SR. BRASIL, SAUDADES...
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Rolando Boldrin
Comunicador, ator, cantor e contador de “causos” que soube interpretar e prestigiar a cultura brasileira em sua inteireza. Deixa – com certeza! – um vazio que precisa ser preenchido na defesa de nosso rico folclore e de nossa cultura musical raiz. No aniversário de Rolando Boldrin, no mês passado, o Diário da Cuesta prestou a sua homenagem. É Registro Histórico.
O cantor e ator Rolando Boldrin, nascido em 22 de outubro de 1936, e falecido em 9/11/222, aos 86 anos, em São Paulo. A morte foi confirmada pela assessoria de imprensa do artista para a TV Cultura, que não divulgou o motivo do falecimento.
Boldrin estava no ar semanalmente no programa Sr. Brasil, da TV Cultura, que apresentou por 17 anos. Nascido em São Joaquim da Barra, interior de São Paulo, ele começou a trabalhar na extinta TV Tupi em 1958. (Fonte: Metrópoles)
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ARTIGO
Ei, amigo, esse artigo é meu!
“certas canções que ouço, cabem tão dentro de mim, que perguntar carece, como não fui eu que fiz...”
É sempre assim: uma frase, um artigo, uma musica, uma crônica ou um livro parecem ter saído do fundo da nossa alma. Será? Tem até uma canção do Milton Nascimento e do Tunai (irmão do João Bosco), chamada CERTAS CANÇÕES, cuja primeira frase reproduzimos acima, na abertura do artigo.
É isso, sim. Em uma crônica muito bem escrita, eu gostaria de poder dizer: EI, AMIGO, ESTE ARTIGO É MEU!!!!
Mas o artigo, infelizmente, NÃO é meu É artigo de origem registrada. Faz parte das crônicas do livro “APENAS UMA HISTÓRIA”, publicado em abril de 2007, com ilustrações do Prof. Vinício! O livro é o primeiro lançamento do José Maria Benedito Leonel, educador consagrado e comunicador tarimbado.
Eu que estava à época – após 25 anos – completando mais um ciclo de participação e militância na ABL – Academia Botucatuense de Letras, uma das tarefas, das “lições de casa” que eu não consegui fazer com sucesso, foi levar o Zé Maria, como é chamado o escritor, para ingressar e enobrecer a ABL...
Amigo de infância, fizemos o ginásio juntos no La Salle, fizemos o Tiro de Guerra juntos, tivemos amigos e “sonhamos” com tantas morenas bonitas na mesma época que eu diria, sem errar, que o Zé Maria foi e é um amigo para ser guardado para sempre...Seguimos caminhos diversos: ele, Educador; eu, Advogado, com militância cívica...Mas ambos sonhadores e “apaixonados” pela cidade de Botucatu de um modo geral e, ele, de modo especial, por sua “Piapara”. O Zé Maria tem a alma do caboclo da nossa região Escreve como o caboclo fala. Ele é – em minha opinião de escritor – o “nosso” Rolando Boldrin. E o artigo que eu gostaria de ter escrito, diz o seguinte:
“Agora já sei que o tempo não para, que o dia que passo não vorta mais. Agora já sei que a vida engana a gente. Tudo vai embora: o tempo da criança, a mocidade, as canturia, as varsa que dancemo, as sabedoria das prosa, os laços arrebentados pelo tempo, os agrados, os desafetos. Tudo vai embora. Vai embora a vaidade, a arrogância, o poder. A vida vai quebrando o nosso orgulho, domando nossas valentia, acomodando nossos repente, silenciando as cordas da viola Tudo vai embora. Vai embora a força do braço e do abraço. Vai embora as certezas que a gente defendia. Nada é tão certo assim, tão verdadeiro assim. Quem acha que é, que fique achando. Eu também já achei e não acho mais. Tudo vai embora. Na memória da gente vai ficando sobras, vurtos...” E conclui: “O que é a vida da gente? Até onde a gente é dono das rédea, troteando os dia de acordo com o nosso querê? Até onde o destino tem que sê cumprido? Que hora é a hora de muda a sorte, escolhê outra estrada, anda por outros ataio?”
São trechos que escolhi. Que beleza! Quanta brasilidade, não é mesmo?!? Finalizando, a FRASE QUE EU GOSTARIA DE TER ESCRITO, saída da sabedoria do sempre mestre Agostinho Minicucci: ”A mãe-pátria é a nossa cidade, no sentido de que elas, as cidades, as vilas, as fazendas compõem o país. Quem ama o seu torrão natal é um grande patriota, que idolatra o seu berço para enaltecer a grandiosidade da nação... Antes de vivermos para nós mesmos é preciso que vi-
Zé Maria
Leonel e esposa em uma cavalgada
vamos para a nossa Pátria e ela se chama Botucatu.”
