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José Maria Benedito Leonel
Perdi um pelego branco. Tava gasto, surrado, pequeno, mas era um pelego bão.
Senti a perda. Afinal, amoitou-se ele num jaraguá alto da fazenda dos Correia? será que o perdi num banhado nas terras dos Fonseca?
Só Deus sabe!
Enfim, faz parte do preço que vivo pagando por não ter querência. Quem mandô andá por aí como um cão sem dono?
Talvez seja um castigo pequeno pra quem deixô mãe chorando na despedida?
Eu já devia ter abandonado essa sina, fosse pelo que fosse. Mas qual o quê!
De minha parte o que me resta? O ca-
valo baio envelhecendo? O cachorro preto na cor e no nome, perdendo a valentia e o faro? a traía surrada? o pala gasto, já não oferecendo garantia nas tempestades?
Já nem acerto mais contas. Andando por este mundo ganhei menos do que perdi.
O meu pelego branco, que nas horas de vento misturava-se com as crinas do baio, ficou pelos campos. Ao menos ainda sei que ele pode aninhar um nhambu, uma cadorninha desbandada.
Mas onde perdi meus sonhos? Em que várzea da vida ficou minha juventude? Em que retiro deixei minhas esperanças? Qual foi a última porteira aberta para o meu amanhã?
Muito bom. Os bons empresários e as prefeituras espertas estão partindo para a valorização do nosso interior. Em Piracicaba tem um escritor, Cecílio Elias Ne�o, que publicou o “Dicionário do Dialeto Caipiracicabano” (Arco, Tarco, Verva). No dicionário, TARCO é o mesmo que talco. Piracicabano, como se sabe, sempre fica em dúvida, no barbeiro, entre tarco (talco), arco (álcool) e Acqua Verva (Velva). Mas, com muié, prefere tarco. Muié diz: “Depois do banho meu marido sempre qué qui eu use tarco!.
È isso mesmo! As prefeituras estão incentivando (sempre em parceria com a iniciativa privada) a formação de monitores para a implantação do Turismo Rural. São dadas aulas de “caipirês”, com toda a terminologia da língua caipira. São contratados violeiros que conheçam as mais clássicas musicas caipiras. Cursos de culinária regional, com as receitas dos pratos típicos das comitivas. Enfim,
Qualquer dia perco o reio de guasca. Ou perco o laço. Eu vou cumprindo minha sina, deixando atrás de mim pelegos e ilusões, laços e boiadas, arreios e lenços de despedidas.
Só me conduz uma certeza: um dia tudo acaba e minha mãe, se viva, deixa de espera por mim.
proporcionar o resgate da cultura rural do século retrasado e implementar o poderoso e rentável ramo turístico. E nada melhor do que sair , num final de semana da capital, com seu trânsito louco e a correria de sempre, chegando num bucólico interior, com cachoeiras, cabras, vacas e cavalos, bebendo leite “direto da fonte”, pisar na terra e tomar um belo banho no riozinho de águas limpas...
A música chamada de caipira, de música raiz me encanta. E é preciso sempre relembrar as suas origens e a importância que ela carrega no fundo de sua musicalidade. A raiz caipira na música se revela por sua simplicidade, regada a poesia, tirada de valores étnicos que se consolidam num mundo de vivências especiais e expressões espontâneas. As músicas expressam sentimentos dos mais variados tipos, quase sempre ligados à terra, à natureza, mostrando que o homem e a natureza são uma só realidade. E na cidade de Botucatu, antigamente chamada de “boca do sertão”, é inevitável não sentir a presença da mais pura raiz caipira, uma vez que os principais compositores de sucesso, seja da moda de viola caipira ou dos repentes, viveram e se inspiraram na região e em seus moradores para compor suas lindas melodias. Assim, Angelino de Oliveira, Raul Torres, Serrinha, Carreirinho da dupla Zé Carreiro e Carreirinho, o Tonico da dupla famosa Tonico & Tinoco, Zé da Estrada da dupla Pedro Bento e Zé da Estrada, tiveram papel fundamental na história da música raiz do Brasil. (AMD)
DIRETOR: Armando Moraes Delmanto
EDITORAÇÃO
Gráfica Diagrama/ Edil Gomes
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Antes das estradas de ferro, e muito antes dos caminhões, o comércio de mercadorias era feito por tropeiros, nas regiões onde não havia alternativas de navegação marítima ou fluvial para sua distribuição As regiões interioranas, distantes do litoral, dependeram durante muito tempo desse meio de transporte por mulas. Desde fins do século XVII, as lavras mineiras, por exemplo, exigiram a formação de grupos de mercadores no comércio interiorano. Inicialmente chamados de homens do caminho, tratantes ou viandantes, os tropeiros passaram a ser fundamentais no comércio de escravos, alimentos e ferramentas dos mineiros.
