Edição 267

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Diário da Cuesta NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU

ano I Nº 267

QUINTA-FEIRA, 16 de setembro de 2021

Maestro Carlos Gomes: orgulho nacional e glória internacional! A estátua de Carlos Gomes ocupa um dos pontos mais nobres do Centro do Rio de Janeiro, localizada em frente ao Teatro Municipal, os pombos na mesma tonalidade da estátua lembram de São Francisco de Assis, protetor dos animais... Antonio Carlos Gomes (Campinas 11/07/1836 – Belém 16/09/1896), é considerado o mais importante operista brasileiro com carreira de destaque principalmente na Europa. Foi o primeiro compositor brasileiro a ter suas obras apresentadas no Teatro alla Scalla, de Milão/Itália. Páginas 2 e 3

Teatro Espéria inspirado no Teatro Alla Scalla de Milão/Itália

Fotos externas e internas do Theatro Santa Cruz/Teatro Espéria. Localizado no centro de Botucatu era o “point” ideal para os grandes eventos populares. Suas luxuosas instalações internas foram palco de grandes eventos e bailes da sociedade botucatuense.

Na praça do Teatro Espéria os grandes eventos populares de Botucatu


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Diário da Cuesta

ARTIGO

Carlos Gomes no Teatro Alla Scala de Milão, Itália

Sérgio Eduardo Montes Castanho – professor de História da Educação na UNICAMP. Titular da Cadeira 35 do IHGG Campinas. Quem ler o título acima talvez se enfade e desabafe: outra vez? De fato, já se gastaram resmas e mais resmas de papel e hectolitros de tinta para narrar os feitos do compositor operista campineiro Antônio Carlos Gomes, no afamado teatro milanês Alla Scala. Mas sosseguem os afoitos. Não vou escrever uma palavra sequer sobre as performances operísticas do Tonico de Campinas no palco do norte da Itália. Vou apenas descrever o que vi em visita recente a esse magnífico teatro e, especialmente, ao museu que ocupa áreas importantes da casa de espetáculos. O saguão de entrada do Scala é feericamente iluminado e lindo na sua decoração clássica. Por uma porta à frente desse saguão entrei numa frisa e pude observar, por alguns momentos, todo o interior do teatro, o palco, o fosso da orquestra, os camarotes, as frisas, a galeria, a plateia – tudo me trazendo à memória o lindo Teatro Municipal de Campinas, tristemente demolido há mais de meio século. Muito parecidos! Aliás, os teatros em estilo clássico, os municipais de São Paulo e do Rio de Janeiro, por exemplo, são muito semelhantes ao Alla Scala. Nessa observação tive a sorte de ver e ouvir um pouco de uma ópera de Mozart que estava sendo encenada. Maravilha pura! Saindo dali, dirigi-me ao museu, onde me esperavam intensas emoções, estéticas e de sentimento. Sobre uma mesa de honra pousavam os bustos em bronze de todos os principais operistas italianos, cujas obras foram levadas no Alla Scala: Verdi, Puccini, Rossini e enorme galeria. Ali, nesse local de honra do Museu apenas um estrangeiro. Quem? Wagner, o gênio alemão de Tristão e Isolda? Mozart, Beethoven, quem? Parece incrível, mas o único bronze de estrangeiro sobre essa mesa era o do brasileiro Antônio Carlos Gomes, o nosso Tonico de Campinas. Nas paredes, pendurados, havia quadros a óleo com retratos de outros compositores italianos e estrangeiros insignes; sobre pedestais, bronzes de compositores e cantores líricos, como Caruso; um dos quadros era o da soprano Tebaldi, que impressionava pela beleza da cantora, tão linda quão virtuose. Mas bronze de estrangeiro na mesa de honra só o de Carlos Gomes! Também me chamou a atenção um quadro pendurado em uma das paredes do museu, retratando a fachada do Teatro Alla Scala

por volta de sua inauguração. A tela era assinada por Angelo Inganni e tinha por título Facciata del Teatro Alla Scala. Data: 1852. Uma linda obra. Depois dessa emocionante incursão, saí para o ar livre da fria primavera do norte italiano. A emoção da visita foi tão intensa quanto, dias mais tarde, a de percorrer o teatro grego de Siracusa, no sul da Itália, na bela Sicília. A grande diferença é que este era de dois milênios antes e nele jamais se apresentou nenhum brasileiro, até porque Brasil não existia… Campinas, SP, Brasil

Fachada do teatro Alla Scala de Milão, retratada em 1852 por Angelo Inganni.

EXPEDIENTE

DIRETOR: Armando Moraes Delmanto

NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU

EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes

WEBJORNALISMO DIÁRIO

Contato@diariodacuesta.com.br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689

O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.


