Acompanhe as edições anteriores em: www.diariodacuesta.com.br
Buscar na cidade de Botucatu, interior do Estado de São Paulo, o exemplo de como a Ditadura e seus tentáculos chegam até onde nem se imagina... Infelizmente, é preciso que se fale do ex-Ministro Gama e Silva. Em todo movimento político, existe a parte ruim, a nódoa, a parte que compromete. Na Revolução de 64 e principalmente após 1968, Gama e Silva foi um dos que procuraram usar o Poder para a satisfação de seus interesses pessoais e para a compensação de suas frustações.
Professor de Direito (USP), chegou à direção da Faculdade de Direito e à Reitoria da USP, com o “apoio” das forças revolucionárias Como Reitor da USP realizou uma perseguição sem precedentes na política universitária. Assumindo o Ministério da Justiça, realizou violenta perseguição seguida, agora, da cassação e afastamento de mais
de 3 dezenas de Docentes, entre eles, Fernando Henrique Cardoso, Paul Singer, Florestan Fernandes e Paulo Duarte. A alegação era de que os mesmos eram comunistas ou esquerdistas, mas, na verdade e na grande maioria, eram desafetos da política universitária... Pois bem, o Sr. Gama e Silva, passou a alimentar um sonho: ser Governador do Estado de São Paulo. Após a edição do AI-5 - aberração jurídica e antidemocrática de sua lavra - , passou a fazer marcação firme sobre o Governo Abreu Sodré. Achava que no Governo Estadual, os pertencentes ao Movimento dos Administradores Cristãos (Nelson Gomes Teixeira, Arrobas Martins e outros), além de outras autoridades, entre eles, com destaque, o Secretário da Educação (ex-Reitor da USP e desafeto na política universitária), o Prof. Ulhôa Cintra, eram simpatizantes da esquerda. Página 6
EM BOTUCATU...
Até em Botucatu o Sr. Gama e Silva chegou. Ligou-se a políticos contrários ao esquema do Governador Abreu Sodré e foi “padrinho” do ingresso do Sr. Luiz Aparecido da Silveira na ARENA. Lico Silveira tinha sido eleito (1968) pelo MDB em oposição aos governos da revolução...Tomou posse em março de 1969 e, em abril, mudava para o Partido da Revolução! Em Botucatu, participou ainda da solenidade de posse, em 1969, do Arcebispo Metropolitano, Dom Vicente Marchetti Zioni, durante os festejos do aniversário da cidade.Tinha havido na Arquidiocese de Botucatu, a primeira greve de padres do Brasil contra a posse do então
considerado conservador D. Zioni.
Esse relato é necessário para que se tenha um cenário real do “racha” entre políticos do Sistema, de um lado, os moderados, de outro, os chamados “linha dura”... Essa divisão afetou o desempenho normal do Governo do Estado de São Paulo que teve, nos quatro anos da gestão de Abreu Sodré, a “espada” armada sobre a cabeça de seus governantes”...
Leia o histórico do ex-prefeito de Botucatu, Luiz Aparecido da Silveira em seu Centenário. As disputas políticas. A composição do governo municipal com Lico Silveira sempre se esquivando dos que queriam manipular... Às vésperas das eleições municipais é bom fazer um exercício de cidadania...
