Edição 387

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QUINTA-FEIRA, 03 de JANEIRO de 2022

Nº 387

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DESCUBRA O CENTRO CULTURAL DE BAMBU! DESCUBRA PARDINHO DO POLO CUESTA!

NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU

Diário da Cuesta ano II


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Diário da Cuesta

ARTIGO

Não descanses agora... Eduardo J.R. Santos Universidade de Coimbra Não, não, isto não é mais uma treta motivacional de um qualquer “coach”, é um poema fantástico e uma música sublime. Não descanses agora, nós seremos a tua ponte para essa tua travessia. Por isso, seremos pontífices da tua felicidade! Não descanses agora “Não descanses agora porque existem bombas Baionetas apontadas ao ventre dos jovens Cidades ameaçadas de ruínas e silêncios Torpedos e naufrágios espreitando navios na sombra

Não descanses agora Grita amaldiçoa chora Mas não descanses agora Trata-se de manter o vigor dos atletas A ternura das noivas a arte dos operários Trata-se de manter o ritmo das lendas A linha das estátuas a chave dos romances Trata-se de manter as árvores de pé A pureza dos frutos o riso das crianças Não descanses agora Cresce no horizonte uma paisagem de morte Resiste-lhe com teu corpo unido a outros corpos Unhas dentes braços pernas sangue Resiste-lhe com palavras altas como montanhas Com lágrimas de fúria grandes como planetas E mesmo com silêncios que transformarás em pedras E relâmpagos de memória que transformarás em esperança Não descanses agora” (António José Fernandes. in meia-noite todo o dia) Não é meu hábito, mas: No meio de uma pandemia, o sintoma da irresponsabilidade foi esquecido dos critérios da tragédia. Neste país de “cretinas ferreiras”, de costas quebradas, de rios secos, e seus predadores pedintes, mais de que vírus, temos parasitas e lêndeas… Há muito tempo que o nosso futuro não estava tão ameaçado! De Aristóteles fundador a Galileu genial, temos sabedoria suficiente para votar na felicidade…

EXPEDIENTE NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU WEBJORNALISMO DIÁRIO

DIRETOR: Armando Moraes Delmanto EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes Contato@diariodacuesta.com.br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689

O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.


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ARTIGO

“O jornaleiro” Maria De Lourdes Camilo Souza

Não sei dizer há quanto tempo foi, parece que já faz bastante tempo. Meu pai era freguês dos jornais diários e eu das revistas semanais. Ele passava pela minha casa e meu pai daquele seu jeito, gostava de dar um dedo de prosa com ele. Encostavam no muro ao lado da primavera, na casa da Costa Leite, onde ele colocava o pacote de jornais e revistas, enquanto retirava o exemplar do dia. Meu pai era falante e sempre gostou de política. Lembro que muitas vezes quando pequena, me levou aos comícios com ele. Na época do Jânio Quadros ele era seu admirador, chegamos a ganhar as famosas vassourinhas. Lembro-me da musiquinha da campanha: “varre, varre vassourinha”. Ele me colocava nos seus ombros e ficávamos ouvindo os discursos inflamados. Então sua conversa com o jornaleiro era muitas vezes sobre política, ia pondo meu pai ao tanto das novidades da política. Depois que mudamos para a Cardoso, ele continuou passando por lá. Era um camarada calado, meio tímido, atarracado, cabelo castanho escuro e tinha uma cor peculiar avermelhada de pele. Teve uma época que eu passei a comprar a revista Contigo que tinha o resumo das novelas e as fofocas do meio artístico por que eram a diversão da minha mãe e o jornal para o meu pai que ainda tinha o hábito de folhear o jornal, apesar do noticiário na TV. Depois vieram a palavras cruzadas hábito que mantenho firme, para a memória. As vezes emcomendava livros. Comprei uma coleção sobre a Segunda Guerra. Eu passei a encomendar a Caras por causa dos encartes com brindes. Acabei fazendo uma coleção de pratos, copos xícaras com

