Diário da Cuesta
NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU
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Imigrante Pioneiro, fundou um Banco e é Orgulho de Botucatu !
FRANCESCO BOTTI
Cidadão prestante, em sua casa houve a união das Entidades representativas da Colônia Italiana na constituição da SOCIETÀ ITALIANA DI BENEFICENZA. Fundou o BANCO BRASUL. Liderou os botucatuenses. Foi um CIDADÃO PRESTANTE!
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“Siamo tutti oriundi”
A primeira expedição de italiano para o Espírito Santo foi batizada com o sobrenome do seu idealizador, Pietro Tabacchi (Foto: Reprodução/ Vitória News)
Leia artigo da Maria De Lourdes Camilo Souza sobre a importância da Imigração Italiana para o Brasil, com a comemoração do DIA DO IMIGRANTE ITALIANO (21/2).
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ANO IV Nº 1032 QUARTA-FEIRA , 28 DE FEVEREIRO DE 2024
a r t i g o Fantasmas Familiares
Elda Moscogliato
Quando se anunciou a demolição do palacete Emílio Pedutti – hoje transformado num mero estacionamento dos clientes do Sudaméris – em detrimento da memória de um líder, desde a infância até sua ascenção no cenário sócio-financeiro-político, não só da cidade como do País – fizemos clandestinamente uma visita ao prédio em escombros, revivendo uma das fases mais lindas da nossa infância.
Foi quando timidamente embora, propusemos à Academia, que aprovou a ideia, a conservação do mesmo, na exaltação dos homens que o habitaram e o valorizaram: Francisco Botti, primeiramente e Emílio Pedtti, logo após, numa época como a atual, em que pouco se conta com a memória dos pósteros.
a assídua frequência ao camarote cativo do Casino, nas grandes “soirées” artísticas em que brilhava no poço da orquestra o jovem flautista.
Assim se justifica a presença no velho solar, de uma menina cantadeira, mais insistente que a cigarra –a alegrar no diário convívio o grupo de adolescente Mário, Júlio, Afonso, Anita e Carlos – ela, no Santa Marcelina então chamado Colégio dos Anjos, eles, na Escola de italiano, rumo próximo para estudos superiores na Europa.
Até aí, a severa figura de pai aos olhos infantis da menina cantadeira, se limitava a um coração bondoso, que se comprazia em ouvir-lhe a vozinha afinada cantando trechos de canções de ninar:
De manhã quem me desperta
É o sol a meia-luz,
Que encontrando a porta aberta
Por toda a parte reluz...
Foi inútil. O Sudaméris nos respondeu, através de atenciosa carta do prof. Milton Marianno, então ativo, justificando-se que havia prioridades importantes a atender. Ficamos certa de que não era o coração botucatuense que se manifestou, mas sim, o auditor do Banco.
Com um travo amargo de veneração e saudade, quisemos revivificar memórias, reedificar um cenário encantador que nos envolveu a infância transformando-nos na Alice do País das Maravilhas. Lá, o cenário maravilhoso jamais esquecido.
Era ele, no longínquo passado o solar do cavalheiro Francisco Botti, casado com d. Albina Varoli Botti, que além de prima (os pais eram irmãos: Aleixo e Xisto Varoli ), era amiga muito ligada à nossa saudosa matriarca, naquele relacionamento de intimidade e confidências, onde entravam desde os passados sonhos da juventude, agora, já casadas, incluíam-se os temas de enxovaizinhos de bebês a caminho, receitas culinárias, troca de xaropes, coisas caseiras, contada ainda
Mais tarde, no despertar da razão, somados os depoimentos familiares de quem se fez o protótipo do cidadão íntegro, chefe de família exemplar, banqueiro conceituado, membro ativo de uma sociedade em evolução, o nome de Francisco Botti gravou-se-nos indelevelmente pela admiração e pela sincera gratidão, mercê do que representou para o grupo familiar imenso: acolheu humildes, orientou amigos, aconselhou familiares, encaminhou jovens, participou da vida citadina, contribuiu para o desenvolvimento da sociedade, encorajou iniciativas benemerentes, deixou gravado seu nome e de sua esposa, na galeria nobre da Misericórdia Botucatuense.
A meninazinha tréfega de ontem, aprendeu a reverenciá-lo no seu coração e na sua memória.
Tudo isso nos alentou na clandestina visita à mansão agora em demolição. Recordamos o piso encerado, recoberto de tapeçarias aveludadas e macias. A bela antiga residência surgiu-nos em contornos ines-
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quecíveis. Rebrilhava ao sol matinal que lhe invadia amplos cômodos através dos janelões de caixilhos reluzentes. As altas paredes retornaram à beleza dos painéis decorados pelo Crozza que usou a pintura para decoração sóbria da velha Matriz de Sant’Ana.
