Edição 1224

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Diário da Cuesta

NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU

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O poema dramático “Morte e Vida Severina” é a obra-prima do poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920-1999). Escrito entre 1954 e 1955, trata-se de um auto de Natal de temática regionalista.

O poeta, que nasceu no Recife, transformou em poesia visceral a condição do retirante nordestino, sua morte social e miséria.

Resumo da Obra

Morte e Vida Severina retrata a trajetória de Severino, que deixa o sertão nordestino em direção ao litoral em busca de melhores condições de vida. Severino encontra no caminho outros nordestinos que, como ele, passam pelas privações impostas ao sertão.

A aridez da terra e as injustiças contra o povo são percebidas em medidas nada sutis do autor. Assim, ele retrata o enterro de um homem assassi-

MORTE E VIDA SEVERINA

nado a mando de latifundiários.

Assiste a muitas mortes e, de tanto vagar, termina por descobrir que é justamente ela, a morte, a maior empregadora do sertão. É a ela que devem os empregos, do médico ao coveiro, da rezadeira ao farmacêutico. Nota, ao vagar pela Zona da Mata, onde há muito verde, que a morte a ninguém poupa. Retrata, contudo, que a persistência da vida é a única a maneira de vencer a morte.

No poema, Severino pensa em suicídio jogando-se do Rio Capibaribe, mas é contido pelo carpinteiro José, que fala do nascimento do filho.

A renovação da vida é uma indicação clara ao nascimento de Jesus, também filho de um carpinteiro e alvo das expectativas para remissão dos pecados.

João Cabral de Melo Neto

(09/01/1920 * 09/10/1999)

Foi um poeta e diplomata brasileiro. Sua obra poética, que vai de uma tendência surrealista até a poesia popular, porém caracterizada pelo rigor estético, com poemas avessos a confessionalismos e marcados pelo uso de rimas toantes, inaugurou uma nova forma de fazer poesia no Brasil. É considerado o maior poeta de língua portuguesa por escritores como Mia Couto.

João Cabral de Melo Neto

(09/01 1920 * 09/10/1999)

Foi um poeta e diplomata brasileiro. Sua obra poética, que vai de uma tendência surrealista até a poesia popular, porém caracterizada pelo rigor estético, com poemas avessos a confessionalismos e marcados pelo uso de rimas toantes, inaugurou uma nova forma de fazer poesia no Brasil. É considerado o maior poeta de língua portuguesa por escritores como Mia Couto.

Foi agraciado com vários prêmios literários, entre eles o Prêmio Neustadt, tido como o Nobel Americano, sendo o único brasileiro galardoado com tal distinção, e o Prêmio Camões. Quando morreu, em 1999, especulava-se que era um forte candidato ao Prêmio Nobel de Literatura.

Irmão do historiador Evaldo Cabral de Mello e primo do poeta Manuel Bandeira e do sociólogo Gilberto Freyre, João Cabral foi amigo do pintor Joan Miró e do poeta Joan Brossa. Casou-se com Stela Maria Barbosa de Oliveira, em fevereiro de 1946, com quem teve os filhos Rodrigo, Inez, Luiz, Isabel e João. Depois, em 1986, casou-se pela segunda vez, com a poetisa Marly de Oliveira. O escritor foi membro da Academia Pernambucana de Letras (embora não tenha comparecido a nenhuma reunião como acadêmico, nem mesmo a sua posse) e da Academia Brasileira de Letras.

O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.

A REVOLUÇÃO NO TEATRO NACIONAL

O teatro brasileiro vem desde os primórdios da colonização portuguesa. Mas só nos anos 50, começa a tomar forma a retratar a sociedade paulista com Jorge de Andrade enquanto Ariano Suassuna inova no teatro regional. Em 1948, Alfredo Mesquita funda a Escola de Arte Dramática - EAD, em São Paulo e Maria Clara Machado, em 1950, abre o Tablado, no Rio de Janeiro.

No final da década de 50 e início dos anos 60, a prioridade do então poderoso TBC - Teatro Brasileiro de Comédia para as peças e autores estrangeiros, leva os autores e atores nacionais a procurarem outro caminho vendo, no teatro, um meio válido para buscar a transformação da sociedade brasileira.

