Edição 1247

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Diário da Cuesta

RUI BARBOSA DIA DA CULTURA

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Proclamada a República (1889), tendo o Marechal Manuel Deodoro da Fonseca como Presidente Provisório, Rui Barbosa foi convidado para compor o governo como Sub-Chefe do Governo e Ministro da Fazenda (respondendo pelo Ministério da Justiça) Encarregado de elaborar um Projeto de Constituição para ser submetido ao Congresso Nacional Constituinte, que teria como Presidente, o Senador Prudente de Moraes. Página 3

EDITORIAL

A figura maior de Rui Barbosa não encontrou, até os nossos dias, alguém que lhe ombreasse Sua vida deveria fazer parte do ensino da CIDADANIA! Fez a famosa CAMPANHA CIVILISTA em uma época em que o militarismo sufocava a Nação. Autor da 1ª. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA, em 1891, inspirou-se no Império da Lei como o modelo ideal para uma sociedade onde imperasse a liberdade, a igualdade e a fraternidade. O Governo da Lei. A impessoalidade da Lei acima dos homens.

Ficou famoso como o ÁGUIA DE HAIA, por sua brilhante atuação, representando o Brasil, na 2ª.Conferência Internacional de Paz, realizada em Haia, Holanda. Discursando em inglês e em francês, Rui mostrou às grandes potências presentes o valor de seu país e a necessidade das Organizações Internacionais respeitarem as nações mais jovens e ainda em formação. Foi o grande destaque da reunião, saudado como vibrante revelação pelos jornais ingleses e franceses.

Formado pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (USP), Rui Barbosa deixaria as mais belas páginas sobre cidadania e o Estado de Direito em sua famosa “ORAÇÃO AOS MOÇOS (1921, comemorando neste ano 90 Anos!), que preparou como Paraninfo dos formandos. Ficou histórica e virou referência nacional. Tão atual que , em 2010, fizemos de uma de suas frases o referencial para o tema tratado no livro “História da Vitória Política Paulista:1934”, que relata o idealismo dos combatentes de 1932 e a vitória paulista nas Constituintes de 1933 (Nacional) e 1934 (Estaduais):

“Eia, senhores! Mocidade viril! Inteligência brasileira!

Nobre Nação explorada!

Brasil de ontem e de amanhã!

Daí-nos o de hoje, que nos falta...”

Nestes 40 e tantos anos, procuramos divulgá-lo nos jornais e revistas que editamos e em nosso livro, acima citado.

É um esforço. Mas é mais: é um dever! Principalmente quando vemos tantos malfeitos a denegrirem a cidadania e a envergonhar a Nação Brasileira!

Salve, Rui Barbosa!!!

A Direção. O meu juramento na Faculdade de Direito foi feito na presença do Diretor, Professor Manoel Gonçalves Ferreira Filho (Professor de Direito Constitucional). Ao fundo, o busto de Rui Barbosa, autor da 1ª. Constituição da República!

EXPEDIENTE

DIRETOR: Armando Moraes Delmanto

EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes

Contato@diariodacuesta.com.br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689

O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.

1ª Constituição Republicana do Brasil !!!

“Alguém deve rever, escrever e assinar os autos do passado antes que o tempo passe tudo a raso.”

Cora Coralina.

Não dá para dar errado. Vejam só:

Proclamada a República (1889), tendo o Marechal Manuel Deodoro da Fonseca como Presidente Provisório, Rui Barbosa foi convidado para compor o governo como Sub-Chefe do Governo e Ministro da Fazenda (respondendo pelo Ministério da Justiça) e Encarregado de elaborar um Projeto de Constituição para ser submetido ao Congresso Nacional Constituinte, que teria como Presidente, o Senador Prudente de Moraes. Para o Congresso Constituinte, Rui elegeu-se Senador pela Bahia.

Estamos comemorando a Promulgação da 1ª CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DO BRASIL, de 1891 !!!

Para ser mais exato, aos 24 dias do mês de fevereiro de 1891, era promulgada a constituição, era a CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL, elaborada pelo Ministro Rui Barbosa e, discutida e aprovada pelo Congresso, foi promulgada pelo Presidente do Congresso Constituinte, o Senador Prudente de Moraes

A obra de Rui preconizava o Governo da Lei. A impessoalidade da Lei acima dos homens. Essa foi a linha mestra da construção de Rui: o seu projeto é o de uma República organizada pela Lei e da Lei interpretada pelos Tribunais.

