Diário da Cuesta NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU
ano II Nº 444
SEGUNDA-FEIRA, 11 de ABRIL de 2022
“A mãe-pátria é a nossa cidade, no sentido de que elas, as cidades, as vilas, as fazendas compõem o país. Quem ama o seu torrão natal é um grande patriota, que idolatra o seu berço para enaltecer a grandiosidade da nação... Antes de vivermos para nós mesmos é preciso que vivamos para a nossa Pátria e ela se chama Botucatu”. Agostinho Minicucci. “...Mas o objetivo ainda estava por vir. O objetivo era Botucatu: sua gente, suas coisas, seus problemas, suas perspectivas... Mas só Botucatu, ou antes e melhor, sempre Botucatu...” AMD
A SÉRIE DE EDIÇÕES DO DIÁRIO DA CUESTA PARA AS COMEMORAÇÕES DO 167º ANIVERSÁRIO DE BOTUCATU É UM ESFORÇO CIDADÃO PARA PRESERVAR E DIVULGAR FATOS E EVENTOS IMPORTANTES PARA A HISTÓRIA DE BOTUCATU. DE 12 DE ABRIL A 01 DE MAIO, NUM TRABALHO JORNALÍSTICO, O DIÁRIO DA CUESTA ESTARÁ APRESENTANDO EDIÇÕES HISTÓRICAS SOBRE BOTUCATU E SUA GENTE. A DIREÇÃO.
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CANÇÃO DE BOTUCATU ELDA MOSCOGLIATO Estamos em pleno Abril, o mês que enriquece a crônica citadina com a seriação de datas e eventos sempre marcantes na tradição local. Justifica-se, pois, que aqui se trate de um assunto interessante como sejam as canções que Botucatu já possuiu e que, levadas ao esquecimento são patrimônio de uns poucos, herdeiros da memória dos antepassados. A primeira canção botucatuense é graciosa e simples. Cantaram-na nossos pais nos primeiros anos de funcionamento do Grupo Escolar “ Dr. Cardoso de Almeida”, vale dizer, nos primórdios desse estabelecimento exemplar de ensino, por onde passamos nós, gerações sucessivas, e que hoje já está a beirar seus noventa anos de existência. Trata-se de uma canção de melodia singela, accessível à memorização mas delicada e suave como deve ser delicado e suave o amor à terra natal. Ela brincou nos ouvidos dos escolares de então. E se fixou para sempre na memória daqueles que tanto deram de si, na vida botucatuense. Três, desses meninos de outrora, tornados velhos amigos e companheiros, timbravam em recordá-la em seus constantes encontros. Não se visitavam mas esses encontros se davam na barbearia, no Bepão ou mesmo na Sacristia da Catedral onde dois deles : José da Rocha Torres mais carinhosamente : o Zelão Torres e o velho flautista eram Irmãos do Santíssimo. E a memória se lhes avivava em fatos e acontecimentos que enriqueceram a Botucatu histórica. Zelão da Rocha Torres está lá, na fotografia memorável da implantação do Bispado. Entre tantas memórias, saiam da Sacristia trauteando a velha canção. Um dia perceberam que após eles, ninguém mais conheceria a música
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querida. Era preciso eternizá-la. A obra prima – poesia e música – de Américo Veiga , professor botucatuense, não poderia jamais desaparecer. Gravá-la como? Não havia a aparelhagem fácil de “stereos” que hoje sobra nas mãos das criançadas. O velho flautista propôs : cante-a e eu a escrevo. Mas era difícil. O Zelão, mal começava os primeiros versos, era tolhido pela torrente de lágrimas que lhe resvalavam pelas lentes dos óculos. Embargava-se-lhe a voz e ficava nisso. Foi preciso recorrer a Tio Antonio Tillio, contemporâneo, setentão ainda rijo, de memória lúcida que sabia inteirinha a canção. E com voz ainda “tenorinale” cantou-a inteira. Zelão aprovou. E o velho flautista transpô-la para a pauta. E com a letra silabada. E esse original está conosco. É uma velha e primitiva melodia nascida no começo do século. Vale a pena conhecê-la na sua simplicidade, na sua linearidade, na singeleza : CANÇÃO DE BOTUCATU Letra e Música de Américo Veiga. Botucatu tem primores, Tem belezas naturais. É mui bela e são gerais Seus encantos e flores. CORO Devemos amar a nossa terra Como se ama a própria mãe! E dizendo sempre e sempre: Amparai as belezas que ela encerra!
