Diário da Cuesta
NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU
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“EU NASCI NAQUELA SERRA...”
ANGELINO DE OLIVEIRA
É um orgulho para Botucatu possuir o TRIO PIONEIRO DA MÚSICA RAIZ: Angelino de Oliveira, Raul Torres e Serrinha, que praticamente fazem de Botucatu e região o BERÇO DA MÚSICA CAIPIRA OU MÚSICA RAIZ. Sim, porque é pacífico o entendimento de que Piracicaba é a Capital da Música Caipira e o caipirês está enraizado em Piracicaba e já é patrimônio imaterial da cidade. E o registro do sotaque caipira como patrimônio reúne expressões em Piracicaba...
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TRIO DE OURO DA MÚSICA RAIZ
Raul Torres
Angelino de Oliveira
Serrinha
ANO IV Nº 1075 QUINTA-FEIRA , 18 DE ABRIL DE 2024
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Diário da Cuesta 3
“EU NASCI NAQUELA SERRA...”
ANGELINO DE OLIVEIRA
É um orgulho para Botucatu possuir o TRIO PIONEIRO DA MÚSICA RAIZ: Angelino de Oliveira, Raul Torres e Serrinha , que praticamente fazem de Botucatu e região o
BERÇO DA MÚSICA CAIPIRA OU MÚSICA RAIZ.
Sim, porque é pac í fico o entendimento de que Piracicaba é a Capital da Música Caipira e o caipirês está enraizado em Piracicaba e já é patrim ô nio imaterial da cidade. E o registro do sotaque caipira como patrim ô nio re ú ne express õ es em Piracicaba...
Isso é muito bom. Os bons empresários e as prefeituras espertas estão partindo para a valorização do nosso interior. Em Piracicaba tem um escritor, Cecílio Elias Netto , que publicou o “Dicionário
do Dialeto Caipiracicabano” ( Arco, Tarco, Verva ).
No dicionário, TARCO ”é o mesmo que talco. Piracicabano, como se sabe, sempre fica em d ú vida, no barbeiro, entre tarco (talco), arco (álcool) e Acqua Verva (Velva). Mas, com muié , prefere tarco Muié diz: “Depois do banho meu marido sempre qué qui eu use tarco!..
Quem é nascida ou nascido no interior sabe dar valor à s boas coisas e causos da gente simples da zona rural. A mais famosa música caipira é a “Tristeza do Jeca”, do Angelino de Oliveira, de Botucatu. Essa música é conhecida no mundo todo, na 2ª Grande Guerra Mundial foi tocada nas tropas aliadas, era um código. Ela retrata muito bem como era o homem simples e de como ele via e vivia a vida. Já foi gravada pelos melhores cantores do Brasil.
Vejam que linda letra:
“Nestes versos tão singelos
Minha bela, meu amor
Pra você quero contar
O meu sofrer a minha dor
Sou igual o sabiá
Quando canta é só tristeza
Desde o galho onde ele está
Nesta viola eu canto
E gemo de verdade
Cada toada representa
Uma saudade
Eu nasci naquela serra
Num ranchinho a beira-chão
Todo cheio de buraco
BIOGRAFIA / WIKIPÉDIA
Angelino de Oliveira (Itaporanga, 21 de abril de 1888 - São Paulo, 24 de abril de de 1964) foi um compositor e instrumentista brasileiro
Compôs Tristeza do Jeca,[1] Moda de Botucatu e Incruziada, entre outras canções, regravadas extensamente por artistas da MPB e da música sertaneja [2]
Foi em Botucatu que Angelino desenvolveu a maior parte da sua atividade musical, sendo o músico local mais cultuado
Onde a lua faz clarão Quando chega a madrugada Lá no mato a passarada Principia o barulhão Nesta viola eu canto E gemo de verdade Cada toada representa Uma saudade
Lá no mato tudo é triste Desde o jeito de falar Pois o jeca quando canta Dá vontade de chorar E o choro que vai caindo Devagar, vai se sumindo Como as águas vão pro mar E o choro que vai caindo Devagar, vai se sumindo Como as águas vão pro mar”
É a riqueza do interior deste Brasilzão!
É o valor da raça brasileira!
