Edição 401

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Diário da Cuesta NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU

ano II Nº 401

SÁBADO E DOMINGO, 19 E 20 de FEVEREIRO de 2022

Ciccillo Matarazzo:

Mecenas da Cultura Brasileira!

Ciccillo Matarazzo e o Pavilhão com seu nome no ibirapuera No aniversário do grande Mecenas da Cultura Brasileira, Ciccillo Matarazzo (nascido em 20/02/1898), o registro por sua passagem pelo setor cultural (Bienal, Museu de Arte Moderna, Teatro Brasileiro de Comédia – TBC, Cinematográfica Vera Cruz, Presépio Napolitano, Balé do Quarto Centenário e as representações brasileiras nas Bienais de Veneza) e pelo setor público (Parque do Ibirapuera, Prefeitura de Ubatuba) estão definitivamente marcados na Memória Paulista.

Na mini-série “Um Só Coração”, da Rede Globo, Ciccillo Matarazzo foi representado por Edson Celulari. Nessa produção da Globo – feliz coincidência! – temos o trabalho criativo do botucatuense Alcides Nogueira em co-autoria, a novela “Um Só Coração”, quando em parceria com Maria Adelaide Amaral retratou tão bem a vida de Ciccillo Matarazzo. Página 2

CPP defenderá piso salarial para o professorado paulista! Após a oficialização pelo Ministério da Educação do reajuste do piso salarial profissional nacional do magistério, no percentual de 33,24% (trinta e três vírgula vinte e quatro centésimos por cento), elevando-o para o importe de R$ 3.845,63 (três mil, oitocentos e quarenta e cinco reais e sessenta e três centavos). Ocorre que, no Estado de São Paulo, os servidores da Secretaria da Educação, integrantes da classe de docentes do Quadro do Magistério, percebem valores inferiores ao piso nacional do magistério, observando-se a faixa e nível que estão enquadrados. Deste modo, em decorrência da afronta ao direito dos docentes, servidores do Quadro do Magistério Público Estadual, o CPP, por meio do Departamento Jurídico, ingressará com a medida judicial cabível para que o atual piso nacional, no montante de R$ 3.845,63, para 40 (quarenta) horas semanais ou 200 (duzentas) mensais, seja respeitado, repercutindo sobre os vencimentos e proventos de todos os associados, inclusive aposentados e pensionistas.



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Ciccillo Matarazzo:

Mecenas da Cultura Brasileira! Francisco Antonio Paulo Matarazzo, conhecido como Ciccillo Matarazzo, filho de Ângelo Andrea Matarazzo e Maria Virgínia Geraldi, nasceu em São Paulo, em 20/02/1898 e faleceu, também em São Paulo, em 16/04/1977. Seu pai, por indicação do Conde Francesco Matarazzo, foi eleito para o SENADO ITALIANO. Ciccillo, faleceu em seu apartamento, no Conjunto Nacional, onde da sacada podia ver a cidade que tanto amava... Estudou dos 10 anos aos 20 anos na Itália, como era costume das famílias italianas, àquela época, mandarem estudar seus filhos na Itália. Também estudou Engenharia, sem concluir o curso, em Nápoles e na Bélgica. Juntamente com o primo Julio Pignatari dirigiu a Metalúrgica Matarazzo – Metalma. Em 1943, casou-se, no México, com Yolanda Penteado, de tradicional família paulista. Apaixonados por artes plásticas, cultos e refinados, ajudam a transformar São Paulo na Capital Cultural da América Latina. Locomotivas da vida artística paulistana, eles reuniram em, 1948, obras de seu acervo particular — com assinaturas de Alfredo Volpi, Di Cavalcanti e Marc Chagall, entre outros — para fundar o Museu de Arte Moderna de São Paulo, sediado na então badalada Rua Sete de Abril, no centro. O prédio era de Assis Chateaubriand. Três anos depois, fizeram a primeira edição da Bienal de Artes de São Paulo, na Avenida Paulista. O MECENAS (na mini-série “Um Só Coração”, da Rede Globo, Ciccillo foi representado por Edson Celulari) A cultura brasileira teve a marca pessoal de Ciccillo Matarazzo: o Teatro Brasileiro de Comédia, a Companhia Cinematográfica Vera Cruz, a Cinemateca Brasileira, a construção do Parque do Ibirapuera, o Museu de Arte e Arqueologia da Universidade de São Paulo, o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, o Presépio Napolitano, o Balé do 4º Centenário e as representações brasileiras nas Bienais de Veneza. Importante destacar que, em 1951, no governo de Lucas Nogueira Garcez e diretamente controlada pela Prefeitura, foi criada a “Comissão do IV Centenário de São Paulo”. Presidida por Francisco Matarazzo Sobrinho, a Comissão se encarregou da escolha do local para sediar as comemorações dos 400 anos de São Paulo, bem como da encomenda do projeto e a construção do parque que viria abrigar os festejos. Ciccillo encomendou ao arquiteto Oscar Niemeyer os projetos dos edifícios que deveriam compor o Parque do Ibirapuera e para a concepção paisagística, Roberto Burle Marx foi o escolhido.

