Edição 280

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Diário da Cuesta NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU

ano I Nº 280

SEXTA-FEIRA, 01 de outubro de 2021

La Belle de Jour ou a Morena de Angola ou a Japa Girl em New York?!? Leia o artigo do Nando Cury na página 3

ÚLTIMAS NOTÍCIAS


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A R T I G O PAZ Bahige Fadel

Perguntaram a uma criança: O que é sentir paz? E a criança, surpreendentemente respondeu: É o mesmo que sentir dor, só que é gostoso. Certamente, na sua intuição, a criança achou que a paz é um sentimento tão forte como a dor, só que causa prazer. Perguntaram a ela: Quando é que você sente paz? E ela não titubeou nem um pouquinho. Foi logo respondendo, como quem sabe o que diz: De várias maneiras. Quando a mamãe me coloca pra dormir e me conta histórias bonitas, de lugares com flores e um riacho de águas claras. Também sinto paz quando estou brincando com os meus amigos. É tão gostoso! A mamãe chama a gente para almoçar, a gente vai, mas a paz continua, porque sabe que depois da escola vai brincar de novo. Mas eu também sinto paz, quando vejo a mamãe e o papai sorrindo abraçados. Sei que nessa hora eles estão felizes. E eu sinto paz, porque, se eles estão felizes, todo mundo em casa fica feliz. Sabe? Eu sinto paz de outro jeito também. Quando está chovendo bem fininho, eu fico olhando a chuva bater na janela da sala. E eu só tenho vontade de ficar olhando a água fazer o seu serviço. Mamãe me disse que a chuva, ainda mais quando vem mansinha, é boa para a natureza, para a vida. E a gente sente paz quando as coisas boas acontecem. Eu acho que a paz tem tudo a ver com felicidade, com alegria. Se eu estou feliz, eu sinto paz. Se eu estou alegre, eu sinto paz. Mas acho que não existe paz na tristeza. Quando estou triste, sinto um peso esquisito no coração. Dá vontade de chorar, dá vontade de fugir, dá vontade de não existir. Vendo que a criança sabia tanta coisa sobre a paz, per-

guntaram-lhe: Para você, o que é a guerra? Ela pensou um pouco. Dispensou o sorriso do rosto e arriscou: É tudo de ruim. Meu pai me disse que há países que estão em guerra, e ficam matando uns aos outros. Eu não quero que ninguém mate as pessoas. Por isso, não quero a guerra. Nos filmes, todos os soldados têm o rosto fechado, sem sorriso, sem felicidade. E isso é ruim. Mas a guerra não é só isso. Um dia, eu ouvi a Lucinha dizer que os pais dela vivem em guerra. E todos na casa ficam assustados, porque parece que querem se matar. Em minha casa, não. Meus pais nunca estão em guerra. Minha mãe sempre diz que, quando ela não se entende com o papai, resolvem conversar, até se entenderem. Até ficarem em paz. Seria tão bom que as pessoas do mundo tivessem a mesma percepção das crianças ou dos pais dessa criança. Em primeiro lugar, a paz, por menor que seja, é melhor do que qualquer guerra. Em segundo lugar, quando as pessoas não se entendem, seria tão bom se resolvessem conversar, para não entrarem em guerra. Seria tão bom que as pessoas se respeitassem e não quisessem impor que os outros fossem iguais a elas. Sabe? Escrevendo sobre a paz, lembrei-me de uma música antiga de Dolores Duran: Hoje eu quero paz de criança dormindo quero o abandono de flores se abrindo para enfeitar a noite do meu bem. Pena que nem todos queiram resolver os seus problemas em PAZ.

EXPEDIENTE

DIRETOR: Armando Moraes Delmanto

NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU

EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes

WEBJORNALISMO DIÁRIO

Contato@diariodacuesta.com.br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689

O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.


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A R T I G O MUSAS ESTRANGEIRAS Nando Cury Nós brasileiros somos muito geneticamente influenciados pelos povos que vieram da Europa, da África, do Oriente Médio, de países sul americanos, dos Países Baixos, enfim de todas as partes do mundo. É fato que muitos estrangeiros também se aculturaram pra valer quando resolveram morar no Brasil. Cada um de nós pode ser neto de um ou uma imigrante ou de filhos de imigrantes. E o resultado final, sem falsa modéstia, é uma mistura de gente bonita, cordial, elegante, estrangeiramente brasileira. Essa miscigenação fica bem realçada na música Lourinha Bombril (Parate y Mira), composta por Herbert Vianna dos Paralamas (1996): “Pára e repara. Olha como ela samba. Olha como ela brilha. Olha que maravilha. Essa crioula tem o olho azul. Essa lourinha tem cabelo Bombril. Aquela índia tem sotaque do Sul. Essa mulata é da cor do Brasil. A cozinheira tá falando alemão. A princesinha tá falando no pé. A italiana cozinhando o feijão. A americana se encantou com Pelé.” Ao que parece não é um grande desafio para um compositor brasileiro ter uma musa além-fronteiras. Pois, por convivência com pais, parentes, colegas, vizinhos, conhecidos, o poeta já sabe “entender ou falar” de alguém que veio de outro continente. Há ainda a possibilidade de encontrar pessoa muito especial numa viagem ou estadia em outro país do mundo. Como aconteceu com Alceu Valença para a sua La Belle de Jour. A inspiração veio do pedido da linda atriz Jacqueline Bisset, que o cantor conheceu num bar de Paris. Então ele se lembrou de uma ex namorada do Recife e misturou a um clássico filme de Luis Buñuel, de 1967, de outra famosa atriz francesa Catherine Deneuve. “Eu lembro da moça bonita. Da praia de Boa Viagem. E a moça no meio da tarde. De um domingo azul. Azul era Belle de Jour. Era a bela da tarde. Seus olhos azuis como a tarde. Na tarde de um domingo azul. La Belle de Jour”. A musa estrangeira escolhida por Chico Buarque (1980) foi

