Edição 1147

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Diário da Cuesta

Estátua de Raul

Torres na Praça

Comendador

Emílio Peduti

(Bosque)

RAUL TÔRRES

Raul Montes Tôrres, filho de José Montes Torres e Josefa Camacho Rodrigues, imigrantes espanhóis, nasceu em 11 de julho de 1906, em Botucatu, e foi batizado em 24 de dezembro. Iniciou seus estudos no Grupo Escolar “Dr. Cardoso de Almeida”, em 1915, quando residia à Rua Curuzu, nº 144. Transferiu residência para a cidade de Itapetininga. Nos anos 20, com a mãe viúva e 4 irmãos, mudou-se para São Paulo. Ao completar 16 anos, tirou carta de cocheiro, passando a trabalhar no Jardim da Luz, e, durante dois anos, perambulou pelas ruas no trabalho duro, até ingressar na Estrada de Ferro Sorocabana, em 1924. Ocupou o cargo de Assistente Administrativo, trabalhando junto à Chefia da Sub-Diretoria de Operações, e aposentou-se em 1954. Casou-se com Assunção Fernandes e, em segundas núpcias, com Adelina Aurora Barreira, portuguesa de Trás-os-Montes, em 1955. Raul Torres faleceu em São Paulo, em 12 de julho de 1970, e foi sepultado do Cemitério do Araçá. Páginas 2 e 3

MÚSICA DE RAUL TORRES

Nascido em Botucatu (SP), o cantor e compositor paulista Raul Torres (1906 - 1970) tem seu nome associado na história da música brasileira ao universo sertanejo por ser o autor de hits caipiras como Cabocla Tereza (Raul Torres e João Pacífico, 1940), Cavalo Zaino (Raul Torres, 1959), Chico Mulato (Raul Torres e João Pacífico, 1937), Colcha de Retalhos (Raul Torres, 1959), Feijão Queimado (Raul Torres e José Rielli, 1946) Moda da Mula Preta (Raul Torres, 1945), Mourão da Porteira (Raul Torres e João Pacífico, 1952), Pingo D’Água (Raul Torres e João Pacífico, 1944) e Saudades de Matão (Raul Torres e Jorge Galati). Mas o fato é que o vasto cancioneiro autoral de Raul Torres extrapola a fronteira caipira desde os anos 1930, incluindo emboladas, jongos, marchas e sambas. No álbum EM BUSCA DOS SAMBAS DE RAUL TORRES, de título autoexplicativo, o paulistano TRIO GATO COM FOME mostra que o compositor também fez música na cadência bonita do samba desde a década de 1930. No disco, produzido pelo próprio grupo sob a direção musical do violonista Milton Mori, o Trio Gato com Fome registra dez sambas da lavra de Torres. Entre eles, A Cuica tá Roncando -

EI, AMIGO,

sucesso na gravação original feita em 1934 pelo próprio autor do samba – e A Baiana diz que tem (Raul Torres, 1941), tema regravado no disco do trio com o clarinete de Nailor Proveta. Erguendo a ponte entre as músicas rural e urbana do compositor, o trio regrava músicas raras como Mineirinha (Raul Torres, 1941) Bananeira (Raul Torres, 1932)samba registrado pelo trio com a adesão da percussão de Paulo Dias – e Tua Mão será meu Pandeiro (Raul Torres, 1937).

ESTE ARTIGO É MEU!!!!

"certas canções que ouço, cabem tão dentro de mim, que perguntar carece, como não fui eu que fiz...”

É sempre assim: uma frase, um artigo, uma musica, uma crônica ou um livro parecem ter saído do fundo da nossa alma. Será? Tem até uma canção do Milton Nascimento e do Tunai (irmão do João Bosco), chamada CERTAS CANÇÕES, cuja primeira frase reproduzimos acima, na abertura do artigo.

É isso, sim. Em uma crônica muito bem escrita, eu gostaria de poder dizer:

EI, AMIGO, ESTE ARTIGO É MEU!!!!

Mas o artigo, infelizmente, NÃO é meu. É artigo de origem registrada. Faz parte das crônicas do livro “APENAS UMA HISTÓRIA”, publicado por José Maria Benedito Leonel, educador consagrado e comunicador tarimbado, com ilustrações do Prof. Vinício!

