Edição 351

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Diário da Cuesta

ano II Nº 351

NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU

“Algo deve mudar para que tudo continue como está”. O Leopardo, de Tomasi di Lampedusa publicado postumamente e popularizado pelo gênio do cineasta Luchino Visconti marcou a literatura italiana e mudial. No dia do aniversário do magistral autor italiano, 23 de dezembro, é positivo recordarmos o seu ensinamento sociológico e a constatação de que até os nossos dias, a classe política vem se utilizando dessa máxima: “algo precisa mudar para que tudo continue como está”. Ou seja, realizam pequenas mudanças para que todo o esquema do “sistema” continue a manter os privilégios que humilham a população e beneficiam a classe política e os poderosos de todos os tempos... Giuseppe Tomasi di Lampedusa, Duque de Parma e

QUINTA-FEIRA, 23 de DEZEMBRO de 2021

Príncipe de Lampedusa, nasceu em Palermo, em dezembro de 1896, e faleceu em Roma, em julho de 1957. Dedicou-se à escrita apenas nos últimos anos de sua vida, no tranquilo isolamento da sua propriedade, sem contato com o meio literário. O Leopardo, sua obra prima, foi o único romance que escreveu. Viria a ser publicado um ano e meio após a morte de Lampedusa, tendo um sucesso imediato junto ao público e da crítica, que o considerou uma das maiores obras literárias do Século XX.


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EDITORIAL

Diário da Cuesta

A estória de Sarney é antiga. Na época de Juscelino, quando o partido dele era oposição (UDN), ele criou o grupo “Bossa Nova”, votava contra o partido e apoiava o governo. Na época que o Jânio queria ser candidato, ele bombardeou o candidato da UDN e apoiou o Jânio. No Regime Militar grudou nos militares e conseguiu ser até governador e presidente da Arena/PDS; com a campanha das “Diretas Já”, abandonou os militares e, em troca, foi ser vice do Tancredo. O Tancredo morreu e Sarney entrou na maior “mamata”. Engolia tudo o que o Ulisses Guimarães mandava, só não queria deixar a presidência...Foi o período mais sem rumo que o Brasil teve. Agora é o “maior amigo de infância” do Lula. Urgh! Sai pra lá! Chega dessa esperteza marota do “venha a nó$ o vosso reino”... Isso tem que acabar! Quando estiverem cauterizadas as feridas morais abertas pela Era da Mediocridade, escrevi em junho de 2009, o Brasil contemplará com desconsolo e desconcerto a paisagem deste começo de século. Como foi possível suportar sem revides as bofetadas desferidas por um José Sarney ─ político sem luz, orador bisonho, poeta menor e escritor medíocre? Como explicar a mansidão da maioria dos insultados pelo coro dos cúmplices contentes? Este texto é do jornalista Augusto Nunes em seu Blog sobre José Sarney. Mostra bem como ele é e a cara de pau que tem. O Brasil merecia coisa melhor! Nesse contexto é que foi escrito o artigo “Sarney = Príncipe Salina”... Assim, a máxima “algo deve mudar para que tudo continue como está” tem encontrado respaldo na atuação política brasileira, infelizmente. Desde antes de Sarney, mas acentuada no período em que esse mau político praticamente mandou na política nacional. De lá pra cá, nada mudou... As reformas são continuadamente postergadas... As necessárias privatizações ficam engavetadas no Congresso Nacional... A classe política continua a boicotar o futuro do Brasil.

Só há um caminho seguro: a CONSTITUINTE! Exatamente isso: a comunidade organizada exercendo, através do Poder Constituinte, a Soberania em toda a sua plenitude e com o poder de fazer e mudar a lei fundamental do Estado – a Constituição. E será através da Assembléia Nacional Constituinte que faremos as mudanças NECESSÁRIAS para que a Nação Brasileira caminhe com segurança e firmeza para um destino melhor, com mais democracia e justiça social. O atual Congresso Nacional NÃO tem o Poder Constituinte para fazer a Reforma Política que a Nação almeja. CONSTITUINTE, já!!! A Direção.

EXPEDIENTE

DIRETOR: Armando Moraes Delmanto

NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU

EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes

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O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.


