Diário da Cuesta ANO IV
Nº 1018 SEGUNDA-FEIRA, 12 DE FEVEREIRO DE 2024
NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU
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VITORIANA:
12ª ESCOLAINTEGRAL!
Escola Municipal de Ensino Fundamental Integral Profª Lygia Camargo Pardini Localizada no Distrito de Vitoriana, é a décima segunda escola Municipal de Ensino Fundamental a oferecer atendimento em regime de período integral. A nova escola, com cerca de 1.230 m² de área construída, conta com dez salas de aula ambiente; sala de informática; sala de leitura; sala dos professores; almoxarifado; secretaria; direção e coordenação; arquivo; banheiro de funcionários, banheiros de alunos; cozinha, despensa, depósito e um amplo refeitório. O novo prédio abrigará cerca de 240 alunos do 1º ao 5º ano transferidos da EMEF Prof. Raymundo Cintra, que por muitos anos foi compartilhada com a escola do Estado, atendendo a alunos residentes em Vitoriana e nos bairros Porto Said; Rio Bonito; Mina; Alvorada da Barra e diversas fazendas da região. A unidade escolar, além da grade curricular normal, de Portu-
guês, Matemática, História, Geografia, Artes e Ciências, oferecerá aulas de experiências em linguagens e literatura, experiências artísticas, experiências em língua e cultura inglesa, experiências matemáticas, experiências em ciências da natureza e experiências recreativas e esportivas. (Fonte: Acontece Botucatu)
NOTA DA REDAÇÃO: A homenagem à professora Lygia Camargo Pardini, mãe da Sra. Pida Pardini e avó do Prefeito Mário Pardini, valoriza o magistério nas pequenas comunidades, eis que a homenageada foi professora primária no Grupo Escolar Conde de Serra Negra, em Vitoriana. PARABÉNS!
Diário da Cuesta
DOMINGOS SCARPELINI O atual distrito de Vitoriana, que anteriormente se chamava Vitória, nome este que foi dado em virtude de disputa entre as ferrovias Paulista e Sorocabana para ver qual primeiro alcançaria o “pé da serra”, rumo à importantíssima cidade de Botucatu, localizada e florescente no alto da serra e daí rumo ao interior do Estado. A conquista coube à Estrada de Ferro Sorocabana e com isso a vitória alcançada. Daí o nome Vitória. Transformada em distrito no ano de 1929, teve posteriormente seu nome mudado para Vitoriana para diferenciar do nome Vitória, capital do Estado do Espírito Santo. Durante muitos anos, ficou Vitoriana como ponta de linha da referida E.F.Sorocabana, dadas as dificuldades para vencer o trecho “Vitoriana-Botucatu” pela íngreme serra que, apesar de poucos quilômetros uma da outra, apresenta desnível de 400 metros, mais ou menos. O problema da subida da serra só solucionou com a vinda de engenheiros ingleses, encarregados da construção da mesma ferrovia. Daí se tornar Vitoriana o local de desembarque de um grande número de imigrantes, onde eram procurados por fazendeiros de café de toda a região, para serem conduzidos para suas propriedades, em substituição ao trabalho dos negros escravos, extinto com a Lei Áurea. Meus avós – lado paterno – com toda a família, inclusive meu pai, foram levados para a então “Fazenda São Bento”, das famílias Dinucci e Lunardi, com centenas de milhares de cafeeiros. Juntamente com eles foram encaminhados muitos outros imigrantes, a maioria italianos e, em número menor, portugueses e espanhóis. Donde a razão, nesta região, Botucatu, São Manuel, Pardinho, Vitoriana, etc., existir, na época, total prevalência da raça italiana. Foram tempos em que a Vila passou por grande progresso. Aos sábados e domingos, os trabalhadores rurais iam à vila para as compras necessárias e, como atrativo, à Estação para assistirem à chegada de trens de passageiros com parada
