiava? A pergunta era pura rotina. Faziam-na uma dúzia de vezes ao dia, particularmente as mães que se sentiam culpadas. Naquele caso podia dar uma resposta positiva. Seu rosto alumiou-se com o sorriso de bom garoto. -Fala muito bem de sua mamãe e só se põe nervosa quando se refere aos acontecimentos anteriores ao acidente, o qual já lhe demonstra algo. -Que? -Que tem melhorado como mãe. -Deu-lhe umas palmadinhas no ombro-. Com seu contínuo e terno carinho para ela, Mandy superará tudo isto e acabará sendo uma menina inteligente e bem adaptada. -Assim o espero, doutor Webster -disse ferventemente-. Muito obrigado. Acompanhou-os até a porta e abriu-a.
-Sabe uma coisa, senhora Rutledge? Deu-me uma boa surpresa quando entrou em meu consultório. Faz em um ano uma jovem fez-me uma entrevista para a televisão. Parece-se muitíssimo a você. De fato, é de, sua zona. Por acaso conhece-a? Chama-se Avery Daniels. Avery Daniels, Avery Daniels, Avery Daniels. A multidão falava em coro seu nome enquanto ela e Tate se abriam passo entre o tropel até chegar ao estacionamento. Avery Daniels, Avery Daniels, Avery Daniels. Tinha gente por todas partes. Tropeçou e separou-se de Tate. Ele ficou atrapado pela multidão. -Tate! -gritou. Não podia ouvir por causa do clamor demoníaco de seu nome. Avery, Avery, Avery. Que tinha sido isso? Um disparo! Tate estava coberto de sangue. Voltou-se para ela e, enquanto caía ao solo, se troçou: Avery Daniels, Avery Daniels, Avery Daniels. -Carole! Avery Daniels. -Carole, acorda! De uma sacudida violenta ficou sentada, erguida. Tinha a boca aberta e seca. Respirava com dificuldade. -Tate? -Apoiou-se sobre seu peito nu e abraçou-o com força-. Oh, Deus, foi horroroso! -Tinhas um pesadelo? Assentiu, e afundou a cara no vello cálido de seu peito. -Abraça-me, faz favor. Só um momento. Estava sentado à beira da cama. Inclinou-se um pouco e rodeou-a com os braços. Avery apoiou-se mais contra ele, agarrando-se. O coração batia-lhe com força e golpeava o peito de Tate. Não podia apagar essa imagem dele, coberto de sangue e se voltando com ódio e uma mirada acusadora. -Por que te ocorreu isto? -Não o sei -mentiu. -Eu acho que sim. Não te comportaste normal desde que o doutor Webster mencionou a Avery Daniels. -Ela gemeu. Tate passou os dedos pelo cabelo e deixou-os sobre o couro cabelludo-. Não posso achar que não soubesse que morreu no acidente. Ficou tão envergonhado após mencioná-lo que me deu até pena. Ele não podia saber até que ponto te ia afetar a comparação. Ou por que, pensou ela. -Comportei-me como uma idiota? Tudo o que recordava, após que o médico pronunciasse seu nome, era o ensurdecedor zumbido nos ouvidos e a onda de ânsia que quase fez que se vomitasse sobre Tate. -Como uma idiota não, mas quase te desmaiaste. -Nem sequer recordo ter saído do consultório. Tate apartou-a um pouco dele e deslizou suavemente as mãos até seus braços. -Foi uma coincidência estranha que estivesses no mesmo avião que essa mulher. Muitos desconhecidos confundiam-te com ela, recordas? É surpreendente que
ninguém o tenha mencionado antes. De maneira que ele sabia quem era Avery Daniels. De alguma forma aquilo a fazia se sentir melhor. Perguntou-se se ele gostava de vê-la em televisão. -Sinto o que acaba de ocorrer. Só que... Tivesse preferido que a abraçasse. Era mais fácil falar quando não tinha que o olhar diretamente aos olhos. -Que? Apoiou a cabeça sobre seu ombro. -Canso-me de que a gente me olhe continuamente à cara. É um objeto de curiosidade. Sinto-me como a mulher barbuda do circo. -A natureza humana. Ninguém tem intenção de ser cruel. -Já o sei, mas me incômoda tremendamente. Às vezes tenho a sensação de que sigo envolvida em vendas. Eu estou dentro, olhando, mas ninguém pode ver para além de meu rosto. Uma lágrima deslizou pela abertura do olho e caiu sobre o ombro de Tate. -Segues intranqüila pelo sonho? -perguntou-lhe incorporando-a de novo-. Gostarias de beber algo? Há um pouco de Bailey's no frigobar. -Parece-me uma boa ideia. Dividiu a pequena quantidade de licor entre os dois copos e regressou com eles à cama. Se sentia-se incômodada por ele só levar a calça do pijama, não dava sinais disso. A Avery agradou que ele voltasse a sentar em sua cama e não na que ele dormia quando acordou do pesadelo. Só um espaço estreito separava ambas camas, mas para o caso podia se tratar do Golfo de México. Tinha precisado de uma emergência para que o cruzasse. -Brindo por tua vitória, Tate. -Chocaram os copos. O licor deslizou-se facilmente por sua garganta, proporcionando-lhe um agradável calor ao corpo -Vá. Tem sido uma boa ideia. Obrigado. Agradecia esse tranqüilo intervalo. Compartilhavam todos os problemas de qualquer casal, mas nada da intimidade. Por causa da campanha eleitoral, estavam sempre de cara ao público e baixo contínuo escrutinio. Isso acrescentava uma verdadeira tensão a uma relação já por si difícil. Não compartilhavam nenhum prazer. Estavam e não estavam casados. Ocupavam o mesmo espaço, mas viviam em diferentes esferas. Até essa noite, Mandy tinha servido de amortizador entre os dois dentro dos confins do quarto do hotel, pois a menina dormia com Avery. Mas Mandy não estava já com eles. Encontravam-se sozinhos, na metade da noite, bebendo juntos um licor e falando de seus problemas pessoais. Para qualquer outra pessoa, a cena tivesse acabado no ato sexual. -Já tenho saudades de Mandy -comentou ela enquanto passava do dedo índice pela borda do copo-. Não sei se fizemos bem deixando que voltasse a casa com Zee e com Nelson. -Isso foi o que planejamos desde o princípio, que a levariam para casa depois da consulta com o doutor Webster. -Após falar com ele tenho a sensação de que deveria estar com ela a todas horas. -Disse que uma separação de uns dias não lhe faria nenhum dano, e mamãe já sabe o que tem que fazer.
-Como ocorreu? -perguntou-se Avery em voz alta-. Como chegou a converter em uma menina tão introvertida, tão emocionalmente ferida? Eram perguntas retóricas e não esperava respostas. Tate, não obstante, tomou-as literalmente e proporcionou-lhe umas respostas: -Já ouviu sua opinião. Disse-te como ocorreu. Não passavas suficiente tempo com ela. E o tempo que estavas com ela era mais destrutivo que outra coisa. Seu mau humor surgiu à superfície. Estava sendo injusto com Carole, e Avery sentiu-se obrigada a defendê-la. -E onde estavas tu todo esse tempo? Se eu o estava fazendo tão mau como mãe, por que não fizeste tu algo para o impedir? Mandy tem dois pais, sabe-lo. -Sou consciente disso. Admiti-o hoje. Mas, a cada vez que fazia alguma sugestão, tu te punhas à defensiva. Que nos visse brigar não lhe ia fazer nenhum bem. De maneira que não podia intervir sem que a situação se complicasse ainda mais. -Quiçá tuas propostas eram equivocadas. Concedia a Carole o benefício da dúvida fazendo o papel do advogado do diabo. -Quiçá. Mas nunca tenho visto que te tomasses bem as críticas. -E tu sim as tomas bem? Ele deixou seu copo sobre o criado-mudo e estendeu o braço para o interruptor da luz. A mão de Avery deteve-o. -Sinto-o. Não..., não voltes à cama ainda. Tem sido em um dia longo e cansado por muitas razões. Os dois estamos tensos. Não era minha intenção te insultar. -Seguramente deveste voltar a casa com mamãe e papai. -Não -recusou rapidamente-. Meu lugar está contigo. -Hoje só foi um exemplo do que vai ocorrer até novembro, Carole. Tudo se porá pior e será mais duro. -Posso suportá-lo. -Sorriu e, impulsivamente, passou-lhe o dedo pela físsura da barba-. Já gostaria que me dessem uma moeda pela cada uma das vezes que hoje tens dito: «Olá, sou Tate Rutledge, e apresento-me a senador dos Estados Unidos.» Pergunto-me a quantas pessoas deste a mão. Levantou a mão direita. Tinha-a em forma de garra. -A todas estas. Ela se riu baixinho. -Acho que agüentamos muito bem a visita à Gallería, considerando que acabávamos de estar com o doutor Webster e que nos tínhamos despedido de Mandy. Assim que regressaram ao hotel após a visita ao psicólogo, deixaram a Mandy em mãos dos avôs. Zee além de ter medo viajar em avião; negava-se totalmente a voar, de maneira que tinham ido a Houston em carro. Queriam partir cedo para chegar a casa antes de que escurecesse. Assim que ela e Tate se tiveram despedido, Eddy os meteu a toda pressa no carro e se dirigiram ao enorme shopping de múltiplos andares. Os voluntários, sob a supervisão de Eddy, proclamaram sua chegada. Tate deu um pequeno discurso desde uma plataforma elevada, apresentou a sua esposa à multidão congregada ali e, a seguir, abriu passagem entre eles, saudando e pedindo o voto. Tinha ido tão bem que Eddy ficou mais tranqüilo, após ter tido que declinar o convite do Clube Rotario. Inclusive aquilo tinha ido bem. O clube convidou a Tate
a dar um discurso em uma de suas reuniões a últimos de mês. -Eddy voltou louco com todas as reportagens que te fizeram os meios de comunicação hoje -comentou Avery, pensando em isso. -Deram-nos vinte segundos durante a emissão das seis da tarde. Não parece muito, mas me dizem que é bom. -O é. Ou pelo menos isso dizem -se apressou a acrescentar. Tinha-se ficado surpreendida ao ver a Van Loveíoy e a um informador político de KTEX no café da manhã dos estivadores. Todo o dia estiveram atrás de Tate. -Por que têm vindo desde San Antonio? -tinha-lhe perguntado a Eddy. -Aproveita da publicidade grátis. Sorrri à câmera a cada vez que tenhas uma oportunidade. Em vez de seguir suas instruções, o que fez foi tentar evitar a câmera de Van. Mas ele parecia decidido a captar imagens de seu rosto. O jogo do gato e o rato ao que tinha jogado com ele todo o dia, junto com a surpresa que deparou o doutor Webster, lhe tinham deixado os nervos á flor da pele. Estava tão nervosa que, mais tarde, quando não pôde encontrar uns brincos, reagiu de um modo exagerado. -Sei que os tinha aqui no dia dantes de sair -lhe disse quase gritando a Tate. -Olha outra vez. Fez mais que isso. Virou a saloca de setim e revirou todo o conteúdo. -Não estão aqui. -Como são? Deviam partir para um churrasco para arrecadar fundos, patrocinada por um rico rancheiro nos arredores da cidade. Tate estava já vestido e levava meia hora a esperando. Ela se tinha atrasado. -Grandes aros de prata. -Tate olhou detalhadamente a habitação-. Não os encontrarás à vista - disse ela com exasperação-. Ainda não os estreei. Compreios para levar especialmente com este traje. -Não podes substituir por outra coisa? -Suponho que terei que o fazer. -Fez uma seleção do montão de jóias depositadas sobre a mesa. Para então estava tão nervosa que teve problemas à hora de se pôr os brincos. As três tentativas foram frustradas-. Merda! -Carole, pelo amor de Deus, tranqüiliza-te! -Até esse momento tinha permanecido irritantemente tranqüilo-. Ter esquecido um par de brincos. Não é o fim do mundo. -Não os esqueci. -Suspirou profundamente e voltou-se para ele-. Não é a primeira vez que algo desaparece misteriosamente. -Terias que mo ter dito. Chamarei em seguida à segurança do hotel. Agarrou o braço antes de que pudesse atingir o telefone. -Não tem sido aqui. Em casa também. Alguém tem estado entrando a escondidas em meu quarto e mexendo nas minhas coisas. Reagiu tal como ela esperava. -Isso é ridículo. Estás louca? -Não. E também não estou imaginando. Faltam-me várias coisas, coisas pequenas e insignificantes. Como esses brincos que estou totalmente segura de ter metido na mala. Assegurei-me uma e outra vez antes de fechar a bagagem. Sensível para qualquer crítica relacionada com sua família, Tate cruzou os braços. -A quem estás acusando de roubar? -Não me importo tanto os objetos que faltam como a violação de minha intimidade.
-Justo naquele momento ouviu-se um telefonema à porta, a culminação perfeita de um dia esgotador-. Aí tens! -acrescentou irritada-. Por que não podemos acabar uma conversa privada sem que nos interrompam? -Baixa o tom de voz ou te ouvirá Eddy. -Ao inferno com Eddy! -exclamou com convicção. Tate abriu a porta e Eddy entrou a grandes passos. -Preparados, garotos? A modo de explicação por seu atraso, Tate disse: -Carole perdeu os brincos. Ela lhe lançou uma mirada que claramente afirmava que não os tinha perdido. -Bom, pois põe-te outros ou não leves nada, mas temos que baixar. -Eddy sustentava a porta aberta-. Jack está esperando com o carro. Temos uma hora de caminho. Correram para o elevador. Felizmente, outro hóspede do hotel viu-lhes chegar e educadamente reteve-o. Jack passeava-se ao lado da limusina estacionada na entrada de carros. Durante todo o trajeto discutiram as pesqisas e a estratégia da campanha. Avery podia ter sido invisível, pelo caso que lhe faziam. Em uma ocasião, quando lhes ofereceu uma opinião não solicitada, se encontrou com três olhares impassíveis, e a seguir a ignoraram. Surpreendentemente, a festa resultou divertida. Não se permitiu a entrada à imprensa. Como não tinha que se concentrar em evitar a câmera de Van, se relaxou e se divertiu. Tinha grandes quantidades de comida texana, gente simpática que comparava a Tate com o jovem John Kennedy, e música ao vivo. Inclusive conseguiu dançar com seu marido. Eddy pediu a Tate. -Vinga que à gente gostará. Durante o tempo que Tate a sustentou em seus braços e a passeou pela pista de dança, ela fingiu que tinha sido idéia dele. Com as cabeças para atrás, sorriram enquanto seus pés mantinham o ritmo da alegre música. Chegou a pensar que Tate estava passando bem. Quando a música atingiu um crescendo, ele a levantou em suspense e deu uma volta completa, conseguindo o entusiasmado aplauso dos presentes. A seguir, inclinou-se e a beijou na bochecha. Quando se apartou, tinha uma estranha expressão no rosto. Parecia surpreendido de sua própria espontaneidade. No entanto, durante a viagem de regresso à cidade, Avery manteve-se sentada em um rincão do assento traseiro da limusine, olhando pelo vidro fumê, enquanto Tate, Jack e Eddy analisavam o bem que tinha ido no dia e daí efeitos poderiam seguir para a eleição. Foi à cama esgotada e deprimida. Custou-lhe dormir. O pesadelo - e podia contar com os dedos de uma mão as que tinha tido durante toda sua vida- era o resultado de um dia físico e emocionalmente esgotador. Apreciava como um tesouro esse momento sem interrupções com Tate. Estavam continuamente rodeados de outras pessoas, e nem sequer na suite encontravam quase nunca sozinhos. -Acho que o Bailey's vai conseguí-lo. Avery estendeu seu copo vazio e se recostou sobre as almofadas. -Tens sonho?
-Ummm. -Levantou os braços até que as mãos descansaram à cada lado de sua cabeça, as palmas abertas, os dedos para dentro, em uma postura tão provocadora como indefesa. Os olhos de Tate escureceram-se à medida que baixaram de seu rosto à parte dianteira de seu corpo-. Obrigado por dançar comigo -acrescentou meio adormecida-. Desfrutei de teu abraço. -Antes costumavas dizer que não tinha ritmo. -Estava equivocada. Ele continuou observando durante uns momentos e apagou o lustre. Estava a ponto de abandonar a cama quando ela lhe pôs uma mão sobre o músculo nu. -Tate. Ficou gelado. A luz azulada procedente do estacionamento, filtrando-se através das cortinas, desenhava sua silueta imóvel. Em um tom incitante, Avery susurrou de novo seu nome. Tate, lentamente voltou a sentar-se sobre o colchão e inclinou-se. Com uma suave exclamação, ela apartou os lençóis com as pernas para que não tivesse nada entre eles. -Tate, eu... -Não -lhe ordenou com voz rouca-. Não digas nada que possa me fazer mudar de opinião. -Sua cabeça acercou-se tanto que ela sentiu seu fôlego sobre os lábios-. Desejo-te, ou seja que não digas nem uma palavra. Ferozmente possessivo, seus lábios abriram os dela. Com a língua explorou sua boca, entrando nela profundamente. Avery agarrou-o do cabelo e pressionou com sua boca para receber o beijo. Tate relaxou os braços, que até esse momento segurava com força a cabeça de Avery, e, pouco a pouco, se tendeu a seu lado e com a perna cobriu o músculo; ela girou a parte inferior do corpo e sua úmida físsura se encontrou com o joelho dele. -Estás molhada por mim? Avery conteve a respiração, terrivelmente excitada pelo atrevimiento da pergunta. -Disseste-me que não abrisse a boca. -Por quem estás molhada? Ela deslizou sua mão pelo músculo até a cintura e sedutoramente o convidou que se aproximasse. Tate, sem poder conter os gemidos, finalizou o beijo com vários fricções bruscas de seus lábios contra os dela. Lhe beijou o pescoço e foi baixando até os peitos, enquanto fechava as mãos sobre eles e pressionava. Sua boca aberta buscou o ponto ereto de um e se entreteve ali através oa tecido da camisola, que se umedeceu graças à ação de sua língua. Sentiu que o corpo dela se arqueava em um reflexo. Deslizou as mãos entre a almofada e a cabeça, abarcou-a com as palmas da mão e uniu os polegares sob o queixo. Jogou para atrás o rosto, voltou a pressionar seus lábios contra os dela e lhe deu um beijo ardente, ao mesmo tempo que se introduzia entre seus músculos abertos. O corpo de Avery se excitou ao sentir a força daquele sexo acariciando seu vale da feminilidada, e até resultava erótica a fricção da cueca de algodão contra as calcinhas de seda. O ardor envolvia-a e chegava a ele através da pele. Seu beijo fez-se mais
profundo, e os movimentos balanceados de seu corpo fizeram-se mais desesperados. Demasiado impaciente para tomá-lo com calma, Avery se agarrou com as mãos às costas de Tate, enganchou os pés em suas pantorrilhas e levantou as cintura. Agressivo e excitado, Tate deslizou a mão por dentro da seda úmida até chegar à entrada proibida. Soou o telefone. Retirou a mão, mas ela continuou aprisionada embaixo. Ficaram respirando profundamente o um contra o outro, enquanto o telefone não deixava de soar. Por fim, Tate girou-se até o borda da cama e levantou o auricular. -Sim? -Após uma breve pausa, amaldiçoou-. Sim, Jack -rugiu-. Estou acordo. Que ocorre? Avery emitiu um leve e angustioso gemido e moveu-se ao outro extremo do leito, de costas a Tate. -Estou indo.
Capitulo Vinte e seis Eddy abandonou o cômodo cadeirão do hotel e deixou ali a almofada que fazia jogo. Empilhados sobre ele tinha relatórios de computador, recortes de jornais e tabelas demográficas. Pensando que o telefonema à porta significava a chegada de seu pedido ao serviço de quarto, abriu sem olhar primeiro pelo olho mágico. Fancy estava na ombreira. -Pagaria por ver isso. Sem molestar-se em ocultar sua irritação, impediu-lhe a entrada colocando o antebraço na porta. -Ver que? -Como te corres. -Muito pronta. -Obrigado -contestou com descaro. Seus olhos azuis escureceram-se-. A quem esperavas? -Não é assunto teu. Que fazes tão longe de casa, pequena? Soou a campainha do elevador no corredor e saiu o camareiro do serviço de qualrto com uma bandeja apoiada no ombro. Acercou-se a eles com passos silenciosos. -Senhor Paschal? -Aqui. Quando Eddy se apartou para lhe deixar passar, Fancy aproveitou a ocasião para entrar também. Meteu-se no banheiro e jogou a lingueta na porta. Eddy rabiscou sua assinatura na fatura e acompanhou ao camarero até a saída. O jovem dirigiu-lhe um sorriso cúmplice e uma piscadela. -Que passe uma boa noite. Eddy fechou a porta um pouco subitamente e com um excesso de ruído como para se considerar educado. Golpeou a porta do banheiro. -Fancy. -Sairei dentro de um segundo. Soou o ruído da privada. Fancy abriu a porta, esticando-se ainda a curta saia de
seu vestido de tubo. Era um vestido de um material elástico e apertado que se cingia a seu corpo como uma segunda pele. Levava uma banda na parte superior que podia colocar acima dos ombros. Ela a levava muito baixa. O vestido era vermelho, e também o eram a pintura dos lábios, os sapatos de salto e as dúzias de pulseras de plástico que rodeavam seus braços. Com o cabelo loiro mais despenteado do normal, parecia uma prostituta. -Que tens pedido? Estou faminta. -Não estás convidada. -Interceptou-a quando se dirigia à bandeja que o camareiro tinha deixado sobre a mesinha da o lado do cadeira. Segurou-a pelo braço-. Que fazes aqui? -Bom, primeiro estava fazendo pipí. Agora vou ir a ver que tens para comer. Pressionou com mais força o braço e susurrou seu nome entre dentes. -Que fazes em Houston? -As coisas estavam muito chatas em casa -contestou, libertando seu braço- tenho apenas a companhia de mamãe e de Mona. Mamãe está meio bêbada na metade do dia. E a outra metade passa chorando e dizendo que papai já não a quer. Pessoalmente, acho que nunca a quis. Já sabes que ele achava que ela estava grávida quando se casaram. -Levantou o cobre pratos metálico de uma das bandejas e apanhou um pequeno tomate, um acompanhamento do sanduiche clube-. Que é ...? Mmm, um sorvete com chocolate quente! -exclamou fazendo gorgoritos de prazer ao descobrir a outra bandeja-. Como podes comer tudo isto a estas horas da noite e não engordar? -Seus experientes olhos deslizaram pelo suave e musculoso torso, entrevisto através da camisa desabrochada. Sedutoramente, Fancy passou a língua pelos lábios-. Em qualquer caso, mamãe pensa que papai está louco por tia Carole, coisa que me parece totalmente escandalosa, a ti não? -Seu corpo tremeu, mas não de asco, senão de prazer-. Já no Antigo Testamento se fala de um homem que deseja à mulher de seu irmão. -O pecado da semana, por Fancy Rutledge. Ela se jogou a rir. -Mamãe está realmente taciturna e Mona olha-me como se eu fosse uma barata em um açurareiro. O avô, a avó e o pequeno fantasma estavam a ponto de chegar, coisa que pioraria a situação, de maneira que decidi me abrir e vir aqui, onde está toda a ação. -Como podes ver, não estão ocorrendo grandes coisas esta noite -disse ele cinicamente. Sem intimidar, sentou-se na cadeira que ele tinha estado ocupando e meteu o pequeno tomate na boca. Tinha a mesma cor vibrante que seus lábios. Afundou os dentes na fruta. O suco inundou-lhe a boca a chorros. -A verdade do caso é, Eddy, carinho, que fiquei sem dinheiro no banco. O caixa automático informou-me que não podia me dar dinheiro porque minha conta estava em números vermelhos. Portanto -agregou, elevando os braços sobre a cabeça e esticando-se languidamente-, vim ver a meu melhor amigo para pedir-lhe um pequeno empréstimo. -De que quantidade? -Cem dólares? -Te darei vinte só para me desfazer de ti. Sacou um bilhete do bolso da calça e lançou ao seu colo.
-Vinte! -Com isso poderás comprar gasolina suficiente para voltar a casa. -Sem que me sobre nada. -Se queres mais, podes ir pedir ao teu velho. Está no quarto 1215. -Achas que se alegraria me ver, especialmente se lhe digo que venho de teu quarto? Sem dignar-se contestar, Eddy olhou seu relógio -Eu de ti começaria a viagem de regresso dantes de que se faça mais tarde. Tem cuidado. Dirigiu-se à porta para despedir-se dela. -Tenho fome. Como tens sido tão avaro, não poderei me comprar nada pára lanchar. Acho que isso me dá direito a um pedaço de sanduíche. Tomou da bandeja um dos pedaços de sanduíche de três andares e começou a comer. -Tu mesma. Sacou uma cadeira de embaixo da mesa, sentou e pôs-se a comer outro pedaço de sanduíche. Olhou um dos relatórios enquanto mastigava. Fancy deu-lhe um soco e atirou-o ao chão. -Não te atrevas a me ignorar, filho de puta! O destello dos olhos de Eddy parecia perigoso. -Eu não te convidei a vir aqui, putinha. Não quero que estejas aqui. E, se não gostas o que vês, te podes marchar quando queiras, o quanto antes melhor e com de vento fresco. -Oh, Eddy, não fales assim. Deixou-se cair de joelhos sobre o tapete. Arrependida de repente, arrastou-se até chegar a ele: Levantou os braços e meteu as mãos dentro de sua camisa, posando sobre o peito nu. -Não sejas cruel comigo. Quero-te. -Basta já, Fancy. Fez caso omisso. Colocou-se entre seus joelhos e lhe beijou o estômago. -Quero-te tanto... -Sua boca e língua moveram-se avidamente sobre o estômago liso e sem pêlos-. Eu sei que tu também me queres. Ele soltou um rosnado de prazer involuntario quando as longas unhas lhe arranharam ligeiramente os mamilos. A rapariga desabotoou o cinto e baixou o zíper da braguilha. -Deus -gemeu quando ela libertou o pênis ereto. Afundou as mãos na mata de cabelo loiro e retorceu com força os tufos entre seus dedos. Por cima observou aqueles lábios vermelhos deslizando-se de acima abaixo por seu órgão em ereção. Era uma boca ganaciosa, sem moderação, modéstia nem consciência; uma boca amoral à que nunca tinha negado nada e que nunca tinha sido disciplinada. Susurrou seu nome duas vezes. Ela levantou a cabeça e lhe suplicou: -Ama-me, Eddy, faz favor. Ele fez um esforço para se levantar e a levantou também. Suas bocas uniram-se em um beijo carnal. Enquanto as mãos de Fancy setrabalhava freneticamente para tirar-lhe a camisa, ele meteu a mão embaixo de seu vestido até chegar às bragas. A peça fina; desfez-se nas mãos. Ela gritou de surpresa e dor quando Eddy introduziu dois dedos no interior de seu corpo, mas cavalgou sobre eles com cruel prazer. Já tinha conseguido baixar suas
calças e cueca para baixo dos joelhos, e ele os baixou até os tornozelos, se desembaraou deles, levantou à garota e a sentou para cavalgar em seu colo. Juntos caíram sobre a cama. Levantou o vestido e afundou o rosto no delta de seu corpo enquanto ela tirava a apertada indumentaria. Dantes de que se tivesse desfeito por completo do vestido, Eddy começou a espremer os peitos, chupando, mordendo e belliscando os mamilos. Fancy retorceu-se sobre ele, exultante pelos acalorados jogos amorosos. Deslizou as unhas pelas costas e as fincou nas nádegas com suficiente força como pára sangrarem. Ouviu que amaldiçoava, que a insultava com palavras brutas. Quando subiu os joelhos, o salto do sapato rasgou a colcha, mas nenhum dos dois se deu conta nem também não lhes tivesse importado. Eddy separou por completo os musculos e introduziu-se nela com tanta força que golpeou a cabeça contra a cabeceira da cama. Tinha já o corpo suado quando ela o rodeou com as pernas e se uniu a suas frenéticas sacudidas. Os corpos chocaram uma e outra vez. O rosto de Eddy se contorceu em uma careta de êxtase. Arqueou as costas e juntou todas suas forças na última investida. Fancy experimentou um orgasmo simultaneamente. -Deus, que maravilha! -suspirou quando se separaram momentos depois. Foi a primeira em recuperar-se, incorporou-se e franziu o cenho ao ver a pegajosa umidade entre as pernas. Apartou-se da cama em busca da pequena bolsa que tinha trazido, sacou um pacote de camisinhas e os lançou. -Utiliza um a próxima vez. -Quem diz que terá uma próxima vez? Fancy, que sem nenhum pudor admirava seu corpo nu no espelho da cômoda, dirigiu um sorriso a seu reflexo. -Vou estar cheia de hematomas manhã. -Com orgulho, tocou-se os sinais dos dentes sobre seus peitos, como se fossem pequenos troféus-. Já sinto como me saem. -Não finjas que te molesta. Gostas que te castiguem. -Eu também não ouvi se queixar, senhor Paschal. Ainda com os sapatos de salto e com as pulseras postas, se dirigiu à mesa e inspecionou os restos da bandeja. Não ficava nada do sorvete, só um charco de espuma branca, coberta de molho de chocolate, e uma cereja flutuando sobre ela. -Merda -murmurou-. O sorvete derreteu. Desde a cama, Eddy jogou-se a rir. Avery acordou antes que Tate. O quarto estava em sombras. Ainda era muito cedo, mas sabia que não poderia voltar a dormir. Entrou no banheiro na pontas dos pés e tomou banho. Ele seguia dormindo quando saiu. Tomou a vasulha de gelo e a chave do quarto e saiu ao corredor de roupão. A Tate gostava de correr pela manhã, inclusive quando estava fora de casa, e, ao regressar, consumia litros de água gelada. Não era fácil de conseguir em um hotel. Ela tinha começado a deixar preparado para quando voltasse da corrida, suado e desidratado. Encheu o balde na máquina de gelo do final do corredor e regressava a sua
habitação quando se abriu outra porta. Fancy saiu e fechou discretamente a porta depois dela. Dirigiu aos elevadores, mas deteve-se em seco ao ver a sua tia. Avery ficou atónita quando viu o aspecto da garota. Levava o cabelo totalmente enredado; e maquiagem estava toda borrada; tinha os lábios mordidos e inchados; viam-se arranhões por todo o pescoço e pelo peito, e não se tinha ligado em dissimular nenhum. De fato, após recuperar-se da primeira impressão ao ver a Avery, apartou-se provocativamente o cabelo e sacou o peito para mostrar melhor suas feridas. -Bons, dias, tia Carole. Seu doce sorriso contrastava de um modo desagradável com o aspecto pervertido. Avery apoiou-se na parede do corredor, sem saber que dizer, e Fancy passou altivamente por adiante dela. Cheirava a suja e a utilizada. Avery estremeceu-se de asco. O elevador chegou quase imediatamente após que Fancy o chamasse. Dantes de entrar nele, dedicou a Avery um sorriso de satisfação acima de seu nu e machucado ombro. Durante vários segundos, Avery ficou olhando fixamente à porta fechada do elevador e, a seguir, olhou à habitação da que tinha saído Fancy, ainda que já sabia de quem era. Tate equivocava-se com respeito a seu melhor amigo; Eddy não era tão escrupuloso como ele cria. E também não tão pronto.
Capitulo Vinte e sete De Houston, a campanha continuou em Waco e de Waco, ao El Paso, onde Tate se tornou o indiscutível campeão entre os votantes hispânicos. Os Rutledge foram tratados como membros da realeza. No aeroporto, a Avery entregaram um enorme ramo de flores frescas. -Senhora Rutledge, como está? -perguntou em espanhol uma das pessoas que foram os receber, e ela contestou, também em espanhol: -Muito bem, obrigado. E você? Como se chama? Seu sorriso de cordial de boas-vindas desapareceu quando o homem se afastou e ela cruzou acidentalmente um olhar com Tate. -Quando você aprendeu a falar espanhol? Durante uns segundos, a Avery não ocorreu nenhuma mentira crível em nenhum idioma. Estudara espanhol na universidade e seguia tendo bons conhecimentos dele. Tate falava-o perfeitamente, de modo que a ela não tinha ocorrido pensar se Carole o conhecia também ou não. -Queria... Queria dar-te uma surpresa. -Pois estou surpreendido. -O voto hispânico é tão importante... -continuou, gaguejando ao tentar dar uma explicação-. Pensei que poderia ajudar se eu fosse capaz de trocar algumas frases, de maneira que tenho estudado a escondidas.
Por uma vez, Avery alegrou-se por estar rodeada de gente. Se não fosse assim, Tate quiçá tivesse pedido detalhes sobre onde e quando tinha adquirido seus conhecimentos de espanhol. Por sorte, ninguém mais ouviu a conversa. Tate era a única pessoa que podia confiar plenamente. Conviver com Jack, Eddy e os demais voluntários, enquanto viajavam de cidade em cidade, não tinha proporcionado nenhuma pista sobre quem pudesse ser o cúmplice de Carole. Formulava com todo cuidado qüestões que não revelavam nada. Em um tom cândido perguntou a Jack como tinha conseguido entrar na unidade de cuidados intensivos no dia que ela recuperou o conhecimento. Ele a tinha olhado surpreendido. -A que demônios te referes? -Não importa. Às vezes a seqüência dos acontecimentos segue estando confusa. Ou era inocente, ou um mentiroso experiente. Utilizou a mesma tática com Eddy. E ele contestou: -Eu não sou membro da família. O que eu estaria fazendo na unidade de cuidados intensivos? Ameaçar a vida de Tate, queria responder ela. Não podia dizer isso, de maneira que brincou algo a respeito da confusão e não prosseguiu com o tema, sem ter descoberto nada claro de nenhum dos dois. Não teve mais sorte à hora de descobrir um motivo. Inclusive quando Tate não estava de acordo com seus conselheiros e confidentes, como ocorria com freqüência, todos eles pareciam estar dedicados a ele e a seu sucesso na campanha. Em vez de contribuir com dinheiro à campanha eleitoral, um homem de negócios tinha-lhes prestado seu avião privado. Enquanto voavam de El Paso a Odessa, onde Tate devia falar a um grupo de petroleiros independentes, as pessoas chaves discutia algumas de suas diferenças. -Ao menos fale com eles, Tate -dizia Eddy, tentando ser persuasivo-. Não te fará nenhum dano saber o que pensam. -Não me cairão bem. Começava a ser freqüente a discussão a respeito de se contratar ou não estrategistas profissionais. Semanas antes, Eddy tinha sugerido contratar a uma empresa de relações públicas especializada em campanhas eleitorais. Tate opôsse com veemência à idéia e continuava igual. -Como sabes que não gostarás de suas idéias enquanto não fales com eles e saibas de que se trata? -perguntou Jack. -Se os votantes não são capazes de me eleger pelo que sou... -Os votantes, os votantes -repetiu-Eddy, troçando-se-. Os votantes não sabem ver a diferença entre um diamante e um cristal. Ademais, não querem o saber. São preguiçosos e apáticos. Querem que alguém lhes diga a quem têm que votar. Querem que lho metam em suas cabeças, para não ter de modo que tomar uma decisão. -Vejo que tens uma grande confiança no público norte-americano, Eddy. -Eu não sou o idealista, Tate. O és tu. -Graças a Deus que o sou. Prefiro ser isso que um cínico. Eu acho que a gente sim se preocupa -disse gritando-. Sim escutam os temas a debater. Respondem quando lhes fala diretamente. Quero que os votantes entendam os temas sem ter
que filtrar a linguagem e sem utilizar a fraseología de merda de um relacionista público. -De acordo, de acordo -contemporizou Eddy, movendo a mão no ar-. Já que o tema é um ponto difícil, deixemo-lo por agora e falemos dos hispânicos. -Que passa com eles? -A próxima vez que te dirijas a eles, não insistas tanto sobre sua integração em nossa sociedade. -Nossa? Nossa sociedade? -Agora estou falando como um votante anglo-saxão. -É importante que se integrem na sociedade norte-americana -replicou Tate, e não pela primeira vez-. É a única forma de impedir que a sociedade se distinga entre tua, nossa ou sua. Não tens escutado meus discursos? -Tens que sublinhar que mantenham seus próprios costumes. -Fiz-o. Disse-o. Ou não o disse? -inquiriu a seu ao redor. -Disse-o. Foi Avery quem interveio. Eddy ignorou-a. -Simplesmente, acho que é importante que a mensagem não seja que abandonem sua cultura em favor da anglo-americana. -Se vivem aqui, Eddy, convertem-se em cidadãos deste país, têm que assumir alguns de nossos costumes; principalmente, o idioma inglês. Eddy não se intimidou. -Verás, aos anglo-americanos não gostam de ouvir que sua sociedade vai ser invadida pelos hispânicos, da mesma forma que aos hispânicos não gostam de pensar que vão obrigá-los a aceitar os costumes deste país, incluído um idioma novo. Consegue primeiro que te elejam e te dedica depois ao assunto da integração, de acordo? E tenta não referir ao problema do tráfico de drogas que existe entre Texas e México. -Estou de acordo -apoiou Jack-. Quando for senador poderás fazer algo para remediá-lo. Que sentido tem falar agora do problema da droga? Isso dá pé a que a gente diga que és ou muito duro ou muito fraco. Tate jogou-se a rir, divertido e incrédulo, e abriu exageradamente os braços. -Estou-me apresentando ao Senado dos Estados Unidos, e supõe-se que não devo opinar sobre como resolver o problema do tráfico ilegal de drogas em meu próprio Estado. -Claro que deves ter uma opinião -replicou Jack, como se estivesse falando com um menino pequeno. -Simplesmente não mencione os planos que tens para pôr fim ao problema, a não ser que to perguntem -secundou Eddy-. Vamos agora com o assunto desta gente de Odessa. Consultou suas notas. A Eddy nunca faltavam as notas. Observando-o organizar os papéis, Avery estudou as mãos. Tinham sido aquelas mãos as que arranharam e amoratarão a Fancy, ou foi ela se refugiar nele após que outro vaqueiro lhe tivesse dado uma boa revisada? -Pelo amor de Deus, tenta chegar pontualmente a todas os compromissos. -Já te expliquei por que chegamos tarde ao discurso desta manhã. Carole esteve tentando chamar a papai e a mamãe e, finalmente encontrou-os em casa.
Queriam saber tudo o que estava ocorrendo, e depois os dois tivemos que falar com Mandy. Eddy e Jack olharam-na. Como sempre, sentiu sua crítica silenciosa, e isso que tinha feito todo o possível para não lhes causar nenhum inconveniente durante a viagem. A modo de vingança disse a Jack: -Dorothy Rae e Fancy mandam-te lembranças. -Muito bem, obrigado. Dirigiu uma mirada a Eddy ao mencionar o nome de Fancy. Ele a olhou por sua vez com dureza, mas voltou a prestar atenção a Tate. -Antes de que aterrissemos, te desfaz dessa gravata. -O que tem de errado com à gravata? -É uma ierda, isso é o que passa. Por uma vez, Avery estava de acordo com Eddy. A gravata de Tate não era precisamente a mais atraente que tinha visto em sua vida; de todos modos, a incomodava que Eddy dissesse as coisas com tão pouco tato. -Tem, te empresto a minha -sugeriu Jack; Desfazendo o nó da sua. -Não, a tua é pior -recusou Eddy, com sua franqueza habitual-. Põe-te a minha. -À merda os dois e à merda com a gravata! -enfadou-se Tate. Voltou-se a acomodar no elegante assento do avião-. Deixem-me em paz. Descansou a cabeça sobre o travesseiro e fechou os olhos. Avery aprovou a decisão, ainda que a ela fosse também deixada fora. Desde a noite de Houston, quando estiveram tão perto de fazer amor, Tate se tinha esforçado ainda mais por se manter distante. Aquilo não era sempre fácil, pois tinham que compartilhar o banheiro, já que não a cama. Faziam uns esforços ridículos para não se mostrar nus o um ante o outro. Nunca se tocavam e, quando se dirigiam a palavra, o faziam rapidamente pelo geral, como dois animais que compartilhavam a mesma jaula durante muito tempo. Rapidamente a tranqüila respiração de Tate pôde ouvir acima dos motores do avião. Era capaz de conciliar o sonho quase imediatamente, dormir só uns minutos e se acordar fresco e novo; uma habilidade que desenvolveu no Vietnã, segundo lhe tinha contado. A Avery gostava de observá-lo enquanto dormia e fazia-o com freqüência durante a noite, quando sua mente estava demasiado preocupada para cair na inconsciencia. -Faz algo. Eddy, inclinado sobre o estreito corredor do avião, sacou-a de seus sonhos. Ele e Jack a olhavam como inquisidores. -Sobre que? -Sobre Tate. -Que quereis que faça? Que comece a escolher suas gravatas? -Convença-o de que me deixe contratar à agência de relações públicas. -Não te parece que estás fazendo um trabalho adequado, Eddy? -perguntou-lhe em um tom frio. Com expressão hostil, Eddy acercou seu rosto. -Tu achas que eu sou impiedoso? Esses tipos não tolerariam nenhuma de tuas tolices.
-Que tolices? -Pois, por exemplo, filtrar os telefonemas de Tate. -Se referes-te a ontem à noite, ele já se encontrava dormindo quando chamaste. Precisava descansar. Estava esgotado. -Quando eu quero falar com ele, quero falar com ele nesse mesmo momento deixou sentado Eddy, agitando sua mão no ar-. Entendeste-o, Carole? E, quanto a esses profissionais... -Não quer os contratar. Pensa que criam uma imagem falsa e artificial, e eu também o penso. -Ninguém te pediu tua opinião -interveio Jack. -Quando eu tiver uma opinião a respeito da campanha de meu marido, a exporei claramente; e podeis ir ao inferno se não gostais. -Queres ser a esposa de um senador ou não? Decorreram uns momentos em silêncio enquanto tranqüilizavam-se. Eddy continuou, em tom conciliatório: -Faz o que faça falta para que a Tate lhe passe esse terrível mau humor, Carole. É auto-destrutivo. -As multidões não sabem que está de um péssimo humor. -Mas os voluntários sim. -Jack tem razão -apoiou-o Eddy-. Vários deles se deram conta e têm feito comentários. É desmoralizante. Querem a seu herói controlando o mundo e irradiando vontades de viver, não mau humor. Põe-lhe a boas com o mundo, Carole. Ao concluir a pequena charla, Eddy voltou a acomodar em seu assento e a repassar suas notas. Jack olhou-a com o cenho franzido. -Tu és a culpada de que esteja assim, e és a única que pode tirá-lo desta depressão. Não tentes nos fazer achar que não sabes como, porque todos te conhecemos já. O acalorado intercâmbio deixou a Avery frustrada e incapaz de fazer nada com respeito a uma má situação da que eles claramente a criam culpada. Foi um alívio aterrissar e sair do reduzido avião. Conseguiu dedicar um bom sorriso à multidão que tinha se reunido para lhes dar as boas-vindas. Mas o sorriso desapareceu quando viu a Van Lovejoy entre os membros da imprensa. Nesses dias aparecia nos mesmos lugares que Tate, e sua presença nunca deixava de pôr nervosa a Avery. Assim que foi possível retrocedeu uns passos, onde seria mais difícil que a tomassem as câmeras. Desde aquele ponto de olha, esquadrinhou a multidão, constantemente ao tanto por se via algum suspeito. O grupo estava principalmente composto pelos meios de comunicação, por seguidores de Rutledge e por alguns curiosos. Um homem alto e um pouco apartado do grupo atraiu sua atenção, só porque ele era familiar. Vestia um traje vaqueiro feito sob medida e um chapéu, e a princípio Avery pensou que era um dos petroleiros que Tate ia dirigir seu discurso. Não podia precisar onde ou quando o tinha visto, mas supôs que não devia de ir vestido do mesmo modo, pois teria lembrado do chapéu vaqueiro. De todos modos, o tinha visto recentemente, disso estava segura. No churrasco em Houston, quiçá? Antes que conseguisse localizar o lugar e o
momento, o homem desapareceu entre a multidão. Arrastaram a Avery até a limusine. A seu lado, a esposa do prefeito mostrava-se extraordinariamente efusiva. Tentou prestar atenção ao que dizia a mulher, mas sua mente estava distraída pelo homem de cabelo cinza que tão habilmente tinha desaparecido no momento em que se cruzaram seus olhares. Assim que a zona ficou despejada e viram sair o candidato ao Senado, seu séquito e os chacais dos meios de comunicação, o elegante vaqueiro saiu de uma cabine telefônica. Tate Rutledge constituía um alvo fácil de seguir pelo aeroporto. Ambos eram altos, mas, enquanto Tate queria que o vissem, o vaqueiro se orgulhava de sua habilidade para passar desapercibido entre a gente, permanecendo quase invisível. Apesar de ser um homem grande, movia-se com elegancia e desenvoltura. Seu porte infundía respeito a qualquer que se cruzava em seu caminho. No escritório de aluguel de carros, a empregada comportou-se com excepcional boa educação. Ele entregou o cartão de crédito. Utilizava um nome falso, mas a máquina aceitou o cartão. Agradeceu à empregada enquanto recolhia a chave do veículo. -Precisa um mapa da área, senhor? -Não, obrigado. Já sei onde vou. Levava sua roupa em uma mala, eficaz e ordenadamente disposta. O conteúdo não proporcionava nenhuma pista e todo era descartável; igualmente ao carro alugado, se fosse necessário. O aeroporto encontrava-se a meio caminho entre Midland e Odessa. Dirigiu-se para a cidade mais a oeste, seguindo a limusine que ocupava Rutledge a uma distância discreta e segura. Não devia se acercar demasiado. Estava quase seguro de que Carole Rutledge o tinha visto entre a multidão enquanto seu marido apertava as mãos dos seguidores locais. Era improvável que o tivesse reconhecido desde aquela distância, mas, em seu negócio, não se podia dar nada por sentado.
Capitulo Vinte e oito «Uma cama de casal.» -Não invejo às mulheres de Texas. Igualmente ao resto das mulheres de todos os Estados desta nação, que enfrentam sérios problemas; problemas que requer soluções imediatas, soluções quotidianas. Problemas tais como uma boa assistência infantil. Inclusive enquanto estava eloqüentemente crescendo em um almoço para mulheres de profissão liberal, Tate tinha sua mente posta naquela cama de casal da habitação do hotel Adolphus. Após aterrissar em Love Field, passaram uns minutos pelo hotel para refresca-se e chegar pontualmente ao almoço. O ocupado e apertado horário não tinha conseguido fazer desaparecer aquela idéia persistente: essa noite, compartilharia o leito com Carole. -Muitas companhias, algumas das quais me alegram em dizer que estão
localizadas aqui em Dallas, têm aberto creches para seus empregados. Mas estas companhias com visão e idéia inovadoras são ainda uma minoria. Quero que isto se resolva de alguma maneira. Durante os aplausos que seguiram, Tate ouvia em sua mente ao solícito recepcionista que dizia: «Alguma outra coisa, senhor Rutledge?» Naquele momento teria que ter contestado: Sim, preferiria uma habitação com camas separadas. Finalizaram os aplausos. Tate dissimulou sua prolongada pausa bebendo um gole de água. De relance viu a Carole observá-lo com curiosidade desde onde se encontrava sentada à cabeceira da mesa. Estava ainda mais tentadora que o rica sobremesa que tinha recusado após a comida. Também a recusaria a ela. -A igual trabalho, igual salário é um tema já muito repetido -continuou pelo microfone-. A população norte-americana está cansada de ouvir falar disso. Mas eu vou seguir insistindo até que quem se opõem mudem de idéia, até que desapareçam e sejam esquecidos. Os aplausos foram tocantes. Tate sorriu inocentemente e tentou não olhar a saia de uma mulher da primeira fila que estava lhe oferecendo uma visão espetacular. Enquanto estavam se arrumando a toda pressa, tinha visto acidentalmente a Carole pela entreabierta porta do banheiro; levava apenas com um sutiâ de cor pastel e calcinhas com ligas fazendo jogo. Tinha uma bunda excitante e cintura suaves. Achava-se inclinada para o espelho, para passar pó a cara. Teve uma ereção que durou enquanto se comia a verdura passada, uma duvidosa carne e as judias verdes frias. Limpou a garganta e prosseguiu: -Os crimes contra as mulheres preocupam-me enormemente. O número de violações vai aumentando a cada ano, mas o número de perpetradores que chegam a ser julgados é lamentavelmente baixo. A violência doméstica tem existido desde que existem as famílias. Por fortuna, este ultraje tem chegado finalmente a ser reconhecido pela sociedade. Isso é bom, ainda que se está fazendo o suficiente para mudar as coisas? O senhor Dekker sugere que a resposta são os conselheiros matrimoniales. Para chegar a uma solução final, sim, estou de acordo; mas admito que a ação policial é um primeiro passo necessário. São necessárias a separação legal da causa e garantir a segurança das vítimas, em geral mulheres e meninos. Então, e só então, deveriam entrar em jogo os conselheiros matrimoniais e a reconciliação. Quando se acabaram os aplausos, entrou nos parágrafos finais e fervorosos de seu discurso. Assim que terminasse o discurso, deviam ir a uma linha de montagem da Geral Motors no próximo povo de Arlington, para reunir com os trabalhadores à hora da mudança de turno. Depois, regressariam ao hotel, veriam as notícias da noite, leriam os jornais e se vestiriam para o jantar oficial em sua honra que ia ter lugar em Southfork. E, mais tarde, pela noite, regressariam àquela cama de casal. -Espero vossos votos em novembro. Muito obrigado. O público pôs-se em pé e Tate recebeu uma entusiasta ovação. Fez um sinal a Carole para que se unisse a ele no estrado. Ela se colocou a seu lado e Tate lhe passou o braço pela cintura, tal como se esperava dele. O que resultou inesperado foi a emoção que sentiu ao a ter tão perto, a sentindo tão feminina e
pequena a seu lado. Ela levantou ligeiramente a cabeça e lhe sorriu com o que parecia ser admiração e amor. Uma atriz endemoniadamente boa. Eddy demorou mais de meia hora em separá-los da entusiasmada multidão que não queria lhes deixar marchar. O forte calor de setembro envolveu-os como os lumes de um forno quando saíram da sala. -Jack tem um telefonema para mim aí dentro -lhes explicou Eddy enquanto os conduzia para o carro estacionado na calçada-. Algum problema com o desta noite. Nada sério. Nós iremos em seguida à linha de montagem. Se não sair agora mesmo não chegarás a tempo. Sabes onde está? Tate tirou o paletó e atirou-o ao assento traseiro do carro. -À saída da 1-30, não? -Exato. -Detalhou as instruções-: É impossível não o ver. Estará a tua direita. Olhou de relance a Carole-. Pedirei um táxi para que possas regressar ao hotel. -Vou com Tate. Passou por debaixo de seu braço e sentou-se no assento da o lado do motorista. -Creio... -Deixa-a, Eddy -cortou Tate-. Pode vir comigo. -Estará completamente fora de lugar. Não é exatamente um clube de damas. -Tate quer que vá e eu quero ir -argumentou ela. -De acordo -aceitou, mas Tate viu que não ficava nada contente-. Nos reuniremos contigo em seguida. Fechou a porta de Carole e marchou-se correndo. -Não perde oportunidade de me fazer sentir como um apêndice inútil, verdade? Surpreende-me que estivesse de acordo em que nos casássemos. -Não teve oportunidade de se opor. Não pudemos o localizar, não te lembras? -Claro que me lembro -disse enfadada-. Só queria dizer... Bah, não importa. Não quero falar de Eddy. -Já sei que não é um de teus personagens favoritos. Às vezes seu insistência pode converter-se em uma verdadeira bata. Mas poucas vezes falha-lhe o instinto. -Fio-me de seu instinto, ainda que não estou tão segura de me fiar dele. -Que tem feito para que não confies nele? Ela apartou a vista e olhou pela janela do carro. -Nada, suponho. Deus, que calor! Inclinou-se tudo o que permitia o cinto de segurança e se tirou a jaqueta do traje. Embaixo levava uma blusa de seda a jogo. E, embaixo, seus peitos enchiam o sutiâ de encaixe que Tate tinha visto quando olhou pela porta do banheiro. -Estiveste brilhante, Tate. Nem condescendente nem protetor. Isso elas não perdoariam. Tal como ficaram as coisas, estariam dispostos a comer em tua mão. -Olhou-o de relance-. Sobretudo, essa do vestido azul chifon da primeira fila. De que cor levava a calcinha? -Não levava. A brusca resposta desarmou-a por completo. Não a esperava. Desapareceu por completo seu sorriso de piada. Voltou a cabeça à frente e olhou fixamente ao parabrisas. Tate deu-se conta de que se sentia ferida. Bem, pois era justo, não? Se ele estava suportando essa dor na virilha a vários dias, por que ia ser o único que sofresse?