Amigo de infância, fizemos o ginásio juntos no La Salle, fizemos o Tiro de Guerra juntos, tivemos amigos e “sonhamos” com tantas morenas bonitas na mesma época que eu diria, sem errar, que o Zé Maria foi e é um amigo para ser guardado para sempre...Seguimos caminhos diversos: ele, Educador; eu, Advogado, com militância cívica...Mas ambos sonhadores e “apaixonados” pela cidade de Botucatu de um modo geral e, ele, de modo especial, por sua “Piapara”. O Zé Maria tem a alma do caboclo da nossa região. Escreve como o caboclo fala. Ele é – em minha opinião de escritor – o “nosso” Rolando Boldrin. E o artigo que eu gostaria de ter escrito, diz o seguinte:

“Agora já sei que o tempo não para, que o dia que passo não vorta mais. Agora já sei que a vida engana a gente. Tudo vai embora: o tempo da criança, a mocidade, as canturia,

as varsa que dancemo, as sabedoria das prosa, os laços arrebentados pelo tempo, os agrados, os desafetos.

Tudo vai embora. Vai embora a vaidade, a arrogância, o poder. A vida vai quebrando o nosso orgulho, domando nossas valentia, acomodando nossos repente, silenciando as cordas da viola Tudo vai embora. Vai embora a força do braço e do abraço. Vai embora as certezas que a gente defendia. Nada é tão certo assim, tão verdadeiro assim. Quem acha que é, que fique achando. Eu também já achei e não acho mais. Tudo vai embora. Na memória da gente vai ficando sobras, vurtos...”

E conclui: “O que é a vida da gente? Até onde a gente é dono das rédea, troteando os dia de acordo com o nosso querê? Até onde o destino tem que sê cumprido? Que hora é a hora de muda a sorte, escolhê outra estrada, anda por outros ataio?”

São trechos que escolhi. Que beleza! Quanta brasilidade, não é mesmo?!? (AMD)

RECADOURGENTE

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Construção do Memorial da Música Caipira. A Prefeitura de Botucatu iniciou a construção do Memorial dedicado à música raiz. Esse local será um grande atrativo turístico a consolidar as trajetórias de grandes compositores como Angelino de Oliveira, Raul Torres, Serrinha, Zé da Estrada e os irmãos Tonico e Tinoco ( nascidos em Pratânia, portanto em Botucatu, eis que o então Distrito da Prata pertencia ao município de Botucatu). O Memorial será localizado na Cohab 1 (residencial Humberto Popolo), terá como estrutura arquitetônica uma recepção com área para exposições itinerantes + 3 salas onde serão ministradas aulas e cursos de música e terá até um pequeno coreto. Uma escultura de uma VIOLA com 5 metros de altura ficará, imponente, à frente do prédio. Boa!

2Botucatu também tem, com orgulho, seu Mestre da Viola, o João Tavares. A divulgação da letra da consagrada música Boiada Cuiabana, de Raul Torres, em nossa região, devemos a ele. Essa música já havia sido lembrada pelo prof. Vinício, pois ela destacava a presença de Alambari (Piapara), como ponto de partida das Comitivas. O Mestre Tavares é um dos mais expressivos professores de viola e violão, para música caipira ou música raiz, de todo o Estado. No Vale do Paraíba temos o Braz da Viola, na região de Botucatu temos o Mestre Tavares.

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A dupla botucatuense, Ramiro Viola & Pardini tem feito verdadeira “garimpagem” sobre nossa música raiz em seus programas na TV e radiofônicos. A TV TEM/Globo no programa “Centro-Oeste Paulista se destaca como berço dos nomes famosos da música caipira de raiz” apresentou ampla reportagem com essa dupla. Ramiro Viola & Pardini deram uma aula sobre a autêntica música raiz: desde Raul Torres, o grande Angelino de Oliveira, Serrinha, Carreirinho, Pardinho, Tião Carreiro, Zé da Estrada e Pedro Bento até a dupla famosa Tonico & Tinoco (nascidos no Distrito da Prata, então pertencente ao município de Botucatu, hoje Pratânia). Todos tendo Botucatu e região como ponto de partida ou de retorno para revigorar a criatividade musical. É Registro Histórico!

