Diário da Cuesta

NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU

NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU
Perdi um pelego branco. Tava gasto, surrado, pequeno, mas era um pelego bão.
Senti a perda. Afinal, amoitou-se ele num jaraguá alto da fazenda dos Correia? será que o perdi num banhado nas terras dos Fonseca?
Só Deus sabe!
Enfim, faz parte do preço que vivo pagando por não ter querência. Quem mandô andá por aí como um cão sem dono?
Talvez seja um castigo pequeno pra quem deixô mãe chorando na despedida?
Eu já devia ter abandonado essa sina, fosse pelo que fosse. Mas qual o quê!
De minha parte o que me resta? O ca-
valo baio envelhecendo? O cachorro preto na cor e no nome, perdendo a valentia e o faro? a traía surrada? o pala gasto, já não oferecendo garantia nas tempestades?
Já nem acerto mais contas. Andando por este mundo ganhei menos do que perdi.
O meu pelego branco, que nas horas de vento misturava-se com as crinas do baio, ficou pelos campos. Ao menos ainda sei que ele pode aninhar um nhambu, uma cadorninha desbandada.
Mas onde perdi meus sonhos? Em que várzea da vida ficou minha juventude? Em que retiro deixei minhas esperanças? Qual foi a última porteira aberta para o meu amanhã?
Muito bom. Os bons empresários e as prefeituras espertas estão partindo para a valorização do nosso interior. Em Piracicaba tem um escritor, Cecílio Elias Ne�o, que publicou o “Dicionário do Dialeto Caipiracicabano” (Arco, Tarco, Verva). No dicionário, TARCO é o mesmo que talco. Piracicabano, como se sabe, sempre fica em dúvida, no barbeiro, entre tarco (talco), arco (álcool) e Acqua Verva (Velva). Mas, com muié, prefere tarco. Muié diz: “Depois do banho meu marido sempre qué qui eu use tarco!.
È isso mesmo! As prefeituras estão incentivando (sempre em parceria com a iniciativa privada) a formação de monitores para a implantação do Turismo Rural. São dadas aulas de “caipirês”, com toda a terminologia da língua caipira. São contratados violeiros que conheçam as mais clássicas musicas caipiras. Cursos de culinária regional, com as receitas dos pratos típicos das comitivas. Enfim,
Qualquer dia perco o reio de guasca. Ou perco o laço. Eu vou cumprindo minha sina, deixando atrás de mim pelegos e ilusões, laços e boiadas, arreios e lenços de despedidas.
Só me conduz uma certeza: um dia tudo acaba e minha mãe, se viva, deixa de espera por mim.
proporcionar o resgate da cultura rural do século retrasado e implementar o poderoso e rentável ramo turístico. E nada melhor do que sair , num final de semana da capital, com seu trânsito louco e a correria de sempre, chegando num bucólico interior, com cachoeiras, cabras, vacas e cavalos, bebendo leite “direto da fonte”, pisar na terra e tomar um belo banho no riozinho de águas limpas...
A música chamada de caipira, de música raiz me encanta. E é preciso sempre relembrar as suas origens e a importância que ela carrega no fundo de sua musicalidade. A raiz caipira na música se revela por sua simplicidade, regada a poesia, tirada de valores étnicos que se consolidam num mundo de vivências especiais e expressões espontâneas. As músicas expressam sentimentos dos mais variados tipos, quase sempre ligados à terra, à natureza, mostrando que o homem e a natureza são uma só realidade. E na cidade de Botucatu, antigamente chamada de “boca do sertão”, é inevitável não sentir a presença da mais pura raiz caipira, uma vez que os principais compositores de sucesso, seja da moda de viola caipira ou dos repentes, viveram e se inspiraram na região e em seus moradores para compor suas lindas melodias. Assim, Angelino de Oliveira, Raul Torres, Serrinha, Carreirinho da dupla Zé Carreiro e Carreirinho, o Tonico da dupla famosa Tonico & Tinoco, Zé da Estrada da dupla Pedro Bento e Zé da Estrada, tiveram papel fundamental na história da música raiz do Brasil. (AMD)
JOSÉ MARIA BENEDITO LEONEL
Na serra da Bocaina, o peru do morro não gluguleja no assobio do vento, mas beija seu vizinho, um riozinho marrento, que brinca de esconde esconde por entre as pedras, ladras de seu leito. Depois dele a serra deita, se ajeita e se esparrama numa estrada de areia sem graça, sem vida, mirrada, que volta e meia, serpenteia cheia de si e de nada. Eis que surge um arruado, um vilarejo, velho, uma aldeia ilhada, sufocada por eucaliptos esguios, vazios, frios e mentecaptos, unidos e perfilados como soldados de um forte exército neste deserto verde, chamado morte. No passado pastavam por ali cabras, bodes e cabritos e era tudo tão boni -
to. O que trago desse arrumado? Meu passado! O que levo comigo do meu lugarejo? Levo meu pejo! E dessa aldeia? A minha alma! Pouca coisa tem minha aldeia além de areia. Tem galos que cantam doidos, cachorros que trocam latidos nas noites de lua cheia, de melancolia e ais. E tem canários da terra nos quintais...e tem mais: tem gente de valia que deles tratam todos os dias. Não se mata, não se caça, não se prende, não se espanta Aqui se acolhe o filhote que pia, o canário que canta. Canta, expia, para. É Piapara . Sem alçapão e gaiolas, doce ponteado de viola pro meu coração. Canta, expia, para. É Piapara . Já tô em casa de novo. Abraços.
