Diário da Cuesta
Acompanhe as edições anteriores
Acompanhe as edições anteriores
No ano de 2022 eram colocados os 3 sinos do Campanário do Santuário de Nossa Senhora de Lourdes que viria a ser oficialmente inaugurado em 12 de fevereiro de 2022, nas comemorações em louvor ao aniversário da primeira aparição de Nossa Senhora de Lourdes ocorrida no dia 11 de fevereiro de 1858, em Lourdes, na França.
A estrutura possui 15 metros de altura com 2,5 metros de largura, bem como peso de 60 toneladas (incluindo os três sinos) e está no estacionamento da igreja. Além de acomodar os três sinos da antiga torre, um lago artificial e projeto paisagístico completam o novo campanário.
A concepção da estrutura teve início em 2019 e foi motivada por causa de danos existentes na torre principal. Havia o risco de ruptura devido ao peso dos sinos. Todo o custeio, que não foi informado pela Igreja, foi oriundo de campanhas feitas junto à comunidade.
Nas páginas internas o histórico do Santuário de Lourdes e seu benemérito, Dr Cardoso de Almeida.
Longe de nós a exaltação pura e simples do passado.
Longe de nós a fuga poeirenta do dia a dia...
Ao contrário, para nós, o passado é o instrumental indispensável para que cheguemos, sem traumas e excesso de erros, ao futuro. O que buscamos é o novo, a modernidade. No entanto, é necessário que se mantenha o liame, é necessário que se mantenha a unidade. A unidade histórica de uma cidade ou de sua comunidade. Passado, Presente e Futuro não são estanques. Muito pelo contrário...
Na análise dos grandes vultos do passado de determinada comunidade conseguimos reconstruir o que essa comunidade foi no seu início e o papel de sua Elite no comando de seu processo evolutivo, a sua postura de liderança em termos regionais e até estadual.
Ora, a Botucatu do início do século XX –o século passado! – tinha o seu Plano Diretor Municipal, tinha moderno e avançado sistema de tratamento de esgoto, tinha usina hidroelétrica própria, tinha sólido parque industrial, comércio forte, boas escolas, enfim, tinha liderança política...
Essa liderança – a maior de todos os tempos! – representou uma fase áurea para Botucatu. A liderança do Dr. José (Juca) Cardoso de Almeida marcou época. Formou-se em Direito pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (USP) e cedo revelou sua vocação de político e estadista. Teve presença certa nas grandes conquistas de Botucatu à época. O prédio do Fórum (hoje, Pinacoteca) e o Santuário de Nossa Senhora de Lourdes foram conquistas suas e tiveram projeto do famoso arquiteto Ramos de Azevedo (seu cunhado), sendo que para a construção da Igreja/Santuário tudo correu às suas expensas.
Como Deputado Federal teve uma ativida-
de legislativa muito produtiva. Autor de várias leis, com destaque para a que criou a carreira policial, a que deu carreira vitalícia aos escrivães, a que organizou a Força Pública (Polícia Militar), a que proibiu acumulações de cargos remunerados, a que criou os Bancos Populares, a que criou a Bolsa de Café e a que fundou as Caixas Econômicas Estaduais, entre outras.
Durante mais de vinte anos exerceu diferentes cargos de Secretário de Estado: foi Secretário da Justiça (Governo Campos Sales), Chefe de Polícia (Governo Bernardino de Campos), Secretário do Interior e da Justiça (Governo Jorge Tibiriçá), Secretário da Fazenda e Interino da Agricultura (Governo Rodrigues Alves), Secretário da Fazenda (Governo Altino Arantes) Presidente do Banco do Brasil (Governo Epitácio Pessoa).
Ufa! Foi muito poderoso!
Com a Revolução de 1930 e a subida de Getúlio Vargas ao Poder Federal, acabou exilado. Morreu, em Paris, em 1931.
Revolução é Revolução e na fritura geral, até o os bons vão junto... O historiador botucatuense, Dr. Sebastião de Almeida Pinto dizia que “...o PERREPÊ, apesar dos pesares, era uma forja de estadistas e um celeiro de homens públicos...”
No ano de 1995, a cidade de Botucatu comemorou o 1º Centenário do Grupo Escolar “Dr. Cardoso de Almeida”. É uma vida. É a presença positiva do passado. É o passado se fazendo presente e sinalizando o amanhã...
