“Música Caipira, da Roça ao Rodeio”
Rosa Cintra Nepomuceno
Editora 34
Lançamento a nível nacional, por importante editora, da botucatuense Rosa Nepomuceno. Morando há alguns anos fora de Botucatu, nem por isso Rosa tem deixado de cultivar as suas raízes em sua cidade. Particularmente, para nós que fomos contemporâneos da autora, a sua presença tem permanecido sempre lembrada. No início dos anos 80 quando fundamos O Jornal de Botucatu, um bem estruturado bi-semanário informativo, fomos à procura de Rosa Nepomuceno para que fosse a jornalista responsável pela nova publicação que surgia.
Prontamente houve a sua concordância , o que revela o grau de confiança que ela nos dedicava, eis que estando no Rio de Janeiro, assumia a responsabilidade pelo jornal. À época, tínhamos em nossa equipe Francisco de Assis Cintra Nepomuceno, irmão de Rosa, como redator do jornal e como cronista.
De tradicional família botucatuense, Rosa já muito cedo demonstrava o seu pique e garra ao realizar um sonho familiar especialmente de seu querido avô Raimundo Marcolino da Luz Cintra -, da publicação do seu romance “Até as Pedras se Encontram”, no início dos anos 70
Pertencente à coleção Todos os Cantos, da Editora 34, o livro de Rosa representa um indiscutível marco na literatura brasileira. O consagrado escritor Ignácio de Loyola Brandão, em crítica literária publicada no jornal “O Estado de São Paulo”, de 12/12/99, desenha com clareza toda a grandiosidade dessa obra: “Música Caipira, da Roça ao Rodeio”, (Editora 34, 439 págs., R$ 33) é muito mais que um livro que pretende levantar uma trajetória (polêmica) da música que mais representa o Brasil. É um quase romance, cheio de casos e curiosidades (quantos sabem que o nome da dupla Chitãozinho e Xororó nasceu do título de um sucesso de 1947, composto por Serrinha e Athos Campos? ), que funciona como uma enciclopédia das transformações que o país sofreu, das mudanças exigidas quase sob pressão, da deformação de um gênero musical ou de sua adaptação a uma modernidade gelatinosa.o caso da música caipira, Rosa Nepomuceno pergunta: o que é ser moderno? Vale a pena? Que parâmetros regem esse modernismo? As imagens focam e desfocam. Os reis da música sertaneja (não pronuncie perto deles a expressão música caipira) vestem Armani e Ralph Lauren, usam chapéu americano, botas de pele
de avestruz.
No entanto, Rosa, uma das melhores jornalistas da atualidade, nascida em Botucatu e trabalhando hoje na imprensa carioca, que fez extensíssima pesquisa e tem o texto enxuto, bem humorado, não se deixa levar nem por saudosismos, nem por ortodoxias. Porque falar de música caipira, música da roça ou música sertaneja é navegar num mar de contradições, de incoerências, de discussões, de (às vezes) ressentimentos e conceitos que mudaram muito ao longo de um século.
Raízes - Este livro-enciclopédia, que pode ser lido como se fosse estruturado por meio de verbetes, cobre cem anos, ou mais. Ele procura raízes e mostra como essas raízes se perderam ou ficaram de tal maneira enterradas que quase não são vistas mais. De pai para filho, os violeiros perpetuaram sua habilidade. A viola ainda está aí, tocada, e muito. Essa viola de boa madeira, com cinco pares de cordas duplas, de arame, som meio frouxo teve serventia. Ainda tem, só que essa não é bafejada por spotlights, mesmo aparecendo nos arrasta-pé, nos bailes de fins de colheita, nas Folias de Reis, nas comemorações religiosas e familiares, no interior de São Paulo, no Pantanal, na divisa com o Paraguai, no centro oeste, em Minas Gerais
Será que a modernidade não acabou trazendo sangue novo a uma velha cultura? Será que essa modernidade, acusada de mercantilista, não fez renascer o gosto por um Brasil bucólico e lírico que ainda está dentro da gente e que não gostaríamos de perder? Será que essa viola transformada e eletronificada não ajudou a fazer uma crítica à vida urbana que, com sua agressividade e violência, vem matando aquilo que era a alma do brasileiro, o calor da convivência humana? Rosa Nepomuceno não se deixa apanhar na armadilha fácil da crítica primária. Ela expõe os dois lados, questiona, indaga, pressiona. Não dá razão a um nem a outro, corre no fio da navalha.
