Diário da Cuesta NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU
ano I Nº 208
SEXTA-FEIRA, 09 de JULHO de 2021
Revolução Constitucionalista de 1932 Melhor relato histórico da REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA DE 1932, obra de Hernâni Donato e o registro da HISTÓRIA DA VITÓRIA PAULISTA DE 1934. PÁGINA 3
ABL a caminho de seus 50 Anos!
A Academia Botucatuense de Letras, fundada no dia 9 de Julho de 1972, está comemorando seu 49º aniversário. A mais importante entidade cultural de Botucatu tem realizado importante caminhada peabiruana. Parabéns!
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ARTIGO
A REVOLUÇÃO DE 32 DE HERNÂNI DONATO
Elda Moscogliato Fomos a primeira – segundo nosso amigo Carlos Rosa – a receber, em Botucatu, o livro de Hernâni Donato. Um grande prazer, sem dúvida, pelos laços de velha amizade e de admiração profunda que torna seu Autor credor autentico do imenso clã. Mesmo porque, a nosso modo e, segundo a faixa etária, nós vivemos também, a grande epopéia. Cada página e cada foto evoca cenas e fatos, perto ou longe, vividos através da imprensa entusiasta de então. Um belo trabalho de pesquisa e elaboração. Com a chancela de autenticidade que caracteriza a já rica obra de Donato, eis que, minerador apaixonado, programa o trabalho, inicia meticulosa e apurada pesquisa quando então consome de sua intensa atividade intelectual, anos e anos de consciente, aprofundado e minucioso estudo. E aí está mais um resultado de sua já firmada e vitoriosa vida de escritor nato : “A Revolução de 32”. É, na nossa entusiasta interpretação, a maior e mais bem organizada fonte elucidativa do que foi a grande epopéia paulista. Outros escreveram sobre ela. Mas falta muito ainda a ser transformado em romance, livro de crônicas, memorial do Interior, sem aquela preocupação única de um relato cronológico autentico. Donato já mantém em suas duzentas e vinte e quatro páginas, o primado de um roteiro o mais completo e elucidativo até agora impresso.
discriminação de classes ou pensares. Assoberbou tudo. Homogenizou e levantou, num bloco só, uno e coeso, o Estado Paulista. Mal estourado o movimento, eis a Normal de então, mobilizando os professores, transformada num foro cívico onde borburinhava o incitamento, o entusiasmo à luta. Silvio Galvão abandona a cátedra, e assume em sua casa, o posto de alistamento do voluntariado. Organiza o primeiro Comitê Revolucionário. Não para ali. Desce à esplanada do Espéria e numa tribuna improvisada concita o botucatuense à luta. É um rastilho que se incendeia. Sucedem-se os oradores: Sebastião de Almeida Pinto, José do Amaral Wagner.
É a comunicação moderna em que a fotografia completa os textos sóbrios e nem por isso menos ricos e conteúdo e de historicidade. Mas Donato tem reservas maiores para explodir, de repente, com um riquíssimo romance. Ele já o fez, no romance biográfico, para nós, o seu “cappolavoro” : “Rio do Tempo”. E porque não, sobre a epopéia de 32, o maior poema épico da contemporaneidade paulista? O interior guarda em sua crônica rica memória daqueles dias de euforia patriótica em que tudo convergia para o “Bem de São Paulo”. Botucatu viveu seus dias de glória. Nunca, como então, a figura do professor avultou numa delineação carregada das tintas fortes do “varão” romano. As escolas vieram à rua para contagiar o povo num movimento cívico jamais registrado antes ou depois, da grandeza do mestre frente aos seus discípulos. A revolução partiu do alto para baixo, sem DIRETOR: Armando Moraes Delmanto
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Dilia Ribeiro deixa a Biblioteca e vem à praça. É a primeira mulher a falar pela mulher botucatuense. A Normal se transforma. É agora um Hospital. Conclamou e organizou o Serviço Médico e o de Enfermagem. Há um burburinho continuo. Todos estão a postos. Surge o Batalhão Diocesano. E as ruas se enchem dos uniformes caqui e os “bibis” de guerra. A Banda Municipal de Amilcar Montebugnoli desfila pela Rua Amando. É o primeiro Batalhão que parte. À frente, na primeira linha, cantando a pleno peito, os mestres inesquecíveis: Silvio, Tião e Wagner. Tendo ao ombro os pavilhões nacional e paulista, lá desceram eles, o garboso primeiro batalhão botucatuense – a cerca de quarenta jovens impertigados e ufanos – a caminho do primeiro comboio que os levaria à Capital para o engajamento certo. Atrás, em brados de entusiasmo e de tristeza, os estudantes botucatuenses e o povo coesos, na despedida aos que partiam para a luta, para a conquista, para a vitória.