desenhos exclusivos de Romero Brito. Acabou sendo um hábito essa visita do nosso jornaleiro particular. Na época que passei a trabalhar no andar superior do prédio do Itaú, área dos serviços internos, ali na esquina da Amando, ele subia lá para deixar minhas encomendas. Depois fiquei sabendo que tinha um relacionamento com a irmã de um dos colegas. Fiquei surpresa na época pois na verdade o cara era muito fechado, chegava, entregava a encomenda, pegava novos pedidos, recebia seu dinheiro e se despedia com um tchau meio grunhido. Desconfio que passou toda sua vida profissional andando pelas ruas da cidade carregando jornais e revistas. A vida passou até que não o vi mais. Um dia, quando voltava da UNESP de ônibus encontrei com ele, que vinha de uma consulta, parece que tinha problemas de coração. Na ocasião fiquei sabendo do falecimento do meu ex-colega, cunhado dele o que me deixou triste. Depois disso nunca mais o vi. E agora curiosamente, virei cronista de um jornal digital. Quem diria. Como bem dizia Thiago de Mello “Não tenho caminho novo o que eu tenho de novo é jeito de caminhar”.


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Max Feffer: centro de cultura e sustentabilidade Tendo também sempre levado em conta o desenvolvimento sustentável em suas ações, no ano de 1999 criou o instituto Ecofuturo, uma ONG mantida pelo Grupo Suzano. Faleceu no ano de 2001, deixando um legado que mudaria a vida de uma cidade.

ecooar Tecnologia “Um país se faz com homens e livros”. Se pudéssemos acrescentar a palavra sustentabilidade a conhecida frase de Monteiro Lobato, ela ficaria ainda mais perfeita para representar o conceito do Centro Max Feffer Cultura e Sustentabilidade.

O Instituto Jatobás Betty Vaidergorn Feffer, esposa de Max Feffer, no ano de 2005, criou o Instituto Jatobás, local onde busca-se a evolução da consciência social, individual e ambiental, integrando o indivíduo ao mundo em que vivemos.

Centro Max Feffer de Cultura e Sustentabilidade Entrada do Centro Max Feffer, Feffer, fundado pelo Instituto Jatobás

Localizado a 200 km de São Paulo, na cidade de Pardinho, o Centro transformou-se rapidamente em referência de espaço cultural, com cursos de formação para as pessoas, recheado de livros, uma arquitetura bem peculiar e acima de tudo ecológica. E tudo teve início com uma pessoa: Max Feffer. Quem foi Max Feffer? Filho de imigrantes ucranianos, Max Feffer nasceu no ano de 1926 e desde cedo estava destinado a deixar sua marca no mercado de celulose, sendo a solidariedade um valor familiar passado de geração para geração.

Formou-se Engenheiro pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e junto de seu pai Leon Feffer (1902-1999) fundou o Grupo Suzano, inovando o setor celulose e papel já nos anos 1950, desenvolvendo produtos com melhoria das fibras do eucalipto e, dessa forma, revolucionando o mercado. “A vida que a gente quer, depende do que a gente faz”, Max Feffer Além de engenheiro, Max também gostava de artes e possuía um talento musical, que fez com que ele fosse nomeado, na década de 1970, Secretário de Estado da Cultura, Ciência e Tecnologia de São Paulo durante o governo de Paulo Egydio Martins. Um dos eventos mais conhecidos foi o Festival de Inverno de Campos do Jordão.

