Casa de Saúde “Sul Paulista” – 1928
Na segunda metade dos anos 20, Pedro Delmanto (Pietro Del Manto) já tinha completado seu ciclo produtivo de calçados: com fazenda de gado, curtume, fábrica de calçados (máquinário importado da Alemanha) e loja de comércio, sendo que exportava calçados para a França e a Alemanha. Era um imigrante empreendedor de sucesso. E conseguira realizar um grande sonho: um hospital para atender a forte colônia italiana de Botucatu e dirigido por seu filho primogênito, Aleixo, que se formara em Medicina pela Real Universidade de Parma, na Itália... Pedro Delmanto procurou reproduzir, em pequena escala, em Botucatu, na Casa de Saúde, as linhas arquitetônicas de um grande hospital de Florença. Assim, inaugurou a Casa de Saúde “Sul Paulista”, em 1928. Com a presença do Consul Italiano, Cav, Serafino Mazzolino, representando o Rei da Itália, foi inaugurado com toda a pompa esse pequeno hospital.
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No final dos anos 20, Botucatu vivia fase de excelência acadêmica na Medicina
Bem antes da fase gloriosa de nossa Faculdade de Medicina, em 1928, com a inauguração da Casa de Saúde Sul Paulista, Botucatu passou a ser referencial e orgulho da Colônia Italiana Paulista. Àquela época, tivemos um Professor Universitário, Titular de cargo docente em uma das mais antigas e prestigiadas Universidades da Europa (Universidade Real de Nápoles): Professor Ludovico Tarsia, Professor Titular da Cadeira de Clínica Cirúrgica. Podemos dizer que já àquela época Botucatu revelava sua vocação de futuro centro médico universitário.
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Aleixo Delmanto, aniversariante de hoje (10 de outubro), foi o primeiro botucatuense oriundi a se formar em Medicina pela Universidade de Parma, com Especialização na Universidade de Bologna/Itália.
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REGISTRO HISTÓRICO
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livro “Memórias de Botucatu 2”, de 1993, de Armando Moraes Delmanto, págs. 39 a 50.
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ALEIXO DELMANTO (1901- 1994)
Os imigrantes italianos que vieram para Botucatu no final do século retrasado (1887), chegaram carregados de esperanças e com uma só determinação: serem vencedores na nova pátria. Como a educação no Brasil, no início do século, ainda não tivesse atingido o nível que hoje possui, principalmente no interior, Aleixo Varoli patrocinou a ida de seus netos para a Itália, para que pudessem estudar e preparar-se para a futura vida profissional.
Aleixo Varoli enviou seus netos para que estudassem no tradicional e conceituado “Collegio Maria Luigia”, da cidade de Parma, em regime de semi-internato. Mais uma vez, contou com a colaboração de Giuseppe Botti para que fizesse o acompanhamento, na sua ausência, da atuação dos meninos. Foram do Brasil, com média de 9 anos, Aleixo Delmanto (filho de Pedro/Maria Delmanto) e Alfonso, Julio, Carlos e Mário Botti (filhos de Francisco/Albina Botti).
Todos fizeram do básico ao colegial na Itália, tendo Aleixo Delmanto feito também a Faculdade de Medicina da Universidade de Parma e, depois (1930/31), especialização na Universidade de Bolonha - a mais antiga Universidade do Mundo! Tanto Parma como Bolonha pertencem, hoje, à Região Emilia-Romagna, uma das mais desenvolvidas da Itália. Em seu retorno ao Brasil, o jovem médico botucatuense (primeiro “oriundo” local a formar-se em Medicina), recebeu uma grata surpresa e um grande incentivo: seu pai, o industrial italiano Pedro Delmanto, havia construído uma réplica reduzida de um grande Hospital de Florença! Seria em 1928 a inauguração, em Botucatu, da Casa de Saúde “Sul Paulista”...
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CASA DE SAÚDE “SUL PAULISTA”
No inicio dos anos 20, a então poderosa colônia italiana em Botucatu atingia o auge de sua prosperidade Era mais unida e o sentimento da origem comum ainda era forte A colônia italiana tinha a sua escola, a sua banda musical, o seu jornal, o seu clube social, o seu teatro, os seus estabelecimentos comerciais, as suas fábricas e até a sua loja maçônica. Longe deles qualquer sentimento di visionista, ao contrário, o que havia era uma natural aglutinação de pessoas com a mesma ori gem, os mesmos costumes, a mesma paixão pelas coisas...
