Edição 1031

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Diário da Cuesta

NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU

JOSÉ MAURO DE VASCONCELOS

Falar do livro “Meu Pé de Laranja Lima”, de José Mauro de Vasconcelos (página 2) pode parecer uma volta no tempo e... é mesmo!

Mas é uma volta positiva. Quando escrevi o artigo “Mensageiro do Amor”, no DCI – Diário do Comércio & Indústria”, em 1969, expressei toda a satisfação que senti ao ler o livro (página 3). E hoje, a satisfação se repete. É uma história que encanta em sua simplicidade encontrada em toda cidade deste país. É a vida sendo vivida e sonhada com uma carga muito grande de esperança no amor e no ser humano. É a vida como ela é... A vida com as superações possíveis... Sim, é possível superar as dificuldades. Sim, com o “escudo” de um mundo imaginário é possível construirmos um caminho para nossa vida calcado na interação positiva entre as pessoas. “MEU PÉ DE LARANJA LIMA” é um grande filme! Não percam! Vale a pena!!! (AMD)

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NOVOS DADOS DO CENSO 2022

Novos dados do Censo 2022, divulgados nesta sexta-feira (23) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Esta�stica (IBGE), mostram como é o acesso ao saneamento básico e à coleta de lixo nos municípios do Brasil.

Botucatu figura entra as melhores cidades do país nos dois quesitos. De acordo com o IBGE, o município beira os 100% em todos os itens estudados pelo censo.

Veja os números de Botucatu:

99,93% – dos moradores com água canalizada

98,26% – dos moradores com coleta de esgoto

99,98% – dos moradores com banheiro

99,37% – dos moradores com coleta de lixo

O Saneamento básico da cidade é administrado pela Sabesp desde a década de 70.

No país

A região Sudeste (86,2%) foi a que apresentou a maior parcela da população morando em domicílios com coleta de esgoto. No sentido oposto, a região Norte (22,8%) mostrou a menor taxa nesse indicador. Entre as unidades da federação, os destaques no lado positivo e no negativo foram, respectivamente, São Paulo (90,8%) e Amapá (11,0%).

O estado de São Paulo (99,0%) teve o maior percentual de população atendida por coleta de lixo, enquanto Mara-

nhão (69,8%) registrou a menor. O Maranhão foi a UF que mais expandiu a cobertura da coleta de lixo (16,3 pontos percentuais) entre 2010 e 2022.

As informações foram publicadas hoje (23) pelo IBGE na divulgação “Censo 2022: Características dos domicílios –Resultados do universo”. (ACONTECE BOTUCATU)

ANO IV Nº 1031 TERÇA-FEIRA , 27 DE FEVEREIRO DE 2024 Acompanhe as edições anteriores em: www.diariodacuesta.com.br

JOSÉ MAURO DE VASCONCELOS

José Mauro de Vasconcelos (1920-1984) foi um escritor brasileiro, autor do romance juvenil “Meu Pé de Laranja Lima”, obra que se tornou um clássico da literatura brasileira.

José Mauro de Vasconcelos nasceu em Bangu, no Rio de Janeiro, no dia 26 de fevereiro de 1920. Filho de imigrante português foi criado pelos tios, na cidade de Natal no Rio Grande do Norte.

Com 15 anos, José Mauro voltou para o Rio de Janeiro onde trabalhou em diversos empregos para se sustentar, foi carregador de bananas numa fazenda no litoral do estado, foi instrutor de boxe e operário.

Mudou-se para São Paulo, onde trabalhou como garçom de boate. Iniciou o curso de Medicina, mas abandonou a universidade. Recebeu uma bolsa para estudar na Espanha, mas também não se adaptou à vida acadêmica.

Primeiros livros

José Mauro de Vasconcelos se aventurou junto aos irmãos Villas-Boas, em uma viagem pelos rios da região do Araguaia. O resultado foi seu livro de estreia “Banana Brava” (1942), onde relata o mundo do garimpo da região.

Em 1945 publica “Barro Branco”, seu primeiro sucesso de crítica. Escreveu “Longe da Terra” (1949), “Vazante” (1951), “Arara Vermelha” (1953), “Arraia de Fogo” (1955).