Tinha um diabinho sentado em seu ombro que lhe incitava a buscar que ela se sentisse tão mau como ele mesmo. -Evitei falar o tema do aborto. Deste-te conta? -Não. -Não sabia que dizer. Quiçá devia fazer você subir ao palco. Tu poderias nos ter dado uma opinião de primeira mão. Quando se voltou ao olhar sentiu os olhos cheios de lágrimas. -Já te disse que nunca tive um aborto. -Mas eu nunca saberei com certeza qual das duas vezes mentiu, não te parece? -Por que me tratas assim, Tate? Porque há uma cama de casal em nossa habitação e, antes de compartilhá-la contigo, tenho que recordar todas as razões pelas que te odeio. Isso o pensou, mas não o disse, por suposto. Atravessou a autopista a uma velocidade temeraria e, uma vez de novo em reta, aumentou ainda mais a velocidade. Se não fosse por sua rapidez de reflexos e por sua habilidade ao volante, teria passado a saída sem se dar conta. Uma delegação esperava-os à entrada da fábrica de automóveis. Tate estacionou a uma verdadeira distância, com o fim de dar tempo para se recompor antes de ter que voltar a se mostrar civilizado. Sentia-se com vontades de briga. Queria colarse. Não tinha vontade de sorrir nem de prometer que resolveria os problemas dos trabalhadores quando era incapaz de resolver seu próprio dilema matrimonial. Não queria nada de sua esposa, exceto essa parte em concreto; e desejava-a com todas e a cada uma das fibras masculinas de seu corpo. -Põe-te a jaqueta -ordenou-lhe, apesar de ele estar tirando a gravata e enrolando a manga da camisa. -Tinha intenção de fazê-lo -contestou em tom sereno. -Estupendo. Notam-se os mamilos através da blusa. Ou era isso o que pretendias? -Vai ao inferno -disse docemente, enquanto abria a porta do carro. Tinha que admitir: recuperou-se admiravelmente de seus perniciosos insultos e conversou inteligentemente com os dirigentes sindicais que foram a lhes dar as boas-vindas. Eddy e Jack chegaram mais ou menos quando mudava o turno e, pelos portões da fábrica, foram saindo trabalhadores. Os que começavam o turno apareciam pelo lado do estacionamento. Tate apertava a mão de todos os que podia. A cada vez que olhava a Carole, ela estava fazendo campanha com tanta diligência como ele. Escutava atenciosamente a todos os que falavam com ela. Tal como tinha predito Eddy, seu traje de seda amarela destoava entre aquela gente; seu cabelo escuro refletia os raios do sol como um espelho, e seu rosto imaculado não afastava à gente, senão que atraía às mulheres trabalhadoras ao igual que aos homens. Tate tentou encontrar algo que pudesse criticar, mas não se lhe ocorria nada; tomava mãos sujas entre as suas e dava-lhes um forte apertão, e seu sorriso não desaparecia nem um instante, apesar de que o grupo de homens era extrovertido e de que fazia um calor insuportável. E foi a primeira em chegar a seu lado quando algo o golpeou e o derrubou.
Capitulo Vinte e nove Foi por coincidência que Avery estava o olhando quando, de repente, viu que jogava a cabeça para atrás. E num reflexo, Tate levantou o braço até a frente e, seguidamente, desmoronou. -Não! Estavam separados por apenas alguns metros, mas a multidão era densa. Pareceu demorar horas em abrir passagem entre a gente. Estragou as meias e arranhou os joelhos quando se deixou cair junto a ele sobre o pavimento quente. -Tate! Tate! -O sangue saía-lhe de uma ferida que tinha a um lado da cabeçaChamem a um médico! Eddy! Jack! Que alguém faça algo! Está ferido! -Encontro-me bem. Fez um esforço para levantar-se. Se vacilou desnorteado, buscou um ponto de apoio, encontrou o braço de Avery e o puxou com força. Como Tate podia falar e tentava se levantar, ela estava segura de que a bala só lhe tinha roçado, sem penetrar no cérebro. Acomodou a cabeça sobre seu peito. O sangue correu quente e úmido pela parte dianteira de sua roupa, mas nem sequer deu-se conta. -Deus! Que tem ocorrido? -Eddy finalmente tinha conseguido abrir-se passagem a empurrões entre a gente até chegar a eles-. Tate? -Estou bem - falou. Pouco a pouco, Avery deixou de apertar-lhe a cabeça-. Dá-me um lenço. -Têm chamado a uma ambulancia. -Não faz falta. Algo me golpeou. -Olhou a seu ao redor, buscando entre um bosque de pés e pernas-. Isso - mostrou uma garrafa de cerveja rompida que tinha ali perto no pavimento. -Quem demônios a atirou? -Viste-o? Avery estava disposta a encarar em uma briga com o agressor. -Não, não vi nada. Dá-me um lenço -repetiu. Eddy tirou um do bolso. Avery tiroulho das mãos e colocou-o sobre a sangrante ferida, perto da raiz -. Obrigado. Agora me ajuda a me pôr em pé. -Não estou segura de que devas o tentar -lhe aconselhou. -Estou bem. -Sorriu debilmente-. Simplesmente ajuda-me a levantar a bunda, vale? -Poderia te dar uma surra por fazer piada em um momento como este. -Desculpe-me. Alguém se te tem adiantado. Enquanto ela e Eddy o ajudavam a se pôr em pé, Jack se acercou correndo, arquejante. -Alguns dos trabalhadores não gostam de tua política. A polícia deteve-os. Produziu-se um revota no extremo mais afastado do estacionamento. Cartazes anti Rutledge subiam e baixavam como se tivessem vida: «Rutledge é uma bichona», «Votar a um maldito liberal? Teria que ser um maldito louco!» e «Rutledge é uma droga comunista».
-Vamos-nos -decidiu Eddy. -Não. -Tate tinha os lábios tensos e alvos, como resultado da ira e a dor combinados-. Vim apertar mãos e a pedir votos, e isso é o que vou fazer. Não o vão impedir uns quantos porque atiram um par de garrafas. -Tate, Eddy tem razão. -Avery agarrou com força a seu braço-. Este é já um assunto para a polícia. Tinha passado por mil calvários enquanto apressava-se desesperadamente para chegar a ele. Pensava: já chrga, isto é o que queria evitar, e fracassou. O incidente recordou de imediato o vulnerável que era Tate. Que classe de proteção podia lhe oferecer ela? Se alguém tinha verdadeiras intenções de matá-lo, podia conseguir. Não tinha nem uma sozinha maldita coisa que ela nem ninguém pudesse fazer para o evitar. -Olá, sou Tate Rutledge, apresento-me ao Senado dos Estados Unidos.Teimosamente, Tate tinha-se voltado para o homem que estava mais cerca dele. O membro do sindicato contemplou a mão estendida de Tate e, a seguir, olhou com insegurança aos colegas que o rodeavam. Finalmente, aceitou a mão-. Me alegraria poder contar com seu voto em novembro -acrescentou Tate, dantes de continuar para o seguinte-. Olá, sou Tate Rutledge. Apesar de seus conselheiros, Tate abriu passagem entre a multidão, saudando com mão direita e colocando o lenço ensanguentado sobre a sua esquerda. Avery nunca o tinha amado tanto. E também não tinha passado nunca tanto medo por ele. -Que aspecto tenho? Tate pediu-lhe sua opinião só após consultar com incerteza seu semblante no espelho. Tinha permanecido no estacionamento da linha de montagem até que quem terminavam seu turno se foram a sua casa e aqueles que o começavam entraram à fábrica. Só então permitiu que o metessem no assento traseiro do carro e o levassem à sala de urgências mais próxima. Jack, que os seguia no segundo carro, se uniu a eles ali, onde um interno lhe pôs três pontos e lhe cobriu a ferida com um pequeno curativo branco e quadrado. Avery telefonou a Nelson e Zee desde a sala de urgências, sabendo que, se inteirariam do incidente pelas notícias, ficariam preocupados. Fizeram qüestão de falar com Tate, que fez bromas a respeito da ferida, ainda que Avery viu que aceitava agradecido o analgésico que lhe deu a enfermeira. Uma manada de jornalistas esperavam-nos no vestíbulo do Adolphus quando regressaram. Lançaram-se sobre eles em massa. -Assegura-te de que consigam fotos do vestido ensangrentado -lhe disse Eddy em um susurro. Por aquele comentário tão insenssível, ela bem tivesse sido capaz de lhe arrancar os olhos. -Filho de puta! -Só estou fazendo meu trabalho, Carole -agregou sem pestanejar-. Aproveito o melhor da cada situação, inclusive das más. Estava demasiado enfadada para replicar-lhe. Ademais, tinham múltiplas dificuldades para abrir passagem entre os microfones e as câmeras até chegar aos elevadores. Já na porta da habitação, se enfrentou a Jack e a Eddy, que estavam a ponto de entrar com eles.
-Tate vai se deitar um momento para deixar que faça efeito do remédio - disse, impedindo qualquer discussão-. Vou informar a recepção de que não passem nenhum telefonema. -Tem que fazer algum tipo de declaração. -Escreve-o tu. Reescreveria qualquer coisa que dissesse de todas formas. Agora bem, recorda o que tem dito quando vínhamos. Não tem intenção de fazer acusação alguma contra o homem que atirou a garrafa, ainda que detesta a violência e a considera uma forma ruim de se expressar. E também não culpa ao sindicato como grupo pelos atos de alguns de seus membros. Estou segura de que saberás desenvolver seu ponto de vista. -Vos recolherei aqui às sete e meia -indicou Eddy ao se marchar. Acima do ombro, acrescentou perentoriamente-: Em ponto. Tate dormiu um pouco e, depois, viu as notícias antes de levantar-se para banharse e vestir-se. Pôs-se de costas ao espelho do tocador, de cara a ela, separou as mãos do corpo e perguntou: -Tudo bom? Avery inclinou a cabeça e estudou-o detenidamente. -Muito donjuanesco. -O cabelo caía atraentemente acima da ferida-. A venda deu um toque de arrogância à seriedade do smoking. -Bom, isso está bem -murmurou, tocando levemente a venda-, porque dói um montão. Avery acercou-se a ele e o olhou preocupada. -Não temos por que ir. -A Eddy lhe daria algo. -E daí? Todos os demais o entenderiam. Se Michael Jackson pode anular um concerto por uma infecção de estômago, desiludindo a milhares de seguidores, tu podes anular um jantar e desiludir a um par de centenas. -Mas têm pago os seguidores de Michael Jackson duzentos dólares por cabeço? Ele pode se permitir esse luxo; eu não. -Ao menos toma-te outro comprimido. Negou com a cabeça. -Se vou, tenho que estar em pleno uso de minhas faculdades. -Deus, olha que és teimoso! Igual que quando te empenhaste em te ficar ali esta tarde. -Foi um vídeo estupendo nas notícias da noite. Olhou-o com o cenho franzido. -Agora falas como Eddy. Estás-te apresentando a um cargo público, não ao melhor alvo do ano para todo louco que tenha algo contra o sistema. Não deverias arriscar tua vida só porque proporciona uma boa gravação para as notícias das seis e das dez. -Escuta, a única razão que me impediu perseguir a esse filho de puta que me atirou a garrafa e lhe dar uma boa surra foi a de que me apresento às eleições. -Ah, isso é o que gosto. Um candidato que fala claro. Jogaram-se a rir juntos, mas ao cabo de uns momentos seus risos se calaram. Tate envolveu-a com uma cálida mirada. -Esse segue sendo meu vestido preferido. Estás lindíssima. -Obrigado.
Levava o vestido negro que já tinha elogiado anteriormente. -Eu..., bom, comportei-me como um imbecil esta tarde. -Disseste algumas coisas bastante impiedosas. -Já sei -admitiu, expulsando o ar dos pulmões-. Queria fazê-lo. Em parte porque... Ouviram-se uns golpes na porta. -As sete e meia -disse Eddy desde o outro lado. Tate pareceu enfadar-se. Avery, absolutamente frustrada, tomou sua bolsa com um gesto irritado e dirigiu-se à porta. Tinha os nervos a flor de pele e estava a ponto de ter um ataque. Teria gostado de poder gritar. E quase o fez quando uma das primeiras pessoas que viu entre a multidão em Southfork foi aquele homem no que se tinha fixado anteriormente no aeroporto de Midland/Odessa. O rancho, famoso pela série de televisão Dallas, achava-se completamente iluminado. Dado que aquela noite era especial, a casa estava aberta e os convidados podiam passear por ela a suas largas. O jantar em si ia ter lugar em um edifício adjacente, uma espécie de granero, que com freqüência se alugava para grandes festas. A participação resultou maior da esperada. Assim que chegaram informou-se de que a capacidade estava ao máximo. Muitos tinham oferecido mais de duzentos dólares para ter a oportunidade de ouvir falar a Tate. -Sem dúvida alguma se deve ao estupendo vídeo das notícias de hoje -se alegrou Eddy-. Todas as cadeias de televisão e as emissoras locais têm começado as notícias com este acontecimento. Dedicou a Avery um sorriso complacente. Ela deslizou o braço sob o cotovelo de Tate, como indicativo de que, em sua opinião, ele era mais importante que qualquer notícia, e inclusive que as eleições. Eddy limitou-se a sorrir ainda mais. A Avery caía-lhe pior a cada dia. Seu inapropiado flerte com Fancy era razão suficiente para desconfiar de sua honestidade de menino bom. Em mudança; Tate confiava plenamente nele. Por isso não lhe tinha contado que viu a Fancy sair da habitação de Eddy, nem sequer quando lhe proporcionou a oportunidade do fazer. Intuía uma atitude mais carinhosa por parte de Tate para ela, e não queria o jogar tudo a perder falando mau de seu melhor amigo. Tentou deixar a um lado o comentário de Eddy e todas as demais preocupações quando entrou com Tate naquele edifício cavernoso. Ele precisaria dela essa noite para lhe dar ânimos. A ferida seguramente estava-lhe molestando mais do que mostrava. Um entusiasta seguidor local acercou-se, a beijou na bochecha e deu um forte apeto de mãos a Tate. Foi quando jogou para atrás a cabeça, ao rir de um comentário, quando Avery viu ao homem alto e grisalho entre a multidão. Voltou a olhar, mas quase ao instante tinha-o perdido de vista. Devia de estar equivocada, o homem do aeroporto levava um traje vaqueiro e um chapéu Stetson, enquanto este ia vestido com um traje convencional. Seguramente tratava-se de uma pura coincidência. Enquanto tentava mostrar-se atenta com a gente que se acercava aos conhecer, continuou olhando entre a multidão, mas não voltou ao ver antes do jantar. Desde a mesa central resultava difícil esquadrinhar os lugares mais escuros da enorme sala. Apesar de ser um jantar oficial, tinha gente por todas partes e, com freqüência, os focos da televisão a cegavam.
Tate inclinou-se para ela e mostrou o prato, quase intocado. -Não tens fome? -Demasiada excitação. Em realidade, estava doente de preocupação e tinha considerado avisar a Tate do perigo que corria. A venda que levava na frente era uma desonestidade, e o seguinte quiçá não fosse uma garrafa de cerveja vazia, senão uma bala. E podia ser mortal. -Tate -perguntou dubitativamente-, tens visto a um homem alto e grisalho? Ele se jogou a rir. -Uns cinquenta. -Um em particular. Seu aspecto resultou-me familiar. -Quiçá pertença a um desses ocos da memória que não se abriram para ti ainda. -Sim, quiçá. -Ouve, encontras-te bem? Forçando um sorriso, acercou os lábios a sua orelha e susurrou: -A esposa do candidato tem que ir ao lavabo. Parece-te correto? -Mais correto que as possíveis conseqüências se não vai. Tate pôs-se em pé para ajudar-lhe a levantar-se. Ela se desculpou. Ao final do estrado, um camareiro ofereceu-lhe o braço e ajudou-a baixar os pequenos degraus. Da forma mais sutil possível, buscou ao homem grisalho entre a multidão enquanto abria passagem até a saída. Quando cruzou a ombreira se sentiu frustrada e aliviada. Estava quase segura de que era o mesmo homem que tinha visto no oeste de Texas. Por outra parte, teria dezenas de milhares de texanos altos e com o cabelo grisalho. Sentindo-se um pouco tonta por causa de sua paranoia, sorriu com pesar. Congelou-se-lhe o sorriso quando alguém se acercou a ela por detrás e susurrou amenazadoramente: -Olá, Avery...
Capitulo Trinta A meia-noite, o McDonald's da esquina de Commerce com Griffin, no centro de Dallas, parecia uma peixaria. Achava-se profusamente iluminado. Através das grandes janelas, todos os que se encontravam no interior eram tão claramente visíveis como atores no centro da cena. O caixa anotava o pedido de um sombrio solitário. Um bêbado dormia seu borrachera em um dos reservados. Dois adolescentes excitados aspergiam-se com molho de tomate. Sem fôlego, por causa do passeio desde o hotel, Avery acercou-se ao restaurante cautelosamente. Seu vestido de festa distinguia-a de todas as pessoas que estavam por ali. Era bastante temerario que uma mulher se passeasse por aquela zona a essa hora da noite. Desde a frente esquadrinhou o interior do iluminado restaurante. Ali viu-o, sentado só em um dos reservados. Felizmente, o reservado estava ao lado da janela.
Assim que mudou o semáforo, cruzou rapidamente a ampla avenida, e seus saltos fizeram um ruído metálico sobre o pavimento. -Vá, vá, mamaíta está muito linda! Um jovem negro mostrou obscenamente a língua. Com risos e golpes, seus dois amigos felicitaram-no. Na esquina, duas mulheres, uma com o cabelo de cor laranja e a outra com o cabelo da cor do vinho tinto, faziam-se a concorrência para atrair as atenções de um homem vestido com calças de couro. O jovem estava apoiado em um semáforo, com aspecto de aborrecido, até que Avery passou por seu lado. Jogou-lhe uma mirada faminta. A mulher de cabelo laranja deu-se a volta de imediato e, com as mãos muito bem plantadas na cintura, lhe advertiu a Avery: -Ouve, puta, mantém teu cu longe de sua cara ou mato-te! Avery ignorou-os a todos, seguiu caminhando, andou até chegar à altura do reservado e golpeou o vidro. Van Lovejoy levantou a vista de seu milkshake de chocolate, viu-a, sorriu e indicou-lhe o outro assento vazio do reservado. Avery, enfadada, negou veementemente, com a cabeça e, com gesto firme, mostrou a sujeia sob seus sapatos de cetim negro. Ele lho tomou com acalma. Ela aguardou impaciente a que Van atravessasse com parcimônia o restaurante, saísse pela porta e desse a volta à esquina; de maneira que, quando chegou até ela, sua ira era incontestável. -Que demônios estás fazendo, Van? -exigiu saber. Fingindo inocência, colocou suas longas mãos sobre o peito. -Era imprescindível que nos encontrássemos aqui, e a estas horas da noite? -Teria preferido que me apresentasse em tua habitação, nessa habitação que compartilhas com o marido de outra mulher? Durante o silêncio que seguiu, Van acendeu com naturalidade um baseado. Após dois chupadas, ofereceu-lho a Avery. Ela o apartou de um assalto. -Não podes te imaginar o perigo que me criaste por falar comigo esta noite. O apoiou-se na janela. -Sou todo ouvidos. -Van. -Desesperada, levou-se uma mão à cabeça e se massajeou as pálpebras- É difícil de explicar, especialmente aqui. -As mulheres da esquina trocavam obscenidades em voz alta, enquanto o homem de couro limpava as unhas com uma navalha-. Saí a escondidas do hotel. Se Tate descobre que me fui... -Sabe que não és sua mulher? -Não! E não deve se inteirar. -Porqué não? -Precisarei um momento para explicar-to. -Eu não tenho pressa. -Mas eu sim -gemeu, agarrando a seu delgado braço-. Van, não pode dizer a ninguém. Porias em perigo muitas vidas. -Sim, pudesse ocorrer que Rutledge se irritasse o suficiente para te matar. -Estou-me referindo à vida de Tate. Isto não é um jogo, confia em mim. Arriscamos muito. Estarás de acordo comigo quando tenha a oportunidade de te o explicar. Mas agora não posso. Tenho que voltar. -É toda uma atuação, Avery. Quando decidiste o fazer? -No hospital. Confundiram-me com Carole Rutledge. Fizeram-me a operação da
cara antes de que pudesse lhes dizer quem era. -E quando pudeste? Tentou desesperadamente encontrar uma forma expeditiva de explicar-lho. -Pergunta-lho a Irish -contestou finalmente. -Irish! -gruniu, e se esgasgou com a fumaça da maconha-. Esse astuto filho de puta. Ele o sabe? -Não até faz muito pouco. Tinha que contar a alguém. -Ou seja que por isso me embarcou nesta viagem. Perguntava-me por que andávamos seguindo a Rutledge como se fosse um membro da família real ou algo parecido. Irish queria que vigiasse a ti. -Suponho que sim. Não sabia que ia atribuir a ti esta tarefa. Fiquei gelada quando te vi em Houston. Bastante mau passei-o no dia que abri a porta do rancho e te encontrei ali. Reconheceste-me então? -No dia que saístes da clínica, me fixei em que as poses da senhora Rutledge adiante da câmera se pareciam muito às tuas. Era incrível a forma em que se molhava os lábios e como fazia esse gesto com a cabeça igual que tu. Após o dia da gravação no rancho fiquei quase convencido e, esta noite, estava completamente seguro, de modo que decidi fazer-te saber que conhecia teu pequeno segredo. -Oh, não! -Que? Acima do ombro de Van, Avery acabava de ver a um policial caminhando em sua direção. -Bem, que ocorre? -perguntou-lhe com enfado Tate a seu irmão. Jack fechou a porta da habitação do hotel e tirou-se a jaqueta. -Uma copo? -Não, obrigado. Que ocorre? Assim que entraram no vestíbulo do Adolphus, Jack tinha apanhado a Tate pelo cotovelo e susurrou que precisava falar com ele a sós. -Como, agora? -Sim, agora. A Tate não lhe apetecia manter uma conversa íntima com seu irmão aquela noite. A única pessoa com a que queria falar em privado era com sua esposa, que tinha estado se comportando de forma estranha desde que chegaram a Southfork. Até então tinha-se comportado estupendamente bem. Durante o jantar tinha-lhe feito menção de um homem de cabelo grisalho; alguém de seu passado, sem dúvida, que se teria apresentado inoportunamente no banquete. Fosse quem fosse, devia de ter-se encontrado com ela quando foi ao lavabo porque regressou pálida e com aspecto de se encontrar muito nervosa. O resto da noite esteve mais asustada que um gato. Várias vezes viu que se mordia nervosamente o lábio inferior. Seu sorriso era totalmente fingido. Não tinham tido ocasião de chegar ao fundo do assunto e queria o fazer o quanto antes. Mas, com o fim de manter a harmonia em sua equipe, decidiu ceder primeiro ante Jack. Enquanto esperavam ao elevador, voltou-se para ela e lhe disse: -Jack quer ver-me cinco minutos. -Olhou seriamente a seu irmão e continuou-: Não mais de cinco minutos.
-Agora? -tinha perguntado ela-. Nesse caso, voltarei ao vestíbulo e pedirei umas brochuras e, bom, papel de cartas do hotel para Mandy. Não demorarei. Nos veremos na habitação. Chegou o elevador e ela saiu pitando. Tate subiu com Jack e com Eddy, que se despediu deles e se foi a sua habitação, deixando sozinhos aos dois irmãos. Tate ficou à expectativa, e Jack sacou um envelope branco do bolso do smoking e o entregou. Levava seu nome escrito a mão. Deslizou o dedo índice baixo a solapa e abriu-o. Após ler a mensagem duas vezes, levantou a vista e olhou a seu irmão. -Quem te deu isto? Jack estava-se servindo um último copo de uma garrafa de conhaque. -Recordas à dama vestida de azul no almoço desta tarde? Na primeira fila. Tate mostrou a garrafa de conhaque com a barba. -Tenho mudado de opinião. -Jack serviu-lhe um copo. Tate sustentou a nota a uma verdadeira distância e voltou a releerla enquanto bebia-se de um gole o conteúdo do copo-. Por que te pediu a ti que mo entregues? -Suponho que pensou que não seria correto to dar ela mesma. -Correto? -debochou-se Tate, e voltou a olhar as atrevidas palavras da missiva. Então se quiser procurar uma diversão, Jack comentou: -Aventuro uma opinião sobre o conteúdo? -Tens acertado. -Posso oferecer-te uma sugestão? -Não. -Não te faria nenhum dano aceitar o convite. De fato, poderia ser proveitoso. -Tens esquecido que sou um homem casado? -Não. Também não tenho esquecido que teu casamento não vale um centavo, mas não me agradecerias os comentários a respeito de tua esposa e teu casamento. -Exatamente. Não os agradeceria. -Não te ponhas à defensiva, Tate. No fundo defendo teus interesses, já o sabes. Aproveita este convite. Não sei o que está ocorrendo entre Carole e tu. -Baixou uma pálpebra astutamente-. Mas sim sei o que não está ocorrendo. Não tens relações sexuais desde muito dantes do acidente. Não há homem neste mundo, nem sequer tu, que possa funcionar bem se que coloque o pênis para funcionar. -Falas por experiência? -Jack baixou a cabeça e concentrou-se no conteúdo de seu copo. Tate passou os dedos pelo cabelo, e fez uma careta ao atirar da ferida suturada da sien-. Sinto-o. Isso era desnecessário. Perdoa-me, Jack. Simplesmente é que me molesta que todo mundo se meta em meus assuntos. -Vai tudo no mesmo lote, irmãozinho. -Mas estou farto. -Não tem feito mais que começar. E a situação não mudará quando saias eleito. Tate apoiou as cintura na cômoda. -Não, suponho que não. Em silêncio, estudou o desenho do tapete. Ao cabo de uns momentos, um leve riso formou-se em seu peito e pouco a pouco começou a crescer. Jack não via o ponto humorístico da conversa. -Que passa?
-Não faz muito tempo, Eddy se ofereceu a me buscar uma mulher para libertar minhas frustraçõs. Onde estáveis os dois quando eu era jovem e solteiro e tivesse podido utilizar a um par de bons proxenetas? Jack sorriu irônico. -Suponho que o mereça. Só que tens estado tão nervoso ultimamente que pensei que uma relação inofensiva com uma tia quente e disposta te iria muito bem. -Seguramente me iria bem, mas não, obrigado. -Dirigiu-se para a porta-. E obrigado pelo copo também. -Com a mão no pomo perguntou, como se fosse um pensamento que se lhe acabava de ocorrer-: Tens falado com tua família recentemente? -Já que falamos de copos, não? -Simplesmente saiu-me assim -contestou Tate, com cara de envergonhado. -Não te preocupes. Sim, tenho falado com Dorothy Rae hoje. Diz que tudo vai bem. Acho que Fancy se leva algo entre mãos, mas ainda não sabe de que se trata. -Só Deus o sabe. -Quiçá Deus saiba-o. Mas com toda segurança ninguém mais. -Boas noites, Jack. -Ah, ouve. -Seu irmão girou-se-. Já que não estás interessado... -Tate seguiu-lhe a mirada até a nota que tinha ainda na mão. Jack encolheu-se de ombros-. Quiçá esteja disposta a conformar com o segundo da lista. Fez uma bola com o papel e atirou a seu irmão, que o pegou ao vôo com uma mão. -Boa sorte. Tate tinha tirado já a jaqueta, a gravata e a faixa quando abriu a porta de sua habitação. -Carole? Já sei que demorei mais de cinco minutos, mas... Carole? Não estava ali. Quando viu ao polícia, Avery apartou a cabeça. As lentejoulas que bordavam seu vestido pareciam resplandecer tanto como os arcos dourados do exterior do restaurante. -Pelo amor de Deus, apaga esse cigarro -instou-lhe a Van-. Pensará... -Esquece-o -interrompeu seu amigo, sorrindo aviesamente-. Se fosses uma puta, eu não poderia te pagar. Tirou com os dedos a brasa do baseado e meteu-o no bolso da camisa. Enquanto o polícia sei ocupava em parar os gritos da esquina, Avery indicou com a cabeça que deveriam dar a volta à esquina e se dirigir para o Adolphus. Com seu passo lento, Van caminhou a seu lado. -Van, preciso que me prometas que não revelará minha verdadeira identidade a ninguém. Uma noite da semana que vem, quando estejamos de novo em casa, prepararei uma hora com Irish e contigo. Ele quererá saber como foi a viagem. Te informarei de todos os detalhes então. -Quanto achas que pagaria Dekker por esta informação? Avery deteve-se bruscamente. Agarrou com força o braço de Van. -Não podes! Van, faz favor! Deus meu, não podes fazer isso! -Até que tu não me faças uma oferta melhor, sim que posso. -Apartou-lhe a mão e deu-se a volta-. Nos veremos, Avery. Encontravam-se já à altura do hotel, só que na acera de defronte. Avery correu por
trás dele e o agarrou de novo pelo braço, lhe obrigando a que se girasse. -Não sabes todo o que me arrisco, Van. Estou-to pedindo de joelhos, como um amigo. -Eu não tenho amigos. -Faz favor, não faças nada até que eu não tenha tido a ocasião de te explicar as circunstâncias. Ele voltou a libertar seu braço. -Mo pensarei. Mas será melhor que tuas explicações sejam boas, ou passarei ao bando contrário. Observou-o desaparecer pela acera. Parecia não ter nem uma só preocupação no mundo. O mundo dela, em contraste, se tinha derrubado. Van tinha todos os ases na mão, e o sabia. Sentindo-se como se lhe acabassem de dar uma surra, cruzou a rua para o hotel. Justo dantes de chegar ao outro lado, levantou a cabeça. Tate estava na entrada, olhando-a fixamente.
Capitulo Trinta e um Em seu rosto desenhava uma expressão assassina. Depois de uns passos titubeantes, Avery acercou-se a ele com o porte intrépido de um criminoso que sabe que foi pego com as mãos na massa, mas que não está disposto a confessar. -Aí está, senhor Rutledge -mostrou o porteiro, em um tom animado-. Já lhe disse que seguramente voltaria em qualquer momento. Em benefício do porteiro, Tate manteve também um tom despreocupado. -Estava começando a preocupar-me, Carole. Seus dedos envolveram-lhe o antebraço com a força de uma cobra. Escoltou-a através do vestíbulo. No elevador olharam-se cara a cara, sem dizer nada, enquanto a ira formava uma barreira entre ambos. Ele abriu a porta da habitação e deixou que ela entrasse primeiro. O ruído da lingueta soou metálico e determinante. Nenhum dos dois acendeu a luz. Não pensaram em isso. Toda a iluminação procedia de uma solitária luz no banheiro, que resplandecía por trás de uma falsa concha. -Onde demônios tens ido? -perguntou Tate sem preâmbulo algum. -Ao McDonald's da esquina. Recorda, não comi quase nada no banquete. Tinha fome. Enquanto estavas com Jack, pensei... -Quem era esse tipo? Ia fazer-se a tonta, mas pensou melhor. Era evidente que a tinha visto com Van, ainda que o reconhecesse. Enquanto deliberava se mentia ou contar a verdade, ele fez outra pergunta: -Era um traficante? Ficou boquiabierta por causa da surpresa. -Um traficante de drogas? -Já sei que em algumas ocasiões Fancy e tu tendes fumado erva. Espero de todo coração que isso seja o único que tens feito, mas a esposa de um candidato ao Senado não lhe compra erva na rua a um traficante desconhecido, Carole. Pelo
amor de Deus, poderia ter sido um polícia... -Era Van Lovejoy. -gritou enfadada. Obviamente o nome não lhe dizia nada. Olhou-a fixamente, sem expressão-. A câmera de KTEX. Foi ele quem gravou o vídeo para teu anúncio da televisão. Não te lembras? Apartou-o com a mão, passou por adiante dele, foi até a cômoda e começou a tirar as jóias, deixando cair as peças sobre a superfície com pouca consideração para sua delicadeza e valor. -Que fazias com ele? -Passeávamos -contestou em um tom frívolo, com a mirada no reflexo do espelho. À débil luz, Tate tinha um aspecto ameaçador. Avery negou-se a sentir-se intimidada-. Encontrei-o no MacDonald's. Ele e o jornalista da emissora estão alojados no Holiday Inn, me parece. -Começava a resultar-lhe mais fácil mentir. Estava tendo muitas oportunidades de praticar-. Em qualquer caso, me xingou por passear sozinha e fez qüestão de acompasarme ao hotel. -Um tipo inteligente, bem mais inteligente que tu. Em que demônios estavas pensando quando saístes sozinha a estas horas da noite? -Tinha fome -contestou, em um tom de voz mais alto. -Não se te ocorreu que tinha um serviço de habitações? -Precisava um pouco de ar. -Pois abre uma janela. -Que te importas a ti que saísse? Tu estava com Jack. Jack e Eddy. Laurel e Hardy. Zipi e Zape. -Inclinou a cabeça de um lado ao outro ao ritmo das palavras-. Se não é um o que tem algo urgente que discutir contigo, é o outro. Um dos dois sempre anda chamando à porta. -Não mudes de tema. Estamos falando de ti, não de Jack nem de Eddy. -Que passa comigo? -Que te pôs tão nervosa esta noite? -Não estava nervosa. Tentou voltar a passar por adiante dele, mas não a deixou. Fechou a passagem e segurou-a pelos ombros. -Algo te ocorre. Sei que passa alguma coisa. Que tens feito desta vez? Será melhor que me contes antes de que me inteire por terceiras pessoas. -Que te faz pensar que tenho feito algo? -Porque não me olhas aos olhos. -Estou-te evitando, sim. Mas só porque estou enfadada, e não porque tenha cometido o que tu pudesses considerar uma transgressão. -Esse era antes teu comportamento habitual, Carole. -Não me chames... Deteve-se justo a tempo. -Que não te chame que? -Nada. -Odiava ser chamada de Carole-. Não me chames mentirosa -retificou. Desafiante; jogou atrás a cabeça-. E, para que o saibas por mim e não por outras pessoas, Van Lovejoy estava se fumando um baseado. Inclusive ofereceu-me, e recusei-o. Agora, tenho sua aprovação, senhor senador? Tate balançava-se furiosamente de um lado a outro. -Não voltes a andar sozinha por aí. -Não me ponhas uma corrente.
-Não me importo o que faças, maldita seja -rugiu, lhe apertando com mais força os ombros-. Mas é perigoso que estejas sozinha. -Sozinha? -repetiu em tom despiadado e duro-. Sozinha? Nunca estamos sozinhos. -Estamos sozinhos agora. Caíram a um mesmo tempo na conta de que estavam o um adiante do outro. Os dois respiravam agitadamente. O sangue ardia-lhes e estavam de muito mau humor. Avery sentiu como chicoteavam seus nervos como cabos com corrente que se arrastassem por uma rua molhada. Ele a rodeou com os braços, juntando nas costas e aprisionando-a. O corpo de Avery perdeu toda seu rigidez, por causa do desejo. A seguir, num movimento uníssono, suas bocas juntaram-se em um ardente beijo. Ela lhe rodeou o pescoço com os braços e provocadoramente arqueou o corpo. As mãos de Tate deslizaram até sua traseiro e pressionou-a estreitamente contra ele. Ambos respiravam com força, e forte era o ruído que produzia o roçar de seus trajes de noite. Suas bocas retorciam-se uma contra outra; as línguas estavam demasiado ansiosas para finuras. Tate empurrou-a para a parede, que passou a jogar o papel de suas mãos, a mantendo firmemente unido a ele. Colocou os dedos em sua cabeça, para segurála enquanto dava-lhe um faminto beijo. Foi um beijo carnal, com um espírito oculto. Provocou em Avery umas faíscas atávicas que lhe resultaram tão excitantes como o foram as primeiras chamas para o homem primitivo. Transmitia esse mesmo calor, essa mesma promessa. Avery começou a desabotoar os botões da camisa; um a um foram aterrissando silenciosamente sobre o tapete. Abriu-lhe a camisa, deixando seu peito ao nu. Sua boca aberta dirigiu-se ao centro mesmo. Ele amaldiçoou de prazer, e tentou desabotoar o vestido por detrás. Seus dedos excitados fracassaram na tentativa. E rasgou o vestido. Espalharam em chuvas as esferas e as lantejoulas. Nenhum dos dois ficou consciente dos estragos. Tate lutou com o vestido até deslizar pelos ombros, plantou-lhe um fervente beijo na curva superior do peito e, a seguir, abriu o fecho do sutiã. A Avery entrou em pânico quando este se abriu. Se inteiraria por fim! Mas ele tinha os olhos fechados e seus sensores eram os lábios, não os olhos. Lhe beijou os peitos, e acariciou os mamilos com a língua enquanto os chupava. Ele precisava dela e ela queria que a precisasse, não podia lhe oferecer bastante. Tirou com força dos punhos da camisa, sem molestar-se em desenganchar os gêmeos. Com um movimento dos braços, Tate libertou-se das peças e, depois, deslizou as mãos baixo a saia do vestido, acariciou-lhe a cintura, chegou até o elástico da calcinha, abaixou-as e a palma de sua mão estava sobre ela, e os dedos dentro, e Avery gemia entrecortadamente, sons de desejo. -És minha esposa -disse-lhe com voz rouca-. Mereces algo melhor que transar contra a parede. Soltou-a e separou-se dela. Em poucos segundos tinha tirado os sapatos e as meias e deixou a calça em um montão sobre o tapete. Avery tirou o vestido, lançou os sapatos ao ar e foi rapidamente à cama. A camareira já tinha tirado o edredom. Retirou os chocolates de menta da almofada, meteu-se entre os lençóis, tirou em um a cinta liga preta de encaixe e acabava de
libertar seus pés das meias quando Tate se agarrou a ela. Entregou-se gostosamente a ele, se apertando contra seu desnudez peluda. Voltaram a unir suas bocas em um profundo beijo úmido. O sexo de Tate era suave e duro, e explorou a macieça de seu ventre, aninhado entre as escuras fronteiras. Ele lhe agarrou um peito, o levantou, o acariciou suavemente com o dedo polegar e lambeu o mamilo. Sem resistência alguma por parte dela, lhe separou as pernas. A físsura estava suave, sensível e cremosa. Ouviu que emitia vários gemidos entrecortados quando seus viris dedos brincaram sob ela. Pô-la de costas e conduziu sua forte ereção para a abertura úmida e oval. O corpo da mulher recebeu-o timidamente porque ele era muito grande e tinha uma forte ereção e ela era pequena e suave. Homem e mulher. Tal como devia ser. A potência dele ficou reduzida a debilidade; a vulnerabilidade dela se fortaleceu. Avery se maravilhou com a totalidade dessa posse; invasora, mas doce; sem contemplações, mas terna. Arqueou as costas e o pescoço, a modo de rendição total, e ele se adentrou mais, mais profundamente do que ela cria possível. Sobre ela, Tate tentou reter seu orgasmo, para alongar o prazer; mas isso era lhe pedir demasiado ao corpo, que tinha estado encarcerado por uma longa e auto imposta abstinência. Afundou-se nela umas poucas vezes mais e atingiu o clímax. A habitação estava tão silenciosa que podia ouvir o tic-tac do relógio de Tate ali, onde tinha a mão junto a sua cabeça, sobre a almofada. Não se atrevia ao olhar, e o tocar era singelamente uma remota possibilidade. Permaneceu ali, ouvindo que sua respiração voltando à normalidade. A exceção do movimento de seu peito, Tate estava imóvel. Isso tinha sido tudo. Ao final, deu a volta, dando-lhe as costas. Dobrou a almofada sob a bochecha e encolheu os joelhos até que lhe tocaram o peito. Doía-lhe tudo, mas era incapaz de especificar como, onde ou por que. Passaram vários minutos. Quando sentiu a caricia da mão sobre sua cintura, pensou que se devia a que o desejava tanto que lho estava imaginando. A mão posou-se na curva de sua cintura e pressionou com suficiente força como para fazer que se desse a volta. Olhou-o diretamente à cara, com os olhos bem abertos, inquisidores e cheios de receio. -Sempre tenho sido justo -susurrou ele. Com a palma da mão acariciou a bochecha e os lábios, que estavam irritados por causa da barba dele. Avery engoliu saliva ao notar suas caricias. Abriu os lábios, mas não podia dizer em voz alta o que sentia em seu coração. Tate baixou a cabeça e a beijou com macieza. Deteve-se e voltou a beijá-la com a mesma delicadeza. Sentia as bochechas muito quentes ao lado das dela. Atuando intuitivamente e presa de uma grande necessidade, Avery estendeu a mão e tocou-lhe a venda da frente. Carinhosamente, seus dedos estenderam-se entre seu cabelo. Desenhou com um dedo a fissura da barba. Deus, como queria a esse homem! Tate posou intencionadamente os lábios sobre os dela. Deslizou a língua por entre os lábios e, com maciez, eroticamente, fazer entrar e sair, fazendo amor nà boca.
Ela emitiu um pequeno susurro de desejo e ele respondeu a acercando mais, o suficientemente perto como pára que seu desinflado pênis encontrasse lugar na cálida umidade dentre suas pernas. Enquanto acariciava os peitos não deixou de beijá-la na boca, no pescoço e nos ombros. As caricias dos dedos fizeram que os mamilos se endurecessem. Os umedeceu com paixão e os chupou com decidida gula até que ela começou a se mover sob ele com inquietude. A beijou no estômago, no ondulado abdomen e no sensível espaço entre os ossos da pelvis. Avery, descontrolada pelo contato da boca de Tate sobre sua pele, afundou seus dedos no cabelo e agarrou-se com força. Entre os musculos estava absurdamente escorregadio, mas os dedos dele se afundaram nela sem intimidação. Descobriu entre os lábios a pequena e inchada protuberância de carne e pressionou-a, acariciou-a, a amassou suavemente entre os dedos. Ela pronunciou seu nome com um suspiro arquejante. Seu corpo se excitou. Pequenos tremores começaram a percorrê-la. Em um reflexo, subiu os joelhos. -Você me pôs duro outra vez. Mostrava em sua voz uma verdadeira surpresa. Sem pretendê-lo, tinha pronunciado em voz alta a causa de sua confusão. Não esperava precisar de novo tão cedo, nem precisar com a violência que o inundava. Sua entrada foi mais segura que a vez anterior, mas a tomou com mais tranqüilidade. Quando esteve totalmente dentro, colocou seu rosto sobre o pescoço dela e lhe mordeu suavemente a pele. O corpo de Avery respondeu de imediato; seus músculos internos se tensionaram, pressionando-o com força, e Tate, com um pequeno gemido, começou a mover as cintura para frente e para tráz. Ela se agarrou a ele. A cada um dos rítmicos embates a acercavam à luz que resplandecía ao final de um escuro túnel. Seus olhos piscaram repetidamente. Correu mais forte e mais depressa. E a luz explodiu ao seu ao redor com completa brilhantez e Avery sentiu-se consumida. Tate emitiu um longo e silencioso gemido. Todo seu corpo tensionou. Correu-se uma e outra vez, ardente e com fúria, até ficar completamente vazio. Não disse nada ao se separar dela. Deu a volta, colocando-se de costas, e cobriu seus susdos ombros com o lençol. Avery estava de cara à parede contrária, tentando manter em silêncio as lágrimas. Fisicamente tratava-se do melhor sexo imaginável, superando qualquer experiência com outros amantes, que tinham sido realmente poucas. As relações requeriam tempo, e ela sacrificava a maior parte do seu a sua carreira. A diferença óbvia que se produzia desta vez era o amor que sentia por seu casamento. Mas para Tate começou e terminou como uma libertação biológica. O excitou a ira, não o amor e nem sequer o afeto. Tinha conseguido que ela tivesse um orgasmo, mas como uma obrigação cumprida com consideração, nada mais. Os jogos amorosos tinham sido tecnicamente excelentes, mas imperssoais. Não se prolongaram até a saciedade, ainda que ela tivesse desejado explorar o corpo nu daquele homem, familiarizar seus olhos, mãos e boca à cada matiz. Não susurraram nem uma só palavra carinhosa, nenhuma promessa de amor. E ele nem sequer tinha pronunciado o nome dela.
Claro que nem sequer o sabia.
Capitulo Trinta e dois -Tate, preciso um minuto de teu tempo. Avery ultrapassou a porta previamente fechada, interrompendo a reunião que tinha lugar no grande salão do rancho. Jack, que estava falando quando ela fez seu perentoria entrada, ficou parado no meio deles, com a mão congelada em um gesto e a boca meio aberta. -Que ocorre? -perguntou Tate, aparentemente de um péssimo humor. Eddy franzia o cenho irritado; Jack amaldiçoou baixinho. O descontentamento de Nelson era igualmente óbvio, mas tentou ser cortês. -É algo urgente? Mandy? -Não, Nelson. Mandy está na creche. -É algo Zee que não possa te ajudar ? -Temo-me que não. Preciso falar em privado com Tate. -Estamos no meio de um assunto aqui, Carole -disse Tate muito irritado-. É importante? -Se não fosse importante, não vos teria interrompido. -Preferiria que esperasses até que terminássemos ou que te ocupasses do assunto tu mesma. Sentiu como se as bochechas ficassem vermelha de indignação. Desde que regressaram à casa fazia já em uns dias, Tate tinha feito todo o possível pela evitar. Para ela foi uma grande desilusão, ainda que não uma grande surpresa, quando viu que não voltava ao dormitório amarelo que ela ocupava. Em vez disso, voltou a dormir no estudo adjacente. O ato sexual daquela noite não os uniu, senão que, mais bem, acrescentou as distâncias. Ao dia seguinte quase nem olharam-se aos olhos. Falaram muito pouco entre eles. O ambiente era contido, como se algo infame tivesse ocorrido e nenhuma das duas partes quisesse o aceitar. Ela seguiu o exemplo de Tate e fingiu que nada tinha ocorrido naquela ampla cama, mas o esforço de se manter impassível a tinha convertido em uma pessoa irritável. Em só uma ocasião Tate teve certeza sobre, quando esperavam a que os entregadores recolhessem a bagagem. -Não utilizamos nada ontem à noite -comentou baixinho e tensa, enquanto observava o horizonte de Dallas. -Não tenho Aids -lhe replicou ela airadamente, desejando pinchar seu aparente e impenetrável altivez. Conseguiu-o, pois ele se deu a volta rapidamente. -Já o sei. Descobri isso enquanto estavas no hospital. -Por isso te pareceu que podias me tocar, porque estava livre de toda doença? -O que quero saber é se podes ficar grávida. Sombriamente, ela negou com a cabeça. -É a má época do mês. Podes estar tranqüilo. Esse foi o alcance da conversa no referente às relações amorosas, ainda que o termo amoroso elevava o ato a algo que não tinha sido exatamente, ao menos pára Tate. Sentia-se como uma mulher citada para uma sozinha noite, uma
prostituta que não cobrava. Qualquer corpo feminino e ardente tivesse-lhe satisfeito. Por enquanto estava saciado; não a precisaria durante algum tempo. Sentia-se ofendida por ver-se tratada como um objeto de usar e atirar. Utilizada uma vez -bom, duas vezes em realidade- e depois deixada a um lado. Quiçá a infidelidade de Carole estava justificada. Começava a perguntar-se se Tate se excitava com igual facilidade ante a grande idéia de converter-se em senador como lhe ocorria com o sexo. De fato, passava mais tempo tentando conseguir seus fins políticos que cultivando uma relação amorosa com sua esposa. -De acordo -aceitou de real humor-, me ocuparei eu disso. Fechou a porta do salão dando uma grande portada. Em menos de um minuto fechava com outro batida outra porta da casa; desta vez, a do dormitório de Fancy. A garota estava sentada sobre sua cama, pintando as unhas dos pés de uma cor vermelha fogo. Um cigarro acendido encontrava-se apoiado sobre o cinzeiro do criado-mudo. A condensação começava a concentrar-se na lata de refresco fria ao lado do cinzeiro. Levava fones de ouvido na cabeça e mastigava chiclete ao ritmo da música. Era impossível que tivesse ouvido a batida da porta acima da música de rock ácido que lhe inundava os ouvidos, mas deve ter sentido a vibração do impacto, porque levantou a vista e viu a Avery olhando fixamente e com um papel de chiclete na mão. Fancy deixou o pincel no frasco de esmalte e colocou os fones ao redor do pescoço. -Que droga fazes tu em meu quarto? -Vim recuperear o que me pertence. Sem acrescentar outra coisa, dirigiu-se ao armário e correu um dos armários do closet. -Espera um momento, eh! Fancy lançou os fones a cama e levantou-se de um salto. -Isto é meu -disse Avery, dando um puxão a uma blusa que pendurava de uma percha-. E esta saia. E isto. Retirou um cinto de um cabide. Como não encontrou nada mais no armário, cruzou a habitação até o tocador, que estava coberto de papéis de caramelos, chicles, garrafas de perfume e maquiagem suficiente para abastecer uma loja de cosméticos. Levantou a tampa de um porta-jóias fechado e começou a examinar os brincos, pulseiras, colares e anéis. Localizou os brincos de prata que não encontrou em Houston, uma pulseira e o relógio. Era um relógio de pulseira barato -bijutería, na realidade-, mas Tate o tinha comprado. Não foi um presente em sério; estavam passeando por uns grandes armazens, durante um descanso na viagem da campanha eleitoral, quando ela viu o relógio e comentou o atraente que resultava a correia verde de jacaré, e Tate passou o cartão de crédito à desconcertada vendedora. Tinha carinho porque ele o comprou para ela, e não a Carole. Tinha-o sentido falta de seu porta-jóia pela manhã, e isso a empurrou a interromper a reunião em busca de Tate. Já que ele não tinha querido a aconselhar em como se ocupar da cleptomanía de Fancy, decidiu tomar o assunto em suas mãos.
