Edição 47

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Diário da Cuesta

ano I Nº47

NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU

SÁBADO E DOMINGO, 02/03 de janeiro de 2021

PAULO FRANCIS E BOTUCATU O maior e mais polêmico jornalista brasileiro do final do século XX. No livro “MEMÓRIAS DE BOTUCATU 2” tinha a abertura do livro com uma citação de Paulo Francis: “Para mim, uma cidade sem passado, sem lembrança concreta de seus antepassados, sem as impressões digitais de sua história, me confrange... “ Página 3

NOVO ESPAÇO DE LAZER MUNICIPAL

Novo espaço de lazer para os moradores do Residencial Cedro, Jardim Aeroporto e de todo o entorno da região. O calçamento está quase pronto e terá também uma quadra esportiva, playground, academia ao ar livre e paisagismo. A previsão do término das obras é para o primeiro semestre de 2021.

EVITE AGLOMERAÇÃO FAÇA DISTANCIAMENTO SOCIAL


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ARTIGO

Diário da Cuesta

A CONVERSÃO DA MADRINHA

Roberto Delmanto Pertencente à família Machado, uma das mais antigas de Botucatu, ela era a principal dama e a líder católica da cidade em meados do século retrasado. A população a conhecia por Madrinha, pois a maior parte dos habitantes era sua afilhada. À época, Botucatu não dispunha de hotéis ou pousadas, nem de hospitais. A falta era suprida pela sua ampla casa, onde os visitantes eram hospedados em um dos vários quartos, sendo o subsolo reservado para atender os enfermos. Para que as roupas dos doentes não se misturassem com as outras, mandou construir em seu quintal um grande tanque de madeira redondo, com um mastro fixo ao meio e a ele presas duas grandes pás giratórias, as quais eram movimentadas por dois cavalos tocados por um empregado. Com sabão e desinfetante fartamente colocados, tudo era higienizado. A inteligência da Madrinha criou, assim, a precursora das futuras máquinas de lavar. Certa ocasião, os protestantes norte-americanos começaram a enviar ao Brasil seus pastores. Todos eram muito cultos e grandes oradores, falando com perfeição o português. Um deles foi o pastor Mackenzie, que viria a fundar, na Capital, a Universidade que tem seu nome, uma das melhores e mais tradicionais do Estado. Já outro pastor foi a Botucatu. Madrinha, mulher desprovida de preconceitos, mantendo a hospitalidade, o recebeu em sua casa. Logo na primeira noite, após o jan-

tar, ele pediu para dizer algumas palavras. Com sua permissão, fez então um discurso dos mais belos, profundos e comoventes, levando os presentes, inclusive a anfitriã, às lágrimas. No dia seguinte, Madrinha mandou retirar todos os santos de sua casa e foi comunicar ao pároco, pessoalmente, que se convertera ao protestantismo. Difícil imaginar o escândalo causado na pequena comunidade, maciçamente católica. Para sobreviver em qualquer parte do mundo, as minorias religiosas têm de dar o exemplo de correção e honestidade. Assim o fez Madrinha, criando seus filhos dentro de rígidos padrões morais e éticos, ninguém sendo capaz de atribuir-lhes o menor deslize. Formou-se com ela um matriarcado, desafiando o patriarcado dominante. Tempos depois, hospedou em sua casa Eugênio Cananéia de Almeida, que viera instalar o primeiro telégrafo da cidade. Ele, que mais tarde se tornaria coronel do exército, apaixonou-se por uma das filhas de Madrinha, conhecida por Sinharinha, e com ela se casou, passando a família a ser conhecida por Machado de Almeida. Um dos filhos do casal, educado nos mesmos padrões da avó, foi meu sogro Elias Machado de Almeida. Engenheiro civil formado pelo Mackenzie, tornou-se um dos mais renomados da Capital, sendo construtor de inúmeros imóveis que até hoje perduram e da Hípica Paulista. Homem corretíssimo e muito idealista, participou de duas revoluções de-

Dante Delmanto e Elias Machado de Almeida. mocráticas: a de 30, em que foi prefeito nomeado de Santos; e a de 32, em que integrou a segunda diretoria do MMDC, organização secreta com as iniciais dos nomes dos quatro jovens que primeiro tombaram- Martins, Miragaia, Draúsio e Camargo- três deles estudantes do Largo de São Francisco, embrionária do movimento épico paulista. Em 35 era eleito, juntamente com meu pai Dante, deputado estadual constituinte paulista pelo Partido Constitucionalista. Na fotografia do dia da posse, os dois, ainda solteiros, premonitoriamente aparecem lado a lado em uma das suas extremidades. Quis o destino que os filhos de ambos- Suzana e eunos casássemos, vindo a ter três filhos e três netos, todos descendentes da Madrinha. Esta crônica talvez explique porque Botucatu tem uma das mais belas igrejas protestantes do Estado...