CENTENÁRIO DE LICO SILVEIRA - EX-PREFEITO DE BOTUCATU
31-07-1917 / 31/07/2017
No dia de ontem comemorou-se o Centenário de Nascimento do ex-prefeito de Botucatu, Luiz Aparecido da Silveira (Lico Silveira), lembrado na internet por iniciativa de ANTONIO CARLOS DOS SANTOS, cidadão prestante e atento de Botucatu. Assim, vamos divulgar artigo que fizemos para a REVISTA PEABIRU, nº 26, de setembro/outubro de 2008:
ELE CONSTRUIU UMA CIDADE EM BOTUCATU
É fundamental que haja isenção na análise de determinado período político E é exatamente o que ocorre no presente caso Ao focalizarmos a figura política do Sr. Luiz Aparecido da Silveira, ficamos à vontade, eis que nunca perfilhamos politicamente com ele e lhe fizemos efetiva oposição na hora e no momento devido. E nesta análise, queremos destacar o período (1977 a 1982) de 6 anos em que exerceu, pela segunda vez, o cargo de Prefeito Municipal de Botucatu. É muito importante esta análise na medida em que pretendemos fazer um estudo comparativo do período citado somado às gestões anteriores e o período de 1983 a 2008 , representando a comparação a 25 anos da vida cívica de Botucatu, no qual gerações de botucatuenses viram perdidas as esperanças de um futuro melhor
Nesse sentido, faremos um retrospecto rápido da carreira política do Sr. Luiz Aparecido da Silveira – conhecido popularmente como Lico Silveira:
1 – Luiz Aparecido da Silveira/José Carlos Fiúza de Andrade, eleitos nas acirradas eleições de 1968, pelo partido do MDB – Movimento Democrático Brasileiro. A oposição derrotou os candidatos da situação, Antônio Delmanto/João Queiroz Reis, da Arena – Aliança Libertadora Nacional, em um cenário que lhe foi bastante favorável: greve dos estudantes universitários da FCMBB (Operação Andarilho), 1ª. greve de padres católicos do Brasil, contrários à posse do Arcebispo designado, Dom Vicente Marchetti Zioni;
de recebimento do Título de Cidadão Botucatuense (14/abril/1969)
Encontro partidário da ARENA para o ingresso do Prefeito Luiz Aparecido da Silveira (14/abril/1969).
2 – Tomando posse no mês de março/69, já no mês de abril/69 mudava para o partido do governo tendo como padrinho político o então Ministro da Justiça e autor do famigerado Ato Institucional nº 05 (AI 5), Luiz Antonio da Gama e Silva, que marcou a Nação Brasileira por um de seus períodos mais dramáticos e cruéis, quando a democracia brasileira sofreu seu mais forte revés;
3 – No seu primeiro mandato, o Sr. Lico Silveira recebeu a influência e a orientação política, alternadamente, dos ex-deputados estaduais Jayme de Almeida Pinto (sogro do seu vice-prefeito) e Vasco Bassói. Revelou-se um hábil articulador, nunca deixando que fosse marionetado por terceiros;
4 – Seu primeiro mandato (1969/1972), não apresentou grandes mudanças. Nesse período, a cidade de Botucatu como todo o Brasil “amargou” o período mais duro do Regime Militar, usufruindo, por outro lado, um período economicamente muito positivo e desenvolvimentista;
5 – No ano de 1976, o Sr. Lico Silveira se candidata novamente ao cargo de Prefeito Municipal. Convidado para ser seu vice-prefeito, declinei do convite e optei por sair candidato a vereador pelo grupo político que apoiava as candidaturas de Domingos Alves Meira/Álvaro Line Ceriliani (Pupo). Na ocasião, o seu vice-prefeito, arquiteto Eugênio Monteferrante Netto, foi escolhido em reunião realizada na residência de meu pai, que referendou a substituição;
Março/69 - Posse de Luiz Aparecido da Silveira e José Carlos Fiuza de Andrade.
