Edição 366

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Diário da Cuesta

ano II Nº 366

NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU

SEGUNDA-FEIRA, 10 de JANEIRO de 2022

ALBERTO MORAVIA: o retratista da “alma italiana” Alberto Moravia de 1934 até os Contos Romanos...

É sabido o quanto o italiano se identificava com Alberto Moravia. Retratando sempre o cidadão de Roma, Moravia, na verdade, retratava o italiano contemporâneo. De Trento a Polignano a Mare (terra de Domenico Modugno), na Puglia!!! Todo italiano vibrava com a prosa mágica de Moravia. Muito bem lembrado. Alberto Moravia é um dos ícones da literatura ocidental. Página 3

UM REGISTRO HISTÓRICO DA IMPORTÂNCIA DAS REUNIÕES DA COLÔNIA ITALIANA EM ALAMBARI (PIAPARA) “...Pino Filliponi, que trabalhava na chave da estrada sorocabana, animava as festas de Pietro Aloísi, com sua chorosa e romântica sanfona. Ela falava, no seu gemido, muito da saudade da Itália. - Vamos, Pino, o sole mio... Os italianos de Botucatu estavam chegando, eram os Martin, os Pedretti, os Delmanto, os Minicucci, os Guadanini, os Alfredi, os Tortorela, os Simonetti, os Losi, os Lunardi, os Blasi, os Bacchi, os Pompiani, os Molini, os Mori, os Monteferrante. Cada encontro era saudado com gritos, palavrões, corteses gesticulações napolitanas, esbravejamentos calabreses e risadas de Campobasso. A comida farta e generosa, regada pelo melhor vinho, esquentava os ânimos, esparramava alegria, esfuziava gestos, explodia gargalhadas. Alambari revivia a Itália. Esses almoços em Alambari, constituíam um prolongamento dos encontros italianos na conhecida “Pensão Franchino” em Botucatu (baixada), famosa pela qualidade de suas massas e de propriedade de Francesco Aloisi, “fratello” de Pietro. E falava-se de tudo, desde Vitório Emanuelle até Il Duce, da Revolução de 24 ao Prefeito Cardosinho de Botucatu. Era proibido falar italiano, pois a diversidade de dialetos impedia o entendimento. Também não se podia falar o português. Mas todos se entendiam na alegria, no vinho, nos abraços e nos apetitosos quitutes de Dona Antônia e suas filhas que não paravam o dia todo na faina de bem servir. Vado Tonin, com sua máquina fotográfica, tipo caixão, comprada no Progresso Gar-

cia, ia imortalizando as cenas daquela província da Itália, chamada Alambari. - Qui é la própria Itália... Qualquer giorno, o Vesúvio começa a vomitar brasa ali... E mostrava a Serra de Botucatu... Guarda, Dr. Aleixo, não parece próprio a nostra Itália?!? A festa ia pela madrugada afora...” ( “As Boiadas Passam...As Lembranças Ficam...”, 1992, págs. 83/85, de Agostinho Minicucci e ilustrações de Benedito Vinício Aloise).

Um retrato das confraternizações dos oriundi em Alambari (Piapara) no século passado: “Qui é la própria Itália... Qualquer giorno, o Vesúvio começa a vomitar brasa ali... E mostrava a Serra de Botucatu... Guarda, Dr. Aleixo, não parece a nostra Itália?!?”


