Edição 1049

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PÁGINAS 3 e 4

2– Peri é interpretado por Márcio Garcia e Ceci é interpretada por Tatiana Issa. O casal empolgou o público e tornou popular a grande criação literária de José de Alencar que foi a ópera “O GUARANI”, de Carlos Gomes, consagrada na Europa.

3– O filme mostra o ataque dos índios aimorés à fortaleza da fa- mília de Ceci. Cenas violentas mostram o grande risco corrido por todos, familiares e agregados.

4– Além de Márcio Garcia (Peri) e Tatiana Issa (Ceci), o filme contou com as interpretações de Herson Capri, Tonico Pereira e Glória Pires

NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU ANO IV Nº 1049 TERÇA-FEIRA , 19 DE MARÇO DE 2024
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CARLOS
GOMES
da Cuesta NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU ANO III Nº 737 SÁBADO E DOMINGO, 18 E 19 DE MARÇO DE 2023
Em 19 de março de 1870, aconteceu a estréia mundial no Teatro alla Scala de Milão, da ópera “O GUARANI”, de CARLOS GOMES. Páginas 2 e 3
Diário
literário
Conheça o importante trabalho
de Elda Moscogliato – a Cronista de Botucatu! – sobre Carlos Gomes e sua obra “O Guarani”, apresentada com sucesso na Europa, em 19 de março de 1870.
DO FILME “O GUARANI”, DIRIGIDO POR NORMA BENGUEL A GRANDE ÓPERA POPULAR?!? Uma ÓPERA na passarela do samba? É possível?!? Página 2 “O GUARANI” no Sambódromo?!? LEITURA DINÂMICA Diário da Cuesta 6 1– O GUARANI é a história de amor proibi- do entre o índio Peri e a jovem portuguesa Ceci, um filme de Norma Benguel. O relacionamento se concretiza com o consentimento do pai da moça, graças ao ataque dos índios Aimorés à fortaleza de sua família. É quando o fidalgo pede a Peri que salve sua filha. Peri é um jovem índio goita- cá. Os dois resolvem fugir juntos para o meio da floresta mas são surpreendidos por uma tempestade O filme foi baseado no clássico de José de Alencar. Obra que valoriza o cinema nacional.
5– Já atores consagrados na Globo, Márcio Garcia e Glória Pires enriqueceram com suas interpretações esse filme de Norma Benguel

A R T I G O

Carlos Gomes no Teatro Alla Scala de Milão, Itália

Sérgio Eduardo Montes Castanho – professor de História da Educação na UNICAMP. Titular da Cadeira 35 do IHGG Campinas.

Quem ler o título acima talvez se enfade e desabafe: outra vez?

De fato, já se gastaram resmas e mais resmas de papel e hectolitros de tinta para narrar os feitos do compositor operista campineiro Antônio Carlos Gomes, no afamado teatro milanês Alla Scala. Mas sosseguem os afoitos. Não vou escrever uma palavra sequer sobre as performances operísticas do Tonico de Campinas no palco do norte da Itália. Vou apenas descrever o que vi em visita recente a esse magnífico teatro e, especialmente, ao museu que ocupa áreas importantes da casa de espetáculos.

O saguão de entrada do Scala é feericamente iluminado e lindo na sua decoração clássica. Por uma porta à frente desse saguão entrei numa frisa e pude observar, por alguns momentos, todo o interior do teatro, o palco, o fosso da orquestra, os camarotes, as frisas, a galeria, a plateia – tudo me trazendo à memória o lindo Teatro Municipal de Campinas, tristemente demolido há mais de meio século. Muito parecidos! Aliás, os teatros em estilo clássico, os municipais de São Paulo e do Rio de Janeiro, por exemplo, são muito semelhantes ao Alla Scala

Nessa observação tive a sorte de ver e ouvir um pouco de uma ópera de Mozart que estava sendo encenada. Maravilha pura!