Chegada do Ministro Gama e Silva no Aeroporto de Botucatu (14/abril/1969)
Solenidade
Prefeito Lico Silveira, Governador Paulo Egídio Martins e vice-prefeito Eugênio Monteferrante Netto
6 – Desde sua posse no cargo, contou sempre com a assessoria do ex-deputado estadual e advogado Dr. Vasco Bassói e com o apoio técnico-profissional do seu vice-prefeito, Eugênio Monteferrante Netto. Esse apoio e assessoria política durou até o ano de 1978/79 quando estourou o escândalo da compra de terreno para a construção de casas populares pelo governo estadual, através da CECAP. Valendo pouco mais de dois milhões de cruzeiros, o terreno foi pago no valor de mais de 7 milhões de cruzeiros, sendo certo que a diferença foi dividida entre os envolvidos e o proprietário da gleba, Sr. Apolinário de Almeida, só recebeu o valor de pouco mais de 2 milhões, conforme noticiário amplamente divulgado na época;
7 – No dia 10 de outubro de 1978, no exercício do cargo de vereador, apresentei o Requerimento que criava a Comissão Especial de Inquérito – CEI “para apuração de todos os fatos relacionados com o envolvimento e implicação do município e a determinação das respectivas responsabilidades” na compra de terreno para construção de casas populares pela CECAP. Assinaram o Requerimento os vereadores: Armando Moraes Delmanto (autor), Progresso Garcia, Walter Paschoalick Catarino, Elias Francisco Ferreira, Jorge Thiago da Silva, Hernâni dos Reis e José Ramos. Eram necessárias 5 assinaturas No ano de 1980, os cidadãos botucatuenses, Eder Trezza, Bahige Fadel e Antonio de Andrade, de acordo com a legislação vigente, fizeram denúncia pormenorizada e pediram à Câmara Municipal de Botucatu a criação de Comissão Processante para a cassação do mandato do Prefeito Lico Silveira. No âmbito político o impedimento do prefeito não aconteceu, sendo que o Prefeito obteve maioria na votação dos vereadores; houve a reparação financeira aos cofres públicos no âmbito judicial;
8 – Em seu segundo mandato (1977/82), o Sr. Lico Silveira conseguiu duas grandes vitórias: a construção de 1.560 unidades residenciais, acima do bairro do Lavapés, denominada COHAB 1 – Conjunto “Humberto Popolo”; e a vinda para o município de Botucatu da CAIO – Companhia Americana Industrial de Ônibus, cujos proprietários tinham parentesco com o escritor botucatuense Francisco Marins que efetivamente atuou para essa conquista. Na sequência, vieram as empresas Brashidro e Frontal;
Solenidade de inauguração do Conjunto Residencial "Humberto Popolo". Á esquerda, vereador João Carlos Moreira, à direita a viúva de Humberto Popolo e o Prefeito Luiz Aparecido da Silveira (1981)
industrias de porte, De destaque a atuação da equipe do ex-prefeito Lico Silveira juntamente com a atuação do vereador Ageo Maurício de Oliveira, como presidente da Câmara Municipal, com o apoio decisivo do deputado federal e presidente da ARENA, Salvador Julianeli CONSEGUIRAM verba do Governo Federal para a construção das Avenidas Marginais do Lavapés. No “JORNAL DE BOTUCATU”, de 30 de janeiro de 1982, reproduzida neste texto e que trata dos detalhes do projeto CURA - CENTRO ORGANIZADOR E ENCAMINHADOR DE PROJETOS DE URBANIZAÇÃO PARA CIDADES, do governo federal, que fornece dinheiro a fundo perdido e que, graças ao apoio do deputado federal Salvador Julianelli é que CONSEGUIMOS obter esse grande projeto, a fundo perdido, para a construção das tão sonhadas AVENIDAS MARGINAIS.
O DESASTRE DE UMA DECISÃO ERRADA
A partir de 1983, com a vitória do PMDB em todo o estado e em Botucatu, optou-se por deixar de lado todo o trabalho e a conquista do Projeto CURA, feito pelo prefeito anterior sob a alegação de que havia suspeita quanto à idoneidade do escritório que havia feito o projeto. Com grande prestígio no partido, Mário Covas, repetidas vezes, é citado com destaque por autoridade locais e líderes peemedebistas, que afirmam que Covas conseguiria um financiamento a fundo perdido para a construção das Avenidas Marginais muito melhor para Botucatu. CONSEGUIRIA...
No Ministério dos Transportes, à partir da esquerda, o presidente da Câmara Municipal, vereador Ageo Maurício de Oliveira, o prefeito municipal, Luiz Aparecido da Silveira, o deputado federal e presidente da ARENA, Salvador Julianelli e o Ministro dos Transportes, Mário Andreazza (1981).
