Edição 451

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Diário da Cuesta NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU

ano II

Nº 451

TERÇA-FEIRA, 19 de ABRIL de 2022

Embaúba: Árvore Símbolo da Cuesta de Botucatu! Uma viagem fantástica através de um pingo d´água que busca sua folha mãe em uma Embaúba no cume da Cuesta de Botucatu... leia na quarta página "Cuesta Rasgada")


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Diário da Cuesta

ARTIGO Maria de Lourdes Camilo de Souza Novo Tempo - Letra de Ivan Lins e Vitor Martins No novo tempo Apesar dos castigos Estamos crescidos Estamos atentos Estamos mais vivos Pra nos socorrer Pra nos socorrer Pra nos socorrer No novo tempo Apesar dos perigos

Da força mais bruta Da noite que assusta Estamos na luta Pra sobreviver Pra sobreviver Pra sobreviver

Pra que nossa esperança Seja mais que vingança Seja sempre um caminho Que se deixa de herança No novo tempo Apesar dos castigos Estamos em cena Estamos na rua Quebrando as algemas Pra nos socorrer Pra nos socorrer Pra nos socorrer

“Novo tempo” posta para o amigo Armando Moraes Delmanto. Eu acredito no “Novo tempo”, que virá depois disto tudo. E sabe porquê? Faço parte dos envolvidos, como você, assinei um contrato, num outro tempo em um longínquo lugar, numa outra galáxia. Enquanto ainda amalgamava minha forma cósmica para viver neste planeta. E desde que aqui estou, dia a dia, cocrio este novo mundo que estamos prestes a ver surgir. Órbitas invertidas, todas as estações alteradas, e até o núcleo de cada ser vivo. Tudo que vemos de energia negativa está sendo transmutada por seres que foram convocados e trabalham numa grande egrégora, numa única respiração Sagrada. E a limpeza está sendo feita lenta e minuciosamente. Todos os elementos conjuntamente trabalhando entre si. E ela está surgindo, a nova Terra. Sons, cores, flores, purificados, energizados e um belíssimo “novo tempo” há de surgir. E no novo mundo, “Apesar dos perigos, a gente se encontra, cantando na praça, fazendo pirraça, pra sobreviver. Pra sobreviver. Pra sobreviver”

No novo tempo Apesar dos perigos A gente se encontra Cantando na praça Fazendo pirraça Pra sobreviver Pra sobreviver Pra sobreviver. Lendo uma edição do jornal que com uma letra de música falava que “Nada será como antes...”, durante o sono uma voz cantava no meu ouvido. Era nada mais, nada menos que Ivan Lins. Como um cordel, vou puxar aqui uma res-

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DIRETOR: Armando Moraes Delmanto EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes Contato@diariodacuesta.com.br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689

O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.


Diário da Cuesta

Botucatuenses e turistas poderão novamente usufruir de um dos mais belos pontos turísticos do Município: a Cachoeira da Marta. No dia 16 de dezembro será realizada a reinauguração do Parque Natural Municipal Cachoeira da Marta. O local, que teve suas obras iniciadas em agosto de 2018, conta com todas as medidas de segurança executadas e testadas. A trilha que leva diretamente à cachoeira foi produzida com piso intertravado em seu início, e com madeira no trajeto de chegada à piscina natural formada pela cachoeira. Ao todo são 500 metros de descida/subida, com altimetria de 23 metros; é cercada por corrimãos de madeira para

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garantir a segurança de turistas, e também possui banco para descanso. Placas também foram instaladas para orientação aos visitantes. O Parque da Cachoeira da Marta também conta com um estacionamento próprio para a utilização dos visitantes. São aproximadamente 30 vagas para carros e motos. Por se tratar de uma UC (Unidade de Conservação Integral) foram feitos estudos como o de capacidade de carga, que estipula quantos visitantes o parque pode receber de modo sustentável. Nesse estudo, foi estimado que 250 pessoas podem visitar a cachoeira por dia. O horário de visitação do parque será das 9 às 17 horas, com entrada permitida até às 16 horas. Pensando na preservação da Cachoeira e das trilhas, bem como no lazer da população, a Prefeitura está implantando um voucher gratuito para a visitação, que nos primeiros meses funcionará em modo teste, orientando os turistas e visitantes e realizando um cadastro prévio para o ingresso ao parque. Esse voucher está disponível no site da prefeitura e também na recepção do parque, podem ser acessado pelo link http://189.1.152.34:8080/calendar/index.php. Da mesma forma, foram instituídas normas para a visitação do Parque, que serão fiscalizadas pelos profissionais da Secretaria de Educação e Secretaria do Verde, que atuarão no local em todos os dias de funcionamento. Dentre as principais normas estão a proibição do consumo de bebidas alcoólicas, cigarros e afins; consumo de alimentos no percurso da trilha; uso de qualquer tipo de aparelho sonoro; entrada de animais domésticos; e uso de churrasqueiras. Em toda a extensão do Parque será obrigatório o uso de máscara e tráfego de pessoas somente pelas trilhas, seguindo as placas de sinalização e advertência. O Parque receberá a visita constante do Grupo de Proteção Ambiental da Guarda Civil Municipal. (Acontece Botucatu)