Inspirada na constituição liberal dos Estados Unidos e filosoficamente baseada no Positivismo, a Constituição de 1891 efetivou a descentralização dos poderes como sua característica maior: Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Deu grande autonomia aos municípios e aos estados (antigas províncias).

O modelo FEDERALISTA dos americanos adotado pela constituição brasileira permitiu que os Estados Federados se organizassem de acordo com suas tradições e interesses regionais, desde que não fossem contra o espírito da nova constituição. O Estado do Rio Grande do Sul é exemplo dessa liberalidade constitucional: a sua Constituição Estadual permitia a reeleição do Presidente do Estado (denominação que, hoje, é de Governador do Estado).

A Constituição Norte-Americana é de 1787 e permanece, com as emendas que teve, até hoje A primeira constituição republicana do Brasil, de 1891, permaneceu até a Revolução de 1930. Com Getúlio Vargas, a Constituição de 1891 foi revogada. Era o desmonte da construção da Democracia: acabava com o Federalismo e a favor do centralismo autoritário, fascista e anti-nacional. A falta de visão dos políticos da Ditadura chegou ao extremo de queimar, em praça pú-

blica, as Bandeiras dos Estados Federados.

Foi um retrocesso na construção da Democracia. Fora o período de 1934/1937 – resultado da Revolução Constitucionalista de 1932 - , quando a democracia foi plena, já no final de 1937 era dado o Golpe de Estado e implantada a Ditadura do Estado Novo (novo?!?). A partir de 1937, vigorou um regime de exceção que sufocou a Nação Brasileira até 1945.

De 1946 até os nossos dias, sempre vigorou o Regime Presidencialista (em 1964, implantou-se artificialmente o Parlamentarismo que, boicotado pelo próprio Governo, caiu através de um Plebiscito) deixando super poderes ao ocupante do cargo de Presidente da República. Quando elaborou o projeto da Constituição Liberal de 1891, a maior preocupação de Rui Barbosa era esse excesso de poderes nas mãos nem sempre preparadas para gerir o país. Destacava Rui:

“...o grande mal da República, o seu mal inevitável. O mal gravíssimo e inevitável das instituições republicanas consiste em deixar exposto à ilimitada concorrência das ambições menos dignas o primeiro lugar do Estado e, desta sorte, o condenar a ser ocupado, em regra, pela mediocridade”.

Hoje, ao comemorarmos a Constituição Brasileira de 1891, é preciso que se destaque e que se lamente – com patriotismo e vigor cívico! – a qualidade excepcional dos homens que governavam o Brasil, em 1891, e a precariedade da nossa realidade institucional e constitucional e o nível de nossos políticos em 2022.

Basta que se diga que desde a promulgação da Constituição Brasileira de 1988, o Brasil prossegue sem a necessária regulamentação dessa mesma Constituição e sem as principais reformas (a política, a da previdência, a tributária, etc.).

Assim, só através da convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte é que conseguiremos – com a mobilização da sociedade civil! – realizar as reformas necessárias para que o Brasil tenha condições de implantar a justiça social e um desenvolvimento sustentável para ser um estado dinâmico e moderno! Fazendo com que o populismo barato e pegajoso não seja campo fértil para os oportunistas e corruptos.

Mas voltemos às comemorações. Prudente de Moraes foi eleito o 1º Presidente Civil do Brasil, em 1894! Trabalhou com homens públicos de reconhecida competência. Passou à história. Hoje, a casa em que morou, em Piracicaba/SP, é o Museu Prudente de Moraes. Sua memória também está presente no Museu Republicano de Itu. No Rio de Janeiro, a Fundação Casa de Rui Barbosa, preserva a memória e os trabalhos cívicos daquele baiano exemplar. Tanto Prudente quanto Rui foram formados pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (USP)...

A pena de ouro com que assinou a Constituição de 1891 deixou como herança cívica ao seu sobrinho e político Senador Paulo de Moraes Barros:

“Ao meu sobrinho e devotado amigo Paulo de Moraes Barros, a quem devo minha gratidão, deixo, como lembrança, a penna de ouro com que assignei a Constituição da Republica, a 24 de Fevereiro de 1891. Prudente de Moraes”.

É Registro Histórico!

“Eia, senhores! Mocidade viril! Inteligência brasileira!