Diário da Cuesta

Sarney = Príncipe Salina

É a mesma estória, sem tirar nem por... Será que o homem do bigode que “ganhou” a presidência, decretou a moratória, prejudicou o país, bateu o recorde da inflação e adora o “puder” absorveu o espírito CONSERVADOR do Príncipe Salina ?!? Será ?!? A obra literária “O LEOPARDO” tornou-se um clássico da sociologia que estuda as mudanças ocorridas na civilização ocidental, no caso, da mudança ocorrida na Europa Medieval com a decadência da nobreza e o surgimento de uma nova realidade. Transformada em filme por Luchino Visconti, fez sucesso mundial, com Burt Lancaster, Alain Delon e a bela Claudia Cardinali: “...o fantasma do Conde de Lampedusa se projeta sobre nós, alertando-nos com o pensamento magistral do Príncipe Salina manifestado a seu jovem sobrinho Tancredi, que tinha espírito “revolucionário” e queria mudanças: “—É preciso mudar alguma coisa para que tudo permaneça como está...” A realidade do mundo atual é de “...desconstrução de certezas...”, como escreveu com maestria Arnaldo Jabor. O avanço da tecnologia da informação, via internet, nos tem mostrado uma realidade para a qual a humanidade, como um todo, e cada um de nós, em particular, não fomos educados. Então, o desajuste, o desequilíbrio, no campo moral, no campo das inter-relações sociais e especialmente no campo político. Toda uma doutrina sobre segurança pública está desmoronando diante dessa nova realidade... A dinâmica dos meios de comunicação e divulgação e a interação da sociedade estão criando um mundo tão inesperado, que os mais otimistas só esperavam para daqui a muitas décadas! É verdade que a sociologia nos mostra que as comunidades vão construindo o seu perfil e construindo as suas lideranças. E vão construindo e vão experimentando e vão se enriquecendo com o aporte de novas técnicas que impulsionam e mobilizam a comunicação e a formação de novas lideranças em uma nova e surpreendente realidade... E, hoje, a “farsa” do Príncipe Salina está se repetindo incorporada na figura folclórica do presidente do Senado Federal, José Sarney. A tão esperada Reforma Política corre um sério risco de ser transformada na “reforma política do PT”, sob os auspícios daquele fiel “companheiro” que acompanhou Lula até São Bernardo!!! NÃO ! Não é por aí... Pode até acontecer, mas será tão somente mais uma pantomina a empobrecer a classe política brasileira e a deixar a população, como sempre, descrente do civismo e, a longo prazo, fazendo a sua cobrança cidadã! E a solução esta na convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte! Em toda Nação, em toda comunidade politicamente organizada, desde os tempos medievais, há uma força suprema – O Soberano – cujas regras, normas e diretrizes, determi-

3 nadas direta ou indiretamente, estabelecem a Lei e o Soberano está acima da própria Lei. Hoje, é o que acontece. Hoje, o fundamento é o mesmo. O que difere é que no Estado Moderno, o Soberano é o Povo. E como o Povo exerce a sua soberania? O povo exerce a sua soberania através do Poder Constituinte. Assim, o Poder Constituinte é um Poder Supremo, um verdadeiro monopólio, um poder que não sofre contraste de nenhum outro; um poder de emitir ordens, executadas através da força organizada da comunidade. Exatamente isso: a comunidade organizada exercendo, através do Poder Constituinte, a Soberania em toda a sua plenitude e com o poder de fazer e mudar a lei fundamental do Estado – a Constituição. E será através da Assembléia Nacional Constituinte que faremos as mudanças NECESSÁRIAS para que a Nação Brasileira caminhe com segurança e firmeza para um destino melhor, com mais democracia e justiça social. O atual Congresso Nacional NÃO tem o Poder Constituinte para fazer a Reforma Política que a Nação almeja. Repetimos: será apenas a “reforma política do PT”... (AMD). – Registro Histórico: artigo publicado no Blog do Delmanto em 11/02/2011. Comentários: 1 - Li seu artigo - Príncipe Salina - excelente!!! Não faz muito tempo, retirei o filme “O Leopardo” na locadora. O enfoque que você usou serviu como uma luva. O filme é muito bonito. Mostra toda aquela “transição” que a Itália sofreu durante a guerra da unificação. O reinado continuou, por muitos anos ainda, e o principal personagem da revolução - Garibaldi - foi relegado à história. O rei não o convidou para compor o novo exército. Toda aquela história aconteceu, também, no Brasil. Lembra dos “Coronéis” que dirigiam com mão de ferro as pequenas comunidades? O jogo de interesses continua através dos partidos políticos. Isso explica a permanência do Sarney, Maluf e uma enormidade de “coronéis” do resto do Brasil, principalmente norte-nordeste. Na verdade não existe patriotismo politico. Existe jogo de interesses. Grande abraço, Olavo Pinheiro Godoy olavogodoy@yahoo.com.br 2 - Boa tarde, amigo Delmanto! Quero parabenizá-lo pelo seu blog, principalmente por sua visão profunda da situação egípcia e mundial, e seu artigo sobre o Sarney. Não sei se leu meu pequeno artigo no Diário, na quinta-feira passada, mas mencionei “uma ponta de inveja” ao ver a garra daquela juventude a lutar nas ruas por uma liberdade democrática, quando por aqui faziam arruaça por causa de...futebol! Quando veremos de novo os “cara-pintadas” (reedição piorada da juventude de 60 e 70) sairem às ruas com a mesma garra para exigir uma VERDADEIRA varredura no país? Emblemática é a cena que você mencionou, dos cidadãos limpando monumentos e exibindo cartazes “estamos reconstruindo o Egito” ! Quando é que vamos expelir o lixo acumulado debaixo do tapete? Melhor dizendo, quando vamos abolir os tapetes que só servem para isso? E ficamos por aqui, como você mencionou, no protesto cidadão de longo prazo, no mínimo solidários com os corajosos Arnaldos Jabores, Carlos Alexandres, Boris Casoys e etc. que acabam sendo pregadores num deserto de incapacidades e incompetências intelectuais e políticas. É claro que temos gente boa. Mas porque são tão covardes? E nós? Dentro de nosso mísero nicho, como poderíamos tentar sequer mudar as coisas? Abraços, e desculpe o desabafo. Sebastião. jspmendes@hotmail.com (José Sebastião Pires Mendes)