Meu pai dizia pra nóis, “no pulo de burro, não perca a cabeça”.
E ele continuava o conselho, se perdê a cabeça, você cai, machuca, quebra e até morre. Sabe o que é? Burro/mula que pula feio, esconde a cabeça entre os membros anteriores ou seja,entre braços e cascos. E daí o bicho pega.
Vi burro pulando muitas vezes,derrubando gente da lida, peões de nome e anônimos querendo fama.
Vi burro veaco, chasqueando duro, pulando de corrupio, urrando na espora, querendo arrancá o peão e o cutiano.
Vi burro refugá e pulá feio,no sol do meio dia, barrigueira frouxa. Foi, já que pulô, cortado de espora. Eu era criança mas vi. Quem tava nele era meu pai. Foi ali na invernada dos Pessoa, perto da Água do Corvo «Não perca a cabeça», ele dizia.
Lá se foram os anos. Peguei outro rumo na vida e embora goste, sou de pouca valia na lida. Ando no meu cavalo com quem me entendo. Nóis se gosta e zela um do outro.
Matinando penso, será que o pai mandava não perdê a cabeça do burro ou a minha? Burro pulando é hora dura na vida, onde o equilíbrio e a coragem andam juntas, encangadas. Nas horas amargas da minha vida, quando lido com os
preconceitosos, com os excludentes, com os segregadores, com os arrogantes, com os desonestos intelectuais, com os violentos e infames, lembro do pai falando, “não perca a cabeça”. Agora, nesse caso, a cabeça é minha e preciso de muito equilíbrio emocional e paciência.
Não, não posso excluí-los e praticar a prática deles. Minha régua é outra ou, como já ouvi dizê, sou de outra enfermaria.
Preciso respeitá-los e com tolerância, acolhê-los. Não, não é fácil, mas a saudade da civilidade e das falas serenas são justas. Ainda acredito na humildade e nas pessoas afáveis. Simples assim.
O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.
de Nello Pedretti , que previa em sua propaganda à população botucatuense “ diversõeslocais para pescarias e caçadaspasseios agradáveis -alimentação salutarpaisagens imponentespiscinaleite puroesportesbanhos em águas medicinais e de solcinemas ”. Na propaganda da água a mesma ênfase: “S. Domingos”Água Mineral
4 Há muito tempo se discute a importância do turismo no desenvolvimento de Botucatu. E mais : discute-se a validade da assertiva de que o turismo é uma industria e que bem direcionado pode suprir as necessidades sócio/econômicas de um município. Na Europa e nos Estados Unidos isso já é realidade há muitos anos. Também no Brasil , nos últimos 15 anos , o turismo vem sendo tratado de forma empresarial, objetivando o lucro mas sem deixar de respeitar a ecologia e as características próprias de cada região.
Natural. Bastante Alcalina, Sulfatada, Cloretada, Sulfídrica e Radioativa”. E sem estarem na atual onda turística , promoviam Botucatu “Passe as suas férias em BotucatuCidade Ideal para Férias e Para Descanso”.
É VIÁVEL ? ! ? Basta ter vontade política e capacidade de coordenação junto a empresários do setor.
É viável O Poder Público teria que oferecer o mínimo de infra-estrutura , ou seja, conseguir do Governo do Estado o asfaltamento da estrada vicinal que leva até Piapara. Investir em termos de melhoria da infra-estrutura do povoado e BUSCAR a parceria com a iniciativa privada , propiciando o acesso dos empresários às linhas de financiamento que existem a nível do Governo Federal ( EMBRATUR/ BNDES ). Esse é um caminho viável para que se dote Botucatu do tão almejado desenvolvimento A falta de dinheiro das Prefeituras e, por consequência, da Prefeitura de Botucatu é indiscutível... Daí a necessidade de muita criatividade e de se buscar o caminho que está viabilizando todos esses
Alambari em 1945, atual Piapara, ilustração do saudoso Mestre Benedito Vinício Aloise empreendimentos no Brasil : a parceria com a iniciativa privada.
BALNEÁRIO E TERMAS DE PIAPARA Não é essa uma descoberta nossa. Outros botucatuenses de muita visão e amor a Botucatu, já sonharam muito com um empreendimento turístico em Piapara. E não ficaram no sonho: mandaram examinar a água e idealizaram um empreendimento adequado à época. Piapara era sempre escolhida para as festas da colônia italiana, para os encontros e confraternizações... Em meados de 1936 já se pensava em um empreendimento hoteleiro com estação de águas para Piapara. Todos os jornais botucatuenses publicaram no ano de 1936 o anúncio (a propaganda) publicitário que estamos reproduzindo como ilustração desta matéria.