-És uma péssima ladra, Fancy. -Não sei como chegaram tuas coisas até minha habitação -contestou em um tom arrogante. -Mentes ainda pior. -Mona seguramente... -Fancy! Faz semanas que entras a escondidas em meu quarto a roubar. Sei-o. Não insultes a minha inteligência o negando. Deixas pistas inconfundíveis. Fancy baixou a vista e viu o incriminatório papel de chicle sobre a cama. -Vais contar-lhe o a tio Tate? -É isso o que queres que faça? -Como, pois não! -Voltou a deixar-se cair sobre a cama e começou a agitar vigorosamente o frasco de esmalte-. Faça o que quiser. Mas que não seja em neu quarto. Avery estava saindo do dormitório, mas pensou-o melhor. Deu-se a volta, acercouse à cama e sentou-se. Pegou os brincos de prata, colocou-os na mão de Fancy e fechou-lhe os dedos. -Por que não ficas com estes? Eu teria te emprestado se você tivesse pedido. Fancy lançou os brincos o mais longe possível. -Não preciso tua maldita caridade! -Seus belos olhos azuis se embruteceram pelo ódio-. Quem drogas és tu para me oferecer tuas lamentáveis sobras? Não quero os brincos nem nenhuma outra coisa tua! Avery agüentou o ataque verbal. -Eu acredito. Não são os brincos nem nada de tudo isto que você quer -disse, mostrando os pertences que tinha recolhido-. O que querias era que te descobrissem. Fancy riu-se. -Tens ficado muito tempo ao sol, tia Carole. Não sabes que o sol é mau para tua cara de plástico? Pode ser que derreta. -Não podes me insultar -contestou com tranqüilidade-. Não tens força, porque conheço tua intenção. Fancy olhou-a de mal humor. -Que queres dizer? -Querias minha atenção e conseguiste-a roubando. Igual que consegues a atenção de teus pais fazendo coisas que sabes que a eles não vão gostar. -Como transando com Eddy? -Como transando com Eddy. Fancy ficou assoberbada pelo tranqüilo eco que fazia Avery de sua ousada pergunta. Mas cedo recuperou-se. -Aposto algo que quase te cagaste em cima quando me viste sair da habitação de seu hotel. Não sabias nem que estava cerca de Houston, verdade? -É demasiado velho para ti, Fancy. -A nós não no-lo parece. -Convidou-te ele a que fosses a Houston? . -Quiçá sim, quiçá não. -Soprou as unhas dos pés e retorceu a seguir os dedos para admirar seu trabalho. Abandonou de um salto a cama, acercou-se da gaveta e tirou um biquini. Ao tirar a camisola, seu corpo apareceu cheio de hematomas e arranhões. Suas bonitas nádegas estavam cobertas de nódoas negras. Avery
fechou os olhos, invadida pelas náuseas-. Nunca em minha vida tenho tido um amante como Eddy -acrescentou em um tom sonhador enquanto colocava a parte de abaixo do biquini. -Ah, sim? E daí tipo de amante é? -Não o sabes? -Avery não disse nada, pois não sabia se Carole se tinha ido à cama com o melhor amigo de seu marido-. É o melhor. -Abriu o sutiã, inclinou-se sobre o espelho, escolheu um batom do tocador e cobriu-se com ele os lábios-. Estás zelosa? -Não. Olharam-se aos olhos pelo espelho. A mirada de Fancy era cética. -Segue dormindo ainda no estudo o tio Tate? -Isso não é assunto teu. -Eu não me importo -admitiu com um sorriso maliciosa enquanto- tu não tentes to fazer com Eddy. -Falas com muito sentido da propriedade. -Não se está deitando com ninguém mais. Dobrou-se pela cintura, fazendo que seu cabelo caísse para diante, e começou a passar um pente por seus loiros e grossos cabelos. -Estás segura disso? -Estou segura. Não lhe deixo a energia suficiente para que me seja infiel. -Fala-me dele. Fancy apartou-se o cabelo a um lado e olhou furtivamente a Avery desde sua postura investida. -Já o entendo. Não estás zelosa, só curiosa. -Talves. De que falais tu e Eddy? -O que você fala com o tio quando não estão transando? -Jogou-se a rir em voz alta- Por verdadeiro, não terias um pouco de erva? -Não. -Suponho que é verdade -disse, suspirando de asco enquanto voltava a se incorporar-. O tio Tate ficou louco quando nos pegou fumando aquela vez. Não sei que teria dito se nos tivesse encontrado compartilhando àquele vaqueiro. Avery empalideceu e apartou a vista. -Eu... já não faço esse tipo de coisas, Fancy. -Não traí mais. Para valer? Parecia estar verdadeiramente interessada. -Para valer. Fancy apoiou as mãos sobre a cintura e observou a Avery com olhar de estranheza. -Sabes? A princípio, quando voltou do hospital, pensei que estivesse fingindo. Converteu-se de repente em uma beata. Mas agora acho que tens mudado realmente após o acidente de avião. Que tem ocorrido? Tens medo de morrer e ir ao inferno, ou que? Avery mudou de tema. -Seguro que Eddy te explicou algo sobre si mesmo. Onde se criou? Que há de sua família? -Você saber onde ele viveu do mesmo jeito que eu, em algum longínquo povo de Panhandle. Não tinha família, não o recordas? A exceção de uma avó que morreu
quando ele e o tio Tate ainda estavam na universidade em Texas. -Que fazia antes de vir a trabalhar para Tate? Fancy já se tinha impacientado com as perguntas. -Olha, nós trnasamos, vale? Não falamos. Quero dizer que é uma pessoa muito reservada. -Por exemplo? -Não gosta que escute das coisas. Uma noite, estava buscando em suas gavetas uma camisa para pôr-me e enfadou-se muitíssimo, disse que nunca mais me metesse em seus assuntos, de maneira que não o faço. Não pesquiso, ponto. Todos precisamos de intimidade, não acredita? -Não tem mencionado nunca que fez após voltar do Vietnã e até que regressou aqui a Texas? -A única coisa que perguntei foi se tinha casado alguma vez. Disse-me que não, que tinha passado muito tempo encontrando a si mesmo. Perguntei-lhe: «Estavas perdido?» Eu disse de brincadeira, mas ele fez um olhar estranho e contestou algo bem como «sim, durante um tempo o estive». -Que achas que queria dizer com isso? -Oh, suponho que voltou um pouco louco após a guerra -respondeu Fancy com total despreocupação. -Por que? -Seguramente porque o tio Tate salvou sua vida durante o acidente de avião. Imagino que Eddy recorda uma e outra vez para se livrar do lixo, de se sentir ferido e ao tio Tate o levando na costas pela selva até que um helicóptero pôde os resgatar. Se alguma vez viste-o nu, seguro que te fixaste na cicatriz que tem nas costas. É bastante horrível, verdade? Devia de estar cagado de medo se os guerrilheiros o fizesse prisioneiros. Eddy suplicou ao tio Tate que lhe deixasse morrer, já o sabes, mas o tio não fez caso. -Suponho que nunca pensou que o fosse abandonar. -Bom, já conheces o lema dos pilotos: Melhor morrido que com mau aspecto. Eddy teve que tomar mais a peito que outros. O tio Tate foi o herói, e Eddy só outro ferido mais. TEnho certeza que isso ainda dá voltas na sua cabeça. -Como sabes tudo isto, Fancy? -Estás de brincadeira? Não os tens ouvido contar ao avô milhares de vezes? -Ah, claro, por suposto. Só que tu pareces conhecer todos os pequenos detalhes. -Não mais que tu. Olha, vou-me à piscina, importa-te? Com pouca hospitalidade, dirigiu-se à porta e abriu-a. Avery reuniu-se com ela. -Fancy, a próxima vez que queiras usar algo meu, o pede. -A garota pôs os olhos em alvo, mas Avery fez caso omisso de sua insolência. Tocou-lhe levemente as costas e acrescentou-: E tem cuidado. -Com que? -Com Eddy. -Disse-me que tivesse cuidado contigo. A habitação do motel era barata e estava empoeirada e úmida. Mas, enquanto dava uma mordida a um pedaço de frango frito, não parecia que Fancy se fixasse nisso nem que se importasse um pouco. Nas últimas semanas tinha-se acostumado aos meios decrépitos. Tivesse preferido manter seus encontros com Eddy em um hotel mais elegante,
mas o Sidewinder estava situado na estrada nacional entre a sede da campanha e o rancho, de maneira que era um lugar adequado para reunir-se antes de regressar a casa. O motel vivia dos amores ilícitos, e as habitações alugavam-se por horas. O serviço era discreto, ainda que por indiferença, não por solidariedade. Como essa noite tinham passado a hora do jantar trabalhando, Fancy e Eddy compartilhavam seu tempo juntos com uma garrafa do melhor Colonel Sanders. Estavam sentados nus entre os lençóis desarrumados, comendo frango frito e falando de Carole Rutledge. -Cuidado comigo? Por que? -Disse que não deveria envolver com um homem que é muito mais velho que eu contestou Fancy, lhe dando uma mordida a um pedaço de carne-. Mas não me parece que essa seja a verdadeira razão. Eddy escolheu uma asa de frango. -Qual é a verdadeira razão? -A verdadeira razão é que a ela está fingindo. Verás, quer fazer o papel de boa esposa de tio Tate, se ele ganhar as eleições e irá a Washington; mas, se não a vontade, quererá ter a alguém por trás do palco a esperando. Ainda finge que não é assim, sei que a tia Carole se morre por teu corpo. Juguetonamente golpeou-lhe o peito com uma pata de frango. Eddy não respondeu. Olhava distraído a seu ao redor, com o cenho franzido. -Sigo pensando que seria melhor que não soubesse nada de nós. -Não voltemos a brigar por este assunto, de acordo? Não pude o evitar. Saí de teu quarto e ali estava ela, segurando aquele estúpide balde como se acabasse de engolir a língua. -Ela contou a Tate? -Duvido-o. -Um pedaço de coxa dourada caiu-lhe sobre o estômago nu. Limpou ponta do dedo, recolheu as migalhs e pôs-lhas na boca-. Te direi outra coisa acrescentou em um susurro misterioso-. Acho que ainda não está do todo bem da cabeça. -Que queres dizer? -Faz as perguntas mais estúpidas. -Como por exemplo? -Ontem mencionei uma coisa que ela deveria recordar claramente, inclusive após ter perdido o conhecimento. -Que disseste? -Bom. -Fancy pôs-se a falar em um tom cansino, e passando a quase terminada pata de frango pelos lábios-. Outro rancho ia comprar uns cavalos ao avô. Quando veio o vaqueiro aos ver, não tinha ninguém em casa. Eu o levei aos estábulos. Era muito bonito. -Já me faço uma ideia -comentou Eddy, divertido-. Que tem que ver Carole com tudo isto? -Descobriu-nos transando como coelhos em um dos estábulos. Pensei que estava encrencada, porque isto ocorreu faz um par de anos e eu tinha só dezessete anos. Mas Carole e o vaqueiro ligaram de imediato. Já sabes, pim, pam, pum, e o seguinte que vi foi que estava tão nua como nós duas e chafurdando na palha conosco. -Se abanicó a cara dramaticamente-. Deus, foi fantástico! Que tarde! Mas ontem, quando mencionei, pôs cara de estar a ponto de vomitar ou algo
assim. Queres um pouco mais de frango? -Não, obrigado. -Fancy atirou sua pata de frango na tampa e pegou o último pedaço que ficava. Eddy rodeou o tornozelo com seus fortes dedos-. Não terás contado nenhum de meus segredos, verdade? Ela se jogou a rir e lhe deu um golpe no traseiro com o pé nu. -Não sei quais são teus segredos. -Então, de que falastes ao vos referir a mim? -Só lhe disse que és o melhor amante que tenho tido. -Inclinou-se adiante e deulhe um beijo grasiento nos lábios-. E o és, já o sabes. Tens um pênis de ferro. E há algo em ti que me é muito excitante, perigoso quase. A ele lhe fez graça. -Acaba-te o frango. É hora de que voltes a casa. Desobediente, rodeou-lhe o pescoço com os braços e o beijou lentamente. Não apartou os lábios quando susurrou: -Nunca o tinha feito no cú. -Já o sei. Ela apartou a cabeça bruscamente. -Não o fiz bem? -Fizeste-o perfeitamente. Mas dei-me conta de que te surpreendeu ao princípio. -Encantam-me as surpresas. Eddy segurou sua cabeça e deu um ardente beijo. Juntos caíram sobre as fedidas almofadas. -A próxima vez que tua tia Carole fizer perguntas sobre mim -disse ele arquejando enquanto colocava um preservativo-, diga que se ocupe de seus malditos assuntos. E penetrou-a. -Sim, Eddy, sim -amaldiçoou Fancy, golpeando-lhe as costas com a pata de frango que ainda tinha na mão.
Capitulo Trinta e três -Que demônios -comentou Van Lovejoy com resignação. Deu a última calada a um cigarro que tinha apressado até chegar a seus dedos manchados de nicotina-. Uma chantagem não me sairia melhor que qualquer outra coisa que faço. Tivesseme saído mau. -Você a ameaçou de fazer chantagem? -Irish olhou à câmera com desdém-. Esqueceu de contar-me este pequeno detalhe quando me falaste de teu encontro com Avery. -Acalma-se, Irish. -Avery posou uma mão tranquilizadora sobre o braço do velho. Com um ligeiro sorriso, acrescentou-: Van estava enfadado conosco porque não tínhamos contado o segredo. -Não faça piada. Este segredo está-me produzindo uma indigestão crônica.
Irish levantou-se do sofá em busca de outro gole de whisky, que se serviu de uma garrafa situada em cima da mesa da cozinha. -Traz-me um desses -pediu Van. A seguir, dirigindo-se a Avery, disse-: Irish tem razão. Estás metida em um aperto gigante e nem sequer dás-te conta. -Sim, eu me dou conta. -Tens apoio? Negou com a cabeça. -Não. -Deus, Avery, estás louca? Por que tens feito uma coisa tão estúpida? -Quer contar você, ou o faço eu? -perguntou ela a Irish quando este voltou a sentar a seu lado no sofá. -A festa é tua, pode contar. Enquanto Van e Irish bebiam-se seus whiskys, Avery voltou a contar sua incrível história. Van escutava-a, incrédulo, olhando freqüentemente a Irish, que ia verificando todo o que ela dizia com um movimento sombrio de seu cabeleira cinza. -Rutledge não tem nem ideia? -perguntou Van quando já esteve totalmente informado. -Não. Pelo menos que eu saiba. -Quem é o traidor? -Não o sei ainda. -Tens tido mais notícias suas? -Sim. Ontem recebi outro comunicado escrito a máquina. -Que dizia? -Quase o mesmo que dantes -contestou evasivamente, incapaz de olhar diretamente aos astutos olhos azuis de Irish. A sucinta nota, colocada na gaveta de sua roupa interior, dizia: «Deitaste-te com ele. Bom trabalho. Está desarmado.» Repugnava-lhe pensar naquele desconhecido vangloriando-se do ocorrido no Adolphus. Teria comentado Tate suas relações sexuais com o confidente traidor? Ou é que estava tão perto de Tate que via sua mudança de humor, se atrevendo a adivinhar a razão? Supôs que deveria se alegrar de que pensasse que era uma armadilha e não se tivesse dado conta de que se tratava de um ato de amor. -Seja quem seja -disse-lhes a seus amigos- ainda tem intenção de seguir adiante com o plano. -Pôs-se a carne de gallina-. Mas não acho que seja ele pessoalmente quem vá levar a cabo o assassinato. -Era quase impossível pronunciar a palavra em voz alta-. Acho que contratou alguém para que o faça. Tens trazido as fitas que te pedi? Van mostrou com a cabeça o extremo da mesa, onde tinha empilhado várias fitas de vídeo uns minutos dantes da chegada de Avery. -Irish passou-me a nota que mandou pela caixa de correios. -Obrigado, Van. -Abandonou seu lugar no sofá, recolheu as fitas e dirigiu-se a onde estavam o vídeo e o televisor de Irish. Introduziu uma das fitas e regressou com o comando a distância ao sofá-: Isto é tudo o que gravou durante nossa viagem? -Sim. Desde vossa chegada a Houston até que regressastes a casa. Se é que vamos ver filmes caseiros sem editar, preciso outro copo.
-A próxima vez, traz-te tua própria garrafa -murmurou Irish enquanto Van dirigia-se à cozinha. -Que te foda, McCabe. Sem se ofender em absoluto, Irish inclinou-se para diante apoiando os cotovelos sobre os joelhos. Na tela do televisor via-se a Tate saindo de um avião. Avery e Mandy estavam a seu lado. O resto do séquito ficava em um segundo plano. -Estás com a menina, mas onde andam os pais de Tate? -perguntou Van quando voltava com outro copo. -Foram de carro. Zee nega-se a voar. -Tem graça, sendo a mulher de um piloto. -Não tanta. Nelson pilotava bombardeiros na Coréia enquanto ela estava em casa cuidando ao bebê Jack. Depois Nelson foi piloto de provas. Estou segura de que ela temia ficar viúva. E o melhor amigo de seu marido, que se chamava precisamente Tate, se perdeu no oceano quando caiu com seu avião. -Como te inteiraste de todo isso? -Fui ao escritório de Tate, quando sabia que não estaria, com a desculpa de voltar a emoldurar todas as fotos. Falando com sua secretária sondei quem eram as pessoas das fotos. Espera! Pára! Deu-se conta de que o controle remoto estava com ela, deteve a fita, retrocedeu e voltou à passar. Em voz muito baixa e cheia de temor comentou: -Também estava no aeroporto quando chegamos a Houston. -Quem? -perguntaram Irish e Van ao uníssono. Avery voltou a rebobinar a fita. -Isto segue sendo o aeroporto de Hobby, verdade, Vão? -Assim é. -Aí! Veis aquele homem alto e com o cabelo cinza? -O do pólo amarelo? -Sim. -Onde? Não o vejo -se queixou Irish. -Que passa com ele? -perguntou Van. Avery rebobinou a fita outra vez. -Pode-se congelar a imagem neste aparelho? -Droga, pois claro! -Irish arrebatou-lhe o comando das mãos-. Diga-me quando. Eu não tenho visto nem um maldito... -Já! Apertou o botão e a imagem congelou-se na tela. Avery ajoelhou-se adiante do televisor e mostrou o homem a Irish. Achava-se em um segundo plano, na periferia dos ali congregados. De repente Avery caiu na conta: -Estava em nosso hotel. Saíamos correndo para uma reuinião e reteve-nos o elevador. Por isso se tinha fixado nele em Midland. Acabava-o de ver em Houston, ainda que naquele momento não relacionou àquele homem suado, que saía do ginásio do hotel, com o que vestia um traje texano. -E? -Estava também em Midland, no aeroporto quando aterrissamos. E vi-o depois, em Dallas, no jantar para arrecadar fundos que se celebrou em Southfork. Van e Irish trocaram olhadas de preocupação.
-Coincidência? -Para valer crie-lo? -exclamou Avery, enfadada. -De acordo, um leal seguidor de Rutledge. -Acabava de convencer-me a mim mesma disso, mas tenho estado passando pela sede da campanha quase a cada dia desde que voltámos, e não o vi entre os voluntários. Ademais, nunca se acercou a nós durante a viagem. Sempre ficava em um segundo plano. -Estás correndo muito, Avery. -Não me digas. -Resultava quiçá o tom de voz mais duro que jamais tinha utilizado com Irish. Surpreendeu-os a ambos, mas o suavizou um pouco quando acrescentou- Já sei o que estás pensando, e te equivocas. -Que estou pensando? -Que me estou metendo de cabeça e saco conclusões antes de ter todos os dados, que reajo emotivamente em vez do fazer de forma pragmática. -Tu o disseste. -Van recostou sua coluna curvada e apoiou o copo de whisky sobre seu côncavo abdômen-. Isso sim que o fazes bem. Avery incorporou-se. -Olhemos todas as fitas e vejamos o muito que me equivoco. Quando a última fita chegou a seu fim e a tela ficou em branco, se fez um silêncio rompido só pelo zumbido do magnetoscopio rebobinando. Avery pôs-se em pé e voltou-se para eles. Não perdeu tempo fazendo notar o bem que o tinha feito. As fitas falavam por si sozinhas. Aquele homem aparecia em quase todas. -Resulta familiar para algum de vocês? -Não -disse Van. -Estava presente a todas e a cada uma das cidades que visitamos -reflexionou Avery em voz alta-. Sempre a espreita. -Não espreitava a ninguém. Simplesmente estava ali -corrigiu-a Irish. -Estava ali olhando fixamente a Tate. -O mesmo fazias tu a maior parte do tempo -apontou Van com sarcasmo-. E não tens nenhuma intenção de lhe assassinar. Ela lhe olhou com aspereza. -Não vos parece um pouco estranho que um homem siga por todo o Estado a um candidato ao senado sem nem sequer fazer parte do comitê eleitoral? Olharam-se de meta em meta e encolheram-se de ombros, cautamente. -É raro -admitiu Irish-, mas não temos nenhuma imagem desse homem com o dedo no gatillo. -Viste-lhe na fábrica de GM? -quis saber Van. -Não. -Essa era uma das audiências mais nutridas e hostil às que se dirigiu Tate -disse Irish-. Não tivesse sido o lugar ideal para que nosso homem passasse à ação? -Quiçá ver que alguém jogando uma garrafa o fez desistir. -Mas tens dito que não viste a Cabelo Cinza ali -mostrou Van. Avery mordeu o lábio consternada. Os acontecimentos daquele dia permaneciam borrosos em sua memória, impressionada por imagens isoladas, como a de Tate sentado na enfermaria, com a camisa salpicada de sangue. A ferida tinha sarado em matéria de dias; a pequena cicatriz era imperceptível e ficava oculta pelo
cabelo. Estremeceu ao pensar que podia ter sido muito pior se Pelo Cinza... -Esperem! Acabo de lembrar-me -exclamou-. Li a agenda daquele dia dantes de sair do hotel -relembrou excitada-. A visita à fábrica de GM não figurava no programa porque se acrescentou mais tarde. Só Eddy, Jack e os chefes sindicais da fábrica sabiam que íamos estar ali. De modo que inclusive no caso de que Pelo Cinza tivesse interceptado a agenda do dia, não tivesse podido saber que Tate ia estar em Arlington. -Parece que estejais falando de um maldito índio -disse Irish mal humoradamente. Olha, Avery, este assunto está-se ficando muito perigoso. Diga a Rutledge quem é, quais são tuas suspeitas, e deixa em suas mãos. -Não posso. -Começou a respirar agitadamente e repetiu com ênfase-: Não posso. Discutiram com ela durante outra meia hora, mas não conseguiram a convencer. Ela enumerou as razões pelas que não podia o deixar agora, e rebateu seus argumentos no sentido de que o fazia só pela notoriedade que lhe podia proporcionar. -É que não o entendeis? Tate precisa de mim. E também Mandy. Não vou abandoná-los até estar segura de que se encontrem a salvo. Está decidido. Enquanto preparava-se para marchar-se, pois estava em cima da hora, abraçou a ambos. -Será reconfortante saber que não estará longe - lhe disse a Van. Irish tinha-lhe assegurado que atribuiria a Van à campanha de Rutledge a tempo completo até que passassem as eleições-. Permanece alerta ao que eu não veja. Fixa-te bem nas audiências. E se vês a Cabelo Cinza, faz-mo saber imediatamente. -Não comeces outra vez com os nomes de índio -gruniu Irish. Abraçou-a com força-. Tens conseguido fazer-me sofrer a pior dor de estômago de minha vida disse bruscamente-. Mas não quero voltar a te perder. Ela lhe devolveu o abraço e lhe beijou na bochecha. -Não me perderás. -Cobre-te as costas, Avery. -O farei, to prometo. Marchou-se, dirigindo-se com presteza para sua casa. Ainda que não com a suficiente presteza.
Capitulo Trinta e quatro -Isto se está convertendo em uma cena excessivamente habitual -rugiu Tate enfadado, ao se enfrentar a Avery no momento em que cruzou a ombreira da habitação de Mandy-. Levo horas passeando pela habitação sem saber onde demônios estavas. Sem fôlego, Avery cruzou rapidamente o dormitório e, cautelosamente, sentou-se no borda da cama. Mandy estava dormindo, mas viam-se impressões de lágrimas em suas bochechas. -Sinto-o. Zee disse-me que teve outro pesadelo.
A mãe de Tate estava-a esperando na entrada quando chegou. Tate parecia encontrar-se bem mais agitado que Zee. Seu rosto mostrava preocupação e cansaço, e tinha o cabelo despenteado. -Ocorreu faz mais ou menos uma hora, pouco depois de dormir. -Recordou algo? -Não -contestou com voz entrecortada-. Seus próprios gritos acordaram-na. Avery acariciou o cabelo da menina e murmurou: -Deveria ter estado aqui. -E claro que sim. Chamava você aos gritos. Onde estavas? -Tinha algumas coisas a fazer. -O tom de voz imperativo de Tate irritava-a, mas naquele momento interessava-lhe mais a menina que discutir com ele-. Ficarei com ela agora. -Não podes. Os homens de Wakely and Foster estão aqui. -Quem? -Os conselheiros que contratamos para levar a campanha. Nossa reunião ficou interrompida pelo pesadelo de Mandy, e o tempo desta gente é caro. Fizemos-lhes esperar mais que suficiente. Conduziu-a através do quarto para uma das portas que davam ao pátio central. Avery deteve-se em seco. -Que é o que mais te irrita, Tate, o pesadelo de tua filha, ou fazer esperar a esta gente tão importante? -Faz favor não piores meu mau humor, Carole -lhe susurrou com os dentes entrecerrados-. Eu estava aqui para a tranqüilizar, tu não. Deu-lhe a razão olhando culpadamente a outro lado. -Pensei que te opunhas a utilizar conselheiros profissionais na campanha. -Mudei de ideia. -Mudaram-ta Eddy e Jack. -Eles dão suas opiniões, mas eu tomo as decisões finais. Em qualquer caso, estão aqui, esperando para discutir as estratégias conosco. -Tate, aguarda um momento -disse, e colocou-lhe como freio uma mão no peito quando ele fez o gesto de seguir adiante-. Se não te sentes cômodo, só tens que dizer que não. Até agora, tua campanha se baseou em ti; no que és e no que defendes. Que passa se esses chamados experientes tentam te mudar? Não te sentirás diluido, homogeneizado? Inclusive os melhores conselheiros podem equivocar-se. Faz favor, não te deixes pressionar para fazer algo que não desejas. Tate retirou-lhe a mão da camisa. -Se pudessem pressionar-me para fazer algo, Carole, teria divorciado de ti faz muito tempo. Isso foi o que me aconselharam que fizesse. À manhã seguinte, saiu da banheira e cobriu-se descuidadamente com uma toalha de banho. Enquanto estava adiante do espelho, secando-se o cabelo com a toalha, pareceu ver um movimento na habitação através da porta parcialmente aberta. O primeiro que lhe ocorreu foi que era Fancy. Abriu a porta inesperadamente, mas retrocedeu de imediato. -Jack! -Desculpe-me, Carole. Pensei que me tinhas ouvido chamar. Estava longe da porta do dormitório. Se tivesse chamado, ela não lhe tivesse dado permissão para entrar. Mentia. Não tinha chamado. Mais enfadada que
envergonhada, se voltou a cobrir com a toalha. -Que queres Jack? -Bom..., os garotos deixaram isto para ti. Sem deixar de olhá-la, lançou uma pasta de plástico sobre a cama. Sua mirada intensa fazia que Avery se sentisse incômoda. Era uma mirada lasciva e, ao mesmo tempo, incisiva. A toalha de banho deixava os braços e as pernas nus. Detectava a diferença entre seu corpo e o de Carole? Sabia que aspecto tinha o corpo de Carole? -Que garotos? -perguntou, tentando por todos os meios não mostrar seu desassossego. -Os de Wakely and Foster. Não tiveram oportunidade de te entregar ontem à noite antes de que saísses da habitação dando batendo a porta. -Não saí da reunião batendo a porta. Sai para vigiar a Mandy. -E não voltaste até que tinham ido embora. - Ela não lhe ofereceu nem uma desculpa nem uma negativa-. Não te caíram bem, verdade? -Já que perguntou, te direi sinceramente que não. Surpreende-me que a ti sim. -Por que? -Porque estão usurpando seu posto. -Eles trabalham para nós, e não ao contrário. -Isso não é o que me pareceu a mim. São déspotas e mandões. Eu não respondo a esse tipo de comportamento, e me surpreenderá muito se Tate chegar atolerar durante muito tempo. Jack jogou-se a rir. -Dados os sentimentos que tens para eles e para seus dominantes conselhos, será difícil você engolir isto. Mostrou os papéis. Curiosa, Avery acercou-se à cama e recolheu a pasta. Abriu-a e folhou as primeiras páginas. -Uma lista de conselhos para a esposa do candidato. -Exatamente, senhora Rutledge. Avery os guardou e voltou a lançar os papéis sobre a cama. Jack voltou a rir-se. -Alegro-me de ser só o garoto dos recados. Eddy se enfadará muito se não ler e digerir tudo o que aí se diz. -Eddy pode ir ao inferno. E tu também. E todos os que querem converter a Tate em um beijador de crianças, em um autómata de plástico que tem muita lábia, sim, mas que não diz nada que valha a pena escutar. -Converteste-te em uma verdadeira defensora de Tate, eh? De repente és sua aliada mais fiel. -Exatamente. -A quem demônios achas que estás enganando, Carole? -Sou sua esposa. E a próxima vez que queiras me ver, Jack, chama um pouco mais forte. Deu um passo para ela, agressivo e com o rosto congestionado pela ira. -Podes fingir tudo o que te dê vontade adiante dos demais, mas quando estejamos sozinhos... -Mamãe, fiz-te um desenho. Mandy entrou dando saltos e agitando uma folha de papel. Jack lançou a Avery um olhar furioso, deu meia volta e saiu da habitação a grandes passadas. Ela se
felicitou pelo bem que tinha agüentado a situação, mas seus débis joelhos cambalearam e se deixou cair sobre a borda da cama, sustentando com força a Mandy contra seu peito. Pressionou os lábios contra a frente da menina. Foi difícil descobrir quem estava reconfortando a quem. -Mamãe. -Que tens desenhado? Deixa-mo ver. -Soltou-a e examinou os rabiscos cheios de colorido que Mandy tinha desenhado-. É estupendo! -exclamou, com um sorriso trêmulo. Ao longo das semanas posteriores à visita com o doutor Webster, Mandy tinha fato grandes progressos. Pouco a pouco estava saindo do casca que se tinha refugiado. Sua mente era fértil. Seu pequeno e robusto corpo parecia imbuido de energia. Ainda que a confiança em si mesma seguia sendo frágil, não parecia tão quebradiça como antes. -É papai. E aqui está Shep -explicou, mostrando uma mancha azul escura sobre o papel. -Já o vejo. -Posso mascar um chiclete? Mona disse-me para que perguntasse a você. -Só um pouco. Não o engula. Traz-mo quando já não queiras mais. Mandy deu-lhe um beijo sonoro. -Quero-te, mamãe. -Eu também te quero. Voltou a dar-lhe um forte abraço, e manteve-o até que a menina se desembaraçou dela e saiu correndo em busca de seu chiclete. Avery seguiu-a até a porta e fechou-a. Considerou a idéia de fechar com chave. Tinha certas pessoas na casa das que preferiria se manter afastada. Mas estavam aqueles outros que esperavam a encontrar porta aberta. Mandy, um deles. E Tate. Van abriu uma lata de atum e a levou ao console dos vídeos. Por fim seu estômago tinha-lhe comunicado a seu cérebro que um precisava se alimentar para permanecer com vida. De outro modo, tivesse permanecido tão absorto no que estava fazendo que não se teria lembrado nunca de comer. Levou-se pedaços de pescado aceitoso à boca mediante o uso de uma colher razoavelmente limpa. Segurou a colher com a boca e utilizou ambas mãos para, ao mesmo tempo, expelir uma fita de um dos aparelhos e inserir uma fita nova em outro. Nessa matéria funcionava como um pulpo bem coordenado. Colocou a primeira fita em sua caixa etiquetada e concentrou toda a atenção na que começava. As barras de cores apareceram na tela e, a seguir, a conta atrás. Engoliu-se o bocado que tinha mantido na boca, lhe deu uma chupada ao cigarro, tomou um gole de whisky, se serviu outro bocado de atum, se reclinou em sua cadeira e apoiou os pés na borda do console. Estava olhando um documentário que tinha gravado em uns anos atrás para uma corrente de Dês Moines. O tema era a pornografía infantil. A sua não era a versão suavizada e já editada que se emitiu para os telespectadores, senão sua cópia pessoal, a que continha todas as imagens gravadas ao longo de doze semanas de ir por trás de um produtor, um jornalista e um técnico de som. Era tão só uma mais entre as centenas de fitas que constítuia seu arquivo pessoal. Até esse momento, nenhuma das que já tinha passado justificava a inquietante
idéia de que tinha visto anteriormente a alguém do séquito de Rutledge, e não precisamente ao homem grisalho que tanto preocupava a Avery. Van nem sequer estava seguro de que era o que buscava, mas tinha que começar por algum lugar. Não desistiria até o encontrar, fosse o que fosse. Enquanto não tivesse que reincorporar-se à campanha de Rutledge, não tinha nada melhor que fazer, exceto perder o tempo. E isso podia o fazer mais adiante. -Onde está Eddy? -perguntou Nelson desde onde presidia a mesa. -Teve que ficar trabalhando -contestou Tate-. Disse-me que não o esperássemos pára jantar. -Parece que nunca estamos todos juntos, ao menos à hora de jantar -comentou Nelson franzindo ele cenho-. Dorothy Rae, onde está Fancy? -Está..., está... Dorothy Rae não encontrava palavras nunca quando se tratava do paradeiro de sua filha. -Seguia na sede da campanha quando eu saí - disse Tate, tentando socorrer a sua cunhada. Jack dedicou um sorriso a seus pais. -Está trabalhando muitas horas ali, verdade, mamãe? Zee devolveu um sorriso tímido. -Dedica mais tempo do que me esperava. -O trabalho lhe fez bem. -É um começo -gruniu Nelson. Avery, sentada enfrente de Jack, guardou silêncio. Duvidava muito de que Fancy estivesse trabalhando todas as horas que passava na sede. Parecia ser a única que dava importância ao fato de que muito freqüentemente Fancy e Eddy chegassem tarde juntos. Mandy pediu que lhe ajudassem a pôr manteiga no pão. Quando Avery terminou e levantou a cabeça, surpreendeu a Jack a observando. Ele sorriu, como se os dois compartilhassem um segredo. Avery apartou rapidamente a vista e dedicou-se a sua comida, enquanto a conversa continuava ao redor. Fancy chegou poucos minutos depois e deixou-se cair na cadeira, com uma disposição de ânimo tão amargurada como a expressão de seu rosto. -Não tens uma palavra educada para ninguém? -perguntou Nelson severamente. -Deus, couve-flor - falou, empurrando a bandeja para o outro extremo da mesa. -Não permitirei essa tipo de linguagem -rugiu Nelson. –Tinha-o esquecido -contestou com aspereza. O rosto de Nelson acendeu-se. -E também não vou agüentar tua insolência. -Dirigiu-lhe um olhar significativo a Jack, que baixou a cabeça, e a Dorothy Rae, que estendeu o braço para tomar sua copa de vinho-. Comporta-te como uma pessoa educada. Senta-te bem e come o jantar. -Nunca há nada decente para comer nesta casa -se queixou Fancy. -Deverias envergonhar-te, Francine. -Sei-o, sei-o, avô; todos esses meninos famintos na África. Poupa-te o sermão, de acordo? Vou-me a minha habitação. -Ficarás onde estás! -gritou -. És um membro da família e, nesta família, todos
jantamos juntos! -Não faz falta que grites, Nelson -disse Zee-, lhe tocando a manga da camisa. O rosto de Fancy inchou-se. Olhou a seu avô com rebeldia e a seus pais com ódio, mas permaneceu sentada. Como se nada tivesse ocorrido, Nelson retomou a conversa onde a tinha deixado ao comparecer Fancy. -A equipe de Wakely and Foster está preparando outra viagem para Tate. Dava a informação em benefício das mulheres, que não o sabiam ainda. Avery olhou a Tate. -Acabo de inteirar-me esta tarde -defendeu-se ele- e não tive tempo de te o comunicar dantes de jantar. Já te darão os horários. Aonde vamos? -Praticamente à cada lugar do Estado. Zee passou o guardanapo pela boca e perguntou: -Quanto tempo estará fora? -Pouco mais de uma semana. -Não te preocupes pela menina, Carole -disse Nelson-. O avô se ocupará dela. Não é assim, Mandy? Ela lhe sorriu e assentiu com a cabeça, pois nunca se importava se combinar com eles. Normalmente, a Avery não lhe tivesse preocupado a deixar, mas Mandy tinha tido outro pesadelo a noite anterior, a segunda em uma mesma semana. Se estava a ponto de fazer algum progresso, não queria se encontrar longe dela. Quiçá pudessem levar-lha de viagem. Era algo que tinha que discutir com Tate dantes de ultimar os planos. Eddy apareceu de repente baixo o arco da entrada do comedor. Mona, que estava recolhendo os pratos, disse que lhe tinha guardado o jantar quente. -A trarei em seguida. -Não te preocupes. -Percorreu a mesa com a mirada, tomando boa nota dos ali presentes-. Terei que jantar mas tarde. O humor de Fancy melhorou consideravelmente. Uma luz acendeu-se em seus apagados olhos e a careta de desgosto converteu-se em um sorriso. Sentou-se erguida e olhou-o com admiração e desejo. Eddy começou a dizer-: Não gosto de ter que vos estragar o jantar a todos... Com a mão, Nelson restou importância a suas palavras. -Pareces preocupado. Isso sim que era um eufemismo, pensou Avery, pois Eddy estava rebosante de ira. -Que tem ocorrido? Temos descido estrondosamente nos sondeos de opinião? -Algo ruim aconteceu? -Temo que sim -contestou Eddy, elegendo responder à pergunta de Zee-. Ralph e Dirk estão comigo, mas lhes pedi que esperassem no salão até que tivesse a oportunidade de falar com a família em privado. Ralph e Dirk eram os dois homens de Wakely and Foster que se estavam ocupando da campanha de Tate. Seus nomes eram mencionados com freqüência nas conversas. A Avery aterrorizava-lhe ouvir falar deles, porque normalmente respondia de um modo negativo a qualquer coisa que se dissesse a seguir. -E bem? -perguntou Nelson, impacientei-. Melhor será enfrentar-se às más notícias. -Trata-se de Carole. -Todas os olhares se centraram nela, no lugar que ocupava
entre Tate e Mandy-. Seu médico abortista está a ponto de contar tudo.
Capitulo Trinta e cinco Uma das qualidades necessárias que devem possuir os pilotos de bombardeiros é a capacidade de não se intimidarem em situações de grande tensão. E Nelson tinha-a. Avery considerou seu aplomo mais tarde, quando examinou aqueles minutos de infarto após o terrível anúncio de Eddy. Essa falta de resposta resultou-lhe surpreendente, porque teve a sensação de que ela mesma se ia derrubar. Ficou muda, imóvel, incapaz de pensar. Seu cérebro paralisou. Parecia que o planeta tinha desaparecido sob seus pés e ela flutuasse, sem a segurança da gravidade, em um vazio negro e sofocante. Nelson, com uma capacidade de reflexos admirável, separou sua cadeira da mesa e se levantou. -Acho que deveríamos mudar esta discussão ao salão. Eddy assentiu uma só vez com a cabeça, olhou a Tate com uma mistura de pena e exasperação e saiu da habitação. Zee, drasticamente pálida, mas quase tão composta como seu marido, também se pôs em pé. -Mona, esta noite pularemos a sobremesa. Faz favor, ocupa-te de Mandy. Pode ser que ficaremos ocupados algum tempo. Dorothy Rae tomou seu copo de vinho. Jack o tirou de sua mãoe e voltou a colocá-lo sobre a mesa. Segurou-a por debaixo do braço, levantou-a da cadeira e empurrou-a para o corredor. Fancy seguiu-os; parecia estar realmente contente. Quando chegaram à altura do arco, Jack disse a sua filha: -Tu não te metas em isto. -Impossível. É o mais divertido que tem passado nunca -contestou, e se jogou a rir. -Não é assunto teu, Fancy. -Eu também sou parte desta família, o avô o acaba de dizer. Ademais, trabalho na campanha eleitoral. Tenho todo o direito a estar presente à reunião. Inclusive mais direito que ela -acrescentou apontando a sua mãe. Jack extraiu um bilhete de cinquenta dólares do bolso de sua calça e meteu-o na mão de Fancy. -Busca-te alguma outra coisa que fazer. -Filho de puta -murmurou dantes de marchar-se. O rosto de Tate estava pálido por causa da ira. Com movimentos cuidadosamente controlados dobrou o trinco e colocou-a ao lado de seu prato. -Carole? Avery levantou a cabeça. Tinha preparada uma negativa e estava a ponto de soltá-la, mas a fúria que resplandecía na mirada de Tate a obrigou a ficar em silêncio. Conduzida por sua firme mão, saiu do comedor, cruzou o corredor e dirigiu-se ao amplo salão.
Não tinha escurecido ainda. O salão oferecia uma vista espetacular do céu, veteado pelos resplandecentes cores da posta de sol. Essa noite, no entanto, o horizonte infinito fazia-lhe sentir-se exposta e sozinha. Nem um só rosto amável deu-lhe as boas-vindas quando entrou na estância. Os homens que representavam à empresa de relações públicas lhe pareceram particularmente hostis. Dirk era alto, delgado, taciturno e tinha uma perpétua sombra de barba mau barbeada. Era o estereotipo de machão que saía nos filmes de gánsters. Parecia como se sua cara era intimdadora se decidisse sorrir. Ralph era a antítese de Dirk. Rechoncho, forte e alegre, andava sempre contando piadas, mais por irritar que para divertir. Quando se encontrava nervoso, brincava com as moedas de seu bolso; e, nesse momento, estavam muito juntas: ressoavam mais que os sinos de uma igreja. Pelo que Avery sabia, nenhum dos dois tinha declarado ter um apellido. Ela supunha que a finalidade dessa omissião era promover uma relação de trabalho mais amistosa entre eles e seus clientes. Mas, no referente a Avery, o truque não funcionava. Nelson fez-se cargo da situação. -Eddy, faz favor, clarifica o que acabas de nos dizer na sala de jantar. Eddy poupou-se todos os rodeios e lhe perguntou diretamente a Avery: -Você fez um aborto? Seus lábios abriram-se, mas foi incapaz de emitir som algum. Tate contestou por ela: -Sim, ela fez um aborto. Zee deu um respingo como se uma seta acabasse de traspassar seu delgado corpo. Profundos surcos cobriram a frente de Nelson. Jack e Dorothy Rae ficaram olhando a Avery incrédulos. -Tu o sabias? -quis saber Eddy. -Sim. -E não lho disseste a ninguém? -Não era assunto de ninguém -contestou Tate, furioso. -Quando ocorreu? -quis saber Nelson-. Tem sido recentemente? -Não. Antes do acidente de avião. Justo antes. -Estupendo -murmurou Eddy-. Cornudo. -Cuidado com tuas expressões adiante de minha esposa, senhor Paschal! -rugiu Nelson. -Sento-o, Nelson! -replicou a gritos-. Mas tens idéia de como pode isto afetar à campanha se o público souber? -Claro que o sei. Mas devemos ter o cuidado de não responder de forma grosseira. De que nos servirá agora gritar? -Quando os ânbimos foram aplacados, perguntou-: Como te inteiraste desta... abominação? -A enfermeira chamou esta tarde à sede da campanha e perguntou por Tate informou Eddy- Ele já tinha ido, de maneira que atendi eu o telefonema. Contoume que Carole tinha ido à consulta, grávida de seis semanas, e que pediu a interrupção da gravidez. Avery se recostou no braço estofado do sofá e cruzou os braços sobre o estômago. -Temos que falar disto em presença desses dois? -Anpontou a dupla de relações públicas.
-Fora -disse Tate gesticulando para a porta. -Um momento -opôs-se Eddy-. Têm que saber todo o que está ocorrendo. -Não no que se refere a nossas vidas pessoais. -Tudo, Tate -interveio Dirk-. Até o desodorante que utilizas. Nenhuma surpresa, recordas? Especialmente as desagradáveis. Deixamos claro desde o princípio. Tate parecia a ponto de explodir. -Que ameaçou fazer a enfermeira? -Contar a todos os meios de comunicação. -Ou se não? -Devíamos pagar para que mantivesse a boca fechada. -Chantagem -disse Ralph, fazendo um pequeno som com as moedas que levava no bolso-. Não é que seja muito original. -Mas eficaz -concluiu Eddy secamente-. Conseguiu que me interessasse. Poderias tê-lo jogado tudo a perder, o sabes - espetou a Avery. Encurralada em sua própria mentira, Avery não tinha mais eleição que suportar o desprezo da família. Não se importava o que pensassem os demais dela, mas se sentia morrer ao imaginar o traído que devia de se sentir Tate. Eddy dirigiu-se a grandes passadas para o bar e serviu-se um whisky. -Estou aberto a qualquer sugestão. -Que passa com o doutor? -perguntou Dirk. -A enfermeira já não trabalha ali. -Ah, não? -Ralph deixou de jogar com as moedas-. Como é isso? -Não o sei. -Inteira-te. Avery que tinha dado a ordem secamente, se pôs de pé. Ocorreu-lhe só uma maneira de se isentar ante os olhos de Tate, e era o ajudar a sair dessa bagunça. -Inteira-te de por que já não trabalha para esse doutor, Eddy. Quiçá despediu-a por incompetência. -Esse doutor, Carole? É uma doutora. Por Deus, é que nem sequer te lembras? -Queres minha ajuda neste assunto ou não? -replicou em um tom duro, fazendo caso omisso de seu terrível erro-. Se a enfermeira foi despedida, não resultaria uma chantagista muito acreditável, verdade? -O que diz Carole tem verdadeiro sentido -comentou Ralph, e jogou uma mirada àqueles rostos preocupados. -Tu nos meteste nesta enrrascada - culpou Eddy, avançando para ela-. Tens intenção de enfrentar ao assunto? -Sim -contestou desafiante. Quase puderam-se ouvir as engranagens dos pensamentos enquanto os ocupantes da habitação consideravam o assunto seriamente. O silêncio rompeu-o Zee: -Que passa se ela tem teu histórico clínico? -As fichas podem falsificar-se, especialmente as copiadas. Seguiria sendo minha palavra contra a dela. -Não podemos mentir -objetou Tate. -E por que demônios não? -quis saber Dirk. Ralph jogou-se a rir. -Mentir é parte do assunto, Tate. Se queres ganhar, tens que mentir com maior convicção que Rory Dekker, isso é tudo.
-Ainda que chegue a senador, seguirei tendo que olhar ao espelho a cada amanhã -argumentou Tate, com o cenho franzido. Avery pôs-se adiante de Tate e colocou as mãos sobre seus braços. -Eu não terei que mentir. E tu também não. Ninguém se inteirará nunca do aborto. Se a obrigamos a pôr as cartas na mesa, se retirará. Quase posso garantir-te que nenhuma cadeia de televisão local fará caso algum, especialmente se a despediram do trabalho. Se a enfermeira fosse com sua história a Irish McCabe -e KTEX seria seguramente sua primeira eleição, porque era a que tinha maior audiência-, ele acabaria com o conto. Se oferecia a primicia a outros... De repente Avery voltou-se para Eddy e perguntou: -Comentou-te se tinha alguma testemunha? -Não. -Então, nenhum jornalista sério o publicará. -E como demônios o sabes? -perguntou Jack desde o outro extremo da habitação. -Tenho visto Todos os homens do presidente. -Os jornais sensacionalistas o publicariam sem ter provas. -É possível, mas esses meios de comunicação não têm credibilidade alguma. Se nós ignoramos nobremente uma história tão escandalosa, os leitores chegarão ao considerar uma sórdida mentira. -Que passa se a notícia chega até Dekker e sua equipe? O irão apregoar isso desde Texarkana até Brownsville. -E daí se eles fizerem? -replicou Avery-. É uma história muito feia. Quem poderia se achar que eu faria uma coisa assim? -E por que o fizeste? Avery voltou-se a olhar a Zee, que tinha formulado a singela pergunta. Parecia encontrar-se desolada, sofrendo por seu filho. Avery gostaria de ter dado uma resposta satisfatória, mas não era o caso. -Sinto-o Zee, mas isso é algo entre Tate e eu -contestou por fim-. Naquele momento parecia o mais correto. Zee estremeceu-se de repugnância. A Eddy não se importava nada os aspectos sentimentais do problema. Estava dando grandes passadas de um lado a outro da habitação. -Deus, a Dekker encantaria ter esta notícia. Já meteu no bolso todos esses entusiastas partidários da: vida. São uns fanáticos. Não quero nem pensar o que poderia chegar a fazer se se inteirasse de tudo isto. Faria passar a Carole por assassina. -Pareceria como se nos estivesse atirando varro - contradisse Avery-, a não ser que pudesse o demonstrar sem sombras de dúvidas, coisa que será impossível. Os votantes se poriam de nosso lado. Dirk e Ralph olharam-se e encolheram-se simultaneamente de ombros. Dirk disse: -Tudo o que ela diz tem certa validade, Eddy. Quando a enfermeira voltar a pôr em contato contigo, diga para ir em frente, que conte tudo. Seguramente não tem grande coisa a dizer e se assustará facilmente. Eddy estava-se mordendo os lábios. -Não o sei. É um risco. -Mas é o melhor que podemos fazer. -Nelson levantou-se da cadeira e estendeu
uma mão para Zee-. Vocês resolvem o que fica deste asqueroso assunto. Não quero ouvir falar disso nunca mais. Nem ele nem Zee se dignaram olhar a Avery ao sair da habitação. Dorothy Rae dirigiu-se ao bar. Jack olhava com tanta malevolência à mulher de seu irmão que não se deu conta nem tentou a deter. Aparentemente, nenhum da família sabia nada da gravidez nem do aborto de Carole até essa noite. O acontecimento era uma surpresa para todos, inclusive para Avery; que também não estava do todo segura e que tinha perdido ao apostar a que ninguém se inteiraria. -Tens algum cadáver mais metido no armário? Tate deu-se a volta com celeridade e enfrentou a seu irmão com mais ira da que Avery lhe tinha visto jamais mostrar com algum da família. Tinha as mãos fechadas em um punho. –Cala-te, Jack! -Não lhe digas que se rua! -exclamou Dorothy Rae, deixando inesperadamente a garrafa de vodka sobre o mueble-. Não é culpa sua que tua mulher seja uma puta. -Dorothy Rae! -Ou que não o é? Desfez-se de um bebê a propósito, enquanto os meus..., os meus... Os olhos encheram-lhe de lágrimas. Voltou-se de costas. Jack aspirou uma bocanada de ar, baixou a cabeça e murmurou: -Sinto-o, Tate. Dirigiu-se a sua chorosa mulher, pôs-lhe um braço ao redor de seu cintura e saiu com ela da habitação. Apesar de toda a aversão que sentia para Jack, a Avery a comoveu o amável gesto. O mesmo ocorreu-lhe a Dorothy Rae; olhou-o com gratidão e amor. Dirk e Ralph, insensíveis ao drama familiar, tinham seguido falando entre eles. -Esta viagem ficarás em casa -disse-lhe Dirk perentoriamente a Avery. -Eu estou de acordo -acrescentou Eddy. -Isso depende de Tate -replicou ela. O rosto de Tate aparecia frio e impassível. -Ficas. Avery estava a ponto de chorar, mas de jeito nenhum queria fazê-lo adiante de Dirk, de seu colega e do indómito homem de gelo, Eddy Paschal. -Perdoem-me. Com altivez, mas rapidamente saiu da habitação. Tate seguiu-a. Atingiu-a no corredor e obrigou-a a que o olhasse. -Tuas mentiras não têm limite, verdade, Carole? -Já sei que isto tem mau aspecto, Tate, mas... -Mau aspecto? -Com amargura e incredulidade sacudiu a cabeça-. Se já o tinhas feito, por que não o admitiste? Por que me dizer que nunca teve um filho? -Porque dava-me conta da dor que te estava fazendo. -Merda! Davas-te conta do dano que te estava fazendo a ti! -Não -recusou, se sentindo miserável. -Façam que ponha as cartas boca acima, não há testemunhas, fichas falsificadas citou todas suas anteriores sugestões-. Se te pegassem, tinhas a via de escape bem preparada, verdade? Quantas mentiras mais me ocultas?