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PIAPARA: TURISMO ECOLÓGICO! Há muito tempo se discute a importância do turismo no desenvolvimento de Botucatu. E mais : discute-se a validade da assertiva de que o turismo é uma industria e que bem direcionado pode suprir as necessidades sócio/econômicas de um município. Na Europa e nos Estados Unidos isso já é realidade há muitos anos. Também no Brasil, nos últimos 15 anos, o turismo vem sendo tratado de forma empresarial, objetivando o lucro mas sem deixar de respeitar a ecologia e as características próprias de cada região. BALNEÁRIO E TERMAS DE PIAPARA Não é essa uma descoberta nossa. Outros botucatuenses, de muita visão e amor a Botucatu, já sonharam muito com um empreendimento turístico em Piapara. E não ficaram no sonho: mandaram examinar a água e idealizaram um empreendimento adequado à época. Piapara era sempre escolhida para as festas da colônia italiana, para os encontros e confraternizações... Em meados de 1936 já se pensava em um empreendimento hoteleiro com estação de águas para Piapara. Todos os jornais botucatuenses publicaram no ano de 1936 o anúncio (a propaganda) publicitário que estamos reproduzindo como ilustração desta matéria. O Balneário “São Domingos” idealizado por Gastão Pupo, Trajano Pupo e Aluizio de Azevedo Marques possuía “água grandemente mineralizada, proveniente

1936

de Nello Pedretti, que previa em sua propaganda à população botucatuense “diversões - locais para pescarias e caçadas - passeios agradáveis -alimentação salutar - paisagens imponentes - piscina - leite puro - esportes banhos em águas medicinais e de sol - cinemas”. Na propaganda da água a mesAlambari em 1945, atual Piapara, ma ênfase: ilustração do saudoso Mestre Benedito Vinício Aloise “S. Domingos” - Água Mineral de um poço artesiano com 480 metros de Natural. Bastante Alcalina, Sulfatada, profundidade. Efeito surpreendente no Cloretada, Sulfídrica e Radioativa”. tratamento de enfermidades do EstomaE sem estarem na atual onda turística, go, Nervos e Pele”. promoviam Botucatu : E os idealizadores do empreendimen“ - Passe as suas férias em Botucatu to não tinham conhecimento da existên- Cidade Ideal para Férias e Para Descanso”. cia do Aqüífero Botucatu/Guarani e nem É VIÁVEL ? ! ? Basta ter vontade polísabiam que o IPT - Instituto de Pesquisas tica e capacidade de coordenação junto a Técnológicas já vem estudando o assunto empresários do setor. e comprovando a qualidade dessa água É viável. O Poder Público teria que subterrânea. Na Revista PEABIRU, em ar- oferecer o mínimo de infra-estrutura, ou tigo-reportagem sobre o Aqüífero de Bo- seja, conseguir do Governo do Estado o tucatu, dizíamos que “...A água que jorra asfaltamento da estrada vicinal que leva em Paraguaçu Paulista tem uma tempe- até Piapara. Investir em termos de melhoratura de 75 graus centígrados. Tanto é ria da infra-estrutura do povoado e BUSassim, que o IPT está fazendo estudos CAR a parceria com a iniciativa privada, para os que desejarem utilizar “o precio- propiciando o acesso dos empresários às so líquido” em projetos turísticos no oes- linhas de financiamento que existem a te do Estado. Foz do Iguaçu já está expe- nível do Governo Federal (EMBRATUR/ rimentando esse “boom”: seus melhores BNDES). hoteis estão perfurando poços artesianos Esse é um caminho viável para que se para abastecer suas piscinas com água dote Botucatu do tão almejado desenvolquente (com mil metros de profundidade vimento. A falta de dinheiro das Prefeitutem-se água com temperaturas entre 40 ras e, por consequência, da Prefeitura de e 60 graus centígrados).” Botucatu é indiscutível... Daí a necessidaA coordenação do sonhado empreen- de de muita criatividade e de se buscar o dimento da Botucatu dos anos 30 era caminho que está viabilizando todos esses empreendimentos no Brasil : a parceria com a iniciativa privada. O BALNEÁRIO E TERMAS DE PIAPARA é um empreendimento viável ! BOTUCATU “ é uma cidade ideal para férias e para descanso”... (AMD) estação de Piapara


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ALBERTO MORAVIA: o retratista da “alma italiana”

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Alberto Moravia de 1934 até os Contos Romanos...

