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Em 19 de março de 1870, aconteceu a estréia mundial no Teatro alla Scala de Milão, da ópera “O GUARANI”, de CARLOS GOMES. Páginas 4, 5 e 6
O BAIRRO ESTÁ FELIZ !!!
“A mesma praça, o mesmo banco As mesmas flores, o mesmo jardim...” Tudo remodelado, enriquecido e lindo! Veja fotos da nova Praça Cavalheiro Virgínio Lunardi! Página 2
REABERTURA DA
Praça Cavalheiro Virginio Lunardi
CAVALHEIRO VIRGÍNIO LUNARDI
Discurso proferido pelo prof. José Pedretti Neto, na ocasião do descobrimento do busto do saudoso Cav. Virgínio Lunardi, colocado na praça da Vila dos Lavradores que ostenta seu nome, como uma homenagem que se prestou à sua memória no encerramento das comemorações do 1º Centenário de Botucatu. “Virgínio Lunardi, cidadão de S. Pelegrino, Itália, é cidadão de Botucatu, Brasil. Foi coragem e força, abnegação e filantropia, capacidade de inteligência e apologista do trabalho. O bronze que hoje lhe perpetua o nome serve, apenas, como motivo de fixação porque, mais do que o metal, a sua memória se espelha na sua própria vida. E sua vida foi um Exemplo e sua existência foi uma diretriz de retidão.
festivo, numa epopéia de pujança e sentimento.
A sombra de sua amizade verificou-se o humanismo do gênio de sua raça. Nunca negou o pão a quem lhe o pediu, nunca faltou com o conselho a quem se sentia deprimido, nunca negou o estímulo a quem precisava de um pequeno apoio para progredir. Foi o homem humano porque viveu sempre em função de seus semelhantes; foi o homem total porque criou um império de trabalho, esse trabalho que é dignidade e que é sua herança mais preciosa; foi o homem-abnegação porque compartilhou sempre do sofrimento alheio.
Planta transplantada da velha Itália trouxe, para a terra ubertosa de Botucatu, a seiva de séculos de civilização. E como os carvalhos que foram testemunhas da história, Virgínio Lunardi, filho ilustre de duas pátrias, uma de nascimento e de coração, outra adotiva e de sua alma, mergulhou raízes na ancestralidade e esplendeu a folhagem para o céu, para o alto, para o sol, para a alegria da vida nova, num hosana
Quando todos descreram, ele acreditou. E a sua fé levantou uma indústria como atestado de confiança no futuro de Botucatu. Do alto desta colina ele descortinou, no porvir, os horizontes do progresso da terra de seus filhos.
Virgínio Lunardi foi o herói, não o herói da bravata e da inconsistência, mas foi o herói da compreensão e da justiça, da integridade e do caráter Impondo a si mesmo uma norma de conduta rígida e sempre soube compreender a falta alheia
EXPEDIENTE
DIRETOR: Armando Moraes Delmanto
EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes
e a dor do próximo porque nele o coração sempre conseguiu, para os outros, a concessão da consciência.
Amou a Itália com amor de filho e amou o Brasil com amor de pai. Se a Itália lhe deu o nascimento, o Brasil lhe deu o berço da descendência E sempre foi o filho amoroso e o pai emotivo, filho que se ajoelha e o pai que abençoa.
Virgínio Lunardi, neste primeiro ano do Centenário da tua e da nossa terra, esta Botucatu que amaste e que amamos, recebe a homenagem da tua gente. Que este bronze seja a lembrança de um povo que reconheceu o teu mérito e que amanhã, nesse dia longínquo do futuro, as gerações aqui parem e meditem, que sintam teu exemplo e a dignidade de tua vida e que, concentradas na análise do que foste, possam proclamar:
“Este, de fato, foi um homem; este, de fato, é um símbolo". (Folha de Botucatu, 21/04/1955)
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LEITURA DINÂMICA
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–O GUARANI é a história de amor proibi do entre o índio Peri e a jovem portuguesa Ceci , um filme de Nor ma Benguel. O relacio namento se concretiza com o consentimento do pai da moça, graças ao ataque dos índios Aimorés à fortaleza de sua família. É quando o fidalgo pede a Peri que salve sua filha. Peri é um jovem índio goitacá. Os dois resolvem fugir juntos para o meio da floresta mas são surpreendidos por uma tempestade O filme foi baseado no clássico de José de Alencar. Obra que valoriza o cinema nacional.
