Edição Diário Causa Operária nº5735

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QUINTA-FEIRA, 15 DE AGOSTO DE 2019 • EDIÇÃO Nº 5735

DIÁRIO OPERÁRIO E SOCIALISTA DESDE 2003

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Argentina: burguesia aprofunda a crise depois da derrota EDITORIAL

O que faltou no dia 13? Depois de mais de uma mês sem um grande ato de rua contra o governo, as manifestações dessa terça-feira, dia 13, marcaram uma retomada da mobilização.

Ditadura: governo ameaça com Lei de Segurança quem comenta na Internet Nesta quarta-feira (14), o golpista ilegítimo Jair Bolsonaro fez uma visita ao estado do Piauí. Em uma rede social, um internauta comentou uma notícia sobre o fato de que essa visita aconteceria dizendo: “Dessa vez a faca não vai ser de mentira não”.

Mauricio Macri e a direita golpista argentina sofreram uma grande derrota nas eleições primárias diante do peronismo, realizadas domingo (11). Alberto Fernández ficou com 47%, contra apenas 32% de Macri, e poderia, com esse resultado, levar a vitória no primeiro turno nas eleições de 27 de outubro. Esse resultado eleitoral levou a Argentina ao caos econômico, em uma situação que já era bastante problemática.

Segundo Comissão de anistia, vítimas da ditadura são terroristas Para a Comissão de Anistia sob o controle dos bolsonaristas, vítimas da ditadura militar de 64 são terroristas. Governo negou mais de 1300 pedidos de indenização de reparação à anistiados de 2016 para cá.

Rodrigo Maia explica por que não defender o Fora Bolsonaro Em evento promovido pela Fundação Lemann na última quinta-feira (8), o presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia, deu claras indicações de que a opção dominante da burguesia neste momento é a de aguentar Bolsonaro até 2022, ainda que o seu nome não fosse a opção original dos golpistas, mais o resultado de seus erros, limitando-se a tentar colocar limites às atitudes do fascista em um caso ou outro.

Moro e a Lava Jato protegeram os golpistas de 2016 Em 18 de outubro de 2016, um dia antes da prisão de Eduardo Cunha (MDB), ex-presidente da Câmara dos Deputados, o então juiz Sérgio Moro articulou com os procuradores da Lava Jato que não apreendessem os celulares do deputado, que guardavam conversas com parlamentares golpistas detentores do chamado foro privilegiado.

MP 881: Bolsonaro roubou Comitê Central do PCO aprova 30ª os domingos do trabalhador Conferência e ato em Curitiba Foram 345 deputados federais que aprovaram na terçafeira (13) mais uma maldade do presidente ilegítimo Bolsonaro contra o trabalhador brasileiro.

Marcha das Margaridas: mais um ato contra o governo Bolsonaro


2 | OPINIÃO EDITORIAL

COLUNA

O que faltou no dia 13?

Lava Jato: uma máfia a serviço dos interesses imperialistas Por João Silva

A

D

epois de mais de uma mês sem um grande ato de rua contra o governo, as manifestações dessa terça-feira, dia 13, marcaram uma retomada da mobilização. Em quase 150 cidades, segundo dados da CUT, o povo saiu na rua para protestar. Embora tenham sido manifestações importantes e necessárias para o retorno da mobilização, os atos do dia 13 estiveram longe de ser representativos como as manifestações de massas de maio e junho. É preciso fazer um balanço do porquê desse fato para uma análise adequada da situação política. Em primeiro lugar seria errado concluir que a tendência de luta e de radicalização reflui. Na realidade, os fatos mostram o contrário. Desde junho, a situação do governo golpista piorou do ponto de vista das massas. Até mesmo a burguesia não consegue esconder a impopularidade do governo. Disso, é preciso concluir que o problema central não está no povo, mas nas direções dos atos. As grandes organizações por trás dos chamados das manifestações insistem em convocar atos tendo como centro as reivindicações parciais. Nesse caso do dia 13, os cortes na educação. É notável em todos os atos que o que unifica os manifestantes é a luta contra o governo, que está materializada na palavra de ordem de Fora Bolsonaro. Essa manifestação,

embora menor, apresentou esse fato de maneira ainda mais clara. Mais ainda do que nos atos anteriores, os presentes se unificavam pelo Fora Bolsonaro. Ao insistir nas reivindicações parciais, as direções dos atos dispersam e desorientam essa tendência de luta. Em maio, o problema da educação foi o estopim para que as massas fossem às ruas. O estopim, no entanto, não é o fator político essencial que mobiliza o povo. Ele serve apenas como um último empurrão para a mobilização. O que colocou o povo na rua tanto naquele como neste momento foi o sentimento generalizado de que é preciso derrotar o governo. Ao insistir no problema da educação agora, as organizações estão desmobilizando o povo naquilo que realmente os unifica nas manifestações. Por isso é preciso chamar o povo para a rua tendo como centro a derrubada do governo golpista. Se amanhã, outra medida destrutiva de Bolsonaro servir como estopim para enormes mobilizações, é preciso dar a vazão política para elas e não procurar esfria-las ocultando o problema político central. O que faltou para esse dia 13 foi uma campanha permanente de mobilização pela derrubada de Bolsonaro. É isso o que o povo já demonstrou que quer.

Operação Lava Jato, “a grande empreitada para acabar com a corrupção no Brasil” foi instaurada no Brasil para ser apresentada como solução de todos os males da política, para salvar o país, para ajudar o povo, para limpar a imoralidade da política, blá, blá, blá. Um discurso demagogo feito para enganar os mais incautos e ingênuos. Mas a função da operação comandada por Sérgio Moro é tudo menos uma cruzada contra a corrupção, é uma operação corrupta. A operação comandada por Sérgio Moro, ex-juiz, promovido a Ministro da Justiça, utilizou de todos os meios ilegais para atingir seus objetivos. Promover a destruição da indústria nacional, com destaque, a venda de uma das maiores riquezas do Brasil, o petróleo brasileiro e a camada pré-sal. Como parte do plano era importante garantir que nenhum obstáculo impedisse o andamento da atividade golpista. Para isso a anulação do governo do PT, o golpe contra Dilma Rousseff e a prisão de Lula e por conseguinte a perseguição em nível nacional a sindicatos, organizações populares, sem terra, movimentos estudantis e a qualquer sinal de oposição à política de total submissão ao imperialismo. Para colocar em prática uma operação deste porte era necessário todo uma série de órgãos, públicos ou não para agir em conjunto para atingir os objetivos. Além da Polícia Federal, o poder judiciário, por meio da República de Curitiba, comandada por Moro, o TRF-4, a segunda instância, o Ministério Público Federal, a Procuradoria Geral da República e o STF (Superior Tribunal Federal) precisaram atuar de maneira coordenada e alinhada para permitir o uso irrestrito de todo o tipo de irre-

gularidade legal, anticonstitucional. Para completar o quadro foi de extrema importância a colaboração integral das famílias que dominam o monopólio da comunicação para bombardear diariamente, hora por hora, minuto por minuto, nos noticiários televisivos, nos jornais impressos e digitais com mentiras e manipulações de todo o tipo. Menção honrosa para a Rede Globo que liderou as demais redes de televisão na campanha em defesa do golpe de Estado. A reunião de todos estes elementos, organizados, trabalhando em conjunto, infringindo leis a todo custo pode ser exemplificado de uma forma: máfia. Para ficar mais claro aqui vai uma definição de máfia: é uma organização criminosa cujas atividades estão submetidas a uma direção de membros que sempre ocorre de forma oculta e que repousa numa estratégia de infiltração da sociedade civil e das instituições. Com ramificações em diversos países, caracterizada por se reger por leis rígidas e secretas, pela estrutura hierarquizada e pelo recurso a métodos violentos. Grupo de pessoas que faz valer os seus interesses de forma pouco clara, através de pressões, tráfico de influências, etc. Sem mais.


POLÍTICA | 3

DITADURA

Governo ameaça com Lei de Segurança quem comenta na Internet N

esta quarta-feira (14), o golpista ilegítimo Jair Bolsonaro fez uma visita ao estado do Piauí. Em uma rede social, um internauta comentou uma notícia sobre o fato de que essa visita aconteceria dizendo: “Dessa vez a faca não vai ser de mentira não”. Segundo uma notícia publicada dia 14 no sítio Meio Norte, sob o título “Inteligência investiga ameaça de morte a Jair Bolsonaro no PI”, o autor do comentário, Antoni Mendes, seria morador da cidade de Altos, a 42 km da capital do estado, Teresina. E por causa dessas palavras, Antoni Mendes estaria sendo investigado pela “Inteligência da Presidência” (o sítio não esclarece qual órgão de Inteligência realizaria a investigação, que parece se tratar do GSI). Esse caso mostra a que ponto a ditadura que a direita golpista está construindo pode chegar em sua perseguição contra a população para manter a sociedade sob controle. Agora qualquer comentário sem importância contra Bolsonaro pode ser tratado como uma ameaça de morte feita a sério, e como crime passível de punição pelo Estado. Trata-se de uma forma de censura e de intimidação contra a população como um todo, até que ninguém possa falar mais nada contra o

governo. É um complemento ao processo de perseguição política contra dirigentes de esquerda, sindicatos e movimentos populares, que inclui o asfixiamento financeiro, a perseguição judicial e uma intensa propaganda. Recentemente, o próprio ministro da Justiça, Sérgio Moro, ex-juiz que condenou Lula sem provas, ordenou que a Polícia Federal abrisse um inquérito contra um jornalista filiado ao PDT, Vina Guerreiro, que fez um comentário em vídeo na Internet dizendo que Bolsonaro deveria ser assassinado. O PDT desfiliou o jornalista, em uma criminosa omissão diante do avanço do autoritarismo. Ninguém deveria ser perseguido pelo Estado por causa de algo que falou. Falar não deveria ser crime. Nesse mesmo caso, Moro pede ao diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, em ofício pedindo abertura de um inquérito, que analise se Vina Guerreiro poderia ser enquadrado na Lei de Segurança Nacional, da época da ditadura, por causa de seus comentários em um vídeo na Internet. Além dos crimes de incitação e ameaça. Como se um comentário feito na Internet implicasse efetivamente no planejamento de algum crime. Não consta que Moro

Segundo Comissão de anistia, vítimas da ditadura são terroristas

P

ara a Comissão de Anistia sob o controle dos bolsonaristas, vítimas da ditadura militar de 64 são terroristas. Governo negou mais de 1300 pedidos de indenização de reparação à anistiados de 2016 para cá. Após afastamento de Rita Spahi, integrante da comissão desde 2009, que se demitiu em maio denunciando a infiltração bolsonarista (nomeação de militares de carreira contrários à concessão de reparações aos anistiados e à instauração da Comissão Nacional da Verdade), hoje, João Henrique Nascimento de Freitas (ex assessor do senador Flávio Bolsonaro, atual assessor do general Mourão), passou a presidir a comissão. Freitas também foi autor da ação popular que suspendeu a indenização aos familiares do militante guerrilheiro Carlos Lamarca (assassinado pela ditadura militar em 1971). Segundo denúncia de Vitor Mendonça, advogado e único representante dos anistiados na comissão: “Estão criando gargalos para indeferir tudo. Não aceitam provas com base nos testemunhos. Se até hoje a polícia faz a detenção sem mandado e não fica registro algum, imagine como era na ditadura… Isso aqui não é um ‘rejulgamento’ de militantes políticos do tempo da ditadura. A gente não pode chegar e falar: ‘Você era culpado, era terrorista, não tem direito’. Se for assim, passa a ser legítimo chamar os torturadores de volta. E

vamos começar a debater a situação deles. Anistia não é isso.” O advogado rebateu a argumentação do general Luiz Eduardo Rocha Paiva (um dos bolsonaristas infiltrados como conselheiro, autor do prefácio do livro de Carlos Alberto Brilhante Ustra, “A Verdade Sufocada”) que indeferiu pedidos com argumentações do tipo: “É lícito que o Estado, defendendo a redemocratização, que sempre foi um objetivo declarado por todos os presidentes militares, estivesse investigando uma associação dessa natureza. O que aconteceu com ela não foi por perseguição política, é porque ela era uma militante de uma organização terrorista.” “Na televisão, eu vi os fuzileiros cercando e sendo aliciados pelos marinheiros que estavam dentro do sindicato, jogando os fuzis no chão, entrando e aderindo ao movimento. Aquilo parecia o ‘Encouraçado Potemkin’ no Brasil (filme clássico sobre a Revolução Russa)… Esses amotinados não são vítimas de perseguição política, não estavam em ato político. Eles estavam em uma rebelião que comprometeria toda a hierarquia e a disciplina.” Após essa total perversão e manipulação da comissão por parte do governo Bolsonaro, governo de militares defensores da ditadura e da tortura, a direita tenta reescrever a história apoiando os crimes da ditadura militares culpando as vítimas.

tenha pedido inquérito contra Bolsonaro por ter dito que iria “metralhar a petralhada” ou mandar “petistas” para “a ponta da praia” [executá-los]. A tendência do regime é fechar-se cada vez mais, tornando-se cada vez mais antidemocrático, diante da resistência popular que seu programa político irá provocar. Por isso a repressão

está se tornando cada vez mais intensa, indo dos assassinatos no campo à perseguição a usuários de internet, passando por prisões arbitrárias de militantes políticos. Por isso é preciso mobilizar já pelo fim do governo, de modo que se possa impedir a direita golpista de continuar esmagando os trabalhadores e suas organizações.

