Edição Diário Causa Operária nº5628

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TERÇA-FEIRA, 30 DE ABRIL DE 2019 • EDIÇÃO Nº 5628

EDITORIAL

A esquerda precisa abandonar as ilusões e agir contra todos os ataques bolsonaristas e pela liberdade de Lula

DIÁRIO OPERÁRIO E SOCIALISTA DESDE 2003

Todos ao 1º de Maio pelo Fora Bolsonaro e Liberdade para Lula!

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OPINIÃO

1º de Maio com “sertanejas”: não, não é mera questão de “gosto”

Por Henrique Áreas

Em meio ao agravamento da crise capitalista e da polarização política, impulsionada pela reação da classe trabalhadora aos planos de forme e miséria dos grandes monopólios e seus “neoliberais”, a burguesia se viu forçada a lançar mão de um regime de arbítrio, surgido do golpe de Estado, uma vez que o funcionamento “normal” do regime não dava mais conta de conter a “ameaça” da reação operária e popular.

Por ocasião da bola fora dada pela Central Única dos Trabalhadores ao anunciar como destaque para o ato de 1º de Maio no Anhangabaú a participação de duplas e cantoras que estão no auge da promoção feita pelos grandes monopólios da comunicação

INTERNACIONAL

Desde a segunda metade do século XIX, o primeiro dia do mês de maio é celebrado em todo o mundo como o dia de luta da classe trabalhadora.

O caso Lula mostrou: a legislação burguesa não ajuda no avanço dos direitos democráticos

POLÍTICA

Lula denuncia métodos da Lava Jato: “se você não falar o nome do Lula, você não vai ao banheiro” Finalmente Lula pôde conceder uma entrevista. Na última sexta-feira (26), Lula conversou por duas horas com os jornalistas Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, e Florestan Fernandes Junior, do El País. O expresidente, preso por uma condenação sem provas e perseguido político da direita golpista, falou de vários assuntos e se apresentou como uma alternativa às políticas do atual governo.

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A condenação do ex-presidente Lula no Supremo Tribunal de Justiça na última semana comprovou o processo de perseguição política contra o ex-presidente.

O verdadeiro coxinhato: quando a Globo não chama, direita só leva meia dúzia de patos

Espanha: ante o esgotamento do PP, burguesia escolhe o PSOE mas o fascismo ainda é uma alternativa

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OPINIÃO E POLÊMICA | 3 EDITORIAL

A esquerda precisa abandonar as ilusões e agir contra todos os ataques bolsonaristas e pela liberdade de Lula E

m meio ao agravamento da crise capitalista e da polarização política, impulsionada pela reação da classe trabalhadora aos planos de forme e miséria dos grandes monopólios e seus “neoliberais”, a burguesia se viu forçada a lançar mão de um regime de arbítrio, surgido do golpe de Estado, uma vez que o funcionamento “normal” do regime não dava mais conta de conter a “ameaça” da reação operária e popular. A direita se vê cada mais impelida a lançar mão de medidas arbitrárias, por cima e por fora da Lei, do devido processo legal; a lançar mão da fraude, da repressão, do golpe e de todo tipo de medida “de exceção” para fazer valer os interesses daqueles que representa, o grande capital imperialista e seus consorciados. Ao mesmo tempo, no entanto, a ofensiva da direita contra os direitos democráticos do ex-presidente Lula e de todo o povo brasileiro, evidencia – uma vez mais – as profundas ilusões democráticas da esquerda burguesa e pequeno burguesa do País, sua crença nas instituições do carcomido regime democrático brasileiro que, nunca, chegou a ter plena vigência como tal, sendo incapaz de garantir de forma integral o pleno funcionamento das instituições republicanas e os direitos mais elementares da imensa maioria da população, mesmo aqueles que se encontram limitadamente estabelecidos na própria Constituição Federal. São muitas as demonstrações dessa ilusão. Desde a preparação do golpe de Estado que derrubou Dilma (que a a maioria da esquerda não viu, “analisou” como sendo parte de um “terceiro turno” das eleições, “caracterizou” como uma rixa pessoal da parte de setores da direita (Aécio, Eduardo Cunha etc.) ou até mesmo como uma armação do PT, do PCO etc. para defender o governo.

Diante da intensificação da campanha golpista, a maioria dos setores da esquerda procuram apontar que o golpe poderia ser contido por meio de articulações com setores da própria direita, no governo, no congresso, entre os militares etc. Imposto o impeachment, novas e profundas ilusões. Um acordo permitiria a aprovação de uma emenda antecipando as eleições e a direita permitiria a vitória de um candidato da esquerda como Lula, sem maiores problemas. Metida nessas ilusões, a esquerda se recusou a lutar contra a prisão de Lula (“não havia o menor risco de que isso acontecesse”, diziam; outra “loucura” do PCO) e diante do avanço da direita apoiou a “tática” de que ele se entregasse, pois “isso facilitaria a sua libertação e comprovaria sua inocência (como se isso tivesse alguma importância para a direita que controla o judiciário). Neste e em outros tantos episódios, a crença em uma decisão favorável do judiciário golpista, deixou

claro a enorme crença, sem qualquer base material, no inexistente caráter imparcial do judiciário, um dos pilares do golpe de Estado e que, mesmo, dividido – como todas as instituições do regime – atuou sempre por cima da Lei para garantir a condenação e a prisão ilegal de Lula, sob a direita “supervisão” dos militares, que nomearam um general para “assessorar” o presidente da Corte e, quando julgaram necessário, ameaçaram diretamente o STF e o País com um golpe militar, fechamento do Supremo etc. Ao longo desse processo, essa esquerda também apoiou a “legitimação” do processo persecutório da direita, defendendo propostas típicas da direita como o reforçamento do reacionário Ministério Público, a criminosa operação lava jato, a intensificação da repressão (UPPs, intervenção militar nos Estados etc.), a lei da ficha limpa, a censura, a criminalização da opinião (extinção da liberdade de expressão) etc. Agora, a condenação de Lula em terceira instância, junto com as ameaças

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de novas condenações, todas fraudulentas, ao mesmo tempo que a direita busca intensificar os ataques contra as condições de vida dos trabalhadores (reforma da Previdência, corte dos gastos públicos, demissões em massa, rebaixamento dos salários etc.) e da destruição da economia nacional (privatizações, leilões fraudulentos etc.), intensifica-se a política de repressão aos direitos do povo (censura etc.) e contra as organizações de luta dos explorados (ataques aos sindicatos, partidos de esquerda etc.) é recebida por esses setores da esquerda com a política de buscar uma frente com setores golpistas (“frente ampla”) e de esperar pelas eleições, de 2020, 2022 etc. Uma política que é garantia de novas derrotas e retrocessos. Abre assim caminho para a rearticulação dos golpistas em crise (governo Bolsonaro) e para sua reorganização para novas etapas, como seria o caso de um golpe militar. Na medida em que cresce a crise do regime golpista, cresce o apoio a Lula, visto como uma alternativa por amplas parcelas da classe trabalhadora. Por isso a perseguição continua como antes. E por isso lutar por sua liberdade continua sendo uma campanha fundamental para enfrentar o golpe e a direita fascista. A esquerda precisa abandonar as ilusões e agir contra todos os ataques da direita e pela liberdade de Lula. É preciso opor uma dura resistência ao avanço do golpe e contra e pela liberdade do ex-presidente o que não pode ser feito pela via institucional dominado pelos golpistas financiados e orientados pelo imperialismo norte-americano. A luta deve ser travada nas ruas, nas fábricas nos bairros operários com uma intensa e permanente mobilização, com um amplo trabalho de agitação e propaganda junto a todos os setores dos explorados.


