Edição 1047

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Diário da Cuesta

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Itália Unida

163 ANOS (1861 – 2024)

A Itália comemora em 17 de março o aniversário de 163 anos de sua Unificação. Nas páginas internas, artigos emblemáticos da imprensa botucatuense sobre o importante evento e sobre a importante colônia italiana de Botucatu

ANO IV Nº 1047 SÁBADO E DOMINGO , 16 E 17 DE MARÇO DE 2024
NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU

EDITORIAL

Muito interessante descobrir nas entrelinhas da história de países e de pessoas, a importância que as sociedades secretas exerceram com uma atuação efetiva e objetiva. Em nosso país a Abolição dos Escravos, a Independência de Portugal, a educação, orientação e formação de Dom Pedro II, a Proclamação da República, a Revolução de 1930, a Revolução Constitucionalista de 1932, a Constituinte de 1933 e as Constituintes Estaduais de 1934, sempre se admirava a coerência e a firmeza dessas sociedades secretas. E, na história da Unificação Italiana, mais uma vez, a presença dessas sociedades. No processo de unificação do país, com a sociedade “Jovem Itália”, sob o comando de Mazzini, conquistava os jovens italianos e, especialmente, os camponeses e os operários. Vejam quanto era avançada a sociedade e amplo os seus objetivos. E a atuação de Giuseppe Garibaldi, no Brasil, apoiando Bento Gonçalves, líder maçon, contra a política extorsiva do Império em relação aos proprietários e fazendeiros do sul do Brasil. Foi a mais longa guerra civil que tivemos e acabou com o poder imperial aceitando grande parte das reivindicações dos sulistas da Guerra dos Farrapos. A história sempre nos ensina. Seria bom que essas sociedades secretas voltassem a cuidar da nossa cidadania e impedissem tantos mal feitos que a classe política vem fazendo perante uma Nação paralisada e sem rumo.

A Direção

DIRETOR:

Armando Moraes Delmanto

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EXPEDIENTE
NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU WEBJORNALISMO DIÁRIO

A UNIFICAÇÃO DA ITÁLIA

HERÓIS DE DOIS MUNDOS O REI BOM

A unificação da Itália ocorreu sob o comando de três lideranças indiscutíveis: a primeira delas, o Rei Vittorio Emanuele II, da Casa de Savóia, que desde o Reino da Sardenha/Piemonte (1848), passou a lutar seriamente pela unificação italiana; a segunda liderança, a que representava a corrente monarquista, é a do Ministro de Vittorio Emanuele, o banqueiro e fazendeiro Camilo Benso – Conde de Cavour, que se revelou um excelente administrador e estrategista político, a nível interno e internacional, viabilizando o apoio, num primeiro momento de Napoleão III à causa da unificação; e a terceira liderança é a do herói de dois Continentes, a de Giuseppe Garibaldi, já com longa e bem sucedida experiência de luta, representando a corrente republicana, que à frente de seus camisas vermelhas mobilizou todos os italianos pela causa comum. Garibaldi representou a grande liderança militar e política do movimento, sabendo reconhecer, mesmo sendo republicano convicto, a liderança de Vittorio Emanuele II, como Rei da Itália, para evitar a divisão da grande pátria com que sempre sonhara.

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Giuseppe Garibaldi:

“Montado em seu cavalo, Garibaldi é o Capitão. Nas verdes ondas do campo, A sua rédea é o timão.”

Érico Veríssimo

Os versos reproduzidos por Érico Veríssimo em O Continente, primeira parte de “O Tempo e o Vento”, mostram a força com que a imagem desse grande herói está enraizada em nossa cultura popular. A história sempre registra os feitos dos heróis autênticos. Giuseppe Garibaldi foi um deles. Chefe militar revolucionário, desde moço participara das lutas políticas em pról da unificação de seu país. Pertenceu à “Jovem Itália”, uma sociedade secreta fundada (1831) por Giuseppe Mazzini, que se notabilizou em procurar atrair para a causa da unificação italiana a presença de expressivos segmentos da sociedade, como os camponeses e os operários. Garibaldi, perseguido politicamente, participou como exilado político, de lutas no Uruguai e no Brasil. No Uruguai, lutou ao lado de Venâncio Flores. No Brasil, participou da Guerra do Farrapos, já com sua imagem de revolucionário firmada no Brasil, tendo seus feitos cantados e glorificados nas canções de campanha.

