Edição 24

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Diário da Cuesta NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU

ano I Nº 24

SEGUNDA-FEIRA 07 de dezembro de 2020

PARQUE LINEAR DO LAVAPÉS Prefeitura já recuperou mais de 1 Km da calha do Rio Lavapés na Parque Linear

Por meio da obra do Parque Linear do Lavapés, a Prefeitura de Botucatu já recuperou mais de 1,2 Km das margens e calha do rio que corta parte considerável do Centro da cidade, o que corresponde a 38% de todo o trabalho previsto. Segundo o Executivo, em breve, quatro pontes que ligam a região ao centro comercial do município também passarão por alterações. Elas estão localizadas nas seguintes ruas: Coronel Fernando Prestes, Emilio Cani, Adolpho Lutz e Antônio Bernardes. Além delas, a prefeitura construirá um novo equipamento

de transposição do Rio Lavapés, entre a Avenida Ediberto Roque Sforsin e a Rua João Miguel Rafael, que será uma importante via de ligação entre Vila Jardim/ Comerciários e o Centro. “Faremos o alteamento dessas quatro pontes já existentes, pois elas são baixas e não contribuem efetivamente para o escoamento da água em dias de chuva e cheia do rio”, diz o prefeito Mário Pardini. “Com essas obras, a drenagem dessa região será muito melhor e evitará enchentes aos moradores das proximidades”. A obra do Parque Linear prevê, além da recuperação das margens e da calha do Rio Lavapés, a instalação de ciclovia, playgrounds e academias ao ar livre, a execução de obras de paisagismo e outras melhorias. (jcnet.com.br)

Prefeito tem agenda em Brasília para tratar de obras de drenagem e asfalto O Prefeito Mário Pardini cumpriu sua agenda oficial da última terça-feira, na Capital Federal, Brasília. Na primeira reunião, a pauta foi a liberação dos recursos restantes para a conclusão da primeira etapa do Parque Linear do Ribeirão Lavapés. O pedido foi feito diretamente ao Secretário Nacional de Saneamento, Pedro Maranhão, e foi endossado pelo Deputado Federal Samuel Moreira. (Acontece Botucatu)

Prefeita eleita de Bauru – a Cidade Sem Limites! -, Suéllen Rosim continua a receber solidariedade de todo o Brasil. Vítima de racismo e tendo recebido até ameaças de morte, a jovem prefeita eleita cada vez mais ocupa um papel de liderança regional a mostrar a nova política e o papel positivo da mulher na vida cívica do país.


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artigo

Diário da Cuesta

BAIRRO/CIDADE

Com a construção do Conjunto Habitacional “Humberto Popolo”, inaugurado em 1981, pelo Prefeito Municipal, Luiz Aparecido da Silveira, a cidade de Botucatu ganhou uma nova cidade. Exatamente isso: UMA NOVA CIDADE ! Na gestão anterior, Botucatu havia recebido grandes industrias. Staroup, Costa Pinto, Hidroplas e Estrutec. Mas não havia sido previsto ou planejado a construção de novos conjuntos habitacionais. Assim o déficit habitacional do município chegava a quase 4 mil casas na segunda metade dos anos 70. O prefeito Lico Silveira, desde a sua posse em 1977, tinha que enfrentar esse desafio. Daí a necessidade de um conjunto habitacional das proporções da conhecida Cohab 1, denominação popular do Conjunto Humberto Popolo. A cidade precisava com urgência urgentíssima de casas populares para o crescimento industrial que estava vivendo. Houve demora, contratempos, troca de empreiteira, pressão dos políticos, enfim, tudo o que costuma ocorrer, infelizmente, quando há um grande empreendi-