Alberto Moravia (1907/1990) foi o “retratista da Alma” do italiano no século XX. Soube captar toda subjetividade e liberdade que cada um de nós tem para escolher os seus caminhos e os conflitos resultantes dessa escolha... Mostra, sem dúvida, a importância da existência individual. Moravia é considerado um dos pioneiros do EXISTENCIALISMO, mas de uma forma mais intuitiva, diferente de Camus e Sartre, embasados filosoficamente. Com seus “CONTOS ROMANOS” e “NOVOS CONTOS ROMANOS”, Alberto Moravia conquistou o público italiano e dos principais países ocidentais. Hoje, já é famosa a sua perda do Prêmio Nobel. Sim, já era pacífica a sua escolha, em 1958. Mas o mundo estava dividido pela Guerra Fria, e num trabalho debitado à C.I.A., o grande prêmio dedicado à literatura foi entregue à BORIS PASTERNACK pela obra “DOUTOR JIVAGO”, que fora impresa rapidamente e entregue à Academia Sueca pela famosa agência norte-americana.. Moravia era do PCI – Partido Comunista Italiano, tendo sido eleito para o PARLAMENTO EUROPEU, em 1984 até seu falecimento em 1990. Mas Alberto Moravia imperou nos decênios seguintes com sua prosa envolvente e pelo perfil que traçava de uma sociedade em mutação e excessivamente presa a valores do consumismo exagerado e do formalismo social, sempre hipócrita e superficial. Grande representante da literatura ocidental, Moravia ficou mais conhecido pelos filmes baseados em seus romances: “O Conformista”, filmado por Bertolucci; “O Desprezo”, filmado por Jean-Luc Godard e “Os Indiferentes”, filmado por Vittorio de Sica. 1934 “Acredito que a criação humana é universal”, disse ele numa entrevista. “Qualquer homem possui uma capacidade criadora, nunca desprezível e incessante. A todo o instante se pode encontrar no interior de qualquer homem, por mais insignificante que seja, a sua força criadora. E isso é que é belo.” O livro “1934” é emblemático e nos mostra que as decisões individuais para solucionar problemas existenciais recebem a influência externa e de outras pessoas e o resultado pode ser exatamente o contrário da intenção inicial. Na foto acima, Moravia e Elsa Morante na Ilha de Capri, nos anos 40. Para que se tenha uma perspectiva desta importante obra, a crítica literária de NEI DUCLÓS, escrita para o “Jornal Opção” precisa ser conhecida e analisada: Nei Duclós - Especial para o Jornal Opção “1934” é um romance de Moravia que trata de um leitor compulsivo, escritor obcecado em alguns grandes autores que busca uma saída para o inevitável suicídio. “É possível viver no desespero sem desejar a morte?” é a primeira frase que nos leva para o abismo. Inspirado na obra radical das gravuras e quadros de Albrecht Dürer e no Nietzsche de Zaratustra, ele se divide entre a dor e o prazer, trafegando num fio de navalha a partir de uma ilusão: o namoro com uma bela turista alemã casada. Ele procura dominar o desespero para equilibrar-se na difícil Europa de domínio fascista. Revela a intelectualidade de mãos amarradas e de raciocínio podre, a serviço do imobilismo do gesto e do marca passo das ideias. O jovem Lucio, o escritor que viaja a Capri para produzir algo que resolva seu paradoxo, entra no jogo de sedução cedendo a um impulso, mas sua intervenção obedece a um intuitivo planejamento. No fundo ele quer amarrar a súbita paixão ao confortável desfecho de sua aventura. Mas é traído pela complexidade da trama. A mulher do seu desejo tem uma outra, idêntica, irmã gêmea que se confunde com ela, apesar das personalidades opostas (o convívio com uma o liberta das amarras com a outra e vice-versa). Isso faz com que o jogo de cabra cega com o gênero oposto vire uma armadilha, intensificada pela presença do marido, um alemão nazista que o obriga a fazer a saudação maldita de braço estendido. Submeter-se às conveniências para sobreviver é a fonte do desespero, fruto da escravidão. O escritor não pode se manifestar porque a situação política que ultrapassa fronteiras não permite. Em 1934 o ambiente já estava definido a partir da morte e sua celebração, consolidada no Viva La Muerte da futura guerra espanhola naquela década. A criação estava confinada ao oposto de sua natureza. Moravia escreveu sobre esse pesadelo de 1934 só muito mais tarde, na década de 1980. O romance tem tudo de um resgate a partir das ruínas. Criaturas demolidas pela situação insuportável imaginam amar, pensar, gerar um destino diverso do que está sendo imposto.

