Diário da Cuesta NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU
ano I Nº 213
QUINTA-FEIRA, 15 de JULHO de 2021
No dia 15 de Julho é comemorado o Dia do Homem. A beleza de um homem está no tamanho de seu sonho e na humanidade do seu caráter. Página 3
A moderna Gastão Dal Farra! É muito importante o desenvolvimento, com toda a infraestrutura, da Rodovia Gastão Dal Farra (denominação antiga que necessita ser atualizada para Avenida). Desde a municipalização dessa rodovia que vem recebendo da Prefeitura Municipal a devida atenção eis que atende a importante segmento da população botucatuense (20 mil), moradores dos bairros e conjuntos habitacionais da região. O trabalho de duplicação da 2ª etapa da Rodovia Gastão Dal Farra já começou com a execução das galerias de águas pluviais. Importante obra para a segurança dos condutores e valorização de uma região em franco desenvolvimento!
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ARTIGO
Sinceramente... José Maria Benedito Leonel Sinceramente, me dou bem com os pobres. Até porque me chamo Zé, nascido em terra de areia e alheia e de ranchos a beira chão, como disse o poeta maior Angelino de Oliveira. E com os miseráveis qual foi a minha vivência? Pequena, em verdade, mas não os evitei conscientemente. Não, não foi por soberba mas por despreparo mesmo. Demorei para vê-los nas ruas e becos; eles passam despercebidos como se fossem invisíveis. De novo sinceramente, eu gosto de entender os contextos das vidas para, se possível, agasalhar aqueles de má sorte. Tenho empatia com os pobres. Será que é porque sei de onde vim? Será que é porque sei o que cabe ao boi de coice e o boi de guia no carro de boi? Ah , é certo, conheço o peso da canga e reconheço quando o violeiro ponteia na velha viola um cateretê, esparramando mágoa ,saudade e desencanto. Às vezes me imagino sem crédito, sem dinheiro, sem talão de cheques, sem cartão e precisando de um remédio, de arroz, de feijão, de leite e pão pras crianças. E daí, amigo? Depois do vírus, estou espantado. Eram tanto assim os pobres, os miseráveis? Quem os produziu? Os colonizadores, o processo cultural, as religiões, as teorias e modelos econômicos, as ideologias, os regimes implantados, a imprensa, a classe política? Uma coisa é certa: os pobres não são produtos de geração espontânea.
Por coerência de raciocínio e por visão histórica dá pra perguntar, singelamente, se há correlação entre quem os mandou pras filas e aqueles que hoje doam máscaras, sabão, gel, cestas e até água, por incrível que pareça? A resposta é sua. Agora é comigo. Será que sem saber a quem servia, ajudei nas escolas, a excluí-los, tratando igualmente os desiguais de origem e de meios? Será que
DIRETOR: Armando Moraes Delmanto
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dei mais aos que já tinham mais e menos aos que já tinham menos, reproduzindo as desigualdades sociais? Quantos estão nas filas por ação ou omissão minha? Sinceramente, não sei. Só me resta pensar, Zé que sou, que tudo se resume, na ganância humana. Porque assim é, não sei. Simples assim. Em tempo: a solidariedade, quando nascida e praticada com amor é linda e felizmente também humana.
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ARTIGO
Serás um homem, meu filho!
GUILHERME DE ALMEIDA - PRÍNCIPE DOS POETAS BRASILEIROS!!! Momento Poético! Buscando na poesia do sempre “Príncipe dos Poetas Brasileiros”, Guilherme de Almeida, o momento mais apropriado para a realidade dos paulistas. Buscamos, sempre, no poema da “Nossa Bandeira” um pouco de inspiração cidadã. E a bravura do guerreiro na tradução do poema “IF” de Rudyard Kipling (Joseph Rudyard Kipling – nasceu em Bombaim em 1865 e faleceu em Londres em 1936, foi um autor e poeta britânico dos mais populares), Guilherme de Almeida – na opinião dos críticos literários! –reescreveu a poesia de Kipling e construiu uma de suas mais belas páginas: “Se”! Guilherme de Andrade de Almeida (1890-1969), considerado o “Príncipe dos Poetas Brasileiros”, nasceu em Campinas (SP), foi uma personalidade de destaque nos meios intelectuais e sociais como poeta, jornalista, advogado, cronista, tradutor, além de desenhista e profundo conhecedor de cinema. Dominou amplamente o fazer poético, por ser grande conhecedor da ciência do verso e da língua, ajudando-o também a ser um excelente tradutor. Traduziu, também, os poetas Paul Géraldy («Eu e Você»), Rabindranath Tagore («O Jardineiro» e «O Gitanjali”), Charles Baudelaire («Flores das Flores do Mal»), Sófocles(“Antígona”) e Jean Paul Sartre (“Entre Quatro Paredes”). Com a publicação do livro de poesias “Nós” (1917) iniciou sua carreira literária. Em 1922, participou da Semana de Arte Moderna, seu escritório serviu de redação para os fundadores da revista “Klaxon”. Percorreu o Brasil, difundindo as idéias da renovação artística e literária. Os livros “Meu” e “Raça” (1925) são fiéis à temática brasileira e ao sentimento nacional. Se Se és capaz de manter a tua calma quando Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa; De crer em ti quando estão todos duvidando, E para esses no entanto achar uma desculpa;
RUDYARD KIPLING
Se és capaz de esperar sem te desesperares, Ou, enganado, não mentir ao mentiroso, Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares, E não parecer bom demais, nem pretensioso; Se és capaz de pensar --sem que a isso só te atires, De sonhar --sem fazer dos sonhos teus senhores. Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires Tratar da mesma forma a esses dois impostores; Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas Em armadilhas as verdades que disseste, E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas, E refazê-las com o bem pouco que te reste; Se és capaz de arriscar numa única parada Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida, E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada, Resignado, tornar ao ponto de partida; De forçar coração, nervos, músculos, tudo A dar seja o que for que neles ainda existe, E a persistir assim quando, exaustos, contudo Resta a vontade em ti que ainda ordena: “Persiste!”; Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes E, entre reis, não perder a naturalidade, E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes, Se a todos podes ser de alguma utilidade, E se és capaz de dar, segundo por segundo, Ao minuto fatal todo o valor e brilho, Tua é a terra com tudo o que existe no mundo E o que mais --tu serás um homem, meu filho!