Saindo dali, dirigi-me ao museu, onde me esperavam intensas emoções, estéticas e de sentimento. Sobre uma mesa de honra pousavam os bustos em bronze de todos os principais operistas italianos, cujas obras foram levadas no Alla Scala: Verdi, Puccini, Rossini e enorme galeria. Ali, nesse local de honra do Museu apenas um estrangeiro. Quem? Wagner, o gênio alemão de Tristão e Isolda? Mozart, Beethoven, quem? Parece incrível, mas o único bronze de estrangeiro sobre essa mesa era o do brasileiro Antônio Carlos Gomes, o nosso Tonico de Campinas.

Nas paredes, pendurados, havia quadros a óleo com retratos de outros compositores italianos e estrangeiros insignes; sobre pedestais, bronzes de compositores e cantores líricos, como Caruso; um dos quadros era o da soprano Tebaldi, que impressionava pela beleza da cantora, tão linda quão virtuose.

Mas bronze de estrangeiro na mesa de honra só o de Carlos Gomes!

Também me chamou a atenção um quadro pendurado em uma das paredes do museu, retratando a fachada do Teatro Alla Scala

DIRETOR:

EDITORAÇÃO

por volta de sua inauguração. A tela era assinada por Angelo Inganni e tinha por título Facciata del Teatro Alla Scala Data: 1852. Uma linda obra.

Depois dessa emocionante incursão, saí para o ar livre da fria primavera do norte italiano. A emoção da visita foi tão intensa quanto, dias mais tarde, a de percorrer o teatro grego de Siracusa, no sul da Itália, na bela Sicília A grande diferença é que este era de dois milênios antes e nele jamais se apresentou nenhum brasileiro, até porque Brasil não existia…

Campinas, SP, Brasil

Diário da Cuesta 2 EXPEDIENTE
Armando
Moraes Delmanto
E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes
com br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689 NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU WEBJORNALISMO DIÁRIO O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.
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Fachada do teatro Alla Scala de Milão, retratada em 1852 por Angelo Inganni.

A R T I G O

Antonio Carlos Gomes

Recente e bela obra enriquece mais nossa estante musical herdada do velho e suave flautista, nosso pai. Trata-se de: Do Sonho à Realidade, de Juvenal Fernandes, musicólogo conceituado, que traça a biografia de nosso músico maior: Antonio Carlos Gomes, por ocasião do transcurso do primeiro centenário de morte, ocorrida em 16 de Setembro de 1896, no Pará, praticamente exilado em seu próprio país, longe da Campinas – seu berço natal; de S.Paulo dos seus amores e do Rio de Janeiro – cenário de glórias nacionais, vítima consequente da atmosfera de rivalidades e ciumeiras de que se viu envolto a vida inteira, mercê da fragilidade humana ambiente. Causa maior: sua indiscutível vitoriosa aura de renome mundial e a grande amizade que o uniu a Pedro II, seu protetor.

O livro em sua segunda edição marca o transcurso também do primeiro centenário da Imprensa Oficial do Estado de S. Paulo , prefaciado pelo renomado Sólon Borges dos Reis que une ambas efemérides num só intuito valioso aos anais históricos paulistas.

São duzentas e tantas páginas profusamente ilustradas contendo sérias pesquisas através das quais o Autor pôs seu maior emprenho em dotá-las de uma documentação honesta e responsável , pelo depoimento de testemunhas verazes que viveram a época do compositor, registrando as luzes e as sombras que lhe amargaram os dias.

Juvenal Fernandes enfatiza o meio ambiente em que viveu o Tonico de Campinas, rapazinho promissor e alegre, benquisto pela juventude do Largo S. Francisco, enaltecendo-lhe os dons de cantor lírico, pianista exímio , dominador diletante do violoncelo.

Desenvolve ainda, o período áureo do Rio/São Paulo do Segundo Império , em que Pedro II , sábio de seu tempo , muito influenciou a mocidade estudantina da Capital, Rio, Bahia, Pernambuco , salientando poetas e artistas, valores literários que encimavam as Artes, as Ciências, a Política verdadeira , chamariz polarizador de sábios estrangeiros que por aqui aportavam.