É muito importante lembrar a mais famosa parceria da m ú sica raiz nacional: Raul Tôrres e João Pacífico. Raul Tôrres , botucatuense que trabalhou na então Estrada de Ferro Sorocabana , era um poeta nato e um m ú sico de mão cheia: “Moda da Mula Preta”, “Cabocla Tereza”, “Pingo D’Água”, “Chico Mineiro” são algumas das suas m ú sicas que alcançaram sucesso nacional, com destaque especial para “Saudades de Matão”, cuja letra é comprovadamente de Raul Tôrres e a melodia atribu í da a Jorge Galati e Antenógenes Silva. E Antenor Serra (Serrinha) , seu sobrinho que
da cidade, embora outros tenham alcançado maior fama como Raul Torres e Antenor Serra, o Serrinha.[3]
Em sua obra destacam-se canções, tangos, valsas , sambas-canç õ es , e até um fox trot . O que mais se aproxima da m ú sica sertaneja são suas toadas, como a famosa Tristeza do Jeca . Uma das ediç õ es desta m ú sica, da década de 1920 , traz na capa a indicação de gênero: canção. O ritmo da melodia é dife -
também trabalhou na Sorocabana e que fez dupla com Raul Torres e outros parceiros. Serrinha foi autor de cerca de 300 composiç õ es. As composiç õ es preferidas de Serrinha merecem destaque: “Chitãozinho e Chororó”, “Bom Jesus de Pirapora” e “O que tem a Rosa”. Pela voz de Serrinha a toada sertaneja nascida em Botucatu percorreu os mais distantes rinc õ es.
Nesse cenário é que a Prefeitura Municipal de Botucatu fará a construção do MEMORIAL DA MÚSICA
CAIPIRA . Esse local será um grande atrativo turístico a consolidar a memória da nossa música raiz , fazendo com que as trajetó rias de grandes compositores como Angelino de Oliveira, Raul Torres, Serrinha, Zé da Estrada e os irmãos Tonico & Tinoco (nascidos em Pratâ nia , portanto em Botucatu , eis que o então Distrito da Prata pertencia ao munic í pio de Botucatu ).
O MEMORIAL será localizado na Cohab 1 ( Residencial Humberto Popolo ), que terá como estrutura arquitetônica uma recepção com área para exposiç õ es itinerantes + 3 salas onde serão ministradas aulas e cursos de m ú sica e terá até um pequeno Coreto. Uma escultura de uma VIOLA com 5 metros de altura ficará, imponente, à frente do MEMORIAL. (AMD)
rente do que hoje se canta, bem como o andamento sugerido na partitura: lento. Até uma parte da melodia está em altura diferente do que hoje se canta, modificação provavelmente introduzida pela gravação-versão de Tonico e Tinoco, fato já apontado por Paulo Freire em seu livro sobre o compositor).
Além de Tristeza do Jeca, Caboclo Velho, Sabiá e Prece, são verdadeiros clássicos sertanejos.
“Música Caipira, da Roça ao Rodeio”
Rosa Cintra Nepomuceno
Editora 34
Lançamento a nível nacional, por importante editora, da botucatuense Rosa Nepomuceno. Morando há alguns anos fora de Botucatu, nem por isso Rosa tem deixado de cultivar as suas raízes em sua cidade. Particularmente, para nós que fomos contemporâneos da autora, a sua presença tem permanecido sempre lembrada. No início dos anos 80 quando fundamos O Jornal de Botucatu, um bem estruturado bi-semanário informativo, fomos à procura de Rosa Nepomuceno para que fosse a jornalista responsável pela nova publicação que surgia.
Prontamente houve a sua concordância , o que revela o grau de confiança que ela nos dedicava, eis que estando no Rio de Janeiro, assumia a responsabilidade pelo jornal. À época, tínhamos em nossa equipe Francisco de Assis Cintra Nepomuceno, irmão de Rosa, como redator do jornal e como cronista.
De tradicional família botucatuense, Rosa já muito cedo demonstrava o seu pique e garra ao realizar um sonho familiar especialmente de seu querido avô Raimundo Marcolino da Luz Cintra -, da publicação do seu romance “Até as Pedras se Encontram”, no início dos anos 70
Pertencente à coleção Todos os Cantos, da Editora 34, o livro de Rosa representa um indiscutível marco na literatura brasileira. O consagrado escritor Ignácio de Loyola Brandão, em crítica literária publicada no jornal “O Estado de São Paulo”, de 12/12/99, desenha com clareza toda a grandiosidade dessa obra: “Música Caipira, da Roça ao Rodeio”, (Editora 34, 439 págs., R$ 33) é muito mais que um livro que pretende levantar uma trajetória (polêmica) da música que mais representa o Brasil. É um quase romance, cheio de casos e curiosidades (quantos sabem que o nome da dupla Chitãozinho e Xororó nasceu do título de um sucesso de 1947, composto por Serrinha e Athos Campos? ), que funciona como uma enciclopédia das transformações que o país sofreu, das mudanças exigidas quase sob pressão, da deformação de um gênero musical ou de sua adaptação a uma modernidade gelatinosa.o caso da música caipira, Rosa Nepomuceno pergunta: o que é ser moderno? Vale a pena? Que parâmetros regem esse modernismo? As imagens focam e desfocam. Os reis da música sertaneja (não pronuncie perto deles a expressão música caipira) vestem Armani e Ralph Lauren, usam chapéu americano, botas de pele
de avestruz.
