Edição 1241

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Diário da Cuesta

DIA MUNDIAL DO LIVRO

No Dia Mundial do Livro, nada melhor que destacar aquele que foi um Editor reconhecido e Escritor premiado: o botucatuense FRANCISCO MARINS!

À frente da Companhia Melhoramentos que chegou a liderar a edição de livros, Marins firmou sua presença como autor de livros infanto-juvenis, além de resgatar a cultura regional paulista com seus livros sobre a saga da conquista da terra, a formação de povoados, das vilas, das freguesias e das cidades e a criação da maior lavoura do mundo: a cafeicultura paulista!

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FRANCISCO MARINS, O LIVREIRO!

Pouco divulgada essa atuação empresarial do botucatuense (sim, nasceu no Distrito da Prata, município de Botucatu), Francisco Marins. Sua atuação à frente da Editora Melhoramentos, à época uma das maiores senão a maior do Brasil, ficou marcada pela qualidade dos lançamentos literários e da grande distribuição dos livros, com sucesso, pelo Brasil. O grande folclorista “botucudo”, Alceu Manaird de Araújo, foi um desses escritores que tiveram seus livros editados e divulgados pela Cia Melhoramentos. Tendo a ajuda de Hernâni Donato, Marins realizou uma gestão de sucesso. Coincidentemente, graças às suas obras, Alceu Mainard ingressou na Academia Paulista de Letras e abriu as portas para Francisco Marins e, em seguida, Hernâni Donato Francisco Marins também teve atuação na Câmara Brasileira do Livro, onde também foi presidente, tendo realizado importante trabalho na defesa e no fortalecimento da edição de livros por todo o Brasil. O artigo escrito por Antônio Penteado Mendonça, também ex-presidente da APL -Academia Paulista de Letras, sobre Francisco Marins é sinalizador:

“Não há menino dos anos 1950 e 1960 que não tenha se divertido e aprendido lendo Clarão Na Serra, A Porteira Bateu, O Grotão do Café Amarelo e tantos outros livros escritos por Francisco Marins, um dos autores mais bem sucedidos do Brasil, com milhões de exemplares vendidos, numa época em que apenas Jorge Amado, além dele, chegou nesse patamar.

Mas, além de grande escritor e profundo conhecedor da história do Brasil, Francisco Marins foi presidente da Editora Melhoramentos numa época importante, pelo apoio dado a nomes do porte de Afonso de Taunay, Belmonte e vários outros historiadores e estudiosos do Brasil. Ele e Hernâni Donato se encarregaram de editar e divulgar as obras destes autores que tiveram – e ainda têm – enorme influên-

cia no estudo e na pesquisa de nossas coisas.

Francisco Marins também é nome fundamental na história e consolidação da Câmara Brasileira do Livro, entidade da maior importância para a cultura nacional, entre outras atividades, responsável pela Bienal do Livro de São Paulo

E foi duas vezes presidente da Academia Paulista de Letras, com participação importante no desenvolvimento da APL, pelas iniciativas inovadoras e pelas medidas destinadas a consolidar e modernizar a Academia Francisco Marins foi meu amigo. Com idade para ser meu pai, conversávamos sobre os mais variados assuntos e seus conselhos me ajudaram quando eu fui o presidente da Academia Paulista de Letras.”

O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente

Armando Moraes Delmanto

Diário da Cuesta 3

Francisco Marins: grande perda para Botucatu!

Faleceu, nesta madrugada, na Misericórdia Botucatuense, o escritor botucatuense FRANCISCO MARINS. Casado com Dona Elvira Bandeira de Mello Marins, deixa filho, netos e bisnetos.

Nascido em Botucatu (Distrito de Pratânia), Francisco Marins formou-se em nossa Escola Normal. Na capital, estudou e se formou pela Faculdade de Direito da USP. Fez carreira na conceituada editora MELHORAMENTOS, onde se projetou como livreiro experiente e inovador.

Sempre ligado à literatura desde os bancos escolares, Marins tem obra dedicada à juventude e à saga do café.