DIRETOR: Armando Moraes Delmanto EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes Contato@diariodacuesta.com.br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689
Mais tarde, um outro rapsodo teceu-lhe lindos versos. Era Astrogildo de Oliveira, versos esses musicados por João Gomes Junior. Era a Canção Botucatuense. Depois, Angelino de Oliveira dedicou-lhe letra e música : Saudades de Botucatu. São ambas muito bonitas. Mas não superam a ingênua, graciosa, a terna Canção que nossos pais cantaram. ( A Gazeta de Botucatu – 13/04/1984 ) O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.
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MINHA HOMENAGEM
BAHIGE FADEL
‘Nunca esquecerei de ti, oh minha terra, berço onde o amor nasceu...’. Os versos do poeta são reais pra mim. E pensando em seu aniversário, sinto-me feliz como um aniversariante. Feliz por viver aqui. Feliz por ter conquistado aqui o que sou hoje. Sinto-me parte desta cidade encrustada na cuesta e, por isso, recebendo constantemente uma brisa agradável. Moro em Botucatu desde os onze anos de idade. Foi quando saí de Pardinho para morar na Pensão Santana, do Máximo Sanches. Meu pai queria que eu estudasse, e em Pardinho só havia o Grupo Escolar Napoleão Corule. Mas o primeiro contato com Botucatu, pra valer, foi um pouco antes. Eu tinha apenas oito anos e para cá vim para participar do desfile cívico em comemoração ao centenário da cidade. Naquele tempo, se não me falha a memória, Pardinho era, ainda, distrito de Botucatu. E os alunos do distrito foram convidados a participar da festa da cidade. Depois, meus pais se mudaram para cá, pois não queriam ficar longe dos filhos. Fomos morar na rua Amando de Barros, onde tínhamos uma loja: a Casa São João. Aliás, por causa do nome da loja, todos achavam que o nome de meu pai era João. No início, ele explicava que era Ramez. Quando viu que não adiantava, resolveu deixar pra lá. Aqui em Botucatu realizei quase todos os meus estudos. Aqui me tornei professor, profissão que exerço até agora. E cada dia na sala de aula é um dia de felicidade . Fui e sou professor de boa parte da cidade. Costumo dizer que metade de Botucatu é de pessoas que foram ou são meus alunos e a outra metade é de pais ou avós de meus alunos. Aqui também, por orientação
do amigo Progresso Garcia, tive minha curta experiência política. Foi o período de redemocratização do país. Foram seis anos de trabalho na Câmara Municipal, da qual fui presidente. Aqui também me tornei radialista. Pelas mãos de Plínio Paganini entrei na F-8. Por sugestão do amigo Elias Francisco me tornei Fadel Júnior, já que o Plínio havia dito que não contrataria nenhum radialista com o nome de Bahige. Seria necessário um nome artístico. Foi em Botucatu que me tornei Cidadão Botucatuense. Foi uma gentileza do amigo e vereador José Varoli, que apresentou o projeto de lei. E a boa vontade dos demais vereadores, que aprovaram, por unanimidade, o projeto. Mas não é só por isso que amo tanto esta cidade. Foi aqui que conheci a Mari Neusa, minha companheira desde os meus dezessete anos e a mãe de meus três filhos, que em Botucatu nasceram. Não me imagino vivendo sem ela. Somos apaixonados um pelo outro. Aceitamos os defeitos que cada um possui e procuramos aperfeiçoar nossas virtudes. Principalmente nossa capacidade de vencer dificuldades e permanecer juntos. Conheci Botucatu quando a cidade tinha quarenta mil habitantes e era conhecida como a cidade dos ferroviários. A Estrada de Ferro Sorocabana era a que mais empregava. Não havia ainda a UNESP. Os botucatuenses eram obrigados a sair daqui, se quisessem fazer faculdade. Não peguei o apogeu das grandes indústrias do passado. Vi todo desenvolvimento acontecer. Vi chegarem as indústrias de agora. Tivemos sorte de ter grandes administradores. Assim, Botucatu se transformou no que é. Tranquila e desenvolvida. Moderna sem deixar de preservar as tradições. Lugar ideal para a gente usufruir dos bons ares e ser feliz. Parabéns, Botucatu! Parabéns botucatuenses!