(Pavilhão Ciccillo Matarazzo/ Parque do Ibirapuera) (o símbolo do IV CENTENÁRIO DE SÃO PAULO é de autoria de OSCAR NIEMEYER)

O POLÍTICO Único da família Matarazzo que entrou na política nacional durante os anos de opulência do Império Matarazzo: foi Prefeito de Ubatuba (1964/69). Seu lema de governo foi: “40 anos em 4 anos”. Como Benfeitor da cidade, Ciccillo é sempre lembrado pela comunidade. Por iniciativa da Prefeitura Municipal, Ubatuba construiu o Memorial “Ciccillo Matarazzo”, cujo projeto foi contratado pela Funart e apresenta importante período da história do município, a partir de 1948. Instalado no antigo gabinete de Ciccillo, mandado construir por ele, o Memorial abriga também a Biblioteca Municipal. Ciccillo Matarazzo é considerado o Mecenas da Cultura Brasileira. Sobrinho do Conde Francesco Matarazzo, era um visionário e um entusiasta da cultura e da arte. Viveu intensamente e soube construir, com amor, um legado que direcionou a formação da cultura nacional. (Memorial Ciccillo Matarazzo/ Ubatuba/ SP)


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COMENTÁRIOS SOBRE CICCILLO MATARAZZO

1 - Delmanto, eu sou de São José dos Campos e desde pequeno ouvia falar de Ciccilo Matarazzo. Realmente era uma unanimidade, como homem público e como promotor da cultura. Fez uma gestão moderna (como Prefeito) em Ubatuba, atacando pontos IMPORTANTES da saúde pública, como a rede de esgoto na área central. Hoje, Ubatuba se orgulha de apresentá-lo no MEMORIAL “Ciccilo Matarazzo”. Foi um Mecenas da Cultura , mas foi, fundamentalmente, um CIDADÃO PRESTANTE! (carlosantoniomascarenhas@yahoo.com.br). 26 de setembro de 2011 2 - Com Ciccillo Matarazzo, a família Matarazzo deu uma grande contribuição à cultura e à política do país. Mesmo não sendo político, foi convocado pelos partidos polítcos de Ubatuba para ser candidato a Prefeito Municipal. Já com 65 anos, aceitou o desafio. E gostou. Fez uma excelente gestão naquele balneário. E a sua atuação como promotor da cultura é conhecida de todos. Hoje, da família Matarazzo, temos atuando com destaque, o Senador Eduardo Matarazzo Suplicy, o Diretor da Globo Jaime Monjardim Matarazzo, o Andrea Matarazzo que é o Secretário Estadual da Cultura e já foi Embaixador do Brasil na Itália e a Claudia Matarazzo, Chefe do Cerimonial do Palácio dos Bandeirantes (Governo de São Paulo). Muito boa a lembrança. Os bons exemplos precisam ser divulgados. O exercício positivo do civismo é uma raridade e uma grande necessidade para estes nossos dias tão marcados pelos malfeitos dos homens públicos do país. (jair.castro66@yahoo.com.br). 26 de setembro de 2011 3 - Caro Delmanto, isso tudo deveria ser divulgado obrigatoriamente por nossas escolas, pelo menos aqui em Sampa. O símbolo do 4º Centenário é uma obra prima e muito pouca gente conhece ou se lembra dele. Foi um pedido do Ciccilo Matarazzo ao arquiteto Oscar Niemeyer. E tem a música do 4º Centenário que é do Mário Zan. Pô, São Paulo precisa valorizar mais as suas tradições e a sua cultura. No 4º Centenário, o Ciccilo conseguiu trazer o pai-