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Diário da Cuesta

ARTIGO

Antonio Carlos Gomes

Elda Moscogliato Recente e bela obra enriquece mais nossa estante musical herdada do velho e suave flautista, nosso pai. Trata-se de: Do Sonho à Realidade, de Juvenal Fernandes, musicólogo conceituado, que traça a biografia de nosso músico maior: Antonio Carlos Gomes, por ocasião do transcurso do primeiro centenário de morte, ocorrida em 16 de Setembro de 1896, no Pará, praticamente exilado em seu próprio país, longe da Campinas – seu berço natal; de S.Paulo dos seus amores e do Rio de Janeiro – cenário de glórias nacionais, vítima consequente da atmosfera de rivalidades e ciumeiras de que se viu envolto a vida inteira, mercê da fragilidade humana ambiente. Causa maior: sua indiscutível vitoriosa aura de renome mundial e a grande amizade que o uniu a Pedro II, seu protetor. O livro em sua segunda edição marca o transcurso também do primeiro centenário da Imprensa Oficial do Estado de S. Paulo, prefaciado pelo renomado Sólon Borges dos Reis que une ambas efemérides num só intuito valioso aos anais históricos paulistas. São duzentas e tantas páginas profusamente ilustradas contendo sérias pesquisas através das quais o Autor pôs seu maior emprenho em dotá-las de uma documentação honesta e responsável, pelo depoimento de testemunhas verazes que viveram a época do compositor, registrando as luzes e as sombras que lhe amargaram os dias. Juvenal Fernandes enfatiza o meio ambiente em que viveu o Tonico de Campinas, rapazinho promissor e alegre, benquisto pela juventude do Largo S. Francisco, enaltecendo-lhe os dons de cantor lírico, pianista exímio, dominador diletante do violoncelo. Desenvolve ainda, o período áureo do Rio/São Paulo do Segundo Império, em que Pedro II, sábio de seu tempo, muito influenciou a mocidade estudantina da Capital, Rio, Bahia, Pernambuco, salientando poetas e artistas, valores literários que encimavam as Artes, as Ciências, a Política verdadeira, chamariz polarizador de sábios estrangeiros que por aqui aportavam. Quando em 1858 visitou Pedro II Campinas por quatro dias, teve ocasião de ouvir a família Gomes, de pai a filhos, todos músicos, e melhor aquilatar os pendores de Antonio Carlos, do que resultou uma amizade cansagradora. Tempos depois, o rapazinho ia-se para o Rio e lá se matriculava no Conservatório Musical sob a direção de Francisco Manuel da Silva. Feliz no caminho certo a que se voltava, compõe Carlos Gomes sua primeira Cantata, aplaudida com louvor. Logo após, seu talento criador escreve a primeira, entre as oito óperas que o imortalizaram: Noite do Castelo. Baseada no poema lusitano de Antonio Feliciano de Castilho, com libreto de Antonio José Fernandes dos Reis, é dedi-

cada ao Imperador, num preito de gratidão. Levada à cena, o espetáculo resultou uma noite inesquecível. Presentes a Família Imperial, a Côrte no esplendor das fardas e dragonas, príncipes da Igreja, ministros e diplomatas, mulheres resplandecentes de sedas e jóias, artistas e intelectuais, ao final grandioso do espetáculo, todos aplaudem de pé – honra só concedida aos gênios – o vitorioso Autor. Daí para a Europa foi justa recompensa. Faltava-lhe a cultura operística, o aprofundado estudo de Harmonia e Composição, mais amplo ambiente, a orientação de mestres. O Imperador proporciona-lhe a ocasião, custeando-lhe com seus próprios recursos, não do Tesouro, os estudos em Milão – Itália. Vem daí, a crítica maldosa infiltrada sutilmente em sua vida crivada de dissabores. Alegam-lhe a incisiva influência verdiana em suas belíssimas óperas. Nenhuma novidade. Carlos Gomes fez óperas na terra da ópera. Como ele, Tchaikovsky, Beethoven e tantos outros, sofreram as mesmas aleivosias, mas estas passaram e as músicas por eles criadas são perenes. Na Itália, em 1870, no Scala de Milão que todo ano representava uma ópera nova de compositor/revelação, explode, para o mundo lírico a ópera O Guarani. José de Alencar quebrara os grilhões do lusitanismo inaugurando um idioma gentílico, de caracteristica brasilidade. O romance épico extrapola fronteiras e ganha a velha Europa. Carlos Gomes apaixona-se pelo lírico indianismo alencariano. Providencia o libreto e tem a cooperação de Scalvini e do poeta d’Ormeville. Logo após, a música operística. É um deslumbramento. Na noite de apresentação d’O Guarani, a Europa inteira inclina-se ante a revelação do nosso poema épico. Por nove anos consecutivos, O Guarani é representado nas principais plateias do mundo, da Itália à Rússia; da Polônia à França; da Argentina à Cuba; da Inglaterra ao Rio de Janeiro. No elenco, os grandes artistas da época; no cenário a magnificência da selva tropical, na música descritiva, os rumores de pássaros e animais selvagens, do sussurro das madrugadas estivais ao murmúrio dolente dos nossos rios selvagens e misteriosos. É uma epopeia magnífica. Os anos correram. Com o advento da República, exila-se e morre o Imperador. Muda-se o cenário político. São outros tempos. Morrem-lhe a esposa e os filhos. Antonio Carlos Gomes envelhece na solidão e no ostracismo ostensivo na própria Pátria. Por fim, repousa em definitivo em seu berço campineiro. Campinas honra-se e se orgulha por tê-lo como filho dileto.


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Diário da Cuesta

Gesiel Jr, da ABL - Academia Botucatuense de Letras


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