(revista PEABIRU nº 31, de março/abril de 2011)

(revista PEABIRU nº 28, de novembro/dezembro de 2009)

Duas vezes presidente da Academia Paulista de Letras, era atualmente seu Presidente Emérito. Na ABL, com Hernâni Donato e Alceu Maynard de Araújo formou o trio de Patronos vivos. Botucatu prestou e reverenciou, sempre, seus escritores. Na posse de Marins, como presidente da APL e de Hernâni como secretário, o “VANGUARDA DE BOTUCATU” registrou o grande acontecimento:

Preocupado com a incidência do câncer que ceifava tantas vítimas, trazendo o luto para as famílias, idealizou o HOSPITAL PREVENTIVO DO CÂNCER DE BOTUCATU, ocasião em que trouxe o Diretor do Hospital do Câncer de Barretos, Henrique Prata para que explanasse sua experiência na implantação do hospital do câncer de Barretos. Foi o início. Ao depois, fomos a Barretos à convite de Henrique Prata e pudemos conhecer a grandiosidade que goza, hoje, de fama mundial, graças à alta tecnologia e à competência com que trata seus pacientes.

Na parte cultural, Francisco Marins promoveu, juntamente com Hernâni Donato, a realização da 1ª Reunião Ordinária da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS, fora da capital, juntamente com a ABL – ACADEMIA BOTUCATUENSE DE LETRAS.

A revista PEABIRU presta suas homenagens ao Dr. Francisco Marins e estende, à toda a sua família, os sentimentos de pesar, na certeza de representar o sentimento de toda a cidade de Botucatu.

FRANCISCO MARINS, saudades! (AMD)

ANARQUISTAS, GRAÇAS A DEUS

Chegamos às últimas páginas do livro de Zéllia Gattai com uma multidão de fantasmas queridos ao nosso redor. Seu poder de memória posto em sequência colorida pela saudade, naquele característico humor latino sentimental que nos irmana a todos, descendentes de imigrantes, provocou-nos o revisar gostoso de cenas e personagens tão comuns à família originariamente italiana.

Aquele mundo maravilhoso tão rico de “nonno” e de “nonna”, de “zio” e de “zia”, de “cugine” a quem a criançada explorava na afetividade e nos carinhos, e que aos poucos foi-se diluindo no crepúsculo dos tempos para se fixarem, todos eles, no claro-escuro das doces lembranças, deixou-nos um sabor açucarado e delicioso! Que livro lindo! Tão chegado ao nosso coração de manteiga derretida! Como já vai longe aquele mundo!

“Mutatis mutandi”, Capital e Interior, ali estão as mesmas personagens. Tio Nello é o Eugenio Gattai tão bem descrito e a Zélia, caçulinha revolucionária das antigas fórmulas familiares, é a Mimi que hoje ai está! Temporaninha chegada com muito atrazo, assumiu sentimentalmente o ambiente doméstico e fez “Del babbo um pezzo di zucchero”. Para horror e admiração impotente dos outros irmãos, ao Cláudio, principalmente, que chegado com atrazo “Al pranzo ouvia cabisbaixo e tremente, a gélida e axiomática saudação paterna “Il fanciullo qui non Sá ubbedire non savrá, piu tarde, comandare!

Saudosos tempos de uma fraternidade atávica oriunda lá longe, do fundo genético dos milênios, em que o “pater-familia” romano era o comandante, o guia, o balisa que indigitava, sempre para a frente, aquela revoada de aves de arribação, forjadoras do progresso onde quer que te-

nham fixado o ninho.

Botucatu está presente no livro, às páginas setenta e sete e duzentos e trinta e três. Isso nos comove sobretudo, porque, através das personagens, mais uma vez, esta cidade bendita fornece subsídios literários através de nomes civilmente históricos. Tão judiada, tão politicamente subestimada ela é, se nos permitem os leitores o cabotinismo, a antiga Acrópole respeitosamente citada toda vez que se alteia a ideia sadia de nacionalismo puro, honesto, nas conquistas, na participação segura por uma Pátria coesa, grande, progressista, a marchar serena, sempre para o Alto.

Zélia Gattai nos cita “Il farmacista Gustavo Falbo”. Não o conhecemos, pois daqui saiu no segundo decênio, mas assistiu ao casamento de nossos pais, pelos quais aprendemos a reverenciar-lhe a memória.