Nobre nação esplorada! Brasil de ontem e amanhã!

Daí-nos o de hoje, que nos falta” Rui Barbosa

No Dia Nacional da Cultura – dia 5 de novembro! - que é comemorado no dia do nascimento de RUI BARBOSA, vamos procurar fazer um retrospecto da atuação desse grande brasileiro que soube dignificar o exercício da cidadania e representar – com competência e idealismo! – a ciência jurídica no Brasil. Foi um dos Fundadores da Academia Brasileira de Letras – ABL , tendo sido seu presidente de 1908 a 1919

Rui Barbosa cursou a tradicional Faculdade de Direito do Largo de São Francisco -USP, berço de muitos estadistas, inclusive, de 9 ex-Presidentes da República: Prudente de Moraes, Campos Sales, Rodrigues Alves, Afonso Pena, Venceslau Brás, Delfim Moreira, Artur Bernardes, Washington Luís e Jânio Quadros De todos eles - todos brilhantes e patriotas modelares - a figura de Rui Barbosa se projeta em primeiro lugar, exatamente ele que por duas vezes disputou a Presidência da República sem conseguir o seu intento, vencido pela velha oligarquia política que manipulava os currais eleitorais e fabricava os dirigentes. Hoje, poucos haverão de se lembrar dos que foram eleitos na “disputa” presidencial com Rui Barbosa. Por outro lado, toda a Nação Brasileira o cultua e tem Rui Barbosa como orgulho da Pátria e exemplo às novas gerações!

Iremos abordar a vida desse grande brasileiro por 5 aspectos que lhe caracterizaram a trajetória de homem público: o político, o jurista, o jornalista, o diplomata e o exilado.

Nascido aos 5 dias do mês de novembro de 1849, na cidade de Salvador, Bahia, realizou seus estudos no Ginásio Baiano e, ao depois, matriculou-se na Faculdade de Direito de Recife, transferindo-se, posteriormente, para a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo.

O POLÍTICO

Na tradicional Faculdade do Largo de São Francisco(USP) é que teve início a sua militância política : a 13 de agosto de 1868, pronunciava seu primeiro discurso político para homenagear José Bonifácio “a encarnação mais fascinadora das idéias liberais”, que vinha assumir a sua cátedra de mestre. A partir daí, nunca mais ficou ausente da vida pública brasileira. Em 1868, ainda estudante, Rui atira-se à campanha abolicionista e participa de debates na Loja América (loja maçônica que reunia o pessoal ligado à Faculdade de Direito, juristas, advogados e universitários), fazendo com que seu ponto de vista a favor de que todos os membros daquela Loja libertassem o ventre de suas escravas, prevalecesse Com a República, passa a ter destaque especial na tribuna do Senado por longos anos. É considerado o Estadista da República, assim como Joaquim Nabuco foi considerado o Estadista do Império. Na verdade, Rui não fora um republicano. É ele mesmo quem nos diz:

“Sinceramente monarquista era eu em 1889. Não por admitir pre-excelências formais desse ao outro sistema de governo; mas porque a monarquia parlamentar, lealmente observada, encerra em si todas as virtudes preconizadas, sem o grande mal da República, o seu mal inevitável. O mal gravíssimo e inevitável das instituições republicanas consiste em deixar exposto à ilimitada concorrência das ambições menos dignas o primeiro lugar do Estado e, desta sorte, o condenar a ser ocupado, em regra, pela mediocridade”. Rui, sem ter sido um republicano foi, no entanto, o homem que fez a República. O destino traçou-lhe essa tarefa...

Seus artigos no Diário de Notícias, fendiam o arcabouço da monarquia. E ele não pregava a República Logo após a Proclamação da República, Rui Barbosa é convocado por Deodoro.. O Marechal o designa como Ministro da Fazenda e lhe entrega a tarefa de dar forma jurídica ao novo sistema de governo. Na condição de Ministro da Fazenda e Vice-Chefe de Govêrno, Rui redigiu o decreto nº 1 da República, chamado de “providencial”, porque em seu artigo 1º, salvara a unidade nacional que o Império realizara: “a bandeira da federação passava, nesse dia, das colunas do Diário de Notícias, pela mão de Rui, para a letra de decreto que proclamava a República Federativa dos Estados Unidos do Brasil.” Naquela fase memorável da história do nosso país, só um homem de cultura e de capacidade acima do comum poderia salvar o Brasil da anarquia