Quando em 1858 visitou Pedro II Campinas por quatro dias, teve ocasião de ouvir a família Gomes , de pai a filhos, todos músicos, e melhor aquilatar os pendores de Antonio Carlos , do que resultou uma amizade cansagradora

Tempos depois, o rapazinho ia-se para o Rio e lá se matriculava no Conservatório Musical sob a direção de Francisco Manuel da Silva. Feliz no caminho certo a que se voltava, compõe Carlos Gomes sua primeira Cantata , aplaudida com louvor. Logo após, seu talento criador escreve a primeira, entre as oito óperas que o imortalizaram: Noite do Castelo.

cada ao Imperador , num preito de gratidão. Levada à cena, o espetáculo resultou uma noite inesquecível.

Presentes a Família Imperial , a Côrte no esplendor das fardas e dragonas, príncipes da Igreja, ministros e diplomatas, mulheres resplandecentes de sedas e jóias, artistas e intelectuais, ao final grandioso do espetáculo, todos aplaudem de pé – honra só concedida aos gênios – o vitorioso Autor.

Daí para a Europa foi justa recompensa. Faltava-lhe a cultura operística , o aprofundado estudo de Harmonia e Composição , mais amplo ambiente, a orientação de mestres. O Imperador proporciona-lhe a ocasião, custeando-lhe com seus próprios recursos, não do Tesouro , os estudos em Milão – Itália.

Vem daí, a crítica maldosa infiltrada sutilmente em sua vida crivada de dissabores. Alegam-lhe a incisiva influência verdiana em suas belíssimas óperas. Nenhuma novidade. Carlos Gomes fez óperas na terra da ópera . Como ele, Tchaikovsky, Beethoven e tantos outros, sofreram as mesmas aleivosias, mas estas passaram e as músicas por eles criadas são perenes.

Na Itália, em 1870 , no Scala de Milão que todo ano representava uma ópera nova de compositor/revelação , explode , para o mundo lírico a ópera O Guarani. José de Alencar quebrara os grilhões do lusitanismo inaugurando um idioma gentílico, de caracteristica brasilidade. O romance épico extrapola fronteiras e ganha a velha Europa.

Baseada no poema lusitano de Antonio Feliciano de Castilho , com libreto de Antonio José Fernandes dos Reis , é dedi -

Carlos Gomes apaixona-se pelo lírico indianismo alencariano. Providencia o libreto e tem a cooperação de Scalvini e do poeta d’Ormeville. Logo após, a música operística. É um deslumbramento. Na noite de apresentação d’O Guarani, a Europa inteira inclina-se ante a revelação do nosso poema épico.

Por nove anos consecutivos, O Guarani é representado nas principais plateias do mundo, da Itália à Rússia; da Polônia à França; da Argentina à Cuba; da Inglaterra ao Rio de Janeiro. No elenco, os grandes artistas da época; no cenário a magnificência da selva tropical, na música descritiva, os rumores de pássaros e animais selvagens, do sussurro das madrugadas estivais ao murmúrio dolente dos nossos rios selvagens e misteriosos. É uma epopeia magnífica.

Os anos correram. Com o advento da República, exila-se e morre o Imperador. Muda-se o cenário político. São outros tempos. Morrem-lhe a esposa e os filhos.

Antonio Carlos Gomes envelhece na solidão e no ostracismo ostensivo na própria Pátria. Por fim, repousa em definitivo em seu berço campineiro.

Campinas honra-se e se orgulha por tê-lo como filho dileto.

Diário da Cuesta 3

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LEITURA DINÂMICA

– Recém inaugurado no Pará o MEMORIAL CARLOS GOMES, que abrigará parte do acervo do Instituto Estadual Carlos Gomes. Estudantes e professores do Instituto, servidores e pessoas que dedicaram parte da vida ao ensino da música no estado compareceram à inauguração.

2– O maestro Carlos Gomes com prestígio internacional, sempre valorizando o Brasil, era lembrado também nas charges as mais variadas...

3– O consagrado escritor Rubem Fonseca com seu livro ”O Selvagem da Ópera”, trouxe um retrato fiel do histórico brilhante da atuação de Carlos Gomes. Com o mesmo título do livro, a Rede Globo está preparando uma mini-série ou novela sobre o maior músico clássico da América Latina no final do século XIX e início do século XX.

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– o Diário da Cuesta já fez uma edição especial dedicada ao grande músico brasileiro. A saudosa Cronista de Botucatu, ELDA MOSCOGLIATO, escreveu “Antonio Carlos Gomes”. Vale a leitura!