nel “Guernica” de Picasso para a Bienal das Artes no Ibirapuera, uma vitória da cultura brasileira, pois raramente o MOMA de Nova York libera o seu acervo para mostras no exterior.Muito boa essa divulgação. Bola pra frente! (bastosgustavo32@yahoo.com.br). 26 de setembro de 2011 4 - Delmanto disse... Sem bairrismo, mas destacando uma cidade do interior (Botucatu) que revelou para o Brasil um dos mais expressivos dramaturgos e telenovelista da atualidade: Alcides Nogueira. Vencedor no teatro, entre outras, com Lua de Cetim e Feliz Ano Velho (adaptação do livro de Marcelo Rubens Paiva), Pólvora & Poesia, Florbela e em novelas globais, como co-autor (De Quina Pra Lua, Direito de Amar, O Salvador da Pátria, Rainha da Sucata, Deus nos Acuda, A Próxima Vítima, Torre de Babel, Um Só Coração , JK e O Astro; sendo que em vôo solo é autor de O Amor está no Ar e Ciranda de Pedra. O Alcides escreveu suas primeiras crônicas no jornal “Vanguarda”, que eu fundei em Botucatu e, à época, já mostrava a sua grande criatividade. Fomos colegas no curso de Direito na São Francisco e ainda fez pós graduação na Suíça, em Direito Autoral. Pois é dele – feliz coincidência! -, em co-autoria, a novela “Um Só Coração”, quando em parceria com Maria Adelaide Amaral retratou tão bem a vida de Ciccillo Matarazzo. É o registro exuberante daquela São Paulo efervescente, com a industrialização empurrando a todo vapor a LOCOMTIVA PAULISTA, e repercutindo no teatro e nas artes em geral. E a figura de Mecenas de Ciccillo Matarazzo ficará marcada para sempre. Presidente da Comissão do IV Centenário de São Paulo, foi quem escolheu o Ibirapuera para a construção do Parque. Dele é a escolha de Oscar Niemeyer e Burle Max para as obras arquitetônicas e de paisagismo que fizeram do Parque do Ibirapuera uma “avant-première” de Brasília. É Registro Histórico.


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Dante Delmanto: As ditaduras do Estado Novo e Militar Roberto Delmanto* Meu pai atuou na advocacia criminal de São Paulo durante mais de cinquenta anos. Por sua ética no trato com juízes, promotores, colegas, clientes – fossem acusados ou vítimas – e suas famílias, sempre os respeitando em sua dignidade humana, era chamado de “O príncipe dos advogados criminais”, como está inscrito em seu busto no antigo I Tribunal do Júri paulistano. Deputado Constituinte paulista mais votado em 1935, com apenas 28 anos de idade, foi cassado pela ditadura getulista, que fechou o Senado Federal, a Câmara dos Deputados e as Assembleias Legislativas, e destituiu os Governadores, nomeando interventores em todos os Estados. Tal episódio só veio a fortalecer sua crença na democracia, na liberdade individual, e nas liberdades públicas, o que viria pautar sua vida profissional. Durante o Estado Novo defendeu dezenas de acusados perante o Tribunal de Segurança Nacional, sediado no Rio de Janeiro, que julgava desde acusados de subversão até de crimes contra a Economia Popular. Para fazer suas defesas, costumava ir à então Capital Federal no trem noturno da antiga Companhia Paulista. A polícia política daquela fase sombria nada ficava a dever, segundo ele, às atrocidades da posterior ditadura militar. Foi nessa época que Sobral Pinto entrou para a história da advocacia criminal quando, depois de ver negados todos os seus pleitos em favor de um cliente, torturado no cárcere, invocou em seu favor a Lei de Proteção aos Animais. Foi também nesse tempo que o Supremo Tribunal Federal, em uma página inglória de sua gloriosa existência, autorizou a extradição para a Alemanha nazista de Olga Benário, companheira judia do líder comunista Luiz Carlos Prestes, que estava grávida. Deportada pelo ditador, foi morta em um campo de extermínio. Por ocasião do AI5, meu pai já era, há tempos, um dos mais respeitados criminalistas do País. Procurado por familiares de civis incursos na antiga Lei da Segurança Nacional, vários deles presos, defendeu-os perante as Auditorias Militares. Os tempos eram dos mais difíceis, embora heroicos para a advocacia criminal: não havia “habeas corpus” e os acusados costumavam ficar detidos durante todo o inquérito policial; quando este era finalmente relatado, por vezes o tempo em que ficaram provisoriamente presos já ultrapassara as penas cominadas aos delitos que lhes eram atribuídos, somente aí sendo libertados... O processo penal militar tinha, entretanto, algumas características mais benéficas do que o processo penal comum até recentemente: o interrogatório dos acusados, por exemplo, só era feito depois da oitiva das testemunhas de acusação, o que dava mais amplitude à sua defesa, podendo os réus e seus patronos, após a prova acusatória, melhor optarem pela tese defensiva a ser adotada. Encerrada a prova oral, era aberta vista para as alegações das partes. Apresentadas estas, realizava-se a sessão de julgamento, com os debates orais e a prolação da sentença pelo Con-

