Diário da Cuesta
ano II Nº 375
NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU
QUINTA-FEIRA, 20 de JANEIRO de 2022
No aniversário de Euclides da Cunha, 20 de janeiro leia a biografia do autor do monumental “Os Sertões” na página 3
Prédio da Praça do Bosque será Galeria Comercial
O prédio construído para abrigar a CAIXA ECONÔMICA ESTADUAL e, ao depois, a Agência do Banco do Brasil foi negociado por 2 milhões para ser transformado em uma Galeria de Lojas Comerciais. O prédio foi construído na Praça do Bosque , com autorização do Poder Público, para que Botucatu ganhasse moderna agência da Caixa Econômica Estadual, a Nossa Caixa. A Prefeitura tentou adquirir o imóvel, mas sua destinação após o leilão será mesmo para um shopping central.
LEITURA DINÂMICA Notícias de Botucatu e sua gente
Moderno como você!
Diário da Cuesta
2
Diário da Cuesta
EUCLIDES DA CUNHA
Euclides Rodrigues da Cunha nasceu em Cantagalo (RJ), em 20 de janeiro de 1866. Órfão de mãe aos três anos de idade, passou a infância sob tutela de duas tias no interior fluminense, e um ano aos cuidados da avó, na Bahia. No Colégio Aquino, entrou em contato com os ideais republicanos, orientado por Benjamin Constant, e passou a editar, com os colegas, o periódico O Democrata, no qual publica seu primeiro artigo, “A viagem”, em 1884. Aos 19 anos, ingressou na Escola Politécnica fluminense, onde não conseguiu manter-se por muito tempo, por falta de dinheiro. Transferiu-se, então, para a Escola Militar da Praia Vermelha, onde permaneceu por dois anos, até ser preso e expulso por rebeldia: republicano, quebrou seu sabre e recusou-se a prestar continência ao ministro da guerra do Império. Mudou-se para São Paulo, onde passou a escrever para o jornal A Província de São Paulo, antecessor do atual O Estado de S. Paulo. Casou-se com Anna Ribeiro, filha do major Sólon Ribeiro. Depois de proclamada a República, foi reintegrado ao Exército. Graduou-se em Engenharia Militar pela Escola Superior de Guerra em 1892, trabalhou como engenheiro na construção da estrada de ferro Central do Brasil, mas desligou-se do Exército em 1896, principalmente por divergências político-ideológicas. Não lhe aprazia o rumo que tomava o novo governo, tampouco as severas punições aplicadas aos envolvidos na Revolta da Armada. Apesar de admitido na Escola Militar, durante revista às tropas, o escritor lançou sua arma aos pés de Tomás Coelho, Ministro da Guerra. Após este ocorrido, Euclides entrou em disciplina, saindo do Exército em 1888. Entretanto, reintegrou-se com promoção depois da proclamação da República, tornando-se primeiro-tenente e bacharel em Matemática, Ciências Físicas e Naturais na Escola Superior de Guerra. Euclides da Cunha deixou a Escola de Guerra em 1891, e ocupou o novo cargo de coadjuvante de Ensino da Escola Militar. Na época da insurreição de Canudos, no ano de 1897, escreveu dois artigos que se chamavam “A nossa Vendéia”. Com a divulgação dos mesmos, Euclides da Cunha foi convidado pelo Estado de São Paulo para estar presente no final do conflito. Documentou todo o ocorrido, depois enviou aos jornais as suas reportagens, que transformaram-se no seu livro celebre, Os sertões. Euclides terminou o livro em 1898, quando morava em São José do Rio Pardo,
Autógrafo de Euclides da Cunha, uma importante figura da literatura pré-modernista.
WEBJORNALISMO DIÁRIO
Principais Obras: Os sertões, epopéia e ensaio (1902); Relatório da Comissão Mista Brasileiro-Peruana do Alto Purus (1906); Castro Alves e seu tempo, crítica (1907); Peru versus Bolívia (1907); Contrastes e confrontos, ensaio (1907); À margem da história, história (1909); Cartas de Euclides da Cunha a Machado de Assis, correspondência (1931); Canudos, diário (1939). Obra completa, org. Afrânio Coutinho, 2 vols. (1966).
