Diário da Cuesta
ano II Nº 354
NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU
SEGUNDA-FEIRA, 27 de DEZEMBRO de 2021
FULVIO PENNACCHI Fulvio Pennacchi nasceu em 27 de dezembro de 1905 na Toscana, Itália. Estudou em Florença, Pisa e Lucca, graduando-se em 1928, em Pintura Mural pela Academia Real de Belas Artes daquela cidade. Transferiu-se para o Brasil chegando em 1929. Fixou residência em São Paulo e aqui faleceu em 1992, completando 63 anos consecutivos de trabalho artístico. Pennacchi, em São Paulo, improvisou-se em proprietário de açougues, cartazista, projetista de escultura tumulares, e finalmente, como professor de desenho no Colégio Dante Alighieri. Foi casado com Filomena Matarazzo e constituiu grande família. O artista toscano por força de sua grande pintura, de seus desenhos sutilíssimos, esculturas inventivas, e “fresquista” único, conquista seu lugar no cenário das artes em nosso país. Percebe-se o domínio amplo e absoluto do desenho e perfeita harmonização das cores. Em 1989 realiza sua última exposição individual em vida, concomitante com o lançamento de um terceiro livro, “Ofício Pennacchi”. Mestre do desenho simples e definido, cores claras e alegres criteriosamente balanceadas por um “pintor sabidíssimo” que assim compõe seus temas populares e ingênuos. Faleceu em 1992.
Botucatu/Natal Luz 2021 Marcou o último evento do Botucatu Luz 2021, na Catedral de Sant’Anna de Botucatu. O concerto agregou músicos e solistas de Tatuí e também da Orquestra Sinfônica Municipal de Botucatu e da Banda Sinfônica Municipal de Botucatu sob a regência do maestro Franklin Ramos
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ARTIGO
Diário da Cuesta
Manoel de Barros Maria De Lourdes Camilo Souza
“Na ponta do meu lápis tem apenas nascimento” “Tenho o privilégio de não saber quase tudo E isso explica O resto”. “Menino do Mato” na II parte “ Caderno do Aprendiz “ São Paulo Editora LeYa 2010 “Os bens do poeta : um fazedor de inutensílios, um travador do amanhecer, uma teologia do traste, uma folha de assobiar, um alicate cremoso, uma escória de brilhante, um parafuso de veludo e um lado primaveril.” XII “Sábia com trevas “ Livro “Arranjos para assobio -1980 Manoel Wenceslau Leite de Barros ( 1916 - 2014) Nascido em Cuiabá no Estado do Mato Grosso. Ontem completaria 105 anos de vida. Escreveu para nós brasileiros, céus poéticos, rios eivados de brumas de palavras. Teceu nuvens em formatos de bichos etéreos. Encantou nossas mentes com estórias de palavras contraditórias mas com tanto sentido. Só nos resta agradecer por tantos mundos fundados em páginas de livros. Gratidão Manoel lá do Mato Grosso, hoje tem parabéns lá nos mundão de meu Deus, cantado e tocado pelos anjos! Não sei muito da sua vida mas um pouco do seu mundo planetário. Seu jeito meio tímido e roceiro, o riso aberto do seu coração brasileiro. Salve Manoel de Cuiabá, Deus o tenha em boa companhia de todos os menestréis tecedores das tramas das palavras contidas em versos de outrora e tão atuais. Deixou registrada em prosa e verso sua alma alva e lindinha para nos ajudar a voar no papagaio dos sonhos. Assobiar com as folhas como crianças levadas. Salve Manoel do sorriso contido, olhos cerrados mas abertos para o rico interior do seu mundo! Salve!