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9 DE JULHO E A GRANDE VITÓRIA PAULISTA!!!
A vitória da Revolução Constitucionalista de 1932 só aconteceu em 1933/34, com a nomeação de um civil e revolucionário para o Governo Paulista e a realização da CONSTITUINTE!! “Quero que compreendam a extensão e o significado deste ato, pois, com este decreto, entrego o governo de São Paulo aos revolucionários de 32”. (Getúlio Vargas) Os paulistas queriam a CONSTITUIÇÃO e a AUTONOMIA DOS ESTADOS e, na luta pela volta do país ao Estado de Direito, na luta cívica de 1932, queriam a convocação da Assembléia Nacional Constituinte. Esse foi o compromisso claro na mobilização para o Movimento de 1930, descumprido pelo Governo Provisório e que levou São Paulo a pegar em armas em 1932: a volta ao Estado de Direito e a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte para a elaboração de uma Constituição Democrática. Foi o maior movimento cívico vivido pelo povo brasileiro. Apesar do movimento revolucionário de 1930 ter recebido amplo apoio das forças e lideranças políticas paulistas, os seus objetivos foram fraudados pelo caudilhismo, representado por Getúlio Vargas. Uma vez instalado no Poder, Vargas passou a governar fora do Estado de Direito, violando as mais elementares regras democráticas. O Congresso Nacional, as Assembléias Estaduais e as Câmaras Municipais foram fechadas, todos os Governadores dos Estados (Presidentes) foram depostos e a Constituição de 1891 (preparada por Rui Barbosa) foi revogada. O caudilho Vargas passou a governar o Brasil através de Decretos-Leis (1930/32). São Paulo assumiu a liderança de exigir o retorno do país ao pleno Estado de Direito. A insatisfação grassava por toda parte e a permanência, que não era provisória, dos governantes federais no poder era a negativa do ideário pregado para o sucesso do movimento de 30. De início, com o apoio de vários Estados da Federação, principalmente do Rio Grande do Sul e Minas Gerais, sendo certo que os gaúchos tiveram papel significativo no incentivar, mobilizar e apoiar a tomada de posição dos paulistas. No entanto, o grande poder de cooptação do Poder Central conseguiu isolar São Paulo. Sozinhos, os paulistas levantaram a Bandeira da Constituição. A Revolução Constitucionalista objetivava, tão somente, autonomia administrativa, eleições e Constituição, ou seja, a volta do país ao pleno Estado de Direito. E, a partir daí, realizar a tarefa de modernizar o país, erradicar as injustiças e os erros que um regime político em descompasso com a evolução da humanidade não havia conseguido captar na Primeira República. Nada de separatismo como apregoavam os asseclas do Ditador... A mobilização foi unânime! As diferenças político-partidárias ficaram para traz. São Paulo soube compreender o momento cívico que estava vivendo e soube levantar, bem alto, a Bandeira da Legalidade! E o coração de São Paulo havia sangrado no final de maio/32 quando, numa manifestação da população paulistana com a presença de muitos estudantes de direito, pela autonomia de São Paulo e a favor da Constituinte, houve violenta repressão policial. Da ação violenta contra a população, quatro estudantes paulistas foram assassinados: Euclides Miragaia, Mário Martins de Almeida, Dráusio Marcondes de Sousa e Antônio Camargo de Andrade. As siglas dos nomes dos mártires (Miragaia, Martins, Dráusio e Camargo) deram origem ao MMDC, entidade que passou a representar a “alma dos paulistas” na luta que se iniciou a 9 de julho de 1932 contra um Governo Provisório (e que nada tinha de provisório) que não respeitava a autonomia de São Paulo e nem o Estado Democrático de Direito. A participação da intelligentzia paulista na mobilização da população foi fundamental. A nossa intelectualidade tomou posição firme, quer através do trabalho da pena, quer pela força da palavra, assumindo com a clareza de suas ideias a imprensa, a tribuna parlamentar, os pronunciamentos nos comícios e nos microfones radiofônicos. Resumindo: a mobilização cívica da população! Todos sabem o desfecho dessa que foi a mais importante ruptura da unidade nacional: a guerra civil de 32, levando irmãos ao mais grave enfrentamento. Os gaúchos – salvo algumas lideranças democráticas que mantiveram a palavra de incentivo e apoio irrestrito – abandonaram os paulistas. O mesmo ocorreu com os mineiros e com as forças militares da capital federal. São Paulo ficou sozinho na batalha para poder gerir a si próprio e pelas eleições e pela Constituição Democrática.