Seu primeiro grande sucesso veio com “Rosinha Minha Canoa” (1962). A obra foi utilizada no curso de Português na Sorbonne, em Paris. Nos anos seguintes escreveu “Doidão” (1963), “Coração de Vidro” (1964).

EXPEDIENTE

Meu Pé de Laranja Lima

Em 1968, José Mauro de Vasconcelos publicou seu maior sucesso, “Meu Pé de Laranja Lima”, que se tornou um clássico da literatura brasileira.

A obra é uma história autobiográfica que relata a vida sofrida na infância, as longas conversas com um pé de laranja que fica no quintal de sua casa e as buscas por mudanças.

Com 6 anos, o protagonista vive aprontando, viaja com sua imaginação, explora, descobre e responde aos adultos. A obra foi adaptada para a televisão e para o cinema.

Cinema

José Mauro de Vasconcelos trabalhou em diversos filmes, entre eles, Modelo 19 (1950), que lhe valeu o Prêmio Saci de Melhor Ator Coadjuvante, O Canto do Mar (1953), onde atuou como roteirista, Garganta do Diabo (1960), A Ilha (1963) e Mulheres & Milhões (1961), que também lhe valeu o Prêmio Saci de Melhor Ator.

José Mauro de Vasconcelos faleceu em São Paulo, no dia 24 de julho de 1984.

Escreveu também:

Rua Descalça (1969)

O Palácio Japonês (1969)

Farinha Órfã (1970)

Chuva Crioula (1972)

O Veleiro de Cristal (1973)

Vamos Aquecer o Sol (1974)

DIRETOR:

Armando Moraes Delmanto

EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes

Contato@diariodacuesta com br

Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689

O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.

Diário da Cuesta 2
NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU

MEU PÉ DE LARANJA LIMA

Esse filme sobre a obra do autor foi um grande lançamento do cinema nacional. A 2ª versão adaptada para o cinema do livro “Meu Pé de Laranja Lima”, do escritor José Mauro de Vasconcelos. A 1ª versão é de 1970 e foi um sucesso de bilheteria O livro de Zé Mauro foi traduzido para mais de 30 idiomas e marcou a literatura brasileira Foi adaptado para o cinema, o teatro e a televisão

O filme é dirigido por Marcos Bernstein, que fez o roteiro do filme Central do Brasil. Traz no elenco Caco Ciocler (como Zé Mauro), João Guilherme Ávila (ator mirim revelação no papel de Zezé), Emiliano Queiroz e José de Abreu (no papel do “Portuga”). O filme mostra a história de um menino (Zezé) que vive num mundo imaginário todo seu, dessa forma se refugiando da realidade hostil que o cerca. Em sua imaginação, o pé de laranja lima é seu amigo e dialoga com ele. Com 8 anos de idade, incompreendido pelos adultos de casa encontra, no português Manoel (José de Abreu) a quem chama carinhosamente de “Portuga”, o amparo e a interação necessários.

O filme foi rodado em Minas Gerais nos anos de 2011 e 2012.

peão absoluto de vendas em 1968, adaptado ao cinema, foi sucesso em 1970.

NO TÚNEL DO TEMPO...

Em 1969, eu tinha uma coluna diária, “A Juventude”, no “DCI – Diário do Comércio & Indústria”, da Capital. Cursando Direito na USP e trabalhando, diariamente fazia meu artigo, tendo como tema sempre a participação dos jovens na renovação política e na construção da cidadania. E no artigo “Mensageiro do Amor”, escrevi com todo o entusiasmo e romantismo do jovem universitário sobre o livro lançado por José Mauro de Vasconcelos, “Meu Pé de Laranja Lima”.

Edição de 1970

Em uma época, como a nossa, em que cada vez mais estão a colocar em segundo plano o sentimento entre as pessoas encontramos um escritor que se caracteriza como um defensor do amor, um defensor que, sem ser piegas, consegue em sua simplicidade relatar, com profundo lirismo, as relações entre as pessoas: os dramas familiares, oriundos da incompreensão; as sutilezas e os vazios daqueles que, por motivos os mais variados, se perdem na solidão; a capacidade do ser humano, quando vive com amor e ao amor se dedica, de ver beleza em tudo e com tudo se identificar podendo, assim, completar-se com a natureza, com os animais e com os homens.