PARTIDO DOS TRABALHADORES

Lula indica que Gleisi deve se manter na presidêncida do PT

O

golpe provocou uma disputa no seio do Partido dos Trabalhadores (PT), uma divisão definida por duas políticas: uma de adaptação ao regime golpista que se estabeleceu com a derrubada da presidenta Dilma Rousseff e que permitiu a prisão política da maior liderança política da esquerda, o ex Presidente Luiz Inácio Lula da Silva; outra que luta pela liberdade de Lula e confronta determinados aspectos do regime golpista. Apesar do caráter centrista dos quadros do PT, a prisão ilegal de Lula, que é uma consequência do golpe de 2016, se tornou pauta central da política de uma “ala esquerda” que resultou desta conjuntura. A senadora e atual presidente do partido, Gleisi Hoffmann, lidera esta ala combativa confrontando determinados aspectos

do regime e determinadas instituições no parlamento e nas ruas. Por outro, a ala representada por Fernando Haddad, substituo de Lula nas eleições e apoiado por Tarso Genro, se utiliza de uma política de maior adaptação ao regime, buscando se relacionar com partidos golpistas como PSDB, além descartar a maior liderança popular do país numa clara capitulação diante do golpe. O apoio do ex presidente Lula, já declarado, a atual presidenta do PT é determinante para que ela siga na direção do partido. O anúncio de que Gleisi permanece como presidenta do partido deve acontecer dentro de alguns dias. Isso significa que o PT não vai abandonar a luta contra o golpe e pela liberdade de Lula, mas deve implicar também em grandes mudanças no interior do PT.


4 | POLÍTICA

GOLPISTAS

Rodrigo Maia explica por que não defender o Fora Bolsonaro E

m evento promovido pela Fundação Lemann na última quinta-feira (8), o presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia, deu claras indicações de que a opção dominante da burguesia neste momento é a de aguentar Bolsonaro até 2022, ainda que o seu nome não fosse a opção original dos golpistas, mais o resultado de seus erros, limitando-se a tentar colocar limites às atitudes do fascista em um caso ou outro. Maia deixou claro que a eleição de Bolsonaro não levou à estabilização do golpe. Muito pelo contrário, o fascista é um grave fator de instabilidade na já instável situação política nacional. Deixando clara a fraude da Lava Jato que levou Lula à prisão e a extrema-direita ao poder, Maia afirmou também que Bolsonaro não era o nome que esta “operação” esperava “levar à presidência”. “A Lava Jato foi decisiva [para a eleição de Bolsonaro], mas o nome dela [da operação para a presidência] não era Bolsonaro. Eles só não conseguiram construir algo no lugar.” Ainda assim, o plano agora é tentar colocar Bolsonaro “na linha” até 2022. “Mas é o que temos até 2022. Cabe aos outros poderes, no que entender que passou do limite, gerar o limite e a agenda que tenha mais convergência no Brasil.” Ao ser perguntado quem seria o “nome da Lava Jato”, Maia foi convenientemente interrompido pela mediadora Malu Gaspar e pelo governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), que atalhou rapidamente o deputado com uma piada, o que permitiu encerrar o delicado assunto sem uma resposta.

Além de Flávio Dino e Maia, estavam no evento vários outros políticos que passaram pelas mãos da Fundação Lemann, como Tabata Amara (PDT), Felipe Rigoni (PSB) e Tiago Mitraud (Partido Novo). Financiada diretamente por Jorge Paulo Lemann, um autêntico representante da alta burguesia – considerado pela Forbes como o segundo homem mais rico do Brasil e 19º do mundo – a Fundação Lemann organiza políticos de vários partidos para levar a frente os interesses daquela classe, como ficou claro pelos esforços de todos eles na aprovação da reforma da Previdência, que vai ser um desastre para os trabalhadores, mas vai levar milhões aos bolsos da burguesia. Por isso, o que foi discutido neste evento pode ser tomado como indícios claros do que preocupa a burguesia de conjunto e os encaminhamentos políticos que estão sendo dados por esta classe, em defesa de seus interesses contra o povo. Falando para os seus financiadores diretos, o discurso de Maia toma o formato de um verdadeiro balanço das maracutaias da burguesia nos últimos períodos, deixando clara toda a intenção golpista da Lava Jato, por exemplo, que o próprio Maia demonstra ser uma operação fraudulenta de manipulação política, assim como demonstrando as dificuldades que a burguesia está enfrentando agora para estabilizar o golpe, vendo-se até mesmo incapaz de “construir algo no lugar” de Bolsonaro, apesar de todo o seu poder. Ficou claro também que a política resignada de colocar Bolsonaro “na

linha” é na verdade uma política defensiva e de “resistência” da burguesia frente à enorme instabilidade política do país, e não uma política da classe trabalhadora, que atenda aos interesses do povo. Para a burguesia, Bolsonaro “é o que temos até 2022”, porque não interessa a essa classe lançar ainda mais instabilidades em uma situação altamente volátil como a que vivemos hoje. A burguesia teme uma explosão social e parte para tentar colocar rédeas e tentar “domesticar” os cães raivosos da extrema-direita que ela mesma criou e lançou contra o povo para tomar o poder na base do golpe e da fraude. Após ter colocado o fascismo na rua, a burguesia até certa medida se vê refém de sua própria criação. Se o plano era enjaular os fascistas nas eleições de 2018, elegendo Alckmin, por exemplo, agora que não conseguiram, só resta lamentar e tentar estrangular os movimentos sociais

que vêm às ruas com cada vez mais força contra Bolsonaro e todos os golpistas. O discurso de Maia diante de seus patrocinadores deixou claro que a burguesia está optando pelo “Fica Bolsonaro” e busca hoje obter o máximo de apoio à sua política, fazendo de tudo para esvaziar o “Fora Bolsonaro” que está cada dia mais presente em toda e qualquer manifestação popular, de atos de rua a torcidas de futebol. O “Fora Bolsonaro” é o que a burguesia mais teme. Ela sabe que onde quer que o povo se reúna, o ódio a Bolsonaro é a palavra de ordem principal e isto é o sinal claro de uma instabilidade social com capacidade real de alterar o jogo do poder. Por isso, não é hora de limitar as lutas populares a tentar, por exemplo, corrigir Bolsonaro e amargar uma “resistência” até 2022. Esta é exatamente a política da burguesia. E foi Maia quem deixou claro isto na Fundação Lemann. A hora é da esquerda tirar o máximo proveito destas contradições criadas pela própria burguesia e aproveitar esta importante oportunidade de partir decididamente para a luta que tem condições de derrotar o golpe e encerrar este período de avanço da direita contra os trabalhadores. É hora de partir para a luta pelo fim do governo Bolsonaro, pela imediata liberdade de Lula, preso pela operação golpista da Lava Jato, e por Eleições Gerais Já, com Lula candidato, anulando-se a eleição de 2018, viciada pela maior fraude eleitoral da história da República brasileira.

CONTRA O GOVERNO GOLPISTA

Moro e a Lava Jato protegeram os golpistas de 2016

E

m 18 de outubro de 2016, um dia antes da prisão de Eduardo Cunha (MDB), ex-presidente da Câmara dos Deputados, o então juiz Sérgio Moro articulou com os procuradores da Lava Jato que não apreendessem os celulares do deputado, que guardavam conversas com parlamentares golpistas detentores do chamado foro privilegiado. A revelação foi feita na última segunda-feira (12) pelo portal de notícias BuzzFeed, em parceria com o The Intercept Brasil, que teve acesso a inúmeras conversas pelo aplicativo Telegram entre procuradores e promotores da Lava Jato e Moro. Na conversa de 18 de outubro de 2016, o procurador golpista Deltan Dallagnol fala para Moro que deveriam apreender os celulares de Cunha, o procedimento mais natural em operações da Polícia Federal. “Acho que não é uma boa”, responde Moro. Eles ainda realizaram uma reunião e, após ela, Dallagnol enviou nova mensagem ao “Mussolini de Maringá” informando que os procuradores concordaram em

não apreender os celulares de Cunha. Além da reportagem do BuzzFeed, em julho o Intercept publicou matéria em conjunto com a golpista Veja na qual Moro aparece como dificultador para que um documento registrando pagamentos do empresário Flávio David Barra a vários políticos não fosse registrado no sistema de processo eletrônico da Justiça Federal – o que ficaria disponível a todos os que têm acesso ao sistema. No dia seguinte à conversa entre Moro e Dallagnol, Cunha foi preso em Brasília e perguntou aos agentes da PF se deveria entregar seus aparelhos, no que recebeu uma resposta negativa, ou seja, o órgão seguiu as recomendações de Moro e não apreendeu os celulares. Antes de que fosse preso, Cunha ligou para parlamentares vinculados a Moreira Franco, então ministro de Minas e Energia, e ao próprio presidente Michel Temer. Essa ação de Moro é mais uma das reveladas pelo Intercept que comprovam como ele era o chefe da Lava Jato e comandava os procuradores e pro-

motores, afastando-se completamente de seu papel como juiz, para interferir diretamente como parte envolvida nos casos. Neste específico, Moro protegeu Cunha e os demais parlamentares ligados a ele, todos golpistas. O próprio Cunha, agente fundamental para a derrubada de Dilma Rousseff, sendo o principal articulador do impeachment. Tratou-se de um golpe, no qual a Câmara, o Senado e o Judiciário estiveram intimamente ligados, e cuja Operação Lava Jato foi primordial para seu sucesso. Em última instância, essa ação de Moro em conluio com os procuradores serviu para safar diversos políticos que participaram do golpe contra Dilma. Ao mesmo tempo, as revelações do Intercept mostraram também que Moro agiu conjuntamente com a acusação para prender e manter na cadeia o ex-presidente Lula, algo absolutamente ilegal. Esses dois fatos evidenciam, novamente, o caráter totalmente político da Lava Jato e de todos os seus apoiadores, sendo uma gigantesca

operação de perseguição política para implementar o golpe de Estado que derrubou o PT do governo e colocou Bolsonaro no poder para destruir os direitos da classe trabalhadora e entregar os recursos nacionais ao imperialismo – criador e promotor da Lava Jato.


POLÍTICA | 5

GUERRA COMERCIAL

Dólar bate os R$ 4 novamente, com disputa entre China e EUA N

esta quarta-feira (14), o dólar bateu os R$ 4,00 novamente, mostrando que as tensões econômicas e a guerra comercial entre China e EUA vêm aumentando, o que pode causar queda no PIB de diversos países, incluindo o Brasil. Ao que tudo indica, os EUA se aproxima de uma recessão econômica, o coração do imperialismo está em crise novamente e causando nervosismo nos investidores. A China teve suas vendas de varejo e produção industrial abaixo do espe-

rado e, em consequência, a Alemanha teve recuo de 0,1% em seu PIB no segundo trimestre. É questão de tempo para que essas tensões e quedas afetem a crise política aqui no Brasil, afinal, Bolsonaro dependia de colocar as coisas no lugar do ponto de vista dos capitalistas, que se sustentam da miséria da população pobre. Para a burguesia, nem o avanço da reforma da Previdência, nem a tal “Medida Provisória da Liberdade da Econômica”, consegue dar uma segu-

rada na crise vinda com o aumento do dólar e queda do PIB e a previsão é de que a economia piore, e muito. A Ibovespa passou dos 103 mil pontos de fechamento nesta terça-feira (13) para o patamar de 100 mil pontos, contabilizando uma perda superior a 2%. Enquanto isso, na Argentina, o desespero de Macri é tanto que, depois de ter afundada a Argentina em dívidas com o FMI e empurrado a população para a miséria enquanto enchia o bolso dos banqueiros, agora resolveu

aumentar o salário mínimo e congelar o preço dos combustíveis. Aqui no Brasil não é diferente, inclusive, mesmo Bolsonaro atirando milhões na miséria, parece não estar sendo suficiente para agradar os capitalistas. A crise que vem afetando o mundo inteiro, principalmente os países pobres, faz com que essas medidas de Macri, a essa altura, sejam bem tardias. Bolsonaro também está na corda bamba com os grandes capitalistas. Assim, a burguesia emergente segue em crise.