São Paulo não ganhou a guerra civil, desproporcional sob todos os aspectos, mas saiu vitoriosa, indiscutivelmente, saiu vitoriosa: o Ditador Getúlio Vargas teve, essa é a verdade, teve que convocar as Eleições Constituintes ! Haviam conseguido “brecar” São Paulo pelas armas, mas o povo brasileiro já havia sido “contaminado” pelo patriotismo e pelo desejo de ver o Estado de Direito reimplantado no país! Os ideais constitucionalistas da Revolução de 32 fincaram profundas raízes no sentimento patriótico do povo brasileiro. O Ditador Vargas não teve outra opção se não a convocação da Assembléia Nacional Constituinte. A nível nacional e nos Estados, foram eleitos os Deputados Constituintes com a missão de elaborar a Constituição de cada unidade federativa. E na Nova Constituição, o VOTO SECRETO e o VOTO FEMININO foram consagrados! Com o objetivo de resgatar a atuação valorosa dos paulistas é que fizemos esta interpretação histórica da epopéia cívica de 1932. Esse o cenário real em que se desenvolveu a luta armada e é a mais bela página do exercício da cidadania pelo povo paulista. A Assembléia Nacional Constituinte Getúlio Vargas, por Decreto, regulamenta o funcionamento da Assembléia Nacional Constituinte. Com a vitória militar, Vargas se sentia forte o suficiente para amenizar o clima e o espírito constitucionalista que a Revolução Constitucionalista de 32 criara em todo o pais. Assim, através de Decreto Lei, dispunha as atribuições da ANC e, entre muitas, a que deveria eleger o Presidente da República. Pelos paulistas conseguiu-se o que parecia impossível: a união de suas forças políticas: o PD – Partido Democrático e o PRP – Partido Republicano Paulista, com o apoio da Federação de Voluntários (dos ex-combatentes de 32) e da Associação Comercial de São Paulo, fizeram a “Chapa Única por São Paulo Unido”. Foram mantidas as estruturas partidárias independentes. As eleições para a Constituinte, foram realizadas no dia 03/05/1933. A Chapa Única elegeu 17 dos 22 representantes do Estado. Logo após as eleições, Vargas conseguiu aproximar-se da oposição paulista e fazer a tão desejada aliança. No dia 21/08/1933, um “civil e paulista”, combatente de 32, toma posse como Interventor Federal em São Paulo: o Engº Armando de Salles Oliveira. “Quero que compreendam a extensão e o significado deste ato, pois, com este decreto, entrego o governo de São Paulo aos revolucionários de 32”. Com essas palavras, Getúlio Vargas procurava garantir o seu futuro político. O esperto gaúcho mostrava que não era por acaso que estava no comando do país. Sabia fazer política e tinha visão clara do futuro e da importância de compor e dar, como vitorioso, tratamento adequado aos adversários de ontem... No Palácio Tiradentes, no dia 16 de julho de 1934, era oficialmente promulgada a nova Constituição da República. A partir daí, a Assembléia Nacional Constituinte se transforma provisoriamente em Câmara dos Deputados. No dia seguinte, 17/07/34, é eleito Getúlio Vargas como Presidente da República do Brasil, com mandato de 4 anos. E no dia 20 de julho, toma oficialmente posse do cargo. Finalmente, a 14 de outubro de 1934 são realizadas eleições para a Câmara de Deputados e para as Assembléias Constituintes dos Estados. Além de elaborarem as respectivas Constituições Estaduais, elegeriam os governadores e senadores, transformando-se provisoriamente em assembléias ordinárias. A esperteza e a capacidade do Ditador Getúlio Vargas em cooptar seus adversários políticos sempre foi reconhecida. E Vargas soube compreender a dimensão da patriótica mobilização paulista: um perigo que poderia contaminar todo o povo brasileiro. Assim, em agosto de 1933, em um gesto próprio de quem tem a inteligência e a sagacidade para ficar discricionariamente 15 anos no poder central (1930/45), estendeu aos paulistas, sem