O Balneário “São Domingos” idealizado por Gastão Pupo, Trajano Pupo e Aluizio de Azevedo Marques possuía “água grandemente mineralizada, proveniente de um poço artesiano com 480 metros de profundidade. Efeito surpreendente no tratamento de enfermidades do Estomago, Nervos e Pele ”. E os idealizadores do empreendimento não tinham conhecimento da existência do Aqüífero Botucatu/Guarani e nem sabiam que o IPTInstituto de Pesquisas Técnológicas já vem estudando o assunto e comprovando a qualidade dessa água subterrânea Na Revista PEABIRU em artigo-reportagem sobre o Aqüífero de Botucatu , dizíamos que “...A água que jorra em Paraguaçu Paulista tem uma temperatura de 75 graus centígrados. Tanto é assim, que o IPT está fazendo estudos para os que desejarem utilizar “o precioso líquido” em projetos turísticos no oeste do Estado. Foz do Iguaçu já está experimentando esse “boom”: seus melhores hoteis estão perfurando poços artesianos para abastecer suas piscinas com água quente (com mil metros de profundidade tem-se água com temperaturas entre 40 e 60 graus centígrados).” A coordenação do sonhado empreendimento da Botucatu dos anos 30 era
Zé Maria e Vinício Aloise
O BALNEÁRIO
E TERMAS DE PIAPARA é um empreendimento viável ! BOTUCATU “ é uma cidade ideal para férias e para descanso”... (AMD) estação de Piapara
E salve OS BENEDITOS!
OS DOIS BENEDITOS! Falar de Piapara e não falar dos dois é difícil... Divulgaram e promoveram a antiga Alambari. Desde as ilustrações de Piapara de suas casas , do comércio, do trem dos tropeiros das comitivas , do gado até o seu histórico com seu magnífico Balneário e Termas que ainda não aconteceu...mas que virá, com certeza! Piapara é um tesouro ecológico e turístico que ainda deverá ser lapidado para enriquecer a terra da CUESTA DE BOTUCATU . Recentemente, noticiou-se o empenho do Zé Maria para que fosse asfaltada a estrada vicinal que liga Botucatu a Piapara... RECADO: O asfaltamento da estrada que liga Botucatu a Piapara é possível Existe verba estadual para essas estradas vicinais. Basta ter vontade política! Esse é o caminho já tentado várias vezes e em várias administrações. Mas a hora de Piapara há de chegar ! Este artigo é mais um apoio à definitiva inclusão de Piapara no planejamento turístico de Botucatu . É uma preciosidade que está isolada exatamente pela dificuldade de acesso.
Esses almoços em Alambari , constituíam um prolongamento dos encontros italianos na conhecida “Pensão Franchino” em Botucatu (baixada), famosa pela qualidade de suas massas e de propriedade de Francesco Aloisi “fratello” de Pietro. E falava-se de tudo, desde Vitório Emanuelle até Il Duce da Revolução de 24 ao Prefeito Cardosinho de Botucatu. Era proibido falar italiano pois a diversidade de dialetos impedia o entendimento. Também não se podia falar o português Mas todos se entendiam na alegria, no vinho, nos abraços e nos apetitosos quitutes de Dona Antônia e suas filhas que não paravam o dia todo na faina de bem servir. Vado Tonin , com sua máquina fotográfica, tipo caixão, comprada no Progresso Garcia , ia imortalizando as cenas daquela província da Itália , chamada Alambari.Qui é la própria Itália... Qualquer giorno, o Vesúvio começa a vomitar brasa ali... E mostrava a Serra de Botucatu... Guarda, Dr. Aleixo, não parece próprio a nostra Itália?!? A festa ia pela madrugada afora...” ( “As Boiadas Passam...As Lembranças Ficam...”, 1992 , págs. 83/85, de Agostinho Minicucci e ilustrações de Benedito
Vinício Aloise ).
O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e De Piapara são sempre lembrados os nomes do saudoso Mestre do Desenho o professor Benedito Vinício Aloise e o também professor, escritor e comunicador José Maria Benedito Leonel...
“...Pino Filliponi, que trabalhava na chave da estrada sorocabana, animava as festas de Pietro Aloísi com sua chorosa e romântica sanfona. Ela falava, no seu gemido, muito da saudade da Itália.Vamos, Pino , o sole mio... Os italianos de Botucatu estavam chegando, eram os Martin os Pedretti , os Delmanto , os Minicucci os Guadanini , os Alfredi os Tortorela , os Simonetti os Losi , os Lunardi , os Blasi , os Bacchi , os Pompiani os Molini os Mori os Monteferrante. Cada encontro era saudado com gritos, palavrões, corteses gesticulações napolitanas , esbravejamentos calabreses e risadas de Campobasso. A comida farta e generosa, regada pelo melhor vinho, esquentava os ânimos, esparramava alegria, esfuziava gestos, explodia gargalhadas. Alambari revivia a Itália.