4 |OPINIÃO E POLÊMICA COLUNA

1º de Maio com “sertanejas”: não, não é mera questão de “gosto” Por Henrique Áreas de Araújo

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or ocasião da bola fora dada pela Central Única dos Trabalhadores ao anunciar como destaque para o ato de 1º de Maio no Anhangabaú a participação de duplas e cantoras que estão no auge da promoção feita pelos grandes monopólios da comunicação. A divulgação da CUT e das ditas “centrais sindicais” que farão o ato unificado causou estranheza e escândalo por parte da maioria dos militantes e ativistas, acostumados a outro tipo de atrações musicais nos atos políticos da esquerda. Embora, de modo geral, a presença destas atrações não tenha agradado a maioria da esquerda, o fato trouxe à tona um debate importante sobre a própria questão da arte e da cultura. Alguns poderiam objetar que a presença de atrações como as que estão previstas no ato em São Paulo poderia ser interpretado apenas por uma questão de “gosto”. Esse tipo de argumento está presente em boa parte das pessoas ao discutir os diferentes estilos musicais. Tal argumento procura impugnar um debate profundo sobre as diferentes manifestações culturais e artísticas produzidas atualmente. Se tudo é uma “questão de gosto”, qualquer juízo que se possa fazer sobre esses fenômenos musicais seria meramente um problema individual e que , portanto, em última instância, essas considerações não dizem respeito a uma concepção política sobre a arte e a cultura. Essa ideia é falsa por vários motivos que tentaremos resumir nesse artigo. Em primeiro lugar, é preciso ter claro que o monopólio das comunicações e do entretenimento não existe para

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criar um estilo musical, mas para produzir e reproduzir determinadas fórmulas que sirvam aos interesses desses monopólios. Portanto, não se trata de diferentes estilos musicais, mas de fenômenos meramente artificiais produzidos pelos monopólios. Em segundo lugar e talvez mais importante: o capitalismo na época decadente, ou seja, de domínio completo dos grandes monopólios não é capaz de criar nada. Aqui entendendo a palavra criar no sentido da criatividade que para a arte necessidade de certo grau de espontaneidade para acontecer. Seria absurdo, portanto, acreditar que nessas duplas e cantoras, principalmente as do chamado “Sertanejo Universitário”, há certo grau de espontaneidade que permitisse de fato a criação de uma arte ou movimento artístico genuíno. O que se tem aí é uma reprodução de fórmulas exigidas pelo próprio funcionamento das engrenagens dos monopólios que produzem essa música. Assim, é preciso repetir as fórmulas nas letras, no ritmo, na harmonia, na melodia e até mesmo no visual. Por isso, não é necessário se ter um ouvido tão atento para perceber que esse tipo de música é muito igual. Quase não se percebe a diferença entre uma e outra dupla ou cantora e entre uma ou outra faixa musical. Os monopólios são inimigos da arte e da criatividade. É preciso ter isso como ponto de partida fundamental, o que piora e muito na nossa época, em que a decadência capitalista atingiu patamares nunca antes atingidos. Alguém ainda poderia objetar: “mas a época imperialista e de domínio dos monopólios não vêm desde o início do século XX?”. Respondemos que isso é

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um fato, mas é preciso ter em conta o aprofundamento desse domínio e dessa decadência. Se antes, a indústria fonográfica permitia determinados fenômenos artísticos, hoje essa possibilidade se aproxima do zero, pois a própria existência do capitalismo está em jogo. Desse modo, é preciso controlar cada manifestação cultural genuína e mais ainda, se preciso for, sufocá-la e esmagá-la. Esse fator fundamental precisa ser levado em conta. Não se trata de gosto, mas de imposição sos monopólios contra o povo. Há ainda outro fator que não é meramente um problema teórico. Essa geração das duplas e cantores do chamado “sertanejo universitário” são produtos diretos do poder dos latifundiários, que, entre outras coisas, controlam boa parte dos mega shows que ocorrem nas cidades do interior do País. Nem seria necessário dizer que controlam também a maior parte das rádios do interior e grande parte das rádios das capitais. Desse modo, a luta pelo dinheiro é encar-

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niçada, cada tempo de rádio, de TV e cada presença em grandes eventos e na distribuição dos discos é disputado entre as diferentes fatias do mercado da música. Por fim, não dá para ignorar o fato escandaloso de que essas atrações não têm nem nunca tiveram nenhuma relação com a luta dos trabalhadores, menos ainda com a luta contra o golpe. Pelo contrário, o “sertanejo universitário” é reconhecido como um estilo tipicamente bolsonarista – não poderia ser diferente. Um caso mais explícito é o de Simone, da dupla Simone e Simaria, que estará presente no ato, que desejou boa sorte a Bolsonaro depois do resultado das eleições fraudadas de 2018. Na divulgação do ato unificado de 1 º de Maio constam músicos que estão ligados à luta dos trabalhadores, como a sambista Leci Brandão, por exemplo, mas o destaque é mínimo. A distribuição de dinheiro, cada uma dessas duplas não sai por menos de 100 mil reais, chutando por baixo, se dá para os potenciais amigos de Bolsonaro.

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POLÍTICA | 5

CONTRA O GOLPE

Todos ao 1º de Maio pelo Fora Bolsonaro e Liberdade para Lula! D

esde a segunda metade do século XIX, o primeiro dia do mês de maio é celebrado em todo o mundo como o dia de luta da classe trabalhadora. Neste ano, setores da esquerda nacional têm afirmado que o 1º de Maio brasileiro será “histórico”, pois será a primeira vez que o ato contará com todas as agremiações que se autodeclaram “centrais sindicais”, as quais não se engajavam nos atos convocados pela CUT. O “1º de Maio unificado”, no entanto , não representa, necessariamente, um avanço na luta dos trabalhadores, uma vez que uma das “centrais sindicais” que participará do ato é a Força Sindical, que apoiou o golpe de 2016. Outra agremiação que participará é a Conlutas, que defendeu a prisão de Lula e, hoje, ainda defende a manutenção de seu encarceramento.