Utilizando a arte como elemento cultural, a fim de fomentar a criatividade através de atividades complementares ao ensino escolar, o Instituto Jatobás atua para o fortalecimento do desenvolvimento local da cidade de Pardinho. Inclusive no ano de 2017 o Instituto Jatobás recebeu o Selo das 100 melhores ONGs do Brasil, concedido pela revista Época, Instituto Doar e Centro de Estudos em Administração Pública e Governo da Fundação Getúlio Vargas, concorrendo com mais de 527 instituições analisadas. E foi desta forma que a cidade de Pardinho recebeu um dos seus maiores tesouros. Centro Max Feffer de Cultura e Sustentabilidade Foi no ano de 2008 que uma revolução aconteceu bem no centro da cidade, mais precisamente em uma praça local, com a construção do Centro Max Feffer de Cultura e Sustentabilidade, criado a partir de uma tecnologia milenar com a utilização de bambus e com as mais modernas técnicas baseadas em edifícios verdes. Esse incrível projeto de mais de 800 metros quadrados e que utiliza apenas 15% do espaço do terreno da praça onde o conjunto está instalado, foi idealizado por Leiko Hama Motomura, considerada a pioneira do uso de materiais alternativos na arquitetura brasileira, que promove a sustentabilidade na construção civil desde 1985. A cobertura com bambus, em um primeiro momento provenientes do Paraguai, é um produto ecológico e renovável, que ganha destaque na montagem por suas linhas sinuosas e a farta entrada de luz e ar. Hoje os reparos da obra já utilizam a produção própria de bambus, plantados na Fazenda dos Bambus, em Pardinho, sede do Instituto Jatobás. Toda essa estruEstrutura feita de bambus amplia a conexão com a natureza e com a sustentabilidade

tura é apoiada também em eucalipto, concreto e alvenaria. Certificações O telhado tem em sua composição cerca de 42% de papelão reciclado, pintado de branco para refletir os raios solares e diminuir a sensação térmica e o conhecido efeito ‘ilha de calor’. Por ser uma obra que utilizada soluções sustentáveis, utilizando materiais reaproveitados, com o consumo reduzido de água e também de energia elétrica, em 2009, ela foi a primeira construção da América Latina a conquistar a Certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), concedida pelo United States Green Building Council. Como uma onda A construção gera 25% de economia de energia elétrica, pois utiliza 80% de luz natural. Possui iluminação LED e sensores de presença nos banheiros, que também utilizam água de reuso, captada da chuva, além de torneiras de fechamento automático, para evitar o desperdício. Existe inclusive um sistema que armazena o ar quente para aquecer o ambiente quando necessário através do sistema Trombe. O cimento que foi utilizado permite a drenagem da água da chuva para o terreno e o formato da obra possibilita uma melhor circulação do ar nos ambientes. Inclusive 63% do terreno em volta está reflorestado com árvores nativas. A maioria dos materiais utilizados, como o corrimão e os parapeitos do local, são provenientes de sucatas restauradas e reaproveitadas, bem como as madeiras que são de demolição.

Cultura aplicada O local reserva inúmeras surpresas, atuando proativamente em favor da cultura local, que é considerado o berço da música raiz do estado de São Paulo. O centro comporta projetos voltados a sustentabilidade, com explanações sobre a cultura caipira, com a realização de aulas gratuitas de viola, violão e lutherie (que é a técnica utilizada na construção da viola), além de balé e cursos de capacitação. Max Feffer Multicultural A Biblioteca é mista, Municipal e Comunitária, e conta com um acervo de mais de 5 mil livros e uma brinquedoteca. Algumas das ações realizadas pela Biblioteca no ano de 2019: contação de histórias, encontro com escritor, exposições artísticas, feira de trocas de livros, mediação de leitura, mostras de livros temáticos, oficina de escrita criativa e literatura do vestibular, palestras, premiação do “Leitor do mês”, sarau, teatro, tricotando (conversa com os leitores e mediação de leitura), visitas monitoradas e além do Café com Viola, que acontece uma vez por mês. Outros locais do Centro Max Feffer são salas de leitura, inclusão digital, área multiuso, sala para reuniões, escritório, depósito de lixo reciclável e espaços de apoio para eventos, além do palco e da área externa que são utilizados por toda a população da cidade e da região. Desta forma o Centro Max Feffer de Cultura e Sustentabilidade, consegue deixar sua marca na vida de quem conhece o espaço e o utiliza para aprender e conhecer mais sobre a cultura de nosso país.


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