10 – De inteira justiça citarmos que durante a gestão de Plínio Paganini (1973/76) já tínhamos o cenário positivo da economia e, consequentemente, a vinda das industrias Staroup, Costa Pinto, Hidroplas e Estrutec; apenas o déficit habitacional não foi atendido. DEFINITIVAMENTE o município de Botucatu NÃO mais contou com a vinda, de 1983 para cá, de unidades industriais, sendo que houve novo século uma grande demanda governamental na construção de conjuntos habitacionais, quer pelo governo federal (“Minha Casa, Minha Vida”), quer pelo governo estadual (CDHU). (AMD)
Comentários:
1 - Antonio Coine (Facebook): Caro Confrade Dr. Armando Moraes Delmanto. O verdadeiro historiador é aquele que escreve, sem parcialidade e rompantes emocionais, os fatos ocorridos na história para deixar como legado positivo para as gerações futuras aquilo que foi verdadeiro. Isso é o que penso sobre você, nobre confrade e historiador da nossa cidade. Por isso agradeço pela maneira séria e honesta com que escreveu a história do nosso tio Luiz Aparecido da Silveira, conhecido como “Lico Silveira’. Lembro-me que conversando, certa feita com o nosso saudoso e nobre amigo, o Engenheiro Eugênio Monteferrante, e ele nem sabia que eu era sobrinho dele, se referiu ao tio Lico como uma pessoa que tinha visão do futuro. E o tio Lico soube escolher pessoa tão ilustre como Monteferrante, bem como outros ilustres cidadãos botucatuenses para realizar o governo que você descreve com maestria. Agradeço em nome da família. Abs nossos.
9 – Com a construção da COHAB 1- Conjunto “Humberto Popolo”, o Prefeito Lico Silveira conseguia o grande feito de trazer para Botucatu um conjunto residencial popular MAIOR que muitos municípios vizinhos ( Bofete, Conchas, Itatinga, Pardinho). É de justiça destacar a colaboração efetiva da Câmara Municipal para o sucesso desse empreendimento, aprovando a destinação de 100 mil cruzeiros para toda a infra-estrutura desse conjunto habitacional. Depois disso, no gráfico técnicamente elaborado e abrangendo até o ano de 1996, será possível ver que de 1983 até o ano de 1996, muito pouco coisa foi feita em termos de diminuir o deficit habitacional de nosso município. Ao mesmo tempo, no ano de 1978, o esforço realizado pela Prefeitura de Botucatu, como um todo (e aqui é preciso destacar a atuação técnica do arquiteto Monteferrante e assessoria política e jurídica do dr Vasco Bassoi) para concretizar a instalação da CAIO, obteve êxito: a doação de terreno, a concessão de incentivos fiscais e a gigantesca terraplenagem (vide foto na contra-capa da revista) realizada no área onde hoje está situada a CAIO/INDUSCAR é uma mostra positiva desse esforço Como Chefe do Executivo, Lico Silveira teve uma atuação realmente eficiente e bem assessorada nesse caso. De sua gestão para cá, infelizmente, a cidade de Botucatu NÃO MAIS CONSEGUIU atrair
1 de agosto de 2017 às 16:35
1 - Delmanto disse... Caro Confrade da Academia Botucatuense de Letras e Reverendo Pastor Emérito da Igreja Presbiteriana Monte Sião e Pastor Jubilado da Igreja Presbiteriana do Brasil, Reverendo Antonio Coine, sua manifestação, em nome da família do ex-prefeito Luiz Aparecido da Silveira (Lico Silveira), deixou-me realmente emocionado. É reconfortante sentir que o trabalho feito é aceito e elogiado. O ex-prefeito Lico Silveira governou Botucatu por 10 anos! Os exemplos que citei, as Avenidas Marginais, a COHAB 1 e a CAIO servem para reforçar o que lhe foi dito pelo saudoso arquiteto Monteferrante que o ex-prefeito tinha boa visão do futuro. As fotos que ilustram a matéria me foram dadas pelo ex-prefeito. Recordo-me que no último mês de vida de meu pai, o ex-prefeito foi lhe fazer uma visita e solicitou que eu estivesse presente. É assim que deve ser uma comunidade. E essa foi a homenagem que lhe prestei...É REGISTRO HISTÓRICO!
1 de agosto de 2017 às 16:45
Relação de Antônio Delmanto e Lico Silveira
Na foto abaixo: CHURRASCO DE CONFRATERNIZAÇÃO DOS CANDIDATOS (PEDUTI E DELMANTO) A PREFEITO MUNICIPAL/1951
À partir da esquerda: Srs, Camargo, Mariano, Nicola Avalone, Darwin do Amaral Viegas, Mário Venditto, Emílio Peduti, Carlos Almeida Pinto, Antônio Delmanto, Luiz Aparecido da Silveira, Alfredo Tortorela e Adolfo Pardini. À frente: José Simões (Zezinho da Farmácia) agachado e os meninos Armando Delmanto e Rui de Almeida Pinto.