A Revolução Cultural do Teatro Brasileiro, na década de 60, a nosso ver, está marcada pela atuação teatral e política de dois grupos teatrais: o TEATRO DE ARENA, de São Paulo, sob a direção de Augusto Boal, Gianfrancesco Guarnieri e Oduvaldo Vianna Filho; e o GRUPO OPINIÃO, do Rio de Janeiro, sob a direção de Paulo Pontes , Oduvaldo Vianna Filho, Armando Costa. Na verdade, atuavam em perfeita simbiose

SHOW OPINIÃO – LIBERDADE/LIBERDADE/ MORTE E VIDA SEVERINA

Em 1965, assistimos no Rio de Janeiro a apresentação revolucionária do “Show Opinião”, com Zé Kéti, João do Vale e Maria Bethânia (substituindo Nara Leão). Era a estréia da novata Maria Bethânia no teatro. A sua interpretação dramática e a força que ela impôs à personagem repercutiram por todo o país: nascia uma estrela ímpar! Os autores do espetáculo, Armando Costa, Oduvaldo Vianna Filho e Paulo Pontes deixaram claro que “...é preciso restabelecer o teatro de autoria brasileira - não somente o teatro do dramaturgo brasileiro - o espetáculo do homem do teatro brasileiro. É preciso que finalmente e definitivamente nos curvemos à nossa força e à nossa originalidade».

Com direção geral de Augusto Boal e direção musical de Dorival Caymmi Filho, o espetáculo trazia a música

de Zé Kéti e João do Vale em cima de ampla pesquisa na autêntica música popular brasileira.

No mesmo ano de 1965, ainda no Rio, numa promoção do Teatro de Arena/Grupo Opinião, assistimos a apresentação de “Liberdade, Liberdade”, peça de Millôr Fernandes e Flávio Rangel, era o chamado teatro de protesto, criticando o movimento militar de 1964. A peça estreou no dia 21 de abril, Dia de Tiradentes. Era emblemática. Com Paulo Autran, Tereza Rachel, Nara Leão e Oduvaldo Vianna Filho.

“Liberdade.Liberdade”, reunia textos de vários autores sobre o tema-título: Sócrates, Marco Antônio, Platão, Aristóteles, Abraham Lincoln, Martin Luther King, Castro Alves, Vinicius de Moraes, Anne Frank, Danton, Winston Churchill, Cecília Meireles, Geraldo Vandré, Jesus Cristo, William Shakespeare e Carlos Drumond de Andrade.

Na sequência, ainda em 1965, mas agora em São Paulo, assistimos a peça “Morte e Vida Severina”, baseada no livro do mesmo nome do poeta João Cabral de Melo Neto, retratando a vida de um retirante que desce do sertão nordestino ao litoral em busca de uma vida melhor. A peça foi montada a pedido do escritor Roberto Freire, Diretor de teatro da PUC/SP. Era o TUCA (Teatro da Universidade Católica) a marcar a sua presença pela história do teatro brasileiro. Os poemas foram musicados por Chico Buarque de Hollanda. A peça representou o Brasil no Festival de Nancy/França, onde arrebatou o maior prêmio.

Na segunda metade dos anos 60 , a realidade política brasileira já estava mudada. O regime militar que se instalara no Brasil em 1964 recebera, no início, apoio expresso da sociedade brasileira ( marcha dos cem mil ) preocupada com os desmandos e falta de rumo seguro do Governo de João Goulart . Após a fuga do presidente, toda a classe política apoiou a eleição do Marechal Castelo Branco, para Presidente do Brasil, inclusive o PSD (oposição), de Juscelino Kubischeck , que por iniciativa do ex-presidente, indicou seu primo e correligionário José Maria Alckmin para o cargo de Vice-Presidente da República do Brasil. (AMD)

“Sonho líquido “ Capítulo 4

Na manhã seguinte, Aleyna acordou sobressaltada e com algumas lembranças incoerentes sobre o sonho que tinha repetidamente.

Nesse sonho era uma camponesa que morava numa floresta.

Sempre caminhava muito num campo de trigo carregando um fardo pesado nas costas.