MP 881

ROUBO DA PREVIDÊNCIA

Bolsonaro roubou os domingos do trabalhador F

Futuros aposentados vão ganhar muito menos

oram 345 deputados federais que aprovaram na terça-feira (13) mais uma maldade do presidente ilegítimo Bolsonaro contra o trabalhador brasileiro. A Medida Provisória encaminhada por Bolsonaro, que teve apenas 76 votos contrários ao prejuízo aos direitos históricos do povo brasileiro, autoriza o trabalho aos domingos sem pagamento em dobro. A partir de agora, a Liberdade Econômica, que só beneficia os empresários apoiadores da extrema-direita fascista, o descanso semanal aos domingos só precisará ocorrer a cada quatro semanas e não há obrigação de uma escala de rodízio. Nesse dia, o pagamento deverá ser em dobro, a menos que a empresa dê outro dia de folga compensatória. É mais uma pedrinha no fim da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), o fim da “Era Vargas”, como defendia o ministro da Economia, Paulo Guedes. Começou com a extinção do próprio Ministério do Trabalho, para garantir-lhe desimportância, e continua com ameaças frequentes de implodir a justiça trabalhista, fazendo as vontades dos capitalistas mais selvagens daqui e de fora, que necessitam de mão-de-obra escrava para resistir à sua crise e prolongar sua existência. As novas medidas aprovadas desconsideram pontos constitucionais ou acordos coletivos. O atual governo é um capataz do capital que age como feroz inimigo do trabalhador. A Constituição determina que o domingo é dia de descanso e a MP contraria a lei maior, que só poderia ser modificada mediante emenda constitucional ou por nova assembleia nacional constituinte. Além disso, a MP também libera o controle de ponto para empresas de até 20 funcionários, dispensando os funcionários de registrarem as horas trabalhadas. Tradução: adeus horas extras. O patrão pode fazer você trabalhar o quanto quiser e ponto final. O texto diz que a dispensa de registro das horas trabalhadas se dará em caso de acordo com o patrão, que pode

ser um acordo individual, coletivo ou por meio de convenção da categoria. Mas essa parte do texto é só para inglês ver. A verdade é que o patrão vai poder chamar um a um e impor o “acordo” que quiser. Nestes casos, em que o ponto é por exceção, só será obrigatório o registro de férias, folgas, faltas e afastamentos. Nesta quarta (14), serão votados os destaques, que podem mudar o texto. Depois, a MP vai para o Senado. É necessária aprovação até 27 de agosto. A desculpa da proposta quando foi apresentada era para desburocratizar o setor empresarial. A Medida Provisória da Liberdade Econômica passam um rolo compressor por cima de todos os trabalhadores e os devolve à situação que existia antes dos anos 1930. Os bancos também poderão abrir aos sábados, para alegria dos banqueiros que já estavam comemorando novos recordes de lucro. Outros detalhes sórdidos da “Liberdade Econômica” para a burguesia incluem dificuldades pra o trabalhador receber o que lhe é devido em caso de dívidas trabalhistas. Hoje, quando uma empresa não tem bens suficientes para quitar suas dívidas, a Justiça do Trabalho pode obrigar que sócios e outras companhias do mesmo grupo arquem com o prejuízo. Com a mudança, os bens de sócios ou administradores não serão considerados, a não ser que a empresa declare falência. Esses são alguns dos pontos mais relevantes das mudanças na vida do trabalhador brasileiro apresentadas por Bolsonaro e aprovadas por 345 deputados, mas nas entrelinhas existem outras perversidades, incluindo um afrouxamento da fiscalização, claro, era só o que faltava. Somente a população pode mudar o curso dos acontecimentos, saindo à ruas em massa e exigindo seus direitos conquistados há décadas, mais de 80 anos, o cumprimento da Constituição em vigor, e gritando Fora Bolsonaro e todos os golpistas.

U

ma matéria da UOL desta quarta-feira (14), sobre a reforma da Previdência, mostra como a população só tem a perder com essa reforma, que vai tirar o dinheiro e os benefícios da classe trabalhadora e passar para as mãos da burguesia, afinal, é assim que eles se sustentam. A UOL utiliza o exemplo de um publicitário que está a menos de 9 meses de se aposentar, contudo, se o governo dos golpistas conseguir aprovar a reforma da Previdência, o publicitário, que antes conseguiria receber cerca de 3.848,09 reais de aposentadoria, passará a receber 2.621,09 reais, cerca de 30% a menos. Fica claro o assalto direto ao bolso dos trabalhadores, que não chega nem perto de todos os escândalos de corrupção somados. É assim que a burguesia sanguessuga é sustentada, roubando salário, aposentadoria, etc. da população pobre. A realidade do publicitário da matéria da UOL é a realidade de muitos brasileiros que acabam trabalhando sem carteira assinada, em subempregos, assim, dificultando ainda mais as chances de se aposentarem. Para muitos, a aposentadoria é a única renda, muitas vezes até para sustentar uma família inteira, então é incabível esse enxugamento no valor das aposentadorias e aumento no tempo de contribuição. Na matéria da UOL, o publicitário de 64 anos afirma

que “carteira assinada, nesta altura, acho impossível.” Essa é a realidade da população brasileira, que vai envelhecendo e perdendo espaço no mercado de trabalho, consequentemente, atrasando o pedido pela aposentadoria, sendo obrigados a se submeterem a subempregos. Quem se aposentar com os requisitos mínimos de contribuição, vai receber somente cerca de 60% da aposentadoria, o que é completamente injusto, já que a pessoa trabalhou a vida inteira. Ou seja, os próximos aposentados pós Reforma vão receber muito menos do que o necessário para ter uma vida confortável. Cerca de 67,5% dos beneficiários recebem um salário mínimo, o governo afirma que isso não irá mudar, já que a aposentadoria não pode ser menor que um salário mínimo, porém, quem consegue se sustentar no Brasil com 998,00 reais? A classe trabalhadora vem perdendo seu poder econômico e os preços continuam aumentando, as passagens de transporte público aumentaram, a gasolina está perto dos 5,00 reais e o governo continua com suas ofensivas neoliberais para cima da população, que está perto de entrar um completo caos social. É urgente avançar nos mecanismos de derrubada desse governo golpista, é preciso derrotar o golpe para reverter esse processo, e impor uma reversão das políticas neoliberais.


6 | POLÍTICA

CEM MIL TRABALHADORAS

Marcha das Margaridas: mais um ato contra o governo Bolsonaro M ais de cem mil trabalhadoras, segundo estimativas dos organizadores, reunindo camponesas, quilombolas, extrativistas, pescadoras, ribeirinhas, agricultoras e outras participaram, nos dias 13 e 14 de agosto, em Brasília, da Marcha das Margaridas, evento que de quatro em quatro anos, no mês de agosto, faz com que centenas de milhares de mulheres de todo o país ocupem as ruas do centro da capital federal, marchando em direção ao Congresso Nacional. Ao movimento se somam milhares de outros populares, trabalhadores urbanos, estudantes, indígenas, professores e servidores públicos, conformando um dos maiores movimentos nacionais de protesto, luta e oposição ao governo. Neste ano a Marcha das Margaridas coincidiu com a realização dos atos nacionais em defesa da Educação, convocados pela CNTE, quando milhares de estudantes, professores e populares ganharam as ruas do país, no dia 13 de agosto, para mais uma jornada de luta contra os ataques do governo Bolsonaro ao ensino público, às universidades federais e à pesquisa científica. Os atos do dia 13 deixaram consignados também, mais uma vez, o sentimento de repúdio ao governo Bolsonaro, com milhares de manifestantes em todo o país levantando alto e em bom tom o grito de “Fora Bolsonaro”. O poderio do movimento pode ser aquilatado pelo temor que desperta nas autoridades e no regime político. Já bem às vésperas do evento da Marcha das Margaridas e do ato do dia 13, o ministro da Justiça e Segurança Pública, o ex-juiz fascista Sérgio Moro, anunciou que a Força Nacional estaria de prontidão para intervir e reprimir os atos, ameaçando diretamente os manifestantes, nos dois dias em que a cidade esteve ocupada pelos protestos. Esta determinação em colocar o

aparato repressivo para reprimir, com o uso da força, uma marcha de mulheres e um ato de estudantes, revela o grau de profundidade da crise de conjunto do regime político, acuado pela bancarrota total da economia, dos sinais de recessão que se avizinham, do crescimento do desemprego e da impopularidade cada vez maior da figura do próprio presidente da república. A sexta edição da Marcha das Margaridas acontece em um momento de grande radicalização da luta de massas em todo o País, onde nacionalmente cresce a disposição dos trabalhadores e de diversos outros segmentos atacados pelo regime golpista em sair às ruas em defesa dos seus direitos e conquistas e contra o governo que vem atacando, em todos os flancos, os trabalhadores e suas organizações de luta. A Marcha realizada em Brasília, um dia após os atos do dia 13 é um indicador seguro de que há um ambiente favorável para ampliar e intensificar

as mobilizações dos mais diversos setores contra o governo Bolsonaro, o regime burguês de fome e miséria, a burguesia golpista, a extrema direita e o imperialismo. O ponto nevrálgico de toda a situação, portanto, está na orientação política, melhor, na ausência de orientação política da esquerda nacional e das direções do movimento operário, sindical, estudantil e popular para guiar a luta de massas no país. A esquerda se recusa a colocar na ordem do dia a luta para colocar para fora o governo mais odiado e impopular da história recente do país. A derrota de Bolsonaro e seu governo de destruição nacional, de acordo com a estratégia, o desejo e a vontade da esquerda, será o resultado não da intervenção dos trabalhadores no cenário político; não das manifestações populares e da luta social de massas no país, mas dependerá do calendário eleitoral, das eleições municipais de 2020 e das elei-

ções gerais de 2022. Até lá, Bolsonaro deverá continuar governando, ou seja, operando a maior obra de destruição da economia nacional; a liquidação dos direitos sociais e trabalhistas; o ataque aos negros, às mulheres e aos indígenas; a destruição do meio ambiente; a entrega do patrimônio público ao capital estrangeiro e ao imperialismo (Embraer, Petrobrás, Correios) Não há qualquer perspectiva minimamente progressista nesta política, que aponta para a mais completa capitulação diante dos ataques, das investidas e da ofensiva de Bolsonaro e dos golpistas contra as condições de vida das massas. É necessário superar esta política, defensiva e de derrotas, substituindo-a por outra orientação, que coloque como prioridade a luta e a mobilização (e não as eleições) para o enfrentamento direto contra o governo de extrema direita, reacionário e servil aos interesses do imperialismo.


POLÊMICA | 7

TESE

PCdoB quer que a esquerda trate bem os coxinhas e os fascistas O Partido Comunista o Brasil (PCdoB) republicou uma matéria no seu sítio Vermelho, com o título Oposição recebe mal os eleitores arrependidos de Bolsonaro, do filosófo Pablo Ortellado e publicado originalmente na golpista Folha de S. Paulo. Seria estranho republicar sem nenhuma análise uma matéria da golpista Folha de S. Paulo, responsável pela situação de ofensiva da direita em que vivemos hoje no Brasil, pois apoiou o golpe de Estado em 2016 e a prisão de Lula. Um primeiro equívoco seria acreditar na pesquisa realizada XP-Ipespe, onde apresenta esses números que claramente servem para evitar que os números apresentem o total fracasso do governo Bolsonaro perante a população trabalhadora e não mostram o que se apresenta mais à frente na matéria que é a “rejeição” ao governo Bolsonaro de parte de seu eleitorado, pois segundo o resultado das eleições fraudadas, Bolsonaro obteve apenas um terço dos votos. A matéria tem a tese de que Bolsonaro possui uma base aproximada de 30% de eleitores que são extremamente fiéis, fortalecendo a opinião da imprensa golpista que Bolsonaro seria uma espécie de Lula da direita. Uma tese falsa, pois precisou de anos de perseguição e campanha contra o

PT e tiveram que fraudar as eleições prendendo Lula e evitando qualquer participação deste na campanha para a “vitória” eleitoral de Bolsonaro. Outra afirmativa é que a esquerda não está tratando bem os eleitores “arrependidos” e que por este motivo podem simplesmente voltar a apoiar Bolsonaro. Em primeiro lugar, Bolsonaro não tem uma base de apoio eleitoral e sim, uma reduzida base de apoio entre a classe média de direita e dentro da cúpula das Forças Armadas. Essa base de extrema direita coxinha que não vai deixar os objetivos de esmagar a esquerda ou se preocupar com a corrupção, autoritarismo e boçalidade de Bolsonaro. Segundo o colunista da Folha, “em vez de acolhê-los, mostrando que é possível ser crítico ao PT, à corrupção ou à esquerda e permanecer no campo da civilidade democrática, parte da oposição preferiu reafirmar o antagonismo e rejeitar a companhia de quem votou ou simpatizou com Bolsonaro. O resultado é que esse contingente dos que apoiaram Bolsonaro, mas discordam do autoritarismo, da falta de compostura, do nepotismo ou da corrupção, simplesmente não encontra lugar no carregado ambiente da polarização e, por falta de opção, pode muito bem regressar ao lugar de onde veio.”