Percorremos enternecida os muitos quartos revivendo a beleza severa do mobiliário de carvalho lustroso, entre móveis e “biseautés” rebrilhantes, com entalhes a mão, obra-prima do Pighinelli, famoso marceneiro da cidade. Cortinas esvoaçantes e macias voltaram a acariciar-nos o rosto.
Na sala de jantar, a beleza acolhedora do mobiliário da “belle-époque” faiscante do brilho da prataria e dos cristais. Ah! A velha talha antiga, cheinha da deliciosa água saudável e potável do Seminário, trazida nas pipas da carrocinha do velho Blasco. A mesma antiga talha imortalizada por Rembrandt em sua série de Cenas Familiares, hoje admiradas nos museus berlinenses, aqui reproduzidas pelo artesanato de Blumenau que fornecia a d. Albina, inclusive, os delicados canecos ilustrados em alto-relêvo pelas lendas dos Irmãos Grimm.
No teto trabalhado, as belezas florais em gesso, adornando candelabros da Boêmia. Nas paredes, motivos alegóricos em medalhões de vivo colorido, ostentando naturezas mortas entre peixes prateados, queijos, aves e flôres.
Avançamos até a cozinha da nossa imaginação. Lá estava a fiel Francisca a nos receber misturando açúcares, farinha e ovos, no preparo sempre lembrado do bolo para o desjejum de amanhã.
Voltamo-nos e nos dirigimos ao andar térreo descendo emocionada a escadaria de fino lavor em madeira, os degraus suavizados pelo “draps” vermelho. Já às portas da rua, voltamo-nos em despedida. Lá do alto, pela memória emotiva, acenavam-nos sorridentes, numa visão de Eternidade, o Fanquino, D. Albina, Anita e os meninos –velhos queridos fantasmas familiares que enriqueceram nossa infância.
Acervo Peabiru
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ARTIGO “Siamo tutti oriundi”
21/02 - Dia do Imigrante italiano
Maria De Lourdes Camilo Souza
Aliou-se duas situações precárias; na Itália: com vários reinos e revoltas, viviam grave crise político econômica social nos idos de 1800 e 1900, e no Brasil após a libertação dos escravos, pela Princesa Isabel, havia a necessidade de mão de obra nas fazendas.
Foi então que os primeiros imigrantes, deixaram sua amada pátria, suas terras, e vieram tentar a vida em um país novo, em busca de vida melhor.
Partiram no navio La Sofia, do porto de Gênova, numa expedição denominada Tabacchi comandada por Pietro Tabacchi.
Trazia pouco mais de 380 famílias da região do Trentino, região que na época pertencia ao reino austro húngaro.
E foi assim que os primeiros imigrantes italianos atracaram em Vitória no Espírito Santo, no dia 21/02/1874.
Grande parte deles eram lavradores.
Muitos deles foram levados para as plantações de café de Santa Cruz, naquele estado. Outros foram para Santa Catarina
O Brasil tem o maior número de imigrantes italianos. A partir daí foram chegando e se instalando em várias regiões do nosso país.
Trouxeram sua cultura, suas tradições, culinária, artes.
Como forma de homenagear o maior movimento imigratório ocorrido em nosso país foi criada esta data, pelo senador Gerson Camatta do Espírito Santo através da lei 11.687 2008 que estabelecia a data de 21 de fevereiro como Dia do Imigrante Italiano.
Foi então que por sua coragem e por seu sonho, seu trabalho, e consequente miscigenação com o nosso povo contribuíram para o desenvolvimento do nosso país.
Num desses navios, com seus patricios, meu avô Gijo: Giovanni Luigi, com apenas 9 anos veio com a Nonna Constantina Miatello, morar em Avaré aonde constituiu a nossa familia.
Tenho muito orgulho de ter descendência italiana.
GERAÇÕES DA CIDADANIA BOTUCATUENSE HOMENS QUE FIZERAM BOTUCATU! FRANCESCO BOTTI
Na atuação da Colônia Italiana de Botucatu é preciso que se dê destaque à atuação do pioneiro industrial Aleixo Varoli . Com Indústria de Licores e Refrigerantes , Aleixo Varoli atuava também na cafeicultura , possuindo na região de Itu uma grande fazenda para a produção de café. Na virada do século, conseguiu unificar as entidades representativas da Colônia Italiana em nossa cidade em histórica reunião realizada, em 1902 , na casa de seu genro Francisco Botti , constituindo a Società Italiana di Beneficenza (Hoje, o Centro Brasil-Itália ).