O único sentido de uma unificação é fortalecer um movimento, não enfraquecê-lo. A unidade “histórica” do 1º de Maio, contudo, é uma unidade para neutralizar o movimento já estabelecido pela liberdade de Lula. Tanto é assim que a convocação oficial do 1º de Maio não traz nenhuma palavra de ordem que contemple os anseios da população no momento, que são “Liberdade para Lula” e “Fora Bolsonaro”. Apesar de não constarem na convocação oficial do ato, a liberdade de Lula e a derrubada de Bolsonaro devem ser colocadas em primeiro plano amanhã. Nesse sentido, o Partido da Causa Operária convoca todos os militantes e ativistas da luta contra o golpe para intervir com as palavras de ordem “Liberdade para Lula” e “Fora Bolsonaro e todos os golpistas”. A luta contra o golpe já é um movi-

mento estabelecido, que não pode ser barrado por causa dos interesses de grupos golpistas como a Força Sindical. Por isso, é preciso organizar atos combativos de 1º de Maio onde esses

ainda não foram convocados e participar dos atos já convocados com as bandeiras legítimas da luta pela liberdade de Lula e pela derrubada do governo ilegítimo.

NOTA OFICIAL DO PARTIDO DA CAUSA OPERÁRIA

Pela anulação dos processos fraudulentos contra Lula R

eunida nesta semana, a quinta turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu, por unanimidade, manter a condenação, sem provas, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no processo do triplex no Guarujá. Confirmou, assim, as decisões da primeira e da segunda instância, apenas não acatando o aumento da pena, que reduziu para oito anos, 10 meses e 20 dias. Essa decisão demonstrou que acima de tudo o sistema judiciário de conjunto é controlado pela burguesia e as decisões que toma são decisões políticas. Em um processo como esse, com várias controvérsias, inúmeros argumentos, diante do caráter escandalosamente persecutório, de toda a mobilização que houve e diante de todos os fatos, o STJ mesmo assim manteve a condenação, com exceção do aumento da pena. O julgamento foi mais uma farsa. Diante da decisão, a questão da votação das prisões em segunda instância, que se encontrava em um impasse no Supremo Tribunal Federal, uma vez que o caso Lula era o caso fundamen-

tal da decisão, agora está de certa maneira resolvida. O processo fraudulento agora exige que a campanha da defesa de Lula levante a reivindicação da anulação do processo contra Lula. No entanto, a política da burguesia é condenar Lula em inúmeros processos, não apenas para que ele fique preso, mas também para impedir que

tenha uma participação ativa na vida política do país. Se era necessário alguma demonstração, temos nesse caso a demonstração definitiva de que por meio das instituições jurídicas nacionais não será possível libertar Lula. Ou se realiza uma grande mobilização pela libertação de Lula ou ele não será libertado nunca.

Lula em sua última entrevista afirmou que quer provar sua inocência, mas o processo absurdo não provou a ocorrência de nenhum crime até agora. Quer dizer, é uma prova de tipo negativo, algo difícil de se obter e que não existe em nenhum tipo de justiça no mundo inteiro. É um princípio fundamental da Justiça que os acusadores tem o ônus de provar a culpabilidade do acusado. No caso Lula, nada ficou provado e ele foi condenado do mesmo modo, uma aberração jurídica. Se os acusadores não provaram a culpabilidade de Lula, não há porque ele provar sua inocência. É preciso denunciar esse processo como uma farsa, um ato puro de perseguição política, e exigir sua anulação. O caso se torna ainda mais importante diante do fato de que os ataques contra Lula estão se provando como ataques gerais contra toda esquerda, uma situação extremamente grave. É necessário superar a política da esquerda de conciliação com o regime golpista. Somente uma ampla mobilização dos trabalhadores será capaz de enfrentar o golpe de Estado, libertar Lula e derrubar o governo Bolsonaro.


6 | POLÍTICA

O CASO LULA MOSTROU

A legislação burguesa não ajuda no avanço dos direitos democráticos

A

condenação do ex-presidente Lula no Supremo Tribunal de Justiça na última semana comprovou o processo de perseguição política contra o ex-presidente. Lula foi condenado em terceira instância em mais um julgamento farsesco. Com a condenação de Lula em terceira instância, o Supremo Tribunal Federal poderá votar pela revogação da condenação em segunda instância, sem que a decisão afete a prisão do ex-presidente. Dentre outras coisas, a condenação de Lula deixou evidente como a luta por mais leis repressivas para resolver os grandes problemas nacionais, levado a cabo pela esquerda pequeno-burguesa, é um tiro no próprio pé, como diz a expressão popular. Lula foi impedido de participar das eleições tendo como base a chamada lei da ficha limpa. Aprovada em 2010, durante o governo do PT, a Lei da Ficha Limpa foi saudada pela esquerda, inclusive pelos próprios petistas como sendo uma medida grandiosa contra a corrupção no País.

A lei da ficha limpa impede que pessoas que tenham alguma condenação na justiça possam participar das eleições. Ou seja, a lei transferiu para a justiça e os tribunais controlados pela direita golpista o poder de decidir quem pode ou não participar das eleições no país. Fato é que passado nove anos da aprovação da lei, a corrupção no país não diminuiu, muito pelo con-

ENTREVISTA

trário, e a lei funcionou para um único objetivo, retirar o ex-presidente Lula das eleições de 2018. Este exemplo é fundamental para demonstrar que a luta em defesa de punições para determinadas pessoas somente por conta das opiniões que elas expressam, de tentar restringir a liberdade de expressão de determinados indivíduos, é uma política que no

final das contas se volta única e exclusivamente contra a esquerda. Outro fator que ficou claro na condenação de Lula é que esta luta contra os golpistas não será vencida por dentro das instituições. O próprio ex-presidente Lula expressou essa confusão em sua entrevista, algo compreensível dada a sua situação, quando afirmou que ele “aguarda que a justiça seja feita”. O Judiciário e todas as instituições do Estado estão sob controle da direita golpista. Es processo foi parte fundamental para o golpe de 2016 contra Dilma e a própria prisão de Lula. A burguesia rompeu o pacto democrático estabelecido após a queda do regime militar. A fachada democrática do regime político nacional, que já era muito pequena, foi colocada abaixo e o que temos agora é uma verdadeira ditadura contra o povo. A única saída para as massas populares é a mobilização nas ruas. Somente por meio da mobilização é que se poderá conquistar a liberdade de Lula e a derrota do regime golpista.

