DOMINGO, 11 DE AGOSTO DE 2019 • EDIÇÃO Nº 5731
DIÁRIO OPERÁRIO E SOCIALISTA DESDE 2003
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PCO participa de atos em defesa do povo venezuelano
E
m diversas parte do Brasil e do mundo estão sendo realizados atos de solidariedade e em defesa do povo venezuelano, que vem sofrendo os ataques e uma bestial ofensiva do imperialismo contra a sua soberania e a sua autodeterminação.
EDITORIAL Ser contra o embargo é defender a soberania do povo venezuelano O embargo econômico que o governo de Donald Trump estabeleceu contra a Venezuela impede o país sul-americano de utilizar os ativos de seu governo que estejam em território norteamericano, além de fazer comércio com empresas dos Estados Unidos.
O desarmamento nunca foi uma política da esquerda A esquerda pequeno-burguesa, de alguns anos para cá, incorporou a reivindicação do desarmamento do povo como sendo uma palavra de ordem típica da esquerda. A propaganda nos meios de comunicação da burguesia procura inclusive convencer que a defesa do armamento é uma pauta típica da direita e o desarmamento seria da esquerda. Nada poderia ser mais falso.
A informação e o conhecimento não são as fontes do mal
A esquerda abandonou a ideia de que a causa da violência é social A conjuntura política, social e econômica do Brasil vem passando por uma grave crise, causada principalmente pela influência do imperialismo expressas nas políticas neolibeirais da extrema-direita no Brasil. Diante disso, a esquerda vem também passando por um período de grandes vacilações diante de lutas importantes, que deveriam se basear principalmente em chamar a população às ruas, a fim de mostrar à extrema-direita que o povo é totalmente contrário à ofensiva neoliberal.
2 | OPINIÃO EDITORIAL
Ser contra o embargo é defender a soberania do povo venezuelano
O
embargo econômico que o governo de Donald Trump estabeleceu contra a Venezuela impede o país sul-americano de utilizar os ativos de seu governo que estejam em território norte-americano, além de fazer comércio com empresas dos Estados Unidos. Também existe a ameaça de sanções por parte da potência imperialista contra qualquer empresa transnacional que fizer negócios com o estado venezuelano. Trata-se de um endurecimento do bloqueio económico dos Estados Unidos contra a Venezuela, que na verdade vem de muitos anos, com diversas iniciativas para minar a economia venezuelana, extremamente dependente do petróleo. Ao menos desde 2014 existe a manipulação do preço do barril de petróleo internacional justamente para prejudicar as exportações de países como Venezuela, Irã e Rússia, inimigos centrais do imperialismo Norte-americano.
Somado a isso, os grandes bancos internacionais têm impedido transações financeiras que envolvem o pagamento da dívida Venezuelana e, especialmente, a compra por parte deste país de produtos básicos como alimentos e remédios – que sempre foram importados, mesmo antes dos governos chavistas. Assim, desde 2013 a Venezuela vive uma guerra econômica causada pela burguesia local e o imperialismo, boicotando e impedindo a compra de produtos básicos. Isso tem levado à escassez de comida e medicamentos, fundamentais para qualquer civilização. Segundo um estudo recente de um centro de pesquisas norte-americano, 40 mil venezuelanos morreram nos últimos anos por causa do embargo econômico dos EUA. Basta lembrar dos ataques cibernéticos às centrais hidrelétricas venezuelanas nos últimos meses, que tiveram origem fora da Venezuela e que causa-
ram falta de luz, fazendo com que os pacientes nos hospitais, alguns deles, morressem devido à falta de cuidados. A Venezuela, sendo um país com a maior reserva de petróleo do mundo, é absolutamente visada pelo imperialismo, que busca essa fonte de lucro para os grandes monopólios petrolíferos internacionais. É por isso que a imprensa imperialista faz uma grande propaganda contra o governo venezuelano, para que ele caia e em seu lugar assuma um governo fantoche que entregue o petróleo é todas as riquezas da Venezuela aos grandes capitalistas. Trata-se de uma questão de soberania nacional. Segundo o próprio direito internacional burguês, os países são livres para escolher seis sistemas de governo e defender seu território. Os comunistas, sendo internacionalistas, devem, ainda mais, defender a Venezuela, por estar sendo vítima de um brutal ataque imperialista. É questão
de vida ou morte para os venezuelanos e sua classe operária se defender dos ataques imperialistas. E o povo defende o governo, que é um instrumento dessa defesa de seus interesses e de sua soberania. Fora imperialismo da Venezuela! Abaixo o golpe! Não a agressão dos EUA!