Solenidade de Inauguração do Conjunto Humberto Popolo. À esquerda, vereador João Carlos Moreira; à direita a viúva Dona Noêmia Popolo e o prefeito Luiz Aparecido da Silveira (1981) mento. A tentativa de “negócios escusos”, mesmo não recebendo a devida condenação pela Câmara Municipal, obteve na Justiça a reparação do mal feito com o dinheiro público. Mas o conjunto habitacio-

nal pode ser inaugurado em 1981. O Conjunto Humberto Popolo (Cohab 1) já chegou com toda a sua grandiosidade: maior do que muitos municípios vizinhos como Pardinho, Itatinga e Bofete. Já chegava poderoso e prometendo um futuro brilhante a seus moradores. A Câmara Municipal havia aprovado a verba necessária para os investimentos em infraestrutura. Hoje, a conhecida Cohab 1 tem vida própria e muita representatividade política, sendo certo que já elegeu vários representantes para o Poder Legislativo. Para o futuro, a cidade de Botucatu dificilmente contará com outro conjunto habitacional desse porte: estudos de urbanistas recomendam que o número de casas populares a ser construído seja adaptado e desmembrado pelos bairros e distritos da cidade. Essa seria a melhor forma de aproveitamento dos equipamentos urbanos (redes de água, esgoto e eletricidade) já existentes. Um bairro que já nasceu cidade é o caso da COHAB 1. Um bairro orgulho de Botucatu ! (AMD)

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A COHAB 1 tem como patrono o botucatuense Humberto Popolo, conhecido por Chibe. Foi contador, comerciante (Organizações Popolo), presidente do Asilo Padre Euclides, presidente do CDL, Juiz de Casamentos,Vereador e destacado membro do Lions Clube. Hoje, o bairro se desenvolveu bastante, tanto que é considerado um bairro/cidade. Com excelentes escolas: Sesi, Senai, Senac, o Sofia Gabriel, o Serrinha. Com a sede do Tiro de Guerra, 3º DP, Posto de Saúde, Creche, Supermercados e um comércio vibrante. Com localização alta é bem iluminado, bem ventilado e com boa urbanização.

WEBJORNALISMO DIÁRIO

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Praticamente uma continuidade do Lavapés, a COHAB 1 atende a uma grande população e para isso, além das escolas do Grupo S (Sesi, Senai, Senac) tem as escolas: Centro de Educação Infantil (CEI) Nair Fernandes Leite Vaz; Escola Muncipal de Ensino Fundamental (EMEF) Antenor Serra e a maior escola estadual no município de Botucatu, Escola Estadual Professora Sofia Gabriel de Oliveira.

DIRETOR: Armando Moraes Delmanto

EXPEDIENTE NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU

Transferido para a COHAB 1, em 1982, o Tiro de Guerra fica na rua Mário Barbéris. No mesmo prédio também funcionam a Polícia Ambiental e a Garagem Municipal. Nos fundos também há um local onde a Prefeitura cultiva mudas e plantas. Esse prédio foi construído pelos Irmãos Lassalistas para ser um Seminário que chegou a ser inaugurado em 1967. Depois foi propriedade da Reflorenda e, finalmente, passou para a Prefeitura.

EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes Contato@diariodacuesta.com.br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689

O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.


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O ENSINO DA LITERATURA

Olavo Pinheiro Godoy

Modernamente, o ensino da literatura tem se conduzido através do contato direto com a obra literária, pois de há muito foi superado aquele antigo sistema de se darem aos alunos extensas biografias dos autores, seu valor histórico, as intermináveis listas de nomes de livros, afogando-se o estudante em coisas absolutamente secundárias. Claro está que o que interessa em primeiro lugar é a obra literária, o texto vivo, e em função dela é que o educando irá tomando conhecimento dos problemas literários. Cumpre, é evidente, que se caminhe dentro do texto literário, através de uma série de etapas, ao termo das quais a obra terá sido perfeitamente entendida, analisada e posteriormente valorizada, num sentido positivo ou negativo. Este contato direto com o texto, queremos crer, deve ser feito desde o início do primeiro grau, quando o aluno, além das leituras comuns de classe, poderá ser levado pelo professor a fazer a leitura de certos autores próprios do nível em que se encontra, resumindo a obra, destacando aquilo que lhe pareceu mais atraente. Ao professor cabe então esclarecer sobre problemas do texto, ressaltando os valores literá-