DEPOIS DE UM ANO

Lula denuncia métodos da Lava Jato: Lula: “tem que lutar, tem que ir pra “se você não falar o nome do Lula, rua, tem que brigar” você não vai ao banheiro”

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inalmente Lula pôde conceder uma entrevista. Na última sexta-feira (26), Lula conversou por duas horas com os jornalistas Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, e Florestan Fernandes Junior, do El País. O ex-presidente, preso por uma condenação sem provas e perseguido político da direita golpista, falou de vários assuntos e se apresentou como uma alternativa às políticas do atual governo.

Lula também comentou sua condenação e os métodos da operação Lava Jato. O ex-presidente denunciou que durante o processo do sítio de Atibaia toda a investigação foi conduzida para apontá-lo como dono. Além disso, Lula falou que “houve até caso de gente que estava em cadeira de rodas, precisava ir no banheiro, e diziam que só ia poder ir no banheiro se falasse o nome do Lula”.

LULA

“Um país que não gera renda e querem pegar do aposentado e do velhinho R$1 trilhão?”

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a última sexta-feira (26), Lula finalmente pôde conceder uma entrevista, que vinha sendo censurada desde setembro do ano passado por causa de uma liminar do ministro do STF Luiz Fux, derrubada recentemente pelo ministro Dias Toffoli. Durante duas horas, Lula falou aos jornalistas Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, e Florestan Fernandes Junior, do El País. Lula falou sobre sua condenação sem provas, sobre a participação dos EUA em sua perseguição política e sobre a manobra eleitoral de im-

pedi-lo de disputar. Além desses e de outros temas, Lula também falou sobre a política econômica do atual governo, e apresentou uma alternativa às políticas da direita golpista: “Um país que não gera emprego, não gera salário, não gera consumo, não gera renda, quer pegar do aposentado e do velhinho um trilhão? O Guedes precisa tomar vergonha! Onde que ele fez esse curso de economia dele? Se ele quiser me visitar aqui eu discuto com ele como é que a gente resolve esse problema dos pobres sem causar prejuízo aos pobres.”

N

a última sexta-feira (26), o ex-presidente Lula finalmente conseguiu dar uma entrevista e falar ao país, depois de mais de um ano silenciado pela direita golpista. Perseguido político, Lula foi condenado sem provas e está preso há 387 dias na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Até o 381º dia, Lula esteve preso antes do trânsito em julgado da sentença, contrariando o que diz a Constituição. Durante a entrevista de duas horas concedida aos jornalistas Mônica Bergamo da Folha de S. Paulo e Florestan

CHARGE

Fernandes Junior, do El País, Lula fez um chamado à esquerda pela mobilização contra o governo Bolsonaro. Lula afirmou que: “Tem que lutar. Tem que ir pra rua, tem que dizer pro povo, tem que brigar. É assim que faz política. Achar que o Bolsonaro vai fazer o que você quer? Esqueça.” Um chamado especialmente importante diante do próximo 1º de maio. É hora de levantar as palavras de ordem “pela liberdade de Lula!” e “Fora Bolsonaro!”, apresentando uma perspectiva política à esquerda de saída para a crise política brasileira.


INTERNACIONAL | 7

O VERDADEIRO COXINHATO

Quando a Globo não chama, direita só leva meia dúzia de patos O

perfil Revoltados Online, um dos grupos que participaram das manifestações do golpe contra Dilma, convocou seus apoiadores para uma manifestação contra o STF, na Avenida Paulista, em frente o MASP, ontem (28). Apesar de ser um domingo e com a avenida aberta para os pedestres, o evento juntou apenas alguns gatos pingados de verde e amarelo. Em uma cruzada contra os juízes do supremo, espantalho que a direita escolheu nas últimas semanas para focar a suposta luta pelo fim da corrupção, os coxinhas não conseguem adesão ao seu movimento quando as empresas não forçam seus funcionários a comparecerem nos atos. Esses grupos que só existem nas redes sociais, não conseguem levar os robôs, maioria de seus seguidores, para as ruas em apoio às suas pautas.

Quando a Fiesp não banca, a Globo não faz ampla propaganda e o governador do PSDB não libera a catraca, ninguém aparece para apoiar a direita. O fracasso da manifestação, e de outras que vem sendo convocadas pela direita sem presença alguma, mostram a farsa das “gigantescas manifestações” que a imprensa golpista noticiava para justificar o impeachment. No momento, em que não interessa à burguesia (ou que ela não tem a menor capilaridade para,) organizar e bancar coxinhatos, fica claro a baixa adesão da população às pautas conservadoras dos direitistas. A rejeição a Bolsonaro cresce a cada dia e expõe também a farsa da eleição, refletida nas crises do governo que não tem, nem de longe, a base e o apoio na população propagado pela imprensa burguesa.

A “GUERRA CIVIL” DOS GOLPISTAS

PF invade sede do PSL e bolsonaristas atacam militares do governo A

semana começou agitada com conflitos entre os golpistas. Na segunda-feira (29) a Polícia Federal cumpriu sete mandados de busca e apreensão em Minas Gerais nas supostas investigações sobre o chamado “laranjal” do PSL para as eleições de 2018. A sede do partido do Presidente da República em Belo Horizonte foi invadida, como também gráficas ligadas ao partido. A principal acusação recai sobre o atual Ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio. Em 2018 ele presidia a sigla no estado e por isso é responsabilizado pela organização de campanhas com candidatos laranja. Algumas dessas candidatas decidiram denunciar a armação para a imprensa e a Polícia Federal. Esses candidatos, na maioria mulheres, eram colocados na disputa apenas para cumprir a cota de candi-

datos. Porém, os recursos de campanha eram desviados dessas candidaturas para os caciques do partido. Fica nítido que existe um ataque ao PSL de Minas Gerais e ao Ministro do Turis-

mo. Esse fato expõe ainda mais as rusgas entre os setores golpistas e dentro do próprio governo. Por outro lado, mais um conflito veio à tona nesse início de semana. Ao que tudo indica, o General Santos Cruz, ministro da Secretaria de Governo, entrou em rota de colisão com setores bolsonaristas. Santos Cruz se opôs a censura da propaganda do Banco do Brasil que foi aplicada por Bolsonaro. Além disso, o General afirmou que a lei das estatais não permitiria uma ingerência direta do presidente e criticou o fato da Secretaria de Comunicação, subordinada a ele, enviar e-mail determinando censura nas propagandas das estatais. Em matéria publicada no jornal O Globo, afirma-se que ala ideológica do governo criticou a atitude de Santos Cruz bem como sua proximidade com

Mourão. Não obstante, alguns setores bolsonaristas estariam dispostos a travar uma batalha pelo controle a Secretaria de Comunicação e pretendem desidratar Santos Cruz. O general é acusado de se intrometer no Executivo e de não apoiar as pautas conservadoras. A fratura entre os setores bolsonaristas, considerados ideológicos, e os militares fica cada dia mais exposta. Esse conflito tem potencial para enfraquecer o combalido governo e ainda dificultar suas reações. O assédio ao laranjal do PSL em Minas Gerais também é um indicativo de disputa interna e que tem difícil compreensão do seu sentido. Portanto, está colocada a necessidade de mobilização contra o governo e pelo “fora Bolsonaro”. Enquanto os golpistas se engalfinham o povo precisa sair as ruas, libertar Lula e derrubar o governo e todos os golpistas.