Na política de Botucatu a prioridade tem que ser Botucatu
Discurso de Antônio Delmanto, candidato a Prefeito Municipal, em 1968, ao lado do Governador Roberto de Abreu Sodré, com as presenças de Plínio Paganini, Dr. Vasco Bassoi, Prefeito Amaral Amando de Barros, Dr. Antônio Delmanto, radialistas Neder Filho e Quinteiro, Dr. José da Silva Coelho e Secretario de Estado, Eduardo Yassuda.
ABRINDO AS PORTAS: Após as eleições municipais de 1968 e a vitória do MDB, Antônio Delmanto foi convocado para marcar uma audiência com o Governador Abreu Sodré e a comitiva de políticos botucatuenses, liderada pelo Prefeito Lico Silveira. No saguão do Palácio dos Bandeirantes, a comitiva pol’tica, tendo ao centro o Prefeito Lico Silveira e Antônio Delmanto/ 1969.
NA
POLÍTICA OPOSIÇÃO E SITUAÇÃO NO DIA SEGUINTE
RELAÇÕES REPUBLICANAS ENTRE PREFEITO E VEREADORES
VEREADORES ARMANDO MORAES DELMANTO, PREFEITO LICO SILVEIRA, VEREADOR JOÃO CARLOS MOREIRA, PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL E VEREADOR ELIAS FRANCISCO FERREIRA (1977)
FINAL DE 1977, ANTES DO ESCÂNDALO DA COMPRA DE TERRENO PARA A CONSTRUÇÃO DE CASAS POPULARES, ATRAVÉS DA CECAP (1.560 UNIDADES: CONJUNTO HABITACIONAL HUMBERTO POPOLO).
Buscar na cidade de Botucatu, interior do Estado de São Paulo, o exemplo de como a Ditadura e seus tentáculos chegam até onde nem se imagina...
Assim como a revolução cultural que abalou o mundo, chegou ao Brasil e se espalhou por todos os cantos do país, encontrando solo fértil até em pequenas e médias cidades de nosso interior, a luta política pela construção da democracia no Brasil também encontrou solidariedade e teve que enfrentar os poderosos, os oportunistas, os despreparados para o exercício pleno da cidadania
Até por minha própria origem, vou buscar na cidade de Botucatu, interior do Estado de São Paulo, o exemplo de como a Ditadura e seus tentáculos chegam até onde nem se imagina
O Cenário Político: O país subjugado pelo AI - nº 05. Cassações de mandatos parlamentares. Fechamento das Assembléias Legislativas, a chamada linha dura dos militares dera o golpe no golpe...
Fecham a Frente Ampla, que sob a liderança de Lacerda , Juscelino e Jango pregava a volta do país ao Estado de Direito. Posteriormente, o acidente aéreo que vitimou o expresidente Castelo Branco ocorrido no céu abertíssimo do Nordeste; o acidente de Juscelino na Via Dutra; e a morte de Lacerda e Jango de modo a não convencer ninguém, nos lembrava um verdadeiro filme de terror
Pois bem, em Botucatu viriam ocorrer fatos políticos que parecem, à primeira vista, impossíveis de vingar em solo regado pela prática democrática Mas não foi assim Ocorreu sim Botucatu foi palco da ambição desmedida de uma pessoa de formação duvidosa: Luiz Antonio da Gama e Silva. Professor da Faculdade de Direito/USP, “conseguiu” ser seu Diretor e, mais, «conseguiu» ser Reitor da USP. Essas «conquistas» no pós 1964... No seu retorno, após os fracassos na busca do poder, teve que pedir seu afastamento da Instituição por ABSOLUTA falta de condições para a convivência docente universitária Aqui abro um parêntese final Infelizmente, é preciso que se fale do ex-Ministro Gama e Silva. Em todo movimento político, existe a parte ruim, a nódoa, a parte que compromete. Na Revolução de 64 e principalmente após 1968, Gama e Silva foi um dos que procuraram usar o Poder para a satisfação de seus interesses pessoais e para a compensação de suas frustações.