É dele o projeto da Constituição de 24 de fevereiro de 1891 Redigiu-a em 2 dias, de seu próprio punho Modelou-a com carinho, deu-lhe formas que o seu gênio lhe inspirara, caprichou na confecção dos seus contornos, lapidou-a com a beleza incomparável da sua arte de mestre da língua e da pureza de estilo. Para fazê-la, Rui Barbosa buscou o modêlo norte-americano Achou que nesse modêlo estava o ideal para o Brasil, de acordo com nossa índole e a nossa formação democrática O Govêrno da Lei. A impessoalidade da Lei acima dos homens. Essa foi a linha mestra da construção de Rui : o seu projeto é o de uma República organizada pela Lei e da Lei interpretada pelos Tribunais.

Com o passar dos tempos, o próprio Rui passa a propugnar pela alteração constitucional, de acordo com as mudanças sociais que se verificavam em todo mundo. Já em 1919, em sua campanha presidencial, Rui Barbosa reconhecia:

“As nossas constituições têm ainda por norma as declarações de direitos consagrados no século XVII Suas fórmulas já não correspondem exatamente à consciência jurídica do universo A inflexibilidade individualista dessas cartas, imortais mas não imutáveis, alguma coisa tem que ceder (quando já lhes passa pelo quadrante o sol do seu terceiro século) ao sopro da socialização que agita o mundo.”

Candidato duas vezes à Presidência da República (1909 e em 1919), por dois movimentos de opinião nacional, um contra as ditaduras militares, outro contra as oligarquias civis, em ambas ocasiões levou ao seio da população, nas capitais dos grandes estados, a sua proposta, a sua bandeira. A luta não fora improdutiva : ficara a semente. A idéia de um país moderno, sob o império da Lei, e de uma democracia vigorosa e de um povo livre, ficara gravada na memória cívica do brasileiro.

O JURISTA

Formado a 28 de outubro de 1870, Rui inicia a sua carreira ao lado do Conselheiro Souza Dantas. É o próprio Rui que se auto-define como advogado : “Um invencível horror à violência, uma sede insaciável de justiça constitui o fundo de minha índole e tem modelado irresistivelmente a minha vida inteira. Simpatizei sempre com os fracos, respeitei sempre os vencidos, patrocinei sempre os oprimidos. Minha estréia na tribuna popular, ainda estudante, foi a defesa de um escravo contra o senhor. Minha estréia na tribuna forense foi a desafronta da honra de uma inocente filha do povo contra a lascívia opulente de um mandão. Minha estréia na tribuna parlamentar foi o patrocínio da eleição de um conservador contra o partido liberal em que eu militava.”

O JORNALISTA

Ainda estudante fundou com Américo de Campos , Luís Gama, Elói Benedito Ottoni e Bernardino Pamplona, o Radical Paulistano : era a campanha abolicionista. Depois o Diário da Bahia, o Jornal do Comércio, O País, até que em 1889 - ano da República - funda o famoso Diário de Notícias. Seus artigos no Diário de Notícias foram reconhecidos como peça básica para a derrocada da monarquia. Sofreu o exílio e, na provação, escreve matérias jornalísticas de fundo liberal democrático. Funda a Imprensa, milita em outros órgãos jornalísticos de projeção nacional. Era o jornalista na acepção da palavra. Defensor das liberdades e crítico implacável dos poderosos que atropelavam os direitos humanos e conspurcavam a democracia. Foi um lutador e deixou marcada a sua presença e as lições de patriotismo.

O DIPLOMATA

Em 1907, o Barão do Rio Branco convida Rui para que aceite a Chefia da Delegação Brasileira à 2ª Conferência de Paz, em Haia, Holanda. Rui hesita em aceitar, mas acaba atendendo aos apelos feitos Rui chegou a Haia em junho de 1907, sendo nomeado, por indicação da Rússia, Presidente Honorário da 1ª Comissão. Sua atuação surpreendeu os representantes das grandes nações Rui defendia os pequenos países e propugnava pela igualdade de tratamento entre as nações. Discursava em perfeito inglês e em inatacável francês. O brasileiro, pequeno de estatura, surpreendia o mundo pela sua cultura e pelo seu preparo. De sua atuação, dizia W. Stead, in “O Brasil em Haia” : “As duas forças pessoais da Conferência foram o Barão Marshall, da Alemanha, e o Dr. Barbosa, do Brasil. Atrás do Barão Marshall, porém, se erguia todo o poder militar do Império Germânico... Atrás do Dr. Barbosa estava apenas a longínqua república desconhecida, com um exército incapaz de qualquer movimento militar e uma esquadra por existir. Todavia, ao acabar a Conferência, o Dr. Barbosa pesava mais (counted for more) do que o Barão Marshall Maior triunfo pessoal, na recente conferência, nenhum dos seus membros o obteve tanto mais notável foi quando o alcançou ele por si só, sem nenhum auxílio estranho.”