COLUNA
A esquerda que brinca com fogo (parte I) Por Renan Arruda
A
política da esquerda brasileira, praticamente em sua totalidade, está brincando com fogo. O fogo aqui é mais que uma figura de linguagem, é uma realidade que avança no país a passos largos. É a capitulação diante da “política de aproximações sucessivas” preconizada pelo então general Mourão, que é o caminho do País rumo a instalação de uma ditadura militar. Ainda diante do golpe de 2016, uma parcela considerável da esquerda custou acreditar que o movimento para a derrubada da presidenta Dilma Rousseff tratava-se de um movimento golpista. Até hoje existem setores, como o PSTU e correntes do Psol, que sequer acreditam que houve golpe. Aqui não trataremos desses casos, pois o desenvolvimento dos acontecimentos já tratou de colocá-los em seus devidos lugares, ou seja, no nada da política, grupos marginais que se transformaram em correia de transmissão da política imperialista no País e no mundo, como é o caso de suas posições de apoio à política do imperialismo de destruição dos governos da Venezuela e da Síria e por isso estão em franca dissolução. O que apresento aqui é a ação prática do regime político instaurado com o golpe de 2016, que de um ponto de vista objetivo se desenvolve a passos largos no caminho de quebrar, por ações legais e ilegais a “casca” das liberdades democráticas que existem (iam) no Brasil e estabelecer um regime de exceção no País. Sem sombra de dúvidas, além do golpe absolutamente escancarado do impeachment, as ações para incriminar dirigentes do PT e, muito em particular o ex-presidente Lula, através
da operação imperialista da Lava-Jato, são peças fundamentais na escalada direitista. De lá para cá a situação só avançou. Se a derrubada de Dilma já foi absolutamente farsesca, o que dirá a condenação e prisão de Lula. A Constituição, para a execução desse intento, foi absolutamente rasgada. Condenaram e prenderam Lula sem provas, sem nada, com uma condenação em 2ª instância, agredindo frontalmente uma das cláusulas pétreas da Constituição, cláusulas estas que só podem ser alteradas por um novo processo constituinte e isso tudo ficou escancarado com as denúncias do Intercept, que comprovaram aquilo que já era do conhecimento de amplas parcelas da população. O passo seguinte foi o de legitimar o golpe com um “verniz democrático”, com a “vitória” de um candidato saído das entranhas do próprio golpe. Diante do amplo repúdio popular ao golpe, aos golpistas e seus partidos, a burguesia foi buscar socorro no candidato da extrema-direita, apoiando o ex-capitão do Exercito Jair Messias Bolsonaro. Obviamente tudo feito às custas da exclusão do processo eleitoral de Lula, o candidato do povo que expressava justamente todo o repúdio popular ao golpe. Decorridos oito meses desse a sua posse, o governo Bolsonaro expressa o sentido do golpe. As ações legais cada vez mais avançam, mas além delas, as ações fascistas caminham de vento em popa pelo País afora. Os assassinatos e esmagamentos de sem-terras e índios se aprofundam; as intervenções do aparato repressivo do Estado estão se tornando uma constante,
com policiais invadindo assembleias e reuinões da esquerda de norte a sul do país; o avanço dos milicianos vinculados às polícias estão se avolumando no país. Um exemplo claro do avanço dos grupos paramilitares foi o massacre de presidiários em Altamira do Pará por uma facção apoiada pelos milicianos, contra uma outra facção, o Comando Vermelho, que está em disputa, justamente, contra os milicianos, pelo controle das favelas e das periferias das metrópoles brasileiras. Acreditando que está se colocando como oposição as manobras da extrema-direita, a esquerda nacional, cuja única preocupação e o calendário eleitoral, na verdade esta sendo atraída pela política da direita, do chamado CENTRÃO, conduzida pelo presidente da câmara federal, o direitista Rodrigo Maia. O fato, no entanto, é que a luta de classes não espera pelas eleições e enquanto a esquerda entra em acordos de bastidores com a direita, a extrema direita avanca em seu projeto e em sua política de destruição do pais e de ataques aos direitos as conquistas das massas populares Bolsonaro já deixou claro em seu discurso de posse que o seu objetivo é o de acabar com o “socialismo no país”. Em outras palavras, o socialismo que o capacho de Trump que acabar é, na verdade, destruir tudo que o movimento operário e a luta dos trabalhadores conquistaram em suas lutas e enfrentamentos com a burguesia no país nesses últimos 100 anos. E a esquerda em todo esse período? Muita conversa e pouca ação. Dizia ela que o impeachment era um “revanchismo” de quem havia sido derrotado nas eleições, depois trans-