rios e lingüísticos, numa compreensão total do assunto. Já no segundo grau este estudo poderá ser aprofundado, num sentido de levantamento de temas que os alunos estudarão e sobre os quais manifestarão suas idéias. A participação integral do aluno, na abordagem do texto, já que os elementos de história literária devem aparecer tão somente como meros auxiliares para a compreensão da obra, o mesmo se podendo dizer dos elementos biográficos referentes ao romancista, poeta, contista, enfim, o autor estudado. No curso superior, naturalmente, a literatura toma novo e mais amplo interesse; eis que já se caminha para uma certa especialização e são colocados problemas de maior complexidade. Surge a análise literária, seja num sentido de destacar trechos mais expressivos da obra, seja

num sentido de visão total da mesma obra. Contudo, ainda a análise literária do texto, ou especialmente pelo seu sentido fragmentário e por não ser de aspecto valorativo. Na análise, o aluno destacará alguns elementos da obra que deverão posteriormente ser sintetizados, julgados e valorizados. Aqui, sim, chegamos ao último estágio da compreensão da obra literária. É a crítica literária, onde se porá em relevo as virtudes da obra, a sua autenticidade, enfim. Muitos pensam que ensinar literatura é simplesmente dar história literária, fazer os alunos decorarem uma série de autores e obras, resultando no fim que muitos acabam se aborrecendo, e com justa razão, ao sentir que há muito pouca preocupação, ou mesmo quase nenhuma preocu-

pação, com o texto literário, aspecto vivo da literatura. Assim é que vale muito mais conhecer a fundo um romance de José de Alencar, “O Guarani”, por exemplo, que saber todos os acontecimentos importantes acerca do escritor cearense, ou ainda, conhecer antes a poesia de Gonçalves Dias que os episódios de sua vida. Hoje em dia nos cursos superiores, especialmente, tem-se procurado estudar, não a obra total de um certo autor, mas buscar os temas de certas obras e aprofundá-los, quer dizer, a crítica literária caminha cada vez mais no sentido de especialização. Esta é importante, na medida em que, contudo, o aluno não perca a visão de conjunto da obra do romancista, contista ou poeta que se estude.

JORNALISMO MODERNO Diário da Cuesta NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE

E DA CIDADANIA EM BOTUCATU

RAUL TORRES E O SAMBA RURAL

Nº 05

SÁBADO DOMINGO 14/15 de novembro de 2020

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Nº 04 IRA SEXTA-FE 2020 mbro de

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RANI

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RAUL TORRES é um orgulho para Botucatu. Faz parte do TRIO DA MÚSICA RAIZ: ANGELINO DE OLIVEIRA, RAUL TORRES E SERRINHA. Praticamen te, fazendo de Botucatu e região a CAPITAL DA MÚSICA CAIPIRA ou MÚSICA RAIZ! Com estátua na Praça do Bosque, Raul Torres tem resgatado o seu OUTRO LADO MUSICAL: do SAMBA RURAL ou SAMBA DO INTERIOR. O original e excelente TRIO GATO COM FOME, resgata com muito brilho dez sambas de Raul Torres, no álbum EM BUSCA DOS SAMBAS DE RAUL TORRES. Botucatu não poderia ficar desconhecendo esse lado musical de Raul Torres e com o também. Ver matéria completa qual fez muito sucesso, na página 2

RANÍ É TU / GUA O BOTUCA DO, A CNBB AQUIFER DO MUN A DOCE, O DE ÁGUA VIVE A MAR DE ÁGU RVATÓRIO PLANETA Página 4 VERDADEIRO O O MAIOR RESE TEMA E TODO O LÍQUIDO. RAD SEU PRECIOSO CONSIDE A COMO SE ÁGU DES A ÇÃO ELEGEU PRESERVA AÇÃO PELA PREOCUP

