Edição 342

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Diário da Cuesta

ano II Nº 342

NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU

SEGUNDA-FEIRA, 13 de DEZEMBRO de 2021

Com vídeo apresentado por Júnior Quinteiro, o ACONTECE BOTUCATU, destacou a inauguração do “Memorial Dr. Costa Leite”, uma realização da UNIMED BOTUCATU em comemoração aos 120 Anos da Misericórdia Botucatuense. Com o objeti vo de manter essa importante parte da história de Botucatu, a UNIMED que desde 2014 assumiu o Hospital inaugurou o “Memorial Dr. Costa Leite”, com completo acervo que poderá ser visitado pelos interessados e pelo publico em geral. Excelente iniciati va. Parabéns à UNIMED na pessoa de seu presidente Dr. Walfrido Jackson Oberg. É Registro Histórico.

A HISTÓRIA DA MEDICINA EM BOTUCATU A História da Medicina de Botucatu registrada no Diário da Cuesta... Com destaque para o 1º Médico de Botucatu e para o 1º Botucatuense formado em Medicina. A fundação do Hospital da Misericórdia Botucatuense, tendo à frente o Dr. Costa Leite, em 1983, e a inauguração do Hospital em 1901, com sua primeira Diretoria. É Registro Histórico. Paginas 2, 3,4 e 5.



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“Correio da Serra (Diário da Serra), 18 de julho de 1993.


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Centenário da Misericórdia Botucatuense

Na capital paulista nós temos a Santa Casa de Misericórdia, tradicional e modelar estabelecimento hospitalar. E por todo o Estado de São Paulo e pelo Brasil, temos as Santas Casas, hospitais erguidos e mantidos pela caridade das comunidades a que servem... Faço essas considerações, exatamente, pelo fato do hospital que vamos focalizar não levar o nome de Santa Casa: é tão somente Misericórdia Botucatuense. Sempre me recordo que meu pai, médico, comentava que a Misericórdia não era uma Santa Casa, mas com certeza, era uma Casa Santa! Principalmente em seus primórdios, quando não havia a assistência médica organizada por parte do Governo Federal, funcionando os serviços de saúde pela mobilização da própria comunidade que contava com entidades filantrópicas, geralmente maçônicas. Pois bem, a Misericórdia Botucatuense foi fundada em 1893, passando a funcionar em 1901, graças ao médico baiano, Dr Antonio José da Costa Leite, que teve a brilhante iniciativa. Como único médico da cidade e da região, acompanhando o avanço das paralelas poderosas da Estrada de Ferro Sorocabana e contando com o apoio financeiro e a doação de terras de fazendeiros e ricos proprietários da cidade.

1ª. FASE DO HOSPITAL: O Dr Costa Leite obtém da matriarca Da. Isabel Franco de Arruda, rica proprietária vinda de Piracicaba, a doação 10 contos de réis. Dez contos de reis! Os fazendeiros Antonio Ferreira da Silva Veiga Russo e Domingos Soares de Barros doaram parte de suas propriedades para o hospital. Sendo que o Domingão (como era conhecido) doou propriedades como primeira fonte de renda da Misericórdia. Com firme apoio da comunidade foi eleita a primeira Diretoria: Dr Costa Leite, Antonio Cesar, Amando do Amaral Barros, João Rodrigo e Floriano Simões. Como Provedor, o Juiz de Direito, Dr Luiz Ayres de Almeida Freitas. A planta do hospital foi de autoria do arquiteto Francisco B. Soler (espanhol). Interessante o registro da presença, por dois anos, do médico e depois cientista famoso, Dr. Vital Brasil. Pertenceu ao quadro clínico da Misericórdia e, como secretário, elaborou algumas Atas. Com a existência de muitas fazendas, portanto de muitas matas e animais peçonhentos (cobras e escorpiões), começou a pesquisar e estudar o soro-antiofídico. Em, 1897, seguiu para a capital para atuar no recém fundado Instituto Butantã, onde se consagrou para a ciência. 2ª. FASE DO HOSPITAL: Em 1937, grave crise abalou o funcionamento da Misericórdia. O Corpo Clínico se afastou por desentendimento com a Administração. Após breve período sem prestar serviços, fechado, o hospital reabriu em uma iniciativa da Comissão de Diretores da Administração da Entidade Mantenedora. Foram convidados os srs. Emílio Peduti e o Dr Antônio Delmanto. O primeiro, empresário e capitalista bem su-