seus irmãos. Não obteve sucesso: “A última informação que tenho, e não tenho prova, é que o Gama e Silva - o que já é uma prova da decadência da Burshenschaft - tentou ultimamente reorganizála, mas que os bucheiros veteranos, os que restam, recusaramse. Primeiro, porque não estão de acordo com muita coisa da Revolução, embora muitos deles a tenham ajudado; segundo, porque não quiseram ser instrumento do Gama e Silva, achando que ele queria reorganizar a Burschen para pô-la a serviço dos seus interesses políticos junto aos militares. E puseram uma pedra em cima do assunto. Parece que realmente não existe mais, parece que é uma coisa ultrapassada...»(in «Depoimento»,Carlos Lacerda, pág. 90, Editora Nova Fronteira).
Professor de Direito (USP), chegou à direção da Faculdade de Direito e à Reitoria da USP, com o “apoio” das forças revolucionárias Como Reitor da USP realizou uma perseguição sem precedentes na política universitária. Assumindo o Ministério da Justiça, realizou violenta perseguição seguida, agora, da cassação e afastamento de mais de 3 dezenas de Docentes, entre eles, Fernando Henrique Cardoso, Paul Singer, Florestan Fernandes e Paulo Duarte. A alegação era de que os mesmos eram comunistas ou esquerdistas, mas, na verdade e na grande maioria, eram desafetos da política universitária...
Pois bem, o Sr. Gama e Silva, passou a alimentar um sonho: ser Governador do Estado de São Paulo. Após a edição do AI-5 -aberração jurídica e antidemocrática de sua lavra - , passou a fazer marcação firme sobre o Governo Abreu Sodré. Achava que no Governo Estadual, os pertencentes ao Movimento dos Administradores Cristãos (Nelson Gomes Teixeira, Arrobas Martins e outros), além de outras autoridades, entre eles, com destaque, o Secretário da Educação (ex-Reitor da USP e desafeto na política universitária), o Prof. Ulhôa Cintra, eram simpatizantes da esquerda. Carlos Lacerda no estudo que fez da “Bucha”, diz da tentativa de Gama e Silva de se apoderar dessa instituição maçônica para realização de seus interesses. Não obteve a confiança de
Nesse mesmo sentido, ou seja, da atuação política do Sr. Gama e Silva cerceando São Paulo, o depoimento de Carlos Lacerda é esclarecedor. Achava Lacerda que, involuntariamente, havia sido o responsável pelo ocorrido. Após o anúncio da assinatura do AI-5, Lacerda, já cassado, relata em seu depoimento (obra citada), à pág. 364: “...passei a mão no telefone e liguei para Campos Elíseos, mandei chamar o Roberto Sodré, que já estava nomeado Governador de São Paulo. O Roberto não pode vir ao telefone, veio o Oscar Klabin Segall, eu disse: “Oscar, você diga ao Roberto que, se ele estiver disposto a resistir ao AI-5, assim como ele veio ao Rio no dia 31 de março, eu tomo um avião agora e vou ficar aí, ao lado dele. Só quero saber se ele vai resistir, porque se ele não vai, não vou fazer essa viagem de avião à toa. Depois, muito depois, o Sodré me disse que atribui a isso uma série de problemas que ele teve com o sistema em São Paulo, pois a conversa teria sido gravada e ele teria, por causa disso, sido suspeitado de ter tentado organizar uma resistência. Em todo caso, para efeito de história falada, o fato é que ele não organizou resistência nenhuma e acho que nem pensou nisso. Deve ter ficado como todo mundo, muito chocado, mas continuou no governo...” Mas a verdade é que, à época, o que se comentava era que houvera, realmente, uma tentativa de resistência. Com isso, o Sr. Gama e Silva teve argumentos para cercear e pressionar o Governo do Estado de São Paulo. Basta dizer, como exemplo, que na disputa estadual pelo Diretório Regional da ARENA, ele, Gama e Silva, tinha seu nome na Chapa Oficial de Sodré, por ser autoridade federal, e o seu Chefe de Gabinete, organizava e participava da Chapa da Oposição...