formou-se num revanchismo do presidente da Câmara, o corrupto e venal Eduardo Cunha. No avançar do processo, mais ilusões, com a crença absurda de que a Câmara e depois o Senado não iriam aprovar o afastamento da presidenta. Tudo foi aprovado! Com Lula, a mesma coisa, só que agora com o Judiciário. A 13ª Vara de Curitiba (a gangue da Lava-Jato) não tem elementos para condenar, depois o TRF 4 de Porto Alegre não iria referendar, depois o STF, o STJ….daqui há 10 dias Lula estará solto. O fato e que o ex-presidente se encontra-se encarcerado há quase 500 dias! Nas eleições, a candidatura Haddad transformou a campanha contra Bolsonaro em um grande espetáculo, onde não faltaram elementos assustadores do tipo a “luta do bem contra o mal”, “civilização contra a barbárie”, “derrotar o fascismo nas eleições’, entre outros dirigidos a extrema-direita. Passadas as eleições, o candidato que encarnava a luta do mal contra o bem foi cumprimentado, a ele foi desejado “sucesso”e com num passe de mágica tudo aquilo que era “luta” contra o fascismo se mostrou o que realmente era: uma mera retórica eleitoral. No próximo artigo, voltaremos ao assunto. Trataremos de discutir a política da esquerda; o significado do elogio de Haddad aos militares; a confraternização entre os deputados Freixo e Janaina Paschoal; a política do “Fica Bolsonaro”, “a inócua política da resistência”; enfim, a capitulação da esquerda diante do avanço do golpe e sua evolução no sentido de ir cada vez mais no caminho de uma ditadura militar.
POLÍTICA | 3
FORA IMPERIALISMO DA VENEZUELA
PCO participa de atos em defesa do povo venezuelano E
m diversas parte do Brasil e do mundo estão sendo realizados atos de solidariedade e em defesa do povo venezuelano, que vem sofrendo os ataques e uma bestial ofensiva do imperialismo contra a sua soberania e a sua auto-determinação. Os protestos são uma resposta dos apoiadores, democratas, e progressistas de todo o planeta contra as criminosas sanções que o imperialismo norte-americano vem impondo ao país sul-americano, causando sérias consequências ao povo venezuelano, sufocando a economia do país, com desabastecimento de remédios e alimentos. As sanções impostas de forma vil pelo imperialismo congelam todos os ativos e contas do governo venezuelano nos Estados Unidos, onde o intuito é causar sofrimento ao conjunto da sua população, mulheres, crianças e idosos. Os EUA pressionam e atacam
o país latino-americano para depor o governo legitimamente eleito, substituindo-o por um governo fantoche, servil aos interesses do imperialismo, para aumentar a presença e o controle norte-americano na região. O Partido da Causa Operária vem não só integrando os Comitês em Defesa da Venezuela, como participa ativamente de todos os atos, protestos e manifestações em defesa da soberania, da auto-determinação e da luta do povo venezuelano para derrotar e expulsar os fantoches do imperialismo no país, como o golpista Juan Guaidó. Neste sábado, dia 10 de agosto, dia internacional de luta do povo venezuelano contra as sanções e os embargos do imperialismo contra a Venezuela, o PCO esteve presente no consulado dos EUA, em São Paulo, onde ali participou de ato em defesa da revolução
bolivariana e contra os ataques do imperialismo. Também em Brasília ocorreu um ato organizado pelo Comitê Abreu e Lima, realizado na plataforma superior da rodoviário, na zona central da cidade, onde as diversas intervenções deixaram claro o repúdio do movimento popular, sindical e estudantil
ali representados contra as sanções impostas à Venezuela e ao povo venezuelano. O PCO esteve presente com sua ativa militância, com faixas bandeiras e pirulitos, manifestando sua solidariedade ao povo venezuelano e repudiando os ataques do imperialismo a todos os povos das Américas.