limitações, as reivindicações mais prementes que levaram à deflagração do movimento insurrecional paulista: a autonomia na gestão do governo paulista e a fixação das datas das eleições constituintes. Armando de Salles Oliveira foi nomeado, em 1933, Interventor Federal até a sua eleição, pelos Deputados Estaduais Constituintes, eleitos em 1934, como Governador do Estado de São Paulo, em abril de 1935. Uma das condições para que Armando Salles aceitasse o convite foi a da concessão de anistia aos revoltosos de 32, que puderam retornar do exílio. Mesmo derrotados na luta armada, os constitucionalistas alcançaram os seus objetivos políticos. O escritor Hernâni Donato, em seu livro “A Revolução de 32”, edição Círculo do Livro/Livros Abril, 1982, pág.177, destacou a importância dessa escolha: “Particularmente aos paulistas, que seguiam amargando a rendição particular, Getúlio quisera fazer provar a 21 de agosto de 1933 o sabor aliciante, desarmante, de alcançar um objetivo obstinadamente perseguido. Nomeou Armando de Sales Oliveira – civil e paulista – para a interventoria federal em São Paulo. Assinando o decreto, enfatizava: “Quero que compreendam a extensão e o significado deste ato, pois, com este decreto, entrego o governo de São Paulo aos revolucionários de 32”. “Quero que compreendam a extensão e o significado deste ato, pois, com este decreto, entrego o governo de São Paulo aos revolucionários de 32”. Jogada de mestre do caudilho gaúcho, mas que representou a possibilidade de reagrupamento da cidadania paulista e a efetiva possibilidade de se provar a capacidade administrativa dos revolucionários constitucionalistas e o indiscutível sentimento de unidade nacional que sempre os motivou. Fruto da Revolução de 32, a mobilização dos paulistas para as eleições presidenciais de 1937 foi o maior acontecimento político da época. Com as eleições estaduais para a Constituinte Paulista de 1934 e o governo arrojado e inovador de Armando de Salles Oliveira, o Brasil passou a se espelhar e a esperar que o grande democrata paulista levasse para todo o Brasil, as novas e modernas técnicas de bem gerir o serviço público que implantou em São Paulo, além da verdadeira revolução educacional com a criação pioneira da USP – Universidade de São Paulo. O governador Armando Salles trouxe para a gestão pública a experiência que tivera ao criar, na iniciativa privada, moderna empresa voltada ao treinamento e formação de gestores. Essa sua atuação no setor produtivo repercutiu muito em todo o país, especialmente com a criação bem sucedida do IDORT – Instituto de Desenvolvimento Organizacional do Trabalho. O IDORT preparava lideranças para a boa e eficiente gestão administrativa, além do ensinamento das modernas e eficientes técnicas organizacionais de trabalho. Ao mesmo tempo e também em iniciativa pioneira e revolucionária, Armando Salles investiu maciçamente na educação e implantou as Escolas Profissionais (posteriormente, denominadas Escolas Industriais) na capital e no interior do estado. Assim, estavam elencados os objetivos imediatos: modernizar o serviço público, investir na educação prioritariamente e implantar novas e produtivas técnicas organizacionais para a otimização da máquina estatal. O Estado Novo. O Exílio. A Derrota da Democracia... Em 1937, Getúlio Vargas dá o Golpe de Estado e implanta o Estado Novo (10/11/1937). A democracia é derrotada. A Constituição de 1934 é revogada. As Casas Legislativas (Congresso Nacional, Assembléias Legislativas e Câmaras de Vereadores) são