É bom saber O artista plástico e conhecido webdesigner botucatuense Marco Antonio Spernega, foi quem idealizou a Cuesta de Botucatu estilizada e com todo o seu simbolismo: a escarpa, o verde representando as nossas matas e o azul do céu... A criação do Spernega valorizou a nossa CUESTA que teve, em sua estilização, o impacto que as obras dos grandes artistas tem. Vejam no Expediente o logotipo do Diário da Cuesta! Marco Spernega tem exposto seus trabalhos em concorridas exposições. Esta ilustração é uma obra de arte e de simbolismo histórico!

Diário da Cuesta 3

Momentos Felizes

FOLHAS DISPERSAS –LEMBRANÇAS

Divagando sobre a necessidade das comunicações encontrei nas estantes da biblioteca, verdadeira relíquia do amor por escrito. Um Álbum com suas folhas amareladas pelo tempo, em sua capa azul descorada uma gravação escrita em diagonal as palavras “LEMBRANÇAS”. Tratava-se de um presente dado por meu pai à minha irmã Amélia no dia em que ela completou 18 anos – 1º de novembro de 1938 ! – 85 anos são passados..., estamos em 2023...!

Em sua dedicatória à filha dizia: “ Amelinha, Louvado seja Deus. Este álbum para você é como uma flor e nele se encerra o sentimento de tuas pessoas queridas. Guarde-o com carinho para a lembrança de teu passado de memória. Lembre-se sempre que a beleza de uma moça consiste na delicadeza de espírito, caráter bem formado e simples mas cheio de bondade resistindo sempre os maus impulsos que venham trazer dissabores. Escusado é dizer-te que o que o mundo possui de bom e agradável teu pai deseja-te de coração e junto roguemos sempre a Santo Antônio dar-nos a sua benção dando-nos força para sabermos evitar as mazelas do mundo e assim, com ânimo e coragem carregarmos a nossa cruz ao Calvário, sempre bem dispostos e sem pessimismo para vencermos na vida. De teu pai Pedro. Getulina, em 1º de novembro de 1938”.

Nas décadas de 1930/1940 era muito comum haver

entre as jovens sonhadoras a posse de um Álbum, de caráter transitório onde cada uma registrava em suas páginas uma lembrança, uma palavra amiga, um preito de saudades, um agradecimento e outros registros de momentos felizes, não bastando apenas o amor e o respeito ao próximo. Na prática precisavam ser por escrito para dizer, poeticamente “eu estou aqui”. Hoje como também naquela época, os contatos face a face tendem a rarear e a escrita, de próprio punho em folhas dispersas era o ato de aproximação.

Se quem escreve o faz para o outro, o outro está sempre presente quando escrevemos. Trata-se, pois, de um exercício solitário na aparência, mas que nos põe em contato com as pessoas queridas ou eventuais leitores. Quando apagamos, quando corrigimos, nós o fazemos para enfrentar a severidade do(a) leitor(a) mais atento tanto o escrevinhador como o outro. Quando ouvimos alguém dizer que nos leu ocorre de imediato a sintonia da alma porque saímos da solidão para um encontro que não havia sido programado.

O fato de meu pai ter se dirigido à uma filha que completava 18 anos justifica plenamente rabiscar esta singela crônica. Naquela época eram precários os meios de comunicação e hoje somos bombardeados com excessivas informações sejam jornalísticas, televisivas, redes sociais, livros e revistas e não mais se ouve alguém dizer ter enviado uma cartinha pelo Correio; simplesmente desapareceu o romantismo de outros tempos...

É paradoxal, a linguagem de hoje não mais se adequa ao que se fazia nas saudosas páginas de um Álbum íntimo, afastando o medo de estar só, da morte e do vazio do grande silêncio interior, fazer os registros para a posteridade porque o amanhã somos ontem e mais um dia.

No Álbum em comento Amélia recebeu de suas inúmeras amigas as palavras do mais inspirado amor, seja através de poesias, seja através de mensagens, seja através do carinho escancarados na forma manuscrita, como uma esperança lançada na direção da imortalidade.

Diário da Cuesta 4
Roque Roberto Pires de Carvalho

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