Levava esse fardo a um moinho perto da choça onde vivia.

Tinha lembranças do pão feito com a farinha que trazia do moinho e assado no forno a lenha.

Distraida fez um café, que tomou olhando pela janela o seu pequeno e encantador jardim florido.

Ouvia a fonte com a cara de um leão de cuja boca jorrava água, o que tinha sobre ela um efeito tranquilizante.

Abrindo a caixa de correspondências, ao lado do portão de ferro, viu entre as faturas, folhetos de propaganda, um pequeno envelope a ela endereçado, mas sem remetente.

Aguçou os olhos curiosa, colocando a correspondência no pequeno balcão de mármore no vestíbulo, e segurando nas mãos como um tesouro, aquele envelope intrigante.

Pensou: “deve ser alguma propaganda de empreendimento na vizinhança”.

Achava que o volume dentro deveria ser algum brinde.

Pegou o velho abridor de cartas com o símbolo da coruja que ganhara no dia da formatura e abriu o envelope com estardalhaço rasgando-o um pouco.

Sobressaltada viu que dele caíra algo metálico, com brilho branco azulado que rolando foi parar atrás da porta de madeira.

Agachou-se e girando a porta devagar esticou a mão pegando o objeto brilhante. Abriu e mão e deu com o anel de safira, que retirara do lago na praça.

Chocada foi atrás do envelope que deixara sobre o aparador e ver se tinha algum papel acompanhando aquela jóia. Tinha um papel com uma única palavra :”Maktub”.

Arregalou os olhos surpresa, olhando aquele anel entre seus dedos.

Momentos Felizes

PEQUENO GESTO MENSAGEM DE LONGO ALCANCE

Noites de domingo são pachorrentas –no isolamento,,.. pior ainda. Se você gostava de futebol as arenas já fecharam os portões – reprises até com resultado zero a zero está valendo nas televisões revivendo emoções antigas, especialistas em repetições se digladiam em discussões improdutivas e de uma chatice irritante; os torcedores, como sempre, desiludidos ou eufóricos com seus times, se espremem nas filas dos ônibus e dos metrôs; o indicado será procurar um canal pago e estes, no mais das vezes estão por meses inteiros repetindo os filmes com as tragédias nacionais e estrangeiras, exibidos a exaustão, ou seja, filmes de pouco ou nenhum interesse artístico.

Voltando aos canais abertos aí a coisa pega, Além do “cansástico” nada se aproveita no item qualidade. Exceções são poucas. Ele, há pouco tempo havia instalado no muro externo da casa grande as câmeras vigilantes. Ficar olhando o movimento das ruas não era um programa dos melhores, até mesmo pela monotonia das imagens, com os carros que sobem e descem em velocidade desafiadora

da legislação e noctívagos em passos apressados na noite, caminham sob postes de fraca iluminação. Na falta do melhor, que tal ficar olhando para os registros da câmera oculta, – Assim pensou e assim ficou conectado à telinha, afinal, 21 horas ainda era muito cedo para o sono reparador. Não chegou a contar quantos passantes ou veículos modificaram a paisagem... afinal não era estatístico nem havia recebido pedidos de gráficos comparativos. Pois é, para sua surpresa, aliás agradável surpresa por volta de 22:37’ horas a imagem mostrava uma dessas sacolas, vazia, no meio da rua. Veículos faziam a sacola bailar de um lado para outro e até mesmo os pedestres não se preocupavam com ela.

Os que paravam achavam engraçado aquela sacola sendo lançada de um lado para outro e teimando em permanecer no mesmo local onde foi atirada.

Bem... em toda estória fabulosa há que tirar sempre ideias com as regras de conduta e comportamento e assim é que nessa noite um ciclista viu a sacola. Rodopiou em torno dela, desceu da bicicleta, apanhou a sacola e a colocou no aparador de lixo. A cena só foi vista por quem estava sintonizado na câmera registradora das imagens da rua e que ele, por falta de opções teve o privilégio de testemunhar. Apenas lamenta não ter ido à rua cumprimentar e parabenizar o jovem ciclista por sua ação, e que, no pequeno gesto lançou sua mensagem de consciente Cidadania.

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