-Tenho feito essas sugestões para proteger-te a ti. A ti, Tate. -Claro que sim. -Franziu os lábios com cinismo-. Se tivesses querido fazer algo por mim, não terias abortado. Ainda melhor, não te terias ficado grávida. Ou pensaste que um menino te conseguiria um bilhete a Washington? -Soltou-a de repente, retirando as mãos como se não suportasse a tocar-. Não te cruzes em meu caminho. Não posso suportar tua presença. Regressou ao salão, onde o esperavam seus conselheiros. Avery derrubou-se contra a parede e cobriu-se a boca com as mãos para mitigar o som de seus soluços. Em outra tentativa de expiar os pecados de Carole, o único que tinha conseguido era apartar ainda mais a Tate. À manhã seguinte, Avery acordou-se sentindo-se terrivelmente débil. Tinha a cabeça abotargada e os olhos inchados doíam por causa das lágrimas vertidas dantes de dormir-se. Pôs-se uma bata ligeira e chegou cambaleando ao banheiro. Assim que teve atravessado o dintel da porta, apoiou-se contra a parede e, horrorizada, leu a mensagem que aparecia escrito sobre o espelho com seu próprio batom. «Puta estúpida. Quase jogaste-o tudo a perder.» O terror paralisou-a durante uns instantes e, a seguir, teve uma descarga de adrenalina. Correu para o armário, vestiu-se a toda pressa, se deteve o tempo suficiente para apagar a mensagem do espelho e fugiu da habitação como se a perseguissem os demônios. No estábulo só precisou um par de minutos para ensilhar o cavalo. Percorreu o campo aberto a galope, pondo distância entre ela e essa formosa casa que encobria tanta traição. Apesar de que os primeiros raios de sol lhe esquentavam o corpo, se lhe punha a pele de gallina quando recordava que alguém tinha entrado a escondidas em sua habitação enquanto ela dormia. Quiçá Irish e Van tivessem razão. Estava louca ao tentar seguir com aquela farsa, pois podia acabar perdendo a vida por culpa das manipulações de outra mulher; talvez alguma história valia tanto? Era uma tolice não emborase antes de que a descobrissem. Poderia desaparecer, ir a algum outro lugar, assumir uma nova identidade. Era pronta e ingeniosa, interessavam-lhe muitas coisas. O jornalismo não era o único campo no que valia a pena fazer um esforço. Mas essas alternativas estavam geradas pelo pânico e o temor. Avery sabia que nunca as levaria a cabo. Não poderia chegar a suportar outro fracasso profissional, especialmente algo de tal magnitude. E daí passaria se, enquanto, Tate perdia a vida? O e Mandy importava agora mais que qualquer outra coisa. Era imprescindível ficar. Com as eleições a só em umas poucas semanas, se vislumbrava já o final. Tal como confirmava a mensagem no espelho, a imprevista atuação de Carole tinha posto nervoso ao inimigo de Tate. A gente nervosa cometia erros. Teria que estar atenta e não se perder detalhe, e, paralelamente, ter cuidado para não ficar ela mesma ao descoberto. As quadras continuavam desertas quando regressou com o cavalo. O desensilhou, deu-lhe um cubo de comida e começou a escová-lo. -Tenho-te estado buscando.
Alarmada, deixou cair a escova e deu-se a volta. -Tate! -pôs-se uma mão sobre o coração-. Não te ouvi entrar. Assustaste-me. Estava de pé à entrada do estábulo. Shep encontrava-se sentado obedientemente a seus pés, com a língua fora. -Mandy está pedindo suas torradas para o café da manhã. Disse-lhe que te iria buscar. -Tenho saído a montar -disse, afirmando o óbvio. -Que aconteceu com tua roupa elegante? -O que? -Aqueles... Fez um gesto com as mãos pelo exterior do corpo. -As calça de montar? -Os jeans e as botas que levava não eram em absoluto elegantes. O fralda da singela camisa de algodão pendurava-lhe acima da cintura. Sinto-me ridícula quando as coloco. -Ah, sim? Voltou-se para marchar-se. -Tate. -Quando ele deu de novo a volta, ela se umedeceu nervosamente os lábios. Já sei que todo mundo está furioso comigo, mas tua opinião é a única que me importa. Odeias-me? Shep esticou-se sobre o fresco solo de cimento do estábulo e apoiou a cabeça nas patas dianteiras, olhando-a com olhos tristes. -Será melhor que volte com Mandy -disse Tate-. Vens? -Sim, irei em seguida. No entanto, nenhum dos dois fez movimento algum. Ficaram ali, olhando-se. Exceto por algum pontápe de um casco ou o ressoar de um cavalo, tudo estava em silêncio. Motas de pó dançavam entre os raios de sol que se introduziam pelas janelas. O ar era tranqüilo e propagavam-se os agradáveis aromas do feno, dos cavalos e do couro. E do desejo. De repente a Avery pareceu que a roupa a oprimia, que o cabelo estava muito pesado para sua cabeça e que a pele era demasiado pequena para conter seu abundante corpo. Desejava ardentemente acercar-se a Tate e rodear-lhe a cintura com os braços. Queria descansar a bochecha sobre seu peito e sentir o palpitar de seu coração tal como ocorreu no dia que a possuiu. Ansiava que a tomasse de novo com desejo e paixão, ainda que o único que ele desejasse fosse uma gratificação a curto prazo. O desejo que tinha apoderado de seu corpo se misturava com o desespero, e a mistura era insuportável. Apartou a mirada e pôs-se a acariciar o focinho aveludado do cavalo. O animal apartou-se dae sua aveia e golpeou-lhe com afeto o ombro. -Não o entendo. Ela voltou ao olhar com atenção. -Que não entendes? -Antes jogava fumaça pelas orelhas quando você chegava perto dele. Querias que o vendêssemos à fábrica de cola. Agora vos acariciais o um ao outro. Que tem ocorrido? Avery olhou-o fixamente aos olhos e, em tom doce, contestou: -Tem aprendido a confiar em mim.
Tate entendeu a mensagem. Não tinha lugar a dúvidas. Sustentou a mirada durante muito tempo e, depois, deu-lhe um golpe suave ao cão com a ponta da bota. -Vamos, Shep. -Acima do ombro recordou-lhe-: Mandy está esperando.
Capitulo Trinta e seis -Seja uma boa garota com papai. -Tate ajoelhou-se adiante de sua filha e abraçou-a com força-. Voltarei antes que você perceba, e te trarei um presente. Normalmente, o gesto alegre de Mandy teria provocado um sorriso em Avery, mas era impossível sorrir nesse dia, no dia da partida de Tate. Pôs-se de pé. -Me chama se apresentar alguma melhora. -Claro. -Ou piora. –Sim. -Toda a equipe tem ordens de me avisar de imediato se o telefonema tiver a ver com Mandy. Me porei em seguida ao telefone no momento que seja. -Prometo-te que chamarei se ocorrer qualquer coisa. Jack fez soar a buzina do carro. Esperava impaciente por trás do volante. Eddy já estava sentado no assento da frente, falando por um telefone recentemente instalado no veículo. -No que se refere ao outro assunto -acrescentou Tate, mantendo um tom de voz confidencial-, Eddy fez o que sugeriste e pediu à enfermeira provas irrefutáveis de que tinhas abortado. Submeteu-a a um interrogatório severo; a esclareceu exemplo o que teria que ouvir se fosse com sua história à imprensa ou à gente de Dekker. Também levou a cabo uma pequena investigação. Tal como tu supunhas, a despediram do trabalho e tinha ainda mais vontades de pôr em evidência ao médico que a nós. Eddy utilizou essa informação e ameaçou-a com todo tipo de litigios. Pelo momento, tem-se acovardado. -Oh, alegro-me muito, Tate. Não teria gostado nada desonrasse a campanha. Sorriu sarcástico. -Já não pode desonrrá-la bem mais do que está. -Não te desanimes. -Posou uma mão sobre a manga de sua camisa-. As pesquisas não são o evangelho, podem mudar em qualquer momento. -Pois será melhor que o façam cedo -comentou sombriamente-. O mês de novembro chegará antes de que nos darmos conta. E até então, sua vida corria perigo e ela nem sequer podia o avisar. Naquela viagem não poderia vigiar nem buscar a um homem alto e com o cabelo grisalho. Quiçá deveria mencionar-lho, dar-lhe um pouco de vantagem sobre seus inimigos. -Tate... -começou a dizer. Jack voltou a tocar a buzina. -Tenho que ir. -Dobrou-se pela cintura e beijou de novo a bochecha de Mandy-. Adeus, Carole. Não recebeu um beijo, nem um abraço, nem sequer uma última mirada antes de
meter no carro e desaparecer. -Mamãe? Mamãe? Mandy devia de tê-la chamado várias vezes. Quando Avery deixou de observar a curva da estrada por onde tinha desaparecido o carro e a olhou, a cara da menina refletia preocupação. -Sinto-o. Que ocorre, carinho? -Por que estás chorando? Avery apartou-se as lágrimas das bochechas e obrigou-se a sorrir. -Estou triste porque papai viajou. Mas tenho a ti para que me faças companhia. Me farás companhia enquanto ele esteja fora? Mandy assentiu vigorosamente com a cabeça. Juntas entraram na casa. Se Tate estava temporariamente fora de seu alcance, pelo menos podia cuidar com esmero a sua filha. Nos dias decorriam lentamente. Passava a maior parte do tempo com Mandy, mas nem sequer as atividades que inventava para as duas eram suficientes como para encher as intermináveis horas. Não tinha exagerado quando disse a Tate semanas antes que precisava algo construtivo que fazer. Não estava acostumada à inatividade. Por outra parte, carecia da energia suficiente como para fazer algo mais que olhar ao vazio e se preocupar por Tate. Olhava as notícias a cada noite, buscando ansiosamente entre a multidão ao homem de cabelo grisalho. Irish se perguntaria por que não acompanhara a Tate nessa viagem, de maneira que lhe chamou de uma cabine de Kerrville e lhe explicou o assunto do aborto. -Seus conselheiros, começando por Eddy, recomendaram que me ficasse em casa. Agora sou uma pária. -Inclusive para Rutledge? -Até verdadeiro ponto, sim. É tão educado como sempre, mas se comporta com frieza e distanciamiento. -Tenho ouvido falar de experientes em campanhas eleitorais como Wakely and Foster. Eles dão uma ordem e Rutledge ladra, é isso? -Eles dão uma ordem, Tate rosna e depois ladra. -Bem. Bom, falarei com Van e direi que fique de olho nesse tipo que para você é tão importante. -Sei que é importante. Diga a Vam que me avise assim que o veja. -Se é que o verá. Aparentemente não o viu, já que Van não chamou. No entanto, em todas as reportagens emitidas por KTEX, aparecia pelo menos uma tomada da multidão. Van estava enviando uma mensagem: Cabelo Grisalho não se encontrava entre a multidão que rodeiava Tate. Não obstante, isso não ajudou muito a aliviar Avery. Queria estar ao lado de Tate para assegurar-se de que não corria nenhum perigo iminente. Pela noite tinha visões dramáticas de Tate perecendo em um banho de sangue. Durante o dia, quando não estava jogando com Mandy, se passeava inquieta pelas habitações da casa. -Segues deprimida? Avery levantou a cabeça. Nelson tinha entrado no comedor sem que ela se desse conta. -Nota-se? -perguntou com um sorriso triste.
-Está mais claro que a água. O homem acomodou-se em uma dos assentos. -Certamente não tenho estado muito alegre ultimamente. -Tens saudades a Tate? O desprezo sutil da família tinha feito que o tempo decorresse com mais lentidão ainda. Pouco mais de uma semana desde a partida de Tate, e pareciam séculos. -Sim, Nelson, sinto muitas saudades dele. Suponho que seja difícil de acreditar. A Zee custa; quase nem digna-se olhar-me. Nelson fixou sua vista na dela, com tanta força e mordacidade que pôs a pele de gallina. -Esse assunto do aborto foi horroroso. -Não era minha intenção que se inteirasse ninguém. -Exceto Tate. -Bom, ele tinha que o saber, não? -Para valer? Era seu o menino? Duvidou tão só uns segundos. -Sim. -E perguntas-te por que não estamos sendo muito amáveis contigo. Destruíste a nosso neto. Eu penso que é impossível perdoar uma coisa assim, Carole. Já sabes o que Zee sente por Tate, esperavas que te felicitasse pelo que fizeste? -Não. -Sendo a maravilhas de mãe que tem sido com seus filhos, não pode se imaginar uma coisa como essa. E, francamente, eu também não. Avery posou a mirada sobre o álbum de fotos que tinha aberto sobre seu colo. As fotos que estava olhando quando ele entrou eram dos primeiros anos. Zee, muito jovem e muito bela. Nelson, com um aspecto esplêndido, vestido com seu uniforme de aviador. Tinha fotos de Jack e de Tate nas diferentes etapas da juventude. Eram o exemplo tipo da família norte-americana. -Não deve ter sido fácil para Zee quando você foi para Coréia. -Não, não o foi. -Se mexeu na cadeira-. Tive que a deixar sozinha com Jack, que era só um bebê. -Tate nasceu após a guerra, verdade? -Justo depois. -Ainda era um bebê quando vocês mudaram para o Novo México -comentou Avery, enquanto consultava de novo o álbum e esperando que Nelson lhe proporcionasse detalhes a respeito das informações que tinha descoberto depois de uma minuciosa investigação. -Ali enviaram-me as Forças Aéreas, e ali fui-me. Um lugar solitário. Zee odiava o deserto e o pó. Também desagradava profundamente o trabalho que eu fazia. Naqueles dias, os pilotos de provas eram produtos descartáveis. -Como teu amigo Bryan Tate. Seus traços suavizaram, como se mentalmente estivesse revivendo os bons tempos. A seguir, com tristeza, sacudiu a cabeça. -Foi como perder a um membro da família. Após aquilo deixei de pilotar aviões. Meu coração já não estava nisso e, se não lhe pões o coração, te matam com mais facilidade. Em qualquer caso, não queria morrer. Ainda tinha muitas coisas que queria fazer. As Forças Aéreas mandaram-me a Lackland. Era meu lar, e um
bom lugar para educar aos garotos. Meu pai estava ficando velho. Retirei-me das Forças Aéreas após sua morte e ocupei-me do rancho. -Mas tens saudades dos aviões, verdade? -Sim... Demônios, sim -admitiu, com uma gargalhada de auto desaprovação-. Velho como sou e ainda recordo o que sentia lá em cima. Não pode comparar a nenhum outro sentimento. Também não há nada que possa comparar como compartilhar umas cervejas e trocar histórias com outros pilotos. Uma mulher não pode entender o que é ter amigos assim. -Como Bryan? Assentiu com a cabeça. -Era um bom piloto. O melhor. -Seu sorriso desapareceu-. Mas começou a ser negligente e pagou o preço com sua vida. -Voltou a focar a mirada sobre Avery-. Todo mundo paga por seus erros, Carole. Pode se livrar durante um tempo, mas não para sempre. Ao final, há que pagar. Ela apartou a vista, incómoda. -É isso o que achas que está ocorrendo comigo pelo do aborto? -E não o cries tu? -Suponho que sim. Nelson inclinou-se para diante e apoiou os antebraços nas coxas. -Já tens tido que pagar suportando a vergonha. Só espero que Tate não tenha que pagar por teu erro, perdendo as eleições. -Eu também o espero. Ficou olhando-a um momento. -Tu sabes, Carole, que eu tenho saído em tua defesa muitas vezes desde que te converteste em membro desta família. Outorguei-te o benefício da dúvida em mais de uma ocasião. -Que queres dizer com isso? -Todo mundo se fixou nas mudanças de tua personalidade desde o acidente. O coração de Avery começou a bater com força. Teriam discutido essas mudanças entre eles? -Tenho mudado. Para melhor, creio. -Estou de acordo, mas Zee não acha que as mudanças sejam reais. Acha que estás fingindo, que teu interesse por Mandy é mentira e que tua repentina preocupação por Tate é simplesmente uma tática para que te aprecie e te leve com ele a Washington. -Não é um comentário muito lisonjeiro vindo de uma sogra -pensou em voz altaTu que pensas? -Eu acho que és uma jovem muito bela e muito inteligente; demasiado inteligente como para te enfrentar comigo. -Apontou com seu dedo romo-. Será melhor que sejas tudo o que finges ser.-Durante uns segundos, manteve uma expressão severa. A seguir, sorriu carinhosamente-. Mas, se estás tentando sinceramente mitigar teus erros passados, felicito-te por isso. Para ganhar as eleições, Tate precisa a sua família e, sobretudo, o apoio total de sua esposa. -Eu lhe ofereço meu apoio total. -Isso não é mais que o que se espera de ti. -Levantou-se da cadeira. Ao chegar à porta, deu a volta-. Comporta-te como a esposa de um senador e não terás problemas por minha parte.
Foi óbvio que falou com Zee, porque, à hora de jantar aquela noite, Avery notou um melhor trato por parte dela. Parecia verdadeiramente interessada quando perguntou: -Desfrutaste de teu passeio a cavalo esta tarde, Carole? -Muito. Agora está mais fresco, posso passear por mais tempo. -E estás montando a Ghostly. É estranho, verdade? Sempre odiou esse animal, e vice-versa. -Acho que antes tinha-lhe medo. Temos aprendido a confiar o um no outro. Naquele momento, Mona entrou no comedor para avisar a Nelson que lhe chamavam ao telefone. -Quem é? -É Tate, coronel Rutledge. Avery reprimiu uma pontada de tristeza porque Tate não tinha perguntado por ela, mas só saber que estava ao telefone na habitação contigua fazia que tremesse todo seu interior. Nelson permaneceu fora da habitação durante vários minutos. Ao regressar, parecia estar muito sério. -Senhoras -disse, dirigindo-se não só a sua esposa e a Avery, mas também a Dorothy Rae, a Fancy, e a Mandy-. Façam as malas esta noite. Vamos a Fort Worth amanhã. As reações foram diversas. -Todos? -estranhou Zee. -Eu não, verdade? -supôs Dorothy Rae. Fancy saltou da cadeira e deu um alarido de alegria irreprimível. -Deus, já era hora de acontecer algo bom por aqui! Mandy olhou a Avery, buscando uma explicação de por que todo mundo se tinha posto de repente tão contente, e perguntou Avery : -Amanhã? Por que? Nelson contestou em primeiro lugar à pergunta de Avery. -As pesquisas. Tate está perdendo pontos a cada dia. -Isso não tem porque o celebrar -objetó Zee. -Os conselheiros de Tate acham que será melhor que o vejam com a família com mais freqüência -explicou Nelson-, para que não pareça um inconformista. Eu, pessoalmente, me alegro de que todos vamos estar juntos de novo. -Têm mudado de ideia no que se refere a mim? -quis saber Avery. -Obviamente. -Farei minhas malas e as de Mandy. -Todos os pensamentos negativos foram dissipados ao saber que cedo se reuniria com Tate-. A que horas saímos? -Assim que todos estejamos preparados. -Nelson olhou a Dorothy Rae, que estava evidentemente em um estado de pânico. Tinha perdido a cor e não fazia mais que retorcer as mãos-. Mona, faz favor ajuda a Dorothy Rae a preparar suas coisas. -Tenho que ir? -perguntou com voz trêmula. -Isso é o que me disseram. -Nelson dividiu sua severa mirada entre ela e Fancy, que, a diferença de sua mãe, estava encantada-. Não acho que faça falta lhe recordar a ninguém que há que se comportar com absoluta correção. Estamos nos últimos dias da campanha; todos os Rutledge serão o centro das atenções e nos estarão observando com lupa. Comportem-vos de acordo com as normas.
Capitulo Trinta e sete Quando chegaram a Fort Worth chovia. Nelson dirigiu-se diretamente ao hotel do centro da cidade; mas, como a viagem foi mais longa do esperado, devido às inclemências do tempo e às freqüentes paradas, Jack, Eddy e Tate se tinham ido já ao comício que se celebrava aquela noite. Os cansados viajantes ocuparam suas habitações o mais rapidamente possível. Mandy estava cansada e de mau humor. Teve uma petulância e não tinha maneira da tranqüilizar, nem sequer com o jantar que o serviço de quartos subiu rapidamente. -Mandy, come - insistiu Zee. -Não -contestou de mau humor, fecahando a boca-. Disseste-me que podia ver a papai. Quero ver a papai. -Virá mais tarde -explicou Avery por enésima vez. -Vamos, é tua comida preferida -insistiu Zee, tentando convencê-la-. Pizza. -Não gosto. Nelson olhou com impaciência seu relógio dos tempos do exército. -São quase sete. Temos que ir já ou chegaremos tarde. -Eu ficarei com ela -ofereceu Dorothy Rae, com uma expressão de esperança em seu rosto. -Menuda ajuda -comentou depreciativamente Fancy-. A mim me parece que seria melhor que esta mal-educada morresse de fome. -Fancy, faz favor. Uma menina difícil já temos suficiente -a xingou Zee, e depois disse que estava fatigada e se ofereceu para perder o comicio e ficar com Mandy. -Obrigado, Zee -disse Avery-. Isso seria de grande ajuda. Não acho que esteja em condições de sair em público esta noite. Nelson, leva-te a Dorothy Rae e a Fancy já. Eu irei dentro de um momento. Nelson começou a protestar: -Dirk e Ralph disseram que... -Não me importo o que tenham dito -o interrompeu Avery-. Tate não quereria que deixasse a Mandy com Zee quando se está comportando desta maneira. Assim que esteja na cama, tomarei um táxi. Diga que chegarei em seguida. Os três saíram da habitação de Mandy, parte de uma suite de três habitações alugadas para a família de Tate. -Vamos, Mandy -tentou Avery, tratando de mostrar-se convincente-. Come-te o jantar para que possa lhe dizer a papai quâo boa que tens sido. -Quero minha surpresa. -Come-te o jantar, querida -rogou Zee. -Não! -Então, apetece-te um banho quente? -Não! Quero minha surpresa. Papai disse que me daria uma surpresa. -Mandy, basta -disse Avery com severidade-. E come-te o jantar. Mandy deu um empurrão na bandeja, que caiu ao solo com grande estrondo. Avery pôs-se em pé de um salto. -Com isto é suficiente. -De um salto e tiroou Mandy da cadeira, deu a volta e deu um par de palmadas no traseiro-. Não vou agüentar esse tipo de comportamento,
jovenzinha. Ao princípio, Mandy ficou demasiado surpreendida para reagir. Olhou a Avery com seus grandes olhos abertos como pratos. A seguir, começou a tremer o lábio inferior e umas lágrimas inundaram suas bochechas. Abriu a boca e emitiu uma choradeira capaz de acordar a um morto. Zee quis apanhá-la, mas Avery adiantou-se e abraçou a Mandy. A menina jogoulhe os braços ao pescoço e afundou o rosto molhado em seu ombro. Avery esfregou-lhe as costas, de forma tranquilizadora. -Não te dá vergonha que tenha que te bater? Papai pensa que és uma menina boa. -Sou boa. -Esta noite não. Estás portando-te muito mau, e tu o sabes. O choro durou vários minutos. Quando finalmente se tranqüilizou, Mandy levantou sua cara amarrotada. -Posso tomar o sorvete agora? -Não, não podes. -Avery apartou os cabelos de Mandy que tinham ficado colados à cara-. Não me parece que mereças um prêmio, tu que cries? -O lábio inferior continuava tremendo, mas negou com a cabeça-. Se comportas bem agora, quando papai chegar esta noite deixarei que te acorde para te dar a surpresa. De acordo? -Quero sorvete. -Sinto-o -disse Avery, negando com a cabeça-. Quando alguém se porta mau, não lhe dão prêmios. Entendes a mamãe? Mandy assentiu tristemente. Avery a baixou de seu colo. -Agora vamos ao banho e a te pôr o pijama para que tu e a vovó possam ir à cama. O quanto antes durmir, antes chegará papai. Vinte minutos mais tarde, deitou-a. Mandy estava tão cansada, que quase dormiu antes de apoiar a cabeça sobre a almofada. Avery também estava esgotada. O incidente tinha-a deixado sem energia. Não se encontrava em condições para discutir com Zee, cujo corpo pequeno se estremecia desaprovadoramente. -Tate se inteirará de suas palmadas -ameaçou. -Muito bem. Parece-me conveniente que se inteire. Dirigia-se ao recibidor quando soou o telefone. Era Tate. -Vens ou que? -exigiu saber, sem preâmbulo algum. -Sim, já vou. Tive um problema com Mandy, mas agora já está na cama. Tomarei um táxi e chegarei em... -Estou aqui em baixo na recepção. Desça depressa. Fez o que pôde em cinco minutos, que foi todo o tempo que se atreveu a se conceder. Os resultados não eram espetaculares, mas suficientemente bons como pára que Tate ficasse boquiabierto quando por fim saiu do elevador. O traje de duas peças era elegante e atrativo. A seda de cor azul sáfira intensificava seu próprio colorido. O penteado do cabelo foi sacrificado pela umidade, de maneira que optou por um efeito sofisticado e dramático, pondo uns atrevidos pendentes de ouro. -Que demônios está acontendo? -perguntou Tate, enquanto conduzia-a para a porta giratoria-. Papai disse-me que Mandy estava enfadada.
-Enfadada? Tolices! O que estava realmente insuportável. -Por que? -Porque tem três anos, essa é a razão. Ficou todo o dia metida em um carro. Entendo perfeitamente por que estava se comportando assim, mas o entendimento só chega até um verdadeiro ponto. Lamento ter que azedar a festa da tua mãe, mas tive que lhe dar umas palmadas. Tinham chegado até o carro estacionado adiante do hotel. Ele se deteve com a mão sobre a maçaneta da porta do passageiro. -E daí ocorreu? -Fez-me caso. Funcionou. Tate examinou a expressão decidida de Avery durante uns instantes; depois, apontou com a cabeça e bruscamente ordenou: -Entra. Deu uma propina ao porteiro que tinha permanecido vigiando o carro, se sentou por trás do volante e, conduzindo devagar, se dirigiu à rua. Os para-brisas moviam-se vigorosamente, mas faziam uma batalha inútil contra o forte aguaceiro. Foram em direção norte pela rua de Main, giraram à altura dos característicos julgados do condado de Tarrant e cruzaram a ponte do rio Trinity para o norte de Fort Worth, onde os vaqueiros e os assassinos fizeram história em seus famosos corrales. -Por que veio me buscar? -perguntou Avery, enquanto o carro atravessava a tormentosa noite-. Poderia ter tomado um táxi. -Não fazia outra coisa que além passear entre bastidores. Pensei que empregaria melhor o tempo fazendo de taxista. -Que lhes pareceu a Dirk e a Ralph quando você saíu? -Nada. Não o sabem. -Que? -Quando se inteirar de que não estou, será tarde para o arranjar. Em qualquer caso, estava farto de que me corrigissem o discurso. Conduzia com imprudente rapidez, mas ela não lhe chamou a atenção. Parecia não estar disposto a aceitar uma crítica; encontrava-se de um humor de cães. Avery fez uma tentativa de chegar ao fundo de seu mau humor: -Por que nos pediste que viéssemos? -Tens lido as pesquisas? -Sim. -Então saberás que se requer uma mudança de estratégia. Segundo meus conselheiros, há que tomar medidas desesperadas. Embarcamos-nos nesta viagem para aumentar o entusiasmo e conseguir mais apoio popular. Em mudança, tenho perdido três pontos desde que a começamos. -Nelson disse algo com respeito a tua imagem inconformista. Amaldiçoou baixinho. -Isso é o que opinam eles. -A quem te referes? -A quem vai ser! A Dick e a Ralph. Pensaram que o bastião de uma família a minhas costas convenceria aos votantes de que não sou um iluminado. Um pai de família projeta uma imagem mais estável. Merda, não o sei. Falam e falam até que já nem os ouço!
Entrou no estacionamento de Billy Bob's Texas. Conhecido como o maior clube noturno do mundo, com uma pista de rodeio em seu interior, tinha sido alugado aquela noite pelo comitê de campanha de Tate. Vários intérpretes de country and western tinham cedido seu tempo e talento ao comicio que se realizava para arrecadar fundos. Tate chegou com o carro até a entrada principal. Um vaqueiro, vestido com um impermeável amarelo e um chorreante chapéu de feltro, saiu da garita e acercouse ao carro. Tate baixou a janela manchada. -Não pode estacionar aqui, senhor. -Sou... -Tem que tirar de aqui o carro. Está no acesso de bombeiros. -Mas sou... -Há um estacionamento ao outro lado da rua, ainda que por causa das pessoas pode ser que esteja cheio. - Mudou a bola de fumo de uma bochecha à outra-. Em qualquer caso, não pode o deixar aqui. -Sou Tate Rutledge. -Buck Burdine. Alegro-me de conhecê-lo. Mas, de todos modos, não pode deixar o carro aqui. A Buck, obviamente, não interessava a política. Tate olhou a Avery, que, de um modo diplomático, se examinava as mãos, entrelaçadas sobre seu colo, e mordia o lábio inferior para não se jogar a rir. Tate tentou-o de novo: -Apresento-me a senador. -Olhe, senhor, vai tirar o carro, ou terei que lhe dar uma pé na bunda? -Suponho que terei que mover o carro. Uns minutos depois, estacionou em um beco a várias ruas a frente, entre um estabelecimento de reparo de calçado e um lugar onde faziam tortas. Assim que apagou o motor, girou-se para Avery. Ela o estava olhando de relance. Simultaneamente jogaram-se a rir. Estiveram assim durante vários segundos. -Ai, Senhor! -exclamou Tate, esfregando-se o nariz-. Estou cansado. Sinto-me bem em rir. Suponho que terei que agradecer a Buck Burdine. A chuva caía torrencialmente, cobrindo as janelas do carro. As ruas estavam praticamente desertas naquela chuvosa noite da semana. Os restaurantes encontravam-se fechados, mas seus letreiros de neón iluminavam o interior do carro com raios de cor rosa e azul. -Tem sido horrível, Tate? -Sim. Horrível. -Distraído, passou o dedo pelos pontos ao redor do couro do volante- Estou perdendo terreno a cada dia, não o ganhando. Minha campanha tem decaído nas últimas semanas, quando teria que estar se animando por momentos. Parece que Dekker vai voltar a ganhar. Deu um golpe no volante com o punho. Avery concentrou-se plenamente nele. Dedicou toda sua atenção, sabendo que precisava falar com alguém que não lhe replicasse. Não faria diferença se ele não dissesse que estava cansado, pois as rrugas do cansaço e a preocupação se desenhavam nas linhas dos lábios e ao redor dos olhos. -Nunca tenho duvidado que meu destino era servir a este Estado no Senado dos Estados Unidos. -Voltou a cabeça e olhou-a. Ela assentiu com a cabeça, mas não
disse nada, não sabendo que responder. Ele não toleraria nem banalidades nem tópicos-. Inclusive decidi não me apresentar a deputado e me dediquei ao que realmente desejava. Mas estou começando a perguntar-me se não tenho feito mais que escutar às pessoas que me diziam o que queria ouvir. Tenho delírios de grandeza? -Sem dúvida alguma. -Avery sorriu, ao ver que o tinha surpreendido com sua franqueza-. Mas diga-me que político não os tem. Precisa ser alguém com uma enorme confiança em si mesmo para assumir as responsabilidades da vida de milhares de pessoas, Tate. -Então, todos somos uns megalómanos? -Tu tens uma saudável auto-estima. Não precisa se envergonhar disso nem se desculpar. A capacidade de liderança é um dom, como o ter aptidões musicais ou ser um gênio das matemáticas. -Mas ninguém acusa a um gênio das matemáticas de ser um explorador. -Tua integridade não te permitiria explorar a ninguém, Tate. Os idéais que propões não são só frases eleitorais. Você acredita neles. Não és outro Rory Dekker. Ele é todo palavra. Não tem substância. Com o tempo, os votantes se darão conta disso. -Segues convencida de que vou ganhar? -Completamente. -Sim? -Sim. No interior do carro fez-se um silêncio enquanto a chuva continuava martileando o teto e açoitando as janelas. Tate alongou o braço e colocou a mão aberta sobre o peito de Avery, o polegar e o meñique estendendo-se de clavícula a clavícula. Avery fechou os olhos. Balançou-se ligeiramente inclinando-se para ele como se uma invisível corda a atraísse para ele. Quando voltou a abrir os olhos, ele estava bem mais perto; tinha-se colocado no centro do assento e seus olhos examinavam avidamente o rosto. Deslizou a mão pela garganta até chegar a colocar por trás do pescoço. Quando juntaram os lábios, uma combustão espontânea os consumiu. Se beijarão apaixonadamente, enquanto com as mãos tentavam ganhar terreno. Tate acariciou a área das costas, acima do traje taier, e voltou a subir para massagear os peitos através do tecido. Avery acariciou o cabelo, as bochechas, a nuca e os ombros. Depois, atraiu-o para si e se encostou na esquina do assento. E ele desabotoou os dois botões dispostos sobre o ombro esquerdo e lutou com a fila de colchetes que cobriam aquele lado do torso. Quando conseguiu abrir a jaqueta, a corrente de ouro, que agora continha as fotografias dele e de Mandy, se afundou no vale entre seus peitos. As luzes de neón traçavam um arco íris sobre a pele. Os chorros de chuva arrojavam sombras fluídas nos peitos, inchados sob o sutiã. Tate inclinou a cabeça e a beijou por todo o contorno e depois no centro. Através do encaixe, sua língua moveu-se inquieta, ávida, luxuriosa. -Tate -susurrou ela, à medida que as sensações se estendiam por todo seu corpo. Tate, desejo-te. Trabalhosamente, abriu a calça e conduziu a mão de Avery até abaixo. Ela rodeou
com seus dedos a rígida longitude do pênis e, quando acariciou a aveludada ponta com a ponta do polegar, Tate afundou a cara entre seus peitos, e susurrou promessas e frases eróticas e deslizou as mãos sob a estreita saia. Ajudou-o a desfazer-se da calcinha. Uniram os lábios em um frenético e apaixonado beijo, enquanto buscavam uma posição adequada dentro dos impossíveis confins do assento de um carro. -Merda! -amaldiçoou ele, a voz seca e dura. De repente incorporou-se, a levantou sobre seu colo, segurou seu o traseiro com as mãos sob a saia e colocou-a sobre sua ereção. Ela se empalou. Emitiram gritos de prazer que, ao cabo de uns segundos, se converteram em gemidos. Buscaram-se com os lábios uma e outra vez enquanto suas línguas moviam-se com excitação e rapidez. Ele apertou a tensa carne do traseiro e acariciou as coxas acima das meias e por entre as tiras encaixadas na liga. Ela utilizava seus joelhos para se elevar, ameaçando provocativamente se libertar do pênis, e se afundava depois de novo até introduzí-lo por inteiro. Cavalgou-o, o ordenou. -Maldita seja, sim que sabes foder! Depois de dizer isso com voz áspera, colocou a cabeça contra um peito e, quando ficou livre do sutiã, molhou o mamilo ereto com a língua e a seguir; meteu-o na boca. Deslizou uma mão entrei as úmidas coxas e enredou os dedos no suave cabelo, chegou até a fissura e acariciou a pequena protuberância. Avery começou a arquejar em voz alta, inclinou a cabeça sobre o ombro de Tate, se tendeu em torno do duro pênis em seu interior, esfregou-se contra a mágica caricia do dedo no exterior e experimentou um orgasmo longo e úmido que coincidiu com o de Tate. Não se moveram durante cinco minutos; estavam ambos demasiado débis. Finalmente, Avery abandonou o colo de Tate, recolheu a calcinha do solo do carro, aceitou o lenço que ele lhe oferecia em silêncio e, se sentindo inibida, disse: -Obrigado. -Estás bem? Te machuquei? -Não, por que? -Pareces..., pareces tão débil. Ela foi a primeira em apartar a mirada após um longo e significativo momento. Uma vez que se limpou, tentou arrumar as roupas amaçadas, baixou o espelho do visor e contemplou com horror sua imagem desleixada. Tinha o penteado desfeito. Mechas de cabelo rodeavam a cabeça como um aro com pontas, e a pintura de lábios, tão cuidadosamente aplicada, cobria o terço inferior do rosto. -Estou um desastre. Tate incorporou-se tudo o que permitia o carro e recolocou a camisa. Levava a gravata torcida e a jaqueta pendurada de um ombro. Subiu torpemente o zíper da calça e amaldiçoou duas vezes antes de conseguí-lo do todo. -Faça o que puder - disse, alongando o pendente sobre o qual se acabava de sentar. -O tentarei. -Com a maquilagem que levava na bolsa, consertou o dano e fez o que pôde com o penteado-. Suponho que o estado de meu cabelo o posso culpar ao tempo. -A que culparemos a sua pele avermelhada? -Tocou as fissuras dos lábios-.
Escurecerão? Ela se encolheu de ombros, sem se arrepender, e sorriu timidamente. Ele devolveu o sorriso, saiu do carro e foi abrir a porta. Quando chegaram à parte traseira do palco, onde Eddy passeava nervosamente de um lado a outro e Ralph jogava com as moedas dos dois bolsos, tinham realmente mau aspecto: molhados e despenteados, mas extremamente felizes. -Onde demônios estavas? Eddy achava-se tão fora de si que não podia quase pronunciar as palavras. Tate respondeu com admirável compostura: -Fui a pegar Carole. -Isso é o que disse Zee quando chamamos ao hotel -interveio Ralph. Já não jogava com as moedas do bolso-. Que te levou a fazer uma coisa tão estúpida? Disse que tínheis saído faz já meia hora. Que vos fez demorar tanto? -Não tinha estacionamento -contestou Tate secamente, enfadado pelo interrogatório-. Onde estão Jack e os demais? -Aí fora, tentando manter a raya ao público. Ouve-lo? -Eddy apontou para o auditório, onde se ouvia à multidão cantando ao ritmo de uma marcha patriótica-. Queremos a Tate! Queremos a Tate! -Agora se alegrarão mais de me ver -comentou Tate tranqüilamente. -Aqui tens o discurso. Eddy tentou meter nas mãos várias folhas de papel, mas Tate negou-se a aceitálas. Em vez disso, se golpeou a sien e disse: -Meu discurso está aqui. -Não se te ocorra voltar a desaparecer -lhe ordenou Ralph com tom amenazador-. É uma estupidez que pelo menos um de nós não saiba onde estás em todo momento. Dirk não tinha aberto a boca. Seu escuro rosto estava ainda mais enfurecido pela ira. Não olhava a Tate, senão a Avery. Não havia tirado o olhar de cima dela desde a feliz entrada do casal. Ela tinha agüentado sua mirada com aplumo. Quando finalmente abriu a boca, sua voz vibrava de ira contida: -De agora em adiante, senhora Rutledge, quando tenha vontade transar, o faça em seu próprio tempo, não jogue com o nosso. Tate, emitindo um rosnado selvagem, lançou-se contra ele. O teria derrubado por completo se não tivesse decidido empurrá-lo contra a parede. Colocou o antebraço, mais tenso que uma barra de metal, contra a garganta de Dirk e fincou o joelho na entre a perna. Dirk gemeu de surpresa e dor. -Tate, ficou completamente louco? -gritou Eddy. Tentou apartar-lhe o braço da garganta de Dirk, mas foi impossível. O nariz de Tate não estava nem a um centímetro da cara de Dirk; e seu rosto aparecia tranqüilo, com uma mirada assassina nos olhos. Em mudança, a cara de Dirk voltava-se progressivamente a cada vez mais azul. -Tate, faz favor-disse Avery desesperada, pondo uma mão sobre seu ombroDeixa-o. O que ele disser não me importa. -Pelo amor de Deus, Tate! -Freneticamente, Eddy tentou ficar entre os dois homens-: Solta-o! Agora não é o momento! Por Deus, pensa um pouco!
-Se alguma vez -ameaçou Tate, com voz lenta e clara- voltar a insultar assim a minha esposa, morrerás engasgado com as palavras. Entendeste-o, filho de puta? Voltou a golpear os testículos de Dirk com o joelho. O homem, cujos olhos sobresasíam de medo, assentiu com a cabeça todo o que lhe permitia o espaço que ficava entre o braço de Tate e sua barba. Pouco a pouco, Tate relaxou o braço. Dirk dobrou-se ao meio, agarrando os testículos, tossindo e resoplando. Ralph apressou-se a ajudar seu colega. Tate alisou o cabelo, voltou-se para Eddy e disse tranqüilamente: -Vamos. Estendeu o braço para Avery. Ela agarrou a sua mão e o seguiu para o palco.
Capitulo Trinta e oito Mandy fez qüestão de tirar a camisola e pôr-se a blusa que Tate lhe deu, apesar de ser mais de meia-noite e estava mais perto a hora do café da manhã do que de dormir. -Agora já és uma torcedora dos Dallas Cowboys - disse enquanto a colocava pela cabeça. A menina admirou as berrantes letras prateadas que decoravam sua nova blusa e dedicou a Tate uma sedutor sorriso. -Obrigado, papai. Deu um enorme bocejo, recuperou o sono e voltou a descansar a cabeça sobre a almofada. -Já está aprendendo a ser uma mulher. -Que queres dizer exatamente com esse comentário? -perguntou Avery enquanto dirigiam-se a seu dormitório ao outro lado do salão. -Aceitou a mercadoria, mas não me ofereceu nem um abraço nem um beijo em troca. Avery apoiou as mãos na cintura. -Achas que deveria contar às votantes femininas que, por trás de tua defesa pública do feminismo, não és mais que um podre machista? -Faz favor não. Preciso todos e a cada um dos votos. -Pareceu-me que foi tudo muito bem esta noite. -Quando por fim apareci, quer dizer. -E antes também. -O tom confidencial fez que Tate levantasse a cabeça-. Obrigado por defender minha honra, Tate. -Não tens por que me agradecer. Trocaram uma mirada longa e depois Avery começou a tirar a roupa. Entrou no banheiro, tomou uma ducha rápida, pôs em um salto na cama e cedeu o banheiro a Tate. Esticada na cama, ouviu correr a água enquanto Tate lavava os dentes. Depois de ter compartilhado outras suites de hotel, sabia que nunca voltava a pendurar a toalha após a usar, senão que sempre a deixava úmida e atirada ao
lado do lavabo. Quando saiu do banheiro, girou a cabeça, com a intenção de fazer uma piada a respeito daquele mau costume. Nunca chegou a pronunciar as palavras. Estava nu. Tinha a mão sobre o interruptor da luz, mas olhava a Avery, que se incorporou, com uma expressão interrogativa em seus olhos. -No passado -falou ele, em um rouco susurro- podia te fazer desaparecer de meus pensamentos. Já não posso. Não sei por que. Não sei que está fazendo agora que não fazia antes, ou que não estás fazendo que antes sim fazia, mas me é impossível te ignorar e fingir que não existes. Nunca te perdoarei pelo aborto, nem as mentiras que me contaste; mas as coisas como as que tem passado esta noite no carro fazem mais fácil esquecer. Desde aquela noite em Dallas, sou como um viciado que tem descoberto uma droga nova. Desejo-te muitíssimo, e preciso-te constantemente. Lutar contra estes sentimentos está me deixando louco e insuportável. Nas últimas semanas não têm sido divertidas para mim nem para os que me rodeiam. De modo que, enquanto for minha esposa, vou exercer meus direitos conjugais. -Fez uma pausa-. Tens algo que dizer? -Sim. -Fale. -Apaga a luz. A tensão desapareceu daquele corpo esplêndido e um sorriso apareceu na fissura de seus lábios. Apagou a luz, meteu-se na cama e abraçou-a. Foi como se a camisola voasse sobre as caricias de suas mãos. Antes que Avery tivesse tempo de pensar se encontrava já nua embaixo dele, sentindo na pele o percurso das pontas de seus dedos. De vez em quando, ele apartava seus lábios e tomava uma mostra do sabor da garganta, do peito, dos ombros, do estômago. O desejo invadiu-a, um contínuo aumento e diminuição de sensações até que inclusive as extremidades vibrassem pela excitação. Seu corpo estava sensibilizado à cada um das nuances dele, desde os cabelos que caíam sobre a frente, rozándole a ela a pele a cada vez que ele baixava a cabeça para beijá-la novamente, até a potência das delgadas coxas, entrelaçando-se com as suas para os separar pouco a pouco depois. Tate fez alanvaca com os braços preparado para penetrá-la, e ela prolongou o momento retendo sua caixa torácica entre as mãos e esfregando o rosto contra o pelo de seu peito. Roçou várias vezes os mamilos com os beijos de seus lábios, e os roucos gemidos de Tate foram sua recompensa. Ansiosamente, buscaram-se com a boca. Os beijos de Tate eram ardentes, doces, profundos..., e isso foi o que ele disse do corpo de Avery quando o reclamou. Mandy, cavalgando sobre os ombros de Tate, gritava enquanto este se inclinava e se inclinava como se estivesse a ponto de se cair com ela em cima. A menina se agarrava a seu cabelo, coisa que provocava pequenos gritos de seu pai. -Calem-vos os dois! -os repreendeu Avery-. Conseguireis que nos joguem do hotel. Estavam percorrendo o longo corredor que ia desde o elevador até a suite, após terem tomado café da manhã no restaurante de baixo. Tinham deixado a Nelson e a Zee tomando café, porque Mandy estava pondo-se nervosa. O ambiente formal do salão de jantar não era lugar para uma criança cheia de energia e vitalidade. Tate passou a Avery a chave da suite. Entraram. O salão estava cheio de gente
ocupada em algo. -Que está ocorrendo aqui? -estranhou Tate enquanto baixava a Mandy ao solo. Eddy levantou a vista dos jornais matinais e retirou uma pasta que sustentava entre os dentes. -Precisavamos nos reunir, e tu és o único que tem um salão. -Sintam-se em casa -disse Tate com sarcasmo. Já o tinham feito. Viam bandejas de suco, café e massas por todas partes. Fancy dava conta de um pãozinho em forma de rosca, enquanto lia uma revista de modas, sentada com as pernas cruzadas sobre a cama. Dorothy Rae bebía algo, que parecia um bloody mary, e olhava ausentemente pela janela. Jack estava ao telefone, tampando o outro ouvido com um dedo. Ralph olhava o Today Show. Dirk repassava o armário de Tate com o olho avaliador de um comprador experiente em descontos. -Tua atuação de ontem à noite tem merecido uma boa crítica -comentou Eddy, mordendo a massa. -Estupendo. -Levarei a Mandy à outra habitação -disse Avery. Pôs as mãos sobre os ombros da menina e dirigiu-a para a porta corrediça. -Não, você fica -a deteve Dirk, fechando o armário-. Sem rancores por ontem à noite, de acordo? Todos temos estado suportando uma grande pressão. Agora tudo ficou claro. Aquele homem era insuportável. Avery tinha vontade de golpeá-lo, para ver se assim desaparecia esse sorriso hipócrita da cara. Olhou a Tate, que ignorando ao expert, lhe indicou: -Suponho que será melhor que fiques. Jack pendurou o telefone. -Tudo pronto. Tate tem uma entrevista ao vivo pelo canal 5 às cinco em ponto. Temos que estar ali antes das quatro e meia. -Estupendo. -Ralph esfregou-se as mãos-. Sabes algo das emissoras de Dallas? -Já tenho telefonemas. Soaram uns golpes na porta. Eram Nelson e Zee. Um homem, desconhecido para Avery, acompanhava-os. Fancy baixou da cama de um salto e abraçou a seus avôs; desde sua chegada a Fort Worth, estava de excelente humor. -Bons dias, Fancy. -Zee jogou uma mirada desaprovadora à minissaia e às vermelhas botas vaqueras de sua neta, mas não disse nada. -Quem é? -perguntou Tate, apontando o homem que esperava na ombreira da porta. -Nós chamamos um barbeiro. -Dirk deu um passo adiante e fez entrar ao aturdido homem-. Senta-te, Tate, e deixa que comece. Pode ir cortando o cabelo enquanto falamos. Algo conservador - indicou ao barbeiro, que cobriu os ombros de Tate com um pano listras brancas e azuis e passou um pente pelo cabelo. -Aqui tens -disse Ralph, colocando um montão de papéis abaixo do nariz de TateOlhe. -Que são? -Teus discursos de hoje. -Já tenho escrito meus discursos. Ninguém fez caso nem se deu por inteirado. Soou o telefone. Jack contestou.
-O canal quatro -informou excitado, com a mão cobrindo o aparelho. Encontrando em seu molho, Dirk tomou a palavra: -Zee, Nelson, busquem assentos, faz favor, e vamos ao ponto. Estámos indo na parte da manhã. Como tem dito Eddy, tivemos um grande sucesso ontem à noite em Billy Bob's e conseguimos muitos dólares para a campanha. Deus sabe que os precisamos. Uma vez perde-se o impulso, os seguidores deixam de contribuir. -Ainda que agora estejamos perdendo por uma boa margem, não queremos que pareça que nos estamos rendendo -acrescentou Ralph, fazendo tintinear as moedas de seu bolso. -Os do canal quatro têm dito que estarão em General Dynamics para gravar um boa parte do discurso de Tate, mas isso é tudo o que têm prometido -informou Jack depois de pendurar o telefone. Dirk assentiu com a cabeça. -Não é uma maravilha, mas é melhor que nada. -Verás, Tate -continuou Ralph, como se a segunda conversa não existisse-. Inclusive se perdes, não te interessa que pareça que te rendeste. -Não vou perder -afirmou, olhou a Avery e lhe guinou um olho. -Bom, não, claro que não -gaguejou Ralph, sorrindo incomodado-. Só queria dizer... -Não está cortando bastante -lhe disse azedamente Dirk ao barbeiro-: Disse conser-va-dor. Tate apartou as mãos do barbeiro. -Que é isto? Mostrou um parágrafo dos discursos que tinham escrito. De novo o ignoraram. -Ouve, escuta isto. -Eddy leu um parágrafo de um dos jornais-. Dekker atreve-se a acusá-lo de demagogo. -Acho que começa a ter medo -opinou Nelson, chamando a atenção de Dirk. -Nelson, quero que te situes em um lugar preferencial quando Tate falar em General Dynamics esta tarde. Esses contratos militares mantêm-nos vivos. Já que tu és um ex piloto, ficarás bem. -Tenho que ir E Mandy também?-perguntou Zee. -Eu não me importo ficar com Mandy -ofereceu Dorothy Rae. -Vamos todos. -Dirk franziu o cenho ao olhar o copo vazio na mão de Dorothy Rae-. E todos estaremos de ponta em alvo. A limpa imagem de Norteamérica. E isso também vai por ti, senhorita - indicou a Fancy-. Nada de minissaias. -Vai tomar no cu! -Francine Rutledge! -berrou Nelson-. Te mandarei de imediato a casa se voltar a utilizar essa linguagem. -Sinto-o -murmurou entre dentes-. Mas quem é este imbecil para me dizer como tenho que ir vestida? Dirk, impeternido, voltou-se para Avery: -Tu geralmente vais bem no que se refere a roupa. Não coloque nada muito chamativo hoje. São gente trabalhadora. Tate, escolhi seu terno cinza. -Não se esqueça lembrar da camisa -interveio Ralph. -Ah, se, coloque uma camisa azul, não branca. A branco não sai tão bem na televisão. -Todas minhas camisas azuis estão sujas.