cedido e, o segundo, médico botucatuense com especialização na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, com estágio com o Dr Benedito Montenegro, considerado o melhor cirurgião da época e, posteriormente, Diretor da Faculdade de Medicina da USP. As instalações da Misericórdia eram modestas. Era preciso ampliar. Moderno aparelho de Raio X, caríssimo à época e impossível de ser comprado com recurso próprio, foi uma oferta do Comendador Antonio Pereira Ignácio, fundador da Votorantim (avô do empresário Antonio Ermírio de Moraes). O industrial Antonio de Souza Noschese, doou a sala e todos os aparelhos de Ortopedia, a viúva do ex-prefeito Tonico de Barros doou toda a ala de ginecologia com vários quartos e equipamentos, que passou a ser a ala Maternidade “Nhazinha de Barros”. Enfim, com a mobilização do corpo clínico obteve-se as doações necessárias para o pleno funcionamento do hospital. Em 1993, a grande comemoração do CENTENÁRIO DA MISERICÓRDIA BOTUCATUENSE. Uma vida onde a benemerência supriu, por décadas, a ausência do Estado no importante setor de prestação de serviços de saúde. Hoje, o hospital está consolidado, com a direção da UNIMED, mesmo enfrentando as dificuldades que todos os hospitais do Brasil ainda enfrentam. O registro do histórico do Centenário da Misericórdia Botucatuense precisa ser divulgado como forma de se preservar a história e deixar exemplos da participação positiva e vitoriosa da comunidade organizada. O Prof. Arlindo Machado, da Escola de Comunicações e Artes da USP, sobre a importância dos registros históricos e dos livros de história, nos lembra que “...a biblioteca da Sorbonne, tida como a maior da Europa contava com um acervo, no seu início, de 1.228 livros. Hoje, as maiores bibliotecas do mundo abrigam cada uma por volta de dez milhões de volumes. E destaca a importância de registros, como o que estamos fazendo, dos fatos históricos:”...Bancos de Dados inteligentes deverão substituir os inexpressivos fichários atuais, novos softwares ajudarão na tarefa de localizar, selecionar e compreender a informação... deverão condenar ao esquecimento as antigas livrarias e remodelar o conceito de biblioteca...” Esse é o futuro. É perfeitamente possível digitalizar coleções inteiras de jornais antigos. É viável, através de softwares específicos, catalogar toda uma biblioteca. Bancos de Dados podem preservar toda a Memória Histórica das cidades. Repetimos: esse é o futuro! E estamos trazendo o registro importante de parte da construção histórica de uma cidade do interior do Estado de São Paulo, com a construção, pela força da comunidade organizada, de seu Hospital Benemérito.


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PEDUTI & DELMANTO

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Histórico de Lideranças Políticas !

Tanto Antônio Delmanto como Emílio Peduti participaram e tiveram papel de destaque na 2ª. Fase da Misericórdia Botucatuense. Convocado, Antônio Delmanto assumia, no segundo semestre de 1937, a Direção Clínica do Hospital. A situação era grave. Os médicos haviam se afastado do hospital. Urgia uma solução. Delmanto, retornando a Botucatu após seu curso de Medicina no Rio de Janeiro e estágio de 2 anos na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, aceitou o desafio. Montou um excelente Corpo Clínico e remodelou e modernizou a infra-estrutura hospitalar. Da mesma forma, Emílio Peduti, empresário bem sucedido, é convocado para gerir a Diretoria Administrativa da Misericórdia. A grave situação econômico-financeira precisava de uma estabilidade urgente. A escolha para essa empreitada não poderia ter sido melhor: Pedutão sabia administrar e sabia manter o comando. Antônio Delmanto permaneceu como Diretor Clínico de 1937 a 1951. Emílio Peduti permaneceu como Presidente ou Provedor de 1937 a 1963, quando faleceu. Pois bem, Emílio Peduti já tivera, em 1936, uma experiência política quando fora candidato a Vereador e conseguira obter suplência (Jayme de Almeida Pinto, ainda solicitador de Direito, conseguira eleger-se Vereador e tirava licença para propiciar a que Peduti assumisse a vereança por breves períodos). No ano de 1947, Peduti novamente se candidata a vereador (PSD) e obtém sucesso com 276 votos. Antônio Delmanto, após seu regresso a Botucatu tenta pela primeira vez um cargo eletivo nas eleições municipais de 1947, candidata-se a Vereador (UDN) e é eleito com 945 votos. Para a época - mais de 50 anos atrás! - a votação recebida representou o recorde individual de votos até hoje não suplantado (proporcionalmente ao número de eleitores do município) Com a votação de Delmanto, a UDN fez a maior bancada da Câmara Municipal. Com essa votação do udenista, o então Governador Adhemar de Barros, sempre pretendente à Presidência da República, que estava «armando» a sua base política no interior de São Paulo, procura manter contato. O encontro é realizado na fazenda do irmão do governador, Sr. Geraldo de Barros, tendo como intermediário o Sr. Joaquim Amaral Amando de Barros. Na fazenda de São Manoel, Antônio Delmanto recebe a proposta: apoio decisivo do «esquema ademarista» para sua eleição a Prefeito Municipal em 1951, em troca de apoio político futuro a Adhemar de Barros. Esse apoio de Delmanto seria «sacramentado» por uma carta hipotecando apoio futuro à possível candidatura de Adhemar. Nada feito. Delmanto alegou que seu partido (UDN) teria seus próprios candidatos às próximas eleições e que tinha fechado questão no sentido de combater Adhemar à nível estadual. O Pedutão aceitou e fechou com Adhemar. Não se sabe se houve carta assinada e não consta apoio de Peduti a Adhemar nas eleições seguintes. Peduti ganhou a eleição para a Prefeitura. Hoje, com a concordata e desaparecimento da empresa Teatral & Peduti na segunda metade dos anos 80, fica difícil imaginar a grandiosidade e poderio da empresa no início dos anos 50. Emílio Peduti não só era o maior capitalista da cidade como a sua empresa «dominava» grande parte do interior paulista com sua rede de cinemas e sua distribuidora de filmes. É registro histórico. Após a campanha municipal de 1951 e antes da divulgação do resultado, Peduti e Delmanto realizaram memorável churrasco de confraternização. Eram outros os tempos e outros os homens. Depois da “quarentena” eleitoral que sempre serve para serenar os ânimos, principalmente dos simpatizantes que se situam na periferia das grandes lideranças, Peduti e Delmanto reataram o relacionamento. Por decisão de Pedutão, a Comissão encarregada do 1º Centenário de Botucatu acatou e implantou a sugestão de Delmanto para que os grandes vultos de nossa história local fossem homenageados (Costa Leite, defronte a Misericórdia; Cel. Amando de Barros, na Praça do Bosque; Comendador Virgínio Lunardi, na praça principal da Vila dos Lavradores e o Dr. Cardoso de Almeida, defronte a Escola Normal), com a colocação de busto em praça pública. Pedutão consolidou a sua imagem de administrador seguro. Voltou a ser reeleito Prefeito Municipal de Botucatu no ano de 1959, com o apoio de Antônio Delmanto e da UDN. Aqui é importante destacar que em sua primeira eleição (1951), Peduti recebera apoio total de Adhemar, então Governador, e