DIRETOR: Armando Moraes Delmanto

EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes

Contato@diariodacuesta.com.br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689

Zé Maria e esposa em uma cavalgada

Diário da Cuesta 3

RAUL TÔRRES

Raul Montes Tôrres, filho de José Montes Torres e Josefa Camacho Rodrigues, imigrantes espanhóis, nasceu em 11 de julho de 1906, em Botucatu, e foi batizado em 24 de dezembro. Iniciou seus estudos no Grupo Escolar “Dr. Cardoso de Almeida”, em 1915, quando residia à Rua Curuzu, nº 144. Transferiu residência para a cidade de Itapetininga. Nos anos 20, com a mãe viúva e 4 irmãos, mudou-se para São Paulo. Ao completar 16 anos, tirou carta de cocheiro, passando a trabalhar no Jardim da Luz, e, durante dois anos, perambulou pelas ruas no trabalho duro, até ingressar na Estrada de Ferro Sorocabana, em 1924. Ocupou o cargo de Assistente Administrativo, trabalhando junto à Chefia da Sub-Diretoria de Operações, e aposentou-se em 1954. Casou-se com Assunção Fernandes e, em segundas núpcias, com Adelina Aurora Barreira, portuguesa de Trás-os-Montes, em 1955. Raul Torres faleceu em São Paulo, em 12 de julho de 1970, e foi sepultado do Cemitério do Araçá

RÁDIO: Foi um dos pioneiros do rádio paulista. Em janeiro de 1927 deu sua primeira audição profissional ao microfone da Rádio Educadora, num sábado, recebendo seu primeiro “cachet”: trinta mil réis. Muito dinheiro naquele tempo! A Record foi buscá-lo a peso de muitas centenas de mil réis. Em 1932 transferiu-se para a Rádio Cruzeiro do Sul, já então de nome feito e ganhando sempre crescente popularidade como intérprete do gênero caipira. A Record fez-lhe uma tentadora proposta para tê-lo de volta a seu prefixo. Em 1938, ingressou na Record, compondo o primeiro conjunto efetivo no gênero em nosso rádio: o trio “Torres, Serrinha e Rieli”. A dupla com Florêncio só nasce realmente em 1944. Pouco depois, passaram a se dedicar mais ao rádio, mantendo na Record de São Paulo o programa “Os 3 Batutas do Sertão”, animado pelo trio de mesmo nome, constituído por Raul Torres, Florêncio e José Rieli – a partir de 1947 substituído por Emilio Rielli Filho Este último, substituído mais tarde por Castelinho e, posteriormente, por Nininho.

INTÉRPRETE: Em entrevista, afirmou que seu gosto de cantar nasceu nos tempos em que conduzia seu coche pelas ruas paulistas e sentia necessidade de espantar um pouco o silêncio da solidão. Tinha voz macia e bem agradável. Em fins de 1930 grava para Cornélio Pires com o pseudônimo de Bico Doce. Deixou em discos mais de 400 gravações, sob os principais selos do país, como RCA Victor, Odeon e Colúmbia, em diversos gêneros musicais, tais como modas de viola, guarânias, toadas, valsas, sambas, marchas, jongos, cocos e emboladas. Este último exige bom fôlego do intérprete. Tamanha era a sua habilidade que é reconhecido como “Embaixador da Embolada”.

PRESTÍGIO: Seu prestígio no meio artístico fez com que firmasse boa amizade com Francisco Alves, Sylvio Caldas, Luiz Barbosa, Nonô e muitos outros, que faziam questão de até participar espontaneamente das gravações de Raul Torres. No ano de 1933, o rei da voz fez coro, ao lado de Jaime Vogeler, Moreira da Silva, Castro Barbosa e Jonjoca, para a gravação de “Sereno Cai”.

PARCEIROS EM GRAVAÇÕES: Artur Santana, o Azulão; Nair de Mesquita; Pescuma; Genesio Arruda; Ida e Irene Baldi; Lazaro e Machado; Mariano, pai do acordeonista Caçulinha; Ascendino Lisboa; Joaquim Vermelho; Jaime Vogeler; Aurora Miranda, irmã de Carmem Miranda; Nestor Amaral; João Pacífico; Nha Zefa; Serrinha, filho de sua irmã Izabel Montes Torres; Florêncio; Inhana, da dupla Cascatinha e Inhana; Rosita del Campo; Inezita Barroso e Ramoncito Gomes.