Essa luz de nosso passado é que faz com que visualizemos, para o futuro, uma posição de destaque para Botucatu . Com a “intelligentzia botucatuense” retomando em suas mãos os destinos da cidade , propiciando o surgimento de novos e valorosos CARDOSOS DE ALMEIDA neste novo milênio . (AMD)
Que a Cuesta é a forma de relevo escarpada em um dos lados e apresentando um declive suave do outro? Este verdadeiro “degrau”, que popularmente era conhecido como “serra”, passou a ser conhecido pelo nome da cidade próxima da qual assume proporções mais gigantescas: Cuesta de Botucatu A Cuesta de Botucatu marca o início do Planalto Ocidental Paulista.
Ela tem, na sua escarpa , o limite físico e humano entre o leste e o oeste do estado; só o rio Tietê a ultrapassa (fenda natural); rodovias e ferrovias que a cruzam serpenteiam por entre seus patamares mais suaves para atingir o topo e, depois, deslizar suavemente em direção aos limites com Mato Grosso e Paraná. No seu topo, a suavidade de um tipo climático que talvez tenha induzido os povoadores a reconhecerem ali os “ bons ares ”.
Assim é a CUESTA: um relevo característico de regiões mexicanas, espanholas, francesas, sul-africanas e indianas, mas a Cuesta de Botucatu tem a sua identidade; por sua história, por seu significado; inclusive porque a partir dela se internacionalizou o nome “ cuesta ” e por se constituir, em nossa região, o espaço mais significativo e marcante do relevo paulista, ela é, por todos os aspectos um patrimônio natural, cultural, histórico, geológico e até artístico – fonte de inspiração para muitos artistas de nossa região.
DIRETOR: Armando Moraes Delmanto
EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes
Contato@diariodacuesta com br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689
O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.
O SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DE LOURDES é um marco na história religiosa de Botucatu Tudo teve início pela iniciativa de nosso 1º Bispo Diocesano, DOM LÚCIO ANTUNES DE SOUZA com a colaboração efetiva do Dr. JOSÉ CARDOSO DE ALMEIDA , importante político botucatuense que exerceu os mais importantes cargos na administração pública e, sendo cunhado do Arquiteto Ramos de Azevedo, teve destaque na construção do Fórum de Botucatu e da Igreja de Nossa Senhora de Lourdes.
O DR. CARDOSO DE ALMEIDA havia feito uma promessa no Santuário de Nossa Senhora de Lourdes , na França, pela recuperação da saúde de um de seus filhos. Conseguida a graça, esse benemérito botucatuense conseguiu, com apoio efetivo de nosso
primeiro bispo, a vinda dos frades capuchinhos para Botucatu. Doou a área para a construção do Santuário, conseguiu o projeto com seu cunhado Ramos de Azevedo e, sob sua responsabilidade financeira, viu transformar em realidade a construção e inauguração do SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DE LOURDES.
A pintura interna da Igreja ficou a cargo dos pintores italianos Pietro e Ulderico Gentili que a partir de 1936 realizaram um trabalho admirável.
As crônicas antigas do cerimonial católico conta-nos da piedade e unção do povo de Deus destas bandas comandadas por Monsenhor Ferrari, zeloso sacerdote da época.
Os atos religiosos que marcavam o calendário santo tinham toda a grandeza e a poma da Liturgia de então. As várias cerimonias da Semana Santa contavam sempre com a presença fiel das autoridades enfarpeladas em trajes a rigor.
fazia a guarda do Santíssimo Sacramento e após, segurando uma das hastes do pálio, percorria as ruas vermelhas e esburacadas em demanda da Matriz.
Esse era o então político Dr. José Cardoso de Almeida.
Católico praticante, piedoso e contrito, cuja presença assegurava à Igreja sua fidelidade e ao povo seu grande e sério apoio.
A grande procissão de Corpus Christi saía, regularmente, ao meio dia, num longo trajeto. O pálio do Santíssimo, carregado pelas autoridades, tinha sempre ao seu lado um ilustre botucatuense vindo, onde quer que estivesse, para o ato religioso. Com respeito humano, na pública confissão de fé religiosa,
Foi então que Botucatu cresceu. O Dr. Cardoso de Almeida demorava-se entre os seus por alguns dias. Visitava a Santa Casa de Misericórdia do Dr. Costa Leite e o Santuário do Convento Franciscano de Lourdes de que se fizera grande benfeitor.