Vitoriana obrigatória por alguns minutos, quando se ofertavam às pessoas suculentas frutas da região e deliciosos doces. Além do mais, assistiam às missas, batizados, crismas e às famosas festas em louvor à Nossa Senhora das Vitórias. Importa dizer que a planta, bem como a imagem da Santa que até hoje o nicho do altar principal foram ofertas da Condessa de Serra Negra, sendo a imagem oriunda da França. A zona rural, afora latifundiários com seus milhões de cafeeiros, já era tomada por centenas de minifúndios de propriedade de italianos que foram os que mais se adaptaram ao tamanho da terra. Dadas as facilidades e vantagens proporcionadas, inclusive pelo Governo, permitindo compras a longos prazos e juros insignificantes, milhares de imigrantes se tornaram proprietários de seu “pedaço de terra”, de onde tiravam seus sustentos e de sua família com o plantio de café e outras culturas. Foi um modelo de “Reforma Agrária” que talvez servisse de exemplo para os dias de hoje, quando tanto se tem falado sobre essa questão. Na Vila, propriamente dita, portanto zona urbana, se estabeleceram com lojas de armarinhos, secos e molhados, etc., diversos imigrantes árabes (o Jacó, o Meserani, o Zacharias, por sinal, grande latifundiário na região e empresário). Registra-se, também, o comércio do italiano Bissacot com seu célebre armazém de secos e molhados e padaria, onde com apenas um tostão ou 100 réis, se comprava um “sanduichão” de mortadela. Fale-se, também, de seu filho Guido Bissacot, exímio violonista, autor de diversas músicas, inclusive “Sinos de Vitoriana” que , na época, foi executada pelo Brasil inteiro. Já havia, como grande orgulho, o Grupo Escolar Conde de Serra Negra. Dentre os habitantes ou moradores da Vila, existiam duas personagens a respeito das quais muito se falava. Uma, João Jacó, árabe, primeiro agente dos Correios e Telégrafos e dono de terras no distrito. Outra, Chico Grandi, fabricante de forma artesanal de famosas botinas “ringideira”, feitas todas com o que de melhor havia em termos de material e altamente disputadas por
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fazendeiros, administradores de fazendas e, inclusive, por pessoas da zona urbana. Davam ela “status” de poder. Só figuras importantes tinham o privilégio de calçar as referidas botinas que “rangiam” durante as passadas. Ficou-se sabendo também que Chico Grandi era um tanto temido por fazer parte de certa sociedade secreta, adoradora do “Bode Preto”. Rumava ele semanalmente para fora do distrito, para fazer parte das sessões. Seria a Máfia? Maçonaria? - Pela grandeza de seu coração estaria ele mais para maçonaria. Pois bem, as duas figuras acima, por motivos nunca descobertos, viviam às turras. Viviam recíproca e verbalmente se agredindo através de palavrões os mais diversos, colhido do idioma próprio da origem de ambos. O italiano xingando o “turco” de “Testone” ( cabeça dura, cabeçudo, teimoso), “Leda Cullo” (puxa saco). “Orechione” (nojento, veado), “Malcazone” (bandido), “Maledeto” (maldito), etc. O arábe, por sua vez, não deixava por menos e sacava as suas: “Ibem Charmura” (filho da p.), “Kizeb” (mentiroso), “Harone” (ladrão), “Hasta Tirra” (cabeça dura), etc., etc. Contudo, quando alguém, se achegando do italiano, entendia de falar mal do “turco” caía no desaponto, pois era logo contido pelo italiano com advertência de que, falar mal daquele “turco”, era um direito que só a ele assistia e a mais ninguém. De outra banda, o “turco” procedia do mesmo modo, não admitindo que se falasse mal daquele “Ibem Charmuta”, o direito era só dele. Ou melhor, o direito de se maltratarem mutuamente cabia a ambos e a mais ninguém. Geralmente a polêmica acabava com a promessa de aquele que morresse primeiro, o sobrevivente seria levado pelo morto, se possível, no mesmo dia ou então dentro do menor tempo possível. Acontece que João Jacó acabou por morrer antes, para tristeza de Chico Grandi, fato ocorrido no dia 01/04/1958. Exatamente sete dias depois do falecimento (07/04/58) de João Jacó, o velho italiano recebe a visita do velho “amigo turco”, que o encontra em sua residência muito enfermiço. Nesse instante, os espíritos se encontram e se confraternizam em um abraço tríplice e partem juntos para o Oriente Eterno, onde certamente ainda se acham. Assim, a promessa de busca ao sobrevivente se cumpre, também por vontade do G.A.D.U., que é DEUS.