O R Á G UA : A M E L H E RV E JA U T A C U T C BO ELHOR PA R A A M

ELE IÇÕ ES MU NIC IPA IS

Amanhã, 15 de novembro, é dia de Eleição Municipal e é, também, feriado da Proclamação da República. Em Botucatu são 321 seções eleitorais no Município de Botucatu e são 101.025 eleitores. O Chefe do Cartório Eleitoral da Comarca de Botucatu, Igor Ignácio, destacou algumas recomendações para o dia de amanhã: o horário de votação tem 1 hora a mais, começa h. e vai até as 17h., sendo às 7 que os eleitores com mais de 60 anos terão preferência nas 3 primeiras horas. Essa preferência é por todo o dia das eleições. res doentes, deficientes Eleitoou grávidas também terão preferência. Será seguido o Protocolo to social e o uso de álcool de Segurança, com distanciamengel obrigatórios em todas além do uso de máscara. O TRE recomenda que cada as seções, portador de sua própria eleitor seja caneta para assinatura e até para teclar os números na urna. Recomenda também que o leitor cumento com foto. leve doO TSE lembra que o voto é obrigatório. Só não é para os analfabetos, os maiores de 70 anos e nem obrigatório para os maiores de 16 e menores de 18 anos. Quem não puder votar deverá justificar no mesmo eleição, podendo fazê-lo dia da pelo aplicativo e-Título, tendo também 60 dias para fazer a sua justificativa.

Cuesta Diário da

Estátua de Raul Torres na

Praça do Bosque (Botucatu)

você sabia? Que teria sido brasileiro o famoso herói inglês que marcou presença na Primeira Grande Guerra Mundial? Teria sido botucatuense esse herói? Teria nascido na Cuesta de Botucatu esse herói que encantou gerações com sua bravura e idealismo? A Revista Peabiru apresentou minucioso estudo sobre a trajetória desse herói mundial. Na história ou na “lenda” de Lawrence da Arábia, temos como berço natal do herói a Cuesta de Botucatu, mais precisamente, a Fazenda do Conde de Serra Negra, localizada Vitoriana. em

Verdade ou lenda ?!? Segredo guardado ou sonho “botucudo” surgido antes virada do século passado?!? da

Mas fica – com certeza! – a imagem positiva e heroica Lawrence da Arábia: um de brasileiro nascido na CUESTA DE BOTUCATU.

ios, a res primórd ada Desde seu é destac Botucatu gião de a. Antes de sua águ de lida UÍpela qua erta do AQ cob des UÍFEmesmo da (hoje, AQ TUCATU ão FERO BO comprovaç ANI) e da A PAR RO GUAR PIA a de l da águ medicina página 2 í). leia na bar am (Al

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TU. DE BOTUCA IO FUTURO PART DA COM A UM E DO SEU PREOCUPA POSTAS DE CAD RA DE ÃO ESTÁ PRO NIÇÃO SEGU UCATU! POPULAÇ ERIOSA DAS ADAS, A SES NA DEFI LISE CRIT EIRO BOT SAÇÕES LANÇ ISO UMA ANA BOTUCATUEN SEMPRE PRIM TE! TIVA DOS S E AS ACU A É PREC POSI AVAN PEÇO ANÇ ÇÃO VEL! TRO TOS À VERE ISA DA PARTICIPA ENTO SUSTENTÁ AFORA OS CANDIDA TU PREC NVOLVIM S DE 150 VA E DESE COM MAI M. BOTUCA ou INISTRATI PERTENCE s que marc DO A QUE IÊNCIA ADM so herói inglê sido boCOM EFIC FUTURO, leiro o famo ra Mundial? TeriaBotucatu sido brasi Que teria Primeira Grande Guerido na Cuesta de nasc na u minuciosos presença esse herói? Teria apresento sta Peabiru ence da Arábia, temoa, tucatuense Negr ismo? A Revi Lawr ura e ideal ou na “lenda” de do Conde de Serra s da brav sua ante ria nda histó surgido ções com , a Faze ntou gera herói mundial. Na isamente sonho “botucudo” ence da Arábia: e mais prec i que enca esse heró e a trajetória dess ta de Botucatu, edo guardado ou e heroica de Lawr va estudo sobr natal do herói a Cues ou lenda ?!? Segr – a imagem positi o certeza! . Verdade como berç em Vitoriana !? Mas fica – com CATU. ado? localizada século passo na CUESTA DE BOTU virada do ascid