Os eleitores que votaram em Bolsonaro iludidos com a campanha da direita e da imprensa burguesa e que agora viram quem é Bolsonaro não teriam nenhum problema em se arrepender e ou de serem rejeitados pela esquerda. Essa campanha está sendo impulsionada pela burguesia para evitar a polarização política que está prejudicando a estabilidade do atual regime político. A tese de que a esquerda não acolhe os coxinhas “arrependidos” devido à polarização e à “hipertrofia das identidades políticas” não revela os verdadeiros motivos da polarização. A polarização aponta que está ficando cada

vez mais clara a luta de classes que estava sendo evitada pela burguesia, mas que diante da crise fica evidente para os trabalhadores. Por isso a burguesia quer evitar. E o PCdoB entra de cabeça nessa tese que é preciso combater a polarização e fazer acordos com setores golpistas. Tem apenas duas possibilidades para justificar a posição. Uma delas é puramente eleitoral, buscando acordos com a direita tradicional e mais “democrática” ou querer tratar bem os coxinhas e os fascistas que votaram em Bolsonaro e querem esmagar os trabalhadores e suas organizações.

ridos nesse dia 13 foi de que há nitidamente uma evolução à esquerda, uma compreensão de que as lutas parciais fracassaram e agora se trata de unir forças diretamente contra a cabeça do golpe, representado, neste momento, por Bolsonaro. O que está colocado para os partidos de esquerda, a CUT, o MST e

todas as organizações populares que lutam contra o golpe é varrer o País com um “tsunami vermelho”, para que toda a população não tenha dúvidas de quem luta contra o golpe e a direita que se veste de verde e amarelo para levar à frente a destruição do País e de todas as conquistas do seu povo.

ATOS DO DIA 13

A esquerda verde e amarela E

m meio aos atos desse dia 13 de agosto que teve como palavras de ordens centrais o “Fora Bolsonaro” e a “Liberdade de Lula” chamou a atenção a presença de grupos de estudantes empunhando bandeiras do Brasil e com os rostos pintados com o verde e o amarelo. Um desses estudantes era o presidente recém eleito da União Nacional de Estudantes, Iago Montalvão, que em declaração ao sitio da UOL afirmou: “Hoje, há uma tentativa de colocar esses símbolos a serviço de determinado grupo reacionário. Nós não concordamos com isso. A UNE sempre defendeu a soberania brasileira. A educação precisa servir ao povo brasileiro, e não a interesses estrangeiros”. Essa tentativa de “resgatar” o verde e o amarelo das mãos da direita e da extrema-direita, em si, já pareceria estranho, uma vez que coxinhatos estão absolutamente vinculados a essas cores, confundir a população de que haveria interesses comuns entre a direita e a esquerda. Mas o problema vai muito além. Essa é a campanha da burguesia golpista levada à frente pelos seus meios de comunicação venais na tentativa de acabar com a polarização política no país. Dar um tom patriótico às manifestações, pois, no final das contas, todos “somos” brasileiros, encobrir a lu-

ta de classes com as “cores da Pátria”. Em resumo, transformar a luta política entre as classes sociais em uma “disputa de ideias”. A direita brasileira tem pressionado setores da esquerda no sentido de fazer evoluir uma “frente ampla” no País que incorpore desde setores do PT, Psol, PCdoB e partidos da esquerda burguesa até o chamado Centrão, que tem como seu expoente máximo o atual presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia. Esse “blocão” teria como papel central estabelecer uma oposição ao governo de extrema-direita e seria uma espécie de salvaguarda da “democracia”. Quer dizer, cumpriria o papel de “colocar Bolsonaro na linha”, conter os excessos do capataz do imperialismo no Brasil. Ou, na pior da hipóteses (para a burguesia é claro), seria uma espécie de sustentáculo do regime saído do golpe diante do agravamento da crise política no Brasil e de uma situação que possa evoluir para o impeachment de Bolosonaro. Daí a política de “contenção” da luta de classes, principalmente quando se vê que as manifestações cada vez mais assumem por fora das suas direções o Fora Bolsonaro e a Liberdade de Lula como expressões da luta contra o golpe. O que ficou patente nos atos ocor-


8 | POLÊMICA

RECEITA SUSPEITA

A esquerda deve esquecer o passado e olhar o futuro O

cientista político e professor, Aldo Fornazieri, aprofundando a política dos setores que, dentro e fora do Partido dos Trabalhadores – inclusive da direita -, insistem na tese de que uma questão central seria a necessidade do partido fazer uma autocrítica, aponta em seu artigo “O grotesco no bolsonarismo e a inépcia das oposições“, publicado no site Brasil247, repete uma série de argumentos a favor dessa mea culpa. Segundo Fornaziere, “o PT, por exemplo, se tornou um partido nostálgico, apologético de si mesmo e de Lula e perdeu a capacidade de indicar o futuro.” Bem a calhar com a campanha golpista, amplamente divulgada pela venal imprensa capitalista, transformada em política de esquerda por setores da direita do PT de que, neste momento, se deve abandonar a defesa de Lula, deixar de lado a denuncia do caráter fraudulento da criminosa operação lava jato, esquecer que houve um golpe de Estado no País, “virar a página do golpe” pensar no futuro, mais particularmente nas eleições futuras. Em uma situação em que algumas das principais lideranças da esquerda se destacam por buscar uma aproximação com setores da burguesia golpista e até mesmo do governo Bolsonaro, a quem figuras como Fernando Haddad e Ciro Gomes, desejaram “sucesso”, e quando os governadores da “oposição” apoiam – de fato – a famigerada reforma da Previdência de Bolsonaro e buscam sua ampliação para roubar também os servidores municipais e estaduais, o analista destaca como uma questão importante uma suposta situação em que lideranças das oposições “têm despendido uma energia enorme em atacar o fascismo de Bolsonaro”, o que nem de longe corresponde à realidade, na imensa maioria dos casos. Fornaziere afirma que “os partidos de oposição não convocaram nenhuma manifestação contra o governo desde o início do ano”, sem assinalar

diretamente qual deveria ser a política com a qual deveria se convocar tais manifestações, já que – segundo ele – o governo não deve ser chamado de “fascista”, não se deve fazer “apologia de Lula” etc. Tampouco ele se coloca à favor de uma política marcadamente presente na situação atual, defendida pelo PCO e por um número crescente de setores (e rejeitada pela maioria das principais direções da esquerda) que é a luta pelo “fora Bolsonaro”. Para o que deveriam ser então tais manifestações “contra o governo”? Segundo ele, as essas direções “não foram capazes de se articular na reforma da Previdência e sofreram uma derrota vergonhosa” e “não estão sendo capazes de liderar a luta contra o desemprego”, o que ele afirma sem esclarecer qual teria sido especificamente a incapacidade, quando a esquerda fez de tudo justamente para buscar uma articulação com o “centrão” (desde antes quando boa parte votou em Rodrigo Maia, do DEM), com a oposição golpista, como o PSB e PDT, que deram muitos votos para a aprovação da reforma, da mesma forma como

deram votos para a deposição de Dilma; com os sindicalistas patronais que apoiaram a reforma trabalhista e, agora, sabotaram a greve geral e levaram seus partidos a votarem a favor da “reforma”, como o Solidariedade, presidido pelo deputado Paulinho da Força, que deu 13 dos seus 14 votos para o roubo das aposentadorias. Não há nenhuma crítica à essa política de “articulação” com setores golpistas e antioperários, apenas a constatação de um óbvio fracasso, sem que se aponte a causa real do mesmo: a resistência à promover uma ampla mobilização dos trabalhadores e suas organizações, com seus próprios métodos de luta, contra a raiz de todos esses ataques, o governo ilegítimo de Bolsonaro e o regime golpista. Assinala Fornaziere que os dirigentes da esquerda “não são capazes de formar frentes amplas em defesa das universidades, do ensino, da saúde e das instituições de pesquisa”, ao nosso ver mais uma vez, uma crítica injusta, já que realizou-se um “esforço” para juntar em uma frente contra os ataques à Educação do governo Bolsona-

ro, notórios defensores e praticantes da destruição do ensino público, como os ex-ministros do PSDB e MDB do setor, que fizeram muito mais pelo ensino privado e contra o ensino público do que o governo atual conseguiu realizar até o momento. O mesmo se repetiu na Saúde e em outras áreas. O que mais queria o autor? Como os resultados da política adotada pela esquerda, são todos ruins, a “crítica” do articulista, na maioria das vezes genérica, pode parecer a muitos incautos, como sendo a reprovação dessa mesma politica, quando o que vemos é que Fornaziere gostaria de ver essa mesma política adotada de forma ainda mais profunda, o que levaria a um desastre ainda maior. Pelo menos para os trabalhadores e a juventude e maioria da população explorada, que precisam de uma alternativa real, independente da burguesia golpista na etapa atual, que vá além de fórmulas vazias e da fracassa política de capitulação diante das alternativas que a burguesia e seus analistas procuram apresentar como “alternativas” para o povo e para a esquerda.


INTERNACIONAL | 9

ARGENTINA

Burguesia aprofunda a crise depois da derrota M

auricio Macri e a direita golpista argentina sofreram uma grande derrota nas eleições primárias diante do peronismo, realizadas domingo (11). Alberto Fernández ficou com 47%, contra apenas 32% de Macri, e poderia, com esse resultado, levar a vitória no primeiro turno nas eleições de 27 de outubro. Esse resultado eleitoral levou a Argentina ao caos econômico, em uma situação que já era bastante problemática. Expressões do caos Dois dias depois do resultado, varejistas argentinos estimavam que o consumo nos supermercados teria subido entre 40% e 50%, como uma corrida dos argentinos às prateleiras para fazerem um estoque de alimentos não perecíveis em casa. Um dado contundente da incerteza que tomou conta do país. No dia seguinte às eleições, o peso argentino despencou frente ao dólar, chegando a 65 pesos por dólar em uma queda histórica de 30%. Caos deliberado A desvalorização instantânea do dólar mostra uma fuga de capitais, indicando uma decisão política da burguesia especuladora de aprofundar a crise econômica de forma deliberada para punir o país pelo resultado eleitoral, usando uma chantagem econômica contra os eleitores. Diante do caos criado pela situação, Macri anunciou medidas emergenciais de valorização do salário mínimo e de congelamento do preço dos combustíveis, mostrando que a direita não está disposta a sair de cena, mas volta com um plano para tentar reverter o resultado eleitoral extremamente desfavorável apresentado pelas eleições primárias. Pressão dos capitalistas Além da chantagem econômica, por um lado, a burguesia financeira e os grandes monopólios capitalistas também apresentam suas demandas de forma explícita. Uma reportagem do Clarín, da imprensa golpista argentina,

publicada na segunda-feira, alardeava a reação de Wall Street, do mercado financeiro dos EUA, ao resultado das eleições, sob o seguinte título: “Em Wall Street falam de ‘pânico´ e ´pesadelo´ e esperam a palavra de Alberto Fernández”. A reportagem cita o CEO da Gear Capital Partners, consultora financeira sediada em Nova Iorque, Jorge Piedrahita, que declara que Wall Street está em “pânico”, que dá a receita para que o pânico passe, segundo os especuladores: “o peronismo deveria imediatamente dar sinais de moderação e pró-mercado para acalmar os ânimos”. Na terça-feira, enquanto o dólar continuava caindo, a UIA (União Industrial Argentina), organização nacional de capitalistas industriais nos moldes de organizações como a Fiesp em São Paulo, realizava sua primeira reunião depois dos resultados de domingo. E saíram com uma exigência parecida para divulgar à imprensa: “consenso e previsibilidade”. Da mesma forma que os especuladores estrangeiros, esperam obrigar Alberto Fernández a anunciar ao mundo sua moderação e seu comprometimento com os mesmos interesses a que responde Macri. Querem que o próprio Alberto Fer-

nández seja outro Macri. Segundo os capitalistas, se Alberto Fernández não anunciar que ele é outro Macri, a situação continuará se deteriorando. Vitória garantida? Portanto, a burguesia especuladora aprofunda a crise propositalmente para tentar forçar uma determinada política. Ao mesmo tempo, especuladores estrangeiros e os industriais argentinos fazem um apelo explícito para que Alberto Fernández anuncie políticas “moderadas” e declare seu amor ao mercado. esse quadro de imediata e pesada reação dos capitalistas ao resultado eleitoral, deve-se relativizar o significado dessa votação. Não é um resultado que garanta que as políticas neoliberais rejeitadas pelo povo por meio do voto serão paradas e revertidas. Muito longe disso, é preciso observar como o peronismo reagirá a essa pressão dos capitalistas, com os quais busca a todo momento uma acomodação. Além disso, o próprio resultado eleitoral de outubro não pode ainda ser dado como certo, por mais que as primárias possam ser apresentadas como um bom indicador. Até o dia 27

de outubro a burguesia pode realizar uma série de manobras para operar mais um de seus milagres para fraudar as eleições, como foi na própria eleição de Macri. As eleições não são um jogo limpo, e do ponto de vista dos donos do regime político consistem em descobrir uma maneira de fraudar a vontade popular de maneira que o processo continue parecendo legítimo. Deve-se considerar, ainda, o fato de que os kirchneristas têm levado uma política capituladora em diversos momentos da luta contra a direita golpista. O próprio fato de que Cristina Kirchner é candidata a vice de Alberto Fernández, e não ela mesma candidata a presidente, é um exemplo disso. Outra capitulação é a política em curso de conter as mobilizações contra Macri para preservar a vitória eleitoral. E, finalmente, o próprio candidato Alberto Fernández não é uma figura que de fato represente uma esquerda. E nesse sentido uma vitória eleitoral da esquerda nessas circunstâncias podem acabar revelando-se um grande engano, algo próximo, em alguma medida, do que aconteceu com a vitória de Lênin Moreno no Equador.