“Acredito que a criação humana é universal”, disse ele numa entrevista. “Qualquer homem possui uma capacidade criadora, nunca desprezível e incessante. A todo o instante se pode encontrar no interior de qualquer homem, por mais insignificante que seja, a sua força criadora. E isso é que é belo.” Mas neste romance a beleza fica sufocada, apesar da maestria do texto, sempre encantadora. Longe do panfletismo, o rigor de Moravia joga pesado na confluência de intenções contraditórias, nas vontades que se anulam, nas decisões erradas, no imaginário promovido pela iminência da guerra. Tudo é delicado nos detalhes dessas rotinas vulneráveis, em que os bilhetes podem levar a um assassinato, uma leitura consegue destruir carreiras, uma paixão de verão acaba virando um caso sinistro. Em que sombras definem a vontade de sumir e todo esforço bate na barreira de uma realidade intransponível. Estávamos estrepados em 1934 e parece que saímos daquela gruta. Mas ele prepara uma surpresa.” HISTÓRIAS DA PRÉ-HISTÓRIA Neste livro, Alberto Moravia reinventa a pré-história e cria algumas dezenas de contos, em diversos sentidos, fabulosos. Num deles, por exemplo, descobrimos a origem das lágrimas de ´Croco Dilo´; em outro, por que o ´Cama Leão´ muda de cor; ou ainda como ´Ba Leia´ deixou de ser um pequeno peixinho e como o unicórnio se transformou em ´Rino Ceronte´. Nesse universo de pernas para o ar, em que a fantasia dita as normas, a ´Pre Guiça´ pode ser chefe do corpo de bombeiros, o ´Can Guru´ quer se comunicar com os homens e estes, bem, estes... desfrutavam sem compromisso das delicias do ´Jardim do Eh Dehn´. Estas histórias, ainda que repletas de animais, não podem ser chamadas simplesmente de fábulas, porque Moravia não quer, como La Fontaine, dar lições de moral. Antimoralista convicto, as fabulas de Moravia são antifábulas ou fábulas pelo avesso. Ao subverter a expectativa e até a lógica das histórias infantis, estas narrativas colocam o leitor (seja ele criança ou adulto) diante de um universo rico e desafiador. O mesmo procedimento está presente no modo como o autor utiliza os provérbios, ora alterando-lhes o sentido, ora simplesmente mostrando que nem sempre eles correspondem a verdade. As antifábulas de Moravia seguem contra a correnteza, e buscam revelar não como as coisas aconteceram, mas como poderiam ter acontecido... Uma girafa órfã que acredita ser um leão. Um pinguim professor de geografia que pensa que o gelo é eterno. Uma pulga que desafia um dinossauro a saltar mais do que ela. Uma morsa cujos pensamentos congelam no ar e um javali apaixonado por um peixe. Era uma vez um tempo antes do tempo, quando tudo ainda estava por fazer e a História, por inventar. Nas 24 divertidas histórias deste livro, o grande escritor italiano Alberto Moravia vira tudo pelo avesso, deixa as fábulas de ponta-cabeça e nos leva a olhar o mundo como ele é, sonhando com aquele que poderia ser. (AMD) 2 comentários: - Nos dois anos em que fiz pós-graduação em Bolonha, Itália, pude sentir o quanto o italiano se identificava com Alberto Moravia. Retratando sempre o cidadão de Roma, Moravia, na verdade, retratava o italiano contemporâneo. De Trento a Polignano a Mare (terra de Domenico Modugno), na Puglia!!! Todo italiano vibrava com a prosa mágica de Moravia. Muito bem lembrado. Alberto Moravia é um dos ícones da literatura ocidental. (adv.marcelo.delmanto@gmail.com) - Caro amigo Armando Moraes Delmanto, Ótima a lembrança do grande contista italiano Alberto Moravia. Seus contos são excelentes! Tomei conhecimento de toda a sua obra, graças à doação que você fez ao Centro Cultural. Um dos grandes retratistas da sociedade italiana, onde descreve o viver do povo romano. Lembra-me Steimbek,cuja obra descreve os acontecimentos da grande depressão americana. Olavo Pinheiro Godoy (Membro Efetivo da ABL – Academia Botucatuense de Letras)