Foi o proprietário da Farmácia Italiana instalada exatamente no casarão solarengo que depois veio a ser propriedade da família, lá na rua Curuzu. Romano de nascimento, farmacêutico formado, grande e invulgar cultura, educação esmerada, solteiro e arrimo dos tios Carlo e Angelina Perfetti, donos na época, de uma padaria onde hoje se situa a Casa Paganini. Relacionado com a família Pedretti, servia ao imenso clã.

Naquele tempo, Botucatu só tinha dois médicos : o grande benemérito Dr. Costa Leite e o Dr. Paulo Rugna. Gustavo Falbo, respeitado e acatado pelo seu saber, medicava também. E era diferentemente ouvido nas reuniões médicas. Dono de uma ética impecável, herdeiro de uma tradicional alquimia que vinha desde a velha sabedoria beneditina dos laboratórios dos conventos medievais, possuía formulas poderosas graças às quais, na epidemia de gripe espanhola tantas famílias se conservaram imunes e tanta gente se salvou.

Até então, os laboratórios industrializados não haviam invadido o mercado, destruindo a antiga farmacopéia considerada autentica panacéia.

Morto o tio, Gustavo Falbo vendeu a Farmácia Italiana a Lourenço Maffei e levou a tia viúva para a Itália. Anos depois, casado com uma nobre ítalo-romana: Ana de Villanuova Castellaci, fixou-se em São Paulo, e ali lhe nasceram os filhos Jajá, Fanfan e Carleto, que brincaram com Zélia Gattai, as brincadeiras inocentes de rua.

Falbo retornou muitas vezes a Botucatu, visitando amigos. Na Capital, frequentava assiduamente o palacete do cavalheiro Francesco Botti e com Augusto Panizza, esposo de Tia Anunciadina, jogava o “scoppone”.

Morreu numa tarde, quando para lá se dirigia, atropelado por um auto. Zélia Gattai retrocedeu muitas páginas na nossa memória.

( A Gazeta de Botucatu - 27/07/1984)

Momentos Felizes

RUA DA ESPERANÇA

S/N°, FUNDOS...

Durante alguns dias a casa grande na esquina da outra esquina ficou fechada. Seu morador havia viajado para uma cidade distante e estava ansioso para regressar ao lar, um tanto vazio. Estacionou o seu veículo, uma veterana e valente Brasília verde modelo 1989, última série, em frente ao portão e de imediato verificou a existência sob a porta principal de diversas correspondências, dentre elas, boletos bancários, contas de água, luz e telefone, cartões de boas festas, jornais, revistas e um arremedo de envelope manuscrito e endereçado ao morador, sem declinar o nome do destinatário e do remetente.

anos.

Dizia que sua mãe estava desempregada e seu pai só fazia bicos ganhando quase nada. Pedia também, se possível, uma cesta básica e deixou bem claro que essa ajuda seria apenas para este Natal, sem nenhum compromisso para o futuro. Com um Deus lhe pague encerrou a escrita e anotou seu endereço: Rua da Esperança sem número, fundos.

Dentro desse envelope uma cartinha manuscrita, com boa letra revelando que sua subscritora era uma menina de 9 anos de idade dando conta do seu drama natalino. Pedia ajuda com roupas e sapatos para ela e seus dois irmãos, um de cinco e outro de dois

Após atenta leitura dessa carta ele foi entregá-la ao Papai Noel que perambulava pelas ruas da cidade. O velho e moderno Noel não se interessou pela leitura e informou que sua tarefa ali e naquele momento era induzir compras na loja tal, distribuir balinhas e jogar beijinhos, bem como prometer coisas que não iria fazer. Pedida a devolução e meditando sobre a sutileza contida naquela cartinha, reuniu tudo o que fora pedido e deu a partida em seu velho automóvel, reabasteceu o tanque de gasolina e tomou o rumo da periferia da cidade, esperançoso em encontrar a Rua da Esperança e desejar para todos daquela Família e para todos os leitores deste Jornal UM FELIZ e SANTO NATAL!

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