MÚSICO : “Nunca tive professor de canto ou música. Entendo mesmo que a sincera e fiel interpretação das nossas canções, sambas, cateretês, etc., só pode existir na alma espontânea dos nossos sertanejos e, para eles, quase sempre, é inacessível o estudo. Mas é só com eles que se encontra a expressão do nosso clima, das nossas belezas naturais, que, com tanta nitidez sentimental, eles sabem traduzir na simplicidade poética de seus violões e violas.”

COMPOSITOR : Só em 78 rpm, Raul Torres deixou mais de 400 gravações, interpretando, entre outros, Dilermando Reis (Guaratinguetá), Adoniran Barbosa (Dona Bôa), Alvarenga e Ranchinho (Sae Feia), Capiba (Mentira) e Kid Pepe (Quem Mandou e Que Linda Manhã Serena). Porém, sua bagagem musical sobe a 400 composições, só ou em parcerias, como com João Pacífico, Zé Fortuna, Carreirinho, Zé Carreiro, seu sobrinho Serrinha, o conterrâneo Joaquim Vermelho (Joaquim Pedro Gonçalves), Lourival dos Santos, Palmeira, Capitão Furtado (Ariovaldo Pires), Sebastião Teixeira, Geraldo Costa, Cornélio Pires e Tinoco. Em palavras do jornalista botucatuense Sergio Santarosa, não há cantor do gênero sertanejo que se preze que não tenha gravado Raul Torres. Rolando Boldrin e Tonico e Tinoco dedicaram discos inteiros às suas composições. Tião Carreiro assumiu publicamente seu apreço a Raul Torres e tem como título de um de seus discos, em dupla com Pardinho, uma composição do artista botucatuense: “Felicidade”. Suas composições também foram gravadas por outros artistas de renome, como: Luiz Gonzaga, Mococa e Paraíso, Duo Glacial, Irmãs Galvão, Daniel, Chitãozinho e Chororó, e em versões instrumentais com Tião Carreiro e com Renato Andrade. BOTUCATU EM SUAS MÚSICAS: Embora não tenha encontrado referências a homenagens que autoridades botucatuenses lhe tenham prestado em vida (a primeira carta de um conterrâneo felicitando-o pelo trabalho partiu de Luiz Simonetti, em 1959, havia 32 anos de sua carreira artística), Raul Torres não deixou de citar o nome de sua terra natal em composições e gravações. Em “Quando eu Cantei no Rádio”, gravada em dupla com seu sobrinho Serrinha, menciona: “Eu vim de Botucatu viajando quase um dia inteiro para cantar em São Paulo na irradiação da Cruzeiro...”. Em outras duas composições, relançadas em CD pelo selo Revivendo, em 2004, e que chegaram aos Estados Unidos da América, Japão e alguns países do continente europeu, é possível ouvir Caninha Verde (“Falo verdade e também no cururú, Raul Torres é meu nome, eu sou de Botucatu”) e Desafio (“Eu nasci de madrugada, antes do galo cantá, eu nasci em Botucatu, a minha terra natá”). Esta última, gravada em dupla com Inezita Barroso. Raul Torres lembrava com orgulho de suas origens e sempre que podia visitava Botucatu. Numa dessas visitas, conheceu um boiadeiro e inspirou-se para compor os versos de uma das mais belas modas de viola de todos os tempos: Boiada Cuiabana (“Vou contar a minha vida do tempo

que eu era moço.... Eu saí do Alambari na minha besta ruana...”).

MÚSICAS EM TRILHAS SONORAS: Rôla...Rolinha – Filme “O Babão”; Mestre Carreiro –Filme “Sertão em Festa”, com Tião Carreiro e Pardinho; Cavalo Zaino – Novela “Cabocla”, levada ao ar pela Rede Globo de Televisão, com interpretação de Sérgio Reis; Cabocla Tereza – Filme “Cabocla Tereza”.