“Acervo Peabiru”
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ARTIGO Guido Bissacot Diversas senhoritas consultaram-me sobre a nova técnica do violão. Por meio deste jornal vou responde-las, apesar do pouco que sei. O violão é de origem napolitana. Seu verdadeiro nome é guitarra. Existem de seis, nove e doze cordas, porém o mais comum é o de seis. O encordoamento deve ser feito assim: as três cordas cantantes (mi-si-sol) deverão ser de tripa e os três bordões (baixo – mi- lá – ré) de seda. É esse o usado na Europa pelos grandes violonistas. Com essas cordas o instrumento produz som muito agradável, ao passo que com o encordoamento de aço produz som metálico. No Brasil usam-se muito as cordas de aço; produzem também um belo som, mas, para isso conseguir depende muito da delicadeza no ferí-las. Há violonistas que querem fazer do violão uma banda de música, forçando o instrumento. Nesse caso, então, torna-se metálico, rústico, sobretudo quando o encordoamento é de aço. N’\ão pode ser forçado; o som deve ser natural, de conformidade com a caixa harmônica, que é pequena, tanto que é chamado instrumento de salão, devido ao som baixo que produz. O violão, há muitos anos atrás era considerado medíocre para a execução de músicas clássicas, mas, o imortal maestro Francisco Tarrega, genial criador da nova técnica, elevou alto o instrumento. Segundo a nova técnica de Tarrega vamos começar as explicações pelo modo de segurar o violão. Ele deve ser apoiado sobre a coxa da perna esquerda. O cabo ou braço deve ficar mais alto que a espadua esquerda, sendo que essa posição torna-se melhor pondo embaixo do pé esquerdo um banquinho de 20 a 25 centimetros de altura. Fica, então, preso entre o peito e o ante-braço direito, e ficando, assim, livres as duas mãos. O polegar da mão direita não é ocupado nas cordas, ficando embaixo do braço ou cabo escondido na palma da mão. A mão direita tem hoje uma posição muito diferente, sendo impossível explicar aqui. A dedilhação da mão direita é o principal. Havendo vícios não se poderá tocar bem.
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O Violão e a Técnica Moderna Uma de suas principais dedilhações e talvez a mais difícil para o principiante é a do “stacato” rápidp, na qual se empregam os dedos indicador e médio, alternados. O polegar dessa mão só é ocupado nos baixos e acordes, no canto ele é proibido. As notas ligadas são feitas com a mão esquerda auxiliada com a direita, mas, ao passo que se deve liga-las somente com a mão esquerda, porque introduzindo-se a mão direita talham-se as ligaduras. Essas notas ligadas somente com a mão esquerda são feitas por meio de ecos. O eco faz dando a vibração de uma corda e apoiando em seguida, com força, um outro dedo, na corda que segue (sem auxílio da direita). No nosso fraco modo de pensar, no violão não existem posições como no violino. Porque é um instrumento de acordes. Nesse caso, então, quantas posições não teria o piano? O violonista F. Cozzuli diz no seu método que o violão tem cinco posições, sendo fá, sol, lá, si e dó. O violonista Antonio Navajas diz diferente: considera posições as pestanas. Mais uma vez diremos: não tem posições. Muita gente pensa que ré menor, dó menor, etc, são posições. É puro engano, são acordes. Sendo o violão um instrumento de acordes deve-se procurar executar nele músicas ricas de harmonia, sendo esse o estilo que mais agrada, isto na nossa opinião. Antigamente, o violão requeria acompanhamento, mas, hoje, com a nova técnica, ele faz o canto e o acompanhamento ao mesmo tempo. Existem músicas para dois, três e mais violões, mas é muito raro em concerto. O violão não é o instrumento mais difícil como muita gente crê. Pensamos não haver um instrumento mais difícil que o outro. No Brasil, principalmente nas cidades pequenas, são poucos, ou não existem bons professores de violão. Todos aprendem sem mestres, com auxílio de métodos práticos e de ouvido. A dificuldade está aí porque aprendendo de ouvido e viciado, será impossível tocar bem o instrumento. A Espanha é o país que tem dado os maioDIRETOR: Armando Moraes Delmanto EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: GRAFMAIS/ Edil Gomes (14.99609-2337) Contato@diariodacuesta.com.br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689