10 | INTERNACIONAL

CRISE

Economia alemã tem contração de 0,1% no 2º trimestre C

onsiderado um dos países mais sólidos em termos de economia, o mais rico e influente na Europa, a Alemanha mostra-nos o tamanho da crise capitalista. Estimulados por declarações do chairman do Federal Reserve (FED/EUA), Jerome Powell, de que o banco central norte-americano deve facilitar uma política de incentivo para a economia, injetando dinheiro na economia americana para evitar uma desaceleração global e inflação, em junho de 2019, o Banco Central Europeu (BCE) sinalizou, em sua reunião política, que vai considerar injetar novo estímulo na economia da zona do euro, seja por meio de cortes na taxa de juros ou com o relançamento de um programa de compra de bônus de 2,6 trilhões de euros. A decisão está assentada em preocupações sobre a desaceleração da economia, com o crescimento global e as disputas comerciais. Quando a Alemanha confirma que a economia do país está patinando, um país altamente industrializado, essa decisão do Banco Central Europeu é um forte índice de que o problema é realmente muito grave. Recentemente, o economista-chefe do Commerzbank da Alemanha, Jörg Krämer, declarou que “não há nada que indique recuperação econômica no segundo semestre”. E isso foi dito logo após um primeiro semestre ‘desafiador’ para a economia do país europeu: “A Alemanha está em uma área cinzenta, entre uma desaceleração acentuada do crescimento e uma recessão”. Os jornais deram foco à contração econômica registrada no segundo tri-

mestre na Alemanha, registrando que houve uma queda de 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, em comparação com os três meses anteriores. Corre-se para explicar tal queda focando nos resultados ruins do comércio exterior. Internamente, aponta-se para a desaceleração da maior economia europeia, após uma década de crescimento sólido, no qual a Alemanha teria conseguido se blindar, inclusive protelando a recessão que, a rigor, deveria ter ocorrido já no segundo semestre de 2018. A Crise do capitalismo[1], porém, advém exatamente do fato de que não há fim para sua fome e mesmo toda riqueza transferida para o Centro, para os imperialistas, não garante estabilidade ao sistema. A ultima crise, que é uma das tantas manifestações da Crise capitalista, ocorreu em 2008 e não foi resolvida. O que ocorre hoje com a Alemanha é o efeito retardado daquela crise. E deve atingir toda a Europa. Se um país industrializado e rico como a Alemanha foi atingido pela crise, o que acontece com o resto do mundo hoje? Todas as previsões de crescimento, feitas pelos donos do dinheiro, têm sido revistas para baixo: No relatório Perspectivas da Economia Mundial de janeiro do Banco Mundial, a projeção para 2019 foi reduzida em 0,3 ponto percentual (p.p.) – para 2,6% – e em 0,1 p.p. – para 2,7% – em 2020. Na Europa, as incertezas geradas por causa do Imbróglio do Brexit aumentam ainda mais com as sempre realimentadas tensões geopolíticas, atualmente envolvendo sanções ao

ESPANHA

Candidata do PP à prefeitura de Madri defende extrema-direita

D

íaz Ayuso, candidata do PP (Partido Popular) à prefeitura de Madri articulou uma aliança com o Cs (Ciudadanos) e Vox. Díaz se curva completamente diante da extrema direita e se compromete a atender todas as exigências programáticas do Vox. A candidata teve que ir público firmar seu compromisso em seguir as exigências do Vox para que a extrema-direita cedesse o apoio. As declarações do Vox demonstram a afinidade política entre os partidos.

“Solo con las alianzas con los partidos que defienden el mismo concepto de libertad que nosotros se podrá evitar la entrada de la izquierda en las instituciones” “Somente com alianças com os partidos que defendem o mesmo conceito de liberdade que nós, que podemos evitar o avanço da esquerda nas instituições” A extrema-direita ganha terreno sobre os partidos tradicionais do regime político.

Irã. Somado a isso o que se tem chamado de guerra comercial entre Estados Unidos e China, com a imposição, em maio e julho, pelos norte-americanos, de novas e elevadas tarifas às importações chinesas, eposterior retaliação da China em relação aos EUA. Os Estados Unidos é o país mais endividado do mundo, embora seja o mais rico e militarmente poderoso. Os movimentos do atual governo norte-americano, com Donald Trump, em busca de desestabilizar a economia global ao atacar a China e alimentar a incerteza sobre novas guerras contra países importantes como o Irã, ou da saída dos EUA da Organização Mundial do Comércio, Então, a contração na economia alemã, cuja indústria tem tido problemas desde pelo menos 2018[2], nada mais é que um sintoma, grave, do que o mundo está para testemunhar: uma nova e aguda fase da crise histórica do capitalismo, maquiada na última década e que agora deve explodir levando todos junto.

dos da América, economia em ascensão. Uma nova crise iniciou em 1938 e, ironicamente, foi resolvida com outra crise maior: a segunda grande guerra. O século XX pós-guerra foi dedicado a consolidar o capitalismo, e o neoliberalismo, em caminho único para o mundo e o sistema financeiro, com o dólar como moeda padrão, transformou-se no verdadeiro governo mundial, capaz de controlar qualquer país ao definir taxas de juros, valorizar ou desvalorizar moedas locais (sempre em relação ao dólar), endividar e impossibilitar o pagamento das dívidas.

NOTAS:

Por meio do Fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial e do Bando Interamericano de Desenvolvimento, todos os outrora chamados países do Terceiro Mundo, ou em desenvolvimento, ou pobres, são submetidos a constantes crises, ameaçados pelo horror ou pânico econômico constante e, ontem como hoje, pressionados a: eliminar gastos sociais, reduzir ou cortar gastos com a folha de pagamento do governo, retirar direitos trabalhistas – em particular enfraquecendo os sindicatos, e privatizando empresas públicas lucrativas.

[1] O sistema capitalista sempre gerou e vai continuar gerando crises econômicas, é de sua natureza. A primeira grande crise do capitalismo ocorreu em 1825, e, naquele momento, na economia mais desenvolvida do mundo, a Grã-Bretanha. Outras crises sucederam sem parar: 1836, 1847, 1857, 1866, 1873, 1882-84, 1890-93, 1900, 1907, 1913, 1920, 192933, esta atingiu em cheio os Estados Uni-

[2] Em 2018, a produção industrial da Alemanha diminuiu 1,9% em novembro, perante o mês anterior, quando caiu 0,8%, e caiu 0,4% em dezembro, contra expectativa de alta de 0,7%. No ano passado, o país enfrentou a mais séria queda no setor industrial em décadas. O ano de 2018 foi o pior em 10 anos, com uma queda de 4,7%, e 2019 talvez seja ainda mais.

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ATIVIDADES DO PCO | 11

CONTRA O GOLPE

Comitê Central do PCO aprova 30ª Conferência e ato em Curitiba N

o último domingo, dia 11 de agosto, o Comitê Central do Partido da Causa Operária realizou mais uma reunião. Neste debate, a direção definiu duas atividades da maior importância para o mês de setembro: um ato nacional pela liberdade de Lula em Curitiba, no dia 14, e a 30ª Conferência Nacional do Partido, nos dias 28 e 29 de setembro, em São Paulo. Embora o nosso Partido e companheiros do PT e outras organizações estejam levando a luta pela liberdade de Lula adiante, com os mutirões de coleta de assinaturas aos domingos e os “faixaços” Lula Livre, infelizmente a campanha está muito aquém do seu potencial. Pela experiência que estamos tendo tanto nos mutirões quanto nos “faixaços”, a liberdade de Lula é

muito popular, é uma palavra de ordem que só perde em popularidade para o “Fora Bolsonaro”, que por sua vez é praticamente uma unanimidade. Neste momento, Moro e a Lava Jato sofrem uma desmoralização profunda e continuada e o governo Bolsonaro de conjunto encontra-se em meio a uma crise gigantesca. Por este motivo, o PCO escolheu o dia 14 de setembro para um ato nacional em Curitiba pela liberdade do ex-presidente, com a avaliação de que este segundo semestre de 2019 será marcado por uma grande agitação política. Já no final do mês, o Partido realizará a sua trigésima Conferência, que vai reunir companheiros de todo o Brasil para um debate fundamental, que servirá para consolidar e unificar toda a

UNIVERSIDADE MARXISTA

militância do PCO em escala nacional. Um momento tão turbulento quanto o que estamos vivendo gera pressões de todos os lados , portanto, esta Con-

ferência terá uma importância fundamental para o Partido, e também para a luta contra o golpe e o governo Bolsonaro.

IMPRENSA REVOLUCIONÁRIA

Novo edição Causa Operária convoca Em todo o País, PCO realizará cursos sobre programa de transição todos a Curitiba pela liberdade de lula

O

A

partir do mês de setembro, o Partido da Causa Operária realizará, em todas as regiões do País e em algumas cidades do exterior, o Curso de formação política “O Programa da Revolução Socialista para os dias de hoje”, que terá como base o estudo do Programa de Transição, obra do grande dirigente revolucionário russo Leon Trótski que, ao lado de Lênin, comandou a primeira revolução operária vitoriosa da história da humanidade, no maior País do Mundo em extensão territorial, a Rússia. O Objetivo do PCO é realizar o Curso em mais de 100 cidades. E as inscrições serão abertas no próximos dias, nas redes sociais e com os militantes do PCO em todas as localidades. Em breve, divulgaremos aqui uma lista de locais e datas onde aconteceram os cursos, que terão duração de um dia e apresentaram, de forma resumida, as principais estudadas e debatidas na 44ª Universidade de Férias do PCO, realizada em julho passado, durante cinco dias. Os cursos serão abertos todos os interessados de uma forma geral e visa, principalmente, oferecer formação para o ativismo da luta contra o capitalismo em sua etapa atual de crise

histórica, contra o golpe e o governo ilegítimo de Bolsonaro, pela liberdade de Lula e pelas reivindicações dos trabalhadores diante do avanço da crise. O “Programa de Transição“, foi elaborado por Leon Trotski, para a IV Internacional, o partido da revolução socialista mundial que ele fundou e dirigiu nos seus primeiros momentos. Trata-se do mais importante e completo guia para a compreensão teórica e a ação política dos militantes revolucionários do mundo atual, pois oferece uma explicação científica, marxista, dos fenômenos da época atual; a crise terminal do capitalismo; a tática política a ser aplicada na luta revolucionária do proletariado nos países coloniais e semicolonias; as reivindicações transitórias que a classe operária deve levantar como bandeira de luta contra a burguesia mundial; a luta contra o imperialismo, dentre outras questões de crucial importância para conduzir de forma vitoriosa a luta da classe operária mundial contra o inimigo comum, a burguesia imperialista. Fique atento que nos próximos dias estaremos publicando aqui neste Diário, o calendário, com datas e locais e outras informações importantes para que você leitor possa se inscrever.

Jornal Causa Operária (JCO), o mais antigo periódico da esquerda nacional, já está nas ruas com a sua 1.068ª edição. Instrumento fundamental da luta contra o golpe, a mais nova edição do JCO está convocando todos a Curitiba para lutar pela liberdade imediata do ex-presidente Lula e pela derrubada do governo Bolsonaro. Maior líder popular do país, Lula se encontra preso há mais de um ano nas masmorras de Curitiba. Preso político do regime golpista, Lula não teve, até hoje, qualquer crime provado contra si. Mas do que isso: teve todos os seus direitos políticos cassados em uma conspiração escancarada pelos vazamento do portal The Intercept Brasil. O ato em Curitiba acontecerá na metade do mês de setembro e irá

reunir militantes de todo o país. Em todas as regiões, haverá caravanas rumo à sede da Polícia Federal, onde o ex-presidente se encontra encarcerado. A edição n. 1.068 do JCO, além de contar com as denúncias contra o governo ilegítimo de Jair Bolsonaro, explica a necessidade de travar uma luta pelo “fora Bolsonaro”, em oposição às teses da direita e de setores da esquerda nacional que defendem a manutenção do governo Bolsonaro até o fim de seu mandato. Para mais informações sobre o grande ato em Curitiba e para ter acesso às principais discussões da política nacional e da política internacional, adquira já o seu exemplar do Jornal Causa Operária!