EXPEDIENTE
DIRETOR: Armando Moraes Delmanto
NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU
EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes
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O CABRITO ITINERANTE
Mário Costa Novo Todos os botucatuenses, “vilenses”, principalmente, que como nós são jovens há mais tempo, recordam-se com saudade do aconchegante Bar do Urbas, ou Bar do Bôrtolo, como era mais conhecido, situado na Rua Major Matheus, bem em frente à entrada principal das indústrias Lunardi. O seu proprietário, o austríaco Bartholomeu Urbas, já madurão nos idos dos anos trinta, era casado com sua patrícia, dona Maria, com quem teve os filhos José, Maria, Antoninha e Alberto e, com exceção de Antoninha, todos de saudosa memória. O Bartôlo – homem alegre, brincalhão e educado, era querido e admirado por todos – transforma-se em ponto de encontro das pessoas VIPS e não VIPS da “vila”. Misto de bar e restaurante, muitos, como o pessoal itinerante dos trens de passageiros que vinham de São Paulo, faziam ali suas refeições dada a fama de excelente cozinheira de dona Maria Urbas. O Bar do Urbas contava também com uma bem cuidada cancha de bochas, uma mesa de bilhar, saleta para jogos, sala de refeições e o principal, o cuidado, a higiene e o carinho com que eram atendidos todos os seus frequentadores. Naquele tempo, em que a
colônia italiana dava cartas e jogava de mão, todas as tardes ali se reuniam para o jogo de bisca, truco, trêssete e patronesoto e outros jogos trazidos da velha pátria, a fina flor dos vilenses. Ali, como dissemos, ombreavam-se nobres e plebeus na maior camaradagem possível. Viam-se então os irmãos Cavaglieri, Virgínio Lunardi, dono de uma finura que encantava, Mansueto Lunardi, seu sócio, com seu eterno charuto toscano no canto da boca, o poderoso comerciante Matheus Giacóia, chefe do clã composto por homens e mulheres de uma ombridade ímpar, o sério e eficiente marceneiro Basílio Robega – sogro do Dito Almeida – com seus filhos também profissionais de marcenaria, Antonio (Casca) e o Picale (ruim de bola como ele só), o Signore Angelo Milanesi, o Maitã, o Pacharon, os maquinistas da Sorocabana Alfredo Bueno, João Marçal...e o Titon que com sua “oito baixos” alegrava o ambiente. Enfim, a gente era feliz e não sabia... Nós, como amigo da família e colega de diversões do Albertinho Urbas, que nos deixou muito cedo, vivíamos naquele mundo de gente decente, boa, alegre e sem maldade. Certa vez, nos recordamos, o Cav. Virgínio Lunardi, jogava uma partida de truco, tendocomo parceiro o Maitã. Distraidamente, o Maitã fez uma jogada errada e a dupla perdeu a partida. O “signore” Virgínio Lunardi olhou para o parceiro e disse: “Ma tu sei uno farabuto, achifosso”. E o Maitã vermelho como um pimentão maduro levantou-se e disse: “Pera ai cavalieri. Não é porque o senhor é rico que pode me xingar só porque eu errei uma jogada”. - “Tuto bene, Maitan, tuto bene. Calma qui siamo nel braccilei. E joga, vá!” Era assim que as
O GIGANTE DEITADO (ilustração de Vinício Aloise ao pé do Gigante, as Três Pedras)
rugas terminavam. Certa vez, não estamos certos que tenha sido o “signore De Sancti”, entrou no grupo de amigos e foi logo dizendo: “Má ganhei um cabrito, que vô conta pra vocês, vai vale a pena questa festa defim de ano”. Dias depois, a mesma pessoa chega na mesma roda de amigos, bufando de raiva, dizendo que o cabrito dele havia sido roubado: “Tiraram o bicho do quintal da minha casa”. Ninguém respondeu, mas, furtivamente todos os olhares foram dirigidos para o Matheus Giacóia, useiro e vezeiro em aprontar com os amigos. Todos já haviam esquecido do caso, quando certa noite o Matheus disse que havia comprado um cabrito, já o havia esfolado, cortado e que o “Bito” estava mergulhado numa bela vinha d’alhos. Ninguém comentou nada, mesmo porque o antigo reclamante não se encontrava presente. Um sai outro chega e um sai e...Matheus Giacóia que tinha ido para casa, voltou furibundo: “Ma quê? Agora aqui sono tuti ladri de cabrito? O mio cabrito sumiu com assadeira e tuto. Io quero sabe
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quenhé il ladri”. Ninguém se manifestou. Mas, na noite seguinte, alguém comentou que alguém pertencente àquela roda de amigos, estava assando um cabrito num forno a lenha, situado no quintal de sua casa. Um grupo foi até a casa de quem estava assando o cabrito, com parte de cumprimentar a família, enquanto outros amigos abriam o portão que dava para a rua e surrupiavam o cabrito assado. O cabrito foi levado para o Bar do Urbas que já estava com a mesa pronta, com direito aos vinhos da casa. Os amigos que estavam cumprimentando a família, depois de terem a certeza de que o cabrito já estava surrupiado, gentilmente convidaram a todos da casa para comerem um cabrito no Bar do Urbas. Num primeiro repente o “convidado” correu para o quintal e viu então que o ditado é velho mas verdadeiro: “Ladrão que rouba ladrão...” E as peripécias do cabrito terminaram em gostosas gargalhadas... Mário Costa Novo (Acervo Peabiru)