Quem imaginaria, pergunta Rosa, que essa música iria parar um dia nos apartamentos da classe média urbana, aos ouvidos de jovens acostumados aos Beatles, Tom Jobim, Chico Buarque, João Gilberto? Ela percorre uma gama de misturas e influências que mescla Caetano, os irmãos Campos, Adoniran Barbosa, Renato Teixeira (que fez a música caipira se desenvolver altamente), Geraldo Vandré e dezenas de outros. Foi a partir deles que se iniciou uma viagem de volta?
No liquidificador se misturam berrantes (alguns amplificados por equipamentos Fender Twin, Jazz Chorus 120 ou Yamaha), Internets, sina errante do caboclo ( mas que caboclo é esse que tem automóvel e televisão, assiste à Globo e quase não fuma mais cigarro com fumo de corda?) e som amplificado... O livro de Rosa Nepomuceno como bem destacou o crítico literário, deverá polemizar. E isso no bom sentido! Polemizar para que se busque um rumo novo para essa música rica e representativa da brasilidade.
Em declaração exclusiva à coluna do João Bosco, no jornal “Diário da Serra” de 15/16 de janeiro de 2.000, Rosa mandou seu recado a Botucatu, falando de seu livro: “Foram 30 anos longe de Botucatu. Saí da cidade aos 19, em 1969. Passei um tempo na Bahia, atrás da mágica de Jorge Amado, com quem me correspondia desde os 15 anos; depois, por curto período, morei em São Paulo, me fixando em seguida no Rio de Janeiro. Aqui há 25 anos, instalada de frente para o Jardim Botânico, uma das áreas verdes mais bonitas da cidade, tento conciliar a vida de urbanóide com meu lado interiorano, apreciador da natureza e de uma certa tranquilidade.
Escrever “Música Caipira, da Roça ao Rodeio”, a convite da Editora 34, de São Paulo, foi como retomar o caminho de casa, às origens familiares, às vivências na cidade, à música e personagens que marcaram a cultura interiorana paulista. Foram 16
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meses de pesquisas, entrevistas e viagens. Embora não tenha ido a Botucatu, pude me reencontrar com a cidade através dos contatos com meus tios Ray e Rivaldo Cintra, que me municiaram com informações, com familiares de Plínio Paganini, com a SECRETARIA DA CULTURA, com o próprio Tinoco - da dupla Tonico e Tinoco, que nasceu numa fazenda nos arredores - e com a viúva de Raul Torres, outro grande artista botucatuense. Os livros também me transportaram para as histórias de BOTUCATU, como os de FRANCISCO MARINS de HERNÂNI DONATO, ARMANDO DELMANTO e PAULO FREIRE, e ainda os trabalhos dedicados a ANGELINO DE OLIVEIRA, como o organizado por GASTÃO DAL FARRA Se meu trabalho abrangeu a ampla geografia do universo musical caipira, no centro-sul e centro-oeste do país, MINHA CIDADE FUNCIONOU COMO O CORAÇÃO DO LIVRO, me oferecendo subsídios saborosos para enriquecer a narrativa. Com muitas fotos, mapas, discografias, letras de música e até receita de feijão tropeiro, tenho certeza de que ele tocará a emoção dos conterrâneos. Agradeço ao amigo de longa data JOÃO BOSCO por este espaço precioso, mandando a todos um beijo carinhoso e em especial aos amigos da GENERAL TELES, do INSTITUTO CARDOSO DE ALMEIDA, do COLÉGIO SANTA MARCELINA, do footing no BOSQUE, das matinês do CASSINO, dos bailes do 24 DE MAIO. Saudades!”