-Disse que as mandasses a lavar todos os dias. -Pois tenho me esquecido, vale? -De repente deu a volta e pegou as tesouras do barbeiro-. Não quero que corte mais o cabelo. Gosto de como está. Em um tom de voz que poderia ter utilizado com Mandy, Dirk disse: -Está muito longo, Tate. Em meio segundo levantou-se da cadeira. -Quem o diz? Os votantes? Os trabalhadores de General Dynamics? Os espectadores do quinto canal? Ou só tu? Avery tinha vontade de aplaudir. A diferença de todos os demais, não se tinha envolvido no caos a seu ao redor, apenas se manteve observando a Tate, que, quanto mais lia dos papéis que Ralph lhe tinha dado, mais franzia o cenho. Achou que estava a ponto de perder a acalma, e acertou. Num estirão, tirou o pano, deixando que os pedaços de cabelo se espalhassem pela habitação. Afundou a mão no bolso, sacou uma nota de cinquenta dólares, deu ao barbero e acompanhou ao homem até a porta. -Muito obrigado. Fechou a porta depois dele. Quando voltou para os presentes na habitação, a expressão de seu rosto era tão sinistra como as nuvens baixas que ainda cruzavam o céu. -A próxima vez, Dirk, te avisarei eu pessoalmente quando precise um corte de cabelo, se é que chego ao considerar assunto teu, o qual, francamente, não mo parece. E agradeceria também que não te metesses em meu armário e que me consultasses antes de instalar nas habitações de minha família. -Não tinha nenhum outro lugar para nos reunir -o desculpou Eddy. -E uma droga, Eddy! -gritou, voltando para seu amigo, que se tinha atrevido a intervir-. Este hotel tem centenas de quarois. Mas, já que estais aqui -agregou, recolhendo as folhas de papel que tinha atirado sobre a cômoda-, gostaria de saber que demônios significa isto. Ralph inclinou-se sobre os papéis, leu umas linhas e explicou: -É o que opinas da nova lei de educação. -Para nada! Isto é um lixo, isso é o que é. -Golpeou a folha de papel com o revés da mão-. Um lixo insultante, lavagem,porcaria. Zee levantou-se da cadeira. -Levarei a Mandy à outra habitação para que possa ver a televisão. Tomou à mão da menina. -Tenho que fazer pipí, avó. -De acordo, carinho. Fancy, quiçá queiras acompanhar-nos. -Demônios, não. Não me moveria de aqui nem por dez milhões de dólares - disse de onde estava sentada no meio da cama. Abriu outro pedaço de chiclete e agregou-o ao que já tinha na boca. Quando se fechou a porta depois de Zee e Mandy, Ralph se aventurou a oferecer uma explicação conciliatoria. -Simplesmente pensamos, Tate, que tua postura a respeito de alguns dos temas deveria se suavizar. -Sem consultar-me? -Acercou-se perigosamente àquele homem bem mais baixo que ele-. Dá a casualidade de que é minha opinião -acrescentou, se golpeando o peito-, precisamente a minha. -Estás perdendo pontos nas pesquisas -assinalou o homem, em um tom de voz
moderado. -Isso estava ocorrendo já antes de que os contratássemos. Tenho perdido muitos mais pontos desde que vocês estão aqui. -Porque não tens seguido nossos conselhos. -Nanay! -negou Tate, sacudindo tenazmente a cabeça-. Acho que é porque estouos seguindo demasiado. Eddy pôs-se de pé. -Que insinuas, Tate? -Nada em absoluto. Estou afirmando claramente que não preciso de ninguém para que escolha as minhas camisas e os trajes e chame o barbeiro. Estou dizendo que não quero a ninguém que coloque palavras em minha boca, que não quero ninguém suavizando minha postura até que esteja tão limpa que nem sequer eu a reconheço. A gente que tem posto sua confiança em mim, baseando nessas opiniões acharia que me voltei louco. Ou, pior ainda, que os traí. -Estás exagerando muitíssimo. Tate enfrentou a seu irmão. -Não é teu cabelo o que estão tentando cortar, Jack -replicou acaloradamente. -Mas poderia sê-lo. Estou tão metido em isto como tu. -Então, terias que saber quanto é importante para mim ser eu mesmo. -O és -interveio Eddy. -Uma merda! Que passa com minha forma de vestir? -Mostrou a roupa que se tinha posto para tomar café da manhã -. Para valer parece que aos trabalhadores de General Dynamics importar com a cor de minha camisa? Claro que não! Eles o que querem saber é se sou partidário de um forte programa de defesa ou se vou votar a favor de um corte no orçamento, porque pode que meu voto no Senado chegue a determinar se seguirão ou não tendo trabalho durante os próximos anos. -Deteve-se uns instantes para respirar e passou a mão pelo cabelo, que, para satisfação de Avery, não tinha sofrido demasiado a mãos do barbero-. Olhem, garotos, este sou eu. -Levantou os braços até que ficaram perpendiculares a seu corpo-. Isto é o que há. Assim é como me apresentei em seu momento aos votantes de Texas. Mudem-me, e não me reconhecerão. -Não queremos te mudar, Tate -disse Dirk, em um tom cordial. Só te melhorar. Golpeou amistosamente a Tate no ombro, mas Tate apartou-lhe a mão. -Cavaleiros, gostaria de falar com minha família em privado, faz favor. -Se há algo que discutir... Tate levantou o braço para evitar suas objeções. -Faz favor. Dirigiram-se para a porta relutantemente. Dirk olhou a Eddy com complicidade ao sair. -Carole, me servirias uma caneca de café, faz favor? -Por suposto. Quando ela se levantava para cumprir a petição, Tate se deixou cair em um cadeira. Trouxe o café e sentou-se no braço estofado da cadeira. Tate tomou a caneca com uma mão e, em um gesto natural, colocou a outra sobre o joelho de Avery. -Lindo discurso -comentou Eddy. -Tentei a tua maneira, Eddy. Na contramão de meu julgamento, deixei que os
contratasses. -Sua mirada era tão direta como suas palavras-. Não gosto. -Falarei com eles e direi que se controlem um pouco. -Espera -deteve Tate, quando Eddy se dirigia para a porta-. Isso não será suficiente. Não escutam. -De acordo, direi que, no final desta viagem, queremos uma melhora drástica nas pesquisas ou, se não... -Segue sem ser suficiente. -Então, que sugeres? Tate olhou a todos os presentes na habitação, e se mostrou firme: -Despede-os. -Despedí-los? -se revolveu Jack-. Não podemos fazer isso. -Por que não? Pudemos contratá-los, não? -Não se pode despedir a uma empresa como Wakely and Foster assim por bem. Nunca mais poderias utilizar seus serviços. -Não o considero uma grande perda. -Não podes o fazer -se obstinou Jack, teimosamente. -Tate, rogo-te que medites tudo isto com cuidado - suplicou Eddy. -Já o fiz. Não gosto. Não gosto o que tentam fazer. -Que é? O tom de voz de Jack foi sarcástico e sua postura, agressiva. -Tentar converter-me no que eles acham que deveria ser. De acordo, quiçá precise que me lapidar um pouco, ou ser um pouco mais fino; mas não gosto que me ordenem das coisas. E, por suposto, não gosto que me ponham de palavras na boca quando nem sequer estou de acordo com elas. -O único que estás fazendo é ser teimoso - reprovou Jack-. Igual quando eras menino. Se dizia-te que não podias fazer uma coisa, isso era exatamente o que decidias fazer, só para me deixar em ridículo. Tate exalou um longo suspiro. -Jack, sempre tenho tomado em sério teus conselhos, e sempre têm sido bons. Não quero diferir contigo nesta decisão... -Mas isso é o que estás fazendo, não te parece? -Foi decisão minha também -replicou Tate, levantando a voz-. Agora tenho mudado de opinião. -Sem mais? -saltou Eddy, chasqueando os dedos-. Quando só faltam em umas poucas semanas para as eleições, queres mudar de cavalo no meio corrida! -Não, demônios, isso é o que eles estão tentando fazer! -De um brinco levantou-se do cadeira e mostrou a porta pela que tinham saído as duas personagens que estavam em discussão-. Queriam moldar-me e mudar-me até que nem sequer me reconhecessem os votantes que me apoiaram desde o princípio. Isso seria me vender. Não pareceria muito melhor que Dekker; mais escorregadio que uma merda de burro, um hipócrita, um mentiroso. -Enfrentou um muro de oposição silenciosa por parte de Eddy e de seu irmão. Voltou-se para Nelson-. Papai, jogame uma mão. -Por que me pedes ajuda agora? Já tens deixado que a ira se apoderar-se de ti. Nunca te enfades, Tate. Se sobreponha acima de tudo. -Como? -Ganhando.
-Calando-me a boca e aceitando seus conselhos? -A não ser que te pareça que te estão comprometendo. -Pois isso é exatamente o que penso. Preferiria perder as eleições, sendo eu mesmo, que as ganhar sabendo que tenho tido que fazer concessões em todos os pontos que defendo. Sinto muito se não estais de acordo comigo. -Eu estou a favor de Eddy -se pronunciou Fancy-, se a alguém lhe interessa minha opinião. -A ninguém interessa - contestou Jack. -Carole? Tinha-se abstido de entrar na discussão verbal. Tinha intenção de calar até que Tate não lhe perguntasse sua opinião. Já que fazia-o, levantou a cabeça e olhou-o com uma intimidade recém estabelecida e toda a comunicação sem palavras dos amantes. -Estou de acordo com qualquer coisa que decidas, Tate. Seguirei contigo até o final. Jack voltou-se a Tate. -Ah, sim? Desde quando? Falas de fazer concessões. Voltar a deitar-te com ela é tua maior concessão, hermanito. -Já basta, Jack! -rugiu Nelson. –Papai, sabes tão bem como eu que... -Basta! Quando tu sejas capaz de controlar a tua mulher, então podes começar a criticar a Tate. Jack olhou a seu pai, depois a seu irmão e, finalmente, encolheu-se de ombros e saiu da habitação como um torvelinho. Dorothy Rae levantou cambaleante da cadeira e seguiu-o. -Suponho que tu serás o próximo em sair -disse Tate, se dirigindo a Eddy nos tensos momentos que seguiram à saída de seu irmão. Eddy torceu os lábios em uma careta a modo de sorriso. -Conheces-me melhor que isso. Diferente de Jack, eu não me tomo as coisas pessoalmente. Acho que equivocas-te, mas... -Encolheu-se de ombros eloqüentemente-. O saberemos no dia das eleições. -Deu a seu amigo uma palmada nas costas-. Suponho que será melhor que vá e lhes dê as más notícias a nossos ex assessores. -Saiu da habitação e Fancy seguiu-lhe a toda pressa. Zee entrou com Mandy. A animosidade seguia-se respirando no ambiente. Intranqüila, comentou: -Tenho ouvido muitos gritos. -Temos aclarado algumas coisas -apontou Nelson. -Espero que estejas de acordo com minha decisão, papai. -Como tu mesmo tens dito, tem sido decisão tua. Espero que estejas preparado para viver com ela. -Para recuperar a tranqüilidade, assim tinha que ser. -Então, deixa de desculpar-te por algo que já está fato. -Disse a Mandy que iríamos passeando até Sundance Square -disse Zee, interrompendo a incómoda conversa-. Não acho que vá a chover mais. -Vos acompanharei -se ofereceu Nelson, aparentemente recuperado já seu bom humor, e tomou à menina em braços-. O exercício me irá bem. E não nos importamos se chover, verdade, Mandy?
Quando ficaram finalmente sozinhos, Tate se dirigiu a Avery: -Obrigado por apoiar-me. Não foi sempre assim. -Já tem recordado desagradavelmente Jack. -Estava de mau humor. -Algo mais que isso, Tate. Jack odeia-me. Pareceu não ter vontade de contestar a isso. Quiçá sabia, ao igual que Avery, que a Jack não gostava Carole, mas que a desejava. Talvez Tate ignorava esse terrível dado, com a esperança de que chegaria a desaparecer. -Por que o fizeste? Por que te puseste a meu favor? Tens pensado que era teu dever de esposa? -Não -contestou, se ofendendo-. Pus-me a teu favor porque pensei que tinhas razão. Esses tipos não me caem bem, e não gostava da forma em que se metiam em nossas vidas e os conselhos que davam me resultavam tão desagradáveis como a ti. Tinha-lhe ocorrido que os homens de Wakely and Foster podiam de alguma maneira estar unidos ao complô para assassinar a Tate. Essa era outra das razões pelas que se alegrava de que estivessem despedidos. Depois da recente discussão, a suite ficou em um terrível silêncio. Paradoxalmente, sem todos os demais, a sala parecia mais pequena, não maior. A solidão silenciosa caiu sobre eles. Avery pôs-se as mãos na cintura. -Bom, eu... -Foi uma boa ideia que mamãe e papai se levassem a Mandy a dar um passeio. -Sim, foi-o. -Lho passará bem. -E te dará a oportunidade de estudar teus discursos sem que te interrompam. Ainda que não acho que precises os estudar muito. -Não, me sinto cômodo com os compromissos de hoje. -Alegro-me. Durante uns minutos, Tate contemplou-se as pontas das botas. Quando levantou a vista, perguntou: -Achas que vai a chover? -Eu, pois... -Olhou pela janela e examinou o céu-. Acho que não. Ele estendeu o braço e a acercou. Depois, a beijou no pescoço. -Tate. -Sim? Conduziu-a para o sofá. -Pensei, após ontem à noite, que não quererias... -Pensaste mau.
Capitulo Trinta e nove
-Bu! Fancy saiu num salto de por trás da porta no momento em que ele entrou na habitação do hotel. Eddy nem sequer pestanejou. -Como tens entrado, -Subornei a uma das faxineiras. -Com que? -Com as cuecas do tio Tate. -Estás como um vaqueira. -Não te encanta? -Que é isto? Apontou uma mesa diante de uma grande janela. Estava coberta com uma toalha branca e preparada para duas pessoas. -A comida. Abacates recheados de salada de caranguejo. -Terias que me ter consultado, Fancy. -Não tens fome? -Daria no mesmo se estivesse. Só disponho de um minuto. Sentou-se à beira da cama e tirou o fone do gancho. Depois de consultar um pedaço de papel que tirou do bolso da camisa, marcou um número. -O senhor George Malone, faz favor. Fancy pôs-se de joelhos por trás dele e apoiou a pelvis contra sua coluna vertebral. -Senhor Malone? Sou Eddy Paschal, da campanha do senhor Rutledge. Tem chamado você? -Baixou a cabeça quando a garota se inclinou sobre seu ombro para mordiscar sua orelha-. O senhor Rutledge tem a agenda muito ocupada, temo. O que tinha pensado?, Quantas pessoas? Bem, bem. -Ela o beijou no pescoço, sucionando suavemente a pele entre seus dentes. Eddy cobriu o microfone com a mão-. Pare com isso, Fancy. Estou ocupado. Ficou de cara amarrada, baixou-se da cama, acercou-se o espelho do tocador e deteve-se a arranjar-se o cabelo. Dobrando-se pela cintura, jogou o espesso de cabelo para diante. Quando voltou a se incorporar, aumentaram seus ânimos ao ver que Eddy estava olhando o cu. Situou-se adiante dele, com as pernas bem abertas, pegou a borda da minissaia e, provocativamente, a foi subindo centímetro a centímetro. -Pára quando precisa o saber? Enquanto Eddy continuava falando por telefone, passou as palmas das mãos pela parte dianteira das coxas, enganchou os polegares no vermelho triángulo de cetim que cobria a pubis, se acariciou uma vez, duas vezes e, depois, se tirou a calcinha e as suspendeu no ar diante dos narizes de Eddy. -Falarei com o senhor Rutledge e o chamarei antes possível. Em qualquer caso, agradecemos seu interesse. Obrigado pelo convite. Pendurou o fone e, com grande decepção por parte de Fancy, passou por seu lado e dirigiu-se ao banheiro, onde se penteou e lavou as mãos. -Que demônios te ocorre? -exigiu saber quando se reuniu com ele. -Nada. Tenho pressa, isso é tudo. -Estás enfadado porque o tio Tate obrigou-te a despedir a esses imbecis, verdade?
-Não estou enfadado. Simplesmente não estou de acordo, isso é tudo. -Bom, pois não me faças pagar o pato a mim. -Não o estou fazendo. Arrumou a gravata e examinou as abotuaduras da camisa. -Pequena cena esta manhã, eh? Nunca tinha visto ao tio Tate tão enfadado. Está bastante gracioso quando se põe assim. Encanta-me quando um homem está a ponto de perder as estribeiras. -Deslizou os braços sob os de Eddy, abraçou-o e pressionou-lhe o pênis com as mãos-. A possível violência é muito excitante. -Não tenho tempo para ti agora, Fancy. Retirou-lhe as mãos e regressou à habitação. Fancy afundou-se na cama e observou-o ordenar uns papéis da carteira. Estava tão lindo quando franzia o cenho concentrado... Inspirada, incorporou-se na cama até descansar as costas contra a cabeceira. Tirou a camisola branca de algodão acima da cabeça e lançou-o ao solo, ao lado da calcinha eliminada. Depois, com só a saia e as botas de vaqueiro vermelhas, pronunciou suavemente seu nome. Eddy girou-se. Lentamente, ela passou a língua pelo lábio inferior e susurrou: -Deitaste-te alguma vez com uma vaquera? -Dá a casualidade de que sim -respondeu em um tom neutro-. Ontem pela noite. E dei-lhe pelo cu. Ou não te lembras? Os joelhos abertos de Fancy fecharam-se como o laço de uma armadilha. Acercou-se à beira da cama, recolheu a camisola, pôs-lho pela cabeça e meteu furiosamente os braços nas mangas. Quando se enfrentou a ele, tinha os olhos cheios de lágrimas. -Isso não tem sido muito agradável. -Ontem à noite te pareceu sim que. -Não quero dizer isso! -gritou. Tranqüilamente, Eddy fechou a carteira e recolheu a blazer do terno. -Agradável é uma palavra estranha em teus lábios. Dirigiu-se para a porta. Ela o agarrou pela manga quando passou por diante. -Por que me tratas de forma tão odiosa? -Tenho pressa, Fancy. -Então, não estás enfadado? -Não estou enfadado. Desprendeu-se de sua mão. -Te verei mais tarde? -No comicio desta tarde. Apalpou suavemente o bolso da calça para se assegurar que levava a chave da habitação e, a seguir, estendeu a mão para a maçaneta. Ela se apoiou contra a porta. -Já sabes o que quero dizer. Te verei mais tarde? Sorriu sedutoramente e fez-lhe uma pequena caricia acima das calças. -Sim, já sê o que queres dizer. -Apartou a mão que o acariciava e abriu a porta, apesar dos esforços de Fancy para o impedir-. Enquanto, tenta não te meter em problemas. Quando a porta se fechou depois dele, Fancy amaldiçoou a gosto. Tinha planejado uma comida íntima e para depois, um pequeno encontro. Ou,
dependendo das obrigações de Eddy, uma longa tarde de amor. Que remédio, pensou com ódio. Ninguém dizia nem fazia nada que não tivesse que ver com as eleições. Estava cansada e farta de ouvir falar dessas famosas eleições. Ficaria tão contente quando tudo tivesse acabado e Eddy pudesse se dedicar inteiramente a ela... Voltou a apoiar na cabeceira da cama e acendeu o televisor. Um casal de um seriado se beijava sob uns lençóis de cetim. Enfadada e zelosa, esmagou o botão do comando a distância para mudar de canal. Geraldo Rivera arbitrava um combate de gritos entre um pastor fundamentalista e um travesti. Em outro canal, um grupo de donas-de-casa cheiravam botes abertos de manteiga de amendoim. Voltou ao seriado. Amava a Eddy apaixonadamente, e admitia que grande parte de seu encanto residia em sua frieza. Tinha conhecido tipos que fodiam até morrer, literalmente. O edifício poderia cair-se em cima deles e não se dariam conta até após o orgasmo. Eddy não era assim. Sua atuação física podia ser excelente, mas sua mente permanecia separada do corpo. Inclusive os atos mais íntimos não requeriam por sua vez uma participação emotiva. Atuava quase como um mero observador. Aquele férreo controle a excitava. Era diferente, fascinante. Mas às vezes desejava que Eddy a olhasse com a adoração que estava vendo nos olhos da varonil estrela da televisão. Em seus olhos liam-se volumes de amor indescritível, enquanto com a boca mordisqueava as pontas dos dedos a sua adorada. Conseguir capturar o coração de Eddy Paschal seria um golpe mestre. Como desfrutaria sabendo que ele não podia tirar os olhos de cima, que a seguia ansiosamente com a mirada quando se passeava pela habitação. Lhe, encantaria que Eddy estivesse totalmente absorto por ela. A encantaria que pensasse nela da mesma forma em que o tio Tate pensava em tia Carole. Dorothy Rae lançou seu ataque enquanto estavam sentadas na limusine esperando que chegassem os homens. Achava-se docilmente olhando pela janela as bandeiras vermelhas, brancas e azuis que ondeavam com o vento e, de repente, se dirigiu a Avery com um apito em sua voz como o de uma gata. -Encantou-te, verdade? A cabeça de Mandy descansava sobre o colo de Avery. A menina tinha cansado muito durante o comicio, de maneira que voltaram-se juntas ao carro antes de que acabasse o ato. Encontrava-se dormida já. Dorothy Rae, que as acompanhou ao carro, tinha permanecido tão calada que sua presença passava quase desapercibida. -Perdão, que tens dito? -perguntou distraída. -Tenho dito que bem que te encantou, eh? Escapava-lhe totalmente o significado dessas palavras. Sacudiu a cabeça, totalmente confundida. -Encantou-me que? -Encantou-te deixar a Jack como um imbecil esta manhã. Estava bêbada? Olhou-a com mais cuidado. Ao invés, parecia precisar desesperadamente uma copo. Tinha os olhos limpos, mas transmitiam o resplendor de alguém que se voltou louco. Segurava um umedecido lenço de papel entre as mãos.
-Que tenho feito para deixar a Jack como um imbecil? -Defender a Tate. -Tate é meu marido. -E Jack o meu! Mandy acordou-se, ainda que, após abrir os olhos uma vez, voltou a dormir-se de imediato. Dorothy Rae baixou a voz: -Isso não te impediu fazer todo o possível por me o tirar. -Não tenho tentado tirá-lo de você. -Ultimamente não, quiçá - reconheceu, se esfregando os olhos chorosos com o lenço de papel-, mas antes do acidente o tentavas. -Avery não disse nada, e Dorothy Rae continuou-: O que o converte em um ato despreciável é que não te interessava para valer. Assim que começou a fazer-te caso, recusaste-o. Não se importava que suas rejeições destroçassem o seu ego. Só querias ferir a Tate seduzindo a seu irmão. Avery não podia negar tão horríveis acusações porque seguramente eram verdade. Carole não teria vacilado em deitar com o irmão de seu marido ou, sem chegar a isso, em deixar claro que estaria disposto ao fazer. Obteria um grande prazer só com o dano e a falta de harmonia criada no seio da família. Quiçá todo aquilo fosse parte do plano de Carole para destroçar a Tate. -Não desejo nada de Jack, Dorothy Rae. -Porque não é o homem importante. -Com a mão agarrou o braço de Avery como se fosse uma garra-. Nunca o é. Nunca o foi. Já o sabias, por que não o deixaste em paz? Como te atreves a jogar desta maneira com a vida da gente? Avery desprendeu seu braço da mão da outra mulher. -Alguma vez você lutou comigo por ele? Dorothy Rae não estava preparada para um contra-ataque. Ficou olhando a Avery estupefata. -Que? -Tentaste alguma vez lutar comigo para conseguir a Jack, ou simplesmente se embebeda até ficar alcoolizada e deixar que as coisas. passem? O rosto de Dorothy Rae começou a mover-se convulsivamente. Seus olhos vermelhod aumentaram de cor e encheram-se ainda mais de lágrimas. -Não é muito amável o que acabas de dizer. -A pessoas tem sido amáveis com você a muito tempo. Todos os membros da família se omitem de tua doença. -Não tenho uma... -Tens uma doença, Dorothy Rae. O alcoolismo é uma doença. -Não sou uma alcoólatra! -gritou chorando, repetindo as negativas que sua própria mãe utilizou durante anos-. Tomo uns copos... -Não, bebes para embebedar-se, e se mantêm nesse estado. Se auto compadeces continuamente e, depois, se perguntas por que teu marido persegue a outras mulheres. Olhe-se. Estás feita um asco. Surpreende-te que Jack não se interesse por ti? Dorothy Rae tentou agarrar à maçaneta da porta. -Não tenho por que me ficar aqui e ouvir tudo isto. -Sim, sim tens que o fazer. -Dando a volta à situação, Avery segurou-a pelo braço e impediu que se marchasse-. Já é hora de que alguém te conte a verdade, de
que te faça acordar um pouco. Ninguém roubou o seu marido, foi você que o afastou de teu lado. -Isso não é verdade! Jurou que não foi por culpa minha que ele tinha se afastado. -Afastado? Dorothy Rae olhou-a desconcertada. -Não te lembras, Carole? Pouco depois de que tu e Tate se casaram. -Eu..., claro que me lembro -falou Avery-. Esteve fora uns... -Seis meses -completou Dorothy Rae, com grande tristeza-. Os seis meses mais longos de minha vida. Não sabia onde estava, que estava fazendo, se voltaria alguma vez. -Mas voltou. -Disse que precisava um pouco de tempo para clarear algumas coisas. Estava suportando muitas pressões. -Como que? Fez um gesto de impotência e desamparo. -Oh, as expectativas de Nelson com o escritório de advogados, a campanha de Tate, meu problema com o álcool, o de Fancy. -Fancy precisa uma mãe, Dorothy Rae. Sorriu sem alegria. -Mas não a mim. Odeia-me. -Como o sabes? Como sabes o que pensa de qualquer coisa? Falas com ela alguma vez? -Tento-o -gemeu-. É impossível. -Ela acha que ninguém a quer. -Avery soltou um breve suspiro-. E pode ser que tenha razão. -Eu a quero -protestou com firmeza Dorothy Rae-. Dei a ela tudo o que tem querido. -Permitiste-lhe todos os caprichos para a manter ocupada e para que sua educação não interferisse com teus copos. Você se lamenta pelos dois filhos que perdeu, em lugar do fazer pela que tem. Dorothy Rae mencionou o dos meninos que tinha perdido a noite em que saiu à luz o aborto de Carole. Depois, Avery inteirou-se dos detalhes por Fancy. Grande parte da infelicidade de Dorothy Rae era compreenssível. Avery inclinou-se sobre o assento do carro, tentando que Dorothy Rae a escutasse. -Fancy está brincando com fogo. Precisa de voêc. Precisa do pai. Precisa uma mão de ferro. Se Jack não se preocupasse tanto com a tua bebida, talvez teria mais tempo para ser de pai. Não o sei. Mas sim sei que, se não fazes algo, e cedo, seguirá se comportando da mesma maneira, seguirá fazendo coisas extravagantes para conseguir que lhe vejam. Um destes dias irá muito longe e acabará mau. Dorothy Rae apartou uma mecha de cabelo liso e pôs-se à defensiva. -Fancy sempre tem sido problemática, mais do que somos capazes de agüentar Jack e eu. Tem uma personalidade muito dominante. O único que faz é se comportar como uma adolescente, isso é tudo. -Para valer? Uma adolescente? Sabes que chegou a casa a outra noite após ter recebido uma surra de um tipo que se uniu em um bar? Pois sim -sublinhou, quando viu que Dorothy Rae empalidecía de incredulidade-: Estou-me
comportando como uma psicóloga amadora, mas acho que Fancy pensa que não se merece nada melhor. Acha que não se merece que a queiram porque nunca ninguém a quis, ainda que tem tentado por todos os meios conseguir vossa atenção. -Isso não é verdadeiro -recusou Dorothy Rae, negando teimosamente com a cabeça. -Temo que seja verdadeiro. E ainda há mais. -Decidiu deixar de mostrar-se precavida. Afinal de contas, estava tentando salvar-lhe a vida à garota-. Está se deitando com Eddy Paschal. -Não acretido -susurrou Dorothy Rae-. Ele é tem idade para ser seu pai. -Vi-a abandonar sua habitação no hotel de Houston faz um par de semanas. -Isso não significa que... -Era o amanhecer, Dorothy Rae. Com só a olhar se via o que tinha estado fazendo toda a noite. Tenho razões para achar que o assunto segue. -Ele não faria uma coisa assim. Que Dorothy Rae não qüestionasse a moralidade de sua filha, senão a do amigo da família era um comentário triste. -Está fazendo. Dorothy Rae demorou uns minutos em assimilar a informação; depois, olhou a Avery com olhos iracundos. -Boa és tu para lhe atirar pedras a minha filha. -Não me entendeste. Não julgo a moralidade de tua filha; estou preocupada por ela. Achas que um homem como a Eddy se interessa por algo mais do que para o sexo? À luz de sua amizade com Tate, achas que continuará está relação durante algum tempo ou que deixará que se converta em algo mais importante? Não. O que realmente me preocupa é que Fancy acha que está apaixonada e, se ele a abandona, a rejeição só servirá para aumentar a baixa opinião que tem de si mesma. Dorothy Rae jogou-se a rir com ironía. -Se algo tem minha filha é uma grande opinião de si mesma. -Por isso anda se envolvendo com desconhecidos e deixa que a comam? Por isso vai de um homem a outro e permite que a usem para qualquer coisa? Por isso tem escolhido a um homem que nunca será para ela?,-Moveu a cabeça em sentido negativo-. Não, Fancy não se quer nada a si mesma. Está-se castigando por ser uma pessoa incapaz de inspirar amor. Dorothy Rae continuou esmagando o já desfiado lenço de papel. Baixinho comentou: -Nunca tenho podido a controlar. -Porque és incapaz de controlar a você mesma. -És cruel, Carole. Avery teve vontade de agarrar à mulher e sacudí-la. Queria dizer-lhe: não, não sou cruel, não o sou; só te estou dizendo isto por teu próprio bem. Em mudança, contestou como o tivesse feito Carole: -Simplesmente estou cansada de que todo mundo me culpe pelo mau estado de teu casamento. Faz de esposa a Jack e deixa de chorar. -Pára que serviria? -perguntou desmotivada -. Jack odeia-me. -Por que dizes isso?
-Já sabes por que. Porque acha que menti para me casar com ele. Eu realmente achava que estava grávida. Tinha-me atrasado. -Se Jack a odiasse -argumentou Avery-, achas que continuaria casado contigo durante todos estes anos? Teria voltado após uma separação de seis meses? -Se Nelson o obrigaria, sim -repôs com tristeza. Ah, Jack sempre fazia o que lhe dizia seu pai. Estava unido a sua mulher por dever, não por amor. Ele era o cavalo de ônus; Tate, a pura raça. O desequilíbrio podia chegar a engendrar muito ódio. Quiçá Jack tivesse encontrado finalmente uma forma de vingar de seu irmão e daqueles pais que favoreciam a esse irmão. Avery considerou a Dorothy Rae desde um ponto de vista diferente e admitiu que quiçá ela também se desse à bebida se encontrasse com um casamento sem amor e que permanecia unido simplesmente por ordens do patriarca. A situação era especialmente desmoralizante para Dorothy Rae, que evidentemente amava muito a Jack. -Toma. -Sacou um lenço de papel limpo da bolsa e o passou a Dorothy Rae-. Limpa-te os olhos. Põe-te um pouco de blush. Justo quando terminava, Fancy abriu a porta do carro e se meteu dentro. Sentou-se em um dos assentos diante das duas mulheres. -Deus, esta campanha já cheira! Olha como me deixou o cabelo o vento. Dorothy Rae olhou a Avery com certa insegurança. Esta manteve uma expressão impassível. Dorothy Rae armou-se de coragem e voltou-se para sua filha. -Não deverias utilizar essa linguagem, Fancy. -Por que não? -Porque não é correto em uma senhorita, por isso. -Uma senhorita? De acordo, mamãe -comentou, com um grinido desavergonhado. Continue a se enganar, e beba um copo enquanto o fazes. -Abriu um pedaço de chiclete e o colocou na boca-. Quanto tempo mais vai durar isto? Onde está a rádio neste carro? -Preferiria que não a pusesses, Fancy -disse Avery-. Acordará a Mandy. Amaldiçoou baixinho e pôs-se a chocar as pontas de suas botas de cor vermelho. -Terás que te pôr algo mais apropriado para o comicio desta noite -lhe advertiu Dorothy Rae, olhando o bem formados, mas as coxas nuas da sua filha. Fancy jogou os braços pelo assento de detrás. -Ah, sim? Pois não tenho nada apropriado. Graças a Deus. -Quando regressemos ao hotel, olharei o que trouxe e verei... -Um caralho farás isso! -exclamou Fancy-. Me porei o que me der vontade. Ademais, já te disse que não tenho nada... -Por que não vão as duas as compras esta tarde? -Ambas ficaram olhando a Avery, claramente surpreendidas pela repentina proposta-. Estou segura de que encontrarias um vestido apropriado, e que ao mesmo tempo fosse moderno. Eu não posso ir, claro está, mas as duas poderiam tomar um táxi e ir a uma galería comercial enquanto a Tate fazem a entrevista para a televisão. De fato acrescentou, notando sua vacilação-, eu tenho uma lista de coisas que poderíeis me trazer se forem. -Quem disse que vou ? -perguntou Fancy, enfadada. -Gostarias, Fancy?
Fancy olhou rapidamente a sua mãe, que tinha falado baixinho, quase com timidez. Estava claramente surpreendida. Via desconfiança nos olhos, mas também curiosidade. Avery detectou uma ligeira vulnerabilidade depois dessa fachada mundana. -Por que não vamos? -insistiu Dorothy Rae com voz trémula-. Faz anos que não temos feito algo assim juntas. Quiçá eu também me compre um vestido novo, se me ajudas ao escolher. Abriram-se os lábios de Fancy, como se estivesse a ponto de recusar a ideia. No entanto, após duvidá-lo uns segundos, retomou a atitude de importa-me um rábano. -Claro, se queres, irei. Por que não? Olhou pela janela e viu a Eddy conduzindo ao grupo de novo para a limusine. Agregou: -Com toda segurança não há nada melhor que fazer.
Capitulo Quarenta -Olá, senhor Lovejoy. Vão estava inclinado, trabalhando com sua câmera. Levantou a cabeça e apartouse os longos cabelos da cara. -Oh, olá, Av..., senhora Rutledge. -Que alegria vê-lo de novo. -Igualmente. -Introduziu uma fita virgem na câmera e a colocou sobre o ombro-. Senti saudades durante a primeira semana da viagem, mas vejo que a família se voltou a reunir. -Sim, o senhor Rutledge queria que o acompanhássemos. -Sim? -Olhou-a de relance, com malícia-. Que bonito. Avery olhou-o por sua vez com reprovação. Ainda que tinha visto a Van várias vezes durante o dia e saudavam-se com a cabeça, não tinha tido oportunidade de falar com ele. A tarde passou como um nevoeiro, especialmente após seu esclarecedora conversa com Dorothy Rae. -Como vai tudo? -perguntou Van. -A campanha? É um trabalho esgotador. Tenho apertado milhares de mãos hoje, e isso é só uma fração do que tem feito Tate. Não a surpreendia o ter encontrado tão cansado quando chegou a Fort Worth a noite anterior. No entanto, ante as multidões de seguidores devia mostrar-se fresco e entusiasta. Essa era a última compromisso do dia. Apesar do banquete ter terminado oficialmente, o palco se achava abarrotado de pessoas que tinham aplaudido seu discurso e queriam o conhecer pessoalmente. Se compadecia das exigências às que estava submetido após um dia tão longo, mas se alegrava de ter a oportunidade de desaparecer e se encontrar com Van. -Disseram-me que despediu àqueles abutres de Wakely and Foster.
-As notícias viajam depressa. -Paschal deu um comunicado a esse efeito. Se quer saber minha opinião, Rutledge não se adiantou nem um minuto. Conseguiam o que era quase impossível se acercar a ele. Era como colocarr com um pneu de aço na roda em vez de com uma borracha normal. Avery esperou que ninguém a seu ao redor tivesse ouvido o comentário. Era uma frase que utilizaria com um colega de trabalho, mas não algo apropriado para dizer diante da esposa de um candidato ao Congresso. Rapidamente mudou de tema: -Os anúncios publicitários que gravou você no rancho saem agora na televisão. -Viu-os? -Excelente fotografia, senhor Lovejoy. Viram-se os dentes torcidos quando sorriu. -Obrigado, senhora Rutledge. -Reconhece a alguém aqui? -perguntou, examinando distraidamente a multidão. -Esta noite não. -A forma em que sublinhou a primeira palavra fez que Avery voltasse rapidamente a mirada para ele-. Tinha algumas caras conhecidas entre a multidão esta tarde. -Sim? -Ela tinha estudado cuidadosamente aos reunidos e, com grande alívio por sua vez, não tinha visto a Cabelo grisalho. Evidentemente, Van sim que o tinha visto-. Onde? Aqui no hotel? -Em General Dynamics, e de novo na base aérea de Carswell. -Entendo -disse intranqüila-. É a primeira vez durante esta viagem? -Sim -assentiu, movendo a cabeça-. Terá que me perdoar, senhora Rutledge. O dever me chama. O redator está me fazendo sinais, tenho que me ir. -Oh, sinto tê-lo prendido, senhor Lovejoy. -Nenhuma moléstia. Estou a sua disposição. -Apartou-se dela vários passos e, a seguir, deu meia volta-. Senhora Rutledge, parou para pensar que alguém tenha vindo aqui vê-la e não, digamos, a seu marido? -A mim? -É só uma idéia, mas vale a pena a ter em conta. Os olhos de Van telegrafaram um aviso. Minutos depois, foi absorvido pelo constante movimento da gente. Avery ficou muito quieta e deu voltas e voltas na cabeça à teoria de Van. Permaneceu impenetrável à agitação da multidão, ao ruído e ao alarido, e inconsciente do fato de que alguém, ao outro lado do salão, a observava se perguntando de que teriam falado durante tanto tempo o desastrado câmera de televisão e Carole. -Jack -Sim? -Fixaste em meu penteado? Dorothy Rae estava admirando seu rosto pela primeira vez em tanto tempo que nem sequer o recordava. Em sua juventude, quando era a garota mais popular do instituto de Lampasas, olhar no espelho constituía seu principal passatempo. Mas durante anos tinha tido pouco que admirar. Jack, deitado na cama do hotel lendo o jornal, contestou de um modo mecânico: -É bonito. -Hoje Fancy e eu passamos na frente de um elegante salão nas galerías
comerciais. Já sabes, um desses lugares onde todas as cabeleireiras vão vestidas de negro e levam vários brincos em cada orelha. -Jack gruniu-. De repente, disse: Fancy, vou me colocar bonita. De maneira que entramos e uma das garotas arranjou-me o cabelo, me maquiou e fez-me as unhas. -Já. Observou-se no espelho, movendo a cabeça de um lado a outro. -Fancy diz que deveria clarear o cabelo um pouco, justo aqui, ao redor da cara. Diz que me rejuvenecería uns quantos anos. Que te parece? -Acho que não me tomaria muito em sério nenhum conselho de Fancy. A naciente auto confiança de Dorothy Rae murchou-se um pouco, mas resistiu a tentação de ir ao bar e servir-se um revitalizante copo. -Tenho..., tenho deixado de beber, Jack -soltou de boas a primeiras. Jack baixou o jornal e olhou-a de pés a cabeça pela primeira vez aquela noite. Levava o cabelo mais curto e mais ondulado, coisa que resultava atraente. O maquiagem, sutilmente aplicada, tinha umedecido os secos sulcos de seu rosto corroído por rios de vodka, acrescentando cor à aridez anterior. -Desde quando? A recém encontrada confiança ficou ainda mais seca por causa de seu ceticismo, mas com valentia manteve a cabeça erguida. -Desde esta manhã. Jack dobrou os jornais e atirou-os ao solo. Estendeu o braço ao interruptor do lustre do criado-mudo e disse: -Boas noites, Dorothy Rae. Ela se acercou à cama e voltou a acender a luz. Jack olhou-a surpreendido. -Estou falando sério, Jack. -Sempre que deixa de beber você diz que é sério. -Desta vez é diferente. Vou ingressar em um desses hospitais aos que tu sempre querias que fosse. Após as eleições, por suposto. Sei que agora não seria bom momento para que um membro da família de Tate ingressasse em um hospital para bêbados. -Não és uma bêbada. Ela sorriu com tristeza. -Sim, o sou, Jack. Claro que o sou. Deverias ter-me obrigado a admití-lo faz tempo. -Estendeu a mão e timidamente tocou-lhe o ombro-. Não te estou jogando a culpa a ti. Eu sou a única responsável por me ter convertido no que sou. A seguir, seu formoso queixo, que de alguma forma tinha resistido os estragos do álcool e da tristeza, se elevou um grau mais. Mantendo naquele ângulo orgulhoso, em seu rosto apareceram os traços da rainha de beleza que foi e da vivaz estudante, da que ele se apaixonou. -Vou deixar de ser uma bêbada inútil. -Já veremos. Não parecia muito otimista, mas ao menos estava prestando atenção, que já era algo. A metade das vezes não a escutava, porque quase nunca dizia nada que interessasse. Obrigou-o a apartar-se um pouco para que ela pudesse sentar à beira da cama a seu lado, com as mãos modestamente sobre o colo. -Temos que vigiar mais a Fancy.
-Boa sorte -gruniu. -Sou consciente de que não podemos a atar. É adulta. -E já tem ido muito longe. -Quiçá. Espero que não. Quero que saiba que eu importo com sua vida. -Seus lábios separaram-se em um pequeno sorriso-. De fato, esta tarde entendemosnos. Ajudou-me a escolher um vestido novo. Olhou no que ela vestia esta noite? Segue sendo moderno, mas conservador para seus costumes habituais. Inclusive Zee fixou-se nela. Fancy precisa uma mão de ferro, é a única forma de que se dê conta de que a queremos. -Fez uma pausa, olhando-o dubitativamente-. E quero te ajudar. -Ajudar-me a que? -A recuperar-te de suas desilusões. -Desilusões? -Principalmente Carole. Não tens que admitir ou negar nada -acrescentou rapidamente-. Estou completamente serena agora, mas sei que teu interesse por ela não era simplesmente uma imaginação minha. Se a relação consumou-se ou não, não me importo em absoluto. Não posso te culpar por me ser infiel. Em algumas ocasiões amava o copo tanto quanto te amava, e quiçá mais. Sei que está apaixonado por Carole, ou enrrabichado ao menos. Ela te utilizou e te fez dano. Quero ajudar-te a esquecê-la. E quero ajudar-te a que esqueças as outras desilusões, como a que tiveste esta manhã quando Tate enfrentou a tua decisão de manter aos conselheiros. Recobrando valor, tocou-lhe a cara desta vez. A mão tremia só um pouco. -Tanto os demais reconhecem ou não o grande homem que és, eu sim o reconheço. Tu sempre tens sido meu herói, Jack. -Vá herói -debochou-se ele. -Para mim o és. -De que vai tudo isto, Dorothy Rae? -Quero que voltemos a nos amar. Olhou-a durante um longo momento, com mais atenção da que lhe tinha prestado durante anos. -Duvido que isso seja possível. O tom de derrota assustou-a. De todos modos, lhe dedicou um tímido sorriso. -O tentaremos juntos. Boas noites, Jack. Apagou a luz e deitou-se a seu lado. Ele não respondeu quando passou os braços a seu ao redor; mas também não apartou-se, como costumava fazer. A insônia era a norma desde que Carole tinha regressado do hospital. De fato, essas noites de vigilância resultavam preciosas, porque a noite tinha-se convertido no melhor momento para pensar. Sem ninguém ao redor, sem movimento nem ruído para entorpecer o cérebro. O silêncio engendrava a perspicacia. O que obviamente não lhe trazia era lógica, pois, por muito que analisava os dados, a hipótese «lógica» resultava absurda. Carole não era Carole. O porqué e o como importavam, mas não tanto como o indubitável feito de que Carole Navarro Rutledge tinha sido substituída por outra pessoa. A amnesia parecia a única outra possibilidade para explicar a mudança completa de personalidade. Isso explicaria a razão pela qual se tinha voltado a apaixonar de seu marido, mas não seria uma razão para as mudanças em sua personalidade.
Sua atual personalidade só fazia sentido se resultava ser uma mulher completamente diferente. Carole não era Carole. Então, quem era? A pergunta atormentava-o, porque tinha muito em jogo. O plano que tinha levado tantos anos organizar estava a ponto de se fazer realidade..., a não ser que resultasse frustrado por uma impostora. Todos os elementos estavam ativados. Demasiado tarde para dar atrás, inclusive se desejasse-se; e não era o caso. A doce vingança requeria às vezes sacrifícios amargos. Não se ia privar da vingança. De todos modos, até o momento em que se levasse a cabo, essa Carole, essa impostora devia ser vigiada. Parecia bastante inocente, ainda que a precaução nunca era suficiente. Mas quem era e por que queria assumir a identidade de outra mulher, se era isso o que em realidade tinha ocorrido. Resultava desconcertante. Assim que regressassem a casa, deviam encontrar-se respostas a essas perguntas. Quiçá teria que lhe colocar uma cenoura mais adiante do focinho, só para ver como reagia, a quem pedia ajuda. Sim, era imprescindível deixar uma mensagem mais, que não suspeitasse que tinha sido descoberta. O sócio estaria completamente de acordo. Todos os movimentos de Carole a partir de agora deviam se estudar cuidadosamente. Tinham que descobrir sua identidade. Um ponto de partida seria ver quem faleceu no acidente do vôo 398... e quem sobreviveu. -Bons dias. -Olá, Jack. Senta-te. Tate fez um gesto para que seu irmão se sentasse na cadeira em frente a ele e chamou ao camarero para que lhe servisse um pouco de café. -Não estás esperando a ninguém? -Não. Carole e Mandy ficaram dormindo esta manhã. Eu me levantei, saí a correr e já estava vestido quando acordaram. Carole disse que não as esperasse e que foram tomar café da manhã. Não gosto de comer sozinho, de maneira que me alegro de que estejas aqui. -Ah, sim? -Dirigiu-se ao camareiro-: O café da manhã número três. Que o bacon esteja bem frito, e substitua as batatas pelo milho, faz favor. -Em seguida, senhor Rutledge. -Sai a conta ter um irmão famoso -comentou Jack, enquanto afastava o camareiro com o pedido-. Tens garantido melhor serviço. Tate estava recostado na cadeira, as mãos formando um punho à cada lado de seu prato. -Importa-te dizer-me que queres dizer com isso? –Com que? Jack jogou dois envelopes de açúcar no café. -Isso de se alegrar em tomar café da manhã contigo. -Pensei que após ontem... -Ontem foi um dia estupendo. -Refiro-me à reunião com Dirk e Ralph. -De maneira que segues enfadado porque despedi-os? -É tua campanha -se evadiu Jack, com um insolente encolhimento de ombros.
-É nossa campanha. -Um caralho! Tate estava a ponto de refutar quando apareceu o camareiro com o café da manhã de Jack. Esperou que estivessem de novo sozinhos, se inclinou sobre a mesa e disse em um tom de voz suave e apaziguador: -Não estava desprezando tua decisão, Jack. -Isso é o que me pareceu a mim. Aos demais, também. Tate ficou olhando fixamente os restos frios de seus muffins e da salchicha, mas não voltou a segurar o garfo. -Sinto que tenha tomado as dores, mas a tática dessa gente não estava funcionando comigo. Fiz-te caso a ti, a Eddy, a papai, mas... -Mas deixaste-te convencer por Carole. Tate ficou surpreendido pelas palavras de Jack. -Que tem ela que ver com tudo isto? -Dize-mo tu. -É minha esposa. -Esse é problema teu. Tate não tinha vontade de falar de seu casamento com seu irmão. Enfrentou o verdadeiro problema. -Jack, meu nome é o que aparece no voto. Ao final, eu sou o único responsável por como se leva minha campanha. Se elegem-me, terei que responder por minha atuação no Congresso. Tate Rutledge -sublinhou-, ninguém mais. -Entendo-o. -Então, trabalha comigo e não contra mim. -Esquentando com o tema, apartou o prato e descansou o antebraço no borda da mesa-. Não sou capaz de fazer tudo isto só. Demônios, não achas que sei o muito que te dedicaste à campanha? -Mais que nada neste mundo, quero te ver eleito. -Já o sei, Jack. És meu irmão. Eu te quero. Aprecio tua teimosia, teu espírito de sacrifício e todos os detalhes que te ocupas, e não faz falta que os enumere todos. Dou-me conta, seguramente mais do que te imaginas, de que eu estou sentado sobre o cavalo branco enquanto tu estás lá abaixo limpando a merda. -Eu nunca tenho querido montar o cavalo branco, Tate. Só quero que se me reconheça que limpo a merda bastante bem. -Mais que bem. Lamento que não estivéssemos de acordo nesse ponto ontem, mas às vezes tenho que guiar por meu instinto, apesar do que aconselheis tu e os demais. Gostarias que fosse de diferente? Seria um bom candidato ao Congresso se resultasse tão fácil convencer-me de algo porque é popular, rápido e conveniente, ainda que eu estivesse na contramão disso? -Suponho que não. Tate sorriu timidamente. -Em uma análise final, eu sou o que expõe o cu ao mundo, Jack. -Só que não esperes que me incline e o beije quando não estou de acordo com algo. Os dois irmãos jogaram-se a rir. Jack foi o primeiro em pôr-se sério de novo. Chamou ao camareiro para que retirasse os pratos e lhes servisse mais café. -Tate, já que estamos deixando as coisas claras... -Diga.
-Tenho a impressão de que as coisas vão melhor entre Carole tu. Tate olhou com firmeza a seu irmão e, depois, apartou a vista. -Um pouco. -Bom, isso..., isso é bom, suponho. Enquanto tu sejas feliz. Brincou com uma pacotinho de açúcar. -Por que tenho a impressão de que esconde algo? Jack limpou a garganta e moveu inquieto na cadeira. -Não o sei, há algo... -Passou a mão pelo cabelo ralo-. Vais pensar que estou louco. -Tenta-o. -Há algo estranho nela. -Que queres dizer? -Não o sei. Demônios, tu dormes com ela. Se não te deste conta, isso é que eu estou imaginando. -Deteve-se, esperando ansiosamente uma confirmação ou uma negação, nenhuma das quais recebeu-. Viste-a falando com aquele tio da televisão ontem pela noite? -Que tio da televisão? -A câmera que esteve gravando os anúncios publicitários no rancho. -Chama-se Van Lovejoy. Está gravando minha campanha para KTEX. -Sim, sei-o. -Jack abriu amplamente as mãos e riu-se secamente-. Simplesmente, pareceu-me estranho que Carole tivesse tanto interesse em falar com ele ontem à noite, isso é tudo. Dirigiu-se diretamente a ele após deixar o palco. Não é exatamente seu tipo. -Tate rapidamente apartou a mirada-. O que quero dizer é... farfulló-, não é... Demônios, já sabes o que quero dizer. A voz de Tate foi tranqüila: -Sei o que queres dizer. -Bom, será melhor que volte acima e comece a acordar a Dorothy Rae e a Fancy. Eddy quer-nos a todos reunidos no vestíbulo, preparados para sair, às dez e meia. -Carinhosamente, golpeou o ombro de seu irmão ao sair-. Tenho-mo passado bem no café da manhã. -Eu também, Jack. Tate continuou olhando ausentemente pela janela. Carole tinha estado falando com Van Lovejoy outra vez a noite anterior. Por que? Não lhe tinha contado a seu irmão que anteriormente teve pelo menos uma conversa privada com o fotógrafo. Apesar de todas suas explicações posteriores, a conversa que mantinham na fronte do Adolphus dava a impressão de ser furtiva. Aquela vez se, se desculpou mentindo. Estava convencido de que mentia, mas depois a beijou, ela devolveu o beijo, e assim esqueceu do tema da discussão. As coisas iam muito bem entre eles; por que tinha que aparecer essa nuvem no horizonte? Suas relações sexuais nunca tinham sido tão boas nem tão satisfatórias. Era excitante, mas sempre o foi. Era sujo, mas sempre o foi; só que agora era como ter relações sexuais sujas com uma dama, o qual o convertia em algo muito melhor. Já não tinha pressa à hora das estimulações prévias. Já não susurrava palavras grosseiras. Não gritava como antes quando fingia se correr, senão apenas ofegava ligeiramente, coisa que parecia infinitamente mais excitante. E juraria que seus orgasmos eram genuinos. Tinha algo inovador em suas relações
amorosas, algo de intriga, como se fosse ilícito. Envergonhava-o pensar no tópico, mas a cada uma das vezes era como a primeira vez; sempre descobria algo nela que tinha passado desapercebido até aquele momento. Carole nunca foi modesta, nunca deu nenhuma importância ao fato de se passear nua; no entanto, ultimamente utilizava inventivamente a roupa interior, em vez da desnudez, para seduzí-lo. No dia anterior pela manhã, quando fizeram o amor no sofá do salão, ela fez qüestão de que fechasse antes as cortinas. Tate supunha que a timidez procedia das quase invisíveis cicatrizes nos braços e nas mãos. Essa virginal timidez o excitava. Seduzia ocultando. Ainda não tinha visto à luz o que acariciava na escuridão com as mãos e os lábios. E vá se o mistério não fazia que a desejasse mais que nunca! No dia anterior tinha passado pensando nela a todas horas. Pensamentos e imagens lascivas de Carole apareciam em sua mente à hora das sérias discussões e dos discursos apaixonados. A cada vez que se cruzavam a mirada pareciam estar pensando o mesmo, e isso era que queriam que o tempo decorresse com rapidez para poder voltar a ir à cama. Tate tinha desenvolvido o curioso costume de saber inconscientemente onde estava ela em todo momento, de medir a distância que os separava e de inventar razões para a tocar quando estava o suficientemente perto. Mas estava jogando com ele? Era a modéstia um jogo sexual? Por que tinha um inexplicável interesse naquela câmera de televisão? Por uma parte, Tate desejava respostas imediatas; mas, se as respostas significavam acabar com a paz, com a harmonia, e com o sexo, estava disposto a esperar indefinidamente a que chegassem as explicações.