DIRETOR: Armando Moraes Delmanto
EXPEDIENTE NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU
onde até hoje conserva-se a sua memória. O livro foi publicado em 1902 e intitulado pela crítica uma obra-prima, misturando ensaio, história e ciências naturais. É reconhecido na Literatura Brasileira como uma das maiores obras do País, de teor literário e científico. Euclides da Cunha marcou sua história com sua escrita, apesar de exercer diversas funções em sua trajetória. No dia 21 de Setembro de 1903 foi eleito à cadeira número sete, como sucessor de Valentim Magalhães. O escritor encantou-se por Ana Emílio Ribeiro, filha do Major Frederico Solon de Sampaio Ribeiro, um dos líderes da República, e casou-se com ela. Em 1909, Ana Emílio Ribeiro, mais conhecida por Ana de Assis, resolve abandonar Euclides e viver sua paixão com o seu possível amante, tenente Dilermando de Assis, o qual Euclides desconfiava ser o verdadeiro pai de um dos filhos dela. Euclides decidiu matar o amante de sua esposa, mas Dilermando era campeão de tiro e agiu em legítima defesa o matando. De modo que foi absolvido pela justiça e casou-se com Ana. O escritor, professor, sociólogo, repórter jornalístico, historiador e engenheiro brasileiro, teve seu corpo examinado pelo médico e escritor Afrânio Peixoto, que assinou o laudo.
EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes Contato@diariodacuesta.com.br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689
O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.
3
Diário da Cuesta
a r t i g o REUNIÕES
BAHIGE FADEL
Neste ano de eleições, haverá muitas reuniões políticas. Muitas. E não serão reuniões para se discutir um plano de governo. Nada disso. Plano de governo não dá votos. As reuniões serão para se conseguirem mais votos. Na maioria das vezes, as reuniões serão quase secretas. Quase, porque sempre vaza alguma coisa. O vazamento pode ser ocasional (uma falha no sistema), proposital (há interesse em que se vaze algum assunto, para se criar um outro assunto, que é favorável ao vazador), decorrente de uma traição (esse é o mais comum dos vazamentos; o que mais existe em política é traidor – há até os traidores profissionais), estratégico (o cara faz vazar determinado assunto como parte de uma estratégia de ataque ou de defesa). Enfim, há vazamentos para todos os gostos e desejos. Voltemos às reuniões. Elas são intermináveis. Lembro-me de uma longa reunião no tempo em que fui candidato a vereador. O partido convidou um especialista em campanhas eleitorais, para explicar-nos como fazer campanha. Nossa Senhora! O palestrante sabia todas as maneiras de se ganhar uma eleição. Tem que fazer isso, tem que fazer aquilo. Não pode fazer isso, não pode fazer aquilo. Progresso Garcia, que sabia mais de campanha do que qualquer palestrante, pediu
a palavra e disse, em tom de deboche: Vai ter que fazer uma palestra para o outro lado, para que deixem a gente fazer isso. Foi uma gargalhada geral. E a reunião acabou. Haverá a reunião da oposição e a reunião da situação. Na reunião da oposição o assunto fundamental será como destruir a situação. Se não houver fatos para a destruição, deverão ser criados ou inventados. A maioria dos fatos é inventada. Também se reúnem para se aproveitar de fatos existentes. Na maioria das vezes, são fatos irrelevantes, para os quais a oposição dá uma relevância enorme, a fim de convencer o eleitorado de que aquele candidato não pode ser eleito ou reeleito. Ele é careca! Onde se viu um cara que nem cabelos tem querer os votos do abençoado povo brasileiro? O importante é, na impossibilidade de criar uma certeza, criar uma dúvida na cabeça do eleitorado Na reunião da situação se analisa como divulgar as obras realizadas pelo governo. Naturalmente que se dá uma dimensão muito maior do que determinada obra tem. Mostra-se uma rodovia esburacada. Depois, com o trabalho magistral do governo, a rodovia recapeada. Naturalmente que não se mostram as dezenas de outras rodovias esburacadas, que não foram recapeadas. O eleitorado só precisa saber da rodovia recapeada. As esburacadas ficam pra depois. O leitor deve estar perguntando: E a verdade onde é que fica nessas reuniões? ‘Ora direis ouvir estrelas! Certo perdeste o senso’. – diria o poeta Olavo Bilac. A verdade, o eleitor que descubra sozinho. Não precisa de reuniões para isso. Portanto, a única coisa que a gente pode dizer é: Não acredite em tudo que vê ou ouve, nessa campanha eleitoral.