8 | MOVIMENTO OPERÁRIO | JUVENTUDE

SÃO PAULO

Doria golpista quer acabar com as férias dos professores O

governador golpista do estado de São Paulo, João Doria Junior, do PSDB, apresentou esta semana uma nova proposta de calendário para o ano letivo de 2019 das escolas da rede pública. No novo formato, as férias escolares de julho seriam parceladas ao longo do ano. Os professores e estudantes não teriam mais um mês de férias em julho. De acordo com o calendário tucano, haveria um mês em abril, outro em outubro e quinze dias de recesso em julho. Trata-se de um ataque ao direito às férias dos professores e estudantes. Vale lembrar que o governo Alckmin já havia suprimido uma parte deste direito ao estabelecer que no meio do

ano os professores teriam quinze dias de recesso, não configurando férias. O mesmo passou a acontecer em janeiro, quinze dias que antes eram um período de férias integral dos professores foram transformados em recesso escolar. A proposta de Dória aprofunda este ataque, parcelando ainda mais as férias escolares. Trata-se de uma forma do governo golpista de São Paulo abrir caminho para extinção do direito às férias dos professores e estudantes. Com a primeira divisão imposta por Alckmin, o estado extinguiu uma parte do pagamento das férias remuneradas aos professores, pois metade deste período fora transformado em

recesso. O pagamento da outra parte ficou fracionado em uma pequena parcela em julho, e outra em janeiro. Com a nova divisão de Dória, o estado pagará ainda menos e poderá até mesmo deixar de pagar às férias, uma vez que este novo ataque poderá abrir caminho para que o governo tucano transforme também estas semanas de “férias” em períodos de recesso, os quais deixariam de ser remunerados. É preciso mobilizar professores e estudantes contra este ataque a um direito fundamental de qualquer trabalhador. Somente a mobilização nas ruas pode impor uma derrota ao governo golpista de Dória e Bolsonaro.

DERROTA DE GREVE NA UNIRIO

Entenda pra que serve o identitarismo

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a última quinta-feira (25), os estudantes da a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) realizaram uma assembleia para colocar em votação a greve estudantil. A assembleia foi realizada no jardim do CLA às 15h. Os setores reacionários da burocracia estudantil já havia barrado a greve A pauta da assembleia já tinha sido discutida anteriormente durante uma plenária, que havia sido convocada como assembleia dos três setores. Uma greve dos professores com os estudantes e técnicos foi amplamente requisitada pelos presentes na plenária que contava com mais de 100 estudantes. Na hora da votação, a mesa, de maneira perniciosa, alegou o impedimento da votação da greve, primeiramente por “não ser possível pedir uma greve que envolvesse todos os setores, cada setor deveria votar sua greve em uma assembleia própria”. Seria ingênuo interpretar esse golpe como uma simples falta de compreensão da utilidade de uma assembleia geral, e não, como uma manobra asquerosa dos reacionários da esquerda pequeno-burguesa que permeiam o movimento estudantil.

A segunda justificativa, mais esdrúxula que a primeira, foi um verdadeiro puxão de tapete. A mesa alegou que tratava-se de uma plenária e não uma assembleia (apesar de ter sido convocada enquanto assembleia), logo tal decisão não poderia ser realizada. Foi nesse momento que a assembleia geral tornou-se “uma simples plenária”. Os estudantes logo se empenharam em marcar uma assembleia para discutir a greve. O DCE, presente na mesa, não teve outra escolha se não marcar para a semana seguinte, mas não sem antes botar uma barreira, alegando que para ser votada a greve deveria haver um quórum mínimo de 300 estudantes presentes. Obviamente a convocação para a assembleia por parte do DCE foi insignificante. Atualmente quem pretende liderar os estudantes na Unirio O Diretório Central dos Estudantes da Unirio é formado por membros do Partido Comunista Revolucionário (PCR), e seu movimento estudantil, o Correnteza, e do PCB. Ambos os setores estão em uma aliança com o PSOL e com a UJS em diversas universidades pelo país. Esses mesmos movimentos coordenam os DAs (diretórios acadêmicos). O representantes desses partidos na universidade adotam tradicionalmente uma política capituladora, como de praxe, para qualquer movimento da esquerda-pequeno burguesa. Quando a reitoria foi ocupada, rapidamente eles acharam um pretexto para que os estudantes saíssem do prédio, tanto alegando que o reitor não se encontrava – afirmativa comprovada falsa quando minutos depois o reitor foi interceptado tentando sair escondido de táxi – como dizendo que estávamos prejudicando os funcionário (mais tarde esse mesmo argumento foi utilizado para manter os estudantes fora de contato com o táxi do reitor fujão). Fica evidente a demagogia usada para justificar a covardia do diretório

central, que com medo de represálias e sem ter uma liderança capaz de responder aos anseios do movimento estudantil, usa uma série de desculpas – marca registrada de quem está enrolando a situação: quando uma justificativa não serve, prontamente surge uma outra – para justificar seu posicionamento covarde e defensivo. Entra a dita plenária e a assembleia, o DCE formulou uma política ardilosa para impedir a aprovação a greve. No dia em si os estudantes presentes contavam entre 200 e 300 estudantes. Golpes e capitulação na assembleia A Aliança da Juventude Revolucionária propôs logo de início uma greve do movimento estudantil, explicando que os estudantes não podem se acovardar diante do governo Bolsonaro, que é preciso combatê-lo. Mesmo os DAs já tendo se posicionado contra a greve no início da assembleia, muitos estudantes aplaudiram e se embalaram com a proposta, afinal todos esperavam ansiosamente a assembleia que foi convocada expressamente para isso. Logo, levantada a proposta na assembleia, os golpes sujos começaram a surgir. Primeiramente, uma das estudantes colocou que era pretensão alegar que uma estudante negra não optaria pela greve por motivos de medo, deturpando de maneira golpista a proposta de greve dos militantes da AJR. Essa primeira oposição desencadeou a manobra organizada para impedir a greve. Outros estudantes, negros e mulheres se posicionaram contra a greve associando a fala de nosso companheiro a um ataque as mulheres e aos negros, ora diretamente, ora indiretamente. O camarada em questão não teria “lugar de fala” para falar que negros e mulheres sentem. Uma maneira demagógica e rasteira de desmoralizar o autor da proposta e a própria proposta em si. Essa confusão abriu precedentes para atacar de maneira gene-