fechadas. Os Governadores e Prefeitos são depostos; são nomeados os Interventores Federais. As Bandeiras dos Estados são queimadas em praça pública pelo Ditador Vargas! O caudilho Vargas passa a governar por Decretos Leis... Esse filme já foi visto em 1930... No mesmo dia do golpe, Armando é preso em seu apartamento do Rio de Janeiro. É enviado para Minas Gerais onde fica isolado até maio de 38. Em novembro (03/11/1938), segue de navio para a Europa. Era o desterro. Era o exílio que duraria até 07 de abril de 1945, quando regressaria, já muito doente, falecendo em São Paulo (17/05/1945). Em sua última homenagem, na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, a presença dos amigos e familiares. O caixão é fechado. Carregam o esquife os profs. Jorge Americano, Gabriel Rezende, André Dreyfus, Benedicto Montenegro, Teotônio Monteiro de Barros, Soares de Faria, Fonseca Telles, Pacheco e Silva, Zeferino Vaz e Waldemar Ferreira. Os discursos do prof. Jorge Americano, Reitor da USP, do prof. André Dreyfus, Diretor da FFCL e do acadêmico Waldir Troncoso Peres, orador do Centro Acadêmico XI de Agosto. No cemitério da Consolação, Otávio Mangabeira proferiu, de improviso, ao baixar o corpo à sepultura, belíssimo e comovente discurso. (AMD)
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Academia Botucatuense de Letras: 49 anos de vida rumo à esperança Carmen Sílvia Martin Guimarães Presidente da XI Diretoria da Academia Botucatuense de Letras Fundada em 9 de julho de 1972 e oficializada solenemente em 17 de março de 1973, a Academia Botucatuense de Letras celebra, em 9 de julho, seus 49 anos de existência. Tem como finalidade promover e preservar a Cultura nos campos da Língua e da Literatura, das Belas Artes e das Ciências. Fundada em pleno regime da ditadura militar, conseguiu sobreviver a ele e apesar dele, enfrentou outros vários complicados momentos políticos, sociais, humanitários e culturais pelos quais o Brasil e o mundo passaram e passam . Cresceu suave e lentamente, num espírito familiar e de respeito, com as eleições de suas Diretorias, com as reuniões ordinárias e os “chás”, com as posses de seus Membros Efetivos, Honorários e Correspondentes, com os alegres saraus lítero-musicais, procurando sempre se integrar à comunidade local e regional. Em de 2 de outubro de 1993, fui apresentada à comunidade acadêmica como novo Membro Efetivo e, em
29 de outubro de 1994, apresentei minha tese sobre meu patrono Hernâni Donato - Cadeira 09 - e minha antecessora, Dinorah Silva Alvarez. Então, comecei a participar da real vida acadêmica. Presenciei momentos inesquecíveis, convivi com pessoas sensibilíssimas e cultíssimas, assisti a defesas de teses acadêmicas magníficas, a palestras sapientíssimas. Vivi saraus agradabilíssimos. E houve Reformas do Estatuto e Regimento, banca julgadora em concursos artísticos-literários, lançamentos de livros, exposições artísticas, projetos de integração com a comunidade e com várias instituições. Em 12 de julho de 2019, tomei posse como Presidente da XI Diretoria da ABL, a segunda mulher a ocupar esse cargo; a primeira foi a Confreira Maria Amélia Blasi Toledo Piza. Jamais poderia imaginar que uma crise sanitária tão grave iria afetar nossas atividades assim como o mundo todo. A gente faz um plano e o vírus traça outro! Em consenso com a Diretoria, tive que suspender todas atividades presenciais, até o atual momento, ainda de perigo. O uso da internet facilitou muitas tomadas de decisões, principalmente uma, em especial, que foi a recondução da Atual Diretoria - a XI até junho de 2022, quando, se Deus o permitir, será realizada a eleição presencial para a XII Diretoria da ABL.