Durante a Regência e o Segundo Reinado, a Guerra dos Farrapos foi o mais longo movimento de contestação do Poder Central. Teve início com a revolta das elites contra os impostos excessivos e contra a restrição à liberdade da província. Para essa empreitada que durou dez anos (1835/1845), os líderes do movimentos contaram com a adesão dos sociedade macê ovimeno, auxiliado pela sociedade macônica liderado pelo Coronel Bento Congalves, contou com a participação e a experiência revolucionária de Giuseppe Garibaldi. Os farrapos entram em Piratini e proclamam a República do Rio Grande do Sul- República de Piratini - que nesse momento se desligava do goveto central. Bento Gonçalves foi eleito presidente da nova república. Juntamente com Davi Canabarro, Garibaldi, em 1836, conquistou Santa Catarina.

Com a maioridade de D.Pedro II, em 1840, os farroupilhas

foram anistiados, mas se recusaram a depor as armas. Convocaram uma Assembléia Constituinte, que elegeu 36 deputados, isso em 1842. Promulgaram uma Constituição inspirada nos princípios das revoluções norte-americana e francesa.

No ano de 1845 foi selado um acordo entre os revolucionários e o Poder Central (Barão de Caxias , futuro Duque , foi o responsável pelo final feliz). Os soldados rebeldes seriam anistiados e incorporados ao Exército Nacional ; os escravos que participaram do movimento seriam alforriados; e os estanceiros seriam anistiados e teriam reconhecidas as suas lideranças na região.

Segundo Érico Veríssimo, a Guerra dos Farrapos terminava “com honra para os dois lados”. (AMD)

Humberto I – Ö Rei Bom”

Após o falecimento de Vittorio Emanuel II – o grande arquiteto da unificação italiana - italiana - seu filho, Humberto I, assume o trono e se revela como o consolidador da unificação e como o pacificador das divergências naturais do país, antes dividido entre tantos ducados, reinos e repúblicas...

Pelo apoio que sempre soube prestar de forma positiva às vítimas de inundações, terremotos, epidemias de cólera e outras tragédias nacionais, foi aclamado pelo povo como “o bom “.

Interessou-se, particularmente, pela política externa italiana, sendo o responsável pela reaproximação com a Alemanha e a Áustria, incentivou a expansão colonial italiana.

Em um atentado terrorista ocorrido em 1900, após 22 anos de um reinado que serviu para consolidar definitivamente a unificação da Itália, morria assassinado Humberto I – “O Rei Bom”. (AMD)

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Acervo Revista Peabiru

Na busca para recriar o cenário real da Botucatu de 1898 e 1900, com a presença forte e entusiástica da colônia italiana entre nós, busco-o, com sucesso, nas crônicas escritas pelo Prof. Pedretti, nos anos 50, no jornal “DEMOCRACIA”.

Exéquias por Humberto I, em Botucatu

A colônia italiana em Botucatu sempre foi numerosa. Trabalhadores, afáveis no trato, falando logo um patuá que não era italiano nem português, mesclaram-se logo com a população local. Trouxeram eles, para a terra de adoção, seus costumes típicos, os seus pratos regionais, as suas músicas prediletas. Gregários por excelência, fundavam, logo após a chegada, as Sociedades de Beneficência ou de Socorro Mútuo e as

Bandas de Música, obrigatoriamente chamadas

Giuseppe Verdi, Giacomo Puccini, XX de Setembro Nas festas cantavam-se trechos de ópera, “romanzas”, e as cançonetas das várias regiões. Declamava-se Carducci e Pascoli.

Comentava-se Dante Alighieri. Lia-se Edmondo D’Amicis, Fogazzaro. As páginas políticas de Mazzini mereciam especial carinho. Nunca puderam compreender a vida sem o trabalho, sem o vinho e sem a música.

- Brasil e Itália - em funeral. Em muitas residências lia-se o dístico: “Lutto nazionale italiano”. A compunção era geral.

Às 9 horas e meia, saía da Sociedade “Croce di Savoia” (onde é hoje a sede do Tiro de Guerra 123, à rua General Teles) • cortejo que levava o busto, artisticamente trabalhado e de autoria de Alfredo de tal (não conseguimos saber o sobrenome; sabemos apenas que era cunhado e sócio do escultor Paris Bresciani, da Marmoraria Progresso) foi colocado sobre o coche preto de Caetano Tecchio, puxado por cavalos brancos adornados com mantas de veludo preto e onde se bordaram as insígnias da Casa de Savoia.