–Peri é interpretado por Márcio Garcia e Ceci é interpretada por Tatiana Issa. O casal empolgou o público e tornou popular a grande criação literária de José de Alencar que foi a ópera “O
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GUARANI”, de Carlos Gomes, consagrada na Europa.
4 –Além de Márcio Garcia (Peri) e Tatiana Issa (Ceci), o filme contou com as interpretações de Herson Capri, Tonico Pereira e Glória Pires
–O filme mostra o ataque dos índios aimorés à fortaleza da família de Ceci. Cenas violentas mostram o grande risco corrido por todos, familiares e agregados.
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–Já atores consagrados na Globo, Márcio Garcia e Glória Pires enriqueceram com suas interpretações esse filme de Norma Benguel
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Nº 737 SÁBADO E DOMINGO , 18 E 19 DE MARÇO DE 2023
GUARANI” no Sambódromo?!?
Conheça o importante trabalho literário de Elda Moscogliato –a Cronista de Botucatu! –sobre Carlos Gomes e sua obra “O Guarani”, apresentada com sucesso na Europa, em 19 de março de 1870. PÁGINAS 3 e 4
DO FILME “O GUARANI”, DIRIGIDO POR NORMA BENGUEL A GRANDE ÓPERA POPULAR?!? Uma ÓPERA na passarela do samba? É possível? !? Página 2
A R T I G O
Antonio Carlos Gomes
Elda Moscogliato
Recente e bela obra enriquece mais nossa estante musical herdada do velho e suave flautista, nosso pai. Trata-se de: Do Sonho à Realidade, de Juvenal Fernandes, musicólogo conceituado, que traça a biografia de nosso músico maior: Antonio Carlos Gomes, por ocasião do transcurso do primeiro centenário de morte, ocorrida em 16 de Setembro de 1896, no Pará, praticamente exilado em seu próprio país, longe da Campinas – seu berço natal; de S.Paulo dos seus amores e do Rio de Janeiro – cenário de glórias nacionais, vítima consequente da atmosfera de rivalidades e ciumeiras de que se viu envolto a vida inteira, mercê da fragilidade humana ambiente. Causa maior: sua indiscutível vitoriosa aura de renome mundial e a grande amizade que o uniu a Pedro II, seu protetor.
O livro em sua segunda edição marca o transcurso também do primeiro centenário da Imprensa Oficial do Estado de S. Paulo , prefaciado pelo renomado Sólon Borges dos Reis que une ambas efemérides num só intuito valioso aos anais históricos paulistas.
São duzentas e tantas páginas profusamente ilustradas contendo sérias pesquisas através das quais o Autor pôs seu maior emprenho em dotá-las de uma documentação honesta e responsável , pelo depoimento de testemunhas verazes que viveram a época do compositor, registrando as luzes e as sombras que lhe amargaram os dias.
Juvenal Fernandes enfatiza o meio ambiente em que viveu o Tonico de Campinas, rapazinho promissor e alegre, benquisto pela juventude do Largo S. Francisco, enaltecendo-lhe os dons de cantor lírico, pianista exímio , dominador diletante do violoncelo.
Desenvolve ainda, o período áureo do Rio/São Paulo do Segundo Império , em que Pedro II , sábio de seu tempo , muito influenciou a mocidade estudantina da Capital, Rio, Bahia, Pernambuco , salientando poetas e artistas, valores literários que encimavam as Artes, as Ciências, a Política verdadeira , chamariz polarizador de sábios estrangeiros que por aqui aportavam.
Quando em 1858 visitou Pedro II Campinas por quatro dias, teve ocasião de ouvir a família Gomes , de pai a filhos, todos músicos, e melhor aquilatar os pendores de Antonio Carlos , do que resultou uma amizade cansagradora
Tempos depois, o rapazinho ia-se para o Rio e lá se matriculava no Conservatório Musical sob a direção de Francisco Manuel da Silva. Feliz no caminho certo a que se voltava, compõe Carlos Gomes sua primeira Cantata , aplaudida com louvor. Logo após, seu talento criador escreve a primeira, entre as oito óperas que o imortalizaram: Noite do Castelo.
cada ao Imperador , num preito de gratidão. Levada à cena, o espetáculo resultou uma noite inesquecível.