EXPEDIENTE

DIRETOR: Armando Moraes Delmanto

NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU

EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes

WEBJORNALISMO DIÁRIO

Contato@diariodacuesta.com.br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689

O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.


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“Chove chuva Chove sem parar”

Maria De Lourdes Camilo Souza E janeiro começou com chuva. Lembro-me de um janeiro assim. Choveu práticamente o mês inteirinho. Morávamos ali na Cardoso de Almeida. Era uma casa antiga, a entrada tinha um corredor que levava para a porta da sala de visitas, era ampla. O corredor de entrada também levava á porta da cozinha. Ao lado dela, tínhamos um quartinho onde havia uma mesa de passar roupa, uma prateleira para os guardados e depois mais ao alto uma escada que levava a um muro cujo portão se abria para um terreno que tinha algumas árvores, um pé de limão rosa bem grudado ao muro. Da cozinha saia um outro corredor que levava ao banheiro, sala de jantar e aos dois quartos na frente com janelas para a rua. A casa tinha pé alto como falavam antigamente. Como eram as casas de outrora, e infelizmente dos quartos se ouvia todo o barulho da rua. Durante o dia ficávamos mais na sala de estar, cozinha. Quando lá fomos morar ainda não tínhamos tanto movimento de carros passando pelos seus paralelepípedos brilhantes. Com o passar dos anos foi ficando insuportável o barulho, principalmente nas noites dos finais de semana. Depois como é uma das ruas do centro comercial, o movimento cresceu também principalmente nos dias úteis. As festas de comemorações das datas festivas eram ali na Praça da Catedral, e o barulho dos shows contratados para a animação chegavam fortes até nossa casa. E o barulho das fanfarras descendo para os desfiles na Rua Amando também. O que me incomodava muito era o barulho noturno. E fui amadurecendo a ideia de construir uma edicula no terreno dos fundos. Minha mãe me apoiou muito na concretização desse sonho. Tivemos também o apoio da família e amigos. E um belo dia ela estava lá pronta só precisando da pintura. E lá foram os pintores mais conhecidos e queridos, sempre contratados como pau para toda obra: Zezito (que até hoje é chamado) e o João. Acontece que começou a pintura naquele janeiro chuvoso. Que mês interminável! Eu aguardava ansiosa o final da pintura para me mudar para lá. Eles começaram pintando o interior da minha casinha. Ela tinha um quarto amplo, um banheiro uma sala de estar que era dividida por um pilar com uma pequena cozinha, e por último uma área de serviços. Na frente uma varanda, fizemos uns canteiros onde

plantamos flores e conservamos o muro e o portãozinho, a escada que dava para a casa dos meus pais. Na minha varanda pus uma rede e cadeiras para nos sentarmos. Ficou lindinha a minha casinha, toda branca com uma grande porta de vidro de correr na entrada. Quando ficou pronta e levei meu pai para ver, ele olhou de fora, passou a mão no queixo barbeado, abriu um daqueles seus sorrisos e falou: “Ficou bonito o seu rancho”. Descendo a escada para a casa dos meus pais tínhamos as primaveras de várias cores que minha mãe plantou em caixas d’água, e que floriam quase o ano todo. Flor de São João como trepadeira no coberto ao lado da cozinha que nos presenteava com suas flores alaranjadas nas festas juninas. Ao lado da porta da cozinha tínhamos um banco grande de madeira. Uma mesa grande aonde muitas vezes confraternizávamos em almoços semanais com a família e amigos. Ainda ouço os risos daqueles dias saudosos.


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