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Pinocchio
Elda Moscogliato
Pinocchio – damo-lhe a grafia original, mais compatível com sua personalidade – está completando cem anos de vida. Longa existência de um boneco de madeira cujas diabruras conquistaram no palmilhar desses muitos anos, muitas gerações de crianças. O fato merece celebração. Na galeria dos heróis universais, que se impuseram não só ao mundo infantil como também fixaram-se nos porões da memória dos adultos como lastro inservível, ele iluminou para o bem, em cada geração, a almazinha ingênua dos garotos endiabrados a cuja mentira caia-lhes por cima a séria ameaça de crescer-lhes o nariz. De todos os traços de Pinocchio, esse é o fundamental. Pena que das irrealidades da primeira infância não se tenha mantido para as realidades presentes a sentença do nariz crescido. Haveria a granel, muito nariz precedendo seus donos, nas viradas de esquina. Edmond Rostand teceu um dos mais lindos poemas românticos usando com arte esse apêndice facial : Cyrano de Bergerac. Mas deu-lhe simultaneamente uma alma nobre. A grandeza de Cyrano não cabe nesta crônica. É assunto para outro tema. Fiquemos no mundo infantil. Do qual há tanto, nós e os queridos leitores desta coluna, estamos já tão distanciados. Mas há para consolo nosso, uma verdade cediça: todos nós trazemos, dentro de nós mesmos, uma criança que não cresceu. Figuremo-nos nela. Pelo menos para esquecer a precariedade do
presente e reiterar a Pinocchio, neste aniversário, nossa eterna e ardente admiração. Ele não envelhece. Collodi perfila-se dentre aqueles autores clássicos que se imortalizaram dedicando-se ao maravilhoso reino das crianças. A literatura infantil é algo difícil e extremamente delicado. É gênero que demanda sutileza e profunda sensibilidade. É como música erudita. Solapar-lhe os alicerces fantásticos e irreais, é votar-se inexoravelmente ao fracasso. Por isso, há tanta literatice infantil empanturrando prateleiras. Essa não conquista o mundo maravilhoso da criança. Os heróis modernos firmam-se num comercialismo evidente. Há-os em abundância, voltados para uma ostensiva violência. Mas cinderelas, emilias, belas adormecidas, vendedoras de fósforo, chapeuzinhos vermelhos, cisnes selvagens, patinhos feios, esses jamais passarão. Os heróis fabricados a traços largos de masculinidade ostensiva e mulheres-maravilhas, esses, violentaram as portas do reino encantado da criança e de lá desterraram friamente os castelos
encantados, as cabaninhas de marmelada e chocolate, despejando seus incríveis moradores. Por isso, os livros infantis de hoje não tem a perenidade de Swft, de Andersen, de Madame Sevigné, de Collodi e do nosso imortal Lobato. Um dos fatores responsáveis pelo desinteresse dos heróis infantis, é a respectiva ilustração. Pinocchio nasceu de um galho seco de árvore nodosa. Geppeto viu-se em dificuldades para aparar esse nó e daí, nasceu o nariz comprido do buratini. E esse nariz comprido, longe da interpretação afoita e depreciativa que lhe dão alguns críticos abarrotados de psicologia é mais um detalhe engraçado do que símbolo erótico cuja área de sexualidade tão teimosamente se pretende hoje imiscuir em toda criação artística a ponto de, em generalidades, denegrir o vulto grandioso de Wagner, comemorado há pouco, em seu centenário. Pobre Pinocchio em que mãos caiu. Mais boneco de engonço, que seduz pela originalidade; desajeitado e cômico ,traz consigo uma mensagem pura formativa que varou um século de plena e admirativa aceitação, para agora, em opiniões irreverentes, ser cadastrado em área tão aniquiladora. Falávamos de ilustrações. Há muitas de Pinocchio. Mas a mais verdadeira é a de Mazzanti, reproduzida nas mais sérias e honestas traduções. Foi como o conhecemos. Disney deu-lhe formas humanas e prejudicou-lhe em muito, as origens genéticas. Há uma versão abrasileirada. Foge à imagem literária. Está tudo errado. Sua representação física não corresponde à criação de Geppeto. Pinocchio tem que ser de pau. Pernas e braços alongados, ligamentos em parafuso, chapéu cônico, nariz comprido e olhos pequeninos, espertos, de boneco vivo. Esse é o Pinocchio de Geppeto. E nosso. Não morre nunca.