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GESIEL JR./ABL – ACADEMIA BOTUCATUENSE DE LETRAS
O GIGANTE DEITADO (ilustração de Vinício Aloise ao pé do Gigante, as Três Pedras)
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“Destruir, Criar, Restaurar ...” MARIA DE LOURDES CAMILO SOUZA Ontem pela manhã escutei um estrondo na garagem, a Mindy entrou voando pela porta da sala aterrorizada. Levantei assustada e saí correndo perguntando o que tinha acontecido para a mulher do birote que nas quintas feiras vem fazer a faxina. Vi todo o peso que tinha colocado sobre uma mesa que já estava capenga no chão. Vasos de suculentas que criei estavam intactos sobre o banco ao lado. Respirei aliviada ao ver que entre “mortos e feridos todos se salvaram”. Apenas a mesa jazia quebrada no chão. Olhei para ela penalizada. E a mulher do birote saiu com esta máxima: “agora é só comprar outra!” Ao que eu respondi: “Não é bem assim, vamos colocar ali perto da parede da garagem, que depois vejo o que fazer. E falei: “comprar uma nova agora não é opção! Isto não é artigo de primeira necessidade.” E fui ajudá-la com a mesa, pois é pesada. Aproveitando que a mesa estava de pernas para o ar, verifiquei que encaixando o pé solto no seu lugar e dando umas marteladas nele para fortalecer, a mesa podia ficar em pé. Fiquei avaliando o estrago, mas achei solução em seguida, colocando a cadeira que a Mindy roeu como suporte, junto a parede. Com uma limpeza e arrumação ganhou nova vida. E a garagem ficou mais ampla. Ás vezes precisamos de uma chacoalhada, quebrar algo, para vermos a situação de frente, avaliar os danos, mudar o que precisa. Muitas vezes o primeiro impulso é jogar o quebrado fora e comprar um novo. Visão simplista, imediatista. Achamos que tudo pode ser substituído pelo novo. Nem tudo, nem sempre... Vou mais longe ainda. Hoje temos uma guerra acontecendo entre dois países lá do outro lado do mundo entre Rússia e Ucrânia. Não consigo entender isso. O que pode valer a vida de seres humanos inocentes? Sim, porque são os inocentes que pagam pelo erro dos governantes. Muita gente pensa que isso não nos afetará em nada, e segue o baile. Não é bem assim... O que acontece? Essa guerra já nos causa dano aqui em Botucatu. E sabem porque? A empresa onde o marido da mulher do birote trabalha já está tendo problemas para receber as peças de reposição que não estão chegando lá do outro lado do mundo. Estão precisando parar a sua produção por falta de peças, e os homens ficando sem trabalho. Acontece lá do outro lado do mundo... Mas tem países que já sentem falta de abastecimento do mais básico. Que Deus nos proteja a todos. Vamos orar muito! Deus nos ajude e que acabe já essa guerra insensata!
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Meu Anjo da Guarda Meu pai dizia, “mais vale a fé do que o pau da barca” e minha mãe falava que eu tinha um anjo da guarda e me ensinou sua reza,”Santo anjo, do Senhor, meu zeloso guardador... “ Assim aprendi e acreditei a vida inteira. Tenho fé e tenho meu anjo da guarda. A fé que tenho e o anjo que me guarda eu não explico. Não, não é egoísmo não. É que eu também não entendo. É certo que acredito em um criador do universo, até porque minha inteligência finita exige uma causa primeira de tudo que existe. Mas não explico minha fé, mas a tenho. Sem fé o sertanejo não planta, o cirurgião não opera, o peão não joga o laço. Nas horas duras da vida minha fé esteve comigo. E meu anjo da guarda também. Na ante sala da UTI, antes de estar nela, senti que ele, meu anjo, estava ali, cuidando de mim, como dizia minha mãe. E tudo deu certo! Quando o cavalo pampa rodô comigo lá no pasto sujo do seu Zé Carlos quem ajeitô pra ele não pranchá em cima de mim? Não, não foi a sorte. Foi meu anjo da guarda. Ora, pode ser ingênuo, simplório, acreditar em anjos da guarda, mas eu acredito. De outra parte foi um anjo que anunciou a Maria que ela seria a mãe de Jesus. Há quem diga que sou esquisito, mas que não seja porque tenho fé e acredito em anjos. Até já conheci, me valendo de minha fé, alguns anjos por aí, disfarçados de gente. Eu só queria contá que tenho fé e que acredito em anjos.