ralizada a ideia de uma greve contra a intervenção do governo Bolsonaro na universidade. O DCE apontou diversos argumentos confusos e covardes para barrar a greve: não seria “o momento certo”, a greve “afastaria estudantes do movimento”, “o desejo do governo é que a universidade se esvaziasse”, o ideal seria “esperar os professores e técnicos se mobilizarem antes” (sendo que a proposta de greve geral na assembleia anterior havia sido barrada pelo próprio DCE), “não é uma boa tática impedir pessoas de entrarem no campus”, “a última tentativa de piquete na UNIRIO teria falhado mesmo com aparente mobilização ainda maior que a atual”, “a greve agora seria uma irresponsabilidade” e que “as consequências de uma greve falhar ou até do processo de uma greve de sucesso seriam perigosas para os estudantes”. Argumentos fajutos e típicos de uma política capituladora e de conciliação de classes com os reacionários que querem destruir a universidade. Porém, o que fica claro é que o identitarismo serviu como pretexto para impedir uma mobilização dos estudantes contra o governo Bolsonaro, expressando claramente seu caráter contra-revolucionário. Mas, voltaremos sobre esse assunto mais adiante. Sobre os argumentos do DCE, ficou claro que a política da esquerda pequeno-burguesa não busca orientar os estudantes no sentido de uma verdadeira mobilização. A greve não “afasta estudantes e trabalhadores”, se isso fosse verdade nenhuma greve da educação seria válida. O piquete como tática é essencial e utilizado amplamente em movimentos grevistas internacionalmente. As greves e as mobilizações, no geral, são a manifestação de um setor mais consciente da luta política para arrastar os outros setores da comunidade para uma política de enfrentamento aos ataques da classe dominante. Já a “derrota de uma greve no passado” deve ser usada de aprendizado de como se organizar e não como desmobilização para greves futuras. Nesse sentido, é óbvio que é preciso or-


MOVIMENTO OPERÁRIO | JUVENTUDE | 9 ganizar a greve, mas o primeiro passo é ter claro que ela precisa acontecer para atingir um determinado objetivo – nesse caso, a derrota da intervenção bolsonarista na faculdade. Em seguida, é preciso ter claro quais foram os problemas das greves anteriores para saber como lidar com os problemas da greve atual. A política, desta forma, é um processo de aprendizado político, em que os setores, com um processo de luta e mobilização, vão naturalmente se educando (quando têm uma política e avaliação correta). “Esperar os professores”, que em peso votaram a favor da direita e da extrema-direita bolsonarista puxarem uma greve não é algo coerente, pois colocaria o setor mais avançado e de vanguarda da comunidade acadêmica à mercê da burocracia reacionária da universidade. O correto seria realizar a greve e arrastar os setores mais progressistas dos docentes universitários, de forma a fortalecer a greve. As consequências para os estudantes, citada pelo DCE é uma desculpa esfarrapada, pois em toda mobilização popular existe um risco, principalmente em um governo que tende ao fascismo, como o de Bolsonaro. Mas uma estratégia menos combativa possui mais chance de ser derrotada e com isso os estudantes sofreriam com as políticas impostas pelo governo golpista, como ficou demonstrado nas experiências históricas. Dito isso, é necessário enfatizar que uma greve não pode ser feita de forma desorganizada e impulsiva, após aprovada em assembleia deve ser muito bem organizada pelos estudantes de forma que se divulgue bem o seu motivo e as conquistas que serão garantidas para todos, produza materiais para distribuição, realize-se mobilizações de rua, piquetes e crie-se um comitê de autodefesa. A greve estudantil, com aspiração de adesão dos professores e técnicos, segue sendo a proposta da AJR para barrar a intervenção bolsonarista na UNIRIO. Apesar de alguns companheiros acreditarem na incerteza ou ineficiência da greve, esta segue sendo uma das mais fortes ferramentas de luta da classe trabalhadora e também dos estudantes, que se mostram favoráveis a uma forte mobilização em nossa universidade. Os argumentos de que “não era o momento certo”, “que a greve afastaria estudantes do movimento”, “que era ideal esperar os professores e técnicos se mobilizarem antes”, “que não é uma boa tática impedir pessoas de entrar no campus”, “que a última tentativa de piquete na UNIRIO falhou mesmo com aparente mobilização ainda maior que a atual”, “que a greve agora seria uma irresponsabilidade” e que “as consequências de uma greve falha ou até do processo de uma greve de sucesso seriam perigosas para os estudantes” são em sua totalidade nefastos para os estudantes. O identitarismo: a política reacionária do imperialismo e da esquerda pequeno-burguesa Entretanto, o mais absurdo de tudo isso é que a greve não foi somente barrada com estes argumentos fala-

ciosos, porém típicos dos conciliadores pequeno-burgueses, mas também de uma política identitária altamente reacionária e nefasta para a esquerda. O identitarismo é uma corrente ideológica que surgiu nas universidades norte-americanas, no berço do imperialismo, como forma de confundir todo um setor da população (negros, mulheres etc.) que é oprimido pela sociedade capitalista. Na colocação identitária, a greve proposta pelos estudantes da AJR seria uma proposta de “homens brancos arrogantes”, enquanto que a política de capitulação total ao governo de Jair Bolsonaro, que está indicando um militar para a reitoria da universidade, ameaçando o direito de todos os estudantes, seria uma política favorável aos negros, às mulheres e às “mulheres negras”, como foi defendido pelo DCE. Uma afirmação totalmente retrógrada, como se vê, que impediu uma ampla mobilização dos estudantes contra os fascistas. É para isso que serve a política identitária. Os movimentos que seguem esta ideologia utilizam-se dela para censurar todo um setor da população, inclusive os grupos políticos de combate, com quem deveriam se unir para derrotar a direita – que é quem de fato estabelece sua condição de oprimido. O identitarismo foi usado como arsenal para barrar a direção política correta a ser adotada pelos estudantes. A greve é um meio combativo de se posicionar contra a intervenção na Unirio e posteriormente nas outras federais do país. Os estudantes já haviam encurralado o reitor e o atual vice reitor (líder da lista tríplice enviada ao MEC), que com medo retiraram as escadas de acesso ao prédio da reitoria, botaram tapumes nas portas e saíram de férias. O movimento estudantil deve continuar na ofensiva. Através de um meio sorrateiro de desmoralização, que engana apenas os sonsos, integrantes da pequeno burguesia da burocracia estudantil atacaram e prejudicaram as conquistas parciais dos estudantes cariocas e barraram uma importante ferramenta para lutar contra a intervenção bolsonarista. A intervenção federal que quer botar no mais alto cargo administrativo, um elemento fascista como Ricardo Cardoso, só tem consequências nefastas para os setores oprimidos pela sociedade. O cerco contra essa parcela da sociedade só tem aumentado durante o governo Bolsonaro, as bolsas estão sendo cortadas assim como as condições materiais que o estudante têm para se manter na universidade estão sendo aniquiladas pela crise e pela política neoliberal do nosso governo subserviente ao imperialismo. Assim, prejudicando os grupos mais marginalizados, que têm mais difícil acesso à universidade, como os negros. Em suma, o identitarismo serviu como uma cartada de uma esquerda acovardada que não tem a mínima condição de liderar os estudantes numa luta política contra os fascistas do governo. A greve foi rejeitada, sem nem mesmo, precisar do tão requisitado quórum mínimo de 300 estudantes, exigido para aprová-la.