Até em Botucatu o Sr. Gama e Silva chegou. Ligou-se a políticos contrários ao esquema do Governador Abreu Sodré e foi “padrinho” do ingresso do Sr. Luiz Aparecido da Silveira na ARENA. Lico Silveira tinha sido eleito (1968) pelo MDB em oposição aos governos da revolução...Tomou posse em março de 1969 e, em abril, mudava para o Partido da Revolução! Em Botucatu, participou ainda da solenidade de posse, em 1969, do Arcebispo Metropolitano, Dom Vicente Marchetti Zioni, durante os festejos do aniversário da cidade.Tinha havido na Arquidiocese de Botucatu, a primeira greve de padres do Brasil contra a posse do então considerado conservador D. Zioni.
Esse relato é necessário para que se tenha um cenário real do “racha” entre políticos do Sistema, de um lado, os moderados, de outro, os chamados “linha dura”...Essa divisão afetou o desempenho normal do Governo do Estado de São Paulo que teve, nos quatro anos da gestão de Abreu Sodré, a “espada “armada sobre a cabeça de seus governantes”...
Fecho o parêntese ” (AMD)
REGISTRO HISTÓRICO 2:
PAULO DUARTE escreve:
O rinoceronte incorrigível
NOTA DA REDAÇÃO: Com autorização especial do jornalista Paulo Duarte e do “FATO NOVO”, a Direção deste jornal transcreve o presente artigo tendo em vista a influência negativa desse ex-ministro, em 1969, na já conturbada política botucatuense.
“Gama requer mandado de segurança para reverter à cátedra”, eis um dos títulos em parangonas, aparecidos em muitos jornais. Será que essa figura de “trapaça barrigudinha”, para usar uma expressão de Sérgio Milliet, ainda está sobrenadando na vida pública e universitária? Está, porque, neste nosso Brasil, certos tipos ainda encontram expedientes para sobreviver. Basta o exemplo de Adhemar, cujos herdeiros materiais, morais e políticos, aí estão em pleno usufruto do duvidoso acervo. Com o famoso Gaminha é a mesma coisa. Nenhum professor universitário digno será capaz de negar que Gama foi o pior reitor que teve a Universidade, em seus 36 anos de vida. Mas a sua passagem por ela nós mesmo a analisaremos em minúcias qualquer dia destes.
Neste momento basta lembrar aquele famoso inquérito que ele armou, com a cumplicidade de três catedráticos (desses catedráticos capazes de justificar plenamente a abolição da cátedra), os quais apresentam um escandaloso relatório pelo qual mais de cinqüenta professores, estudantes e funcionários deveriam ter os seus direitos civis cassados, e serem expulsos da Universidade. Esperto e manhoso, Gama resolveu arrancar um endosso das autoridades militares para essa ignomínia, solicitando um oficial superior que subscrevesse o vergonhoso documento. Foi designado um coronel que, por azar do Gaminha, era homem honesto e digno. E este conclui que, daquelas mais de cinco dezenas de pessoas condenadas à morte civil, apenas um ou dois “eram passíveis de processo”, no qual se averiguasse uma ação de proselitismo ideológico dentro da Universidade. Quando fomos processados, pela primeira vez, por Gaminha cujo sonho era nos por também fora da Universidade, requeremos aproveitando o que nos facultava a lei, o fornecimento, por certidão, desse relatório miserável, escondido em qualquer gaveta pelo reitor, para salvar os seus subservientes cúmplices e salvar-se a si mesmo. O documento não foi fornecido sob pretexto de que se achava no Palácio do Governo e a Reitoria não possuía nenhuma cópia...Não estava conforme se verificou. Ora, pelo menos os membros da triste comissão deveriam possuir cópia do que assinaram e fácil seria pois obter o texto requerido. Mas Gama sabia que, com ele, viria o retrato moral da situação universitária. E o precioso documento continua desaparecido ou sonegado às vistas até da Justiça. Só isso definiria a personalidade do reitor Gaminha, como sempre foi chamado.
Esse péssimo cidadão nunca soube separar as funções políticas dos seus interesses pessoais os mais mesquinhos, como demonstram tantos atos e atitudes que todos conhecem. Agora, o seu nome está envolvido em episódios da mais alta gravidade ligados a um ruidoso processo de inventário que corre na Guanabara. Mas Gaminha não teme nada. Conta com uma melancólica impunidade.