DESLIZES DA ESQUERDA
A esquerda abandonou a ideia de que a causa da violência é social A
conjuntura política, social e econômica do Brasil vem passando por uma grave crise, causada principalmente pela influência do imperialismo expressas nas políticas neolibeirais da extrema-direita no Brasil. Diante disso, a esquerda vem também passando por um período de grandes vacilações diante de lutas importantes, que deveriam se basear principalmente em chamar a população às ruas, a fim de mostrar à extrema-direita que o povo é totalmente contrário à ofensiva neoliberal. Propositalmente ou não, a esquerda pequeno-burguesa vem aceitado fazer frente com partidos que deram total apoio ao golpe que tirou da presidência uma presidente eleita pelo voto popular, mas não só, muitos desses partidos também alavancaram a fraudulenta Lava-Jato, criado principalmente para criminalizar a esquerda e tirar do páreo eleitoral o candidato das massas, o candidato que o povo queria votar, Lula. Diante de tantos ataques da direita, com retirada de direitos trabalhistas,
Reforma da Previdência, etc., a esquerda não consegue abandonar sua posições superficiais e pequeno-burguesas e muitos desses partidos de esquerda, que inclusive se dizer “radicais”, se recusam a chamar o Fora Bolsonaro, por exemplo. Essa é uma clara vacilação da esquerda, que nega a si mesmo, nega seus ideias de luta pela classe trabalhadora e cai no engodo de que o diálogo é a melhor opção.
Já ficou explícito que com a extrema-direita não há diálogo, o presidente golpista e reacionário Bolsonaro não quer saber de diálogo com nenhum dos grupos oprimidos, nem com a população trabalhadora em geral, o que Bolsonaro quer é oprimir o povo da forma mais violenta possível. As violências pelas quais o Brasil vem passando são frutos não só da ofensiva neoliberal, mas também dos deslizes
da esquerda em não chamar o povo às ruas e lutar com as mesmas armas do governo golpista. Não há conversa com fascistas, essa é a premissa básica para começar a avançar na luta. Se eles nos atacam de forma violenta, o mínimo que a população deve fazer é responder na mesma moeda, afinal, o povo trabalhador brasileiro sabe que seu lugar não é agrilhoado à opressão e exploração.
4 | POLÊMICA
ESQUERDA PEQUENO-BURGUESA
O desarmamento nunca foi uma política da esquerda
A
esquerda pequeno-burguesa, de alguns anos para cá, incorporou a reivindicação do desarmamento do povo como sendo uma palavra de ordem típica da esquerda. A propaganda nos meios de comunicação da burguesia procura inclusive convencer que a defesa do armamento é uma pauta típica da direita e o desarmamento seria da esquerda. Nada poderia ser mais falso. A pauta do desarmamento nunca foi e não é uma reivindicação da esquerda. Esse é um problema que foi incorporado pela esquerda graças à adaptação a uma política da burguesia. Como a burguesia tem dificuldade de defender determinada política, ela usa a esquerda para dar um ar democrático ou progressista. Esse é exatamente o caso do desarmamento. A burguesia e sua imprensa, de maneira cínica e pérfida, convence a esquerda pequeno-burguesa a entrar na campanha pelo desarmamento contrapondo a demagogia feita pela extrema-direita, que na verdade só quer armar os seus amigos, capangas, poli-
ciais, latifundiários etc. Na realidade a política tradicional da esquerda e das organizações operárias é a defesa democrática do armamento do povo. De ponto de vista lógico, que vantagem tem uma organização que defende o direito do povo ser contra o armamento? Absolutamente nenhuma!