E para encerrar estas reminiscências tão saborosas, ficamos com a música “Tristeza do Jeca”, de autoria de Angelino de Oliveira, feita especialmente para a cidade de Botucatu, a cidade que escolhera como sua...pra sempre...É considerada a melhor música do cancioneiro raiz brasileiro. (AMD)
ANGELINO DE OLIVEIRA
Tristeza do Jeca de Angelino de Oliveira, com Tonico & Tinoco
Nestes versos tão singelos
Minha bela, meu amor
Prá você quero contar
O meu sofrer e a minha dor
Eu sou como um sabiá
Que quando canta é só tristeza
Desde o galho onde ele está
Nesta viola canto e gemo de verdade
Cada toada representa uma saudade
Eu nasci naquela serra
Num ranchinho beira-chão
Todo cheio de buracos
Onde a lua faz clarão
Quando chega a madrugada
Lá no mato a passarada
Principia um barulhão
Nesta viola, canto e gemo de verdade
Cada toada representa uma saudade
Lá no mato tudo é triste
Desde o jeito de falar
Pois o Jeca quando canta
Dá vontade de chorar
E o choro que vai caindo
Devagar vai-se sumindo
Como as águas vão pro mar.
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DIRETOR: Armando Moraes Delmanto
EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes
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O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação
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“Senhor Brasil”
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Maria De Lourdes Camilo Souza
Quando meus pais eram vivos, se ligava a TV CULTURA logo cedo, em nossa casa, nos domingos.
Meu pai assistia a Missa de Aparecida, logo depois o programa da Inezita Barroso e então era a hora do programa Sr. Brasil.
Tinha aquela música da abertura que eu sabia de cor e cantava junto.
Em seguida declamava uma poesia ou contava um causo.
Apresentava os cantores e as vezes cantava junto.
E assim foi por muitos anos, a ponto do domingo não ser o mesmo sem a sua presença.
Era o nosso querido contador de causos.
A gente parava para ouvir o nosso visitante das manhãs de domingo.
E sem avisar partiu hoje para contar seus causos e recitar as poesias, exaltar a nossa cultura lá no céu.
Sabia que um dia chegaria a hora, pois todos nós iremos um dia.
Entretanto não posso conter a tristeza que sinto.
Um pouco de nós e de nossa história, cultura se vai com ele.
Deixa alguns seguidores, aqueles que aprenderam com ele a arte de ser menestreis.
Showman encantador, seus programas eram sempre cheios de poesia e música, causos dos nossos matutos.
Trazia cantores, trovadores, artistas de cada canto deste país.
Era uma aula de história cantada em prosa e verso.
Vai em paz, querido amigo das nossas manhãs de domingo, inesquecível e amado para sempre.
O Brasil hoje se despede de um genuíno cantador dessa pátria amada!
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DIFÍCIL ENTENDER
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Bahige Fadel
Recentemente, ouvi uma notícia segundo a qual uma universidade federal do Maranhão havia contratado uma artista trans para apresentar a sua arte aos alunos. Sua apresentação foi uma dança erótica em que a referida artista trans mostrava suas partes íntimas, que, aliás, não deviam ser tão íntimas assim. E a artista deve ter feito um sucesso enorme, pois foi alegremente aplaudida. Quero deixar claro que ela foi paga por nós, que pagamos os nossos impostos.
A crônica não tem como objetivo discutir sobre sexo ou gênero, como preferem atualmente. Desejo falar sobre educação, sobre o processo de ensino e aprendizagem. Então, a pergunta que não quer calar é esta: O que a universidade ensinou e o que o aluno aprendeu, com essa apresentação artística? Notem que não estou colocando nada entre aspas, para que não pareça uma ironia do autor. Não quero ser irônico. Quero, apenas, dirimir dúvidas a respeito do processo de ensino e aprendizagem. já que meus longos anos na educação não foram suficientes para entender o que aconteceu, com o uso do meu dinheiro, nessa atividade.
Está certo. Podem dizer que o assunto era sexualidade ou gênero sexual. Até aí eu entendi. Agora, eu não consegui entender o que os alunos entenderam com o espetáculo apresentado pelo artista trans. Vamos lá: artisticamente, ele mostrou à plateia suas partes não tão íntimas. E o que isso ensina? O que isso mostra que os alunos ainda não conheciam? Um aluno universitário, em tese, já conhece esse tipo de espetáculo melhor que o professor.