É bem verdade ( e isto foi uma realidade em Botucatu) que eles tinham as suas divergências político-religiosas. Havia os que defendiam o Papa e os que condenavam Sua Santidade; havia os monarquistas e os republicanos. Havia, enfim os clericais e os maçons. Em certa época, a coisa chegou a tal ponto nesse terreno, que a cidade quase foi teatro de uma luta entre dois grupos. Pela rua do Comércio desciam os papistas, em demanda do Largo São Benedito. Do outro lado da cidade, com idêntico destino, vinham os antipapistas. Os dois grupos estavam dispostos a tudo. Foi necessário que a fôrça policial interviesse com energia a fim de dispersar os manifestantes e evitar, dessa forma, um inútil choque.

Mas se essa divergência existia, nem por isso a colônia deixava de ser unida, principalmente nas solenidades que relembravam as datas pátrias. Esqueciam-se as querelas, baniam-se os ressentimentos, conjugavam-se os esforços para que a festa, fosse qual fosse, atingisse o máximo brilho.

Tudo se fazia à larga. A tomada de Porta Pia foi um dos episódios notáveis. O outro, os funerais do Rei Humberto I.

Humberto I, filho de Vitor Emanuel Il, fora assassinado em Monza, pelo anarquista Bresci, em 29 de julho de 1900.

Se o fato repercutiu tragicamente na Itália, não menos dolorosa foi a repercussão em Botucatu.

A infausta notícia chegou a esta cidade, por telegrama de São Paulo, no dia 30 de julho. Imediatamente fecharam-se as casas de comércio. Nos edifícios públicos, nas sedes das duas sociedades italianas, na Agência Consular da Itália e na Agência Consular da França, na redação do jornal “O Botucatuense” e em inúmeras residências particulares, ao lado do pavilhão brasileiro, o tricolor peninsular foi hasteado a meio-pau. A diretoria da Sociedade Pró-Pátria enviou ao Consul, em São Paulo, um telegrama. A outra Sociedade “Croce di Savoia”, convocou uma reunião da colônia para o dia seguinte, na qual se deliberou prestar excepcionais homenagens ao monarca assassinado. Encarregou-se das providências uma comissão composta dos srs. Orestes Taddei, presidente; Aleixo Varoli, vice-presidente; Salvador de Vivo, secretário; Garibaldi Bonetti, vice-secretário; Stefano Ferrari, tesoureiro; Pedro Delmanto, José Nigro, Alfredo Nardini, Francesco Perfetti, Guilherme Rossi, conselheiros. Como medida preliminar, deliberou-se enviar ao Consul um telegrama em nome de toda a colônia e iniciar uma subscrição para fazer face às despesas.

As cerimônias fúnebres realizaram-se, com toda a pompa e solenidade, no dia 4 de agosto. De todas as fazendas chegavam levas e levas de colonos italianos a fim de participar das homenagens. Os armazens cerraram as portas. As casas, na sua maioria, apresentavam os pavilhões das duas pátrias

Às 10 horas iniciou-se, na Catedral, a cerimônia fúnebre. No centro do templo erguera-se um grande catafalco. Sobre este, o busto de gesso cercado de flores e de inscrições recordando episódios da vida do monarca. O “Libera me” foi cantado pela sra. Olímpia Spano, que possuia uma casa de jóias onde hoje é o “Snooker Ferrari”, com acompanhamento de órgão.

A assistência era numerosa, tanto assim que a velha Catedral ficou completamente cheia. Notavam-se, entre os presentes, o dr. Luiz Ayres de A Freitas, juiz de direito; o dr. Miguel de Zacarias Alvarenga, presidente da Câmara Municipal; o dr. Rafael Sampaio, intendente ; o dr. Carlos Ribeiro, promotor público; o sr. Eugênio Touras, agente consular francês; o sr. Aleixo Varoli, agente consular italiano interino; o dr. Antônio José da Costa Leite, pela Loja Maçônica “Guia do Futuro”, da qual era venerável; o sr. Avelino Carneiro, diretor do jornal “O Botucatuense”; o Venerável Alberto Araujo, pela Loja Maçônica “Regeneradora”; diretores, professores e alunos do Grupo Escolar “Dr.