Capitulo Quarenta e um Zinnia Rutledge estava olhando as fotografias emolduradas que penduravam da parede de por trás do aparador. Gostava desse escritório por causa das fotos. Podia olhá-las durante horas e nunca se cansava, ainda que, por suposto, não passava tanto tempo. As lembranças eram agridoce. Ao ouvir a porta abrir a suas costas, girou-se. -Olá, Zee. Assustei-te? Zee rapidamente fez desaparecer as lágrimas que inundavam os olhos e voltou a guardar seus sentimentos no panteão de seu coração. -Olá, Carole. Sim que me surpreendeu. Estava esperando Tate. Tinham planejado reunir-se ali, no escritório, e ir comer juntos; uma compromisso especial, os dois sozinhos. -Por isso me enviou. Temo ser a portadora de más notícias. -Não pode vir -disse Zee, com evidente desilusão. -Temo-me que não. -Ocorre algo? -Não exatamente. Tem tido uma disputa trabalhista no departamento de polícia de Houston. -Sim, já o sei. Tem saído em todos os jornais.
-Bom, pois esta manhã as coisas pioraram. Faz uma hora, Eddy decidiu que seria melhor que Tate se acercasse por ali, avaliasse a situação e fizesse uma declaração. As últimas pesquisas mostram que Tate vai ganhando terreno. Agora se encontra a só cinco pontos de Dekker. Esta explosiva situação em Houston era uma ocasião perfeita para que Tate divulgasse algumas de suas ideias, não só no que se refere aos trabalhadores contra os empresários, senão no que respeito à aplicação da lei. Têm ido em um avião privado e voltarão dentro de umas horas, mas não poderá comer contigo. -A Tate gosta de voar tanto como a seu pai -comentou com um sorriso triste-. Desfrutará da viagem. -Aceitarias uma má sustituta? O tímido convite sacou inesperadamente a Zee de seu estado meditativo. -Queres dizer comer contigo? -Seria algo tão terrível? Zee olhou a sua nora de cima a baixo, encontrando pouco que criticar. Carole tinha refinado sua imagem consideravelmente desde o acidente. Seguia vestindo com classe, mas punha mais ênfase no estilo que no atrativo sexual. A exuberancia de Carole sempre repeliu a Zee. Alegrava-se da mudança. Mas a mulher que tinha dentro dessa impecável vestimenta seguia sendo tão desagradável como no primeiro dia que se conheceram. -Será melhor que não. -Por que? -Nunca quis saber a qüestão dos temas, Carole. Zee colocou-se a bolsa sob o braço. -Por que não queres comer comigo? Tinha-se situado adiante da porta, impedindo que Zee pudesse fazer uma saída airosa. -Minha ilusão era ir comer com Tate. Entendo que tivesse que anular o compromisso, mas estou desiludida e não vejo razão para fingir que não é assim. Passamos muito pouco tempo juntos nestes dias, sozinhos ele e eu. -E isso é o que realmente te molesta? O pequeno corpo de Zee tensionou de imediato. Se Carole fazia qüestão de enfrentar-se, Zee estava disposta a seguir adiante. -Que quer dizer com isso? -Não suportas que Tate passe mais tempo comigo. Estás zelosa de nossa relação, que a cada dia é mais forte. Zee riu-se zombadoramente. -Te encantaria crer isso, verdade, Carole? Preferirias pensar que simplesmente estou zelosa quando sabes que me opus a teu casamento com meu filho desde o princípio. -Sim? -Não finjas não o saber. Tate sabe. Estou segura que ele falou sobre isso. -É verdade. E, ainda que não tivesse sido assim, saberia que não te caio nada bem. Não escondes bem teus sentimentos, Zee. Zee sorriu, mas era uma expressão triste. -Te surpreenderia quão bem oculto o que penso e sinto. Sou experiente. -Carole ficou perplexa, o qual alertou a Zee, que recompos sua expressão e acrescentou
friamente-: Tens feito um esforço para melhorar tua deteriorada relação com Tate. Nelson está encantado. Eu não. -Por que não? Sei que queres que Tate seja feliz. -Exatamente. E nunca será feliz enquanto estiver em suas garras. Verá, Carole, eu sei que todas tuas manifestações de carinho não são mais que maquinações. São falsas, igual a você. A Zee produziu uma pequena satisfação ver o rosto de Carole empalidecer sob a bem aplicada maquiagem. Seu tom de voz foi débil: -Falsa? Que queres dizer? -Pouco depois de que te casasses com Tate, quando pela primeira vez comecei a notar que ocorria algo entre vocês, contratei a um detetive particular. Uma bajeza, sim. Foi a experiência mais humillante à que já me submeti, mas o fiz para proteger a meu filho. O detetive era um personagem repulsivo, ainda que fez um trabalho estupendo. Como a estas alturas já podes te imaginar, me proporcionou uma grande quantidade de dados sobre tua vida antes de se converter em assessora jurídica da empresa Rutledge and Rutledge. -Zee notava como lhe subia a pressão arterial. Seu pequeno corpo tinha convertido em um incinerador, alimentado com o ódio que sentia para aquela mulher que, com a, fria manipulação de um espião do KGB, tinha deslumbrado a todos os homens da família, conseguindo que Tate se apaixonasse dela -. Não acho que seja necessário detalhar todo o asqueroso conteúdo do relatório, verdade? Só Deus sabe o que omite. Simplesmente, deixa que eu assegure que inclui tua época como dançarina de stripetease. Entre outras carreiras -agregou como em um aparte, enquanto lhe percorria um delicado calafrío-. Teus nomes artísticos eram graciosos, mas pouco imaginativos, pareceu a mim. O detetive deixou de pesquisar antes de chegar a descobrir o nome que te deram ao nascer, que, em qualquer caso, não tem nenhuma importância. Carole parecia estar a ponto de vomitar em qualquer momento. A dificuldade que tinha para engolir se ouvia no silencioso escritório, vazio a exceção delas duas. A secretária de Tate tinha saído a comer. -Contaste a alguém o de... esse relatório? Sabe-o Tate? -Não o sabe ninguém, ainda que em ocasiões me senti tentada a lhe mstrar, e especialmente agora que está voltando a se apaixonar de ti. Carole emitiu um suave suspiro. -Para valer? -Para o meu grande pesar, acho que sim. Em qualquer caso, está enfeitiçado, seguramente na contramão de seus próprios desejos. Está se apaixonando desta nova Carole que tem surgido como resultado do acidente de avião. Quiçá o próximo nome que devas utilizar seja Fénix, já que tens ressurgido das cinzas. Ladeou a cabeça e considerou a sua adversária durante uns instantes-. És uma mulher extremamente inteligente. Tua transformação, de bailarina dos bairros baixos a uma dama o suficientemente encantadora como para ser a esposa de um senador, é completamente surpreendente. Você teve que ter um grande planejamento, estudo e trabalho para conseguí-lo. Inclusive escolheste um apelido conservado nos muros do Álamo, um nome espanhol. Muito vantajoso para a esposa de um político texano: Mas esta mudança mais recente é ainda mais incrível que o primeiro porque pareces que você mesmo acredita. Quase poderias
chegar a convencer-me de que és sincera, até que comparo como te comportaste a manhã do acidente e como te comportas agora com Tate e com Mandy. Sacudiu a cabeça-. Ninguém pode mudar tão drasticamente, por muito inteligente que seja. -Como sabes que não tenho mudado por amor a Tate? Estou tentando ser o que precisa e quer. Lançando-lhe uma mirada, Zee apartou-a e atingiu a porta. -Sei tão bem como que meu nome é Zee que não és o que queres que achemos que és. -Quando vais divulgar o segredo? -Nunca. -Carole ficou totalmente surpreendida-. Enquanto Tate seja feliz, não o desiludirei. O relatório será um segredo entre nós. Mas começa a fazer-lhe dano de novo, Carole, e asseguro-te que te destroçarei. -Não podes o fazer sem destroçar também a Tate. -Não pretendo que a informação se faça pública. Educar a Tate com este relatório já me é o suficiente. Não permitirá que uma prostituta, ainda que se tenha reformado, eduque a sua filha. A mim também seria intolerável, mas a estas alturas não tenho direito. Quase nunca podemos verdadeiramente eleger. Uma mirada de absoluto desespero apoderou-se do rosto de Carole, que agarrou o braço de Zee. -Não pode dizer nunca a Tate. Faz favor, Zee, faz favor, não o faças. O mataria. -Essa é a única razão que me impediu o fazer até agora. -Apartou o braço da jovem-. Mas, crê-me, Carole, se chegasse o ponto em que tivesse que eleger entre um escândalo momentâneo ou o ver viver miseravelmente durante o resto de sua vida, elegeria sem dúvida a primeira opção. -Ao sair, acrescentou-: Estou segura de que fará todo o possível para encontrar o relatório. Não te molestes no destruir. Há um duplicado em uma caixa de segurança privada, que só posso abrir eu ou, em caso de minha morte, Tate. Avery abriu a porta principal com sua chave e, entrou na casa. - Mona? Mandy? Encontrou-as na cozinha. A bochecha com que roçou a Mandy estava quente. Tinha conduzido desde San Antonio com as janelas do carro baixadas, pois ardialhe a cara após o angustiante encontro com Zee. O ar fresco também tinha impedido as náuseas que experimentava a cada vez que pensava no acusador passado de Carole Navarro. -Está boa a sopa, carinho? -Sim -contestou Mandy, sorvendo uma colherada de sopa de frango com figado. -Não esperava que viesse ninguém a comer, senhora Rutledge, mas posso preparar algo. -Não, obrigado, Mona. Não tenho fome. -Tirou o abrigo e sentou em uma das cadeiras da cozinha-. Me iria bem uma caneca de chá, se não é demasiada moléstia, faz favor. Brincou nervosamente com as mãos até que a cozinheira pôs diante de si uma fumegante caneca de chá. De imediato esquentou os dedos com a caneca. -Passa bem, senhora Rutledge? Parece sufocada. -Estou bem. Só um pouco destemperada. -Espero que não tenha a gripe. Há uma epidemia.
-Estou bem -repetiu, sorrindo debilmente-. Acaba-te a fruta, Mandy, e te lerei um conto antes do cochilo. Tentou responder à contínua ladainha de Mandy, um sinal de seu progresso, mas sua mente voltava constantemente a Zee e à terrível informação que tinha sobre Carole. -Já acabou? Carregou os dois pratos vazios que Mandy lhe mostrava, acabou seu chá e conduziu a Mandy a sua habitação. Depois de ajudá-la a desatar os sapatos, pô-la sobre a cama e tampou-a com um edredom. Sentou-se a seu lado, com um grande livro infantil nas mãos. Quando ela era menina, seu pai lia um livro igual. Estava repleto de belas damas com cabelo longo e encaracolado, às que resgatavam heróis valentes e lindos que superavam todas as dificuldades. Ficava sob as mantas ou sentada sobre o colo de seu pai enquanto a voz dele a adormecia era uma das primeiras e mais preciosas lembranças de sua infância. Eram uns momentos cobiçados, aqueles nos que seu pai estava em casa e lhe fazia caso. Nos contos de fadas que lia, a princesa sempre tinha a um pai que a mimava. O bem sempre vencia às forças do mau. Quiçá por isso os chamavam contos de fadas. Supunham uma forma de escapar da realidade, onde os pais desapareciam durante meses intermináveis e na que, com demasiada freqüência, o mau saía vitorioso. Quando Mandy dormiu, Avery saiu da habitação e fechou a porta com cuidado. A cada tarde, Mona retirava a suas habitações durante um par de horas para ver as telenovelas e descansar um pouco antes de preparar o jantar. Não tinha ninguém em casa, mas Avery percorreu nas pontas dos pés a distância que separava a habitação de Mandy da asa da casa que Zee compartilhava com Nelson. Não pensou se era correto ou incorreto o que estava a ponto de fazer. Era uma terrível invasão da intimidade e seria impensável em qualquer outra circunstância. No entanto, sendo as circunstâncias as que eram, era absolutamente necessário. Encontrou o dormitório sem nenhum problema. Uma habitação muito agradável, protegida da forte luz outonal por uma persiana. A fragância a flores, que tanto associava com Zee, resultava sugestiva. Guardaria Zee um documento de tal importância no pequeno escritorio? Por que não? Parecia tão inocente como uma noviça. O que lhe ocorreria ao abrir? Nelson estava vendo os negócios do rancho em uma enorme mesa de outro quarto ao final do corredor. Não existia razão alguma pára que entrasse no aparentemente inocente escritorio de sua mulher. Avery tomou do tocador uma lima de unhas e com ela tentou abrir o pequeno fecho dourado do escritorio. Nem sequer tentou dissimular. Zee esperava que o buscasse, isso o tinha deixado claro. Não era um fecho muito forte, de modo que em poucos segundos abriu a gaveta do escritorio. No interior tinha várias caixas que continham papel de cartas com as iniciais de Zee, selos, uma agenda e duas delgadas biblias negras; uma, com o nome de Jack em letras douradas e a outra, com o nome de Tate. O envelope encontrava na parte de atrás. Avery sacou-o e abriu-o. Cinco minutos depois saiu da habitação, pálida e trêmula. Seu corpo inteiro tremia
como se estivesse paralítica. Tinha o estômago decomposto. O chá tinha-se azedado. Correu para seu próprio dormitório e fechou a porta com chave, apoiouse nela e inalou o ar com força. Tate. Oh, Tate. Se chegasse a ver alguma vez o asqueroso conteúdo do envelope... Precisava um banho. Rapidamente. Imediatamente. Tirou os sapatos e a camisola e abriu a porta do armário. Colou um grito. Apartando-se cambaleante do grotesco espetáculo, tampou a boca com ambas mãos, ainda que seguia tendo arcadas. Ao abrir a porta do armário, o cartaz eleitoral, seguro com um fio de cetim, tinha-se balançado como um corpo enforcado. Com pintura vermelha tinham pintado um balaço no centro da frente de Tate. A pintura cobria-lhe a cara, horrorosamente incongruente com seu sorriso. Escrito em grandes letras vermelhas sobre o cartaz lia-se: «No dia das eleições!» Avery correu ao banheiro e vomitou.
Capitulo Quarenta e dois -Foi horrível, muito desagradável. Avery estava sentada, com a cabeça inclinada sobre uma copo de conhaque que Irish disse que a ajudaria a se acalmar. O primeiro gole indesejado tinha-lhe produzido uma cratera no estômago vazio, mas não soltou o copo porque precisava sustentar algo entre as mãos. -Todo este maldito assunto é desagradável -gruniu o irascível anfitrião-. E acho isso desde o princípio. Não te avisei, Não o disse? -Ou seja que a avisaste. Mas deixa de fazer qüestão disso. Van estava fumando algo que Irish, muiito nervoso, não tinha notado que não era um cigarro normal. -Quem tem perguntado tua opinião? -Quereis parar os dois? -exclamou Avery cansadamente-. E Van, faz favor, queres apagar isso? O cheiro está me deixando doente. -Com os dedos esfregou os lábios, como se estivesse considerando se voltava ou não a vomitar-. O cartaz aterrorizou-me. Realmente tem intenção de fazê-lo. Soube-o o tempo todo, mas isto... Deixou o copo sobre a mesinha de café e se levantou, esfregando os braços. Levava camisola, mas não conseguia entrar em calor. -Quem é, Avery? Negou fortemente com a cabeça. -Não o sei. Qualquer deles. Não o sei. -Quem pôde entrar em tua habitação? -A primeira hora da manhã e antes de que regressasse ao meio dia, qualquer. Mona diz que teriam que instalar uma porta giratoria. Todo mundo entra e sai constantemente. À medida que acercam-se as eleições, vão e vêm a todas horas. -Como sabes que não te seguiram até aqui? -Estive vigiando pelo retrovisor e mudei de rota várias vezes. Ademais, não tinha
ninguém em casa quando saí. -Nenhuma pista no relatório que encontraste na habitação da velha? Avery respondeu à irreverente pergunta de Van com um sombrio movimento da cabeça. -Ela sim que é estranha. -Por que o dizes? -Gravei-a muitas vezes. Sempre está sorrindo e saudando à gente, mas me aposto qualquer coisa a que não é muito feliz. -Já sê o que queres dizer. É uma pessoa muito reservada e fala pouco. Pelo menos até hoje. -Nos fale sobre Carole Navarro -pediu-lhe Irish-. Interessa-nos mais que Zee Rutledge. -Carole, ou como se chamasse originalmente, era uma fulana. Dançava nos clubes mais sórdidos... -Bares de tetas -precisou Van. -E utilizava uma série de nomes picantes e sugestivos. Detiveram-na em uma ocasião por obscenidade e em outra por prostituição, mas ambos cargos se abandonaram. -Estás segura de tudo isto? -O detetive particular quiçá fosse um tipo asqueroso, mas era eficaz. Com a informação que forneceu a Zee, se tornou fácil encontrar alguns dos lugares nos que Carole tinha trabalhado: -Quando o fizeste? -quis saber Irish. -Antes de vir aqui. Inclusive tenho falado com algumas pessoas que a conheceram: outras bailarinas, chefes e gente assim. -Algum te confundiu com ela? -perguntou Van. -Todos. Fiz-me passar por uma prima desaparecida faz tempo, para explicar a semelhança. -Que te contaram? -Tinha rompido todos os laços. Ninguém sabia que se tinha feito dela. Um travestí com o que falei, coma ajuda de uma nota de vinte dólares, me disse que tinha comentado que ia abandonar a vida noturna, a iria estudar e a melhorar de vida. Isso é tudo o que recordava. Nunca voltou à ver após que deixasse de trabalhar no clube onde compartilhavam o palco. Isto é uma conjectura absoluta, mas acho que Carole experimentou uma transformação total, se refinou até entrar no escritório de advogados dos Rutledge e, uma vez dentro, viu a maneira de levar sua campanha de auto superação um passo mais adiante se casando com Tate. Lembras de meu programa de faz em vários anos sobre as prostitutas, Irish? perguntou de repente. -Quando estavas trabalhando em Detroit? Claro que o recordo. Enviaste-me a fita. Que tem que ver com tudo isto? -O perfil da personalidade daquelas mulheres é idêntico ao de Carole. A maioria delas dizem odiar aos homens. Ela seguramente não era diferente. -Isso não o sabes. -Não? Olha como tratava a Jack. Coqueteava com ele até o ponto de romper seu casamento, mas tenho a impressão de que nunca foi até o final; se isso não é malícia, já me dirás que é. Simplesmente como hipótese, digamos que não tinha
um grande conceito dos homens e decidiu pôr fim ao futuro de um que o tinha tudo a favor, enquanto aproveitava para melhorar sua própria imagem. -Não temia que alguém a reconhecesse, que seu escuro passado saísse à luz? Avery também tinha pensado em isso. -Não vês que isso teria sido o ponto final? Tate ficaria totalmente humilhado se revelasse o que era sua esposa antes de se casar com ele. -Deve de ser um verdadeiro imbecil -murmurou Van-, para ter caído nessa armadilha. -Não entendes o quanto calculista que era -assinalou Avery, saindo em defesa de Tate-. Ela se converteu em tudo o que ele podia desejar. Teceu uma armadilha, utilizando a si mesma como uma isca perfeita. Era linda, animada e sedutora. Mas, mais que isso, alguém que conhecia bem a Tate ensinou que botões tocar para converter o desejo em amor. -A pessoa que quer o matar. -Exato -assentiu Avery, movendo afirmativamente a cabeça em direção de Van, que tinha expressado em voz alta sua hipótese-. Deve achar igual a Zee, que Carole era uma oportunista. -Quando entrou em contato com Carole, por que não contou ela rapidamente a Tate? -Não estou segura -admitiu-. Minha teoria não está isenta de lacunas. Quiçá ser a desconsolada viúva de um homem público atraía-a mais que ser a esposa de um senador. -A mesma posição social, mas sem a inconveniencia do marido -observou Irish em tom especulativo. -Sim. Ademais, também não estava segura de que Tate chegasse ao Senado. Ou quiçá seu cúmplice fez que lhe resultasse economicamente rentável. Em qualquer caso, uma vez casados, era responsabilidade dela fazer a vida de Tate impossível, um trabalho que fez com perfeção. -Mas por que alguém que quer fazer a vida dele impossível? -perguntou Irish-. Sempre voltamos à mesma pergunta. -Não o sei. -A voz de Avery soava tensa pelo desespero-. Faria o que fosse para saber. -Que interpretas com esta última mensagem? Ela passou uma mão pelo cabelo. -Evidentemente vão atuar no dia das eleições. Uma pistola de algum tipo será a arma eleita. -Voto por isso. Sem nenhuma má intenção -acrescentou Van, divertido. Irish olhou-o irritado e a seguir dirigiu-se a Avery: -Não o sei. Nesta ocasião o simbolismo parece um pouco demasiado óbvio. -Que queres dizer? -Não estou seguro -admitiu, se mordendo o lábio. Despistadamente, tomou o copo de conhaque de Avery e bebeu um bom gole-. Que tem passado com a sutileza das mensagens anteriores? Ou está-te pondo a prova, ou é o filho de puta mais descarado que tenho conhecido. -Quiçá atue com descaramento porque já não tem quem possa deter o plano apontou Van, de mau humor-. Ocorrerá passe o que passe. Tudo está em seu lugar. -Como Cabelo Grisalho? -perguntou Avery.
Van encolheu-se de ombros. -Que há do que tens gravado hoje em Houston? Tem voltado a aparecer? perguntou-lhe Irish a Van. -Não. Não tenho visto o cabelo desde Fort Worth. Desde que Avery ficou em casa. Sua mirada tinha-se suavizado por causa da maconha, mas a forma em que olhou a Avery foi o suficientemente significativa como pára que se desse conta Irish. -De acordo, que é o que não sei? Avery se umedeceu os lábios. -Van acha que é possível que Cabelo Grisalho me esteja vigiando e não a Tate. A cabeça de Irish girou sobre sua grosso pescoço em direção ao cameraman -Que te faz pensar isso? -É só uma idéia. Um pouco absurda, mas... -Na cada uma das fitas está olhando a Tate -assinalou ela, com bom critério. -Difícil de saber. Sempre estás junto a ele. -Avery. -Irish tomou sua mão, obrigou-a a sentar-se no sofá e pôs-se em cócoras a sua frente. Cobriu-lhe as mãos com as suas-. Escuta-me bem. Tens que avisar às autoridades. -Eu... -Tenho dito que me escutasses. Agora cala e ouve o que te digo. -Tentou ordenar suas idéias-. Estás muito confusa. Sei por que o querias fazer. Era uma magnífica idéia, uma oportunidade que só se apresenta uma vez na vida para te fazer um nome e, ao mesmo tempo, salvar vidas. Mas tem-te escapado das mãos. Tua vida está em perigo. E enquanto permitas que isto continue, também o estará a de Rutledge. E a da menina. -Já que parecia receptiva ao raciocínio, sentou-se junto a ela no sofá, mas sem lhe soltar as mãos-. Avisemos ao FBI. -Aos federais? -exclamou Van. -Tenho um amigo no escritório local -continuou Irish, ignorando a Van-. Geralmente trabalha de paisana, buscando droga procedente de México. Este não é seu campo, mas poderia nos dizer a quem ir, nos aconselhar que fazer. Dantes de que acabasse, Avery já estava mexendo a cabeça: -Irish, não podemos. Não te dás conta? Se o FBI inteira-se, todos o saberão. Não te parece que levantaria suspeitas ver a Tate rodeado de repente de guardas armados ou de agentes do serviço secreto com óculos escuros? Teria que sair todo à luz. -É isso, verdade? -gritou ele enfadado-. Não queres que o saiba Rutledge! E não queres que o saiba porque terias que renunciar a teu cálido lugar a seu lado na cama. -Não! Não é por isso! -gritou-lhe ela a sua vez-. As autoridades poderiam protegêlo de gente que esteja fosse do círculo familiar, mas não da gente de dentro. E, como sabemos, a pessoa que o quer ver morto é alguém chegado a ele, alguém que supostamente o quer. É impossível avisar do perigo a Tate sem alertar ao inimigo também de que estamos sobre ele. -Aspirou profundamente, mas ainda não tinha acabado-: Ademais, se contasses-lhe esta história aos agentes governamentais, pensariam que ou bem mentes, ou bem estás louco. Supondo que acreditassem, imagina-te o que me fariam. -Que te fariam? -quis saber Van. -Não estou segura, mas enquanto pensassem, Tate estaria descoberto e seria
vulnerável. -Então, que pensas fazer? -perguntou Irish. Ela se cobriu a cara com as mãos e se jogou a chorar. -Não o sei. Van se levantou e ergueu seu surrada calça de couro. -Espera um pouquinho -Um pouquinho? Van respondeu à pergunta de Irish com um apático encolhimento de ombros: -Tenho revisado umas fitas de minha videoteca. -Pára que? -Tenho um pressentimento. Avery tomou-lhe a mão. -Obrigado por tudo, Van. Se vês ou ouves... -Te porei à par. -Ainda tens a chave da caixa de correios que te dei? -perguntou-lhe Irish. -Sim, mas pára que teria da precisar? Vejo-te todos os dias no trabalho quando estou na cidade. -Mas poderias também precisar me enviar algo quando estás fora com Rutledge, algo que fora melhor não enviar por correio à emissora. -Já entendo. Adeus. Tão cedo fechou-se a porta por trás de Van, Irish comentou pela fissura da boca: -Esse cabeça de vento! Oxalá tivéssemos um aliado mais fiável. -Não sejas duro com ele. Às vezes eu também perco a paciência, mas vale muito. Tem sido um bom amigo, e sabe Deus que preciso a todos os que possa. Consultou o relógio que Tate comprou; desde que Fancy o devolveu, não o tinha tirado-. Tenho que ir. Já é tarde. Tate faz perguntas quando me atraso, e já me estou ficando sem desculpas convincentes. Inclusive compras que pode fazer uma mulher têm um limite. Essa tentativa pouca convincente de apelar ao humor não obteve maiores resultados. Irish abraçou-a. Passou torpemente a enorme mão pelo cabelo quando ela descansou o peso da cabeça sobre seu ombro. -Você o ama -Nem sequer propô-lo como uma pergunta. Ela assentiu em silêncio-. Deus Santo -lhe susurrou no cabelo-, por que sempre tem que ser tudo tão putamente complicado? Ela fechou os olhos com força, e umedeceu de lágrimas a camisa. -Amo-o muito, Irish. Não sabes como dói. -Sei o que se sente. Avery estava demasiado absorta em sua própria miséria como para pensar no amor não correspondido de Irish por sua mãe. -Que vou fazer? Não posso dizer, mas também não posso proteger. Agarrou-se a Irish em busca de forças. Ele a abraçou e a beijou torpemente na testa. -Rosemary e seus quarenta e cinco quilos carregariam contra mim se soubesse que te deixo viver em uma situação tão perigosa. Avery sorriu contra a camisa molhada. -Não me estranharia. Deixou-me a teu cuidado. -Desta vez estou-a defraudando. -A apertou com mais força-. Temo por ti, Avery. -Hoje, após ver esse cartaz horripilante, estou um pouco atemorizada por mim
mesma. Ainda me considera uma conspiradora. Que Deus me ajude se em algum dia descobre o contrário. -Não o reconsiderarás e me deixarás chamar às autoridades? -Ainda não. Não até que possa apontar a alguém com o dedo e dizer: é esse. Irish separou-a um pouco e levantou-lhe o queixo: -Para então pode ser muito tarde. Não precisava que lhe dissessem, já o sabia. Podia ser já demasiado tarde tanto para salvar sua carreira de jornalista como para estabelecer um futuro com Tate e com Mandy, mas tinha que tentar. Voltou a abraçar a Irish na ombreira da porta dantes de dar boa noite, o beijou na roliça bochecha e saiu à noite. Estava tão escuro que nenhum dos dois perceberam o carro estacionado rua abaixo.
Capitulo Quarenta e três A viagem relâmpago a Houston para falar aos polícias descontentes foi um sucesso e significou para Tate três pontos nas pesquisas. A cada dia reduzia a margem entre o senador Dekker e ele. Dekker, acusando a pressão, começou a dar golpes baixos em seus discursos e descrevia a Tate como um perigoso liberal que punha em perigo «os ideais tradicionais aos que aspiramos como norte-americanos e como texanos». Teria sido o momento adequado para utilizar o aborto de Carole Rutledge contra seu oponente; provavelmente isso teria inclinado definitivamente a balança em favor de Dekker. Mas, fossem quais fossem as tática empregadas por Eddy com a chantagista, aparentemente tinham sido efetivas. Quando ficou claro que Dekker não conhecia o incidente, todos os integrantes do círculo mais próximo a Rutledge suspiraram com alívio. No entanto, Dekker contava com o apoio de um presidente em funções, que fazia um giro pelo Estado em prol de sua própria reeleição. Os partidários de Rutledge temiam que o aparecimento do presidente anulasse os difíceis progressos já atingidos. De fato, em Texas o presidente lutava por sua vida. Nos comicios nos que compartilhava o podio com Dekker tinham um sabor subliminar de carreira a julgamento, que se transmitia aos votantes indecisos. Em vez de sair prejudicado, Tate beneficiava-se da vigorosa campanha do presidente. O pano de fundo adquiriu ainda maior impulso quando o candidato presidencial da oposição chegou a Texas e fez campanha junto a ele. Depois de uma viagem esgotadora, mas estimulante a sete cidades em dois dias, todos no quartel geral de Rutledge se escalonavam por causa da vertigem preelectoral. Ainda que Dekker levasse ainda uma estreita vantagem a Rutledge nas pesquisas oficiais, a intenção de voto parecia ter mudado. Na rua dizia-se que Tate Rutledge levaria as eleições. O otimismo era maior que nunca desde que Tate ganhou as primárias. Todos estavam com esperanças.
Exceto Fancy. Perambulava pelas diversas dependências da sede da campanha, inclinando-se nas cadeiras quando estavam disponíveis, fazendo gestos de despreso para a atividade preelectoral e seguindo os movimentos de Eddy com um olhar ressentido. Levavam mais de uma semana sem encontrar a sós. Ele se mostrava totalmente indiferente a sua presença. A cada vez que Fancy engolia seu amor próprio e lhe cercava, ele não fazia mais que lhe atribuir alguma tarefa superficial. Inclusive puseram-na ao telefone e encarregaram-lhe chamar aos votantes registrados para instar-lhes a votar no dia das eleições. A única razão pela qual consentia em fazer aquele trabalho desmoralizante era porque podia ter a Eddy à vista. A alternativa supunha ficar em casa e, singelamente, não o ver. Ele andava constantemente em movimento, dando ordens como um sargento instrutor e se enojando quando não se cumpriam de imediato. Parecia viver de café, bebidas enlatadas e comida de máquina. Era o primeiro em chegar pela manhã e o último á sair a noite, se é que ir embora. No domingo prévio ao dia das eleições, os Rutledge mudaram-se ao Palácio do Rio, um hotel de vinte e duas plantas a orlas do rio, no centro de San Antonio. Desde ali seguiriam a cantagem eleitoral dois dias mais tarde. A família imediata de Tate acomodou-se na Suite Imperial, no vigésimo primeira planta. Aos demais parentes atribuiu-lhes as habitações contiguas. Instalaram-se vídeos em todos os televisores, para gravar os telediarios e os comentários e os analisar posteriormente. Instalaram-se também linhas telefônicas adicionais. Colocaram guardas de segurança nos elevadores, mais para proteger a privacidade do candidato que ao candidato mesmo. No mezanino, mais vinte andares abaixo, os trabalhadores cobriam as paredes do Salão Corte Real com bandeiras vermelhas, brancas e azuis. Na parede traseira colocaram fotos enormes de Tate. Decoravam o palco com bandeiras e crisantemos brancos envolvidos em celofane vermelho e azul. No teto penduravam uma enorme malha com milhares de balões que se soltariam no momento adequado. Acima do estrépito e a confusão gerados por amáveis empregados do hotel, meticulosos técnicos de televisão e escurridizos instaladores de telefone, Eddy tentava fazer-se ouvir no recibidor da suite de Tate aquela tarde de domingo. -De Longview a Texarkana. Ficas uma hora e meia como máximo e daí a Wichita Falls, a Abilene e de volta a casa. Deverias chegar... -Papai! -Tate, por amor de Deus! Eddy baixou a prancheta que estava consultando e exalou sua irritação como fumaradas nocivas. -Cala, Mandy. Tate levou-se um dedo aos lábios. A menina tinha permanecido sentada em seu colo durante a roda de imprensa, mas sua capacidade para não chamar a atenção se tinha esgotado fazia muito. -Escutas-me, ou que? -Escuto-te, Eddy. Longview, Wichita Falls, Abilene, casa. -Esqueceste Texarkana. -Minhas desculpas. Estou seguro de que tu e o piloto não. É aonde se plantam
bananas? -Santo Deus! -exclamou Eddy-. Estás a dois dias de umas eleições para senador e só se te ocorre pensar em bananas. És demasiado despreocupado! Tate aceitou tranqüilamente de sua esposa uma banana e a descascou pára Mandy. -Estás demasiado tenso. Relaxe, Eddy. Vai deixar a todos loucos. -Amém -entoou Fancy com voz melancólica desde onde estava, recostada no sofá, vendo um filme na televisão. -Primeiro ganha as eleições, depois relaxarei. -Voltou a consultar a prancheta-. Nem sequer lembra por onde ia. Ah, sim, amanhã chegarás a San Antonio para as sete e meia da tarde. Disporei todo pára que jante com a família em um restaurante local. -Poderei escovar os dentes? Digo, após jantar e antes de deitar-me. Todos se riram. Eddy não encontrou nenhuma graça. -Na terça-feira pela manhã viajaremos em grupo a teu distrito eleitoral em Kerrville, votaremos, voltaremos e nos armaremos de paciência. Tate tirou a casca da banana de Mandy, que andava afundando o dedo índice e se enchendo de porcaria a unha. -Vou ganhar. -Não te fies demasiado. Segues estando dois pontos por embaixo de Dekker nas pesquisas. -Lembra de quanto nos davam as pesquisas quando começamos - recordou Tate, virando um de seus olhos cinzas-. Vou ganhar. Com essa nota otimista concluiu a conversa. Nelson e Zee foram a sua habitação a recostar e descansar. Tate tinha que trabalhar em um discurso que ia dar pela tarde em uma igreja freqüentada por hispanicos. Dorothy Rae tinha convencido a Jack para ir juntos a dar um passeio pela ribera do rio. Fancy aguardou a que todos se dispersassem e seguiu a Eddy a sua habitação, separada por duas portas do posto de comando, como chamava ela à suite de Tate. Depois de golpear suavemente, ele perguntou: -Quem é? -Eu. Abriu a porta, mas nem sequer sustentou-lhe a passagem, senão que se voltou e se encaminhou ao armário, do que extraiu uma camisa limpa. Ela fechou a porta e jogou o ferrolho. -Por que não ficas assim? Inclinou-se para ele sedutoramente e lambeu uma das tetas com a ponta da língua: -Não me parece o mais adequado apresentar em um quartel geral de campanha sem camisa. Meteu os braços pelas mangas engomadas e começou a abotoar-se. -Vais ali agora? -Assim é. -Mas é domingo. Alçou uma sobrancelha. -Não me digas que tens começado a observar no dia do Senhor. -Tenho estado esta manhã na igreja, como tu.
-E pela mesma razão. Porque disse a todos que fossem. Não viste as câmeras de televisão gravando o fervor religioso de Tate? -Eu estava rezando. -Oh, sim, seguro. -Rogando para que se apodreça e caia seu pênis - revirou com furiosa paixão. O limitou-se a sorrir. Quando começou a colocar a camisa na calça, Fancy tentou o deter-. Eddy -gimoteó arrependida-. Não tenho vindo aqui a me brigar contigo. Sinto o que acabo de dizer. Quero estar contigo. -Então vêem ao quartel geral comigo. Estou seguro de que terá muito trabalho. -Não era trabalho o que tinha em mente. -Sinto-o, isso é o que há na agenda até o dia das eleições. Seu amor próprio não pôde agüentar mais: -Levas semanas mandando-me a passeio -queixou-se, apoiando os punhos nas cadeiras-. Que é o que te ocorre? -Pergunta a mim? -Passou um pente pelo cabelo cinza-. Estou tentando que elejam a teu tio Tate para o Congresso dos Estados Unidos. -Que lhe dêem por cu ao Congresso! -Já, já -comentou ele em tom irônico-. Se tivesses a oportunidade, lhe porias morados os ovos à cada membro da legislatura. Bem, agora me terás que desculpar. Encaminhou-se à porta. Ela fechou a passagem, lhe rogando outra vez: -Não te vás, Eddy. Ainda não. Fica-te um momento. Poderíamos pedir umas cervejas e rir-nos um pouco. -Esfregou-se contra ele, colando a pelvis à sua, e ronroneou-: Façamos o amor. -O amor? -debochou-se. Ela lhe agarrou uma mão e lha meteu baixo a saia e a levou ao meios de suas pernas. -Já estou molhada. Ele retirou a mão bruscamente e se abriu passo, colocando-a de lado. -Sempre estás molhada, Fancy. Vê com isso a outra parte. Agora mesmo tenho melhores coisas que fazer. Ficou olhando boquiabierta a porta fechada; depois, lançou o primeiro que encontrou a mão, que resultou ser um cenzeiro de cristal. Arrojou-o com todas suas forças, mas só acertou contra a porta e caiu com um ruído surdo sobre o tapete. Aquilo a enfureceu ainda mais. Nunca a tinham recusado de forma tão drástica. Ninguém, absolutamente ninguém recusava a Fancy Rutledge quando estava excitada. Saiu correndo da habitação de Eddy, ficou na sua o tempo necessário para pôr-se uma camisola ajustada e uns jeans ainda mais apertados, se dirigiu ao estacionamento do hotel e sacou seu Mustang. Não ia deixar de viver pela condenada carreira senatorial. -Sou eu. Alguma novidade? -Olá, Irish. -Van esfregou os olhos injetado em sangue enquanto segurava o fone no ouvido-. Acabo de entrar. Rutledge falou em uma igreja de sudacas esta noite. -Sei-o. Como saiu? -Desfrutaram mais que com uns tamales bem quentes. -Esteve Avery ali?
-Estavam todos menos a garota, Fancy; todos tão puros como o sabão Ivory. -Pôde-te falar Avery? -Não. Rodeava-os uma multidão de mexicanos. -E Cabelo Grisalho? Algum sinal dele? Van ponderó a conveniência de dizer a Irish a verdade, e finalmente fazer: -Esteve. Irish murmurou uns palavrões. -Não chamou a atenção como um polegar inchado, entre uma multidão de hispanos? -Esteve fora, lutando por conseguir um posto, como o resto de nós. -Fez se passar por jornalista? -Sim. -Acercaste-te a ele? -Tio alto, cara de mau. -De mau? -Implacável. Não é piada. -Cara de assassino. -É só uma conjectura. -Sim, mas não gosto, Van. Quiçá devêssemos chamar ao FBI sem dizer a Avery. -Nunca te perdoaria. -Mas seguiria viva. Os dois homens guardaram silêncio uns instantes, perdidos em seus próprios pensamentos e considerando possíveis alternativas, e voltaram à conversa com vigor. -Amanhã fica-te por aqui. Não é necessário que vás com Rutledge. -Supunha-mo -referiu Van a seu destino, após que Irish rompesse por fim o silêncio-. Estarei no aeroporto amanhã pela noite, quando volte. O comunicado de imprensa dizia que chegará às dezenove trinta. -Bem. Tenta estabelecer contato com Avery. Disse que é difícil chamar desde o hotel. -De acordo. -A manhã das eleições, vem-te primeiro ao escritório. Depois te enviarei ao Palácio do Rio. Quero que passes no dia colado a Avery como uma lapa. Se vê algo suspeito, seja o que seja, ao diabo com seus argumentos; avisa à polícia. -Não sou estúpido, Irish. -E ainda que amanhã seja teu dia livre -continuou Irish em tom amenazador-, não saias nem te metas em confusão. -Descuida. Tenho muito que fazer por aqui. -Sim? Que? -Sigo revisando fitas. -Já o mencionaste. Que buscas? -To direi assim que o encontre. Despediram-se. Van levantou-se o tempo suficiente para aliviar no banho e depois voltou ao vídeo, onde tinha passado quase a cada hora livre durante os últimos dias. O número de fitas que ficava por revisar se reduzia a cada vez mais, mas não o bastante rápido. Ficavam-lhe horas de trabalho. Aquilo que buscava nem sequer tinha identidade. Como tinha dito a Irish, não
saberia que era até que o visse. Provavelmente, tão só uma grande perda de tempo. Já que tinha sido o bastante estúpido como para começar esse projeto desatinado, podia ser também o bastante estúpido como para o terminar. Deu uma tragada no baseado, acompanhou-a com um gole de cerveja e introduziu outra fita no aparelho. Irish fez um gesto ante o copo de antiácido que se tinha obrigado a beber. O gosto fez-lhe estremecer. Já devia estar habituado, já que o tomava em quantidades industriais. Avery não o sabia. Ninguém o sabia. Não queria que ninguém soubesse o de sua acidez crônica porque não queria que o substituíssem por um homem mais jovem dantes de poder retirar com uma pensão completa. Levava no negócio o tempo suficiente para saber que os tipos de administração eram uns idiotas. A crueldade devia ser um dos requerimentos para o posto. Gostavam de sapatos caros, trajes de três peças e uma armadura invisível contra o sofrimento alheio. Importar um comino os valiosos contatos na Prefeitura ou nos anos de experiência perdendo tempo para uma reportagem ou para qualquer outra coisa que não fossem os balanços econômicos. Esperavam vídeos dramáticos às seis e às dez para poder vender espaços comerciais aos patrocinadores, mas nunca paravam pra ver uma casa ardendo com gente dentro ou a um louco retendo reféns com uma Magnum 357 em um supermercado ou as incontáveis atrocidades que um ser humano pode infligir a outro. Trabalhavam na parte esterilizada do negócio. O lado de Irish era o baixo e sujo. Pelo que ele se referia estava bem assim. Não o queria de outro modo. Só queria que o respeitassem pelo que fazia. Enquanto os índices de audiência mantivessem a KTEX no primeiro posto, Irish estaria seguro. Mas se os índices baixassem, esses idiotas dos escritórios com ar acondicionado começariam a jogar os indesejáveis. Um homem de sua idade e com problemas de estômago poderia ser considerado um inútil e um bom candidato para a baixa. De maneira que cobriu-se os eructos com a mão e ocultou o frasco do antiácido. Apagou a luz do banho, foi a seu dormitório, sentou-se na borda da cama de casal e programou o despertador. Essa era sua rotina. O mesmo que abrir a gaveta do criado-mudo e sacar o rosario. A ameaça de tortura física impedia que admitisse ante ninguém que esse era sua ritual da cada noite. Nunca assistiu a missa nem se confessou. As igrejas eram edifícios nos que se oficiavam funerais, casamentos ou batismos. Mas Irish rezava habitualmente, e aquela noite rezou fervorosamente por Tate Rutledge e por sua jovem filha. Rezou pela segurança de Avery, pedindo a Deus que lhe perdoasse a vida, ainda que sobrevivesse uma calamidade sobre qualquer outro. Por último, como fazia a cada noite, pediu pela alma de Rosemary Daniels e suplicou a Deus que o perdoasse por amar à mulher de outro homem.
Capitulo Quarenta e quatro Tate abriu a porta da suite e olhou com curiosidade às três pessoas que permaneciam de pé ao outro lado da ombreira. -Que ocorre? -Senhor Rutledge, sinto incomodá-lo -disse um dos polícias uniformizados-. Conhece a esta jovem? -Tate? -perguntou Avery, indo á porta-. Quem...? Fancy! A rapariga olhava aos presentes com hostilidade. Um dos polícias a segurava fortemente no braço, mas era difícil saber se a reprimia ou a sustentava. Ela se apoiava nele, obviamente bêbada. -Que é o que sucede? -Eddy chegando à porta e viu a cena-. Deus Santo! murmurou desagradado. -Por favor, podem dizer a eles quem sou para que me deixem tranqüila de vez? exigiu Fancy em tom beligerante. –É minha sobrinha -informou Tate friamente aos polícias-. Chama-se Francine Rutledge. -Isso é o que dizia sua carteira de motorista, mas tínhamos que nos assegurar que fosse sua sobrinha. -Era necessário trazê-la até aqui baixo escolta armada? -Só tinha duas opções: trazê-la aqui ou levá-la diretamente a delegacia, senhor Rutledge. -Com que cargos? -perguntou Avery. -Excesso de velocidade e condução em estado de embriaguez. Estava tomando uma curva a cento cinquenta. -A cento cinquenta e cinco -corrigiu Fancy com descaso. -Obrigado, agentes, por trazê-la a salvo até aqui. Falo também em nome de seus pais. Fancy soltou-se da mão do polícia. -Sim, muito obrigado. -Quanto vai custar manter isto em segredo? -perguntou Eddy. Um deles o olhou com desdêm. O outro ignorou-o por completo e dirigiu-se a Tate: -Supusemos que você não precisa má imprensa neste momento. -Agradeço muito. -Bom, após esse discurso que deu em Houston, pedindo garantias para o trabalho da polícia, pensamos que era o mínimo que podíamos fazer, -Muito obrigado. -Boa sorte nas eleições, senhor Rutledge. Tiraram-se as quepes respeitosamente e depois afastaram-se pelo corredor acarpetado para os elevadores e os sonolentos guardas de segurança. Avery fechou a porta. Todos tinham se deitado já, exceto eles quatro. Mandy dormia na habitação contigua. Um silêncio ominoso estendeu-se pela suite: a calma prévia à tormenta. -Fancy, onde tens estado? -perguntou Avery suavemente. Esticou os braços acima da cabeça e executou uma torpe pirueta: -Dançando. E foi maravilhoso -cantarolou, olhando a Eddy-. Suponho que aqui ninguém sabe o que é isso, porque sois todos muito velhos e muito respetáveis e
muito... -Pequena imbecil! Eddy a esbofeteou à altura da boca. A força do golpe a jogou ao solo. -Fancy! Avery deixou-se cair de joelhos junto à aturdida rapariga. Do lábio inchado saía sangue. -Eddy, que diabos te ocorre? -inquiriu Tate, agarrando do braço. Eddy empurrou Tate para um lado e aproximou-se ameaçadoramente a Fancy. -Você tenta estragar tudo? Sabes o que teria acontecido se esses dois agentes não tivessem considerado oportuno te trazer? Esta estupidez nos teria podido custar a eleição! -gritou. Tate agarrou-o pelo pescoço da camisa e se aproximou dele: -Que achas que estás fazendo? -Ela merece. -Não de você! -rugiu Tate. Deu-lhe um empurrão que o lançou uns passos para atrás. Eddy recuperou o equilíbrio, gruniu e arremeteu contra Tate. -Parem vocês dois! -Avery se levantou de um salto e interpôs-se entre ambos-. Vocês farão com que o hotel desmorone sobre nós, e daí tipo de notícias sairão manhã? Os dois homens permaneceram de pé, olhando-se o um ao outro como dois touros cavando a terra. Avery voltou-se a inclinar sobre Fancy e ajudou-a a levantar-se. A rapariga estava ainda tão aturdida que não opôs nenhuma resistência, mas gemeu de dor e de remorso. Tate passou a mão pela sua bochecha e, depois, advertiu a seu amigo: -Nunca, nunca mais voltes a tocar assim a um membro de minha família. -Desculpe-me, Tate. Eddy levou a mão a seu cabelo despenteado. Sua voz soou suave, composta, sossegada. Voltava a ser o homem de gelo. -Essa é uma área de minha vida na que não conta para nada tua opinião acrescentou Tate colérico, mal movendo os lábios. -Tenho dito que o sinto. Que mais posso fazer? -Podes deixar de, transar com ela. Os apanhou a todos por surpresa. Eddy e Fancy não tinham idéia de que Tate soubesse. Avery tinha comentado que suspeitava, mas isso foi antes de que o soubesse com certeza. As mulheres permaneceram pasmadas e em silêncio. Eddy caminhou para a porta e, antes de sair, disse: -Acho que todos precisamos um tempo para nos acalmar. Avery olhou a Tate com amor e respeito por sair tão rápido em defesa de Fancy; depois rodeou à garota com um braço. -Vamos, te acompanharei a tua habitação. Uma vez ali, esperou a que Fancy toamr banho. Quando saiu do banho, com o cabelo longe da cara mediante presilhas, e com uma blusa longa a modo de camisa, parecia jovem e inocente. -Improvisei uma bolsa de gelo para teu lábio. Avery alongou-lhe uma bolsa de plástico cheia de gelo e levou para a cama. -Obrigado. Está ficando uma especialista.
Fancy apoiou-se na cabeceira e levou a bolsa ao lábio inferior. Tinha deixado de sangrar, mas estava negro e inchado. Fechou os olhos. Começaram-lhe a brotar lágrimas. Avery agachou-se a seu lado e tomou-a da mão. -Esse filho de puta! Odeio-o. -Não acredito - contradisse Avery baixinho-. Eu acredito que você pensava que o amava. Fancy olhou-a. -Que o pensava? -Acho que estavas apaixonada pela idéia de amá-lo. Quanto sabes realmente a respeito de Eddy? Tu mesma me disseste que o conhecias muito pouco. Eu acho que querias te apaixonar dele porque, no fundo, sabias que essa relação era inadequada e não tinha futuro. -Que és? Uma psiquiatra amadora? Fancy podia acabar com a paciência de qualquer um, mas Avery respondeu pacificamente: -Estou tentando ser sua amiga. -Tentas singelamente convencer-me de que o deixe porque o queres para ti. -Você realmente pensa isso? Fancy olhou-a durante uns instantes e, quanto mais olhava, mais se afogava de lágrimas os olhos. Finalmente, abaixou a cabeça. -Não. Qualquer um pode ver que ama o tio Tate. E ele também está louco por ti. Mordeu o lábio inferior-. Oh, Deus, por que ninguém pode me querer assim? Que tenho de mau? Por que todos me tratam como lixo, como se fosse invisível ou algo parecido? -Foi aberta a comporta e o mal-estar interior começou a brotar ao jatos-. Eddy estava me usando pára transar, verdade? Confiava em que ao menos me quisesse por algo mais do que estava disposta a fazer na cama. Devia conhecê-lo melhor -acrescentou com tom amargo. Avery abraçou-a. Fancy resistiu durante um ou dois segundos e depois cedeu e se deixou consolar, enquanto chorava sobre o ombro de Avery. Quando se acalmou, Avery a apartou um pouco. -Sabes quem deveria estar contigo? Fancy secou-se a cara com o dorso da mão. -Quem? -Tua mãe. -Caçoas? -Não. Você precisa dela, Fancy. Mais ainda -agregou, pressionando o joelho de Fancy para imprimir ênfase-, ela precisa de você. Tem estado tentando com todas suas forças se fazer perdoar os erros do passado. Por que não lhe dá uma oportunidade? Fancy pensou uns instantes, depois assentiu toscamente: -Sim, por que não, se isso faz que se sinta importante... Avery telefonou à habitação. Jack respondeu sonolento. -Dorothy Rae já se deitou? Poderia vir à habitação de Fancy? -Que ocorre? Avery olhou o lábio de Fancy e mentiu: -Nada. Só uma reunião de mulheres. Cerca de um minuto depois, Dorothy Rae chamava à porta. Estava em camisola.