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Diário da Cue NA DEFESA

Ele é o Eleito! DO MEIO AMBI

ENTE E DA CIDAD ANIA EM BOTU

CATU

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Nº 06 SEGUNDA-FEIRA 16 de novemb ro de 2020

O prefeito Mári leição (2020/20 o Pardini consegue a sua Botucatu. Desd 24) à Prefeitura Municipa reee l de vinha desponta o início da campanha , Pard ndo na prefe botucatuense. rência do eleit ini orado Executivo da que por sua SABESP, teve capacidade destapositi nicípios. Dura va à frente 35 nte mutou as inundaçõ seu mandato, Pardini enfre es que ocor com queda reram em Botu nde pontes e catu estragos e, em sequência , teve que enfre generalizados do vírus chinê ntar a pandemia s... Ufa... Botu seu trabalho catu acompanh à frente de ou o uma equipe e, nas Eleições capacitada Municipais, RENOVOU a fiança! ELE sua conÉ O ELEITO !

OS CONSTRU TORES DO FUT na 3, leia o histó URO DE BOT UCATU – DIN rico que traz UCCI & PAR as profundas DINI – Na pági raízes da fam ília PARDINI Uma viagem com Botucatu fantástica atrav . Embaúba és de um no cume da

pingo d’água Cuesta de Botu que busca sua catu... (leia na quarta pági folha mãe em uma na “Cuesta Rasg ada”)


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Diário da Cuesta

Lavapés - Meu Rio Primeiro

Quim Marques A chuva cai forte, pesada, densificando o ar com um som aconchegante, desses que nos fazem enrodilhar-nos no sofá, dentro de casa, bebendo chá ou outra bebida quente, acarinhando a alma. Lá fora, no fundo do quintal, além da cerca, um barulho-turbilhão. O rio Lavapés passa, cheio e rápido, lavando seu leito, fuçando suas margens, suas mágoas, e carregando todo o lixo que lhe foi jogado na estação das secas. Do lado de cá, através da janela, contemplo-o, e sua sarabanda vai revolvendo também o meu rio de memórias. E rápido, em movimento contrário, meus pensamentos-peixes, feito piracema, fuçam meu passado, para a desova de meus sentimentos. Lá, onde as manhãs eram sempre luminosas e o lixo não corria ainda nas veias do homem. Então, me vejo outra vez menino, brincando em suas águas com outros meninos, quando ainda éramos nus e sabíamos andar pelo rio descalços e sem medo, empenhando-nos em descobrir os segredos do seu leito. Nós, crianças, o amávamos e o entendíamos, sempre atentos ao seu sonho de lonjuras e amplidões. Foi quando ganhei essa alma viajante, que busca sempre alcançar, num corredor contínuo e intenso, os mistérios e segredos do mar onde desemboca esse rio primeiro. Ah, meu rio de infância Lavapés! Disseram-me que lhe deram esse nome pela mania que tinha de acolher os peregrinos das estradas, lavando-lhes os pés da poeira e do cansaço, num arremate de conforto para esses viajantes. Hoje, você está doente, cansado, sujo, enfurecido, e ruge, nas cheias, buscando arrancar de seu caminho a ingratidão que lhe jogam pelas margens! A vida é outra. São outros os peregrinos que agora atravessam suas pontes, sentados em seus veículos, vaidosos de suas máquinas e surdos para a música-marulho de sua voz. Naqueles tempos, suas águas eram claras e límpidas. Em seu curso viam-se animais e pássaros saciando a sede. Pelas manhãs, as lavadeiras, descendo tagarelas pelas ruas da cidade, vinham alvejar o tempo. O rio, escutando o rumorejar das conversas, ficava sabendo da vida