Cardoso de Almeida”; e as sociedades “Croce di Savoia” e “Pró-Pátria”, com os respectivos estandartes. A Loja “Guia do Futuro” compareceu com seu estandarte conduzido por Julio Tognozzi. Por razões óbvias e em se tratando de uma cerimônia da Igreja Católica, o estandarte maçon ficou no adro.

Terminada a cerimônia religiosa, o cortejo desceu pela atual rua Monsenhor Ferrari, depois pela rua do Comércio e se dirigiu ao Largo São Benedito (hoje Praça Cel. Moura). À frente vinha o agente consular italiano, tendo à sua direita o juiz de Direito e à esquerda o presidente da Comissão de Comemorações; em seguida, incorporada, a Câmara Municipal, as outras autoridades da cidade e os componentes da comissão; depois a Banda “Giacomo Puccini”, as duas lojas maçônicas, as escolas, os colégios, as duas sociedades italianas com os respectivos estandartes e coroas e, finalmente, grande número de peninsulares e brasileiros.

Fechava o cortejo um piquete de soldados da polícia.

Da escadaria da Igreja de São Benedito (hoje demolida; ali se ergue, atualmente, o Posto “Standard”) foram pronunciados os elogios fúnebres.

Discursou primeiramente o sr. Aleixo Varoli; em seguida, o dr. Orestes Taddei; o dr. Tasso Ribeiro, pela Loja “Guia do Futuro”; 0 dr.Luiz Ayres de A Freitas, pela Câmara Municipal e pelo povo botucatuense; o sr.

Alberto de Araujo, Pela Loja “Regeneradora”; o sr. Angelo Bellise e, por último,o sr. Salvador De Vivo.

Depois de um minuto de silêncio, o piquete de policiais prestou as honras militares, disparando um salva de fuzis.

Dispersou-se o cortejo. O coche fúnebre, cercado pelas autoridades e pelo povo, reconduziu para a Sociedade “Croce di Savoia” o grande busto de gesso de Humberto I. A marcha se realizou ao som de músicas fúnebres executadas pela Banda.

Caso interessante: O autor do busto era tocador de baixo da “Giacomo Puccini”.

Assim se realizaram, a 4 de agosto de 1900, vai para meio século, em Botucatu, as exéquias pelo “Re Bueno”.

(jornal “Democracia”, de 17/12/1950)

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O JOGO DO QUEIJO

Concluindo o trabalho de pesquisa, a Revista

Peabiru, foi buscar no livro “No Velho Botucatu”, de Sebastião de Almeida Pinto, 2ª edição de 1994, à pág. 139, o relato dos jogos da colônia italiana:

“Uma referência aqui deve ser feita ao jogo do queijo, praticado por elementos da colônia italiana. Arranjavam um queijo bem curado, desses de tipo comum.

Enrolavam a sua volta uma cinta ou correia.

E lançavam-no pela rua, para ver quem o atirava mais longe. Os praticantes dessa modalidade, usavam a avenida do Campo Santo, hoje D. Lucio, para teatro de suas façanhas, que terminavam sempre em comedorias e bródios, no José Bolognini, o popular Geppo. Entre os jogadores de queijo, figuravam o banqueiro Francisco Botti, Julio, Rafanelli, Tognozzi, José Bolognini, Adolfo Dinucci e Adolfo Pardini, Nardini, Lovato, e outros bons italianos do passado. O desembargador Alcides de Almeida Ferrari, naquele tempo jovem advogado, era um dos competidores desse esporte, cujas partidas terminavam em suculentas macarronadas, cujo fromaggio era o que tinha estado em jogo.

Na casa de José Bolognini, onde se jogava tresetti e se bebia bom chianti, funcionava o Fanfulla Clube. Curiosa sociedade de gastronomos e amigos do vinho. Após as patuscadas, os comensáveis faziam uma coleta, para adquirir caixões de defuntos.

Para enterrar indigentes, é bom esclarecer, e que nunca faltavam. José Bolognini, contou-me o Prof. Raymindo Cintra, para os amigos, era o Major. E fazia aniversários natalícios, quatro vezes ao ano...a pedido dos amigos, que não dispensavam os cabritos magistralmente preparados pela senhora Bolognini...”

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