res violonistas porque lá existe conservatório para esse instrumento, sendo ele lá muito apreciado e cultivado. Acreditamos que ele seja pobre e ingrato. Atualmente existem muitas traduções de obras clássicas para violão. Aconselhamos as de F. Tarrega, A. Segovia, Sor, Aguado, Diabelli, Carcassi, porque são bem traduzidas. Devem ser evitadas as traduções com dedilhações erradas, como temos visto algumas, porque viciam o principiante, e, ao inverso disso, os bons métodos ensinam muito. É necessário também que o violão seja bom, de afinação perfeita e de sonoridade. Temos em São Paulo um bom fabricante de violões, o sr. Romeu Giorgio. Esses violões são feitos de acordo com a nova técnica e de muita sonoridade. Às senhoritas que me consultaram aconselhamos esse fabricante e quanto a métodos, devem ser preferidos o Aguado e Carcassi. Existem outros métodos de técnica antiga, nos quais também se encontram bons exercícios. O principal é começar sem vícios e por música, procurando, em primeiro lugar, conhecer todo o braço do violão (por música). É necessário também saber que não se deve pensar que em dois ou três anos fica-se violonista. Victória, 7 de janeiro de 1933. NOTA: Artigo escrito pelo consagrado músico botucatuense, Guido Bissacot, diretamente do Distrito de Victória (Vitoriana) onde nasceu e ainda residia, para o “Jornal de Notícias”, de 12/01/1933. A Revista Peabiru após pesquisa no Acervo Histórico do Centro Cultural descobriu este que talvez seja o único artigo escrito por Guido Bissacot que ensinou música para muitas gerações de jovens botucatuenses. Guido Bissacot (1903/1971) tocava vários instrumentos, mas foi no violão clássico que se destacou, realizando concertos e recitais por todo o Brasil. Entre suas composições destacam-se: Marlene, Marilene, Norma, Marisa, Marilu, Choro em Lá, Choro em Ré, Parafusando, Gemido de Violão, Marcha, Variação sobre a Marcha Triunfal Brasileira, Noites Sevilhanas, Noturno op. 1 e Torre de Vitoriana. ILUSTRAÇÃO: é de autoria de nosso colaborador José Sebastião Pires Mendes a ilustração de Guido Bissacot. (AMD)
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ARTIGO
MEU PEDACINHO DE CHÃO
Cármino De Léo Filho
que, se queimados, eram como indulgências de nossas almas em favor do irrestrito perdão, homenageando o mês Mariano. Ao seu final, quermesse e festa da Padroeira encerravam as festividades do mês de Maria. Um “serviço fixo de alto-falantes”, fundado em 1950 (há 70 anos atrás) por seu então mantenedor, e meu pai Cármino de Léo, encerrava suas atividades diárias no coreto da paróquia voltando às suas dominicais apresentações musicais, partindo do estabelecimento comercial da nossa família, com a razão comercial Bar Central, na rua Condessa de Serra Negra (antiga Rua do Comércio, 85 - centro). Tudo agora era triste. O sepulcral silêncio noturno tomava conta do pequenino
Uma História / Uma Paixão / Muitas Saudades / Meu tributo a ti, Terra Querida, minha Pequena Grande e Soberana VITORIANA . . . Terra natal dos meus sonhos; cheiro de mato; de terra molhada e gosto de mel. Pés ainda a sentir a terra que os encardiam, mãos a sentir as pedras ao longe arremessadas sem destino. Que saudade, querida... Do verde campo que encantava meus olhos ao azul do céu, que me contemplava. Ora o sol ora a lua, a protagonizarem o espetáculo diário de cores no horizonte com efeitos naturais indescritíveis. Assim eram os teus alvoreceres e entardeceres diários. Mãos a tocar a límpida e cristalina água da mina, pés a sentir a maciez da relva fria do inverno. Meu saudoso abacateiro de galhos fortes a me sustentar num balanço feito em cordas e em peripécias inimagináveis, como que longos braços a me abraçarem, a me proteger. Se terra tombada pelo homem, a frutificar, és terra tombada como patrimônio deste coração a sonhar. Doce berço onde nasci, pé de serra querido das longas procissões de Maio com o “Andor de Nossa Senhora das Vitórias” a glorificar nossas caminhadas resistentes ao sol, às chuvas ou ao intenso frio. Velas em mãos a derreterem sobre nossos dedos,
lugarejo, das vielas mal construídas sem conservação, sem iluminação e de trânsito impossível. Com isso, dando início à contagem regressiva para as próximas festividades da Paróquia. Saudades, muitas saudades. Consagrados deveres, devotos respeitos e sagrados hábitos, eram a tríade a sustentar nossos dias. Lá, os educadores amigos; entremeio escola e lar as filhas de Maria e congregados Marianos cumpriam seu papel, e, de outro lado, na consagrada família nossos pais a nos ensinar, pregavam seus ensinamentos para um futuro melhor. Encantos perdidos, aos dezesseis anos, chorando tive que partir para estudar. Tudo o que “Um dia aqui deixei”, inspiraram-me a te homenagear. “Eis o teu tributo” Vitoriana, Minha Terra querida; meu inesquecível pedacinho de chão; meu pé de serra querido; meu rincão florido”.