-Que passa, Carole? -Entra. Assim que viu a cara de Fancy, parou-se em seco e levou-se a mão ao peito. -Oh, carinho. Que te passou? O lábio inferior de Fancy tremeu ligeiramente, e os olhos encheram-se de lágrimas. Esticou os braços e, com voz débil e trêmula, disse: -Mamãe. -Deixei-as chorando abraçadas -disse-lhe Avery a Tate uns minutos mais tarde-. Pode que foi o melhor que podia ocorrer. -Não creio ter visto nunca a Eddy tão irracional. Enquanto ela permaneceu fora, ele se tinha despido até a cintura. Com o torso nu, dava voltas pela habitação, ainda com vontades de brigar. -Está determinado a conseguir que te elejam. Quando ocorre algo que pode o comprometer, seu temperamento se volta explosivo. -Mas bater em uma mulher? -comentou Tate incrédulo, mexendo a cabeça. -Desde quando sabes que ele dormia com Fancy? -Desde faz um par de semanas. -Disse-to ele? -Não. Deduzi-o. -Disseste-lhe algo ao respecto? -Que podia dizer? É maior de idade. E ela também. Deus sabe que ele não a forçou nem a obrigou a perder a virginidade. -Suponho que não -suspirou Avery-. Mas, pese a toda sua experiência sexual, Fancy é sumamente vulnerável, Tate. Eddy fez-lhe dano. -Não me malinterpretes. Não estou defendendo... -Escuta! Avery levou-se o dedo índice à boca, pedindo silêncio. Depois, jogaram a correr ao mesmo tempo para a habitação de Mandy. A menina sacudia os membros, golpeando com a roupa da cama. Seu carinha estava contorcida e molhada em suor. Chorava copiosamente. -Mamãe! Mamãe! -repetia uma e outra vez. Instintivamente, Avery estendeu os braços. Tate deteve-a com a mão. -Quieta. Poderia ocorrer outra vez. -Oh, não, Tate, faz favor. Ele sacudiu a cabeça teimosamente. -Temos que o fazer. De maneira que sentaram-se a ambos lados de Mandy. Ambos viveram o inferno pelo que estava passando o subconsciente da menina. -Não, não. -Engoliu saliva, a boca aberta de par em par-. Mamãe? Não vejo a mamãe. Não posso sair. Avery olhou a Tate, que se cobria com os dedos o nariz e a boca e olhava fixamente a sua atormentada filha. De repente, Mandy incorporou-se inesperadamente, como se um mecanismo de resorte tivesse catapultado sua cabeça para diante. O peito inflava e encolhia rapidamente. Seus olhos permaneciam abertos e sem piscar, mas ainda estava no meio do pesadelo. -Mamãe! -gritou-. Salva-me. Tenho medo. Salva-me!
Depois começou a pestanejar e, ainda que sua respiração ainda era entrecortada, já não soava como se tivesse estado correndo quilômetros e a cada inspiração fosse a última. -Mamãe salvou-me -susurrou-. Mamãe já me tem. Deixou-se cair e, então, acordou. Assim que focou a vista, dividiu sua desconcertada mirada entre Tate e Avery, e foi aos braços de Avery aos que arrojou seu sólido corpinho. -Mamãe, salvaste-me. Salvaste-me da fumaça. Avery rodeou-a com os braços e a abraçou com força. Fechou os olhos e deu graças a Deus por curar a essa menina à que tanto tinha chegado a querer. Quando abriu os olhos, se encontrou com os de Tate, ele estendeu a mão, acariciou a bochecha com os dedos e depois colocou a mão sobre a cabeça de sua filha. Mandy sentou-se sobre os saltos. -Tenho fome. Posso comer um sorvete? Tate riu-se aliviado, levou-lha a seus braços e balançou-a acima de sua cabeça, fazendo-a gritar. -Claro que sim. De que sabor? Pediu o sorvete ao serviço de habitações, junto com um jogo de cama limpo para substituir os úmidos e desarrumados lençóis da cama de Mandy. Enquanto esperavam o serviço de quarto, Avery mudou seu pijama e penteou seu cabelo. Tate permaneceu sentado, observando-as. -Tinha um sonho mau -explicou Mandy, pragmática, ao mesmo tempo em que usava outro pente em seu ursinho de pelucia-. Mas já não tenho medo, porque mamãe está lá e me salva. Quando terminou seu sorvete, já voltava a ter sonho. Meteram-na na cama e sentaram-se a seu lado, conscientes de que, se o doutor Webster não se equivocava, de agora em diante dormiria ininterruptamente. Quando abandonaram a habitação, abraçados, Avery rompeu a chorar. -Acabou -murmurou Tate e a beijou na bochecha-. Se porá bem. -Graças a Deus. -Então, por que choras? -Estou exausta -confessou, esboçando um sorriso-. Vou tomar um longo banho quente. Este dia parece ter durado vinte anos. Tate tinha vivido a crise de Fancy e o pesadelo de Mandy com ela, mas desconhecia que Avery tivesse experimentado um ataque de ansiedade na igreja hispana quando viu a seu rival fosse da nave, rodeado de jornalistas. Tão cedo chegaram a salvo à limusine, se encostou a Tate, e agarrou seu braço e apertou seu firme bíceps contra o peito. O que ele tinha tomado como uma demonstração de afeto, tinha sido na realidade mais que uma reação para disfarçar o medo. Quando Avery saiu do banho meia hora depois, tinha a pele úmida e fragante. Com a luz a suas costas, proporcionou a Tate uma tentadora imagem de seu corpo através da camisola. -Continua exausta? -perguntou ele. A habitação encontrava-se em penumbra. A cama estava desfeita. Avery registrou em seu subconsciente, porque só tinha olhos para Tate. Levava o cabelo atraentemente despenteado. A única luz acendida no banheiro confería um brilho
dourado a seu cabelo, iluminando vagamente o peito, resplandecía em seu umbigo e diminuía depois lentamente até converter em uma faixa satinada que desaparecia no cinto desabrochado de suas calças. -Não tanto -respondeu com voz rouca-. Tem alguma coisa em mente que não seja dormir. -O que tenho em mente -disse, se aproximando- é fazer amor com a minha mulher. Quando se aproximou dela, passou uma mão por trás da nuca e, sem duvidar, introduziu a outra pela camisola e cobriu um peito. Sem deixar de olhar seus olhos acariciou o mamilo. -Não quero dizer unicamente deitar com a mulher com a que estou casado susurrou enquanto brincava com o mamilo-. Quero dizer fazer amor com minha esposa. Aprximou o rosto ao seu, deteve-se um instante, olhou-a nos olhos e a beijou. Tinha uma diferença em seu beijo. A diferença era sutil e, no entanto, enorme. Avery sentiu-a de imediato. Tecnicamente igual, quando a língua se introduziu suave e firmemente em sua boca; mas, de algum modo, foi algo bem mais pessoal, mais íntimo, mais generoso. Minutos mais tarde estavam na cama. Tate, nu, recostado sobre ela e a beijando linha da camisola, a cada segundo ia baixando centímetro a centímetro. Quando a acabou de despir, apoiou a cabeça sobre seu estômago, os ombros entre suas coxas, e beijou ardentemente a terna macieza. -Não achei que poderia voltar a te amar. Mas, após o que tens feito por Mandy e, por mim -acrescentou em voz muito baixa-, seria um imbecil se não te amasse mais que nunca. Deslizou as mãos por sua cintura e a levantou ligeiramente. Com os lábios sondou a delicada pele do abdomen. Beijou o delta de cachos negros, acariciou-o com o nariz, o tocou apenas com o fôlego. Avery segurou sua cabeça entre as mãos e se arqueou, oferecendo as coxas abertas a sua inquisitiva boca. Ele levou a sedosa e úmida macieza aos lábios, bebeu de seu sabor e seu aroma, e utilizou a ondulante, acariciante, ansiosa língua para a levar a um vibrante orgasmo depois de outro. Depois, ela inverteu a posição e lhe devolveu o favor. Cobriu com os lábios a suave superfície do pênis. O chupou ternamente e utilizou a ponta da língua para percorrer a fissura e recolher as gotas peroladas de fluído que começavam a se acumular ali. Tate rezou a deuses sem nome quando ela o colocou inteiro na boca, e, quando ao fim a encheu com sua própria essência, soltou gritos roucos e ásperos que os deixaram se sentindo maravilhosos e plenos. Mais tarde essa mesma noite, enquanto dormiam, Tate pressionou as costas dela contra seu peito. A beijou cálida e suavemente na nuca. E mordiscou seu ombro. Sem dizer nada, senão à espera, como lhe pedindo permissão para continuar. Avery limitou-se a ronronear como uma gata sonolenta e se deixou fazer quando ele subiu a coxa até o peito, deixando o caminho despejado para entrar suavemente. Seus corpos se mexeram suavemente o um contra o outro sem movimento aparente. Foi um acasalamento fácil, fluído. Tate passou um braço por em cima e acariciou-lhe os peitos, dando-lhes novas
formas com as mãos, e depois passou as pontas dos dedos pelos eretos mamilos. Ela pressionou as nádegas contra a curva de seu corpo e esfregou a suave pele contra seu denso cabelo que se estendia desde a raiz de seu sexo. Ele gemeu em aprovação e se apertou mais contra ela. Manejou-a desde diante com espantosa delicadeza e substituía às vezes o rígido pênis com uns dedos inquisidores que se introduziam profundamente no interior, até que um enorme prazer se derramou sobre ela como uma cálida e fragante chuva de primavera, sem trovões, sem vento, sem relâmpagos; purificadora, pura e benévola. As rítmicas contrações do orgasmo dela provocaram o seu. Seu corpo se tendeu, e sua respiração ficou suspendida durante vários segundos espléndidos enquanto a morna maré de sua semen banhava o útero. Quando tudo terminou e voltaram a estar relaxados, mas ainda emanando ardor, Avery deu a volta. Suas ansiosas bocas fundiram-se em um longo, lento e úmido beijo. E dormiram.
Capitulo Quarenta e cinco Como estava previsto que saíssem na primeira hora da manhã, Avery tomou a dianteira acordando antes que Tate. Separou suas pernas das dele. Desenrolar seu cabelo dos dedos dele não foi fácil, mas finalmente o conseguiu. Ao levantar-se, olhou-o acima do ombro. Estava formoso dormido, uma perna saindo para fora da colcha, a mandíbula barbada afundada na almofada. Suspirando pelo enorme prazer que lhe produzia ao o olhar, e com os emocionantes lembranças da noite passada ainda frescos na memória, se encaminhou ao banho. Os jatos de água chiaram ao abrí-los. Avery fez uma careta de desgosto ante o ruído. Tate precisava dormir o máximo possível, pois tinha um programa muito apertado. Passaria muitas horas voando e, enquanto, pronunciaria discursos, apertaria mãos, solicitaria votos. A véspera do dia das eleições era provavelmente o dia mais importante da campanha, no dia em que os indecisos tomariam uma decisão. Avery colocou-se sob o contundente jato d´agua. Após lavar o cabelo, ensaboou o corpo. Ainda mostrava impressões dos ardores de Tate. Sua boca tinha deixado uma ligeira marca na parte interior da coxa. A água quente fazia que ardessem os peitos raspados. Sorria ante a idéia quando a cortina se abriu de repente. -Tate! -Bons dias. -Que...? -Pensei em tomar banho com você - disse, arrastando as palavras e sorrindo lascivamente-. Para ganhar tempo, e para poupar-lhe um pouco de água quente ao hotel. Avery tremia, tão envergonhada em sua nudez como devia se sentir Eva no Paraíso quando Deus apontou sua iniquidade. As rajadas de água quente pareceram voltar-se geladas e lacerantes; fincavam na pele como agulhas
glaciais. Perdeu a cor do rosto e teve a sensação de que seus olhos retrocediam para o crânio, fazendo que as órbitas parecessem enormes e cavernosas. Estremeceu. Perplexo, Tate levantou sua cabeça desgrenhada. -Parece até que vicê viu um fantasma. Assustei-te? Ela engoliu em seco, abriu e fechou a boca, mas não pôde produzir nenhum som. -Carole, que te ocorre? Buscou algo que estivesse fora de lugar. Sua vista percorreu aquele pálido e trémulo corpo e voltou a subir. A Avery o coração deu um viro quando viu que voltava a lhe percorrer o corpo com a mirada. Deteve-se nos peitos, no ventre, no pubis, nas coxas; partes que unicamente veriam os olhos de um amante, os olhos de um marido. Tate fixou-se na cicatriz da apendectomía, velha e borrosa, mal perceptível salvo sob uma luz fluorescente. Avery tinha estado perguntando, mas agora o sabia: a Carole nunca lhe tinham extraído o apéndice. -Carole? Sua voz expressava a perplexidade de seus olhos. Ainda que o gesto de proteção era um ato reflito inútil, Avery cobriu-se a parte inferior do corpo com uma mão e estendeu a outra para ele em sinal de súplica. -Tate, eu... Afiados e devastadores qual espadas, seus olhos se elevaram, lhe rasgando o corpo, até se encontrar com os dela. -Tu não és Carole -afirmou suavemente, a mente ainda confusa. Depois, quando o impacto o sacudiu com toda sua força, repetiu com énfasis-: Tu não és Carole! Meteu o braço sob o jato da ducha agarrou-a pelo punho e a tirou da banheira. Avery bateu a perna nas pastilhas de porcelana e escorregou por culpa de seus pés molhados. Emitiu um gemido de dor, mais do espírito que do corpo. -Tate, para. Eu... Ele jogou o corpo molhado e nu contra a parede, o segurou ali com o seu e fechou com força as mãos sobre seu pescoço, justo embaixo do queixo. -Quem diabos és? Onde está minha mulher? Quem és tu? -Não grites -gemeu-. Te ouvirá Mandy. -Fala, maldita seja. -Baixou a voz, mas a mirada seguia transmitindo fúria e a mão exercia a cada vez mais pressão sobre sua noz-. Quem és tu? Rangia tanto os dentes que mal podia falar. -Avery Daniels. -Quem? -Avery Daniels. -Avery Daniels? A repórter de...? Assentiu com a cabeça. -Onde está Carole? Que...? -Carole morreu no acidente aéreo, Tate. Eu sobrevivi. Confundiram-nos porque mudamos de assentos no avião. Eu levava a Mandy em braços quando escapei. Supuseram que... Apanhou sua cabeça molhada entre as mãos. -Carole está morta? -Sim -engoliu em seco-. Sim. Sinto muito.
-Desde o acidente? Morreu no acidente? Queres dizer que tens estado vivendo... todo este tempo...? Assentiu novamente. O coração deu-lhe um giro enquanto o via tentar compreender o incompreenssível. Sentiu que pouco a pouco diminuia a pressão sobre seu crânio e, finalmente, se separou dela. Apressou-se em pegar um roupão que estava pendurado na porta do banho, o pôs e se atou depressa o cinto. Meteu a mão na banheira e fechou os grifos, imediatamente se arrependeu: o silêncio era ensurdecedor e, no entanto, vislumbrou com a metálica reverberação da incredulidade e a suspeita. Nesse silêncio, ele lançou uma singela pergunta: -Por que? Tinha chegado a hora da verdade. Ela sabia que chegaria em qualquer momento. Singelamente, tinha sido peg desprevenida e não estava preparada. -É complicado. -Importa-me um rábano o complicado que seja -disse em um tom que vibrava de cólera-. Começa a falar antes que chame à polícia. -Não sei quando nem como ocorreu a confusão inicial -respondeu desesperada-. Acordei no hospital vendada de pés a cabeça, incapaz de mover-me e de falar. Todos me chamavam Carole. Ao princípio não o entendi. Doía-me todo o corpo. Estava assustada, confundida, desorientada. Levou-me em vários dias atar os cabos. -E, quando o compreendeste, não disseste nada? Por que? -Não podia! Recorda, não podia falar. -Tomou-lhe o braço em sinal de súplica. Ele se soltou-. Tate, Tate, tentei fazer-to saber antes de que me mudassem a cara para que me parecesse a Carole, mas foi impossível. A cada vez que chorava, achavas que era por temor à iminente operação. E era por isso, mas também porque me estavam roubando minha própria identidade para me impor outra. Não me podia expressar e me sentia impotente. -Deus Santo, isto parece ficção científica! -Passou os dedos pelo cabelo. Deu-se conta de que ainda estava nu, tomou uma toalha do roupeiro e se cobriu da cintura para abaixo-. Isso foi faz meses. -Tinha que seguir sendo Carole por um tempo. -Por que? Avery jogou atrás a cabeça e contemplou o teto. A primeira explicação tinha sido um passeio, comparada com o que estava por vir. -Vai parecer-te... -Importa-me um comino o que me pareça -disse com tom ameaçador-. Quero saber por que tens estado te fazendo passar por minha esposa. -Porque querem te matar! Sua urgente resposta tomou-o por surpresa. Ainda estava disposto á dar batalha, mas jogou a cabeça para atrás como se tivesse recebido um gancho no queixo. -Que? -Enquanto estava no hospital -começou, esfregando as mãos à altura da cintura-, alguém entrou em minha habitação... -Quem? -Não sei quem. Escuta-me bem antes de me fazer um montão de perguntas. -
Aspirou profundamente, mas as palavras seguiram saindo-lhe a trompicones pelos lábios-: Estava vendada. Não podia ver bem. Alguém, que me chamava Carole, me advertiu que não me arrependesse a última hora. Disse que os planos seguiam sendo os mesmos e que não viverias para ocupar o posto. Ele se manteve imóvel durante uns instantes; depois, desenhou um sorriso na comisura da boca; finalmente, soltou um riso desdenhoso. -Pensava que eu ia acreditar nisso? -É a verdade! -A única verdade é que te vão colocar na cadeia. Agora mesmo. Voltou-se e encaminhou-se para o telefone. -Tate, não! -Agarrou-o do braço e obrigou-lhe a voltar-se-. Não te culpo pelo que estás pensando de mim. -Não to podes nem imaginar. A invectiva doeu, mas, pelo momento, tinha que a ignorar. -Não te estou mentindo. Juro-to. Alguém pensa te assassinar antes de que ocupes o cargo. -Nem sequer tenho sido elegido. -Isso lhes dá igual. -Não podes identificar a essa misteriosa pessoa? -Ainda não. Estou-o tentando. Ele estudou seu rosto durante um momento e depois sorriu com sarcasmo. -Não posso achar que esteja aqui, escutando esta merda. Tens estado vivendo uma mentira todos estes meses. Agora pretendes me fazer achar que um estranho se meteu em tua habitação do hospital e te disse que pretendia me assassinar? Sacudiu a cabeça, como maravilhado pela audacia dela e por sua própria culpa. -Não um estranho, Tate. Alguém próximo, algum da família. Ficou boquiabierto. Olhou-a com evidente incredulidade. -Estás...? -Pensa um instante! Só se permite a entrada a membros da família na unidade de cuidados intensivos. -Queres dizer que um membro de minha família está tramando meu assassinato? -Soa absurdo, sei-o, mas é a verdade. Não mo inventei. Também não imaginei-o. Tem tido notas. -Notas? -Notas deixadas a Carole em lugares aos que só ela tinha acesso, lhe fazendo saber que tudo seguia como tinha sido planejado. -Correu para o armário e abriu um compartimento de cremallera de uma das malas. Estendeu-lhe as notas, incluído o cartaz da campanha-. Foram escritas na máquina da fazenda. Estudou a cada uma em detalhe. -Poderias tê-las feito tu mesma por se te descobria e precisavas um bode expiatório. -Não as fiz eu. Esta era a maneira do cúmplice de Carole de... -Espera um minuto, espera. -Deixou as notas a um lado e alçou as mãos-. Isto se põe a cada vez melhor. Carole e esse suposto assassino estavam de acordo, verdade? -Totalmente. Desde que ela te conheceu. Quiçá desde dantes.
-Por que teria de querer me matar Carole? Não tinha inclinações políticas nem nada. -Não é um assunto político, Tate. É pessoal. Carole propôs-se converter em tua esposa. Converteu-se exatamente no que tu podias desejar e, tão cedo se associaram, se lhe ensinou como se comportar para que te apaixonasses dela. Quem vos apresentou? -Jack -contestou com um leve encogimiento de ombros-. Quando ela veio a solicitar trabalho no escritório. -Pode que não fosse casual que fosse a buscar emprego no seu escritório de advogados. -Tinha um currículo impecável. -Não me estranha. Já se teria encarregado disso. -Sabia mecanografiar -acrescentou com tom irônico-, o que joga abaixo tua teoria. -Sei que estou no verdadeiro. -Suponho que podes o provar -disse ele, presumindo o contrário. Inclusive cruzouse de braços, alegre. -Eu não, mas Zee sim pode. Reagiu com visível surpresa. Deixou cair os braços: -Minha mãe? -Tem um relatório inteiro sobre Carole Navarro. Vi-o. Como achava que eu era Carole, me ameaçou o fazer público se te fizesse infeliz. -Por que ia fazer uma coisa assim? -Parecia achar que estavas-te voltando a apaixonar de tua mulher. -Olhou-o significativamente-. Após ontem à noite, eu também tenho boas razões para o crer. -Esquece-te de ontem à noite. Como bem sabes, todo foi uma armadilha. Voltou-se airadamente. Em silêncio, Avery prestou os primeiros auxilios ao ferido coração. Mais tarde teria que a atender a consciência; por enquanto, tinha que se ocupar de assuntos mais urgentes. -Ainda que tu ao princípio não tomaste a Carole pelo que era, Zee sim o fez. Contratou a um detetive privado para que pesquisasse seu passado. -E daí foi o que descobriu? -Prefiro não falar de... -Que descobriu? -fez qüestão de um tom firme e girando-se para voltar a enfrentar-se a ela-. Pelo amor de Deus, agora não te faças a remilgada. -Dançava com os peitos ao ar em clubes. Prenderam-na por prostituição, entre outras coisas. -Ao ver sua expressão, tentou agarrar-lhe a mão. Ele a pôs fora de seu alcance-. Não tens por que me crer a respeito disto -agregou, alçando a voz de cólera por esse estúpido e teimoso orgulho masculino-. Pede a tua mãe que te mostre os relatórios que guardava para os usar contra Carole quando achasse conveniente. E não te pode surpreender tanto, Tate, porque me desprezaste, achando que era Carole, por ter problemas, por abortar e por consumir drogas. Durante meses tenho carregado com o peso de tua antipatía por essa mulher. Ele considerou o que lhe dizia durante uns instantes, e replicou: -Bom, ponhamos por caso que não mente a respeito desse conto da conspiração para me assassinar. Pretendes que me ache que puseste tua vida em perigo por
pura bondade? Por que não me adverteu há meses, quando tiveste a oportunidade? -Teria acreditado então mais do que acredita agora? -Ele não tinha resposta, de maneira que ela respondeu por ele-: Não, não o terias feito, Tate. Eu estava indefesa. Não tinha forças para proteger a mim mesma, e muito menos a ti. Ademais, não podia correr o risco. Quando a pessoa, quem quer que seja, descobrisse que lhe tinha susurrado seus planos a Avery Daniels, repórter de televisão, quanto tempo achas que eu teria vivido? Ele franziu o cenho. Lentamente, começou a assentir com a cabeça. -Acho que já entendo por que Avery Daniels, repórter de televisão, montou esta charada. Fizeste-o pela história, verdade? Ela se umedeceu os lábios, um sinal de culpa e nervosismo, bem como uma confissão assinada. -Não de tudo. Admitirei que minha carreira teve muito que ver ao princípio. -Voltou a buscar seu braço, sem deixá-lo escapar desta vez-. Mas já não, Tate. Não desde que comecei a amar... a Mandy. Uma vez dentro, já não podia sair. Não podia me ir como se nada e deixar as coisas sem resolver. -De modo que quanto tempo pensavas fingir que eras minha esposa? Íamos transar no escuro o resto de nossos dias? Nunca te veria nua? Quanto tempo tinhas intenção de viver na mentira? Toda a vida? -Não. -Soltou-lhe o braço e afundou-se no desespero-. Não o sei. Ia-to a dizer, só que... -Quando? -Quando soubesse que Mandy estava bem e que tu estavas seguro. -De maneira que voltamos à conspiração para assassinar-me. -Deixa de dizer isso tão alegremente -exclamou ela-. A ameaça é real. -Jogou um vistazo ao cartaz-. E é iminente. -Então, dime de quem suspeitas. Tens estado vivendo com a mesma gente que eu desde que saístes do hospital. -Voltou a sacudir a cabeça e riu-se com amargura de sua própria estupidez-. Deus meu, isto explica muitas coisas. Tuas falhas de memória, o de Shep, o do cavalo. -Percorreu-lhe o corpo com a vista-. Explica muitas coisas -disse bruscamente. Depois de limpar a garganta, acrescentou-: Como não me dei conta? -Não o sabias. Tu e Carole não tínham intimidade desde fazia muito. Não parecia inclinado a discutir o tema. Voltou a seus pensamentos prévios: -Quem suspeitas que me quer matar? Meus pais? Meu irmão? Meu melhor amigo? Dorothy Rae? Não, espera..., Fancy! Isso é. -Chasqueó os dedos-. Enfadou-se comigo faz um par de anos quando não lhe quis prestar o carro, e agora deseja me ver morrido. -Não caçoes. -Tudo isto é uma piada -replicou, agachando a cabeça junto à dela-. Uma asquerosa piada gastada a todos nós por uma puta com grandes ambições. De acordo, tenho estado cego, surdo como um idiota, mas agora o vejo tudo com muita clareza. Não cometeste uma metedura de pata jornalística faz em um ano mais ou menos, umas acusações antes de comprovar todos os fatos? Sim. Acho que eras tu. Planejou tudo isto para retificar o erro e reabilitar-se no meio. És uma jornalista que precisava uma história explosiva, de modo que, quando se
apresentou a oportunidade, não a deixaste escapar. Ela sacudiu a cabeça e susurrou com tristeza, mas sem convicção: -Não. -Creio-te, Avery Daniels. Farias qualquer coisa por conseguir uma boa reportagem, não? Desta vez inclusive estavas disposta a deitar-te comigo para o conseguir. Quiçá não seja a primeira vez. Transa com todos aos que entrevistas? É essa sua recompensa por te proporcionar seus segredos? Avery apertou ainda mais o roupão, mas mal serviu para a proteger do arrepiante ataque. -Não digas isso, Tate. Todo o que ocorreu entre nós foi honesto. -Claro! -Foi-o! -Tenho estado transando com uma impostora. -E gostaste! -Obviamente, porque és tão boa nisso como em fingir! Para Avery a raiva se esgotou nessa batalha verbal. Seus olhos se encheram de lágrimas. -Equivocas-te. Faz favor, crê-me, Tate. Deves ter cuidado. -Assinalou o cartaz-. O fará no dia das eleições. Amanhã. Ele sacudiu a cabeça inflexivelmente. -Nunca me convencerás de que alguém em minha família pretende disparar uma bala à cabeça. -Espera! -gritou, recordando subitamente algo que tinha esquecido mencionar-. Há um homem alto, de cabelo cinza, que te tem estado seguindo de cidade em cidade. -Enumeró rapidamente as vezes e os lugares nos que tinha visto a Cabelo Canoso entre a multidão-. Van tem as fitas para prová-lo. -Ah, o ciinegrafista de KTEX -comentou ele, sorrindo com tristeza-. Agora o entendo. Quem mais está em teu pequeno jogo? -Irish McCabe. -Quem é ele? Explicou-lhe sua relação e como Irish chegou a identificar por erro o corpo de Carole. -Ele tem suas jóias, se queres que tas devolva. -E o medalhão? -Foi um presente de meu pai. -Muito astuta -reconheceu, admirando-a apesar de si-. Cobres muito bem tuas pistas. -Escuta-me, Tate. Só peço que vejas as fitas de Van, as olharás para ver se reconheces a esse homem? Contou-lhe como chegaram a deduzir que se tinha contratado a um assassino profissional. -Formais um bonito trío, todos dispostos a ganhar a massa gansa a costa da família Rutledge. -Não é verdade. -Não? -Não. O súbito golpe na porta fez que ambos girassem ao mesmo tempo. -Quem é? -perguntou Tate. Era Eddy.
-Nos encontraremos embaixo em vinte minutos para uma reunião de última hora durante o café da manhã, antes de sair para o aeroporto. -Tate olhou a Avery e sustentou sua agoniada mirada durante vários segundos-. Algum problema? perguntou Eddy. Ela levou as mãos à cara, suplicou em silêncio e susurrou: -Faz favor, Tate. Não há nenhuma razão para que o faças, mas tens que confiar em mim. -Não, nenhum -respondeu ele de má vontade para a porta-. Vemos-nos no comedor. Vinte minutos. Avery se sentou aliviada no primeiro sofá a seu alcance. -Não deves dizer nada, Tate. Jura-me que não dirás nem uma só palavra disto a ninguém. A ninguém. -Por que tenho de te crer a ti mais que a minha própria família e a minha gente de confiança? Ela lhe contestou, agoniada: -Se o que te disse é verdade, teu silêncio te poderia salvar do assassinato. Se não é mais que uma intriga, então teu silêncio te salvaria do ridículo público. Em qualquer caso, agora mesmo não tens nada que ganhar me denunciando por impostora. De modo que rogo-te que não o digas a ninguém. Olhou-a longa e friamente. -És tão escorregadia como o era Carole. -Sinto que o vejas assim. -Devia ter me dado conta. Devia entender que as mudanças produzidas em ti, nela, eram demasiado bons para ser verdade. Como a maneira em que tomaste carinho a Mandy quando voltaste a casa. -Tem melhorado muito, Tate. Não me dá crédito por amá-la? -Te darei crédito por romper seu coração quando se for. -A mim também se romperá o coração. Ele fez caso omisso desse comentário. -Agora entendo por que te interessaste subitamente nas eleições, por que expressavas com mais eloquência tuas opiniões e por que... -Olhou-a à boca-. Por que tantas coisas eram diferentes. Durante uns instantes, pareceu lutar contra o campo magnético de um poderoso íma que o atraía para ela. Depois, soltou um insulto cruel e deu-se a volta. Avery correu depois dele e o atingiu antes de que pudesse encerrar no banho. -Que vais fazer? -Por agora, nada. Tenho chegado até aqui. Tu e teu maldito plano não vão impedir que ganhe as eleições por mim mesmo, por minha família e por todos os que têm confiado em mim. -E eu? -Não o sei -respondeu com sinceridade-. Se delato-te, me delataria a mim mesmo e a minha família como um bando de imbecis. -Agarrou-a do cabelo e atirou de sua cabeça para atrás-. E, se delatas-nos, te matarei. Ela acreditou. -Não estou mentindo, Tate. Todo o que te disse é verdade. Soltou-a abruptamente. -Provavelmente me divorciarei de ti, tal como pensava me divorciar de Carole. Teu
castigo será ter que ser a ex esposa de Tate Rutledge o resto de tua vida. -Tens que te cuidar. Alguém tentará te assassinar. -Avery Daniels está morta e enterrada a meses. Continuará estando morta e enterrada. -Fique atento se você ver a um homem alto, de cabelo cinza, entre a gente. Manteha-se afastado dele.. -Não terá nenhuma carreira em televisão, nenhuma história explosiva que te possa converter em uma sensação da noite para o dia. -Olhou-a com desprezo-. Você fez tudo por nada, senhorita Daniels. -Fiz tudo isso porque te amo. Ele fechou a porta na sua cara.
Capitulo Quarenta e seis A busca de Van chegou ao seu fim na véspera do dia das eleições. Durante uns segundos ficou olhando a tela do monitor, incapaz de achar que finalmente tinha encontrado o que levava buscando todo esse tempo. Tinha tirado um cochilo ao amanhecer, e caiu na conta, quando viu a luz lambendo as sombras nas janelas de seu andar, de que tinha permanecido acordo toda a noite repassando uma fita de vídeo depois de outra. Após dormir cerca de uma hora, bebeu uma caneca de café carregado e voltou à tela. O escritorio estava coberto de envoltorios de comida preparada, latas de bebidas vazias, pacotes de cigarros acabados e cinzeiros cheios a transbordar. Vano não notava a desordem. Trazia sem cuidado. Também não se importava em não comer uma comida decente nem de ter duchado em quarenta e oito horas. Sua compulsão por olhar fitas de vídeo tinha-se convertido em uma obssessão e sua paixão, em uma missão. Cumpriu-a às nove e meia da noite, enquanto via uma fita gravada três anos atrás, quando trabalhava em uma emissora filial da NBC, no Estado de Washington. Nem sequer recordava o indicativo da emissora, mas sim a tarefa atribuída. Empregou quatro fitas ao todo, a cada uma de vinte minutos de gravação sem editar. O jornalista reduziu esses oitenta minutos a uma reportagem especial de cinco minutos para o noticiario da noite, durante uma semana em que se bateram as marcas de audiência. Era o tipo de reportagem ante o qual a gente sacode a cabeça e que, no entanto, consome como palomitas de maíz. Vão olhou os oitenta minutos várias vezes para assegurar-se de que não existia erro algum. Quando confirmou que estava no verdadeiro, pulsou os botões necessários, introduziu uma fita virgem e começou a fazer uma cópia da mais importante e incriminadora das quatro. Já que tinha-a que copiar a tempo real, isso lhe deixava vinte minutos livres. Buscou nas carteiras que tinha sobre o vídeo e finalmente encontrou um cigarro dobrado; acendeu-o, descolgó o telefone e chamou ao Palácio do Rio. -Sim, preciso falar com a senhora Rutledge. A esposa do senhor Tate Rutledge. -Sento-o, senhor -contestou a operadora afavelmente-. Não posso passar o telefonema, mas, se me deixa seu nome e seu número... -Não, você não me entende. É uma mensagem pessoal para Av..., isto, Carole
Rutledge. -Passarei a mensagem ao pessoal de segurança, que os revisa... -Escute, imbecil, é importante, entende? Uma urgência. -Relacionada com que, senhor? -Não lho posso dizer. Tenho que falar pessoalmente com a senhora Rutledge. -Sento-o, senhor -repetiu a imperturbable operadora-, não posso passar o telefonema. Se deixa seu... -Mierda! Cortou a comunicação e marcou o número de Irish. Esperou a que soasse trinta vezes dantes de se dar por vencido. «Onde diabos está?» Enquanto copiava a fita, Van começou a andar de um lado a outro, tratando de encontrar a melhor forma de informar a Irish e a Avery do que tinha descoberto. Era essencial que a fita chegasse a mãos de Avery, mas como? Se nem sequer podia conseguir que a operadora do hotel chamasse à suite, como ia aproximar dela de noite para pôr a fita em suas mãos? Era absolutamente necessário que a visse antes do dia seguinte. Quando terminou de fazer a cópia, Van ainda não tinha encontrado uma solução a seu problema. O único que podia fazer era tentar localizar a Irish. Ele lhe aconselharia que fazer. Mas após manter a linha ocupada durante meia hora entre seu apartamento, a redação de KTEX e a casa de Irish, ainda não tinha podido comunicar com seu chefe. Decidiu levar a fita diretamente a sua casa e esperá-lo ali. Isso supunha que teria que atravessar a cidade; mas, que diabos, era importante. Até que chegou ao estacionamento ese lembrou de que tinha o veículo na oficina. Seu colega teve que o levar a casa, após cobrir o regresso de Rutledge ao aeroporto de San Antonio essa noite. «Merda. E agora que?» A caixa correios. Esse era o meio que lhe disseram que usasse se não pudesse estabelecer contato de nenhum outro modo. Entre uma pilha de papéis desarrumados encontrou o que tinha anotado o número da caixa postal. Meteu a fita de vídeo em um envelope lacrado, pôs uma jaqueta e saiu a pé, levando o pacote consigo. Estava a só duas ruas da loja mais próxima, onde também tinha um correio, mas inclusive essa distância representava mais exercício do que Van estava acostumado a fazer. Comprou cigarros, um pacote de seis latas de cerveja, suficientes selos para enviar o envelope -e, se não, que Irish pagasse a diferença- e o meteu no correio. O aviso colado fora dizia que seria recolhida a meia-noite. Irish receberia a fita, quando muito, à manhã seguinte. De todos modos, tinha pensado seguir telefonando a cada cinco minutos até o localizar. O envio da cópia era só uma medida de segurança. Em onde podia estar esse velho bobo a essas horas, de não se encontrar em casa nem na emissora? Tarde ou cedo tinha que aparecer. Depois, ambos decidiriam como advertir a Avery ou o séria que era a ameaça a Rutledge. Bebendo-se uma das cervejas pelo caminho, regressou sem pressas a seu andar, entrou, tirou a jaqueta e voltou a seu lugar em frente ao aparelho de vídeo. Voltou
a carregar uma das fitas que tinham permitido resolver o mistério e começou a olhá-la de novo. A metade da fita, pegou o telefone e marcou o número de Irish. Soou cinco vezes antes de ouvir um chiado que interrompeu a conexão. Olhou rapidamente ao telefone e viu uma mão enluvada sobre o aparelho. Alçou a mirada e encontrou-se com uma cara que sorria afavelmente. -Muito interessante, senhor Lovejoy -disse suavemente seu visitante, fazendo um gesto em direção à tela-. Não recordava bem onde o tinha visto antes. A seguir, alçou uma pistola e disparou a queima-roupa à frente de Van. Irish entrou correndo a sua casa e pegou o fone ao sexto telefonema, justo quando penduravam ao outro lado. Maldita seja! Tinha ficado até tarde na redação, ocupando-se dos preparativos para o inferno que os esperava ao dia seguinte. Tinha andado revisando uma e outra vez os horários e as tarefas, e reunindo-se com os apresentadores para assegurar-se de que todos soubessem que fazer e aonde ir. Era o tipo de dia cheio de notícias que gostava a Irish; mas também o tipo de dia que acabava com seu estômago. Não devia se ter parado a comer esse prato de enchiladas de caminho a casa. Bebeu um copo de antiácido e voltou ao telefone. Chamou a Van, mas pendurou após que o telefone soasse uma dúzia de vezes. Se Van estava por aí de festa, drogándo-se com alguma substância, o mataria. Precisava-o acordo e alerta pela manhã. Enviaria a Van com um jornalista a gravar aos Rutledge votando em Kerrville e, depois, o destinaria ao Palácio do Rio o resto do dia, enquanto esperavam aos resultados das estatísticas. Irish não estava convencido de que pudesse ter alguém bastante estúpido como para perpetrar um assassinato em pleno dia de eleições, mas Avery achava que estava preparado para esse dia. Se ver a Van entre a multidão aliviava sua ansiedade, então Irish queria-o ali, visível e a mão por se chegava-se-lhe a precisar. Contatar com ela por telefone era impossível. Já tinha tentado chamar dantes, mas lhe disseram que a senhora Rutledge não se sentia bem. Ao menos essa era a versão que deram no quartel geral dos Rutledge para explicar sua ausência na última gira de campanha pelo norte de Texas. Em uma última tentativa de falar com ela, se lhe disse que a família tinha saído para jantar. Intranqüilo ainda, caminho de casa se deteve no correio e olhou no apartado. Não encontrou nada, o que diminuiu em algo sua preocupação. Supôs que a ausência de notícias significava boas notícias. Se Avery precisava-o, sabia onde o encontrar. Preparou-se para deitar-se. Após rezar, telefonou novamente a Van. Ainda não estava. Avery passou a véspera das eleições atormentada pelas preocupações. Tate disse-lhe com tom autoritario que não o acompanharia na última gira da campanha, e o cumpriu, indiferente a suas ruegos. Quando voltou a salvo, seu alívio foi tão grande que se sentiu débil. Ao reunir-se para jantar, Jack acercou-se a ela e lhe disse: -Sentes-te melhor? -Como? -Tate disse-nos que não vieste conosco porque te veio o período.
-Ah, sim -assumiu ela a mentira-. Não me sentia bem pela manhã, mas agora estou bem, obrigado. -Assegura-te de que estejas bem amanhã pela manhã. -Jack não estava em absoluto interessado por sua saúde, senão em como sua presença ou sua ausência podia influir no resultado das eleições-. Tens que estar em melhores condições. -O tentarei. A Jack reclamou-o então Dorothy Rae, que não tinha tocado umo copo em várias semanas. Eram evidentes as mudanças operadas nela. Já não parecia assustada e frágil, e cuidava seu aspecto. Mais agressiva, raras as vezes que perdia de vista a Jack e menos ainda quando Avery andava perto. Aparentemente, ainda considerava a Carole um perigo, mas um perigo que estava disposta a combater pelo afeto de seu marido. Graças ao natural encanto de Tate, Avery duvidava que alguém tivesse notado a ruptura de suas relações. A família transladou-se em grupo a um restaurante, onde foram atendidos em um salão privado. Durante o jantar, Tate tratou-a com soma cortesía. Ela o importunou com perguntas sobre o dia e sobre como o receberam na cada cidade. Ele respondeu cortesmente, mas sem proporcionar detalhes. A frieza metálica de seu olhar deixou-a gelada. Tate jogou com Mandy, referiu episódios da viagem a suas atentos pais, tomoulhe amavelmente o cabelo a Fancy e envolveu-a na conversa, escutou o último par de conselhos de Jack e discutiu com Eddy sobre a roupa que poria no dia das eleições. -Não me vou vestir especialmente para ir votar, não mais que qualquer pessoa normal, e só me porei traje e gravata se tiver que dar um discurso de agradecimiento. -Então, mais vale que ordene à ajuda de câmera que passe teu traje pela noite interveio Avery com convicção. -Isso, isso! Nelson descarrgou energicamente o punho sobre a mesa. Tate olhou-a com severidade, como querendo revelar a farsa. Se suspeitava uma traição de alguém no alegre círculo familiar, era dela. Se abrigava alguma dúvida sobre a lealdade e a devoção de sua família, ocultava-a bem. Para ser um homem cuja vida se podia ver radicalmente alterada ao dia seguinte, parecia absurdamente tranqüilo. No entanto, Avery achava que seu compostura era uma fachada. Brilhava confiança porque queria que todos se sentissem cômodos. Era algo típico em Tate. Ela almejava um momento de privacidade com ele ao voltar ao hotel, e se alegrou de que sua reunião com Jack e Eddy concluísse rapidamente. -Vou dar um passeio pela rio -comentou-lhes Jack, pondo-se a jaqueta-, Dorothy Rae e Fancy estão na habitação, vendo um filme pelo tv. É o tipo de melodrama sentimentaloide que não agüento, de modo que me vou a esfumar até que termine. -Baixarei no elevador contigo -disse Eddy-. Quero jogar um vistazo ao kiosco do vestíbulo por se perdemos-nos alguma informação nos jornais.
Saíram. Mandy já estava dormida em sua habitação. Avery pensou que assim teria tempo para alegar sua inocência ante Tate. Quiçá essa vez sua sentença não fora tão dura. No entanto, para sua consternação, Tate tomou a chave da habitação e dirigiu-se à porta. -Vou visitar um momento a papai e a mamãe. -Tate, você viu Van no aeroporto? Tentei chamar-lhe a casa, mas ainda não tinha chegado. Queria que trouxesse as fitas para... -Pareces cansada. Não me esperes acorda. Saiu da suite e permaneceu fora longo momento. Finalmente, e já que tinha sido em um dia longo e pesado, durante o que tinha permanecido confinada na habitação, se deitou. Tate não voltou. Ela se acordou durante a noite e, ao ter saudades seu calor e assustada por não ouvir sua respiração, cruzou rapidamente a habitação e abriu inesperadamente a porta. Estava dormindo no sofá do recibidor. Rompeu-lhe o coração. Durante meses tinha estado distanciado dela pelo engano de Carole; agora se distanciava dela por seu próprio engano.
Capitulo Quarenta e sete A dor de estômago que teve Irish ao se deitar a noite anterior não foi nada comparado com o que tinha às sete da manhã do dia das eleições. Amanheceu despejado e cálido. Esperava-se grande comparecimento às urnas, devido ao bom tempo. O clima na redação de KTEX não era tão clemente. O chefe estava em pé de guerra. -Miserável inútil filho de puta -falou depois de pendurar inesperadamente o telefone. Ao não aparecerna redação Van às seis e meia segundo o lembrado, Irish começou a fazer contínuos telefonemas a sua casa. Ainda não tinha resposta-. Onde andará? -Quiçá esteja em caminho -sugeriu outro cinegrafista, tentando servir de ajuda. -Quiçá -resmungou Irish, enquanto acendia um cigarro que não pensava tirar dos lábios-. Entretanto, enviarei a ti. Vá depressa, poderás atingir aos Rutledge na entrada do hotel. Se já estiverem saído, os alcance em Kerrville. E informa com freqüência -gritou-lhe ao cinegrafista, que saiu correndo com o repórter. Ambos se sentiam agradecidos por poder escapar com o couro cabeludo intacto. Irish tirou o telefone e marcou um número que já tinha memorizado. -Bons dias -atendeu uma voz amável-. Hotel do Rio. -Me urge falar com a senhora Rutledge. -Sinto-o, senhor. Não posso passar seu telefonema... -Sim, sei-o, sei-o, mas isto é importante. -Se deixar seu nome e número de tel...
Pendurou, interrompendo a ladaicha chata, e telefonou de imediato a Van. O timbre soou incessantemente enquanto Irish caminhava de um lado a outro, até onde lho permitia o cabo do telefone. -Quando colocou minha mãos em cima dele, vou fazer picadinho. -Chamou a um mensageiro que teve a desgraça de passar por ali-. Eh, tu, vê ali e tire-o de sua linda caminha. -A quem, senhor? -A Van Lovejoy. A quem diabos vai ser? -rugiu Irish impaciente. Por que todos tinham decidido ausentar-se ou se voltar estúpidos? Encreveu o endereço de Van em um pedaço de papel, entregou-lho ao aterrorizado rapaz e ordenou em tom ameaçador-: Não voltes sem ele. Avery saiu do hotel, levando a Mandy com uma mão suada e com a outra agarrada ao cotovelo de Tate. Sorriu para a infinidade de câmeras, desejando que seus músculos faciais deixassem de tremer. Tate dedicou às câmeras seu sorriso mais simpático e um sinal com o dedo polegar levantado enquanto avançavam para a limusine estacionada na entrada de veículos de alvenaria. Vários microfones dirigiram-se para eles. Desolada, Avery pensou que pareciam canhões de pistola. A voz de Tate soou confiante no meio do estrépito da rua e da confusão geral: -Formoso dia para ir às urnas. Bombardearam-no com perguntas sobre temas mais importantes que o clima, mas Eddy lhes fez entrar à parte traseira da limusine. A Avery molestou-lhe saber que viajaria com eles a Kerrville. Não estaria sozinha com Tate, como esperava. Não tinham estado a sós durante toda a manhã; ele já estava de pé e vestido quando ela acordou, e foi tomar café da manhã no restaurante do hotel enquanto se preparava e vestia a Mandy. Assim que a limusine pôs-se em movimento, jogou um olhar pela janela traseira, tentando localizar a Van. Viu a uma equipe dê dois homens de KTEX, mas Van não era a câmera situado por trás da Betacam. «Por que não? Onde está?», perguntou-se. Também não estava entre os jornalistas que os esperavam no colégio eleitoral de Kerrville. Sua ansiedade aumentou, a tal ponto que teve um momento em que Tate se inclinou para ela e lhe susurrou: -Sorrri, pelo amor de Deus. Dá a impressão de que eu já tivesse perdido. -Tenho medo, Tate. -Medo de que perca antes de que se tenha acabado no dia? -Não. Medo de que morras. Sustentou seu olhar durante uns segundos, até que Jack se interpôs com uma pergunta para Tate. A viagem de regresso a San Antonio pareceu interminável. O tráfico na autopista e na cidade era maior do habitual. Ao baixar da limusine à entrada do hotel, os olhos de Avery voltaram a esquadirnhar o cordão de jornalistas. Viu uma cara familiar, mas não era a que buscava. O homem de cabelo cinza estava em frente ao centro de convenções, ao outro lado da rua. Van não aparecia por nenhuma parte. Irish tinha-lho prometido. Algo andava mau. Mal chegaram à suite, se desculpou e entrou ao dormitório a chamar por telefone. O telefonema direto à redação foi atendida após dez toques. -Irish McCabe, faz favor -disse sem fôlego.
-Irish? O avisarei. Como tinha trabalhado em dias de eleições, sabia que pesadelos, e daí reptos, representavam para a imprensa. Não se podia perder nem um segundo. -Vamos, vamos, Irish -susurrou enquanto esperava. Não deixava de pensar no quieto e atento que estava Cabelo Canoso, como se lhe tivessem atribuído um posto. -Sim? -Irish! -exclamou, relaxando-se aliviada. -Não. É a ele a quem espera? Um minuto. -Sou Av... Quando abruptamente voltou a deixar à espera, quase rompeu a chorar de angústia. Voltaram a levantar o auricular. -Diga? -perguntou um homem com tom vacilante-. Diga? -Sim, quem é ...? Eddy, és tu? -Sim. -Fala-te A... Carole. -Onde diabos estás? -Estou na habitação. Estou usando esta linha. Evidentemente, ele tinha levantado a extensão no recibidor. -Bem, fala rápido, vale? Temos que manter livres estas linhas. Pendurou. Ela seguiu à espera. Seu telefonema à redação tinha sido ignorada por gente com coisas mais importantes que fazer que buscar ao chefe o dia mais movido do ano. Perturbada, pendurou o auricular e foi unir-se à família e a um par de voluntários importantes que se tinham reunido na outra habitação. Ainda que sorria e conversava como se esperava que fizesse, tentou imaginar onde poderia estar Van. Consolou-se imaginando-o embaixo, no salão de atos, colocando seu trípe e sua câmera para cobrir o que com sorte seria a celebração da vitória de Tate, a última hora da tarde. Pelo momento não podia fazer mais nada. Devia de ter uma explicação lógica para a mudança de planos e, ao não lho ter notificado, ela continuava a dar asas a sua imaginação. Irish e Van sabiam onde a encontrar se precisassem se comunicar com ela. Decidida a manter o pânico a distância, sentou-se no sofá no que estava sentado Tate. Tal como o prometeu, tinha ido votar vestido de um modo singelo, com uma jaqueta esportiva de couro e calças jeans. Parecia sumamente relaxado enquanto dizia-lhe a Zee o que queria para comer. Avery sentou-se no braço do sofá. Com ar distraído, ele cobriu uma coxa com o braço e acariciou o joelho em uma atitude descuidada posse. Quando Zee se foi, Tate a olhou, sorriu e disse: -Olá. -Olá. E então recordou. Ela viu como as lembranças assaltavam sua mente, devorando o cálido brilho de sua íris cinzas até os fazer novamente frios e implacáveis. Foi retirando o braço lentamente. -Há algo que te queria perguntar. -Sim? -Alguma vez tomaste medidas anticonceptivas?
-Não. Também não tu. -Magnífico. Não podia deixar que seu desprezo a intimidasse. No que ficava de dia, não se separaria dele. -Irish, linha dois para você. -Não vê que já estou no maldito telefone? -gritou acima do alarido da redação-. Que esperem. Bem -disse, voltando ao auricular-, chamaste à porta? -Até que me sangraram os dedos, senhor McCabe. Não está em casa. Irish levou a mão à cara. O recadero chamava com notícias que não tinham nenhum sentido. -Olhaste pela janela? -Tentei-o. As persianas estão baixadas, mas escutei pela porta. Não ouvi nenhum ruído. Não acho que tenha ninguém dentro. Ademais, seu furgão não está. Olhei no estacionamento e seu lugar está vazio. Essa ia ser a seguinte sugestão de Irish. -Deus Santo -murmurou. Tinha suposto que Van se encontraria em casa, dormindo depois de uma noite de excessos, mas obviamente não estava. Se seu furgão não estava ali, não estava em casa, ponto. Pensou que quiçá tivesse tido um mal entendido e que Van tinha ido diretamente ao Palácio de Rio, mas os da equipe destinada no hotel lhe tinham dito que também não andava por ali. -Vale, obrigado. Volta à redação. -Pressionou o botão piscando do telefone-. McCabe -disse bruscamente. Ouviu o tom de marcar-. Eh, não tinha alguém me esperando na dois? -Assim é. -Pois já não está. -Suponho que cansou de esperar. -Era um homem? -Uma mulher. -Disse quem era? -Não. Mas parecia um pouco agoniada. A pressão de Irish disparou-se. -Por que diabos não mo disseste? -Fiz-o! -Deus meu! Discutir com incompetentes não ia servir de nada. Voltou correndo a seu escritório, fechou inesperadamente a porta depois de si e acendeu um cigarro. Não podia estar seguro de que tivesse sido Avery, mas algo em seu interior lhe dizia que sim. Quiçá era isso o que lhe afetava tanto o estômago, seus malditos palpites. Tomou um gole de antiácido diretamente da garrafa e voltou a tirar o telefone. Chamou ao hotel e atendeu-o a mesma e impávida voz de antes. Quando pediu que o ligassem com a suite dos Rutledge, a operadora começou sua mesma e imperturbável ladainha. -Olhe, imbecil, importam-me um pepino suas malditas instruções ou a quem coño se lhe devem passar os malditos telefonemas. Quero que me ponha com a suite
imediatamente. In-me-dia-ta-mente, entendeu-me? E, se não o faz, vou ir lá e lhe vou arrancar a cabeça pessoalmente. A operadora desligou. Irish pôs-se a dar voltas pelo escritório, inalando fumaça e soprando como uma locomotora a vapor. Avery devia de estar fora de si, devia de pensar que a tinham abandonado. Van, esse idiota irresponsável, não tinha aparecido pelo hotel, onde devia estar, onde ela o estaria buscando, contando com seu apoio. Voltou correndo à redação e recolheu sua jaqueta pelo caminho. -Vou sair. -A sair? -Estás surdo? A sair! Se alguém telefonar ou vier me buscar, diga que me espere ou que deixe uma mensagem. Voltarei assim que puder. -Onde vais a...? O subordinado ficou falando-lhe às voltas de fumaça do cigarro. -Seguro que não está? -Avery não lho podia crer-. Chamei antes e... -O único que sei é que alguém disse que saiu, e não o encontro, de modo que suponho que se foi embora. -Aonde? -Ninguém o sabe. -Irish não sairia no dia das eleições. -Olhe, senhora, isto é um manicomio, especialmente desde que Irish decidiu sair, de modo que quer deixar uma mensagem, ou que? -Não -respondeu com voz distante-. Nenhuma mensagem. Sentindo que a tinham abandonado a sua sorte, cortou e voltou à habitação principal. Automaticamente, o primeiro que buscaram seus olhos foi a Tate. Falava com Nelson. Zee escutava ostensivelmente a conversa, mas olhava fixamente a Tate, com esses devaneios distantes que com freqüência a caracterizava. Jack e Eddy estavam abaixo, vigiando os arranjos no salão de festas enquanto seguiam cuidadosamente a marcha das eleições. Faltavam ainda algumas horas para que se fechassem as urnas, mas as primeiras indicações assinalavam que Tate e Dekker iam bastante empatados. Ainda que não chegasse a se pôr por diante, lhe estava dando um bom susto a seu oponente. Dorothy Rae sob pretexto de uma dor de cabeça e tinha se retirado a sua habitação para deitar um pouco. Fancy achava-se sentada no solo com Mandy. Estavam pintando juntas. Em uma súbita inspiração, Avery chamou-a. -Podes vir um minuto, faz favor? -Pára que? -Preciso que me leves um recado. -A avó disse-me que ficasse com a menina. -O farei eu. Em qualquer caso, ele já vai deitar um pouco. Faz favor, é importante. De má vontade, incorporou-se e seguiu a Avery a sua habitação. Desde o incidente de um par de noites atrás, estava bem mais tratável. De vez em quando surgiam sinais de seu mau caráter, mas em geral se mostrava bem mais agradável. Mal fechou a porta, Avery colocou uma pequena chave na mão de Fancy.