É bom saber. O artista plástico e conhecido webdesigner botucatuense Marco Antonio Spernega, foi quem idealizou a Cuesta de Botucatu estilizada e com todo o seu simbolismo: a escarpa, o verde representando as nossas matas e o azul do céu... A criação do Spernega valorizou a nossa CUESTA que teve, em sua estilização, o impacto que as obras dos grandes artistas tem. Vejam no Expediente o logotipo do Diário da Cuesta! Marco Spernega tem exposto seus trabalhos em concorridas exposições. Esta ilustração é uma obra de arte e de simbolismo histórico! DIRETOR: Armando Moraes Delmanto

EXPEDIENTE NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU WEBJORNALISMO DIÁRIO

EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes Contato@diariodacuesta.com.br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689

O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.


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Diário da Cuesta

a r t i g o PAULO FRANCIS Desde o lançamento do Diário da Cuesta que estava programada uma homenagem ao jornalista Paulo Francis, o maior e mais polêmico jornalista brasileiro do final do século XX. O aguerrido intelectual brasileiro “deu seu adeus às armas” na cidade de Nova York. Perda irreparável... Com 66 anos de idade, Paulo Francis estava no auge de sua vitoriosa carreira. Tendo atingido o “estado de graça” no exercício da cidadania, Paulo Francis era dos raros brasileiros que podia se dar ao luxo de dizer, sempre, o que pensava. As suas críticas e as suas observações iam do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, passavam por intelectuais “politicamente corretos” como Antônio Houaiss e “peneiravam” políticos como Lula da Silva e Mário Covas. Não precisava agradar a ninguém. O seu sucesso estava, exatamente, em dizer o que todos gostaríamos de dizer... Nós. particularmente, sempre fomos admiradores dos escritos de Paulo Francis. Ele faz parte de uma galeria de brasileiros que fizeram do jornalismo a porta principal na defesa da cidadania, tão necessária a este país. Com David Nasser. Carlos Lacerda, Samuel Wainer. Nelson Rodrigues e poucos mais, Paulo Francis foi modelo de profissional competente e vencedor. Durante 25 anos, em Nova York, ele fazia o contraponto da política e da cultura brasileiras. Uma citação famosa de Paulo Francis era lapidar : “...a imprensa brasileira devia ter mais personalidade, mais opinião... “ Muito culto, escritor, ator e crítico teatral, estudioso, não se deixava “encantar pelo sucesso passageiro”. Foi um guerreiro. Um vencedor. Em 1993, no lançamento do 2° volume do “MEMÓRIAS DE BOTUCATU” , fazíamos a abertura do livro com uma citação de Paulo Francis : “Para mim, uma cidade sem passado, sem lembrança concreta de seus antepassados, sem as impressões digitais de sua história, me confrange... “ Brilhante! Diz tudo... Em 1991, tínhamos uma coluna, “RECADO URGENTE’ , no Jornal de Botucatu e, em 04/01/91, escrevíamos o artigo “Paulo Francis, Ítalo Rossi, Luthero Maynard e outros...” Nesse artigo, fruto de “garimpagem beneditina” na grande imprensa de tudo que era relacionado a Botucatu. fazíamos a sugestão de que