10 | INTERNACIONAL

ESPANHA

Ante o esgotamento do PP, burguesia escolhe o PSOE mas o fascismo ainda é uma alternativa A

s eleições do último domingo (28) na Espanha, com a vitória com folga do PSOE sobre seus rivais, demonstraram que a burguesia daquele país escolheu o caminho da conciliação, ao menos momentânea, diante da crescente e cada vez mais radical polarização política. O Partido Popular (PP) está se deteriorando rapidamente nos últimos anos, carregando a principal responsabilidade pela crise econômica. A Espanha foi um dos principais atingidos na Europa em 2008 e as medidas de arrocho implementadas a mando da Troika (FMI, BCE e Comissão Europeia) apenas entregam ainda mais a economia do país aos grandes bancos alemães e franceses, principalmente. A crise chegou a seu clímax (até agora) com o referendo catalão, em 2017, no qual o povo daquela região separatista foi brutalmente reprimido pelas tropas espanholas. O então primeiro-ministro, Mariano Rajoy, do PP, estava no olho do furacão e sua política de força contra os catalães não agradou plenamente a burguesia, porque levou a uma grande radicalização na Catalunha e quase a uma guerra civil. Rajoy foi expelido do governo por meio do famoso artifício de “combate à corrupção” e, em seu lugar, assumiu o “socialista” Pedro Sánchez para tentar normalizar a situação. Entretanto, a crise econômica e a radicalização por causa da Catalunha levaram à intensa polarização política, com o crescimento exponencial da extrema-direita representada pelo então

desconhecido VOX. As pressões contra Pedro Sánchez foram muito grandes, tanto por parte dos catalães como pela direita, que exigia uma política mais duro contra aqueles. Finalmente, após uma manifestação massiva da direita agrupada no VOX, PP e Ciudadanos, em Madri, Sánchez convocou eleições gerais antecipadas. Esse foi apenas o maior de muitos protestos da extrema-direita, relacionados especialmente com a unidade nacional em contraposição à independência da Catalunha. Antes, foram vistas dezenas de manifestações de grupos abertamente fascistas pedindo a supressão de todos os direitos dos catalães. Após uma campanha eleitoral extremamente polarizada, o PSOE conquistou 123 cadeiras no parlamento, contra 66 do PP (que teve 137 em 2016) e 57 do Ciudadanos. Para conseguir formar governo, os “socialistas” deverão se unir ao Podemos (com 42 deputados eleitos) e os partidos das regiões independentistas. Se a direita tivesse ganhado, se abriria uma crise ainda maior em relação à Catalunha, mas também iniciaria uma grande desestabilização na unidade com os outros países oprimidos por Madri, sendo seguramente o principal foco de instabilidade para o governo da direita. Na Catalunha, a esquerda independentista foi a grande vencedora; no País Basco, PP Ciudadanos e VOX não lograram um mísero assento; na Galiza, o PP teve uma queda considerável. Ficou demonstrado que a direita não tem apoio nessas regiões,

ARGENTINA

bem como em outras regiões com movimentos de independência, como Valencia ou Andaluzia. Logo, a burguesia percebeu que, colocando a direita no governo, veria ameaçada mais do que nunca a unidade nacional, com risco de novos conflitos ainda mais radicais. Entretanto, ficou perceptível que o fascismo é uma carta na manga da burguesia, cada vez mais plausível, caso o PSOE não consiga atenuar a gigantesca crise e estabilizar minimamente o regime. O VOX conseguiu 24 cadeiras no parlamento. Desde o fim do franquismo nenhum partido declaradamente de extrema-direita havia conquistado vaga alguma no legislativo nacional. O VOX passou de nenhuma para 24 cadeiras. As estimativas diziam que pas-

saria para mais de 30. Essa diferença entre o resultado final e as estimativas também demonstra que a burguesia decidiu pela esquerda do regime. Na semana final de campanha, páginas de extrema-direita foram censuradas pelo Facebook. Mas o fato de ter conquistado 24 cadeiras já expressa seu grande crescimento, obviamente promovido pelos capitalistas. A crise, todavia, não vai acabar. O PSOE vai passar os próximos meses negociando apoio para formar o novo governo. A extrema-direita vai continuar na cena política, a derrota eleitoral não significa uma derrota política. A tendência a uma profunda crise é cada vez maior, inclusive com possibilidade de uma crise revolucionária, conforme a polarização se acentua.

TODAS AS SEXTAS-FEIRAS, 14H00

Trabalhadores da Aerolíneas Argentinas se somam à greve nacional contra Macri nesta terça-feira

TODAS AS SEGUNDAS-FEIRAS, 12H30

A

categoria de trabalhadores da Aerolíneas Argentinas anunciou paralisação em respostas às medidas tomadas pelo governo neoliberal de Mauricio Macri, e juntou-se ao movimento encabeçado pela Frente Sindical, chamado para amanhã, terça-feira (30). O comunicado de paralisação obrigou a companhia a cancelar 350 voos que estavam programados para o dia, ao tomar ciência do chamado geral aos trabalhadores pelos sindicatos aeroviários. Além do ato convocado para

dia 30, a Central General de los Trabajadores (CGT), anunciou uma manifestação para o dia 1 de maio, dia histórico da luta da classe operária. O povo argentino está se mostrando totalmente descontente com as políticas neoliberais que estão levando a Argentina para um abismo. Diversas categorias estão se unindo às manifestações contra Macri, encaminhando uma greve geral dos trabalhadores argentinos que pode colocar contra a parede ao governo capacho do imperialismo.