selho da Auditoria, composto por um juiz auditor e quatro oficiais, tendo seus votos o mesmo valor. O nome do defensor, seu prestígio, reputação, cultura e coragem – que Aristóteles considerava a maior das virtudes, porque é a que garante as outras – eram muito importantes. Mas meu pai, justamente nessa época, por problemas cardíacos, embora autorizado a continuar advogando, fora proibido, por ordem médica, de fazer júris, sustentações e defesas orais. O que não o impediu de diagnosticar qual seria a melhor estratégia defensiva para cada caso e implementá-la, participando de toda a instrução judicial nas Auditorias. Meu irmão mais velho, Celso, consagrado como advogado brilhante e jurista dos mais respeitados, que escrevia como poucos, não gostava de falar em público. Por isso, as defesas orais de nossos clientes nas Auditorias Militares acabaram ficando a meu cargo, como integrante mais novo do nosso escritório, e eu, com a ousadia característica dos jovens, penso tê-las desempenhado a contento... Mesmo depois de ter sido absolvido por decisão transitada em julgado, o ex-acusado ainda podia vir a ser preso e torturado, à revelia da Justiça Militar, caso os órgãos de repressão achassem que tinha alguma informação sobre o paradeiro de alguém que estivesse sendo procurado. A hedionda prática só cessou após a promulgação da Lei de Anistia. É imprescindível que as novas gerações, inclusive de advogados, saibam o que ocorreu nas ditaduras brasileiras para que valorizem e defendam a Democracia. *Roberto Delmanto é Advogado Criminalista em São Paulo e filho de Dante Delmanto.


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LEITURA DINÂMICA

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- O ANO DE 1934 foi considerado o ANO MÁGICO para as INDÚSTRIAS MATARAZZO: “Assis Chateaubriand vai chamar, em 1934, esse grupo industrial de “O ESTADO MATARAZZO”, lembrando que São Paulo tinha uma renda bruta de 400 mil contos e o parque industrial Matarazzo uma receita de 350 mil, acima de qualquer outra unidade federativa brasileira...O Conde Matarazzo, financeira e economicamente é o segundo Estado do Brasil...”

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– O pai de Ciccillo Matarazzo foi o empresário, político e diplomata Angelo Andrea Matarazzo. Irmão do Conde Francisco Matarazzo, Angelo Andrea Matarazzo foi indicado pelo irmão para o cargo de Senador do Reino da Itália, eis que o Conde havia sido convidado para esse importante cargo pelo Rei da Itália e indicou o irmão. Em sua atividade empresarial adquiriu, em 1932, o Banco Polcenigo, o segundo maior da Itália e afiliado ao London and Brazilian Bank. Foi o 5º maior produtor de café do Brasil, com inúmeras fazendas de café na região de Campinas. Em 1944, foi nomeado Presidente de Honra do Palestra/Palmeiras, cargo honorífico que fora ocupado pelo Conde Francisco Matarazzo.

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– O Secretario da Cultura do Estado, Andrea Matarazzo, foi o idealizador da primeira Pinacoteca no Interior do Estado, em Botucatu. Chamada de “Catedral da Cultura”. O prédio escolhido para abrigar a Pinacoteca em Botucatu foi o antigo Fórum com investimento de 11 milhões para reformar e adaptar o edifício. O prédio ocupa 2.878 m2 de área construída, com subsolo, térreo, primeiro e segundo pavimentos e foi construído em 1924 com projeto do arquiteto Ramos de Azevedo, o mesmo que construiu a Pinacoteca do Estado.

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– Com sua nomeação para Senador do Reino da Itália, em 1901, o Senador Angelo Andrea Matarazzo construiu uma magnífica residência em Roma, chamada de Palácio Matarazzo, em estilo renascentista, o imóvel foi erguido em uma área de 15 mil metros e decorado com requinte. Hoje é conhecido como Borgo Angelo Matarazzo e é muito procurado por turistas.


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