o Poder Público fizesse um trabalho dirigido objetivando a divulgação positiva de nossa cidade. Com certeza, a própria sonorização da palavra BOTUCATU propiciou a que fosse usada como referencial pouco sério... Dois momentos de Paulo Francis no espaço de praticamente 20 anos... Vamos ao artigo : “É extremamente importante que se busque - caso a caso - o resgate da imagem de Botucatu. A imprensa brasileira tem trazido citações de pessoas famosas que denigrem a imagem de Botucatu. São citações que tomam Botucatu como referencial negativo, como mau exemplo. Três dessas citações tínhamos arquivadas para estudo e posterior análise: a do ator botucatuense ITALO ROSSI, que em entrevista à revista “Manchete “ (de 4/6/77), sobre o sucesso de sua carreira, ao dizer que era botucatuense o fez de forma pouco elogiosa à cidade; a do jornalista Luthero Maynard (sobrinho do Prof. Alceu Maynard de Araújo, botucatuense de coração e Patrono da Academia Botucatuense de Letras) que em sua coluna “Definições”, no jornal “Folha da Tarde “,de 12/12/90, de forma gratuita fez a seguinte afirmação: “O inferno existe. E é pior que Botucatu “, e a do jornalista brasileiro mais agressivo, culto, idolatrado e bem pago do momento: PAULO FRANCIS. Temos dois registros de Paulo Francis referentes à Botucatu. O primeiro, data de 13/12/73, quando em sua coluna no jornal carioca “Tribuna da Imprensa “, referindose à eleição do Presidente Ford pelo Congresso Americano em substituição a Nixon que renunciara, dizia que «... o Congresso, seguindo a vigésima-quinta emenda da Constituição “elegeu” Ford, mas lugar de executivo é em próprio executivo e não legislativo. Ford fez todos os ruídos apropriados de lealdade a Nixon, por certo. Deve o diabo a Nixon. Chega a vice-presidente da nação mais poderosa do mundo, tendo um nível de competência de vereador de Botucatu. É tão chato que ninguém se dá ao trabalho de acatá-lo. Mas não bate carteira. Já é alguma coisa nos Estados Unidos de hoje “. O segundo registro, nos traz o consagrado jornalista em sua coluna do jornal “Folha de São Paulo”, de 26/01/89, analisando o Presidente Bush, recém eleito, e sua mulher Barbara : «...Ela tinha 16 anos quando

conheceu Bush, foi o primeiro e, presumivelmente, o último que beijou na boca, porque foi amor a primeira vista. Sabe-se que ela prefere mil vezes ficar em Kennebunkport, o palácio da família , no Maine, mas o que fazer ? Toda mulher inteligente sabe que os homens são essencialmente infantis toda a sua vida e precisam fazer alguma coisa que os faça sentir realizados, já que não podem, como Barbara, ser mãe, avó e “with a litle bit of luck”, bisavó . Há 42 pessoas da família Bush com quem ela convive. Basta como “realização “. Mas não para George. Sabe-se que Barbara odeia Washington, que acha. corretamente, provinciana, Botucatu-sur-mer, e , nunca disse, mas imagino que considere o Texas uma aberração da natureza, mas foi lá que Bush, financiado pelo Tio, brincou de empresário e começou sua carreira política. “ Dá para formar um quadro crítico ? Botucatu tem sido usada como referencial negativo, como exemplo do que há de pior. Que fazer ? Lançar artigos agressivos contra esses notáveis ? Fazer Moções indignadas através da Câmara Municipal ? Que fazer?’’ Talvez um trabalho de relações públicas direcionado e de alto nível surta melhor resultado ou algum resultado. O importante é que as autoridades constituídas e as forças culturais da cidade realizem um trabalho profissional que busque a divulgação junto a essas pessoas e à mídia em geral de que Botucatu tem, sim, os seus defeitos, como qualquer cidade, de qualquer Estado, de qualquer país, mas que tem também as suas coisas boas, que são muitas, tem um povo bom, mesclado de tantas raças quanto o próprio Brasil e que esse mesmo povo, através dos tempos, a tem colocado em destaque perante a história paulista e nacional. “ Luthero Maynard e Paulo Francis esclareceram que não citaram Botucatu com “animus injuriandi”, muito pelo contrário... Os dois volumes do “MEMÓRIAS DE BOTUCATU” e este artigo transcrito chegaram às mãos de Paulo Francis, através do malote que o jornal “O ESTADO DE SÃO PAULO” enviava regularmente àquele seu jornalista. A imprensa brasileira e nós todos brasileiros participantes - prestamos nossa homenagem a esse excelente profissional. O Brasil, com certeza, perde um de seus mais positivos referenciais do correto exercício da cidadania. PAULO FRANCIS honrou o jornalismo brasileiro. Enfrentou com destemor os “politicamente corretos” e os “mansamente engajados’’. Foi poderoso. Foi vencedor. (A.M.D)


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Diário da Cuesta

“Por uma nova visão do Paraíso”