12 | MOVIMENTO OPERÁRIO

CORREIOS

Governo golpista mente sobre situação da ECT para privatizar E

m recente documento publicado pelo Ministério da Economia do governo golpista e fraudulento de Jair Bolsonaro, a ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos), maior empresa de Correios da América Latina aparece como sendo um dos piores negócios que o estado possui, um verdadeiro absurdo! O documento, feito pelos golpistas que querem entregar todas as empresas estatais do país para os grandes capitalistas internacional, alega que os Correios dá prejuízo e que se não for vendida agora, o governo terá que gastar até 21 bilhões de reais para manter a estatal funcionando nos próximos anos. Cínicos que fraudam os resultados de uma empresa que dá dinheiro para o governo, e quando deu

resultados negativos, foi obra de uma manipulação contábil, que não obrigou o governo colocar um centavo na administração da empresa. A mentira dos golpistas não para por aí, dizendo que os Correios não consegue competir com seus concorrentes do mercado postal, e que os empresários consideram péssimo os serviços dos Correios, um mentira cabeluda, já que os grandes e pequenos concorrentes dos Correios, como DHL, FEDEX e outras empresas de logística usam os serviços dos correios para atender alguns de seus clientes. Como é de praxe, os golpistas utilizaram o roubo do Postalis (Fundo de Pensão complementar dos trabalhadores dos Correios) realizado por um banco americano BNY Mellon, para

SÃO PAULO

Trabalhadores dos frios participam de ato pelo “Fora Bolsonaro”

N

o ato realizado no dia 13 de agosto, onde, em uníssono foi pedido pela saída do presidente ilegítimo do Brasil aos gritos de “Fora Bolsonaro”, teve a participação dos trabalhadores nas indústrias de carne e do frio de São Paulo juntamente com várias outras categorias, tais como: professores, bancários, petroleiros, químicos, metalúrgicos, vidreiros, correios, ocupações sem teto, Movimento dos trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), entre outros. O ato que contou com dezenas de milhares de pessoas que se concentraram na avenida Paulista, desde as 16 horas, seguindo pela rua da Consolação até a praça da República em uma enorme passeata, onde havia espalhado pela manifestação várias faixas com dizeres de “Liberdade para Lula” e “Fora Bolsonaro” demonstrando imensa repulsa da população aos golpistas que toma-

ram de assalto o país. Apesar de grandes organizações terem insistido em convocar o ato apenas como uma manifestação em defesa da educação, o que deu a tônica do ato foi mesmo o “Fora Bolsonaro” e “Liberdade para Lula”. Uma faixa de “Fora Bolsonaro”, do PCO, de 50 metros de extensão, foi carregada por várias pessoas que disputavam espaço para poder segurá-la, o anseio pelo Fora Bolsonaro era o que se expressava nos manifestantes que colavam adesivos no peito, nas bolsas, etc.. Manifestantes independentes também levaram faixas de Fora Bolsonaro, incluindo o Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp). O aumento dessas mobilizações será de fundamental importância para derrotar os golpistas, tirar o fascista Bolsonaro do poder e que Lula participe, em liberdade, de novas eleições.

justificar que a empresa tem mesmo que desaparecer. E por fim, como o governo direitista dos golpistas, Jair Bolsonaro e Paulo Guedes não poderiam deixar passar, atacaram os trabalhadores da ECT, dizendo que a categoria ecetista, que recebe em média 2 mil reais de salários, faz muita greve, e por isso pretendem demitir mais 30 mil trabalhadores, enxugando ainda mais o quadro de funcionários, que já está trabalhando além do limite. É por essas e outras afirmações mentirosas desse governo golpista que os trabalhadores dos Correios precisam se juntar a outras categorias que estão sendo atacadas, e exigir a retirada imediata desse governo do controle da ECT e do Brasil. É preciso uma cam-

panha nacional pelo Fora Bolsonaro e todos os golpistas, com novas eleições gerais, com a liberdade de Lula, como única forma de se opor ao desastre que os fascistas pretendem fazer com as empresas, riquezas e a classe trabalhadora do Brasil.

Marília e Assis realizam ato em prol da educação N

o dia 13 de agosto ocorreu em diversas cidades do estado de São Paulo manifestações para denunciar o desmonte da educação que está sendo intensificado com o governo golpista de Jair Bolsonaro e João Doria. Nas cidades do noroeste do estado, Marília e Assis, ocorreram manifestações organizadas pelo sindicato dos professores de São Paulo e a Unesp. Os partidos políticos também estavam presentes, PT, PCO, entre outros grupos. As manifestações também denunciavam o desmonte da Previdência que está pra ser votada novamente no Congresso Nacional, além do chamado pelo fora Bolsonaro e a liberdade para Lula. As duas manifestações contaram algumas dezenas de professores e estudantes em sua maioria.

Foi montada a banca do PCO, contendo jornais, revistas, canecas, bótons e diversos materiais políticos. É preciso intensificar a luta neste segundo semestre, pois os golpistas estão se sentindo a vontade para massacrar todo os povo e tirar seus direitos que foram conquistas bastante “suadas”. As direções devem tirar o “pé do freio”, pois somente a mobilização das amplas massas trabalhadoras pelos seus sindicatos e partidos vão barrar os retrocessos promovidos pelos golpistas. Por um calendário de luta que abandone as manifestações “conta-gotas”, os golpistas não podem sentir-se mais à vontade do que estão, discurso parlamentar não abala ninguém, os golpistas somente temem o povo nas ruas organizados pelas suas agremiações.

Itaú ameaças trabalhadores com estabilidades com demissão O

s banqueiros golpistas, do Banco Itaú, estão mirando os trabalhadores que detém estabilidade no emprego para demitir da empresa, através do famigerado Plano de Desligamento “Voluntário” que o banco anunciou recentemente. Entre os ameaçados estão: bancários com estabilidade após afastamento por doenças; aqueles que foram eleitos para cargos de direção na Cipa (Comissão Interna de Prevenção à Acidentes) e também para aqueles que exercem mandatos sindicais. O processo de demissão na empresa abre as portas para jogar no olho da rua milhares de trabalhadores, além disso operam mais um gigantesco ataque aos trabalhadores representantes

das entidades de classe da categoria. O banco já tem um histórico de perseguições aos dirigentes sindicais, mas não só aos dirigentes aos trabalhadores sindicalizados também. Neste banco são poucos os trabalhadores que se candidatam para exercerem o cargo de delegado sindical, por exemplo, assim que o banco toma o conhecimento da candidatura do funcionário, o mesmo estará imediatamente no olho da rua. Os representantes sindicais sempre contaram com a garantia legal de estabilidade no emprego para que dessa forma possam atuar com independência para que não sejam retaliados pelos patrões. Nos bancos privados as coisas não funcionam bem assim. Os

trabalhadores acabam atuando clandestinamente para organizar a luta contra os ataques dos banqueiros. Os banqueiros e seu governo golpista estão numa frenética ofensiva contra a classe trabalhadora, suas organizações e seus representantes, fruto do golpe de estado em andamento no país. É necessário organizar um amplo

movimento da categoria bancária, juntamente com os demais trabalhadores para barrar tal ofensiva. A luta em defesa do emprego, das organizações dos trabalhadores deve estar vinculada à luta para derrotar o golpe e suas medidas, única maneira efetiva de se contrapor aos banqueiros e ao governo golpista por eles instalado.


CIDADES | 13

SANTO ANDRÉ

Trabalho escravo no transporte de alunos da federal do ABC N

esta segunda feira durante panfletagem do Comitê Santo André contra o golpe, na Universidade Federal do ABC, estudantes da universidade fizeram a denúncia de que motoristas da JP Grandino, ônibus fretados que fazem o transporte de estudantes da Universidade entre os campi de Santo André e São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, atendendo alunos, docentes e funcionários entre 6h00 e 23h00 dobram turnos e trabalham até 18 horas por dia, uma verdadeira escravidão. Sabendo disso os militantes do comitê contra o golpe foram conversar

com os motoristas que estavam no ponto esperando saída e os mesmos confirmaram a situação. Revoltados, ainda disseram não receber hora extra e que o banco de horas quando os trabalhadores precisam do mesmo a empresa alega não poder atender no momento. Além disso um dos motoristas comunicou, que procuram atender os estudantes da federal do ABC da melhor maneira possível, mas que temem que pelo cansaço brutal depois de uma jornada de mais de 16 horas, uma hora possa ocorrer um acidente.

RIO DE JANEIRO

FLORIANÓPOLIS

Crianças da Maré denunciam repressão de Witzel

População tem que ir buscar água em baldes

D

esde o mês passado, a capital catarinense (Florianópolis) e as cidades da região sofrem falta de abastecimento de água. Segundo a Casan (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento) a situação só será regularizada se houver chuva significativa ou em 15 dias, quando serão instaladas novas bombas para distribuir água pela região. Enquanto a empresa responsável apresenta desculpas de que nenhum morador ficou 24h seguidas sem água, a população sofre entre o abastecimento irregular a dias sem sequer

A

ONG Redes da Maré deu início a um projeto que mostra o que os moradores e, principalmente, as crianças, vivenciam na Favela da Maré, em relação as agressões que o governador fascista Witzel pratica com a população pobre das favelas. O projeto, que já enviou cerca de 1.500 cartas de moradores da Maré ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ). A população dali pede a volta da Ação Civil Pública, que, em tese, deve regulamentar as ações policiais no local, contudo, a luta deve principalmente seguir com o objetivo de tirar Witzel do governo, junto com todos os outros golpistas que apoiam os genocídios que a polícia comete todos os dias nas favelas do Brasil, sempre com respaldo do Estado. Uma das cartas era de uma criança que contava sobre uma das ações da polícia de Witzel quando ela estava na escola “Um dia eu estava no pátio da escola fazendo educação física. De repente, o helicóptero passou dando tiro para baixo. Aí, todo mundo correu para o canto da arquibancada. Quando passou o tiro, a gente correu para

dentro da escola até minha mãe me buscar. Quando deu mais tiro, eu estava em casa”. Essa é a realidade nas favelas do Rio de Janeiro sob o governo de Witzel, com crianças sendo vítimas de “bala-perdida” todos os dias, mas essas balas perdidas só encontram jovens negros e pobres. Uma outra carta de outra criança dizia que “O ruim das operações nas favelas é que não dá para brincar muito. E também morrem moradores nas comunidades. Também têm muita violência”. As crianças estão sendo totalmente privadas de terem uma vida saudável, de saírem para brincar, porque o governador assassino e alucinado gosta de brincar de atirar de cima de helicópteros contra as favelas. Um dos objetivos desse projeto é mostrar a realidade vivenciada pelos moradores, que não merecem de forma alguma serem tratados como animais, independente se há criminosos ali ou não. É urgente continuar a luta nas ruas pelo Fora Bolsonaro e toda essa corja de fascistas, assassinos da população pobre e negra.

um pingo d’água, tendo até que buscar água em baldes, mostrando o descaso do governo com a população na capital do estado mais bolsonarista do Brasil. Não bastando a situação de ataque à população, o prefeito direitista Gean Loureiro (ex MDB, hoje sem partido) assinou no último dia 8 decreto proibindo a utilização de água canalizada para a lavagem de carros, calçadas, passeios públicos e pátios de imóveis municipais. Ou seja, para a direita, a cidade não ter abastecimento de água é culpa do povo.