Na roda de amigos ouvia os justos anseios dos políticos locais. Seu apoio era inestimável. Graças a ele e aos seus trabalhos como Deputado Federal, tivemos para nós, botucatuenses, a instalação da Escola Normal Oficial, do Bispado Diocesano, o serviço de águas e esgoto, a energia elétrica e a ereção do Santuário de Lourdes de que foi o grande benfeitor. Muito trabalhou para que Botu-
catu se classificasse entre outras, como um grande núcleo educacional do Interior.
Com a vitória da Revolução de 1930, ele foi exilado e morreu, um ano depois, a 6 de Outubro de 1931, em Paris.
O Dr. José Cardoso de Almeida foi o maior botucatuense de todos os tempos.
ELDA MOSCOGLIATO Acervo Peabiru
Maria De Lourdes Camilo Souza
“Na minha vila, a única vila do mundo, as mulheres sonhavam com vestidos novos para saírem. Para serem abraçadas pela felicidade.”
— Mia Couto in “O fio das missangas” ������������ ������������
Houve um tempo na minha infância e adolescência, que eu não me lembro com muita clareza, talvez por querer esquecer mesmo.
Apesar dos meus pais trabalharem, os tempos eram difíceis, mas nunca nos faltou nada.
Quando vejo crianças lanchando donuts, yogurtes, bolachas recheadas.
Lembro de comer salada de tomate com pão.
Era temperada com vinagre Castelo, sal e azeite, no lanche da tarde e tenho saudades, pois passava o miolo do pão naquele molho.
Naqueles dias tínhamos a Vovó Angelina que era costureira, e que fazia os nossos vestidinhos.
Minha mãe comprava o tecido na Casa Royal, depois de bater um papo com D. Olga, que estava sempre ali perto da porta de entrada da loja.
Quando íamos a Avaré o tecido ia na mala.
Vovó tirava as nossas medidas, comprava os aviamentos e costurava vestidinhos iguais.
Depois de provas e espetadas dos alfinetes, os vestidinhos ficavam lindos.
Mal podíamos esperar para estrear os vestidos na matine do Cine Cassino
E se ficava muito bonito minha mãe nos levava ali no estúdio do Progresso Garcia para tirar fotos.
Aquelas em preto e branco.
Ele tinha uma espécie de palco parecido com os de teatro, com aquele fundo que realçava as fotos. Tentava melhorar a nossa pose.
Eu me lembro muito dele.
Era um homem baixinho, de cabelos grisalhos e seu hálito cheirava a jaboticaba.
Demorava tempo arrumando a máquina fotográfica daquelas antigas, preparava as chapas, arrumava o cabelo do freguês, até que achasse que estava perfeito.
Nossos cabelos lisos de franjinha muito brilhantes, cortados de tigelinha, tinham que estar perfeitos, sem nenhum fio fora de lugar.
Tanto preparo me fascinava ao mesmo tempo que cansava.
Tinha mais é vontade de sair do estúdio e ir explorar e correr pelo quintal, entre as árvores, onde com certeza tinha uma bela jaboticabeira.
Eu nunca gostei muito de tirar fotos.
Pode-se notar nas nossas fotos de infância, pois estou com aquela cara amarrada.
Meu Tio Domingos, muito querido, tirava fotos nossas sempre que íamos para Avaré.
Fazia milagres para poder me incluir nas fotos, e tentar me arrancar um sorriso, devia ser um sacrifício para ele.
Mas era um gentleman, lindo, elegante, usava um bigodinho sempre bem aparado, era educadíssimo.
Ele era alfaiate e sempre que íamos a Avaré passávamos na sua loja para saudá-lo.
Muitas vezes minha mãe acabou comprando alguns metros de gabardine para vovó Angelina fazer um belo tailleur.
Sempre o admirei e amei, achava que era parecido com um ator americano muito famoso naqueles tempos chamado Errol Flin.
Ele poderia estar pescando no Panema, coisa que gostava de fazer, mesmo assim estava a caráter, elegante!
Ele sempre tinha que me convencer a melhorar a cara para as fotos.
Minha mãe e minhas tias eram todas muito bonitas e muito elegantes, usando os vestidos que Vó Angelina costurava com carinho.
Meus tios também eram bonitos.
Tio Carlos, irmão da minha mãe era lindo.
Tinha belos olhos verdes e cada vez que nos via tinha mania de nos pegar pelas bochechas.
Eu particularmente odiava, mas, sabia que era demonstração de puro carinho.
Belos tempos aqueles.
Hoje as pessoas usam qualquer tipo de roupa, até para ir a Igreja.
Já me encontrei com um homem de pijamas no supermercado.
São outros tempos, outra mentalidade.