Mas um escritor assim precisa falar a linguagem do amor, mas muito mais, ele precisa ser o próprio amor: um profundo ser sensível que vive e em cada ato e em cada participação que tenha consiga ser um porta-voz do amor, um mensageiro do amor.

Pensando no amor e lembrando alguém que com suas obras se caracteriza como um mensageiro do amor, é que nos animamos a escrever este artigo, um artigo-agradecimento a alguém que nos faz acreditar cada vez mais na bondade humana, no sentimento e na sensibilidade dos homens.

O mensageiro do amor, o cavaleiro errante do carinho e da compreensão é José Mauro de Vasconcelos. A capacidade que tem esse escritor de se comunicar com as pessoas e ser por elas compreendido é singular. É comumente afirmado que “Vox Populi, Vox Dei”... Ora, nada mais certo. Logo, a voz de José Mauro, sendo a voz do povo é a voz de Deus. Pois Ele, através de seu filho, foi amor, pregou o amor e falou o amor.

Por oportuno, reproduzo o artigo “Mensageiro do Amor” que, em 1970, foi incluído e publicado na coletânea de meus artigos no DCI: “A JUVENTUDE: PARTICIPAÇÃO OU OMISSÃO”, editada pela Editora EDIJOR.

É uma obra especial que irá encantar a juventude atual, como já aconteceu com o livro e com o filme de 1970. Na televisão (foi tema de 3 novelas), sendo que em 1998, Gianfrancesco Guarnieri fez na novela o papel do “Portuga”.

José Mauro de Vasconcelos se firmou como escritor criativo e de qualidade Com 19 livros, destacamos o Meu Pé de Laranja Lima, Rosinha- Minha Canoa, Doidão e As Confissões do Frei Abóbora.

Mensageiro do Amor

A literatura é a forma de expressão de um povo. Ela retrata uma época. Ela retrata o sentimento do povo. Ela demonstra as tendências sociais. Ela evidência a evolução econômica e política de uma geração. Ela é, enfim, o fruto de uma época...

No Brasil, atualmente, o surto literário se apresenta de forma marcadamente revolucionária: são novas técnicas, novos estilos e uma outra concepção da vida e da finalidade do ser humano.

José Mauro foi o escritor mais lido do Brasil. Nunca, em matéria de literatura brasileira houve tanto acerto: o povo se encontrando em um grande escritor; um grande escritor que falando a linguagem do povo consegue, sem se vulgarizar, levar mensagens de esperanças, de compreensão e de vida.

Diriam alguns que é um fenômeno. Eu ficaria com a afirmação de que são sinais de novos tempos. A nosso ver é o despertar da população para as boas coisas da vida; é o despertar para um mundo que estava sendo esquecido e olvidado no que mais belo ele tem: o sentimento do ser humano de criar e modificar situações através do amor, inteirando-se com seus iguais, identificando-se com a natureza e estimando os animais.

O Zé Mauro é tudo isso. Ele é global e é um homem total. Ele vive de emoções, ele se limita a apresentar, não a impor as suas convicções. Ele é um escritor modesto, mas profundo; um puro, mas alguém que conheceu as maldades e as impurezas da vida; ele consegue amar, precisa amar e é grandemente amado.

Esse é o grande escritor, revolucionariamente descoberto, nos anos da década de 60 pela nossa juventude.

Quem ainda não leu algum livro do Zé Mauro?

Quem não leu, leia. (AMD)

Diário da Cuesta 3

“A princesa da bolha”

Num reino muito distante, o casal real por muitos anos aguardava que os céus lhes enviassem uma criança.

Amavam-se muito, mas os anos passavam e nada.

E foi durante a caçada ao cervo, entre suas aias, que repentinamente a Rainha desmaiou. Foi chamado o médico real que veio imediatamente a examinou.

Depois de um longo e minucioso exame sorriu sob o vasto bigode e levantando as grossas sobrancelhas que já tinham fios teimosos e brancos, deixando ver seus olhinhos muito azuis que sorriam mais que a boca rosada.

Curvou-se demorada e respeitosamente perante sua senhora e anunciou-lhe que estava esperando o tão desejado bebê.

Depois de longos meses de espera, nasceu uma menina muito saudável e bonita.

Os pais a superprotegiam, mantendo-a sob cuidadosa vigilância dos servos do castelo e todos amavam e mimavam muito.