Houve, ainda, em plena pandemia da Covid-19 (Corona Vírus Disease-2019) a mudança da sede da ABL : do espaço que ocupava na Secretaria de Educação Municipal (antigo Seminário) para o Centro Cultural de Botucatu . Dedicamos um sentimento fraterno para com os Acadêmicos e botucatuenses que perderam familiares vítimas da Covid-19 . Agradeçamos a Deus por nos ter poupado desse vírus até o momento ! Então, com fé e ânimo, repito as palavras que usei em minha posse na XI Diretoria da ABL : “Nosso saudoso Acadêmico Dom Vicente Marchetti Zioni dizia que, para um ministro poder levar avante sua missão, ele precisava de quatro ‘Ss’: ser Sacerdote, ser Servidor, ser Santo... e ter Saúde!” E hoje, eu plagiando Dom Vicente, e, para dar continuidade ao Sacerdócio Acadêmico que meus antecessores realizaram nesta e por esta Academia de Letras, peço ao Espírito Santo alguns outros “Ss”, nessa minha prece-poema, usando a aliteração, em “S”: Sabedoria - como Salomão pediu. Saúde Serviço Simplicidade Sensibilidade Seriedade, Solidariedade e...Sacrifício para poder Sonhar e seguir a Sina do lema da ABL: “Non omnis moriar”! E finalizo com pensamentos de Esperança: “Quando há estrelas, não se olha o pântano.” - Hernâni Donato - Patrono da Cadeira 09 “Sentiste a dor dos espinhos? É porque colhestes rosas também!” - Dinorah Silva e Alvarez - minha antecessora na Cadeira 9
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A GRAMADO DOS SONHOS
MARCELO DELMANTO Costumo dizer que o melhor lugar para se viver no Brasil é a região sul do país. Isso se confirmou surpreendentemente quando conhecemos a cidade de Gramado. Foi em um mês de julho, depois de um planejamento fomos viajar. Pegamos nosso voo de São Paulo para Porto Alegre, lá chegando tomamos uma van e seguimos para Gramado. Ficamos muito admirados com a beleza da cidade, que é uma das mais belas do Brasil. Apenas instalados saímos para jantar em um restaurante que ficava dentro de um outro hotel perto do nosso. A propósito, o hotel era o Laghetto Premium, isto porque ele era perto de um belo lago. Nós caminhávamos todos os dias até uma praça onde, em virtude da época do ano, isto é inverno, pode-se experimentar o maravilhoso fondue, que pode ser servido com vários tipos de frutas. No primeiro dia fomos ainda mais além, pois sabíamos que existia a Casa do Papai Noel, nos divertimos e gostamos muito do local, porém para chegar lá tivemos que subir a pé uma baita ladeira. Este aspecto da cidade é interessante, isso porque a cidade é bem tranquila e calma, tanto que em toda ela não existe sequer um semáforo, dado ao trânsito ser muito organizado e não acontecerem acidentes. Fizemos vários passeios enquanto estivemos por lá, fomos ao lago negro que é um parque muito bonito e tem até uma montagem com bonecos de neve de plástico, onde cai água e sabão simbolizando neve. Um dos pontos turísticos, que fica próximo àquela pracinha que mencionei, é a igreja de pedra que é linda por fora e por dentro também, inclusive ela aparece com frequência na reprise de uma telenovela global. Alguns passeios foram bem interessantes, nós visitamos. O “Mundo das Pedras” onde haviam cristais e outras pedras trabalhadas e esculturas
com a mesmas e, logo após, visitamos a fabricação de taças e outros objetos de cristal. Um lugar curioso foi o “Mundo à Vapor”, ou seja, além de demonstrações de como funciona o motor a vapor, tinha muitas maquetes animadas que representavam como são os procedimentos de uma Usina Termoelétrica, uma outra uma Usina Hidrelétrica e até como é a produção de papel, tanto que todos os visitantes levam um pedacinho do papel produzido lá. Também teve a visita ao “Mini Mundo”, um lugar com réplicas perfeitas em miniatura de locais reais do mundo inteiro, me senti como se fosse um gigante. Visitamos o “Parque do Caracol”, lá a gente conheceu a árvore da qual é feito o mate do chimarrão e comtemplamos uma cachoeira maravilhosa através de um mirante que tem no local. Visitamos também um museu de cera com muitas representações perfeitas das pessoas e personagens famosos. Conhecemos também vinícola Aurora, onde degustamos um ótimo vinho tinto e fomos a uma fábrica de Chocolates que além de aprender a his-