CIDADES| 11

SÃO PAULO

PSDB faz mais uma vítima em São Paulo: homem morre por conta de temporal na cidade de Santos A

s chuvas tornaram-se motivo de alerta no Estado de São Paulo, e graças à gestão infindável do PSDB no governo estadual, no último domingo (28), fez-se mais uma vítima no litoral, na cidade de São Vicente (governada pelo MDB). Atingida por uma árvore juntamente com mais outra pessoa, não conseguiu resistir a tempo de ser socorrida pelo Samu, vindo a falecer devido aos ferimentos. Na cidade de Santos (governada pelo PSDB) houve em média 31 quedas de árvore, que resultaram em interdições no trânsito e falta de energia elétrica. As chuvas atingiram também a capital que ficou em estado de alerta

para alagamentos, como os que ocorreram no mês de março deste ano, além dos também das rotineiras quedas de árvores. O abandono da manutenção nos objetos públicos e desvio de verbas que deveriam ser direcionadas para o combate a enchentes, não só dificultam a vida da população com uma cidade intransitável devidos aos alagamentos, e inúmeras casas e comércios destruídos, como também levam à morte de dezenas de cidadãos que tem que sobreviver aos obstáculos que os psdbistas colocam, provando claramente que são inimigos do povo e tem que ser combatidos.

SÃO PAULO

Exército impede acesso de 960 famílias ao Minha Casa Minha Vida em Osasco D

esde o início do governo fascista de Jair Bolsonaro, uma série de ataques a classe trabalhadora foram sentidos, com intensidade cada vez maior, em especial aos programas sociais que beneficiam boa parte da população. Um bom exemplo a ser analisado é o “Minha Casa, Minha Vida”, lançado em 2009, pelo Governo Federal, presidido por Luiz Inácio Lula da Silva. Esse possui, nesse ano, o menor repasse de verbas desde a sua criação, contando com orçamento anual de apenas R$ 4,4 bilhões, afetando famílias que possuíam subsídio total (100%) ou parcial (porcentagem variada de acordo com a renda). Vale lembrar que esses cortes não afetam apenas na possibilidade de oferta de moradia a pessoas pobres, mas também o número de empregos a população no ramo da construção civil. Os problemas dos trabalhadores, porém, são ainda maiores, como foi possível perceber no conjunto habitacional Miguel Costa, criado na cidade de Osasco (Grande São Paulo), devido a um impasse entre a Prefeitura e

o Exército. Os 960 apartamentos deveriam ter sido entregues as famílias integrantes do “Programa Minha Casa Minha Vida” em dezembro do ano passado, mas, até agora, o espaço está totalmente desocupado. Devido ao desacordo, essas pessoas estão recebendo uma bolsa de R$300,00 de auxílio-aluguel. É importante frisar que esse valor está muito abaixo do necessário para que se alugue uma casa de moradia provisória, deixando, assim, evidente um duplo ataque a classe trabalhadora. O problema central estaria na localização do conjunto habitacional. O mesmo encontra-se em um terreno da prefeitura, localizado entre o Rodoanel Mário Covas, a marginal Tietê, uma linha de trem da CTPM e uma base do Exército. Para que os moradores cheguem à suas casas de carro, é preciso cruzar a linha férrea pela Avenida dos Autonomistas. Nesse espaço há, todavia, uma cancela, restringindo o acesso, sendo autorizada a passagem apenas de militares da base. Desse modo, torna-se impossível acessar o condomínio.

TODOS OS DIAS, A PARTIR DAS 3H NA CAUSA OPERÁRIA TV

Devido ao impasse, o prefeito Rogério Lins, do Podemos, procurou o Ministério Público Federal, a fim de encontrar uma conciliação com o Exército, mas ambos não chegaram em um acordo e agora o problema será tratado pela Justiça Federal. O que fica evidente nesta situação é que tanto o governo direitista, quanto o exército, que nada mais é do que um órgão totalmente reacionário contro-

lado a mão de ferro pela burguesia e cheio de comandantes fascistas, não se importam minimamente com a população. É importante ressaltar que esses ataques são frutos do golpe, que massacra a classe trabalhadora. Nesse sentido é fundamental que todos se organizem em Comitês de Luta Contra o Golpe. Apenas a mobilização popular irá derrotar os golpistas, integrantes do governo fascista de Jair Bolsonaro.


12 | COTV E PCO COTV

Fique ligado na COTV: hoje tem transmissão simultânea da Análise Política na TV 247 com Rui Costa Pimenta, e muito mais! Veja a nossa programação desta terça-feira, dia 30 de abril 10 horas – Reunião de Pauta 11 horas – Panorama Brasil 12 horas – Colunistas da COTV, com Rafael Dantas 15 horas – Jornal das 3 16 horas – Análise Política com Rui Costa Pimenta na TV 247, com transmissão simultânea na COTV 17 horas – Universidade Marxista 20h30 – Resumo do Dia

ATIVIDADE Contra o fascismo, operários da construção civil e metalúrgicos são maioria no curso do PCO em Volta Redonda

N

o mês de janeiro, foi realizada mais uma edição da renomada Universidade de Férias da AJR, o curso debatido com os presentes “Fascismo: o que é e como combatê-lo”, ministrado por Rui Costa Pimenta, com base nos textos de Leon Trotski. Diante do sucesso do evento e dada a necessidade de expandir o alcance da discussão para diversas camadas da população, veio a iniciativa de, entre os meses de abril e maio, apresentar versões condensadas do curso em diversas cidades por todo o Brasil. No último final de semana (27 e 28), foi a vez de Volta Redonda sediar mais uma etapa dos cursos ministrados pelos militantes do PCO. Evento que aconteceu no espaço cedido pelo Sindicato da Construção Civil, agrupou 33 pessoas no primeiro dia e 47 no segundo. Dentre os participantes do curso, muitos operários da construção civil e metalúrgicos comparecem para debater sobre as experiências do século passado e como a classe operária pode enfrentar o fascismo que toma forma em vários países no mundo. Em uma cidade conhecida pelo histórico movimento dos trabalhadores,

TVMULHERES TODAS AS SEGUNDAS-FEIRAS, 19H00 que já foi palco de uma grande greve metalúrgica contra o governo Sarney, a procura pelo curso demonstra o interesse da população em novamente combater a ameaça da extrema-direita. Também foi uma oportunidade para discutir as campanhas do partido para o momento político nacional, pela liberdade de Lula e pelo fim do governo Bolsonaro. A tendência de luta dos trabalhadores fica mais clara à medida que o golpe se aprofunda, e é necessário dialogar com o povo, olho-no-olho, sobre a ameaça do governo golpista. Iniciativas como essa do Partido da Causa Operária, oferecendo cursos em mais de 100 cidades, precisam se multiplicar para agrupar a classe operária de todo o Brasil na luta contra os fascista.

TODAS OS DIAS, 11H00


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