Todos os dias chegavam presentes dos mais distantes reinos.

O pai mandou construir para ela uma enorme bolha de cristal onde ela passava os dias, podia ter tudo o que quisesse e admirar as flores e pássaros dos campos, mas permanecia ali dentro da sua linda bolha protegida de tudo e de todos.

Os anos passavam e a princesinha crescia em tamanho, beleza e bondade.

Como tinha todos os seus desejos satisfeitos, a única coisa que mais almejava era o que não tinha: liberdade.

Esse desejo aumentava a cada dia.

Queria sair pelos campos correndo e ver o mundo inteiro.

Queria conhecer tudo o que os grandes mestres chamados pelos seus pais tinham lhe ensinado.

E sonhava de olhos abertos com o seu príncipe encantado.

Um dia durante uma grande tempestade, um raio caiu sobre a bolha e uma avalanche desceu levando o que restou como casca de ovo, por longo tempo, para terras distantes.

E a bolha acabou de quebrar-se em cacos batendo numa pedra e jogando a princesa desacordada sobre uma árvore imensa.

Ela acordou deitada num leito de folhas verdes sob o olhar curioso e atento de um jovem. Parecia ser um lenhador.

Vestia roupas grosseiras e mal feitas. Tinha ficado por dias desacordada.

O jovem vendo que ela estava desmemoriada, nem do seu nome lembrava e nem de onde era. Passou a viver um nova vida em nova realidade. Teve que aprender a trabalhar para viver.

Só trazia na roupa imunda e encharcada um broche de ouro e diamantes em forma de rosa.

Em pouco tempo seus sonhos se tornaram realidade: viu o mundo passar voando entre árvores e uma enxurrada de lama.

E o príncipe era um mendigo e o palácio virou uma árvore.

A bolha de cristal se rompeu.

Foi assim que chegou a um outro mundo.

A Rosa ficou cravada no coração.

E num dia 22.02.2023 quase 200 anos depois, a princesa se lembrou quem era, de onde vinha e o que tinha que fazer para voltar.

Diário da Cuesta 4

Momentos Felizes

TORÓ

O aguaceiro batia firme nas janelas da casa grande e com a chuva de canivete o vento frio. O mês de janeiro e fevereiro deste ano segundo os meteorologistas contrariam os cultivadores das mudanças climáticas. Tive vontade de ir à rua e ao procurar o guarda-chuvas verifiquei que duas varetas estavam quebradas e seria impossível o abrigo completo. Mesmo não saindo de casa uma coisa era certa; se alguém, por necessidade tivesse sido surpreendido pelo toró, estaria se encolhido sob a marquise ao lado de um cachorro ou de um gato em fraterna solidariedade vendo a enxurrada furiosa descendo a ladeira em direção ao rio Lava-pés.

Os moradores em suas casas sentem-se ilhados; o ambiente torna-se sombrio pelo céu que não permite a entrada de um minúsculo raio de sol, a cor cinzenta tornou-se o cotidiano para muita gente; olhando pela vidraça embaçada, o jardim com suas árvores e flores recebem o batismo das águas puras jorrando sobre elas e a terra fértil a esperança do que vai brotar das sementeiras recém plantadas.

A chuva forte traz para a cidade a oportunidade de conhecer o caos na área comercial, portas abertas pela metade, funcionários conversam e não encontram com-

pradores dispostos para experimentar roupas ou calçados mas, para alguns, em especial o Biscateiro, está eufórico com a excepcional venda de guarda-chuvas, sombrinhas, galochas e capas impermeáveis. Ao que parece apenas este está vibrando com as chuvas que diariamente melhoram os seus negócios avulsos.

Na esquina próxima permitindo dupla mão de direção, veículos com luz baixa e limpador de para-brisa ligado procuram evitar o abalroamento seguindo em frente praticamente em fuga...

No momento em que dedilhava esta singela crônica em homenagem à perturbação atmosférica, sinto uma leve saudade da minha terra natal, saudade do passado, de um lugar pelo qual passei..., da minha família e dos inúmeros amigos nesta e em outras cidades, aprendendo com a chuva insistente o que há de indulgência nas separações...

Sem pensar em mais nada aproximei-me da janela, sentido apenas esse prazer primário de estar protegido.

Diário da Cuesta 56
Roque Roberto Pires de Carvalho

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