Ao contrário, o desarmamento é uma típica política da direita, portanto da burguesia que obviamente quer ver o povo desarmado. Aqui, vale a máxima: povo desarmado, povo dominado. Afinal, se é a burguesia que detém o poder do Estado e portanto do monopólio da violência, a classe operária e o povo em geral deveriam ter como polí-
tica a defesa do direito ao armamento. Mas não é só do ponto de vista lógico que o desarmamento não é uma política da esquerda. Até mesmo as experiências históricas de luta do povo mostram que o armamento sempre foi uma necessidade em vários episódios. Apenas para citar um exemplo, o movimento dos negros pelos direitos civis nos Estados Unidos só se desenvolveu quando evoluiu para um movimento armado. O Partido dos Panteras Negras, por exemplo, que a esquerda pequeno burguesa adora idolatrar para fazer demagogia identitária, era uma organização que andava ostensivamente armada com o objetivo de se defender e defender os negros da violência da polícia. A política do desarmamento é da direita, não da esquerda. Só mesmo uma esquerda pequeno-burguesa que tem ilusões profundas na democracia burguesa, que na realidade não passa de um fiapo de democracia, poderia acreditar que o desarmamento fosse a solução para os problemas do povo. Acreditar nisso é crer cegamente no Estado burguês e em suas instituições, a começar pela polícia, treinada para assassinar o povo.
IDEOLOGIA ATRASADA
A informação e o conhecimento não são as fontes do mal O
presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, numa típica declaração extravagante da extrema-direita, em pronunciamento oficial, colocou a culpa pelos tiroteios que deixaram dezenas de mortos e feridos no final de semana passada no Texas e em Ohio no “teor violento dos jogos de video game”. Tal declaração, embora à primeira vista pareça mais um desses discursos convencionais da direita, representa uma ideologia muito presente entre os setores mais atrasados da população, impulsionada pela burguesia. Colocar a culpa na tecnologia, na Televisão, no rádio etc é muito comum, inclusive, tal ideologia atinge parte da própria esquerda. Trump colocou a culpa nos videogames, mas quem nunca ouviu que a Televisão é a culpada pelos males do mundo? Essa ideologia é típica da direita mais reacionária e fundamentalmente significa que a informação é a culpada pelos males do mundo. Os meios de informação seria, portanto, responsáveis pela violência, pela maldade em geral. Daí que só poderíamos chegar à conclusão de que quanto menos informação, melhor. Ou seja, é uma ideologia reacionária e obscurantista. Essa ideologia, na realidade, é típica das classes dominantes que querem
o povo o mais afundado possível nas trevas da ignorância. Por exemplo, quando Guttemberg inventou a imprensa e os livros passaram a ser difundidos com maior facilidade, a burguesia inventou a campanha de que eles eram os culpados pelo mal do mundo. Quem lia um livro poderia ter
o corpo tomado por uma bruxa ou um demônio. Por isso, na Idade Média e posteriormente na inquisição, mas também nos regimes fascistas, os livros eram queimados. Quanto mais informação, pior para a burguesia. O rádio, a televisão, a inter-
net, os videogames e a tecnologia em geral são instrumentos que aumentaram, de um jeito ou de outro, o nível intelectual da humanidade. A campanha contra isso está exatamente a serviço da burguesia, pois tem como objetivo deixar a população no obscurantismo e ignorância mais profundos.
INTERNACIONAL | 5
VENEZUELA
Atos em defesa da Venezuela contra imperialismo ocorrem no mundo todo
E
m diversas partes do mundo, em vários países, estão se multiplicando os atos em repúdio às sanções do governo fascista de Donald Trump contra o povo venezuelano, em luta para manter seus direitos e conquistas alcançados sob o regime chavista. A Venezuela sofre uma brutal ofensiva do imperialismo para destruir a sua economia e instalar um governo sem qualquer legitimidade, servil e submisso aos interesses norte-americanos. Em Caracas, capital venezuelana, milhares foram às ruas para protestar contra a tentativa do imperialismo em sufocar a economia do país, ao mesmo tempo exigindo o fim das sanções e dos embargos contra a Venezuela. A solidariedade internacional se coloca, neste momento, como um dos elementos mais importantes para denunciar as investidas do governo
norte-americano contra o país rico em petróleo, que é na verdade a grande cobiça do imperialismo. O cerco à Venezuela faz parte da estratégia do imperialismo para submeter os povos das Américas, fomentando golpes e regimes de extrema-direita no continente, ampliando a presença política, econômica e militar dos EUA em toda a América Latina. A luta em torno à expulsão do imperialismo do continente passa, portanto, pela defesa intransigente dos regimes políticos que se opõem aos ditames dos EUA, mesmo os mais moderados, pois o que está em questão é a derrota do imperialismo, a luta pela conquista e defesa da soberania nacional, a preservação dos direitos democráticos da população que os regimes fascistas e semifascistas da região querem suprimir e a luta em defesa dos ativos nacionais dos países da região.