Aleixo Varoli presidiu por muitos anos a Società Italiana di Beneficenza e foi Agente Consular da Itália em nossa cidade Com o casamento de suas 3 filhas, constituiu ampla família, com efetiva influência e destaque na sociedade local
Seus genros, todos italianos, Francisco Botti ( Francesco Botti Caffoni ), Pedro Delmanto (Pietro Del Manto) e Adeodato Faconti Francisco Botti , casado com Albina Varoli , atuou no setor bancário e deu continuidade à atuação na cafeicultura do sogro, assumindo a sua grande propriedade rural. Botti chegou a ter seu próprio banco, o Banco Brasul (absorvido em meados da década de 1970 pelo Banco Itaú ) em sociedade com a família Mellão , da vizinha cidade de São Manoel. Pedro Delmanto , casado com Maria Varoli , atuou no setor calçadista, possuindo Loja de Calçados, Fábrica de Calçados e o Curtume Bella Vista , especialmente montado para servir a Fábrica Delmanto . Adeodato Faconti , casado com Leonilda Varoli , sucedeu ao sogro na Industria de Bebidas , além de atuar de forma expressiva como jornalista e escritor , tendo exercido a vereança em Botucatu.
Aleixo Varoli patrocinou a vinda da família Botti para Botucatu, em 1887 , como resultado de suas relações de amizade familiar e do relacionamento promissor de Francesco Botti (Botti Caffoni ) com sua filha Albina, que teve início na Itália durante as férias periódicas da família Varoli em Pontremoli , culminando com o casamento de ambos em 1898 . Em 1887 , vieram para Botu -
catu, o primogenito Giuseppe e Maddalena Botti Caffoni ( mais 2 filhos), o cunhado Francesco Sartori e sua família No ano de 1903/4 , mais uma vez a atuação providencial de Aleixo Varoli . Como Presidente da Società Italiana di Beneficenza e Agente Consular da Itália , promoveu e deu o necessário apoio ao retorno repentino de parte da família Botti para a Itália. Na Itália, na cidade de Parma, passou a ter também os seus negócios e uma propriedade rural. Giuseppe Botti representava seus interesses quando Alessio Varoli estava no Brasil.
Francesco Botti foi gerente do primeiro Banco de Botucatu: o Banco Francês e Italiano para a América do Sul Depois, associado ao cafeicultor e exportador João Melão , de São Manuel , fundou o Banco Brasileiro para a América do Sul , que teve seu nome mudado para BANCO BRASUL DE SÃO PAULO S/A. Sérgio Pinho Melão e Mário Botti, filhos dos fundadores, foram os Diretores Executivos do Banco Brasul. Banco de atuação tradicional na agricultura paulista, notadamente entre os cafeicultores e exportadores , teve presença destacada até sua incorporação, junta -
mente com o Banco América de Herbert Levy , ao Banco Itaú nos anos 60/70, seguindo a tendência da área financeira do país pós Revolução de 1964.
Casado com Albina Varoli, teve os filhos: Mário, Carlos, Júlio, Alfonso e Anita.
Francesco Botti, “descobriu” o talento para os negócios de Emílio Peduti que o sucedeu na gerência do Banco Francês e Italiano para a América do Sul , vindo posteriormente a residir no sobrado em que morou Francesco Botti , defronte ao jardim do Bosque onde depois funcionou a agência do Banco Sudameris.
Primeiro Retorno (1913)
Como a educação no Brasil, no início do século, ainda não tivesse atingido o nível que hoje possui, principalmente no interior, Aleixo Varoli patrocinou a ida de seus netos para a Itália, para que pudessem estudar e preparar-se para a futura vida profissional.
Aleixo Varoli enviou seus netos para que estudassem no tradicional e conceituado “Collegio Maria Luigia”, da cidade de Parma , em regime de semi-internato. Mais uma vez, contou com a colaboração de Giuseppe Bott i para que fizesse o acompanhamento, na sua ausência, da atuação dos meninos. Foram do Brasil, com média de 9 anos, Aleixo Delmanto (filho de Pedro/Maria Delmanto ) e Alfonso, Julio, Carlos e Mário Botti (filhos de Francisco/Albina Botti ).
Todos fizeram do básico ao colegial na Itália, tendo Aleixo Delmanto feito também a Faculdade de Medicina da Universidade de Parma e, anos dep ois (1930/31), especialização na Universidade de Bolonha - a mais antiga Universidade do Mundo! Tanto Parma como Bolonha pertencem , hoje, à Região Emilia-Romagna , uma das mais desenvolvidas da Itália.
Francesco Botti foi destaque na importante Colônia Italiana de Botucatu , como banqueiro e empreendedor. Era Cav.UFF da Coroa Italiana. Foi um benemérito, tendo o seu retrato e de sua esposa na Galeria dos Beneméritos da Misericórdia Botucatuense
É Registro Histórico (AMD)
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