Longe de serem comerciantes especializados, os tropeiros compravam e vendiam de tudo um pouco: escravos, ferramentas, vestimentas etc. A existência do tropeirismo estava intimamente relacionada ao ir-e-vir pelos caminhos e estradas, com destaque para a Estrada real -via pela qual o ouro mineiro chegou ao porto do Rio de Janeiro e seguiu para Portugal. O constante movimento, o ir-e-vir das tropas, não só viabilizou o comércio como também se tornou elemento chave na reprodução econômica do tropeirismo.
TROPEIRO
Tropeiro é a designação dada aos condutores de tropas, assim designadas as comitivas de muares, e cavalos entre as regiões de produção e os centros consumidores, a partir do século XVII no Brasil pelos Bandeirantes. Mais ao sul do Brasil,
também são conhecidos como carreteiros, pelas carretas com as quais trabalhavam.
Num sentido mais amplo também designa o comerciante que comprava tropas de animais para revendê-las, e mesmo o “tropeiro de bestas” que usava os animais, para além de vendê-los, transportar outros gêneros para o comércio nas várias vilas e cidades pelas quais passava.
Além de seu importante papel na economia, o tropeiro teve importância cultural relevante como veiculador de ideias e notícias entre as aldeias e comunidades distantes entre sí, numa época em que não existiam estradas no Brasil.
Um dos marcos iniciais do tropeirismo foi quando a Coroa Portuguesa instalou em 1695 na Vila de Taubaté, a Casa de Fundição de Taubaté, também chamada de Oficina Real dos Quintos. A partir de então, todo o ouro extraído das Minas Gerais deveria ser levado a esta Vila e de lá seguia para o porto de Parati, de onde era encaminhado para o reino, via cidade do Rio de Janeiro
Ao longo das rotas pelas quais se deslocavam, ajudaram a fazer brotar várias das atuais cidades do Brasil. As cidades de Taubaté, Sorocaba, Viamão, Santana de Parnaíba, Castro, Cruz Alta e São Vicente são algumas das pioneiras que se destacaram pela atividade de seus tropeiros. (Wikipédia, a enciclopédia livre)
A exploração das áreas de antigas fazendas, sítios e Vilas Rurais para atividades turísticas está sendo tratada com a seriedade própria de empresários que sabem que aí está um filão muito pouco explorado e que pode render muito para regiões que entraram em decadência após o ciclo produtivo de seu meio rural. Muitas Prefeituras, com a ajuda e orientação do Sebrae, promovem seminários e fornecem orientação e assessoria aos interessados em ingressar nesse novo ramo empresarial.
Assim, procurando definir o perfil rural de uma típica cidade que vivenciou
o TROPEIRISMO é que fomos buscar na história de Botucatu, os elementos para que possa ser “adotado” o novo conceito das NOVAS COMITIVAS. E para que possamos planejar o nosso turismo rural explorado empresarialmente é preciso que o Poder Público estabeleça as regras para o trabalho em parceria com a iniciativa privada.
Além de visitação a tudo o que tenha em termos da cultura de café, como o Museu do Café e as antigas Fazendas , é preciso que se tenha um projeto inicial para a exploração empresarial do turismo rural, do turismo-raiz na cidade de Botucatu/SP.
A ideia das Novas Comitivas surgiu exatamente para incorporar a tradição rural de Botucatu que é tipicamente RAIZ na atuação dos tropeiros e das comitivas do passado.
Assim, somando à atuação das comitivas temos a música sertaneja-raiz, a chamada música caipira, mais uma vez Botucatu é privilegiada: os maiores expoentes da implantação e divulgação da música caipira são de Botucatu. Os nomes de Angelino de Oliveira, Raul Torres e Serrinha, estão gravados definitivamente na história da musica caipira, da música sertaneja-raiz. (AMD)