entretecida em nossa cidade. Às tardes, vinham os tropeiros encher os corotes de água, para seguir com seus animais o transporte de todos os rebanhos. E você cantava, alegremente, junto com os bem-te-vis, os fogo apagou, as saracuras e os quero-queros. Pelas suas margens nasciam as glórias-da-manhã e os lírios-do-brejo, os hamerocális. Os lambaris e os cascudos dançavam, nos recantos ribeirinhos entre os juncos e as taboas. Época de muito respeito e gratidão. O rio emprestava a todos da cidade a sua força, para mover os moinhos na feitura da farinha para o sagrado pão. Lembro-me do moinho do salgueiro, o do Chicuta, e do som ritmado das correias da roda cantante movida pelas suas águas. Da fumaça da farinha enevoando o moleiro, deixando-o empoado como um ator de comédia popular... Às suas margens aprendi não só a lição de sua generosidade, mas também a de liberdade e determinação. Em seu leito, exercitei-me para a arte, e construí asas para todas as naturezas de voo. Uma pedra grande, como uma ilha plantada em suas águas, era minha casa, meu castelo, minha fortaleza, meu porto e meu barco, de onde me aventurava por rotas e continentes, particulares à minha mágica geografia, transcendendo-me além de todas as fronteiras. E o rio corria... Todos os quintais o visitavam em seu caminho. E caminhando em seu leito, eu visitava todos os quintais, no delicioso risco de apanhar frutos proibidos, coniventes

e dadivosos, que se deixavam apanhar pela infância irreverente. O rio era a própria vida cantante, embalando a vida de nossa cidade. Quando os dias estavam quentes, minha família e outras tantas da vizinhança aproveitávamos o frescor das tardes e sentávamos nos bancos sob as paineiras do antigo Chafariz da Boa Vista. O perfume das flores, misturados aos lilases, rosas e azuis derramados do céu, naquele momento tão solene, de crepúsculo, nos faziam sentir plenos e em paz com o mundo. O rio fazia sonoplastia perfeita para esta cena. Nós, crianças, corríamos pelo gramado brincando de pega-pega. Os adultos faziam a prosa do cotidiano. Depois, cansados de tanto brincar, sentávamos nós, também, e fazíamos colares de flor-de-maravilha para presentear nossas mães. O rio nos permitia um jogo eterno de brincadeiras e atiçava nossa imaginação, permitindo o realizar todos os nossos sonhos. Através dele nos tornávamos aventureiros, piratas, bandeirantes, bandidos e mocinhos de cinema, engenheiros, peixes e animais, reis e povos de países imaginários. Às vezes o percorríamos todo, desde a sua nascente até as proximidades do Lageado. Íamos demarcando pontos geográficos, com a terminologia própria de nossas observações: A Curva do Alemão, o Barranco da Figueira Grande, a Cachoeira da Chácara, A Represa do Moinho, o Barranco do Deslize, o Tanque do Salgueiro. Lugares únicos e mágicos que ficaram para sempre nos caminhos da alma. Com esses pontos inventávamos mapas e tesouros;

simulando lutas e guerras para encontrá-los. Forjávamos aventuras e nos sentíamos heróis. Os tesouros eram latas vazias de bolacha, repletas das sobras de colares e brincos de nossas tias; restos de vidros coloridos quebrados e cristais encontrados no fundo das águas do rio. O tempo passou... A cidade foi crescendo. E o rio Lavapés foi ficando cada vez mais distante da infância. Poucas crianças chegavam às suas margens, proibidas pelos pais, que temiam a contaminação de seus filhos. Ele se tornara depositário de todos os esgotos, de todos as sobras, lixo e entulho... Está doente e pobre. Mal cheiroso. Ameaçado. Falam em enterrá-lo. Querem colocá-lo numa caixa, espremido entre duas vias marginais. É a vontade do progresso, de um progresso distanciado de valores humanos. Por que não construir novos logradouros, construindo a memória, onde as pessoas possam se encontrar nos fins de tarde, deixando um pouco o isolamento em que a televisão as coloca? Então, sentar novamente sob as árvores e ouvir o correr de suas águas despoluídas, a sua música quando passa. Ah, meu rio Lavapés! Meu rio primeiro, meu rio de infância! Quisera tanto vê-lo novamente alegre, forte e saudável! Não morra, rio! Saiba que o amamos. Possa você, Lavapés, lavar ainda os pés, a alma e a memória de todos os que compartilham seu canto, seu rumo, sua beleza. Dá-nos olhos lavados de ver, de novo, sua vida resguardada e plena, a correr livre, agora, pelos caminhos do futuro. Acervo Peabiru


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