Diário da Cuesta
4
ARTIGO “O vestido do baile de formatura”
MARIA DE LOURDES CAMILO SOUZA Entrando na metade final do ano, os preparativos para a formatura estavam acelerados. Ainda tinha uns números da rifa para vender, pró- baile. A viagem para o Rio de Janeiro empolgava a turma. Anos 60, praia de Copacabana, passeio ao Cristo Redentor, rock and rol, visita ao Maracanã, muita alegria e curtição. Coppertone e sol, maiôs comportados, alguns duas peças mais ousados. E a rapaziada carioca alvoroçada com tantas mocinhas bonitas paulistas e branquelas. Caipirinhas com guarda-chuvas e coca cola gelada, os jeans do Paraguay. As amizades se reforçando. Urgia pensar no vestido do baile. Vovó Angelina tirando medidas. Vira que revira páginas das revistas de moda, até que os olhos caíram sobre aquele modelo espetacular. Tinha que ser branco num tecido diáfano, o corpete tomara que caia todo drapeado, na cintura um bordado de cristais e aquela saia meio evasé esvoaçante até os joelhos. Entre inúmeras provas de todas as matérias escolares, as reuniões da comissão de festas para organizar eventos e conseguir dinheiro para as comemorações, tinha as demoradas provas do vestido que tinha que ficar perfeito. E o olhar exigente na frente do espelho. -”Vovó tem que apertar mais na cintura”. E lá vinha a avó com a boca cheia de alfinetes e os dedos experientes: prende, que espeta, que ajeita, aperfeiçoa. No meio disso tudo o noivo ciumento exigindo tempo para si. O tempo não passava entre estudos e provas, mas voava entre passeios e beijos. Vieram as cerimônias da missa de formatura na Catedral com a igreja lotada, um calor insuportável naquele uniforme de gala quente. O cabelo liso ameaçando colar na nuca. A entrega dos diplomas e o discurso comovente. Lágrimas emocionadas entre os parentes e os presentes. Até que o vestido
branco impecável ficou pronto no cabide. Cabelo todo enrolado de bobs amarrado com lenço, fazer as unhas, tomar banho e se preparar para usar o vestido dos sonhos. A casa cheia de parentes se preparando, e falando alto, trançando pelos quartos e corredores. A hora do baile chegou e a formanda estava pronta esperando o seu príncipe louro de olhos azuis, topete de Elvis, vir buscá-la. Silêncio total quando abriu-se a porta do quarto e ela surgiu tal qual Natalie Wood esplendorosa e sorridente naquele vestido de baile deslumbrante. Vovô Gijo quase perde a dentadura com a boca aberta e olhos de encanto. Tia Lucilla sorrindo maravilhada olhando sua sobrinha predileta tão linda. Lá fora na frente do portão o noivo buzinava impaciente e lá fomos todos seguindo-a encantados e combinando tudo. -”Não se esqueçam de pegar os convites, tem uma mesa especial para os parentes no clube”. Acenou sorrindo e partiu na curva da esquina. Desse dia ficaram algumas fotos em branco e preto. 50 anos se passaram. Vieram os filhos, os netos, a neta tão esperada e adorada ia se formar. A já avó, pegou a escadinha e lá do fundo do armário retirou um pacote de plástico azul, cheirando a naftalina. Desenrolou e dele saiu o seu vestido de formatura, amassado mas, não menos bonito. A neta olhou achou lindo, mas queria outro modelo em cor amarela rebuscado bordado com estrelas. A avó sorriu um sorriso amarelo, decepcionado, mas partiu para São Paulo para comprar o voile e a renda no Brás.