A preocupação com a ecologia, hoje, tem destaque e apoios no mundo todo. Mas, nem sempre foi assim... O mundo passou a “pensar” a ecologia com seriedade e preocupação em meados dos anos 60. Os EUA e a Europa foram os primeiros a sentirem a “explosão da ecologia”, preocupação que só chegou até nós em meados dos anos 70. Nessa época eram pouquíssimas as associações (ONGs) que tratavam desse grande problema para a humanidade. Hoje, a proliferação de entidades e associações que “cuidam” do assunto é gigantesca, forçando a que haja uma pesquisa relativa à confiabilidade das ONGs e ao engajamento concreto de seus dirigentes. Em seu emblemático artigo “Por uma nova visão do Paraíso” (revista Pau Brasil, julho/agosto de 1984 e revista cultural Peabiru, janeiro/fevereiro de 1999), Alberto Dines nos trazia a sua preocupação com o tema, resgatando a peça fundamental de qualquer “brasiliana”, escrita por Sérgio Buarque de Hollanda, em 1931: “Visão do Paraíso” (Editora José Olympio,1932). Na obra, destaca Dines, o historiador procura o cenário do Novo Mundo que seria ocupado pelos europeus, especialmente pelos espanhóis e pelos portugueses, sendo certa a diferença da visão que eles tinham do “paraíso”, com o pragmatismo dos espanhóis e com o caráter imaginativo dos portugueses, traços particulares

da formação espiritual desses dois povos E isso seria marcante na atuação de ambos no continente americano. Dines diz que “a recuperação do meio ambiente é uma das missões cruciais na pauta deste (novo) renascimento. A natureza é a própria representação do Paraíso, seja no seu visual - bucólico ou agreste – seja na simplicidade dos

seus mecanismos. Resgatá-la, passou a ser um dos primeiros compromissos deste novo ser humano, alquebrado e iluminado, machucado e pertinaz.” E diz mais: “Ecologia, que há 20 anos era apenas a ciência que estudava o relacionamento entre os seres vivos e seu meio ou ambiente, transformou-se em cruzada. Saiu das universidades, centros de pesquisas para ganhar foros de religião, mística, culto, ideologia. Na fulminante trajetória do progresso, cujo apogeu resume-se ao curto período de três mil anos, a cada avanço tecnológico ou científico corresponde sempre um gesto de defesa. Do alfabeto à TV – para mencionar apenas o processo de comunicação – cada passo adiante foi recebido com dúvidas e ressentimentos. Era o medo do aprendizado, medo do desconhecido, insegurança. Não se discutia o progresso, mas suas conveniências.” Hoje, o mundo todo vive essa preocupação concreta com a preservação do meio ambiente. E o avanço tecnológico ou científico - que hoje pode ser do alfabeto à revolução da informação pela internet – consolida cada vez mais parcelas conscientes dos mais variados povos compromissados com a ecologia e com o resgate do “Paraíso” que idealizamos para as gerações vindouras. (AMD) Comentários: 1 -Ainda bem que temos jornalistas conscientes e comprometidos com a melhoria do meio ambiente, da informação objetiva e cidadã e com o envolvimento da sociedade organizada na defesa de um mundo melhor para a humanidade. Os nomes de Alberto Dines, Claudio Willer, Newton Rodrigues, Miguel Abellá,

Ênio Squeff, João Pedro Costa, Washington Novaes e tantos outros representam um raio de esperança na boa orientação da sociedade brasileira para que participe consciente de temas vitais para o nosso futuro. Muito boa a lembrança do trabalho pioneiro de Alberto Dines e das revistas “Pau Brasil” e “Peabiru”. Valeu! (haroldo-leao@hotmail.com) 2 - Atenção!!! Existe uma organização denominada “CHRISTIAN CHURCH WORLD COUNCIL” sediada na SUIÇA. Essa organização tem 6 entidades em sua direção: “Comitê International de la Defense de l´Amazon”; “Inter-American Indian Institute”; “The International Ethnical Survival”; “The International Cultural Survival”; “Workgroup for Indigenous Affairs” e “The Berna-Geneve Ethnical Institute”. Está estranhando? Pois tem mais! No seu estatuto, o item I, diz o seguinte: “É nosso dever garantir a preservação do território da Amazônia e de seus habitantes aborígines, para o seu desfrute pelas grandes civilizações européias, cujas áreas naturais estejam reduzidas a um limite crítico”. Que os políticos brasileiros, mas principalmente, que a sociedade organizada fique atenta para essas ONGs “fajutas” cheias de gringos que estão vendendo, esse é o termo exato, vendendo o Brasil para os estrangeiros. (pinto. rodolfo28@yahoo.com.br)


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