14 | CULTURA

PROJETO DE LEI

Holiday quer “Teatro sem partido” em São Paulo O vereador Fernando Holiday, do DEM-SP, deu entrada em um projeto de lei que modifica o Programa Municipal de Fomento ao Teatro da Secretaria Municipal de Cultura. Cinicamente (como sempre), Holiday afirma que “O conceito geral da proposta é criar critérios mais rígidos e tentar tirar características partidárias das seleções dos projetos”, quando, na verdade, o objetivo dele é censurar a livre manifestação artística e permitir que apenas o viés ideológico aceito pelo capitalismo tenha voz. É a mesma intenção do projeto “Escola Com Fascismo”. Vejamos algumas das propostas do vereador para o projeto de lei: “§8º – É vedada a aprovação de projeto que queira promover agenda política ou beneficiar de qualquer modo grupo político ou corrente ideológica.” Por que isso seria vedado? Esse parágrafo já demonstra claramente a censura. Qualquer projeto que demonstre uma leitura da realidade que tenda à esquerda, que trate do pensamento de um autor importante à esquerda, ou mesmo trate da vida de uma figura histórica importante à ideologia política de esquerda, será passível de censura de acordo com esse parágrafo. Qualquer projeto que contenha elementos de esquerda será censurado. É uma proposta absurda, pois projetos que contenham, por exemplo, a idéia de “meritocracia” ou “livre-mercado”, certamente não serão censuradas e

tratadas como “doutrinação”. Para a direita, o simples fato de se propor uma leitura da realidade que não vai de encontro aos seus interesses, é doutrinação. Na realidade, doutrinação é o que a imprensa capitalista faz todos os dias através de todos os meios de comunicação, com filmes, seriados e etc. Muitos desses parecem neutros politicamente, mas contêm embutidos uma série de valores e uma visão de mundo que sustentam os interesses do capitalismo. É sempre bom lembrar que a idéia de neutralidade que os dissimulados do MBL pregam, não passa de demagogia. Vejamos o próximo parágrafo, que reforça a censura mais um pouco: “§9º: Em hipótese alguma será aprovado projeto que, mesmo que implicitamente, louve, apoie ou estimule: I – Atividades criminosas ou agentes criminosos; II – Regimes hostis à liberdade e à democracia; III – Radicalismo político.” É claro que por “democracia”, aqui, entende-se a democracia que temos hoje, mundo afora, na qual a burguesia e o imperialismo controlam o governo, ao invés o povo. A “liberdade” refere-se à liberdade que os donos do dinheiro devem ter em fazer o que bem entendem com os trabalhadores. As “atividades criminosas” seriam aquelas atividades que se defrontam com o sistema capitalista, buscando

subvertê-lo. Vale lembrar que há todo um projeto requentado pela direita, que tenta criminalizar a esquerda como um todo, começando pelos terríveis “radicais políticos”, os comunistas. A Lava Jato teve um importante papel, nesse sentido. A proposta do vereador ainda coloca a seguinte proibição, em outro item: “VII – Uso do espetáculo para fazer campanha educativa sobre temas de saúde ou utilidade pública, que deverá ser feita nos intervalos ou antes e após as apresentações, sem que isto interfira no conteúdo do espetáculo, sendo vedada a propaganda político-partidária.” Em um dos artigos, Holiday ataca a Cooperativa Paulista de Teatro e a grupos associados, ao propor que “Serão consideradas como pessoa jurídica somente aquelas descritas no art. 44 do Código Civil, sendo vedada a extensão do conceito de pessoa jurídica para entes despersonalizados, tais como coletivos ou núcleos artísticos.” Adicionalmente, a alteração do vereador visa remover o parágrafo: “Cooperativas e associações com sede no Município de São Paulo, que congreguem e representem juridicamente núcleos artísticos sem personalidade jurídica própria, podem inscrever 1 (um) projeto em nome de cada um destes núcleos.”, substituindo-o por: “Cooperativas e associações com sede no Município de São Paulo, que congreguem e representem juridicamente núcleos

artísticos sem personalidade jurídica própria, só poderão inscrever um único projeto, que, para todos os fins desta Lei, constará como sendo de sua autoria, sendo vedada a inscrição de mais de um projeto no mesmo período sob qualquer alegação, em especial a de que representam grupos artísticos distintos.” Trata-se de um ataque descarado aos artistas ligados ao teatro e do agravamento da política ditatorial do governo Bolsonaro. Temos que combater reiteradamente esses ataques, através da força popular, caso contrário, tenderão a se agravar. As marionetes do grande capital, que estão no governo, devem temer a força do povo. Fora Bolsonaro e todos os golpistas!

EDITAL DO BB

Golpistas ampliam censura sobre o cinema estarão previamente eliminadas obras que façam referência aos temas citados no edital lançado. Censura

N

a última segunda-feira (12), foi publicado o edital do Banco do Brasil para seleção de filmes que serão financiados pela instituição de acordo as leis de incentivo a produções audiovisuais. Já no formulário de inscrição do concurso, destacam-se alguns campos de preenchimento quando perguntam “se serão exibidas cenas de nudez ou de sexo explícito”, se “a

obra faz referência a crimes, drogas, prostituição ou pedofilia” ou se a obra teria “cunho religioso ou político”. O edital do concurso informa que não será selecionada qualquer obra que “incentive o uso de bebidas alcoólicas, cigarro ou outras drogas”, “possua caráter religioso ou promovido por entidade religiosa” e que “tenha cunho político-eleitoral-partidário”. Ou seja,

O fato é que os requisitos desse edital mostram claramente a política de censura à arte imposta pelo governo autoritário do golpista Jair Bolsonaro. Ao proibir qualquer tipo de referência aos temas citados, o governo procura acabar com a liberdade de expressão dos artistas, além de impedir denúncias e debates sociais de interesse popular. É preciso saber que o Estado não pode impor nenhum critério para a produção artística ou qualquer tipo de barreira para a liberdade de expressão de qualquer cidadão. A censura à liberdade de expressão é prática recorrente do governo golpista, visto que é um governo completamente frágil e impopular. Em várias declarações, Bolsonaro tenta nos convencer de que os valores defendidos pelo governo são os valores da maioria da população, o que é uma grande mentira. O próprio governo sabe de sua impopularidade e por isso não quer entrar em discussão sobre temas

considerados polêmicos, algo que sempre rende duras críticas. Bolsonaro, o inimigo da cultura Não é a primeira vez que Bolsonaro ataca a cultura por meio da censura. Em abril, Bolsonaro ordenou que fosse retirado de circulação um comercial do Banco do Brasil (BB), e demitiu o diretor de marketing do BB. A propaganda era feita por atores e atrizes negras e uma transexual. Mais da metade da população brasileira é negra e isso demostra mais uma vez que Bolsonaro é impopular. No mês passado, em outra ocasião, fez duras críticas à Ancine (Agência Nacional de Cinema) ameaçando fechá-la se não estivesse à serviço dos golpistas. Esses fatos reafirmam a impopularidade do governo e a necessidade de impor suas medidas à força, pois é inimigo da cultura nacional. Os trabalhadores precisam denunciar a caça do governo Bolsonaro a toda liberdade expressão. A oposição de todos os trabalhadores está crescendo e a pressão contra o governo Bolsonaro é gigantesca. O governo está cada vez mais acuado e precisa destruir as denúncias contra ele. É preciso uma grande mobilização dos trabalhadores pelo Fora Bolsonaro e todos os golpistas!


MULHERES | NEGROS | 15

CRISE

Moro e Bolsonaro usam Força Nacional para reprimir mulheres A

cada dia de crise que se passa no governo dos golpistas, mais eles tomam medidas desesperadas e absurdas, como aconteceu na Marcha das Margaridas e Marcha das Mulheres Indígenas, em Brasília, nesta terça-feira (13), onde o presidente reacionário e um dos agentes do imperialismo no Brasil, Sérgio Moro, autorizaram o uso da Força Nacional para fazer a segurança da Esplanada dos Ministérios e da Praça dos Três Poderes. Essa medida foi uma recomendação do Gabinete de Segurança Institucional, um antro de direitistas com medo da fúria popular nas ruas gritando contra o governo genocida de Bolsonaro. Utilizar a Força Nacional para reprimir a Marcha das Margaridas e a Marcha das Mulheres Indígenas, ma-

nifestações totalmente pacíficas, significa abrir precedentes para reprimir os atos que vêm acontecendo contra o governo, como as manifestações dessa terça-feira (13), onde diversos estados do Brasil protagonizaram atos enormes contra as medidas golpistas de Bolsonaro. Como é de costume, o Estado sempre manda seu principal aparato de repressão nas ruas, a Polícia Militar, para supervisionar as manifestações, e por absolutamente qualquer motivo, a PM se sente respaldada e à vontade para ser agressiva com os manifestantes. Essa é a política da extrema-direita que está no poder, conter as insatisfações sociais com violência do Estado em cima da classe trabalhadora, que é a única afetada no meio de toda essa crise.

EUA

Principal causa de morte dos negros é a polícia

O

grupo de jornalistas estadunidenses “Fatal Encounters” recentemente divulgou o resultado de um estudo sobre violência policial nos Estados Unidos. O estudo foi feito com base nos dados do Sistema Nacional de Estatísticas sobre Mortalidade, dos EUA. Foi descoberto que homens negros têm 2,5 mais chance de serem mortos pela polícia, do que brancos. O historiador francês François Durpaire afirma que os negros nos EUA enfrentam dois problemas principais: as desigualdades na relação com a polícia e com a Justiça. “O próprio movimento Black Lives Matter não nasceu da revolta contra os policiais, mas da absolvição de George Zimmerman. Ou

seja, o problema não é apenas com a polícia, mas também com a Justiça”, lembra. O caso Zimmerman comoveu o país em 2012. O vigia baleou e matou Trayvon Martin, de 17 anos, que estava desarmado e foi perseguido pelo vigia dentro de um condomínio na periferia de Orlando, por ter sido considerado “suspeito”. O segurança alegou legítima defesa. Zimmerman foi inocentado e a hipótese de crime por racismo foi descartada, o que gerou grande revolta em grande parte da população dos EUA. O professor Adalmir Leonídio, coordenador do Observatório da Criminalização da Pobreza e dos Movimentos Sociais da USP, propõe que há simi-

laridades entre os Estados Unidos e o Brasil, nessa questão. Segundo ele, “Nos dois países, o alvo preferencial da violência policial – que se traduz em tortura e assassinatos – são preferencialmente negros e pobres, moradores dos chamados ‘territórios da pobreza’. Anuário Brasileiro de Segurança Pública registra que das 5.896 mortes devido a intervenções policiais entre 2015 e 2016, 76,1% das vítimas eram negros, sendo 5.769 homens e 42 mulheres. A maior parte é jovem: 35,5% têm idades entre 18 e 29 anos. Em 2018, o número de assassinatos cometidas por policiais subiu para 6.160 pessoas. Para Leonídio, no Brasil, o senso comum penal que relaciona negros e

pobres ao potencial criminoso é uma herança cultural que vem da época do fim da escravidão, e afirma: “essa parcela da população está envolvida em um clima de permanente suspeição. Nesse novo governo em particular, esse senso comum penal não só foi exacerbado como tem sido explicitamente assumido, o que tem sido favorável à execução de pobres e pretos”. Para ele, ainda, “o sistema penal não visa combater o crime, mas o criminoso: essa figura é envolta em todo um manto de estigmas e que obviamente não vai ser o rapaz branco, de classe média”. Leonídio defende que existe uma “produção criminológica” para o enquadramento desta população. “Essas pessoas não são absorvidas pelo mercado de trabalho, não fazem parte da lógica mercantil em evolução e é preciso fazer alguma coisa delas. Isso vai ser muito mais grave em países como o Brasil, onde há uma História de quatro séculos de escravidão. Existe um inimigo interno a ser combatido que, há cem anos, era o ex-escravo. Hoje é o morador da periferia pobre, que se configura como uma ameaça permanente ao patrimônio dos ricos”. Além disso, devemos manter em mente que a repressão policial serve como ferramenta de controle da população mais pobre, que tem grande potencial para se revoltar com a situação degradante na qual vivem. É uma forma de terrorismo do estado. Recentemente, o presidente fascista afirmou que vai enviar um projeto ao Congresso com o objetivo de dar “retaguarda jurídica” para que policiais possam utilizar armas de fogo sem serem processados; “vão morrer igual barata”, afirmou Bolsonaro. O ministro Sergio Moro também defende a matança irrestrita da população pobre que foi colocada em situação de desespero. Se um policial assassinar uma pessoa pobre por motivo torpe, poderá simplesmente declarar que estava tomado por “violenta emoção”.


16 | JUVENTUDE

UFPE

Um D.A. de Música pelo fora Bolsonaro e pela liberdade de Lula H

oje à tarde, os estudantes dos cursos de Bacharelado em Música e de Licenciatura em Música irão se reunir discutir a formação do Diretório Acadêmico (D.A.) de Música. A discussão será feita em duas reuniões – a primeira terá início às 13h, e a segunda, às 17h. Os D.A.s são organizações formadas para que os estudantes de um determinado possam reivindicar seus direitos enquanto membros da comunidade acadêmica. Os D.A.s, portanto, são organizações políticas, uma vez que os direitos dos estudantes só podem ser atendidos por meio de uma luta contra a direita, inimiga da inteligência, da cultura e da educação em geral. O governo Bolsonaro, imposto através de uma eleição fraudulenta, é um capacho do imperialismo, que armou um golpe de Estado contra a presidenta Dilma Rousseff em 2016 e colocou o maior líder popular do país, o ex-presidente Lula, na cadeia. Seu único objetivo é criar condições para que a bur-

guesia possa saquear completamente o pais, destruindo todos os direitos democráticos do povo e liquidando todo o patrimônio nacional. Os golpistas que colocaram Bolsonaro no poder já vêm, há tempos, ameaçando as universidades. Desde o governo Temer, a direita procura impor uma patrulha ideológica nas instituições de ensino e realiza cortes sucessivos. Mais recentemente, o Ministério da Educação anunciou o programa “Future-se”, que tem como objetivo privatizar as universidades. A extrema-direita, da qual Bolsonaro faz parte, também vem procurando destruir a cultura do país. Os ataques à Lei Rouanet e à Ancine são apenas alguns casos em que Bolsonaro demonstrou seu interesse em sabotar a produção cultural. Para impedir mais ataques da direita à população, é preciso dar um basta no governo Bolsonaro. É necessario organizar um grande movimento pelo “fora Bolsonaro”, que seja capaz de

derrubar o governo capacho do imperialismo norte-americano. Além de derrubar Bolsonaro, é preciso exigir a liberdade imediata de Lula, preso político do regime golpista e que é um aliado fundamental dos trabalhadores e da juventude na luta contra a direita.