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CUESTA RASGADA

Diário da Cuesta Diário da Cuesta

Cláudio de Almeida Martins

No princípio de uma manhã, soltei-me da ponta de uma folha de embaúba, lá do cimo da Cuesta. No início, quase devagar e flutuando, meu corpo começou a girar e a cair. Não havia escolhido o percurso a seguir e nem aonde queria chegar, mas, mesmo assim, atirei-me ao desafio que o destino havia escolhido, com a vontade férrea, que é comum aos seres determinados. Ao primeiro balanço da folha, dei um leve rodopio no ar e já pude divisar, do alto em que me encontrava, um cenário antes nunca imaginado. Pude observar, com os olhos de um menino curioso, os contornos de uma Cuesta extraordinária. À medida que eu viajava, pude ver a união exuberante da natureza. Eram árvores frondosas, médias, miúdas, todas em perfeita harmonia. Eram flores grandes e pequenas, frutos bonitos e outros nem tanto, mas o conjunto dessas diferenças, mostrava um resultado indescritível, uma aquarela divina, que jamais um ser humano conseguiu registrar numa tela ou num escrito. E fui caindo. E fui descendo. Quanto mais ia me aproximando das copas das árvores, pude ir distinguindo as peculiaridades de cada uma. Era o amarelo puro de um Ipê, o rosado de uma Paineira, o verde claro de um Pau-de-Santo, as rugas de um Barbatimão, as folhas enfileiradas de um Cedro, o tronco tortuoso e comprido da Bracatinga, as bolinhas do Cinamomo, o amarelo do Bambu Canário, os espinhos da Mamica de Porca, o brilho das folhas miúdas do Sangue Negro, as vagens do Ingazeiro, as folhas de sobre tom da Fruteira de Lobo, a cor branca dos frutos do Salta Martim. Nesse meu vôo livre, pude perceber, que por entre todo esse emaranhado de árvores e de vegetação rasteira, outro tipo de vida existia. Eram Preás em atividades incessantes, Pacas num contínuo remoer, Veados em bandos, Tamanduás escarafunchando cupinzeiros, Cachorros do Mato em matilhas, Gatos do Mato ariscos no

ambiente, Capivaras no tijuco, Sanhaços nos pés de amora, Sabiás, Coleira, Laranjeira e Póca nos pés de Guabiroba, Almas de Gato com ares de sonhadores, Jandaias arrelientas, Siriemas correndo atrás de pequenos insetos, e pude ouvir o zumbido do frenético vai e vem das abelhas e sentir o aroma do mel que produziam. E fui descendo em queda livre até que toquei numa folha de amendoizeiro e escorri pelo seu tronco. Dali, precipitei-me novamente no vazio. Agora minha viagem já se fazia mais rápida. Fui girando. Fui dando voltas e mais voltas. Sabia que estava bem mais próximo a ter contato com uma nova realidade antes nunca experimentada. E cheguei. Bati numa rocha de cor escura e pelas suas fendas fui deixando parte de mim. Deslizei rápido, mas não tão rápido que me impedisse de observar a realidade que se mostrava. Passei por grotas maravilhosas e encantadoras, que, se vistas por poetas ou escritores, com certeza se tornariam o centro de uma obra prima. Despenquei de uma pedra lisa para a imensidão, não sei precisar quanto tempo fiquei no ar, mas foi o suficiente para ver que por um pequeno vão da mata, um grupo de pessoas caminhava. Consegui observar que não eram mais que três figuras e não estavam sós. Junto a eles, cinco animais caminhavam. Eram burros carregados com tralhas, pelo que pude perceber, bem pesadas. Os homens caminhavam lentamente, e de forma ritmada buscavam o acesso mais fácil não tocando nas vegetações à volta. Verifiquei que respeitavam-se mutuamente, a natureza permitia a passagem deles e eles, em contrapartida, não a agrediam. Sei que não é possível, mas senti lágrimas correrem de mim, um casamento perfeito. De repente, deixei de ver os homens e pude sentir que estava en-