11 DE AGOSTO DE 1965
Estouram os levantes raciais de Watts H
á 54 anos, o distrito de Watts – Los Angeles, Estados Unidos – entrava em convulsão social após um episódio de brutalidade policial contra um jovem negro. O operariado negro, segregado oficialmente por um regime de apartheid, iniciou uma insurreição de cinco dias contra a polícia e as autoridades locais, resultando em diversos bairros queimados, prisões em massa, e dezenas de mortos. Após o levante, direitos iguais para a população negra passariam a ser garantidos pela lei do Estado da Califórnia. Na noite de uma quarta-feira, 11 de agosto de 1965, o jovem negro Marquette Frye dirigia o Buick 55 de sua mãe quando foi parado pelo policial Lee Minikus, sob alegação de direção perigosa, recebendo voz de prisão. Trazida pelo irmão de Marquette, Ronald, sua mãe, Renna Price, foi empurrada por um policial. Quando a mulher reagiu, outro guarda apontou-lhe uma escopeta. Instalou-se um tumulto com
a população que já se agrupava na esquina da rua 116 com o , em Watts. A família foi espancada e presa, escalando a revolta da comunidade, que passou a atirar pedras e pedaços de concreto nas forças de repressão. Rapidamente formaram-se grupos de combate e barricadas. O governador direitista Pat Brown (Partido Republicano) declarou estado de emergência, convocando a Guarda Nacional do Exército da California para dar combate à população, que passara a ser considerada “guerrilheira”. Na verdade, como se deduz do ocorrido, não se tratava de um levante organizado, mas da rebelião da comunidade negra segregada e oprimida nas metrópoles da Califórnia – Costa Oeste dos Estados Unidos. A região tivera um grande crescimento industrial desde a década de 40, impulsionada pelo esforço de guerra que demandava a fabricação de armamento para as batalhas no oceano pacífico. Tal desen-
volvimento impulsionara um expressivo êxodo – sobretudo da população negra – do Meio-Oeste rumo ao litoral ocidental. O sul de Los Angeles foi ocupado por estes operários, o que acabou por deslocar a população branca, racista, de classe média, para condomínios fechados distantes. Iniciou-se uma batalha legislativa, em que os brancos buscavam manter a discriminação racial de base territorial, culminando na chamada Proposição 14, de 1964, que assegurava aos grandes proprietários o “direito de negar-se a vender” imóveis a quem desejassem – os negros. Este verdadeiro apartheid na verdade colocava os negros em más condições de moradia, evidentemente. Além da questão imobiliária, a população negra vinha sofrendo com carência de escolas e creches, expressivo analfabetismo e alto índice de desemprego. Enfim: a pobreza necessária ao capitalismo às portas de uma das grandes
metrópoles norte-americanas. Mais de 35 mil pessoas participaram dos conflitos. Com a presença do exército – totalizando um total de mais de 1600 efetivos de repressão –, declarou-se estado de sítio em Watts, bem como em todas as regiões majoritariamente negras de Los Angeles. Cerca de 3.500 pessoas foram presas, 34 foram mortas, 1.032 feridas até o dia 16 de agosto, quando cessaram os conflitos. Quase mil imóveis foram depredados ou queimados. Os racistas brancos foram obrigados a declarar inconstitucional a Proposição 14 no ano seguinte – embora a pobreza, o desemprego e o analfabetismo tenham persistido, sem mudanças nas políticas públicas. O episódio tem um duplo sentido: ao mesmo tempo em que mostra a força política de mobilizações populares, demonstra os limites reivindicativos de movimentos desorganizados.