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ARTIGO

OS CREDORES DE JESUS

ELDA MOSCOGLIATO (Conto Argentino de Severine )

Tudo repousava no silencio da Noite Santa. Deitado o Menino na pobre Manjedoura, adormeceram, ao lado da Criança, os santos esposos. O cansaço e o frio os abatera. O pequenino Infante babujava insone. Tinha frio também. O terno corpinho enregelava. Lá fora, a planície nevada perdia-se sem fim. O canto dos anjos deixara harmonias na brisa do amanhecer. Entre as frestas da rude gruta, penetravam os reflexos da Estrela que do Alto, apontava para a Humanidade o caminho de Belém. Tinha frio o Pequenito. Súbito, na obscuridade silenciosa do Presépio, sentiu, à sua direita, um hálito quente, reconfortante. Ergueu-se a mãozinha gelada e sentiu a maciez de umas orelhas grandes contornando um par de olhos mansos, tranquilos e bons. - Quem és? Perguntou. Ele era o Deus-Vivo. Entendia os animais. -Sou o asno, respondeu-lhe o olhar tranqüilo do gerico. À sua esquerda, áspera porém, carinhosa e quente, uma língua enorme lhe acarinhava os pezinhos enrigecidos pela friagem da noite. -E tu, quem és? Indagou o Menino. -Sou o boi. Moro aqui. O Infante sorriu agradecido. Ao doce conchego daqueles tépidos e acariciadores cuidados, dormiu o Redentor. As horas da madrugada corriam. -Como vieste até aqui? Perguntou o boi. O asno respondeu : - José cuida das cocheiras de meu amo. Maria sempre o acompanha na faina. Sempre me acariciou o focinho e reservou-me sempre tenras alfaces. Compreendi a aflição do casal, na iminência do Nascimento do Filho e na necessidade de viajarem, a pé, para Belém. Então corri, ganhei meio caminho, a não permitir que, em me achando voltassem para devolver-me. Ao retorno, se houver, voltarei ao meu curral. -Por que, se houver?

Diário da Cuesta -Porque Herodes mandou matar as crianças, e só eu sei como varar os desertos, a caminho do Egito... Já pertenci às caravanas de meu amo . . . -És sábio, hein? Retrucou o boi. -Minha espécie inteira é assim. A Bíblia conta que Sansão se livrou dos inimigos com uma queixada de um antepassado meu . . . O Menino acordara e, no tépido conchego das palhas, olhinhos semicerrados, ouvia a conversa dos animais. Disse o boi : -Você sabe quem é este Menino? -Sim. É o Messias! Pobrezinho! Sendo Deus, se fez Homem. Vai derramar Seu Sangue pela Humanidade. -E!? . . . Então, se Ele é Deus, por que não lhe pedirmos que melhore nossa espécie? -Não devemos pedir-lhe nada. Dir-se-ia que lhe estamos cobrando o suave calor da Manjedoura... -É certo. Mas nem eu, nem tu queremos cobrar-lhe nada. Apenas pedir-lhe que se compadeça da nossa pobre espécie. Olhe : nós, os bois, perdemos de há muito, a nobreza dos dias da Criação. Degenerou-se-nos a raça, e caímos nas mãos cobiçosas dos homens. Somos suas vitimas. Exploram-nos em vida e, pior ainda, depois de estarmos mortos. Eles nos condicionam à sua desmedida cobiça. . . -E nós? Retrucou o asno. Não passamos de infatigáveis alimárias. Não temos direito ao repouso. . . Onde são ínvios os caminhos, ali nos põem arquejantes e sofridos... Jesus ouvira tudo e adormecera. Os anos passaram. Jesus se fizera o Pregador. Realizara milagres sem fim. Mas os homens não O salvaram da Cruz. No Alto do Calvário já agonizante, Ele ouve que se aproxima o sincero estrídulo de uma alimária. Seu olhar dolorido encontra com outros olhos mansos, tranquilos e bons. Um frêmito sacode-lhe as entranhas. Fizera tanto pelos Homens e ali estava ... Esquecera-se de redimir os pobres animais da humilde Gruta de Belém...


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