trando em contato com outros iguais. Entrei num turbilhão de irmãos. Todos unidos, presos a um só rumo. Segui, não me opus. Com essa união me senti mais forte e mais rápido, a cada momento sentia encantamento diferenciado. Em determinado momento estava no centro de um redemoinho, em outro fazia parte de uma correnteza, em outro nas voltas dos remansos e, num relance, fui sumindo. E fui me desfazendo. Fui me sentindo mais leve. Alcei vôo por entre as árvores em forma de neblina e fui alcançando suas copas. E fui caminhando. Num relance, senti que estava vendo a folha da Embaúba que me recolhera. Fui-me distanciando. Subi. Viajei. E como viajei. Não sei quanto tempo girei pelos ares e por onde, só sei que divisei mundos diferentes, mundos verdes, secos, floridos, frios, agradáveis e indiferentes. Não sei se foi por causa do meu nascimento, mas nunca deixei de pensar na minha folha de Embaúba e da Cuesta de minha infância. Nunca achei outra vista tão bela quanto àquela da primeira experiência. Num momento, que para mim foi mágico, fui me formando como no início. Senti que tomava corpo. Senti que os meus pedaços estavam se unindo novamente. Em meio a fortes barulhos e clarões pude ir distinguindo meus novos rumos. Foi rápido. Desci felozmente num redemoinho e parei sobre uma superfície lisa. Quando abri os olhos novamente, vi que me encontrava numa folha de embaúba, no cimo da Cuesta. Fiquei radiante de alegria. Até que enfim estava de volta ao lugar que mais me agradava. Aguardei ansioso para a viagem que por certo iria fazer. Fiquei por um bom tempo repousando na minha folha mãe, sentindo a ternura e a carícia do amor materno. Enfim o momento tão aguardado chegou. Soltei-me com o maior prazer no devido momento, agora iria rever o meu cenário de sonho. Eu queria ver minha natureza estampada na retina dos meus olhos. Onde, onde se escondera a minha infância? Não conseguia mais ver muitas das árvores, irmãs de nascimento. Aonde estavam os Sangues de Negro, as Paineiras, os Gravatás, os Ingazeiros? Aonde estavam? E os Sanhaços, os Bem-te-vis? Cadê as Codornas, as Perdizes, cadê? Muito pouco pude encontrar em meu retorno, e o que encontrei, estava todo escondido, camuflado, amedrontado.

Procurei pelas flores, pelos frutos e nada. O muito pouco é o nada para mim. Vestígios, nada mais que vestígios. Dos homens, que observei respeitando o meu mundo, nem os rastros. Agora, percebi cicatrizes imensas encravadas na carne de minha Cuesta. Pude sentir o cheiro acre da poluição que as máquinas deixam ao subir pelas costas desse corpo sagrado. As comitivas se tornaram predadoras. Minha Cuesta foi rasgada. Tiraram dos meus olhos a beleza da minha infância e, em seu lugar, nada puseram. Desta vez foi rápido. Não consegui caminhar devagar, não tinha onde me segurar, desci velozmente. Minha Cuesta, sou um pequeno pingo d’água que perdeu seu brilho porque você foi violentada, foi açoitada e não consegue mais mostrar sua beleza natural. Minha Cuesta, você foi rasgada e não consegue mais viver feliz. Eu também não consigo mais viver, não consigo mais completar meu ciclo natural de vida. Tudo mudou. Os meus irmãos não podem ser normais, eles vivem se alternando, mudando suas trajetórias. E assim ocorreram as inundações, surgiram os estios infernais, e minha Cuesta nunca mais foi igual. Estou em peregrinação constante pelos céus, atento a tudo que acontece na terra. No dia em que minha Cuesta receber o curativo, para fechar a sua ferida, volto à minha folha mãe, da Embaúba, e começo minha vida de pingo d’água, feliz, brilhante, e sei que, meus irmãos, generosos como são, se unirão a mim e assim retornarão as estações normais na Cuesta. Eu fui um pingo d’água e hoje sou vapor, mas posso retornar se você trabalhar para reunir meus pedaços. As feridas podem ser curadas e para isso necessitam de muito amor e carinho. Sei que cicatrizes ficam, serão restos de uma história infeliz, da ação de ignorância violenta. Espero que, em minha próxima viagem, possa descer tranquilamente em minha folha mãe, e nunca tenha que atravessar um buraco de telhado para repousar, sobre a tela de quadro de Museu, que tenta retratar uma folha de Embaúba...extinta. S. O .S. S. O .S.....Cuesta Cláudio de Almeida Martins (Acervo Peabiru)


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