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artigo
A FESTA NOTURNA
José Sebastião Pires Mendes Falar em festa noturna para os jovens é a mesma coisa que falar em arroz para os japoneses. (Talvez venha daí a expressão “arroz de festa”...) Nestes tempos de pandemia, é claro, a coisa muda um pouco. Mas assim mesmo, ainda que exista para o descanso, o repouso e a recuperação de energias, a noite exerce grande fascínio, principalmente quando é época de verão. O sono é mais difícil, as noites enluaradas quase que obrigam a ir para a cama mais tarde. Ora, a noite é mágica por natureza. É nela que temos os melhores sonhos, quando estamos na normalidade. Deixamos os pesadelos pra lá, já que os vivemos diurnamente, se não na carne, pelo menos na voracidade das máquinas telenet-comunicativas. É na noite escura do útero que somos engendrados, e depois de nove longos meses botamos a cabecinha para fora da maternal porta e vemos a luz pela primeira vez. É na noite profunda e subterrânea que as raízes trabalham sugando a seiva e parindo a planta. É muitas vezes do silêncio das noites invernais do trabalho e da pesquisa, que nascem as alegrias primaveris dos sucessos e das vitórias. Mas a noite santa, a mais santa de todas as noites, é a noite do Natal. O bom São Nicolau, lendário ou não, não imaginava que seu gesto noturno e silencioso de levar presentes para as criancinhas, fosse transformá-lo na figura do Pai Eterno. Sim, porque toda essa parafernália de produtos natalinos é só uma camuflagem para encobrir o verdadeiro espírito da coisa, que mais não é que nossa carência paternal. Somos transcendentalmente carentes de uma figura
Você Sabia ??
paterna, pois não podemos repelir a sensação de filhos abandonados neste Universo imenso, tão cheio de mistérios lá fora e dúvidas e angustias cá dentro. Por mais que a visceral fome científica seja saciada, ela não acaba nunca, e é por ela justamente que evoluímos, pois nos faz sempre buscar alimentos no manancial das profundezas cósmicas, terrenas, corpóreas e psíquicas. A noite precede o dia, as trevas preparam a luz. O Pai Eterno não cansa de monitorar suas criaturas pelo diapasão com que afina a divinal orquestra, mandando não só dias bons, mas também dias difíceis, como resultado do mal que fazemos. Mas não nos faz perder a consciência da existência salutar do Bem. Por isso o bom velhinho é cortejado e festejado de tal monta, que o dia não é de Natal, mas “Dia do Papai Noel”. Aliás, em francês Noël quer dizer Natal, ou nascimento. E ele vem se sentar no rubro trono recamado de prata e ouro de nossos corações, sem darmos conta de que está incorporando a divindade paterna ancestral. Bem, o ser humano se entende por símbolos, por linguagens as mais diversas, pois o arquétipo que percorre o mundo e o purifica nesta época natalina, está plantado lá no fundo de nosso subconsciente infantil. Que anela por presentes, surpresas ou agrados, enfim, tudo o que signifique um carinho, um bem, um objeto portador de amor. Nossa atávica orfandade procura um pai. E ele se encar-
Que a Embaúba é uma árvore típica do cimo da Cuesta de Botucatu? Pois é, a Embaúba que também é conhecida por Umbaúba, Ambaíba, Ambaúba, Imbaúva ou Imbaúba, é árvore da família das Moráceas (cecropia palmata); é árvore de tronco indiviso. Embaubal é o bosque de embaúbas. Também é chamada de árvore-dos-macacos ou árvore-da-preguiça ou torém. O antigo traçado férreo da Sorocabana passava por Vitória (Vitoriana), Lageado e...Embaúba... Sim, Embaúba é uma pequena Vila pertencente a Botucatu que até hoje é procurada pelos amantes da pesca por ser um local ideal e piscoso. Hoje, o descuido e o desrespeito à natureza reduziu muito o número de Embaúbas em nossa região, mas podem ser encontradas na Cuesta e em vários pontos verdes de nossa cidade.
na em cada noite de Natal. Porque simboliza o pai que espera pela volta do filho pródigo, e o abraça, e o beija, e o festeja e abençoa. E nos dá o maior presente, que é o divino-homem Jesus na reciclagem do Amor e do perdão, lembrando-nos de que não estamos abandonados em nossa natureza hominal, aparentemente jogados à sarjeta da caosalidade existencial. Porque o caos é um fator causal e não casual. Pois será, afinal de contas, na contabilidade cósmica, um saldo computado a nosso favor no balancete divino, quando se fechar o ano eternal. E “a noite brilhará como o dia”... José Sebastião Pires Mendes Membro da ABL e CCB, é professor e escritor.