Estava criada a imagem do «Águia de Haia». Logo após o seu regresso, era convidado pela Universidade de Yale (EUA) para realizar uma série de conferências Em 1914, é convidado a ser Embaixador Especial do Brasil às comemorações do centenário de Tucumán. A 14 de julho de 1914, recebe o Diploma de Membro Honorário da Faculdade de Direito e Ciências de Buenos Aires.

O EXILADO.

Já nos primeiros anos de República, um clima político tumultuado, que foram marcados pela tentativa de Deodoro da Fonseca querendo a dissolução do Congresso e poderes especiais. Rui Barbosa passaria para a oposição ao governo federal e temendo por sua própria vida, vê-se compelido ao exílio no exterior, primeiramente em Buenos Aires, depois em Lisboa e Paris, e, finalmente, em Londres, onde residirá entre 1894 e 1895. De lá, escreve as famosas “Cartas da Inglaterra”, escritas sob a forma de correspondência para o Jornal do Commercio, entre 1894 e 1895 “Cartas de Inglaterra” são a mais rica expressão do pensamento político e filosófico de Rui Barbosa. Em uma delas, dá a definição do que entendia por militarismo:

“Entre as instituições militares e o militarismo vai, em substância, o abismo de uma contradição radical O militarismo, governo da nação pela espada, arruína as instituições militares, subalternidade legal da espada à nação. As instituições militares organizam juridicamente a força. O militarismo a desorganiza. O militarismo está para o exército, como o fanatismo para a religião, como o charlatanismo para a ciência, como o industrialismo para a indústria, como o mercantilismo para o comércio, como o cesarismo para a realeza, como o demagogismo para a democracia, como o absolutismo para a ordem, como o egoísmo para o eu. Elas são a regra; ele, o desmantelo, o solapamento, a aluição dessa defesa, encarecida nos orçamentos, mas reduzida, na sua expressão real, a um simulacro”.

Esse é o homem.

Esse é o mito: Rui Barbosa.

Impossível citar tudo o que se tem de registro da atuação patriótica e brilhante de Rui nos destinos do Brasil. A 1º de março de 1923, morria o maior de todos os brasileiros. Hoje, a nossa pequena homenagem. Que fique o seu exemplo. Que fique a sua atuação cívica. Que fique o seu idealismo. Que fique o seu patriotismo!

Nota: “As ilustrações de Rui Barbosa são de Armando Pacheco, para o livro “História da

Vida de Rui Barbosa”, de Américo Palha, Distribuidora Record, 1963”.

ORAÇÃO AOS MOÇOS

Os jornais destes últimos dias anunciam nas esferas da magistratura e das letras nacionais duas comemorações simultâneas, numa justa homenagem ao vulto insigne de Rui Barbosa, um dos mais ilustres nomes do nosso passado histórico. A primeira, diz respeito ao centenário de formatura do grande baiano que, em 1870, bacharelou-se em Direito, pela nossa tradicional Faculdade do Largo de São Francisco. A segunda comemoração, lembra-nos o cinquentenário da “Oração aos Moços”, discurso de paraninfo que ele deveria proferir, em 29 de março de 1921, entregando na mesma escola, o diploma aos novos bacharelandos, mas que, por motivos da enfermidade que o levaria para sempre, em março de 1923, foi lido pelo professor Reinaldo Porchat, daquela Faculdade.

do aos pósteros pelo ilustre brasileiro que dispôs sua imensa e inigualada cultura a serviço da Pátria que ele, como nenhum outro gênio da língua, soube servir e honrar.