Fica a certeza de que Rosa Cintra Nepomuceno marcou um grande tento literário.
Valorizou a cultura botucatuense, valorizou a tradição cultural de sua família e encheu de orgulho seus conterrâneos!
Valeu! Parabéns Rosa! (AMD)
(Revista Botucatuense de Cultura – PEABIRU, nº 18, de janeiro/fevereiro de 2000).
ROSA NEPOMUCENO
Capa do disco ‘Tinoco canta os sucessos de Tonico e Tinoco’, de 1998 (Foto: Divulgação)
Tinoco nasceu em Botucatu, no distrito de Pratânia, no interior de São Paulo. Com o irmão João Salvador Perez, o Tonico, formou a dupla Tonico e Tinoco, uma das mais importantes da história da música brasileira.
Eles realizaram quase mil gravações ao longo de sua trajetória musical, que começou em 1935, e venderam mais de 150 milhões de cópias de seus 83 discos. A dupla acabou em 1994 com a morte de Tonico no dia 13 de
agosto. Juntos, os dois realizaram cerca de 40 mil apresentações em toda a carreira. “Tristeza de Jeca”, “O menino da porteira”, “Chico mineiro” e “Moreninha linda” estão entre os maiores sucessos de Tonico e Tinoco.
Em 2010, Tinoco foi homenageado por Roberto Carlos durante a gravação do especial “Emoções sertanejas”. Na ocasião, Tinoco completava 90 anos e 75 de carreira e, no palco, ao receber uma placa das mãos de Roberto Carlos e Chitãozinho e Xororó, afirmou que aquela era a saudação mais importante que havia ganhado por sua trajetória até então. “É a maior pelo valor humano. Sabe o que é o valor humano? É a coisa mais linda que nós temos”, disse.
Tonico & Tinoco
Dupla sertaneja formada por João Salvador Perez, o “Tonico” (São Manuel/SP,em 02 de março de 1917) e José Perez, o “Tinoco” (nascido em uma fazenda de BotucatuSP, que hoje pertence ao município de Pratânia, em 19 de novembro de 1920).
Em 1930, quando a família Perez trabalhava na fazenda Tavares, em Botucatu, os dois irmãos ouviram discos da série caipira de Cornélio Pires; João frequentava a escola rural e dava lições para os colonos mais velhos.Dos amigos cobrava um litro de querosene por mês (para manter os lampiões da sala de aula), mas dificilmente recebia alguma ajuda.
José, o mais levado, gostava de caçar passarinhos com arapucas (depois os soltava), de brincar com amigos do arraial e aos sábados vestia-se de coroinha para ajudar a celebração da Missa. Após a cerimônia acompanhava o Padre nas refeições, e voltava para casa levando alimento para os irmãos.
O gosto pela cantoria veio dos avós maternos Olegário e Izabel, que alegravam a colônia com suas canções, ao som de uma antiga sanfona. A primeira música que aprenderam foi Tristeza do Jéca em 1925. Em 15 de agosto de 1935 fizeram a primeira apresentação profissional. Cantaram na Festa da Aparecidinha/São Manuel, em uma quermesse. Junto com o primo Miguel, formavam o “Trio da Roça”.
NOTA DA
REDAÇÃO - A GRANDE POLÊMICA DE QUAL SERIA O LOCAL DE NASCIMENTO DA DUPLA MAIS FAMOSA DO BRASIL DE TODOSOS TEMPOS: TONICO & TINOC0 ?!?
RESPOSTA CERTA: BOTUCATU!!!
Simplesmente, porque do município de Botucatu é que se originaram os municípios de São Manuel e Pratânia. O primeiro a se emancipar foi o de São Manuel. Depois, foi o de Pratânia, que se emancipou de São Manuel. MAS quando nasceram os violeiros da “dupla famosa”, TUDO era BOTUCATU!!!