Por isso, o D.A. de Música não pode se abster de exigir a liberdade de Lula e a derrubada de Lula. A maior defesa dos interesses dos músicos e dos estudantes de música é a luta contra a direita, inimiga de todo o progresso da humanidade.

EDUCAÇÃO

Universidades precisam ser públicas, ao contrário do plano da direita

A

União Nacional dos Estudantes (UNE) apresentou uma proposta de lei sobre autonomia financeira das universidades, esta proposta está no programa da UJS, que está à frente na chapa “Tsunami da Educação”. Esse projeto dá a possibilidade das IFES captarem recursos elas próprias, de maneira autônoma e isso fica claro no programa da chapa agora eleita, “Tsunami da Educação”. Por coincidência, ou não, FUTURE-SE, programa do governo golpista e de caráter privatista, que objetiva acabar com as universidades públicas,

tem como base central a mesma proposta absurda de autonomia financeira, que a UNE está propondo. Ou seja, submeter a educação às vontades dos empresários, bancos, e outros meios privados que possam estar envolvidos. Erros podem ser cometidos, mas as inúmeras capitulações e vacilações que a esquerda vêm caindo, é fatal. O perigo de uma coalizão escancarada com instituições que, historicamente, são aparatos da política da burguesia, é se transformar numa esquerda liberal por completo, que só dá atenção às perfumarias da vida política e se es-

quece que a luta deve ser no campo de classes. A tese da chapa vencedora, traz o seguinte “A segunda garante que as universidades possam captar receita própria, sem que isso conte com o montante geral do orçamento. Estes recursos normalmente são captados através de acordos com entes públicos e privados, como governos estaduais, municipais e até mesmo órgãos federais. Tal conquista foi fundamental para que milhares de bolsas da CAPES não fossem cortadas e programas não fossem extintos, além de dar um fôlego

maior para a pós-graduação brasileira.” Esse trecho deixa claro, com todas as letras, que o financiamento privado pode substituir o financiamento público e, na prática, isso significa submeter às universidades públicas aos desejos dos empresários que vão financiá-las, o que é obviamente um perigo para a autonomia do ensino público. É como se a burguesia quisesse mostrar que somente o setor privado tem as soluções para os problemas dos serviços públicos, que a direita faz de tudo para que não funcionem mesmo. É uma verdadeira armadilha de todas as formas.


MORADIA E TERRA | 17

GOVERNO BOLSONARO

Direita avança contra licenciamento ambiental em favor de capitalistas

O

texto do novo projeto de Lei Geral do Licenciamento Ambiental, apresentado pelo deputado relator Kim Kataguiri, é mais um ataque. Diversas entidades, como organizações de cientistas e ambientalistas, divulgaram uma nota conjunta em repúdio à essa proposta, que se aprovada, pode trazer grande retrocesso ao licenciamento ambiental de empreendimentos. Apontado como relator do projeto pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, Kataguiri ignorou o resultado das discussões nas audiências públicas sobre o tema, demonstrando a demagogia aplicada pela direita em torno da democracia, e apresentou um texto final onde substituiu as formulações resultantes das audiências por outras que sequer foram discutidas. Muitos pontos incluídos no texto, modificado de última hora, são apontados pelas entidades como fontes de aumento dos conflitos sociais e am-

bientais no campo, como a extinção dos impactos indiretos, aplicação de autolicenciamento até para empreendimentos de significativo impacto, dispensa de licenciamento para atividades agropecuárias, fim de avaliação de impacto sobre áreas protegidas e

eliminação da responsabilização de instituições financeiras por dano ambiental. O governo de Bolsonaro já ganhou uma péssima fama mundo afora pela forma que lida com as questões ambientais e este texto da PL demonstra

como toda direita está unida em destruir e entregar os recursos naturais do povo brasileiro. Grande patrocinador dos latifundiários, os bolsonaristas, assim como o DEM de Kataguiri, não só apoiam as grilagens e exploração de terras pelo agronegócio, como são também responsáveis pelo assassinato de lideranças dos movimentos de luta pela terra e exploração de trabalhadores, além de apoiarem a entrega total do país ao imperialismo. Quando aparecem menções à liberdade, modernização e desburocratização vindas da direita, só podem significar uma coisa: a retirada de direitos da população. Esse PL nada mais é do que um desmonte do licenciamento ambiental para favorecer os grandes empresários, ignorando completamente as consequências que podem agravar e muito a situação de vida dos trabalhadores, sem contar o aumento de terríveis episódios como os provocados pela Vale.

DENÚNCIA

Policiais torturam e ameaçam seringueiros em área de conflito no Acre

N

o último dia 6, por volta das 15h, dois jovens da Fazenda União III, como é conhecido o Seringal São Bernardo, que fica na região de Rio Branco no Acre, foram agredidos por policiais militares durante horas, conforme denúncia da CPT (Comissão Pastoral da Terra). Os rapazes, Francivaldo Santos (25 anos), e Maurir de Souza (24), moradores há nove anos do Seringal São Bernardo, trabalhavam no campo quando foram abordados por quatro policiais sem nenhuma ordem judicial, que entraram na comunidade num carro hilux sem identificação de ser viatura da polícia, abordaram e agrediram fisicamente os rapazes. Tudo isso portando fardas do Comando de Operações Especiais (COE) e do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE). Além das agressões, os policiais separaram os jovens e perguntaram incessantemente onde estariam as armas e os torturaram com ameaças de morte e até tiro no chão. Entre as agressões e o interrogatório os trabalhadores identificaram Elielson “Preto”, capataz da fazenda União, junto com os policiais. Como não conseguiram encontrar nada, os policiais levaram os jovens algemados para a delegacia da capital, onde se encontrava Mozar Marcondes Filho, que se diz proprietário da fazenda, que seria atendido primeiro pelo delegado. Segundo matéria do portal AC 24h Marcondes mantinha 13

trabalhadores em situação de trabalho escravo na Fazenda Agropecuária Sorriso, área rural de Rio Branco, em 2015, e consta na lista suja do trabalho escravo de 2015, 2017 e 2018. Segundo o próprio delegado, em manifestação feita ao MP-AC: “esse Mozar (o fazendeiro) aqui de novo perseguindo todo mundo, não era para esses meninos estarem presos.”

Na terra há mais de 30 anos, posseiros que vivem das extrações da castanha, da borracha e da pequena agricultura, sofrem ameaças, expulsões e agressões dos latifundiários e de seus jagunços, que estão dentro dos próprios aparatos da segurança estatal. O Estado, que deveria garantir os direitos da população, sobretudo à terra e ao trabalho, atua pela omissão,

quando não garante os direitos e permite que eles sejam violados por si e por terceiros, sobretudo os latifundiários, e pela repressão, especialmente pelo papel das polícias que atuam como segurança privada e jagunços dos latifundiários nas ameaças, agressões e tortura contra os seringueiros, para intimidar suas famílias e expulsá-las do latifúndio em conflito.


18 | ESPORTES

ESPORTES

Todos os domingos às 20h30 na Causa Operária TV

CBF se explica sobre o VAR: sintoma da crise

A

demora excessiva, as interferências constantes e cada vez mais decisivas, as arbitrariedades recorrentes na sua utilização, os problemas técnicos que apareceram aqui e ali e inúmeras outras trapalhadas têm colocado em xeque o árbitro assistente de vídeo — também conhecido como VAR (na sigla em inglês) — no Brasil. Diante dos problemas que a sua utilização tem gerado, até mesmo os seus defensores tradicionais, como a imprensa golpista, se veem obrigados a criticar o suposto recurso tecnológico. O comentarista Casagrande, por

exemplo, da direitista TV Globo, afirmou durante o Globo Esporte desta terça-feira (13) que os árbitros estão “se escondendo” atrás do VAR, e, sobre as demoradas interrupções do jogo, concluiu: “Está demais!” Já não é tão raro se deparar com críticas semelhantes a essa nos demais canais de mídia da direita. Os questionamentos ao uso do VAR se avolumaram nos últimos meses, e a CBF, por meio do seu presidente da comissão de arbitragem, Leonardo Gaciba, foi forçada a entrar na jogada para tentar esfriar a fervura. O chefe da arbitragem brasileira reconheceu

que “houve demora excessiva” e afirmou: “Não gostei, foi muito tempo e causou desconforto”. No entanto, ressalvou que os problemas ocorreram apenas em alguns jogos (“em dois jogos fora da curva”), e que, no final das contas, “as decisões foram acertadas, o que é mais importante”. E concluiu lançando mão do demagógico argumento da “justiça”: “A tabela do Brasileirão, em 14 rodadas, está mais justa quando comparada ao ano passado. A justiça é o mais importante, mas precisamos achar um equilíbrio entre ela e a emoção”. A CBF, com um discurso defensivo, tenta manobrar a situação e aposta na apresentação de fórmulas e propostas de aperfeiçoamento do uso do árbitro de vídeo. Os comentaristas esportivos da mídia golpista criticam, mas ressaltam que o VAR, o recurso tecnológico, não pode ser confundido com a sua péssima utilização pelos apitadores brasileiros. A verdade é que o acúmulo de erros grotescos protagonizados pelo VAR se choca frontalmente com as promessas de diminuição dos erros de arbitragem, com as promessas de promoção do “jogo limpo” (fair play) e da justiça no futebol. É possível mesmo perceber um cenário de crise em torno do VAR, um cenário marcado por inúmeros obstáculos, dificuldades e contradi-

Famílias dos meninos mortos no Ninho do Urubu continuam sem apoio

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a segunda-feira (12-08) houve audiência de conciliação no TRT (Tribunal Regional do Trabalho) do Rio de Janeiro, entre os representantes do Flamengo e do MPT (Ministério Público do Trabalho) que representa os interesses das famílias dos jogadores de base que morreram ou sofreram lesões com o incêndio do início do ano no Ninho do Urubu. No inicio de fevereiro desse ano, 10 jogadores da base do Flamengo morreram e 3 ficaram feridos em incêndio ocorrido em alojamento improvisado pelo clube, a fim de economizar com as acomodações dos atletas juvenis. O MPT/RJ requisitou o bloqueio de 100 milhões de reais do clube para pagar as indenizações das famílias dos

jogadores e gastos processuais, no entanto, o Flamengo, que fatura milhões de reais com jogadores formados em suas bases, a exemplo da venda de Vinicius Júnior, Paquetá, Felipe Vizeu, etc. para os times europeus, se recusa a indenizar as famílias que foram vítimas dessa tragédia. Como era de se esperar a audiência terminou sem acordo, o Flamengo se eximindo da responsabilidade. Diante da resistência do clube carioca, o juiz que presidiu a conciliação empurrou para o dia 29 de agosto, uma nova audiência. No entanto, é visível que o Flamengo tenta empurrar sua responsabilidade para as “calendas gregas” e os tribunais estão ajudando para que o clube não indenize as famílias.

TODOS OS DIAS ÀS 3H, NA CAUSA OPERÁRIA TV

ções na implantação dessa ferramenta de interferência externa no jogo. Posto isso, esclareçamos as coisas: o VAR, ao contrário do que prega a imprensa burguesa, não irá deixar o jogo mais justo, mais “limpo”, com menos erros de arbitragem. Não é essa a sua função real e efetiva. O VAR é uma ferramenta que aumenta os meios de controle e interferência dos que estão “fora de campo” sobre os que estão “dentro de campo”. O VAR, na verdade, representa um aperfeiçoamento do controle que os poderosos (cartolas, empresários, grandes corporações capitalistas, forças políticas etc.) sempre procuraram exercer sobre o futebol. Dentro do futebol, consiste numa espécie de correia de transmissão aprimorada dos interesses das forças políticas e econômicas dominantes. É um instrumento de manipulação de resultados, de controle externo, de corrupção dentro do esporte, portanto. O discurso da “ética”, da “justiça” e do “jogo limpo” não é mais que cinismo e demagogia e tem a missão de encobrir ou ocultar o propósito real do árbitro de vídeo. A existência do VAR só interessa aos poderosos, aos cartolas e dirigentes das federações e confederações, aos grandes capitalistas que atuam nos negócios do futebol. Por isso, para defender os interesses do povo oprimido, verdadeiro criador do futebol brasileiro, só resta uma saída: extinguir o VAR.


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