FILME CABOCLA TEREZA (1982): Sumar apresenta Cabocla Tereza - Eastmancolor / Co-produção: Mori Filmes / Direção: Sebastião Pereira / Montagem: Sylvio Renoldi / Fotografia: Eliseu Fernandes / Trilha sonora : Chantecler / Direção Musical: Aluisio Pontes / Música: João Pacífico e Raul Torres / Cantam: Francisco Tozzi, Adauto Santos e Bando de Macambira / Com: Zélia Martins, Sebastião Pereira, Carlito, Washington L. Bezerra (Tonton) / Participação especial: Jofre Soares / Ator Convidado: Chico Fumaça / Antonio Leme, J. Alves, Francisco Tozzi

SUCESSOS: Raul Torres foi compositor de inúmeros êxitos, tais como: “CHICO MULATO” – Raul Torres e João Pacífico (“Tapera de beira de estrada, que vive assim descoberta...”); “CABOCLA TEREZA” – Raul Torres e João Pacífico (“Há tempo eu fiz um ranchinho, pra minha cabocla morar...”); “PINGO D’ÁGUA” – Raul Torres e João Pacífico (“Eu fiz promessa pra que Deus mandasse chuva...”); “MOURÃO DA PORTEIRA” – Raul Torres e João Pacífico (“Lá no mourão esquerdo da porteira...”); “BOIADA CUIABANA” – Raul Torres (“Vou contar a minha vida do tempo que eu era moço...Eu saí de Alambari na minha besta ruana...”); “SAUDADES DE MATÃO” – Raul Torres ( letra ), Jorge Galati e Antenógenes Silva (“Neste mundo eu choro a dor, por uma paixão sem fim...”); “COLCHA DE RETALHOS” – Raul Torres (“Aquela colcha de retalhos que tu fizeste, juntando pedaço em pedaço foi costurada...”); “CAVALO ZAINO” – Raul Torres (“Eu tenho um cavalo zaino que na raia é corredor, já correu quinze carreira, toda as quinze ele ganhou...”) Curiosidade: conheceu o rasqueado em viagem ao Paraguai e introduziu em terras brasileiras com a gravação desta canção; “MODA DA MULA PRETA” – Raul Torres (“Eu tenho uma mula preta tem sete parmo de artura...”); “MODA DA PINGA” – Domínio Público (“Com a marvada pinga é que eu me atrapaio...”) Curiosidade: Inezita Barroso atesta que era de costume dos portugueses, quando uma música agradava, que as pessoas continuassem a compor seus próprios versos encaixando na melodia. “Eu fui numa festa no rio tietê, lá me deram pinga pra mim bebê, tava sem fervê”, segundo Inezita Barroso, são versos de autoria de Raul Torres. “DO LADO QUE O VENTO VAI” – Raul Torres (“Adeus morena eu vou do lado que o vento vai...Me fizeram judiação, é coisa que não se faz, adeus morena eu vou, adeus que eu vou pro sertão de Goiás”) SUAS MÚSICAS ATRAVESSANDO FRONTEIRAS MODA DA MULA PRETA – Argentina; A CUÍCA TÁ RONCANDO – embora nem de carnaval fosse, essa composição de sua autoria faria enorme sucesso no carnaval carioca de 1935, e em Portugal. Curiosidade: Osvaldinho da Cuíca revela que uma de suas fontes de inspiração foi o clássico “A Cuíca Tá Roncando”, de Raul Torres. Gravado originalmente em 1935, pelo próprio autor, esse foi o primeiro samba paulista que obteve sucesso no resto do país. “Era um samba bem rural, bem caipira”, relembra. Lançados em 2004 pelo selo Revivendo, de Curitiba-PR, os CDs “Suspira Meu Bem”, “Tá vendo muié” e “Raul Torres e seus parceiros”, chegam aos mais diversos países, como Estados Unidos, França, Japão e Rússia.

IMPORTÂNCIA PARA A MÚSICA BRASILEIRA: Inezita Barroso, estudiosa do nosso folclore, apresentadora do programa “Viola, Minha Viola”, exibido pela TV Cultura, e que conviveu com Raul Torres, entende como contribuição maior do artista botucatuense para a música brasileira o seu elevado número de composições. Introduziu a cuíca no disco, compôs e gravou o primeiro desafio (“Desafio número 1”, gravado com Nha Zefa), apadrinhou o primeiro 78 rpm de Cascatinha e Inhana. Se a música sertaneja hoje encontra caminhos mais suaves para a divulgação em rádio e discos, deve-se também ao trabalho incansável de Raul Torres e ao pioneirismo de Cornélio Pires. PRÊMIOS: Nos anos de 1954 e 1961, recebeu o Troféu “Roquete Pinto”, um dos mais importantes do rádio e TV, na categoria “Melhor Conjunto” – “Torres, Florêncio e Nininho” e “Torres, Florêncio e Castelinho”. Em 1970, a viúva viria a receber o mesmo troféu, na categoria “Preito de Saudade”.

