Edição 1036

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Diário da Cuesta

NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU

“São as águas de Março fechando

o Verão...”

Considerada “obra prima” da música popular brasileira, Águas de Março, de Tom Jobim, eternizada na voz de Elis Regina, marca o fim do verão e o início do outono... Página 2

ANO IV Nº 1036 SEGUNDA-FEIRA , 04 DE MARÇO DE 2024
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Águas de Março

Na edição de 20 de março de 1973 do jornal Última Hora, a escritora Rachel de Queiroz (1910 - 2003) dedica uma crônica à canção, descrevendo-a como “coisa bela e estranha, dura; fere o coração com um toque de pedra e depois o afoga na cheia das águas Promete e recorda, memória de infância e angústias da força do homem”. Chico Buarque (1944), por sua vez, sentencia: “É o samba mais bonito do mundo”.

A letra escrita por Jobim, com versos que alternam pessimismo e otimismo, torna-se objeto frequente de análise. “A cada estrofe, a cada verso busca-se um equilíbrio entre extremos”, diz o crítico Augusto Massi. Já seu colega Arthur Nestrovski destaca que prevalece na canção o verbo ser, conjugado na terceira pessoa. “Tudo é, nada faz. Um ou outro fazer, quando aparece, vira qualidade, formulada em gerúndio, quase sempre para sublinhar uma essência: ‘é o vento ventando’, ‘é o pingo pingando’, ‘é uma prata brilhando’”, comenta o crítico. Eis a letra:

“É pau, é pedra, é o fim do caminho

É um resto de toco, é um pouco sozinho

É um caco de vidro, é a vida, é o sol

É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol

É peroba do campo, é o nó da madeira

Caingá, candeia, é o Matita Pereira

É madeira de vento, tombo da ribanceira

É o mistério profundo, é o queira ou não queira

É o vento ventando, é o fim da ladeira

É a viga, é o vão, festa da cumeeira

É a chuva chovendo, é conversa ribeira

Das águas de março, é o fim da canseira

É o pé, é o chão, é a marcha estradeira

Passarinho na mão, pedra de atiradeira

É uma ave no céu, é uma ave no chão

É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão

É o fundo do poço, é o fim do caminho

No rosto o desgosto, é um pouco sozinho

É um estrepe, é um prego, é uma conta, é um conto

É uma ponta, é um ponto, é um pingo pingando

É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando

É a luz da manhã, é o tijolo chegando

É a lenha, é o dia, é o fim da picada

EXPEDIENTE

NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE

E DA CIDADANIA EM BOTUCATU

WEBJORNALISMO

É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada

É o projeto da casa, é o corpo na cama

É o carro enguiçado, é a lama, é a lama

É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã

É um resto de mato, na luz da manhã

São as águas de março fechando o verão

É a promessa de vida no teu coração

É uma cobra, é um pau, é João, é José

É um espinho na mão, é um corte no pé

É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã

É um belo horizonte, é uma febre terçã

São as águas de março fechando o verão

É a promessa de vida no teu coração”

A engenhosidade dos versos acompanha a concepção musical. Os pesquisadores Zuza Homem de Mello (1933) e Jairo Severiano (1927) chamam a atenção para uma estrutura harmônico-melódica que aparenta simplicidade mas possui grande sofisticação. “Essa estrutura apoia uma melodia caracterizada pela obstinada repetição de uma pequena célula rítmico-melódica, construída basicamente com duas notas (a 3ª e a fundamental do acorde de tônica), harmonizada por um encadeamento de quatro acordes, com o uso de inversões e outras diferenças sutis – e é nesse ponto que se situa a parte mais rica da criação de Jobim – que se resolve invariavelmente no acorde de tônica de cada final de frase, ou seja, de quatro em quatro compassos, nada menos que 18 vezes durante toda a peça”, explicam os pesquisadores.

DIRETOR:

Armando Moraes Delmanto

EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO:

Gráfica Diagrama/ Edil Gomes

Contato@diariodacuesta com br

Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689

O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.

Diário da Cuesta 2
DIÁRIO
"Tudo é questão de despertar sua alma"

Gabriel Garcia Marques

Sai com algumas amigas para um encontro depois de alguns meses, na noite desta quinta-feira.

E depois de nos cumprimentarmos e confraternizarmos, já na saída da Casa do Líbano, uma das amigas perguntou ao grupo: - "Quem aqui escreve?"

Eu disse "eu escrevo"

Ela me perguntou: "e o que escreve?"

Pausei pensando: essa não sabe que escrevo e nunca leu nada que já escrevi.

Respondi "escrevo estórias".

Ela retrucou, eu também ando escrevendo.

São coisas curtas, na maior parte coisas engraçadas.

Poderíamos nos encontrar dia destes e ler o que

escrevemos.

Eu respondi que sim, seria interessante.

Nos despedimos em seguida, sem fixarmos uma data para o encontro para essa leitura.

Fiquei com isso na lembrança, imaginando um sarau onde faríamos a leitura.

O engraçado é que quando ela fez a pergunta olhou direto para mim como se já soubesse a resposta.

Penso que algumas pessoas atualmente sentem-se despertas para novos dons adormecidos.

Tenho já tantos textos armazenados, que quando releio alguns deles, até duvido que fui eu mesma que o escreveu.

Leio várias vezes querendo entender como de repente isso se passou.

Buscando na memória vejo que eu desejei isto desde muito criança, o que prova que o que desejamos, um dia se torna realidade.

Já dizia Paulo Coelho : " Quando você quer alguma coisa, todo o universo conspira para que o seu desejo se realize."

Diário da Cuesta 3

ÁGUAS DE MARÇO

“Águas de Março” é uma música icônica da Bossa Nova, composta por Tom Jobim, um dos principais nomes do movimento, e interpretada em dueto com Elis Regina, uma das maiores cantoras da música popular brasileira. A canção foi lançada em 1972 no álbum “Elis & Tom”, que foi um grande sucesso de crítica e público. A música é conhecida por sua letra poética e melodia suave, que captura a essência da estação das chuvas no Brasil. “Águas de Março” é considerada uma das melhores canções brasileiras de todos os tempos e um dos pontos altos da carreira de Tom Jobim e Elis Regina.

Elis Regina, uma das maiores cantoras da música popular brasileira, inicialmente não se sentia confortável com a Bossa Nova, um gênero que surgiu na década de 1950 e que valoriza a suavidade e a sofisticação musical. No entanto, com o passar do tempo, Elis Regina começou a se interessar mais pela Bossa Nova e,

em 1972, gravou o álbum “Elis & Tom” com o compositor e pianista Tom Jobim. A gravação de “Águas de Março”, uma das músicas mais emblemáticas da Bossa Nova, foi um marco na carreira de Elis Regina e mostrou que sua voz poderosa e expressiva podia se adaptar perfeitamente ao estilo. A interpretação de Elis Regina em “Águas de Março” é considerada uma das melhores de sua carreira e um dos pontos altos do álbum “Elis & Tom”.

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