No entanto, Rosa, uma das melhores jornalistas da atualidade, nascida em Botucatu e trabalhando hoje na imprensa carioca, que fez extensíssima pesquisa e tem o texto enxuto, bem humorado, não se deixa levar nem por saudosismos, nem por ortodoxias. Porque falar de música caipira, música da roça ou música sertaneja é navegar num mar de contradições, de incoerências, de discussões, de (às vezes) ressentimentos e conceitos que mudaram muito ao longo de um século.
Raízes - Este livro-enciclopédia, que pode ser lido como se fosse estruturado por meio de verbetes, cobre cem anos, ou mais. Ele procura raízes e mostra como essas raízes se perderam ou ficaram de tal maneira enterradas que quase não são vistas mais. De pai para filho, os violeiros perpetuaram sua habilidade. A viola ainda está aí, tocada, e muito. Essa viola de boa madeira, com cinco pares de cordas duplas, de arame, som meio frouxo teve serventia. Ainda tem, só que essa não é bafejada por spotlights, mesmo aparecendo nos arrasta-pé, nos bailes de fins de colheita, nas Folias de Reis, nas comemorações religiosas e familiares, no interior de São Paulo, no Pantanal, na divisa com o Paraguai, no centro oeste, em Minas Gerais. Será que a modernidade não acabou trazendo sangue novo a uma velha cultura? Será que essa modernidade, acusada de mercantilista, não fez renascer o gosto por um Brasil bucólico e lírico que ainda está dentro da gente e que não gostaríamos de perder? Será que essa viola transformada e eletronificada não ajudou a fazer uma crítica à vida urbana que, com sua agressividade e violência, vem matando aquilo que era a alma do brasileiro, o calor da convivência humana? Rosa Nepomuceno não se deixa apanhar na armadilha fácil da crítica primária. Ela expõe os dois lados, questiona, indaga, pressiona. Não dá razão a um nem a outro, corre no fio da navalha.
Quem imaginaria, pergunta Rosa, que essa música iria parar um dia nos apartamentos da classe média urbana, aos ouvidos de jovens acostumados aos Beatles, Tom Jobim, Chico Buarque, João Gilberto? Ela percorre uma gama de misturas e influências que mescla Caetano, os irmãos Campos, Adoniran Barbosa, Renato Teixeira (que fez a música caipira se desenvolver altamente), Geraldo Vandré e dezenas de outros. Foi a partir deles que se iniciou uma viagem de volta?
No liquidificador se misturam berrantes (alguns amplificados por equipamentos Fender Twin, Jazz Chorus 120 ou Yamaha), Internets, sina errante do caboclo ( mas que caboclo é esse que tem automóvel e televisão, assiste à Globo e quase não fuma mais cigarro com fumo de corda?) e som amplificado...
O livro de Rosa Nepomuceno como bem destacou o crítico literário, deverá polemizar. E isso no bom sentido! Polemizar para que se busque um rumo novo para essa música rica e representativa da brasilidade.
Em declaração exclusiva à coluna do João Bosco, no jornal “Diário da Serra” de 15/16 de janeiro de 2.000, Rosa mandou seu recado a Botucatu, falando de seu livro: “Foram 30 anos longe de Botucatu. Saí da cidade aos 19, em 1969. Passei um tempo na Bahia, atrás da mágica de Jorge Amado, com quem me correspondia desde os 15 anos; depois, por curto período, morei em São Paulo, me fixando em seguida no Rio de Janeiro. Aqui há 25 anos, instalada de frente para o Jardim Botânico, uma das áreas verdes mais bonitas da cidade, tento conciliar a vida de urbanóide com meu lado interiorano, apreciador da natureza e de uma certa tranquilidade.