Na verdade, não ensinou nada. Apenas mostrou o que já havia sido visto. E não estou discutindo a qualidade da apresentação, pois não vi.
Isso me faz lembrar a época em que eu era diretor de escola. Numa festa cultural realidade pela escola que eu dirigia, uma turma apresentou uma dança moderna. As meninas dançaram direitinho. Quando fui cumprimentar a professora pela apresentação, perguntei-lhe como tinha sido o treinamento das alunas. Para minha surpresa, a professora me disse que não havia feito absolutamente nada. As meninas lhe disseram que desejavam dançar e a professora as inscreveu. Elas conheciam a dança, que era feita num programa de TV. Decepcionei-me. Era uma festa cultural. O mínimo que se podia desejar era um aprendizado artístico. Mas não houve nada. As meninas fizeram o que já sabiam fazer, independentemente da escola. Ou seja, a escola não teve participação alguma, a não ser ceder o espaço. Isso tem pouquíssimo valor para o processo de ensino e aprendizagem, pois ninguém aprendeu nada, nem a professora, que poderia ter feito uma pesquisa sobre aquele tipo de dança e explicado para seus alunos.
Voltemos ao espetáculo trans. Não tem alguma semelhança com a história que acabei de contar? Infelizmente, a tal universidade apoiou o professor responsável. Falou em diversidade cultural, em respeito às diferenças. Essas coisas aí que são ditas quando não há um argumento melhor. Na verdade, não passou de uma apresentação inútil ou quase inútil. Se houve alguma utilidade, foi a estupefação e a indignação que ocorreram.
Depois não entendem por que somos sempre os últimos nas avaliações internacionais de nossos alunos.
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Momentos Felizes
PRAIA SECA
- Domingão, muito sol, céu azul e flores exibindo as mais variadas cores em estação da Primavera... Eis que chega pelas vias da internet, fotos de neta em praias santistas em uma situação invertida. Enquanto lá as crianças se divertem sobre esteiras, fazendo pocinhos e recolhendo conchinhas, mãe e tia desfrutam do calor e da brisa do mar.
- Aqui, como disse e ao contrário, a poltrona é praiana, aliás só a poltrona porque não há quiosques de aperitivos e não há mar e nem areia. Para proteção contra a canicular inclemência do sol, um boné de pala longa, uma latinha de Bud e livros para leitura.
- No campo da leitura encontrei o título “A busca da felicidade” de autoria de um meu primo de nome José Sebastião Pires Mendes que, ao discorrer sobre o tema diz “Longe de ser a quantificação do TER, e pertíssimo de ser a qualificação do SER, a felicidade pode se resumir na conquista das inegáveis belezas espirituais que todo mundo conhece e se obstina em não possuir e cultivar”.
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Roque Roberto Pires de Carvalho
isento de qualquer barulho, exceto o cantar tristonho do Sabiá Laranjeira sob o alpendre da casa grande, protegendo-se da severidade do sol.
- Na minha praia seca só tenho visão para as flores típicas da estação primaveril e minha mente cheia de recordações leva-me à praia molhada da minha juventude quando uma vez, sozinho caminhei pelas areias frias em final de tarde. Águas mornas com as ondas em início de maré alta, aproximam-se dos meus pés, subindo pelas pernas avisando-me dos eventuais perigos das ondas mais fortes empurradas pelo vento.
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- A praia molhada não aparentava estar isolada ou vazia..., lua cheia mostrava sua beleza batendo nas cristas das ondas; avistava-se ao longe luzes coloridas e eu estava literalmente sozinho entre o oceano tão perto e a cidade ao longe com os enfeites do Natal.
- Este domingo foi feito para meditar sobre dois paradoxos – praia maravilhosa com todas as ondas que o mar leva e trás e minha praia seca desfrutando apenas de uma brisa que vem do Sul mas, não obstante, com os mesmos efeitos de um lazer sadio, alegre e prazeroso. Independe de ser seca ou molhada minha praia é o recanto da chamada felicidade – sol de 29°C, local
- Deixei a praia molhada e caminhei para a minha praia seca... e, ao chegar, barulho característico de uma cidade média ao início da noite com seus transeuntes apressados e senti que não era só a minha praia que era seca, a cidade também era seca, indiferente aos problemas de cada um; ao passar sobre o ribeirão notei que ele também adquiria secura proveniente da longa estiagem...Era o início da noite... A mesma lua branca que clareava as ondas do mar, mandava agora suas luzes sobre as flores do meu jardim. Nesse momento procurei a cadeira praiana que havia deixado e a encontrei no mesmo lugar..., agora, em tranquila paz desejada e tão perto das imorredouras saudades.
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