Presentes a Família Imperial , a Côrte no esplendor das fardas e dragonas, príncipes da Igreja, ministros e diplomatas, mulheres resplandecentes de sedas e jóias, artistas e intelectuais, ao final grandioso do espetáculo, todos aplaudem de pé – honra só concedida aos gênios – o vitorioso Autor.
Daí para a Europa foi justa recompensa. Faltava-lhe a cultura operística , o aprofundado estudo de Harmonia e Composição , mais amplo ambiente, a orientação de mestres. O Imperador proporciona-lhe a ocasião, custeando-lhe com seus próprios recursos, não do Tesouro , os estudos em Milão – Itália.
Vem daí, a crítica maldosa infiltrada sutilmente em sua vida crivada de dissabores. Alegam-lhe a incisiva influência verdiana em suas belíssimas óperas. Nenhuma novidade. Carlos Gomes fez óperas na terra da ópera . Como ele, Tchaikovsky, Beethoven e tantos outros, sofreram as mesmas aleivosias, mas estas passaram e as músicas por eles criadas são perenes.
Na Itália, em 1870 , no Scala de Milão que todo ano representava uma ópera nova de compositor/revelação , explode , para o mundo lírico a ópera O Guarani. José de Alencar quebrara os grilhões do lusitanismo inaugurando um idioma gentílico, de caracteristica brasilidade. O romance épico extrapola fronteiras e ganha a velha Europa.
Baseada no poema lusitano de Antonio Feliciano de Castilho , com libreto de Antonio José Fernandes dos Reis , é dedi -
Carlos Gomes apaixona-se pelo lírico indianismo alencariano. Providencia o libreto e tem a cooperação de Scalvini e do poeta d’Ormeville. Logo após, a música operística. É um deslumbramento. Na noite de apresentação d’O Guarani, a Europa inteira inclina-se ante a revelação do nosso poema épico.
Por nove anos consecutivos, O Guarani é representado nas principais plateias do mundo, da Itália à Rússia; da Polônia à França; da Argentina à Cuba; da Inglaterra ao Rio de Janeiro. No elenco, os grandes artistas da época; no cenário a magnificência da selva tropical, na música descritiva, os rumores de pássaros e animais selvagens, do sussurro das madrugadas estivais ao murmúrio dolente dos nossos rios selvagens e misteriosos. É uma epopeia magnífica. Os anos correram. Com o advento da República, exila-se e morre o Imperador. Muda-se o cenário político. São outros tempos. Morrem-lhe a esposa e os filhos.
Antonio Carlos Gomes envelhece na solidão e no ostracismo ostensivo na própria Pátria. Por fim, repousa em definitivo em seu berço campineiro.
Campinas honra-se e se orgulha por tê-lo como filho dileto.
LEITURA DINÂMICA
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– Recém inaugurado no Pará o MEMORIAL CARLOS GOMES, que abrigará parte do acervo do Instituto Estadual Carlos Gomes. Estudantes e professores do Instituto, servidores e pessoas que dedicaram parte da vida ao ensino da música no estado compareceram à inauguração.
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– O maestro Carlos Gomes com prestígio internacional, sempre valorizando o Brasil, era lembrado também nas charges as mais variadas...
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– O consagrado escritor Rubem Fonseca com seu livro ”O Selvagem da Ópera”, trouxe um retrato fiel do histórico brilhante da atuação de Carlos Gomes. Com o mesmo título do livro, a Rede Globo está preparando uma mini-série ou novela sobre o maior músico clássico da América Latina no final do século XIX e início do século XX.
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– o Diário da Cuesta já fez uma edição especial dedicada ao grande músico brasileiro. A saudosa Cronista de Botucatu, ELDA MOSCOGLIATO, escreveu “Antonio Carlos Gomes”. Vale a leitura!
É bom saber. O artista plástico e conhecido webdesigner botucatuense Marco Antonio Spernega, foi quem idealizou a Cuesta de Botucatu estilizada e com todo o seu simbolismo: a escarpa, o verde representando as nossas matas e o azul do céu... A criação do Spernega valorizou a nossa CUESTA que teve, em sua estilização, o impacto que as obras dos grandes artistas tem. Vejam no Expediente o logotipo do Diário da Cuesta! Marco Spernega tem exposto seus trabalhos em concorridas exposições. Esta ilustração é uma obra de arte e de simbolismo histórico!