dos ademaristas locais, que representavam respeitável força política, contando ainda com o apoio do Prefeito de Botucatu, Sr. Renato de Barros, primo do governador. Na ocasião, através de seu irmão, Sr Geraldo de Barros (São Manoel), o então governador investira “pesado” em Botucatu: adquirira a nossa única rádio (PRF-8), reforçou o jornal local (Correio de Botucatu) e desapropriou a Casa de Saúde (Sul Paulista e depois Nossa Senhora Menina) para a instalação imediata do Hospital Regional da Sorocabana (os ferroviários sempre representaram expressiva força política em Botucatu) Pois bem, Emílio Peduti vencera as eleições e não dera o esperado apoio a Adhemar nas campanhas políticas que se seguiram e, a nível local, deixara os adhemaristas falando sozinhos... Elegera como seu sucessor, João Queiroz Reis, derrotando exatamente o Sr Renato de Barros, primo do ex-governador... Os ademaristas estavam há tempos tentando chegar ao acerto de contas... Na eleição de João Reis, os ademaristas perderam e não conseguiram dar o troco... Na sucessão de João Reis, o candidato oficial foi novamente Emílio Peduti (1959). Os ademaristas lançaram o candidato a vice-prefeito, o vereador Plínio Paganini, com José da Silva Coelho para Prefeito. Quase chegaram lá. Mesmo com o apoio da UDN, que lançara o candidato a vice-prefeito (Abílio Dorini), a eleição de Peduti corria sério risco. A campanha foi violenta. Coelho estava no auge de sua carreira e as forças ademaristas, como sempre, representavam expressivo número de votos. Dizem que Coelho perdeu a eleição uma semana antes do pleito. Em seu famoso comício no Paratodos, Coelho lotou a praça, indo a multidão até defronte o Botucatu Hotel. Pois esse foi o motivo de sua derrota... Alertados pela derrota que se aproximava, o esquema de campanha de Peduti realizou a operação “pente-fino”, com argumentos “persuasivos” nos principais bairros da cidade. E, como jogada final, Peduti trouxe para animar seu último comício, simplesmente o maior ídolo do cinema nacional: Mazzaropi! Peduti ganhou e a oposição elegera o vice-prefeito, Plínio Paganini. No início de 1962, a oposição a Peduti se ampliava na mesma proporção em que se desenhava a volta do “velho” Adhemar e com a derrota de seus aliados a nível estadual, Peduti já começara a sentir um recrudescimento, no final de 1962, da oposição que lhe era crescente. O recrudescimento poderia ser classificado como feroz pelo observador mais otimista, mas realmente era desumano e assustador. As perspectivas não eram boas. O acerto de contas estava começando... Em 04/03/63, Pedutão faleceu...” (“in” Memórias de Botucatu 2, edição 1993) Delmanto firmou posição como parlamentar combativo, sendo reiteradamente o vereador mais votado da cidade. Em sua última eleição, em 1972, elegia-se com novo recorde de votos: 1993. Quando do segundo mandato de Pedutão como Prefeito, as coisas não andavam bem... Pedutão, já adoentado, enfrentava feroz oposição. Alguns vereadores situacionistas (“cupinchas” , mesmo) já começavam a formar o Bloco Independente.. Peduti começava a ficar só... Era pouco o apoio político de que dispunha. Um desses apoios e que permaneceu até 1963, quando Peduti faleceu no exercício do cargo e sob violenta oposição, foi o de Antônio Delmanto.


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