a dengosa Morena de Angola, que leva o chocalho amarrado na canela. “Será que ela mexe o chocalho ou o chocalho é que mexe com ela... Será que ela tá na cozinha guisando a galinha à cabidela. Será que esqueceu da galinha e ficou batucando na panela... Será que ela tá caprichando no peixe que eu trouxe de Benguela. Será que tá no remelexo e abandonou meu peixe na tigela.” Supla não economizou. Compôs e cantou apaixonado para duas forasteiras. Uma alemã, a famosa Garota de Berlin (1982). “Caminhava eu sozinho. À noite, olhando para o chão. De repente eu vi uma figura. Que de longe tocou meu coração.... Não sei seu nome, nem como lhe chamar. Linda garota de Berlim.” E uma musa japonesa de cabelos verdes, com a qual o cantor conviveu ao morar em New York (1994): “Ela tinha cabelos verdes...Luzes de leopardo, garota japa alho ...Gatinha no Brasil, ela arranha. Volta Japa, garota Japa no Brasil. Japa, garota japa girl, agora na cidade de Nova Iorque.” (Green Hair ,Japa Girl). Adicionando uma carga acentuada de romantismo nesse tema de musa, chegamos numa canção composta por Vicente Celestino, no pós-segunda grande guerra (1946). Ficou mais famosa na voz de Agnaldo Rayol e conta o destino de um pracinha brasileiro que se apaixona por uma italiana. ”... partindo para a Itália transformou-se num guerreiro. E lá muito distante, despontar o amor sentiu, e disse estas palavras a uma jovem quando a viu: Italiana, la mia vita oggi sei tu. Lo te voglio tanto bene. Partiremo due insieme. Ti lasciar non posso più.” Mas, se a musa italiana arrebata o coração do amado à primeira vista, porque não haveria uma outra mulher que usasse da sua maior sensibilidade para marcar, como contaram Flávio Venturini e Gutemberg Guarabyra em Espanhola (1976): “Por quantas vezes. Eu andei mentindo. Só por não poder. Te ver chorando... Nunca mais quero ver você me olhar. Sem me enxergar em mim. Eu queria te falar. Eu preciso, eu tenho que te contar. Te amo espanhola. Te amo espanhola. Pra que chorar, te amo.“


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A R T I G O “Coração de madeira amarelo” Maria De Lourdes Camilo Souza Era umas 8.30 quando ouvi o celular tocando. Corri atender. Era a Biga, queria saber se eu poderia ir ao Apae à tarde. Falei que sim e fui terminar minhas coisas. Ali pelas 13.20 hs fui para lá já pensando como ocuparia a tarde. E ao abrir a loja e abençoá-la, já fui procurando um presente para uma amiga querida. Depois de escolher e embalar, arrumei algumas coisas e me sentei. Ali pelas 14.00 vi a avó da Maria entrando, cansada e acalorada, cumprimentei-a alegremente, logo depois veio a pequena. E já foi olhando por tudo, e voltou para a frente da nossa mesa de atendimento onde ficam algumas latas decoradas com espetos de madeira com corações, borboletas, flores, amarrados com laços de fita combinando, para colocar no jardim. E ela pegou um coração amarelo de madeira e andava com ele nas mãos e o encostava no rosto fechando os olhinhos, tinha um carinho naquele seu gesto, e cantava uma canção que só ela entendia a letra. Depois foi até o canto direito onde temos um provador de roupas acortinado e com espelho. E ficou ali admirando seu rostinho por algum tempo. Brinquei com ela:- quem é essa princesa linda aí no espelho? Fiquei sabendo que você está melhorando e eu estou muito feliz por isso. Ela veio até mim e chegou bem perto. E a avó dizia: Você pode dar um abraço na tia? Ela não respondeu nem me abraçou, mas ficou ali pertinho de mim e eu perguntei: -Posso te abraçar? E juntei a pergunta ao abraço e um beijo na sua testa. Ela não se esquivou e continuou ali grudada comigo. Desvencilhou-se e saiu de novo. A avó como que se desculpando me disse que era difícil. Eu respondi que compreendia porque fazia parte do caso. E como estava na hora de irem para o atendimento na Apae, escolheu duas peças para pegar depois. Mas eu fiquei com o prazer de ter abraçado a pequena autista do coração de madeira amarelo.


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