Como peça oratória, a “ORAÇÃO AOS MOÇOS” é uma jóia literária clássica. E não o seria por menos, dada a autoria do grande sábio. É um documento talhado segundo a praxe tradicional do paraninfado acadêmico: é um longo discurso de estilo brilhante. As ideias decorrem num encadeamento harmonioso, as figuras de retórica encantam. A humildade e a simplicidade ponteiam revelando as admiráveis virtudes do autor. Os conselhos que dita são uma trilha extraordinária de amor cívico.

Nestes tempos em que os princípios cívicos voltam a vigorar como disciplina distinta e obrigatória em todas as escolas, desde as de nível primário às de Cursos Superiores, a “ORAÇÃO AOS MOÇOS” deveria ser lida, estudada e repetida dentro do programa escolar superior, pois que ela é sem dúvida, além do seu grande valor literário, um testemunho admirável deixa-

A “ORAÇÃO AOS MOÇOS” intercala-se na antologia universal de todos os tempos enriquecida desde Sócrates que se dirigiu também aos seus discípulos, à oração belíssima de Shakespeare que pôs em Antônio, as falas de César. Tudo em nome da grandeza da pessoa humana. “Sede viri”, dizia antigo provérbio romano. “Sejam homens”, diz essencialmente a fala de Rui.

Obtemperar-se-ia que hoje, as diretrizes cívicas deste fim de século pedem mais objetivismo prático do que discursos brilhantes. Não importa. A “ORAÇÃO AOS

MOÇOS” tem atualidade em qualquer época.

Ela traz as linhas mestras da conduta humana. E essas diretrizes, há dois mil anos vigoram. Não empalidecem. Nem envelhecem.”

(artigo “ORAÇÃO AOS MOÇOS”, de agosto/1971 (PEABIRU), da cronista Elda Moscogliato, no livro “O SONHO NÃO ACABOU”(1988).

É bom saber O artista plástico e conhecido webdesigner botucatuense Marco Antonio Spernega, foi quem idealizou a Cuesta de Botucatu estilizada e com todo o seu simbolismo: a escarpa, o verde representando as nossas matas e o azul do céu... A criação do Spernega valorizou a nossa CUESTA que teve, em sua estilização, o impacto que as obras dos grandes artistas tem. Vejam no Expediente o logotipo do Diário da Cuesta! Marco Spernega tem exposto seus trabalhos em concorridas exposições. Esta ilustração é uma obra de arte e de simbolismo histórico!

JORNALISMO MODERNO

LEITURA DINÂMICA

1

– Rui Barbosa é o Patrono dos Advogados e representa, ele próprio, o orgulho de sermos advogados. Sempre defensor da DEMOCRACIA, do IMPÉRIO DA LEI, tem sido citada sua frase sobre o grave momento político por que passa a Nação Brasileira.

2

- Autor da 1ª. Constituição da República do Brasil, Rui se inspirou na Constituição dos Estados Unidos. A obra de Rui Barbosa preconizava o Governo da Lei. A impessoalidade da Lei acima dos homens.

3

- Em 2010, fizemos de uma de suas frases na “Oração aos Moços” o referencial para o tema tratado no livro “História da Vitória Política Paulista:1934”, que relata o idealismo dos combatentes de 1932 e a vitória paulista nas Constituintes de 1933 (Nacional) e 1934 (Estaduais): “Eia, senhores! Mocidade viril!

Inteligência brasileira! Nobre Nação explorada! Brasil de ontem e de amanhã! Daí-nos o de hoje, que nos falta...”

Momentos Felizes

O PRAZER DE ESCREVER

Na quietude da biblioteca, isenta de sons e sob a luz branca artificial, vejo fotografias de um tempo distante sobre a mesinha da sala; e transportado pelo poder da memória, trago o passado próximo e remoto para o agora.

Uma visualização que se opera através de uma imagem, que assegura a nossa identidade e nos dá a impressão de posar de novo para um fotógrafo invisível, revivendo aqueles momentos sublimes.

Quando escrevo aparentemente faço um exercício solitário, no entanto, sinto estar ligado a um possível leitor ou leitora, ou comigo mesmo já que me é permitido reler mais tarde aquilo que escrevi.

Escrever é dizer o sentimento. É um prazer que pode ser percebido ainda que inexista um contato face a face; a escrita é o próprio ato de aproximação entre as pessoas. Mesmo quando se vive em um mundo superpovoado, a sensação de solidão e os momentos solitários são uma realidade; assim, o ato de escrever rompe com esse eventual isolamento.