AS HOMENAGENS PRESTADAS EM BOTUCATU E OUTRAS CIDADES • Botucatu emprestou seu nome a uma rua do município e, em 2002, por iniciativa do vereador Luiz Carlos Rubio, o tornou patrono de escola (EMEFEI Raul Torres). • Lançamento de Cartão Filatélico e quadro na Galeria dos Compositores Botucatuenses em homenagem ao Centenário de Raul Torres – Centro Cultural de Botucatu, julho de 2006 • Tributo ao Centenário de Raul Torres realizado pela Prefeitura de Botucatu: shows com Pedro Bento e Zé da Estrada, Liu e Léu, Tinoco e Tinoquinho, entre outros; vídeo documentário “Toca Raul” e inauguração da estátua na praça Comendador Emilio Pedutti – novembro de 2006 a março de 2007. • Programa “Viola, Minha Viola” – Especial ao Centenário de Raul Torres – levado ao ar pela TV Cultura nos dias 03 e 09 de junho de 2007; • Rua Raul Montes Torres – Franca, SP; • Rua Raul Torres – Marília e Osasco, SP. • “A Vida de Raul Torres” – moda de viola.

“Só sei que foi assim” Ariano Suassuna

Cresci ouvindo estórias de meu avô paterno, e eram de assustar. Ele era um desses Coronéis donos de terra, que vivia num rancho de madeira, parecendo casa de paliçada, e embaixo da casa criava galinhas.

Minha avó Maria Annunziata cuidava dos bichos e criava os filhos, ela era a segunda mulher do meu avô. Segundo as más línguas dos peões, meu avô teria matado sua primeira mulher, que os mais velhos que a conheceram, diziam ser muito bonita, por ciúmes.

Vó Maria fazia os queijos que meu pai, ainda menino vendia na estrada.

Da varanda da casa sentado na sua cadeira de balanço Vô Camilo com seu ar austero comandava os filhos, os peões, com a perna direita enganchada no apoio para braço.

E com uma levantada de sobrancelha punha o mais arteiro dos filhos em seu lugar.

Tio Simão que se cuidasse.

Que eu me lembre nunca vi meu avô sorrir. Mas sei que sabia fazê-lo, pois vi seu sorriso nas fotos das bodas de ouro, estava feliz.

Recentemente ao ver fotos da família, descobri que meu pai e seus irmãos trocavam cartas e fotos dos filhos.

Minhas tias Zoraide e Deise, levaram minha avó Maria para ver o mar em Santos.

Nem consigo imaginar a cena, ela deslumbrada diante de tanta água.

Meu pai em seus melhores dias, sentava-se no sofá de casa, daquele jeito só seu, sobre a perna esquerda, e nos contava estórias do Vô Camilo

Uma delas era muito engraçada e ele a contava sacudindo-se de rir. Vô Camilo mais o Rui, irmão do meu pai foram caçar uma raposa que andava matando as galinhas e roubando os ovos. Ele tinha um chinelo que era feito de pelo de bicho e quando saiu para caçar a raposa estava com aquele chinelo velho. Andaram pelo mato ali perto da fazenda á caça da raposa, por horas a fio.

Quando Tio Rui achou um rastro e fez sinal para o Vô Camilo e cada um foi por um lado para encurralarem a bicha, trabalhando em silêncio para não assustá-la. Vô Camilo já não enxergava muito bem Achando que avistara a raposa bem perto do seu pé, armou a espingarda para dar um tiro certeiro, o Tio quando ouviu isso, chegou bem a tempo de evitar que o Vô desse um tiro no próprio pé, achando que seu chinelo fosse a raposa.

E tem a estória da cobra que vinha sorrateira durante a noite mamar nos peitos da avó, quando ela amamentava a Tia Cecília que ainda era bebê.

Se escondia dentro do colchão de palha, que tinha um furo no pano grosso listrado.

Em minha cabeça maluca eu achava que se procurasse dentro do colchão ia dar com a cobra.

Dormia com um olho aberto e o outro fechado.

Não sei!

Só sei que foi assim”

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