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tória, conhecemos o maior coelho de chocolate do mundo, registrado pelo livro dos recordes. Fizemos um pequeno passeio de Maria Fumaça até Bento Gonçalves, durante o qual entraram no trem comediantes e cantores para entreterem os passageiros. Lá conhecemos uma loja e fábrica de queijos, que devo confessar é um dos melhores que eu já experimentei. Outro importante acontecimento ocorre em Gramado, que é o festival de cinema que tal qual a cerimônia do Oscar, premia grandes produções do cinema, mas com a estatueta do Kikito, que é semelhante ao Oscar, porém a cabeça tem os raios do sol em torno dela, aliás há várias representações dele no tamanho grande por toda a cidade. No centro existe a Rua Coberta que é a maior rua do comércio que, por ser coberta, assemelha-se a galerias que encontramos em alguns locais da Europa. É ali que passa o famoso desfile do Natal Luz que ocorre anualmente nesta data. Como, de costume lanchávamos em um restaurante que se chamava Pasteleiro, onde se prova vários tipos de pastel, inclusive pastéis doces e também um pastel de forno que, diga-se de passagem, era realmente maravilhoso. No último dia ao sairmos do restaurante, resolvemos experimentar a famosa sequência de fondue, para isso marcamos a mesma para o jantar, como não queríamos comer o fondue de carne e tínhamos comunicado isso ao garçom, ele nos serviu duas vezes o fondue de queijo e fechou com o fondue de chocolate, foi fantástico. Uma curiosidade as cadeiras não são acolchoadas, ou seja, o assento e encosto, são na madeira, então, nessas ocasiões, cobrem as cadeiras com uma manta super macia de pura lã de carneiro, foi para fechar com chave de ouro. Ao retornar a Porto Alegre, fizemos um city tour panorâmico pelos principais pontos da cidade, com o destaque da Arena Grêmio, que é imponente, como o próprio time de futebol e a praça do caçador que contém uma estátua do mesmo no centro dela. Como já disse o Sul do Brasil é demais, ainda por cima com a linda Gramado. Definitivamente este é um destino que pede, sem dúvida nenhuma, várias revisitações.
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“Sous le ciel de Paris”
Maria de Lourdes Camilo de Souza Quem vai a Paris para comprar enfeites para árvore de Natal? Ninguém que eu conheça. Mas eu fiz isso. Talvez pela época que lá estive, era final de ano. Aí me vejo passeando por um quadro de Renoir, ao vivo e a cores. Sabe aquela rua onde se vê uma floricultura, ao lado uma padaria, e do outro lado um pintor, parecido com Monsieur Diercx, camiseta listrada branco e marinho, calça cinza chumbo muito larga, presa á cintura por um cinto largo preto, botas velhas de uma cor indefinida, e na cabeça uma boina
preta. No pescoço tem amarrado um lenço vermelho. Um rosto marcado por olhos escuros perscrutadores, traços fortes. Levava seu cavalete, pincéis e tintas e para fazendo a pintura, capturando o momento. Um café com mesas e cadeiras na calçada, as pessoas tomando seu café. Tudo fica romântico. Acho que deve ser um ingrediente especial que tem no ar dessa cidade. Flanando por ali, vi-me defronte de uma loja com os enfeites de Natal. Parei encantada quando vi aquelas bolas e sinos: eram de um azul claro, decoradas com pequenas figuras de Papai Noel, anjos barrocos, pequenas folhas de pinheiro, trenós Diferentes de todo enfeite que já tinha visto.
Comprei algumas, pensando que vinham tão bem acondicionadas em caixas próprias que aguentariam o voo de volta, e como eram de isopor revestido, não pesavam quase nada. Atravessando a rua entrei no café e pedi um cachorro quente em uma baguete coberto por queijo parmesão ralado e derretido. Trazia aquela deliciosa mostarda francesa de inesquecível sabor. Um chocolate quente delicioso acompanhado de um macaron lilás, de comer com os olhos. Sentada no café via a rua que subiria para visitar a Sacré Coeur. Acompanhei um grupo de mexicanos falantes na subida extenuante, até dar com uma vista de tirar o fôlego da cidade luz.