Não se desiludiu, ainda há pouco, quando proclamava a amigos que seria escolhido governador de S. Paulo. O apetitoso posto lhe foi negado. Contentou-se então em anunciar a sua nomeação para vice-governador. Esta fichinha de consolação lhe escorregou das mãos também. Agora, esperanças maiores perdidas, ele quer ir finalmente para Portugal onde - não é preciso ser profeta para afirmá-
lo - estará, dentro em pouco, o seu nome envolvido em novo escárnio, pois Gaminha não sabe nunca honrar qualquer posto que ocupe. Assim foi como jornalista malogrado, como jurista malogrado, como professor malogrado, como reitor raivoso, e como ministro. Vê-lo-emos, em breve, receber, por merecimento, o crisma de embaixador frustrado. É só aguardar.
Elevado, por um equívoco irônico, ao Ministério da Justiça, tornou-se responsável pela degradação da Universidade e pela sanha com que continuou a perseguir grande número dos melhores professores. Com um mínimo de compreensão, que é dever de qualquer professor consciente, os estudantes porventura intoxicados por infiltrações janguistas que ele mesmo facilitou e ajudou, teriam sido suficientemente esclarecidos e acalmados com o atendimento de algumas reivindicações legítimas que faziam. Mas foram brutalmente repelidos pelos furibundos rinocerontes chefiados por Gaminha, criando-se um problema insolúvel tudo devido à falta de competência e de coragem dos então dirigentes da Universidade, incapazes e sem autoridade moral para implantar e manter a disciplina.
A raivosidade com que se lançou contra os que não se submeteram à sua pessoa é de todos conhecida. Expulsou da Universidade um punhado dos seus professores por meio de informações falsas e de um decreto por ele mesmo armado, que levou ao Presidente da República de então, o qual, certamente ludibriado por Gaminha, o assinou, sem ter passado pelo Conselho de Segurança Nacional, conforme determina a lei. Vingança pessoal e covarde que, agora, em visitas que vem fazendo a várias de suas vítimas (depois que caiu no ostracismo do qual, oxalá, jamais possa sair), ele nega de pés juntos, atribuindo tudo ao Sr. Tarso Dutra, que era ministro da Educação ao tempo, com o objetivo de eximir-se das medidas que tomou.
Medroso, apavorado e humilde quando fora do poder, requereu a sua aposentadoria de professor, porque não ousou enfrentar os estudantes da Faculdade de Direito depois de perder o Ministério. Mas, nomeado embaixador, viu o quanto a posição universitária lhe poderia ser útil em Portugal, e sem o menor temor ao ridículo, requereu reversão à Cátedra já abolida, da qual apenas ficaria comissionado em Lisboa. Seu requerimento foi indeferido e agora ele está com um mandado de segurança que, concedido por um juiz singular, se acha, em grau de recurso, em instância superior.»
(jornal “Vanguarda de Botucatu”, 30/07/1970)
PAULO DUARTE (1899/1984)
(biógrafo, poeta, arqueólogo, professor universitário, memorialista e jornalista)
Foi um intelectual que deixou marcas profundas na cultura paulista e brasileira, quer como jornalista quando foi Editor do jornal “O ESTADO DE S. PAULO”, quer como fundador (1950)da revista cultural “ANHEMBI”, quer como componente, assim como Julio de Mesquita Filho, da equipe que batalhou pela fundação da UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP), em 1934, pelo GOVERNADOR ARMANDO DE SALLES OLIVEIRA. Foi professor da USP. No período da construção da Democracia (1934/37), foi eleito Deputado Estadual Constituinte, em 1934.
Paulo Duarte foi combatente da Revolução Constitucionalista de 1932, quando foi exilado pela primeira vez e, em 1937, com a Ditadura do Estado Novo, foi novamente exilado. Jornalista combatente e culto, representou em alto nível a cultura paulista.Em 1969, foi cassado pela Ditadura Militar.
Livros: “Sob as Arcadas”, “Agora nós”, “Versos de Trilussa”, “Prisão”, “Exílio”, “Luta”, “Palmares pelo Avesso”, “Mário de Andrade por ele mesmo”, “Amadeu Amaral”, “Júlio de Mesquita” e “Memórias” (em dez volumes).