Pátria no içamento da Bandeira e cantoria do Hino Nacional. O orfeão era regido pela Professora Placidina que fez com que se tornassem inesquecíveis as letras e músicas de Fabiano Lozano

A história brasileira era contada sem conflitos. Os meninos ouviam, conheciam, admiravam e respeitavam os vultos históricos de Dom Pedro I e Dom Pedro II, Princesa Izabel, Caxias, Tiradentes, Osório, Tamandaré, Almirante Barroso, Deodoro, Oswaldo Cruz e tantos outros. O Presidente da República na época, era o General Eurico Gaspar Dutra, ex Ministro da Guerra.

Entusiasmo que empolgava toda turma era visto nos dias festivos, quando o Grupo escolar desfilava pela cidade, ao som da Banda de Música; era notória a preocupação e efervescência das professoras, para que ninguém errasse o passo quando em frente ao palanque das autoridades. O garbo com que os meninos desfilavam era motivo dos melhores elogios e contava pontos nos Boletins mensais - disciplina, elegância, seriedade, sem brincadeiras na hora do desfile.

Já houve um tempo em que as moças, secretamente, escreviam seus diários: secretos somente no nome, pois tudo era escrito pensando em alguém, para ser lido por alguém, ser comentado por alguém - histórias de amor, promessas de amor e também histórias de desenganos.

Saboreando este imenso prazer, não sei por que, veio à minha lembrança a cidade de Lins, o Grupo Escolar Dom Henrique César Fernandes Mourão, nome tão ilustre quanto os das não menos ilustres Professoras do meu curso primário, inesquecíveis senhoras Dulce, Placidina, Alzina Vilhena, o simpático diretor Professor João, os inspetores de alunos, meus coleguinhas das calças curtas como eu, pois, na época não se falava em bermudas como hoje e também não havia classes mistas, ou seja, mantinha-se meninos em uma sala e meninas em outra sala.

Quando o Diretor entrava em sala para algumas informações, era recebido em pé por todos os alunos em respeitosa saudação. As professoras eram jovens e senhoras, frequentemente severas, porém sensíveis e atentas aos problemas e dificuldades dos alunos/meninos.

Na grande verdade, todos eram Educadores, na mais lídima acepção do termo; não se falava dos riscos que o mercantilismo do ensino representava e que viria a comprometer muitos dos projetos que se seguiram, pondo em descrédito a qualidade profissional dos envolvidos no processo educativo.

As professoras nos passavam, de início, os valores das disciplinas e do asseio, bem como respeito aos símbolos da

No palanque armado, sempre estavam presentes o Prefeito, o Presidente da Câmara, o Diretor do Grupo Escolar, o Juiz de Direito, o Vigário da Catedral de Santo Antonio, o Delegado de Polícia, o Chefe dos Escoteiros e outras pessoas, aquelas que em todas as épocas gostam de aparecer nas fotografias ao lado das autoridades constituídas.

A minha grata geração continua seguindo o seu caminho e em frente, tendo como rumo e objetivo os valores éticos, cívicos e morais adquiridos, lá atrás, no ambiente familiar e na querida escola primária.

Revendo uma cartolina antiga encontrei a minha turma, fotografada no dia da conclusão do 4°ano primário e recebimento do Boletim escolar que seria entregue aos pais. Todos formandos vestiam camisas e calças brancas, gravatinha borboleta ao pescoço, exibiam calças compridas e sapatos pretos. As meninas se apresentavam de blusa branca, saia azul plissada, meias três- quartos e sapatos pretos. Conguinhas e alparcatas... nem pensar em dia de formatura! Estes calçados foram os pioneiros da indústria voltada ao popular Naquele glorioso dia era notório para todos nós, apesar da pouca idade, ver estampado nos semblantes do Diretor e das Professoras um misto de saudades. Por um ângulo, era a consciência e a certeza do dever cumprido: a missão educacional junto daquele pequeno grupo, de pequenos alunos; de outro, constatar que naquele momento tinha sido dada a partida deles para um novo mundo. Algumas daquelas crianças, hoje setuagenárias, estão ainda povoando o mundo, cada uma cumprindo com a sua missão.

Comecei esta crônica falando do prazer de escrever. Vejo agora, neste instante, uma tímida comunicação, sutil e quase dissimulada, bem diferente da autobiografia, mas de qualquer forma um registro no qual não se teme dizer: “olhe, eu estou aqui”.

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