Escrever “Música Caipira, da Roça ao Rodeio”, a convite da Editora 34, de São Paulo, foi como retomar o caminho de casa, às origens familiares, às vivências na cidade, à música e personagens que marcaram a cultura interiorana paulista. Foram 16
meses de pesquisas, entrevistas e viagens. Embora não tenha ido a Botucatu, pude me reencontrar com a cidade através dos contatos com meus tios Ray e Rivaldo Cintra, que me municiaram com informações, com familiares de Plínio Paganini, com a SECRETARIA DA CULTURA, com o próprio Tinoco - da dupla Tonico e Tinoco, que nasceu numa fazenda nos arredores - e com a viúva de Raul Torres, outro grande artista botucatuense. Os livros também me transportaram para as histórias de BOTUCATU, como os de FRANCISCO MARINS de HERNÂNI DONATO, ARMANDO DELMANTO e PAULO FREIRE, e ainda os trabalhos dedicados a ANGELINO DE OLIVEIRA, como o organizado por GASTÃO DAL FARRA Se meu trabalho abrangeu a ampla geografia do universo musical caipira, no centro-sul e centro-oeste do país, MINHA CIDADE FUNCIONOU COMO O CORAÇÃO DO LIVRO, me oferecendo subsídios saborosos para enriquecer a narrativa. Com muitas fotos, mapas, discografias, letras de música e até receita de feijão tropeiro, tenho certeza de que ele tocará a emoção dos conterrâneos. Agradeço ao amigo de longa data JOÃO BOSCO por este espaço precioso, mandando a todos um beijo carinhoso e em especial aos amigos da GENERAL TELES, do INSTITUTO CARDOSO DE ALMEIDA, do COLÉGIO SANTA MARCELINA, do footing no BOSQUE, das matinês do CASSINO, dos bailes do 24 DE MAIO. Saudades!”
Fica a certeza de que Rosa Cintra Nepomuceno marcou um grande tento literário.
Valorizou a cultura botucatuense, valorizou a tradição cultural de sua família e encheu de orgulho seus conterrâneos!
Valeu! Parabéns Rosa!
(AMD)
(Revista Botucatuense de Cultura – PEABIRU, nº 18, de janeiro/fevereiro de 2000).
Diário da Cuesta 4
ROSA NEPOMUCENO
MÚSICA RAIZ E A BOIADA CUIABANA
A reportagem especial da última edição da Revista Peabiru, “Turismo Rural ou Turismo-Raiz em Botucatu “ repercutiu de forma surpreendente. De início, vamos destacar a manifestação do Mestre da Viola de nossa cidade, o João Tavares. Reforçando o destaque dado para as comitivas do passado e a ligação de Botucatu com esse tipo de atividade rural que tanto propiciou o desenvolvimento do nosso Estado, conseguimos do Mestre Tavares a letra da moda de viola, Boiada Cuiabana. Essa música já havia sido lembrada pelo Prof. Vinício, uma vez que ela destacava a presença de Alambari (Piapara), como ponto de partida das comitivas.
Não foi fácil a pesquisa para se encontrar a letra dessa música que é do consagrado músico brasileiro Raul Tôrres.
Graças à atenção do Mestre Tavares, conseguimos a letra de Boiada Cuiabana, que reproduziremos no final desta reportagem. O Mestre Tavares é preciso que se destaque que é um dos mais expressivos professores de viola e violão, para música caipira ou música-raiz, de todo o Estado. No Vale do Paraíba temos o Braz da Viola, na região de Botucatu temos o Mestre Tavares.
Na casa do Mestre Tavares e nas Academias em que ele ensina a verdadeira música-raiz já passaram os grandes destaques da música caipira: Sampaio (da dupla Teodoro e Sampaio), Pardinho (que fez dupla com Tião Carreiro e João Mulato), Carreiro e Carreirinho, Jacó e Jacózinho, Zé Matão e Matãozinho e Zita Carreiro e Praiana, entre tantos outros que se dedicam só a divulgarem a música-raiz. De se destacar, também, os nomes dos cururueiros, Zito Moreira, Jonata Neto, Waldir Boiadeiro, Dito Carrara e Gusto Belo.
Também digna de registro a emoção vivida pelo legendário Lauro Branco com a matéria da qual ele é parte de destaque.
Já com o Moacir Fabiano, um dos mais consagrados Tropeiros do Brasil, conseguimos o texto da matéria publicada pela Revista Hippus (Edição n° 42, de março/83, páginas 40 e 41, com o título de “Tropeirismo em Botucatu”) , sobre O Museu do Boiadeiro que ele fundou e mantém bravamente em Rubião Junior.
Reproduzimos a matéria da importante revista brasileira que divulga e promove o nosso turismo-raiz
Cada vez mais e mais se consolida a ideia de que é possível, e mais, de que é viável a implantação do turismo-raiz de forma empresarial na cidade de Botucatu.