-Preciso que faças algo para mim. -Com esta chave? -É a chave de uma caixa postal. Preciso que vás ali e te fixes em se há algo dentro. Se há, trága contigo e dá a mim, a ninguém mais. -Que diabos ocorre? -Não to posso explicar agora. -Não quero... -Faz favor, Fancy. É sumamente importante. -Então, por que pedes a mim? A mim pelo geral me dão as tolices. -Achei que éramos amigas -replicou Avery, e pressionou um pouco mais-: Tate e eu te ajudamos a sair de uma enrrascada outra noite. Deves-nos um favor. Fancy pensou-lho um momento; depois, jogou ao ar várias vezes a chave na palma de sua mão. -Onde é? -Avery deu-lhe a direção do escritório postal-. Jo, isso está no fim do mundo. -Não disseste faz meia hora que estavas farta de estar encerrada nesta maldita suite? Bem, me farás este favor? A conduta de Avery deveu de transmitir-lhe certa medida da urgência e da importância do encarrego, porque Fancy encolheu-se de ombros. -Vale. -Obrigado. -Avery abraçou-a com força. Deteve-se na porta do dormitório-. Não chames a atenção ao sair. Se alguém pergunta por ti, te cobrirei. -Qual o motivo tanto mistério? Qual é o grande segredo? Não te estarás transando com um carteiro, não? -Confia em mim. É algo muito importante para Tate, e para todos nós. E, faz favor, vá pressa. Fancy recolheu sua bolsa do aparador do recibidor e dirigiu-se à porta da suite. -Agora volto -disse, acima do ombro. Ninguém percebeu que saía.
Capitulo Quarenta e oito Fancy sentou-se no bnquinh e colocou o pequeno pacote retangular que tinha tirado da caixa postal na superfície de madeira polida do bar. O garçom, um jovem musculoso e com bigote, se aproximou dela. O sorriso que ela lhe dedicou tinha sido desenhado no céu para que a luzissem os anjos. -Gim Tónica, faz favor. Os amistosos olhos azuis do garçom olharam-na com ceticismo. -Que idade tens? -A suficiente. -Que sejam dois. -Um homem sentou-se junto a Fancy-. Eu convido à senhorita. O garçom encolheu-se de ombros. -Como você quiser.
Fancy jogou um olhar ao seu salvador. Parecia ser um jovem executivo, da área dos seguros ou do da informática. Teria provavelmente algo menos de trinta anos. Casado. Em busca de diversão, para afastar das responsabilidades assumidas com o fim de poder pagar sua roupa de grife o relógio que levava posto no pulso. Esse era o tipo de local da última moda que atraía solteiros ou casados em busca de diversão. Achava-se cheio de antigüidades inúteis e de plantas gigantes e vistosas. O bar formava durante as horas de lazer um redemoinho que absorvia de seus BMW e de seus Porsche a executivos modernos. Estudaram-se mutuamente. O brilho dos olhos do homem, ao percorrer-lhe o corpo com a vista, indicava que estava pensando que se tinha marcado um gol. -Obrigado pelo copo. -De nada. Tens idade suficiente para beber, verdade? -Claro. Tenho idade suficiente para beber, mas não para pagar. Riram-se, e brindaram com as bebidas que acabavam de lhes pôr. -Chamo-me John. -Fancy. -Fancy? -Francine, mas prefiro. -Fancy. Tinha começado o ritual de acasalamento. Fancy reconheceu-o. Sabia as regras. Demônio, tinha-as inventado ela quase todas! Em duas horas, ou quiçá menos, estariam como cachondos antes, estariam em uma cama em algum lado. Depois de sua desilusão com Eddy, tinha renunciado aos homens. "Eram todos uns bastardos. Queriam uma só coisa dela, e era a mesma que podiam comprar na puta mais barata. Sua mãe tinha-lhe dito que um dia conheceria a um homem que realmente se preocuparia com ela e a trataria com carinho e respeito. Mas Fancy não acreditava. Devia ficar sentada, aborrecida até a raíz dos cabelos e deixando que seu sexo se atrofiasse, enquanto esperava que seu Príncipe Azul aparecesse e lhe devolvesse a vida? Pois não. Levava três dias fazendo de boa. Precisava um pouco de diversão. Esse Jim, ou Joe, ou John, ou como queira que se chamasse, podia lhe proporcionar. Tinha feito o recado de Carole como uma menina obediente, mas não estava disposta a voltar à suite do hotel e ficar colada à televisão como todos os demais, vendo os resultados eleitorais. Iria mais tarde. Mas, primeiro, se divertiria um pouco. Encontrar um espaço vazio para estacionar cerca do hotel era impossível. Irish finalmente encontrou um a várias ruas de distância. Para quando entrou no vestíbulo, suava profusamente. Se fosse preciso subornar para chegar até a suite dos Rutledge, o faria. Tinha que ver a Avery. Juntos poderiam descobrir que tinha ocorrido a Van. Quiçá todas suas preocupações fossem absurdas. Quiçá estivessem juntos nesse mesmo instante. Deus Santo, isso esperava. Avançou com dificuldade por entre os membros de um grupo turístico asiático que faziam fila para assinar o registro. A paciência não tinha sido nunca uma de suas virtudes. Sentiu como se subisse a pressão enquanto abria passo a cotoveladas entre os turistas, que batiam papo e se abanavam com panfletos sobre O Álamo. No meio do caos, alguém lhe deu uma cotovelada.
-Olá. -Oh, olá -disse Irish, reconhecendo a cara. -É você Irish McCabe, não é assim? O amigo de Avery. -Assim é. -Tem-o estado buscando. Siga-me. Cruzaram o congestionado vestíbulo. Irish foi conduzido por um par de portas para um elevador de serviço. Entraram, e as portas cinzas fecharam-se. -Obrigado -disse Irish, secando-se com a manga a frente suada-. Avery tem ...? No meio da pergunta, advertiu que se tinha utilizado o nome real. Olhou ao homem-. Sabe-o? Um sorriso. -Sim. Sei-o. Irish viu a pistola, mas não teve tempo para registrar o fato de que estava apontada para ele. Um segundo depois, levou-se a mão ao peito e caiu ao solo como uma árvore devastada. O elevador deteve-se na planta inferior do hotel. O único passageiro alçou a pistola e apontou para a porta que se abria, mas não teve que a usar. Ninguém esperava. Arrastou o corpo de Irish por um corredor curto, através de uma série de portas oscilantes, e depositou-o em um estreito sótão que albergava máquinas automáticas para uso do pessoal do hotel. O lugar achava-se iluminado desde o teto por quatro lustres fluorescentes, que foram facilmente destruídas com o silenciador acoplado ao canhão da pistola. Coberto com fragmentos de vidro opaco e em uma tenebrosa escuridão, o corpo de Irish McCabe ficou abandonado ali, no solo. O assassino sabia que, quando o descobrissem, outra morte teria escurecido essa noite. As horas de maior audiência estiveram dedicadas quase integralmente ao contagem dos votos. A cada um dos três televisores do recibidor transmitia um canal diferente. Resultou ser uma corrida presidencial ajustada, muito ajustada ainda como para tirar conclusões. Várias vezes, os apresentadores citaram a carreira senatorial em Texas entre o aspirante ao cargo, Tate Rutledge, e o senador em funções, Rory Dekker, como uma das mais concorridas e emocionantes da nação. Quando informou de que Rutledge levava uma pequeníssima vantagem, os presentes no salão começaram a vibrar. Avery saltou assustada pela súbita gritaría. Estava frenética, caminhando pelo fio de uma navalha, à beira do colapso nervoso. Todo aquele entusiasmo voltou hiperatividade de Mandy. Pôs-se tão molesta que acabaram contratando a uma babá do hotel para que a entretesse em outra habitação, de modo que a família estivesse livre para se concentrar nos escrutinios. Com a mente libertada temporariamente de Mandy, Avery podia preocupar-se por Tate e perguntar-se onde estavam Irish e Van. Seus desaparecimentos não faziam sentido. Tinha chamado três vezes à redação. Não os encontrou nem puderam lhe dizer onde estavam. -Tem-o notificado alguém à polícia? -perguntou no último telefonema-. Poderia terlhes ocorrido algo.
-Escute, se quer notificarlo à polícia, magnífico, faça-o. Mas deixe de chamar aqui para molestar-nos. Perdoe, agora tenho coisas mais importantes que fazer. E desligaram. Queria ir à redação o antes possível, mas não queria deixar só a Tate. À medida que passavam as horas, duas certezas tomavam corpo em sua mente: uma, que Tate ia ganhar as eleições; a outra, que algo horrível lhes tinha ocorrido a seus amigos. E se o que a tinha estado seguindo era Cabelo Canoso e não Tate, como sugeriu Vão? E se tinha notado seu interesse nele? E se interceptou a Van pela manhã quando se dirigia ao trabalho? E se tinha sacado a Irish da emissora com alguma armadilha? A ideia de que tivesse um assassino no hotel, baixo o sob teto que Tate e Mandy, lhe produzia calafríos. E onde estava Fancy? Tinha saído fazia horas. Tinha-lhe ocorrido algo também? Se não, por que não tinha chamado ao menos para explicar seu atraso? Inclusive em dia de eleições, a viagem de ida e volta ao escritório de correios não devia de levar mais de uma hora. -Tate, uma das correntes acaba de dar-te a vitória! -anunciou Eddy, entrando pela porta-. Pronto para descer? Avery girou-se rapidamente para Tate, contendo a respiração em antecipou a sua resposta. -Não -contestou ele-. Não até que não fique nem a mais mínima sombra de dúvida. Não até que Dekker chame e se declare perdedor. -Ao menos troque de roupa. -Que tem de mau esta roupa? -Vais discutir tudo até o último instante, não? -Até o último instante -respondeu Tate, rindo. Nelson aproximou de seu filho e apertou sua mão. -Conseguiste-o. Conseguiste todo o que esperava de ti. -Obrigado, papai -disse Tate, com um ligeiro tremor na voz-. Mas não cantemos vitória ainda. Zee o apertou contra seu pequeno corpo. -Bravo, irmãozinho -felicitou-o Jack, dando-lhe umas palmadinhaas na bochecha-. O próximo será a Casa Branca? -Não teria podido fazer nada sem ti, Jack. Dorothy Rae segurou a Tate e o beijou. -Agradeço-te que digas isso, Tate. -Ao César o que é do César. Olhou a Avery acima de suas cabeças. Sua expressão declarava silenciosamente quão errada tinha estado ela: encontrava-se rodeado de gente que o amava; ela era a única traidora. A porta voltou-se a abrir. Avery voltou-se, esperando ver a Fancy. Era um dos voluntários. -Já está tudo preparado no salão de festas. A multidão pede a presença de Tate e a banda está tocando. É fantástico! -Eu diria que é hora de abrir o champanhe -proclamou Nelson. Quando saltou o primeiro corcho, a Avery quase se lhe saiu o coração pela boca. O braço de John tocou um peito de Fancy. Ela se afastou. Sua coxa esfregou-se
contra o dela. Ela cruzou as pernas no outro sentido. Esses gestos previsíveis estavam começando a aborrece-la. Não se encontrava de bom humor. A bebida já não ia bem, não era tão divertido como em outros tempos. «Achei que éramos amigas.» A voz de Carole parecia falar-lhe acima da sensualidade hiper amplificada de Rod Stewart e do estrépito que criava a freguesia. Durante os últimos meses, Carole tinha-a tratado decentemente; na realidade, desde que voltou do hospital. Algumas das coisas que dizia sobre a autoestima começavam a fazer sentido. Como podia respeitar a si mesma se deixava que os tipos a abordassem dessa maneira -e isso não era nada comparado com algumas das situações pelas que tinha passado- e fizessem o que quisessem e dispusessem depois dela com a mesma facilidade com que atiravam um ccamisinha usada? Carole não a considerava uma imbecil. Tinha-lhe confiado um encarrego importante. E daí fazia ela a mudança? A fraudava. -Tenho-me que ir -disse de repente. John tinha-se inclinado para lamber-lhe a orelha. Quase fez-lhe cair do banquinho quando se levantou para recolher a bolsa e o pacote que seguia sobre a barra-. Obrigado pelas copos. -Eh, aonde vais? Achei que..., bom, já sabes... -Sim, já o sei. Sinto-o. O tipo levantou-se, levou-se as mãos às caderas e protestou enfadado: -Que diabos se supõe que devo fazer agora? -Uma palha, suponho. Conduziu para o hotel a toda velocidade, atenta aos radares e aos carros patrulha. Não estava bêbada, mas uma prova de alcoolismo detectaria álcool em seu sangue. O tráfico do centro reteve-a mais tempo do que esperava, mas finalmente conseguiu chegar ao estacionamento do hotel. O vestíbulo estava repleto de gente. Acima das cabeças agitavam cartazes com a foto de Tate Rutledge. Parecia como se todos os que no condado de Bexar tinham votado por Tate Rutledge tivessem ido a celebrar sua vitória. -Desculpe-me, desculpe-me. -Fancy abriu-se passo entre a multidão-. Oh, maldição, meu pé! -gritou quando alguém a calcou-. Deixem-me passar. -Eh, loira, põe à fila dos elevadores como todo mundo. A que se queixava era uma mulher que levava uma autêntica armadura de insígnias da campanha de Rutledge no peito. -Nem sonhe-o -replicou Fancy-. Perdoe. Após o que pareceu meia hora de luta contra a multidão, se pôs nas potas dospés e quase desmaiou ao descobrir que nem sequer estava perto dos elevadores. -Ao diabo -murmurou. Agarrou-se do braço do homem que estava a seu lado-. Se conseguir me colocar no elevador, lhe farei a melhor chupada que tenham te feito. Fez-se um silêncio súbito quando soou o telefone na habitação. Todos os olhos se voltaram para o aparelho. O ambiente era de expectativa coletiva. -Bem -disse Eddy baixinho-. É ele. Tate tomou o auricular. -Sim? Sim, fala Tate Rutledge. Agradeço-lhe por chamar, senador Dekker. Eddy levantou os punhos acima da cabeça e agitou-os como um boxeador depois de ganhar por fora de combate. Zee levou-se as mãos à boca. Nelson assentiu
como um juiz que acaba de receber uma decisão justa do júri. Jack e Dorothy Rae sorriram-se. -Sim, senhor. Obrigado, senhor. O mesmo digo. Obrigado. Obrigado por chamar. Tate devolveu o auricular ao aparelho. Durante uns instantes, permaneceu com as mãos apertadas entre os joelhos, depois alçou a mirada e, com um sorriso travisso, disse-: Suponho que isso quer dizer que sou o novo senador de Texas. A suite converteu-se imediatamente numa festa. Alguns dos homens de confiança saltaram em cima das cadeiras e começaram a dar alaridos como índios em pé de guerra. Eddy tomou a Tate do braço e conduziu-o ao dormitório. -Já podes te ir mudar. Que alguém chame ao elevador e o retenha. Chamarei abaixo para que nos dêem cinco minutos. Tirou o telefone. Avery permanecia retorcendo as mãos. Queria gritar e festejar o triunfo de Tate. Queria abraçá-lo e dar-lhe um beijo que estivesse à altura de tão importante acontecimento. Queria compartilhar aquele momento de júbilo com ele. Em lugar disso, tremia como um flan, assustada. Quando se reuniu com ele no dormitório, já estava de cueca, e vestindo as calças. -Tate, não vá. Alçou a cabeça inesperadamente. -Que? -Não desça. -Não posso... O segurou pelo braço. -O homem do que te falei, o de cabelo cinza, está aqui. Vi-o esta manhã. Tate, pelo que mais queiras, não vás. -Tenho que ir. -Faz favor. -As primeiras lágrimas assomaram a seus olhos-. Faz favor, crê-me. Ele se estava abotonando uma camisa azul claro. Suas mãos detiveram-se. -Por que teria do fazer? -Porque amo-te. Por isso quis assumir o papel de tua esposa. Apaixonei-me de ti quando ainda estava no hospital. Dantes de que pudesse me mover ou falar, já te amava. Todo o que te disse é verdade. Tua vida está em perigo. E, sim, apresentou-me a oportunidade de uma grande história e aproveitei-a, mas... Sujeitou-o pelos ombros e lhe suplicou com o olhar-. Mas fiz o que fiz porque queria te proteger. Amo-te desde o princípio. -Tate, estão... -Eddy entrou sem pedir permissão-. Que diabos ocorre aqui? Pensei que já estarias vestido. Abaixo estão a ponto de atirar abaixo o edifício, esperando a que apareças. Todos se voltaram loucos. Venha, vamos. Tate olhou a seu amigo e depois a Avery. -Mesmo se acreditasse em voçê - disse impotente-, não tenho opção. -Tate, faz favor -rogou-lhe, a voz rasgando-se como o papel. -Não tenho opção. Tirou suas mãos de cima e terminou de vestir-se rapidamente. Eddy instruiu-lhe sobre a quem devia dar as obrigado publicamente. -Carole, tens um aspecto fatal. Dantes de baixar, faz algo com tua cara -lhe ordenou enquanto levava a Tate. Desobedeciendo a ordem, seguiu-os. Tinha ainda mais gente na suite. Os trabalhadores da campanha enchiam de gente o corredor e abriam passagem
através das portas duplas para vislumbrar a seu herói. O ruído era ensurdecedor. De algum modo, Avery escutou o nome de Carole acima do barulho e voltou-se. Fancy abriu passo entre a multidão. A inércia lançou-a diretamente aos braços de Avery. -Fancy! Onde tens estado? -Não me dê sermão. Tenho passado por um inferno para chegar até aqui. Há um homem no corredor que está encolerizado porque lhe fiz uma promessa e outro que se chama John que... -Tinha algo na caixa postal? -Aqui está. -A jovem entregou-lhe o pacote a Avery-. Oxalá tenha valido a pena o inferno que tive que passar para o trazer até aqui. -Carole! Tu também, Fancy, vamos! -gritou-lhes Eddy, fazendo sinais para que avançassem para a porta acima das cabeças dos festejantes. Avery rasgou o pacote e viu que continha uma fita de vídeo. -Tenta detê-los. -Eh? -Estupefata, Fancy viu-a entrar no dormitório e fechar a porta-. Deus, sou eu, ou todo mundo se voltou completamente loucos? Um desconhecido passou por seu lado e deixou uma garrafa de champanhr em sua mão. Deu-lhe um bom gole. No dormitório Avery introduziu a fita no VHS. Retrocedeu até chocar com a cama e sentou-se na borda. Com o comando a distância adiantou a fita, passando as barras de cores até a tampa. Reconheceu o indicativo do canal. Washington. O nome do jornalista não lhe soava, mas o cinegrafista era Van Lovejoy. Sentiu-se invadida pela excitação. Van tinha enviado a fita a caixa postal de Irish, de maneira que devia conter algo de vital importância. No entanto, passados vários minutos ainda não imaginava que podia ser. Uma piada de Van? O tema da reportagem era um grupo, paramilitar e defensor da supremacía da raça branca, que tinha um acampamento permanente, localizado em um lugar não revelado no coração de um bosque. Os fins de semana, seus membros reuniamse para planejar o aniquilamiento de todos os que não eram como eles. Seu objetivo consistia em fazer num dia com o poder nos Estados Unidos para fazer uma nação racialmente pura, como lhe correspondia ser. Van, que pelo que sabia Avery não tinha nenhuma predileção política, deveu de alarmar-se com a ferocidade do ódio que a organização transmitia, pois deixou consignadas na fita as manobras bélicas simuladas às que se dedicavam. Gravouos trocando armas e munições, treinando aos recém chegados nas tácticas da guerrilha e doutrinando a seus filhos para que achassem que eram superiores aos demais. Faziam-no tudo em nome do cristianismo. Era um vídeo espantoso e deu-lhe lástima ter que o passar a velocidade rápida. Às vezes punha-o a velocidade normal para assegurar-se de não perder o que buscava, mas não via a mais mínima pista de por que Van o tinha considerado o bastante importante como para o enviar. A câmera começou a registrar um grupo de homens ataviados com uniforme militar. Iam armados até os dentes. Avery retrocedeu a fita e, depois, a pausou para estudar a cada rosto. O comandante gritava-lhes barbaridades aos receptivos ouvidos de seus soldados.
Van fazia um primeiro plano de um deles. Avery engoliu em seco. A cabeça começou-lhe a dar voltas. Tinha outro aspecto. O couro cabeludo brilhava pelo corte de cabelo tipo militar. Levava maquilagem de camuflagem na cara, mas era fácil reconhecê-lo porque tinha vivido com ele durante meses. -Que todos os homens são criados iguais é um montão de merda -vociferava o instrutor no microfone que sustentava na mão-. Um rumor iniciado pelas raças inferiores com a esperança de que alguém acreditasse. O homem que Avery tinha reconhecido aplaudia. Assobiava. Via latente o ódio em seus olhos. -Não queremos viver com negros nem com judeus nem com maricas, verdade? -Verdade! -Não queremos que corrompam a nossos filhos com sua propaganda comunista, verdade? -Verdade! -De modo que que faremos com quem nos diga que o temos que fazer? O grupo, como um sozinho corpo, se alçou. A câmera de Van ficou fixa no participante que parecia mais fanático e intolerante. -Matar aos gays! -gritou através de sua máscara de camuflagem-. Morte aos gays! A porta abriu-se inesperadamente. Avery parou precipitadamente a fita e girou-se. -Jack! Cobriu-se os lábios com os dedos exangües. Seus joelhos praticamente negavamse a sustentá-la. -Enviaram-me a buscar-te. Deveríamos estar abaixo, mas alegra-me que tenhamos um minuto a sós. Avery levantou-se com muito -esforço, apoiando no aparelho de televisão. Por trás dos ombros de Jack notou que o recibidor estava vazio. Todos tinham baixado já. Ele se aproximou. -Quero saber por que o fizeste. -Por que fiz que? -Por que veio a mim daquela maneira. Avery sentiu que custava respirar. -Jack... -Não, quero o saber. Dorothy Rae disse que nunca me quiseste, que singelamente brincou comigo para me inimizar com Tate. Por que, maldita seja? Quase destruíu minha relação com meu irmão. Quase acabei com meu casamento por tua culpa. -Jack, sinto-o -disse sinceramente-. Sinto-o para valer, mas... -Só querias me fazer ficar como um imbecil, não é assim? Faz bem a teu ego humilhar a Dorothy Rae? -Jack, escuta, faz favor. -Não, escuta tu. É mais duas vezes mulher que tu. Tens notado como deixou a bebida por si mesma? Faz falta caráter, algo que tu nunca terás. Ainda me ama, apesar de... -Jack, quando entrou Eddy a trabalhar para Tate? Jack ficou desconcertado e mudou de pé o peso, impaciente. -Estou-te falando de minha vida e... -É importante! -gritou-. Como conseguiu Eddy o posto de diretor de campanha?
Quando apareceu em cena? A ninguém se lhe ocorreu comprovar suas credenciais? -De que diabos estás falando? Sabes tão bem como eu que não convenceu a ninguém. Foi contratado para o posto. -Contratado? -repetiu com voz débil-. Por quem, Jack? De quem foi a idéia? Quem contratou a Eddy Paschal? Jack pôs os olhos em alvo e depois encolheu-se de ombros. -Papai.
Capitulo Quarenta e nove Corte Real era um lugar encantador, mas pouco apto para celebrar a vitória de Tate Rutledge porque só tinha uma entrada. Entre um par de pesadas portas espanholas e o salão de atos mediava unicamente um corredor curto e estreito. Formava um inevitável pescoço de garrafa. O recém eleito senador viu-se empurrado através desse corredor por uma onda de familiares, amigos e seguidores que gritavam e festejavam sua vitória: As luzes da televisão criavam um aura ao redor de sua cabeça, que brilhava como uma coroa celestial. Seu sorriso era uma mistura de confiança e humildade, a mistura que elevava aos homens bons à grandeza. O alto e grisalho observador de Tate abriu passo para a plataforma decorada no extremo oposto da habitação desde a entrada. Repartia cotoveladas entre jornalistas e seguidores, conseguindo de algum modo não chamar a atenção. Tinha aprendido a ser discreto com os anos. Recentemente tinha-se perguntado se não estava perdendo suas habilidades. Estava quase seguro de que a senhora Rutledge o tinha reconhecido no meio da multidão em mais de uma ocasião. Depois de pensar nela, advertiu de repente que não se encontrava entre o grupo que seguia a Tate para o palco. Olhou de um modo penetrante para a entrada. Ah, ali estava, fechando a marcha, com aspecto de achar-se aturdida, obviamente porque tinha-se separado do grupo. Voltou sua atenção para o carismático jovem político, cujo aparecimento no salão de festas tinha acendido à multidão. Ao subir ao palco, soltaram-se balões desde uma rede que tinha no teto. Os balões aumentaram a confusão e entorpeceu ainda mais a escassa visibilidade. Na plataforma, Rutledge deteve-se para apertar a mão a seus seguidores mais influentes; entre eles, vários ídolos dos esportes e uma atriz texana. Saudou ao público e o ovacionaram. Cabelo Grisalho desviou no canto de um cartaz robusto que quase o golpeou na frente e voltou a olhar ao herói do momento. No meio daquela orgía de celebração, só ele tinha um semblante preocupado. Determinadamente, seguiu avançando sem parar para a plataforma. O alvoroço tivesse intimidado à maioria, mas a ele não o preocupava. Considerava-o uma
moléstia, nada mais. Seguiu avançando determinado. Nada podia impedir que atingisse a Tate Rutledge. Avery chegou sem fôlego até a porta do salão de festas. Sentia as paredes de seu coração tão delgadas como as de um balão a ponto de estalar. Os músculos das pernas queimavam-lhe. Havia descido correndo vinte andares escada abaixo. Nem sequer tentou tomar o elevador, senão que jogou a correr pelas escadas com Jack, a quem só tinha dito que a vida de seu irmão estava em perigo. Em algum lugar das escadas, Jack ainda tentava lhe dar alcance. Deteve-se só uns instantes para recuperar o fôlego e se orientar e se abriu passo como pôde entre a gente para o palco. Os corpos formavam uma barricada, mas Avery conseguiu superá-la. Viu que a cabeça de Tate se alçava acima da multidão enquanto começava a subir os degraus que conduziam à plataforma. -Tate! Ele a ouviu gritar e se voltou, mas alguém no palco provisório impediu que a visse, lhe alçando o braço entusiasmado. Avery buscou desesperada a Eddy e encontrou-o situando a Nelson, Zee, Dorothy Rae e Fancy em um semicírculo por trás da tarima. Depois, conduziu a Tate para o podio, onde o esperavam uma dúzia de microfones prontos para amplificar suas primeiras palavras como flamante senador. Tate acercou-se ao podio. -Tate! -Era impossível fazer-se ouvir acima do estrépito. Ao ver a seu herói, a multidão tinha enloquecido-. Oh, Deus, não. Deixem-me passar. Deixem-me passar. Uma lúfada de adrenalina devolveu-lhe as energias. Sem concessões à cortesía, abriu-se passo a cotoveladas e patadas, fazendo a um lado os balões suspendidos. Jack conseguiu finalmente atingí-la. -Carole -disse resolando-. Que quiseste dizer com que a vida de Tate está em perigo? -Ajuda-me, Jack, pelo que mais queiras, me ajuda. -Ele fez o que pôde para criar um surco entre a multidão. Quando Avery viu que abria um passo diante, saltou no ar e começou a agitar os braços freneticamente-. Tate! Tate! Cabelo Grisalho! Estava junto à beira da plataforma, semi escondido depois de uma bandeira de Texas. -Não! -gritou-. Tate! Jack deu-lhe um empurrão desde atrás, o que lhe fez subir os degraus tropeçando, quase se caiu e conseguiu se sustentar. -Tate! Ao ouví-la gritar, voltou-se, com seu glorioso sorriso, e estendeu a mão. Avery atravessou a plataforma a toda carreira, mas não para Tate. Tinha o olhar fixo em seu inimigo. E ele a sua nela, e a súbita constatação de que conhecia suas intenções fez que se cristalizar os olhos. Como a câmera lenta, Avery viu que Eddy levava a mão à jaqueta.
Seus lábios formaram a palavra, mas não se deu conta de se realmente gritou «Não!» Quando ele extraiu a pistola e apontou à nuca de Tate. Avery lançou-se sobre Tate e atirou-o ao solo. Um milisegundo depois, a bala de Eddy chocou contra ela, a lançando contra os desprevenidos braços de Tate. Ouviu os gritos, ouviu a Tate negando a vozes o que ocorria, viu as expressões vazias de horror e incredulidade de Jack, de Dorothy Rae e de Fancy. Sua mirada encontrou-se com a de Nelson Rutledge no preciso instante em que a segunda bala de Eddy se afundava na frente. Zee estava banhada em sangue. Gritava de espanto. A cara de Nelson registrou surpresa, depois cólera e por fim fúria. Essa era a sua mascara. Morreu antes de tocar o solo. Eddy saltou da tarima para a multidão de espectadores histéricos. A bandeira da estrela solitária tremulava Um homem saiu de detrás e disparou a arma que levava escondida. A cabeça de Eddy Paschal estalou com o impacto. Foi a voz de Zee a que Avery ouviu longinquamente: -Bryan! Deus meu! Bryan!
Capitulo Cinquenta -Pareceu-me conveniente reunir-los aqui para esclrecer as coisas diante de todos. O agente especial do FBI Bryan Tate dirigiu-se ao sombrio grupo reunido na habitação do hospital de Avery Daniels. Sua cabeceira estava elevada, de modo que encontrava-se parcialmente sentada. Tinha os olhos vermelhos e inchados de chorar. Uma venda cobria-lhe o ombro esquerdo e levava o braço imobilizado. Os demais -Jack e sua família, Zee e Tate- estavam sentados nas cadeiras disponíveis ou apoiados contra as paredes e as soleiras. Todos mantinham uma distância prudente da cama de Avery. Desde que Tate revelou sua verdadeira identidade, tinha-se convertido em objeto de curiosidade. Depois dos trágicos acontecimentos da noite anterior levaram a Mandy ao rancho e deixaram-na ao cuidado de Mona. -Todos vocês viram o que aconteceu, mas não conhecem as razões. Não são fáceis de explicar. -Conta-lhes tudo, Bryan -disse Zee suavemente-. Não omitas nada por mim. Quero..., preciso que entendam. Alto e distinto, Bryan Tate encontrava-se de pé junto à cadeira dela, com a mão sobre seu ombro. -Zee e eu nos apaixonamos faz anos -disse de modo terminante-. Foi algo que nenhum dos dois previu nem buscou particularmente. Não fizemos nada para que ocorresse. Foi um erro, mas mais forte que nós. Finalmente rendemos-nos. -Seus dedos fecharam-se sobre o ombro de Zee-. As conseqüências foram trascendentais. Acabaram em tragédia a noite passada. -Contou-lhes como tinha regressado a casa da Coréia um par de meses antes que seu amigo Buddy-. A pedido dele, visitava a Zee periodicamente. Quando voltou Nelson, a relação entre Zee e eu se tinha transformado em algo bem mais grande que a amizade ou a
simples atração. Sabíamos que nos amávamos e que teríamos que ferir a Nelson. -Eu sabia também que estava grávida -falou Zee, tomando a mão de Bryan-. Grávida de ti, Tate. Disse a Nelson a verdade, lisa e claramente. Ele permaneceu tranqüilo, mas me deu um ultimato. Se fosse embora com meu amante e meu filho bastardo, nunca mais veria a Jack. -Os olhos encheram de lágrimas quando sorriu a seu filho maior-. Jack, tu ainda eras muito pequeno. Adorava-te, algo que Nelson sabia muito bem e que utilizou a seu favor. Quando prometi não voltar a ver a Bryan nunca mais, me disse que me perdoava e prometeu criar a Tate como se fosse seu filho. -E isso fez -disse Tate. Sua mirada encontrou-se com a de Bryan. Aquele homem era seu pai, conquanto nunca o tinha visto até a noite passada. E ao homem ao que conheceu e amou como a seu pai o tinham assassinado em sua presença. -Eu nunca soube o do ultimato de Nelson -acrescentou Bryan, seguindo o fio da história-. Singelamente, recebi uma nota de Zee dizendo que nosso caso, e não me podia achar que empregasse uma palavra tão absurda, que nosso caso tinha acabado e que oxalá nunca tivesse ocorrido. O desespero levou-o a oferecer-se voluntário para uma perigosa missão no estrangeiro. Quando seu avião teve uma falha em pleno vôo e começou a cair em espiral para o oceano, lhe deu as boas-vindas à morte, pois lhe dava igual morrer que ficar sem Zee. No entanto, o destino interveio, e resgataram-no. Enquanto recuperava-se das lesões, o FBI pôs-se em contato com ele. Já estava treinado em trabalhos de informação secreta. Propuseram-lhe que permanecesse morrido» e que começasse a trabalhar para eles. E isso tinha estado fazendo durante os últimos trinta anos. -Quando podia, vinha a te ver, Tate -lhe disse a seu filho-. Desde prudente distância, sem acercar-me o bastante como para me encontrar com Nelson ou com Zee, te observei jogar ao futebol várias vezes. Inclusive segui-te a pista no Vietnã durante uma semana. Estive em sua formatura na escola de advogados. Nunca deixei de vos querer a ti e a tua mãe. -E Nelson nunca o esqueceu nem me perdoou -comentou Zee, mexendo a cabeça e se soando o nariz com um lenço de papel. Bryan acariciou-lhe o cabelo em um gesto de consolo e voltou à história. Sua última missão consistia em infiltrar-se em um grupo de partidários da supremacía branca, que operava nos Estados do noroeste. Desde um princípio encontrou-se com um veterano do Vietnã sumamente amargurado, ao que reconheceu como Eddy Paschal, ex parceiro de habitação de Tate na universidade. -Tínhamos um volumoso expediente sobre ele porque tinha estado implicado em várias atividades subversivas e neonazistas, entre elas um par de execuções rituais, ainda que nunca tivemos suficientes provas para o processar. -Deus, e pensar que me deitei com ele! -exclamou Fancy, estremecendo-se. -Não podias o saber -a tranqüilizou Dorothy Rae carinhosamente-. Enganou-nos a todos. -Tivesse preferido mantê-lo com vida -continuou Bryan-. Era despiadado, mas sumamente inteligente. Tivesse sido de grande utilidade para o FBI. -Olhou a Tate-. Podes imaginar como me surpreendi quando Nelson estabeleceu contato com ele, sobretudo porque as filosofias de Paschal eram o extremo oposto das
tuas. Nelson limpou seu ficha, deu-lhe essa imagem distinta, pagou-lhe um curso intensivo em relações públicas e comunicação, e trouxe-o a Texas para que dirigisse tua campanha. Foi quando deduzi que as intenções de Nelson não eram o que pareciam. Tate retrocedeu até a parede e apoiou a cabeça no gesso. -De modo que todo esse tempo esteve planejando minha morte. Só foi uma grande farsa. Preparou-me para ocupar o cargo, me incutiu a ambição, contratou a Eddy; tudo. -Temo-me que sim -assentiu Bryan em tom inexorável. Zee abandonou sua cadeira e acercou-se a Tate. -Cariño, perdoa-me. -Perdoar-te? -Foi meu pecado o que ele estava castigando, não o teu. Tu só foste o cordeiro para o sacrifício. Queria que eu sofresse e sabia que o pior castigo possível para uma mãe era ver morrer a seu filho, especialmente durante um momento de triunfo pessoal. -Não o posso crer -recusou Jack, se pondo de pé ele também. -Eu sim -admitiu Tate baixinho-. Agora que olho atrás, o creio. Recordas como pregava a justiça, a imparcialidade, o pagamento dos erros, o castigo pelas transgressões? Acreditava na expiação dos pecados. -Olhou a Bryan-. Mas mamãe ainda não tinha pago por trair. -Nelson foi muito sutil, muito astuto -disse Zee-. Até ontem à noite, não soube o astuto e vingativo que podia chegar a ser. Tate, manipulou-te pára que te casasses com Carole, uma mulher que sabia me recordaria minha própria infidelidade; Eu não podia a culpar do tudo por cometer o mesmo pecado que eu. -Não foi o mesmo, Zee. -Sei-o, Bryan -exclareceu - mas para Nelson sim era-o. O adultério era adultério, castigável com a morte. Jack sentia-se mau. Sua cara estava pálida, alterada por uma noite de aflição. -Não faz sentido. Se odiava tanto a Bryan, por que lhe pôs Tate ao bebê? -Outra piada cruel -explicou Zee-. Seria outro constante recordação de meu pecado. Jack considerou-o durante uns instantes, e insistiu: -Por que favorecia a Tate? Eu era seu verdadeiro filho, mas sempre me fazia sentir inferior a meu irmão menor. -Cria no curso natural da natureza humana -contestou Zee-. Fez evidente que favorecia a Tate para que te inimizasses com ele. A briga entre vocês seria outro ônus para mim. Jack sacudiu a cabeça teimosamente. -Ainda não posso achar que fora tão malvado. Dorothy Rae tomou-lhe a mão e apertou-a entre as suas. Zee voltou-se para Avery, que tinha permanecido o tempo todo em silêncio. -Estava decidido a vingar-se de mim. Fez que Tate se casasse com Carole Navarro. Inclusive após inteirar-me de seu escuro passado, nunca se me ocorreu que Nelson era o responsável por sua conversão de bailarina em tugurios a esposa. Agora acho que ele o planejou, do mesmo modo que contratou a Eddy. Em qualquer caso, formaram uma aliança em algum ponto. Carole foi instruída
para fazer desgraça a Tate. Nelson sabia que quanto mais infeliz fosse Tate, mais infeliz seria eu. Ela fez tudo o que ele disse para fazer. A única decisão que ela tomou foi a de abortar. Não acho que Nelson estivesse sabendo. Fez-lhe montar em cólera, mas só porque temia que lhe custasse a eleição a Tate. -Acercou-se à cama e tomou a mão de Avery entre as suas-. Me perdoarás em algum dia pelas crueis acusações que fiz contra ti? -Não o sabias -a desculpou, com a voz rouca-. E Carole merecia tua antipatía. -Sinto muito por seu amigo o senhor Lovejoy, senhorita Daniels. -A expressão de Bryan era suave, completamente diferente à que tinha quando apontou a Eddy e disparou-. Tínhamos a um agente vigiando a Paschal, mas escapou-se-lhe essa noite. -Van foi o único responsável por salvar a vida de Tate -disse Avery com emoção na voz-. Deve ter passado várias horas visionando fitas antes de encontrar a que explicava por que Eddy Paschal lhe parecia familiar. Eddy deve ter deixado o seu posto à frente da campanha várias vezes, senhor Tate, porque sem dúvida seguiume a casa de Irish. Assim soube que estavam ligados. Também o ajudou a descobrir quem era Carole em realidade. -Tem sabido algo a respeito da saúde do senhor McCabe? Sorriu através das lágrimas. -Depois de insistir, deixaram-me vê-lo esta manhã. Segue em cuidados intensivos e seu estado é grave, mas os médicos acham que se salvará. -Ironicamente, o ataque ao coração salvou-lhe a vida. Evitou que Paschal disparasse. O erro de Paschal foi não verificar de que McCabe estava morto quando o tirou do elevador. Importa-se em nos dizer, senhorita Daniels, que fez suspeitar que o senhor Paschal ia atentar contra a vida de Tate? -Disseram para ela -respondeu Tate por ela. Uma reação de surpresa percorreu o grupo como uma descarga elétrica. Jack foi o primeiro em falar: -Quem? Quando? -Quando estava no hospital -contestou ela-, enquanto ainda estava vendada e se me tomava por Carole. -Explicou seu envolvimento desde aquele então até a noite anterior, quando subiu correndo à plataforma. Depois olhou a Bryan e agregou com tom apenado-: Pensava que você era um assassino de aluguel. -De maneira que viu-me. -Tenho olho de jornalista. -Não. Estava pessoalmente envolvido e não me comportei com a prudência habitual. Corri sérios riscos de ser reconhecido por poder estar cerca de Tate. -Ainda não distingo a voz, mas acho que foi Nelson, e não Eddy, o que me falou aquela noite no hospital -observou Avery-. Ainda que admito que nunca se me ocorreu que pudesse ser ele. Bryan alegou em sua defesa: -A senhorita Daniels não podia lhe dizer nada a ninguém sem risco de pôr sua própria vida em perigo. -E a de Tate -acrescentou ela, e baixou a vista timidamente quando ele a olhou. -Provavelmente pensaste que eu queria matar a meu irmão. Caín e Abel -apontou Jack. -Passou-me pela cabeça mais de uma vez, Jack. Sento-o.
Já que ele e Dorothy Rae seguiam unidos da mão, evitou mencionar sua paixão com Carole. -Parece-me realmente admirável como o levaste tudo -interveio Fancy-. Quero dizer, o de fazer-te passar por Carole. -Não deve ter sido fácil -a secundou Dorothy Rae, tomando a seu marido do braço-. Aposto a que estás contente de que tudo tenha saído à luz. -Dedicou-lhe uma mirada de agradecimiento. Agora entendia por que ultimamente seu cunhada se mostrava tão carinhosa e amável-. Isto é tudo, senhor Tate? Podemos ir-nos e deixar descansar tranqüila a Avery? -Chama-me Bryan, e sim, isto é tudo por agora. Desfilaram para a porta. Zee acercou-se a Avery. -Como poderei te pagar o ter salvado a vida de meu filho? -Não quero que nada mude. Nem tudo era falso. As duas mulheres trocaram uma mirada. Zee deu-lhe umas palmaditas na mão e saiu sob o braço protetor de Bryan. O silêncio que deixaram foi pesado. Tate deixou finalmente seu lugar contra a parede e dirigiu-se ao pé da cama. -Provavelmente se casarão -disse. -Que pensas disso, Tate? Alçou a cabeça. -Quem poderia os culpar? Levam apaixonados mais tempo do que eu tenho vivido. -É fácil entender agora por que Zee parecia sempre tão triste. -Papai converteu-a em seu refém emocional. -Riu-se com sarcasmo-. Suponho que já não posso o chamar papai, não? -Por que não? Isso é o que foi Nelson para ti. Fossem cquais fossem seus motivos, comportou-se como um bom pai. -Suponho que sim. -Sustentou-lhe a mirada-. Devia ter acreditado em você ontem, quando tentou me advertir. -Era demasiado incrível para que o aceitasses. -Mas tinhas razão. Ela mexeu a cabeça. -Nunca suspeitei de Nelson. De Eddy, sim. E de Jack. Mas nunca de Nelson. -Dói-me sua morte, mas, quando escuto o cruel que foi com minha mãe, e que contratou a meu melhor amigo para me assassinar... Deus! Suspirou em voz alta, passando a mão pelo cabelo. Seus olhos encheram-se de lágrimas. -Não sejas tão duro contigo mesmo, Tate. Tens que enfrentar muitas coisas ao mesmo tempo. Queria abraçá-lo e consolá-lo, mas ele não o tinha pedido e, enquanto não o fizesse, não tinha nenhum direito. -Quando fizer tua reportagem, te quero pedir um favor. -Não terá nenhuma reportagem. -Sim terá -assegurou com firmeza. Deu a volta ao pé da cama e sentou-se na borda-. Já estão começando a considerar você uma heroína. -Não devia ter revelaso a minha identidade durante a roda de imprensa desta manhã. -Tinha-a visto por televisão desde o hospital, transmitida ao vivo desde o vestíbulo do Palácio do Rio-. Podias ter-se divorciado de mim como se fosse de Carole, como tinhas pensado.
-Não posso começar minha carreira política com uma mentira, Avery. -É a primeira vez que me chamas por meu nome -susurrou, comovida depois de ouvir de seus lábios. Olharam-se fixamente durante uns instantes. Depois, ele continuou falando: -Até agora, ninguém, exceto os que estavam nesta habitação, e suponho que um par de agentes do FBI, sabe que Nelson Rutledge tramou esta conspiração. Supõem que o fez todo Eddy, devido a sua decepção dos Estados Unidos depois da guerra. Peço-te que o deixes assim, pelo bem de minha família. Sobretudo por minha mãe. -Se alguém me pergunta, isso farei. Mas não terá reportagem. -Sim, o terá. Os olhos voltaram-se a encher de lágrimas. Impaciente, Avery tomou-lhe a mão. -Não suporto que penses que fiz isto para me aproveitar de ti, ou que o fiz pela fama e a glória. -Acho que fizeste-o pelo que me disseste ontem e que teimosamente me neguei a crer; porque amas-me. O coração de Avery acelerou seu ritmo. Acariciou-lhe o cabelo. -É verdade, Tate. Mais que a minha própria vida. Ele olhou o curativo de seu ombro e, estremecendo levemente, fechou os olhos. Quando os voltou a abrir, estavam empañados. -Sei-o.
Epilogo -Está voltando a ver? O senador Tate Rutledge entrou na sala da acolhedora casa de Georgetown que compartilhava com sua esposa e com sua filha. Essa tarde em particular, Avery encontrava-se sozinha na sala, vendo a fita de seu documentário. A reportagem que tinha feito, a instâncias de Tate, passou pelas emissoras de PBS aos seis meses de que ele ocupasse o cargo. Os fatos foram apresentados com imparcialidade, com agudeza e sem nenhum ornamento, pese a estar ela envolvida pessoalmente. Tate tinha-a convencido de que o público tinha direito a se inteirar da estranha sucessão de acontecimentos que começaram com o acidente do vôo 398 e culminaram a noite das eleições. Inclusive afirmou que ninguém poderia apresentar os fatos com maior perspicacia e sensibilidade que ela. Seu último argumento foi que não queria que seu primeiro período como senador se visse envolto por mentiras e meias verdades. Preferia que o público conhecesse a verdade a que andasse fazendo conjecturas. O documentário não significou o prêmio Pulitzer para Avery, mas sim foi aclamado por espectadores, críticos e colegas; e isso fez que estivesse considerando ofertas
para realizar documentários sobre uma série de temas. -Desfrutando ainda da glória, eh? Tate deixou sua maleta em uma mesa e tirou a jaqueta. -Não te deboches. -Voltou-se, tomou-lhe a mão e a beijou pelo dorso, enquanto atirava dele para que se sentasse com ela no sofá-. Irish chamou hoje. Fez-me pensar em isso. Irish sobreviveu ao ataque de coração que sofreu no elevador do Palácio do Rio. Assegurava que tinha morrido e voltado a nascer. De que outro modo podia se explicar que Paschal não lhe tivesse tomado o pulso? Jurava que recordava ter saído flutuando de si mesmo, ter olhado para abaixo e ter visto a Paschal arrastar seu corpo para o trastero. Mas todos os que conheciam bem a Irish lhe tomavam o cabelo a respeito de sua superstição celtas e sua fé católica. O único importante para Avery era que não o tinha perdido. Ao final da reportagem, antes de que se fundisse a imagem, aparecia uma mensagem no meio da tela: «À memória de Van Lovejoy.» -Estamos demasiado longe do cemitério como pára que lhe leve flores -disse com voz rouca-. Vendo sua obra é como lhe rendo homenagem. Apagou a equipe e deixou a um lado o comando a distância. As maquinações de Nelson tinham trastornado suas vidas, e nunca escapariam do tudo às lembranças. Jack seguia lutando contra a decepção que sentia para seu pai. Tinha decidido ficar e dirigir o escritório de advogados em San Antonio, em lugar de unir à equipe de Tate em Washington. Ainda que estavam distanciados geograficamente, os dois meio irmãos nunca tinham se sentido tão perto o um do outro. Esperavam que o tempo curasse as feridas que tinham em comum. Tate lutava diariamente para assimilar as terríveis intrigas de Nelson, mas também chorava a morte daquele homem ao que sempre conheceu como seu pai. Mantinha as duas personagens inexoravelmente separados em sua mente. Suas emoções com respeito a Bryan Tate eram conflictivas. Gostava, respeitava-o e guardava-lhe afeto pela felicidade que tinha dado a Zee desde que se casaram. No entanto, não estava demasiado preparado para o chamar pai, um parentesco que não podia reivindicar publicamente, ainda que o fizesse em privado. Durante esses momentos de conflito emocional, o amor e o apoio de sua esposa ajudavam-no enormemente. Ao pensar nisso naquele momento, a apertou entre seus braços, recebendo tanto afeto como o que ele mesmo dava. Abraçou-a durante muito momento, com o rosto em seu pescoço. -Alguma vez disse-te que és uma mulher valente e fascinante por ter feito o que fizeste, pondo tua própria vida em perigo? Deus, quando penso nessa noite, quando recordo teu sangue caindo sobre minhas mãos. -A beijou no pescoço-. Tinha voltado a apaixonar de minha própria esposa e não entendia por que. Quase te perdi antes de descobrir realmente. -Não estava segura de que importasse muito -disse ela. Ele alçou a cabeça e a olhou zombadoramente-. Temia que quando descobrisses quem era para valer, não me quisesses mais. Ele a voltou a estreitar entre os braços. -Queria-te. Ainda te quero. -A maneira em que o disse não deixava nenhuma
dúvida. A maneira em que a beijou voltava a fechar um pacto que já tinham assumido no dia que se casaram-. Sigo descobrindo quem és, parece que te conheço intimamente - susurrou - mais intimamente que a nenhuma outra mulher; e essa é a pura verdade. Sei o que sentes por dentro, e conheço o sabor da cada parte de teu corpo. A beijou novamente com amor e com paixão. -Tate -sussurrou ela quando se separaram-, quando me olhas à cara, a quem vês? -À mulher à que devo minha vida. À mulher que salvou a Mandy de sua devaneio emocional. À mulher que leva a meu filho no ventre. -Acariciou-lhe ternamente a barriga inchada-. À mulher que amo mais que a nada no mundo. -Não, quero dizer... -Sie o que quer dizer. -A deitou no sofá e jogou-se junto a ela, tomou seu rosto entre as mãos e a beijou na boca-. Vejo a Avery