Como ocorrera, com muito sucesso, na capital, onde a colônia italiana erguera, sob ocomando do Conde Matatarazzo, o imponente Hospital Umberto Primo, em 1904, ampliando-o sucessivamente, o exemplo passou a ser seguido pelos núcleos mais expressivos dos imigrantes italianos nas cidades do interior do estado
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E Botucatu estava situada no limite de onde chegara a Estrada de Ferro Sorocabana, em 1889 e dali partindo para a conquista do interior, “plantando” cidades com o progresso que as suas paralelas levavam: Lençóis Paulista, Bauru, Assis, Ourinhos e Presidente Prudente se destacando entre tantas outras Inaugurada com toda a pompa, com banda de música, a presença de autoridades e comparecimento expressivo da população num verdadeiro congraçamento dos imigrantes com os botucatuenses e, suprema honra, com a presença do Cônsul Geral da Itália representando o Rei da Itália. Sucesso. Com a Direção do Prof. Dr. Ludovico Tarsia, compunham a Diretoria: os Drs. Aleixo Delmanto e Miguel Losso, médico italiano já integrado à colônia local
ALEIXO DELMANTO – O PRIMOGÊNITO !
Com apenas 9 anos, o menino Aleixo foi estudar na Itália. Imaginem um menino de 9 anos... Lá, Aleixo fez seus estudos em Parma onde acabou cursando Medicina, com especialização na tradicional Universidade de Bolonha. Em Parma, casou-se com Rina (Arthurina) Cantoni. E voltou para o Brasil como o primeiro dos “oriundi” formado em Medicina. Foi uma vitória da família e, com certeza, de toda a numerosa colônia italiana de Botucatu. Primeiramente, de forma pioneira, na Casa de Saúde Sul Paulista e, ao depois, por 40 anos na Misericórdia Botucatuense, como Chefe do Serviço de Radiologia.
Aleixo se dedicou à medicina por 60 anos de efetivo exercício profis-
sional. Nos primeiros anos da nossa Faculdade de Medicina pode colaborar com seus ensinamentos para o engrandecimento dessa modelar instituição
Comunicativo e extrovertido, Aleixo participou sempre das atividades culturais e festivas da colônia italiana na cidade Traduziu os clássicos italianos, escreveu as letras de muitas músicas, inclusive, a letra do HINO DE BOTUCATU. Foi um dos fundadores do TAENCA (Cine Teatro Nelli) e da Academia Botucatuense de Letras. Enfim, foi um cidadão prestante. Seus filhos, Rubens Aleixo (médico) e Glória Maria (professora), deixaram-lhe netos e bisnetos
Em carta datada de 08 de fevereiro de 1914, meu pai, Antônio Delmanto, deixava expressa toda a felicidade e todo o orgulho que a família e amigos tinham do jovem Aleixo:
“...ti faccio sappere che sono passatto nella Scuola Botucatuense per poter imparare anche a língua portoghese ma il babbo me disse che da qui 2 anni vengo anch’io in Italia per poterme imparare come sideve, qui noi tutti stiamo bene...Riceve um baccio dal tuo fratello, Antonio Delmanto”.
E termina, com letras maiores:
“Viva Alessio,Viva Alessino!” Saudades, caríssimo Tio Aleixo! Saudades! (AMD)
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REGISTRO HISTÓRICO
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Publicidade da Casa de Saúde Sul Paulista na revista trimestral “A CRUZADA”, editada em Botucatu, tendo como Diretor e Redator o Sr. Antonio Moura, como Gerentes os Srs. Jorge Ferraz e Alvaro Monteiro e como Secretários os Srs. Gilberto Pereira Machado e Genaro Lobo (edições de novembro/1929, abril/1930 e setembro de 1930.
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“A viagem “
Maria De Lourdes Camilo Souza
Você já encontrou objetos que parecem ter saído de um porão de alguma casa antiga?
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A raposa ficou ali me olhando com esses olhinhos pidões, e eu fiquei acariciando o pelo escuro, pensando e a imaginação viajava.
Passei por tantos lugares num átimo.
Murmurava alto: isto vai dar uma estória...
Quem estava comigo me olhava surpresa.
Devia pensar: a mulher endoidou!
E eu repetia como aquele arqueólogo que encontrou um tesouro numa escavação, “ que estórias lindas devem estar por traz desses objetos.
Imagino quantas viagens, lugares, hotéis...
Cheguei a ver a mulher da estória: cabelos lisos castanhos cortados Chanel, com franja curta.
Olhos grandes, expressivos, nariz afilado, bem feito, usa um vestido de seda de bom corte, com estampa de flores, boca de lábios bem desenhados e vermelhos.
Porte altivo, usando sapatos de salto médio, marrom, da mesma cor castanho da bolsa e da mala.
Usa a raposa pendurada no ombro direito.
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Um chapeuzinho cobrindo parte dos cabelos, de corte perfeito.
Quando entra em algum ambiente sempre chama a atenção por sua personalidade marcante.
Já viajou pelo mundo todo, aventureira.
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Londres é a sua cara, sente-se em casa frequentando um pub, bebendo sua cerveja espessa.
Paris ou Roma, viajou de trem de Veneza até a Índia, de lá para o Egito com suas pirâmides , Istambul e o Bósforo...
Chegou na África descendo de barco pelo Nilo, participou de safaris.
Quando volta para sua casa nem desfaz as malas porque já tem outros destinos em mente.
Fecha-se no escritório e já começa a escrever suas aventuras.
Sua vida toda é uma viagem.
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