Com a implantação das Comitivas-Turísticas, com o roteiro que sugerimos, partindo do Rio Bonito (Porto Martins), passando por Vitoriana e descendo para Alambari (Piapara), o turismo-raiz já teria o seu roteiro
Acrescente-se a isso, a presença dos tropeiros, de vacas para leite fresco, da presença dos mestres da viola, da visita às antigas fazendas da região (especialmente a do Conde de Serra Negra, do Lageado, da Monte Alegre) da visita monitorada ao Museu do Boiadeiro, em Rubião Junior, e o sucesso será garantido.
-Para completar, a típica comida do tropeiro e a comida caipira em geral e teríamos a certeza do sucesso dessa empreitada no campo promissor do turismo.
Registro Histórico:
Boiada Cuiabana
Vou contar a minha vida, do tempo que eu era moço. De uma viagem que eu fiz, lá pro sertão de Mato Grosso. Fui buscar uma boiada, isso foi no mês de Agosto. Meu patrão foi embarcado, pra linha Sorocabana.
Capataz da comitiva, era o Juca Flor da Fama. Foi tratado pra trazer uma Boiada Cuiabana.
Eu saí do Alambari, na minha besta ruana.
Só depois de trinta dias é que cheguei em Aquidauana
Lá fiquei enamorado de uma marvada baiana.
No baio foi João Negrão, no tordilho Severino.
Zé Garcia no alazão, no pampa foi Catarino.
A madrinha e o cargueiro, quem puxava era um menino.
Na volta de Campo Grande, no Cassino fui entrando.
Uma linda paraguaia na mesa tava jogando.
Botei a mão na argibeira, dinheiro tava sobrando.
Ela mandou pra mim que fosse chegando.
Eu virei, disse pra ela: vá bebendo, eu vou pagando.
Eu joguei nove partida, meu dinheiro foi andando.
De Campo Grande parti, com a Boiada Cuiabana.
Meu amor veio na anca, da minha besta ruana.
Hoje eu tenho quem me alegre, na minha véia chopana.
Fomos buscar no Pequeno Guia de Botucatu (1988), o curriculum vitae de Raul Torres, com o desenho do Prof. Benedito Viníciuo Aloise (Vinício), retratando fielmente o consagrado autor botucatuense:
“Raul Torres (1906/1970), nascido em Botucatu, Raul Torres começou no rádio em 1927, na primeira emissora paulista: a Rádio Educadora, ao lado de Paraguaçu e Arnaldo Pescuma, Canhoto e outros. Convidado pelo Maestro Francisco Mignone, então diretor artístico da gravadora Parlophon, começou a gravar em 1930 Além desta, pertenceu ao quadro de outras gravadoras : Columbia, RCA-Victor, Odeon, Caboclo, Chantecler e Continental.
Raul Torres foi compositor, cantor e diretor de vários conjuntos regionais, desfrutando prestígio e popularidade por todo o Brasil e Paraguai. Cantou em duplas e trios com Florêncio, Serrinha, Rieli, Nininho e Castelinho.
Deixou gravadas 456 músicas de sua autoria e em parceria com João Pacífico.
Raul Torres perdura entre nós através de suas músicas, das quais destaca-mos: “Boi Amarelinho” “Chico Mulato”, Cabocla Tereza” e “Mula Preta”
A Moda de Viola e a Toada Sertaneja Botucatuense estão tipicamente representadas em Raul Torres”. (AMD).
SERRINHA: Antenor Serra, nasceu em Botucatu (26/06/1917 – faleceu 19/08/1978). Desde cedo tocava viola e participava de festas na comunidade. Trabalhou na Estrada de Ferro Sorocabana com seu tio Raul Tôrres e foi seu tio que o encaminhou para o mundo mágico do música. Com mais de 300 composições, Serrinha atuou com Raul Tôrres, Caboclinho, Rielis, fazendo muito sucesso na então considerada “música sertaneja”. Cigana, Boiada Cuiabana, Coisa Mió do Mundo, Cavalo Zaino, Do lado que o Vento Vai, Chora Morena, Caboclo Magoado, Caipira Namorador e Mula Baia são composições que fizeram sucesso. Interessante destacar que compôs com Athos Campos a música Chitãozinho e Xororó, em 1947 que originou o surgimento anos depois da mais famosa dupla sertaneja: CHITÃOZINHO E XORORÓ ! (AMD)
(Revista PEABIRU, nº 29, de março/abril de 2010)
Diário da Cuesta 5