Diário da Cuesta NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU ANO II Nº 470 QUARTA-FEIRA, 11 MAIO DE 2022
SALVADOR DALÍ
Considerado o Mestre do Surrealismo, Salvador Dalí é uma das figuras mais importantes da história da arte do Século XX. Nascido em 11 de maio de 1904, Salvador Dalí i Domènech, 1º Marquês de Dalí de Púbol foi um importante pintor espanhol, conhecido pelo seu trabalho surrealista. O trabalho de Dalí chama a atenção pela incrível combinação de imagens bizarras, oníricas, com excelente qualidade plástica. Dalí foi influenciado pelos mestres do classicismo.
ACADEMIA BOTUCATUENSE DE LETRAS
2
Diário da Cuesta
GERAÇÕES DA CIDADANIA BOTUCATUENSE
HOMENS QUE FIZERAM BOTUCATU!
GASTÃO DAL FARRA
Que nos unia uma profunda e sólida amizade seria fraco argumento para estes instantes. Havia algo mais, uma afinidade remota que nos aparentava e que tinha nele a viva expressão cavalheiresca que se sobressaia dentre seus muitos e autênticos atributos. Uma distante Varoli – Cezira – casara-se com um também distante Rizzo – José – lá pelos princípios do século. Ambos, pelo lado materno. Por isso encontramo-nos amiúde, em nossa longíngua adolescência, junto ao leito do Afonso – primo comum – tuberculoso e pobre. Aprendemos a aquilatar-lhe os tesouros do coração, vendo-o fazer rir o enfêrmo, pelas mil formas e sortilégios que ele improvisava naquela sua mal disfarçada sensibilidade de alma magnânima, grande e infinitamente emotiva. Todas as tardes, após as aulas da Normal, o estudante descia à casinha humilde e por horas assistia, naquele seu modo descontraído e alegre, o jovem consumido pelas febres e hemoptises. Querido e admirável samaritano! Que as portas da Eternidade feliz se lhe abram na luminosidade de tanto altruísmo! Mais ainda que a afinidade, crescemos juntos na saudosa Curuzu de tantas e tantas imorredouras saudades. Ele animou a rua poeirenta com as ruidosas partidas de futebol de garoto. Pelas noites tranquilas, o violão e a sanfona acompanhavam a voz romântica do cantor sentimental e amoroso. Fez-se adulto. Casou-se. Encontrou na Jesumina, a alma irmã que lhe completava os arroubos da sentimentalidade, da inteligência e da arte. E vieram as filhas. Quatro Marias, na continuação esplendida de um mundo familiar alegre, descontraído, maravilhoso, feliz. Seus muitos dotes inatos, levaram-no a professor de desenho do La Salle e de desenho industrial, na antiga e renomada Escola Dr. Armando Salles de Oliveira. Além de reconhecido mestre, fez- se o incrível amigo dos alunos, herdeiros de sua cultura e de seu talento. Lá se aposentou como Secretário da Escola. Homem dos sete instrumentos, ele foi um habilidosíssimo artista do pincel, do entalhe, da caligrafia, da gravação, das ilustrações brilhantes, dos pergaminhos. Em seu atelier que frequentamos sempre com imenso prazer, dele saiamos mais contagiada pelo seu humor sadio, sua filosofia alegre, sua conversação brilhante e irradiante simpatia. Apaixonado do folclore caboclo entremeava a prosa caipira com os dialetos peninsulares que ele manejava com perfeição. Imitador e piadista, músico e cantor, foi a seu tempo um autentico “showman”, capaz de uma programação completa em espetáculos beneficentes aos quais nunca se furtou. Estudioso atento prestou sua valiosa contribuição à História de Botucatu coligindo e editando toda a obra de Angelino de Oliveira espalhada e perdida pela boêmia incorrigível do Autor.
EXPEDIENTE NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU WEBJORNALISMO DIÁRIO
Na voz de Maria Lúcia, essas composições transpuseram fronteiras e se englobam hoje ao cancioneiro universal. Foi o desenhista-autor inconteste do Brasão e Bandeira do Município que a mediocridade de então substituiu, anulando-lhe a legítima autenticidade. Quando a reação popular exigiu a volta, perpetuou- se mediante concurso popular, seu nome, nos anais botucatuenses. O primitivo brasão fixado às portas do primeiro centenário da vida botucatuense malgrado as imperfeições heráldicas, marcou-lhe afetivamente a perpetuidade. Colaborador assíduo e gracioso da Academia Botucatuense de Letras, fixou seu nome na crônica acadêmica, oferecendo-lhe o brasão respectivo que é uma legitima e artística obra de arte, pela síntese bela e elegante. Com o seu desaparecimento inesperado, encerra-se mais uma brilhante e nítida página da História de Botucatu. (Por Elda Moscogliato - A Gazeta de Botucatu - 28/02/1986 )
DIRETOR: Armando Moraes Delmanto EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes Contato@diariodacuesta.com.br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689
O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.
Diário da Cuesta
3
UMA AULA SOBRE RIOS BRASILEIROS NANDO CURY Peço licença para imaginarmos um transporte no tempo até momentos de aulas de Geografia. Estamos sentados nas cadeiras de uma sala imensa de um conhecido cursinho paulistano. Todos com os olhos e ouvidos empolgados com as explicações do Professor Paulo Kobayashi. Naquele dia de aulas do Koba o tema é Bacias Hidrográficas Brasileiras. Dá pra sentir, ecoando nas paredes da sala, as frases da voz forte do Koba, enquanto ele aponta sua varinha em direção à tela, clareando os principais rios do país. (KOBA) “Ao Norrrrrte do Brasil o Rio Amazonas, com toda a sua exuberância. Nasce em terras peruanas, na montanha Nevado Mismi da Cordilheira dos Andes. Então, atravessa o território brasileiro e vai desaguar no Oceano Atlântico. É simplesmente o maior rio do mundo, com seus 7.050 km de extensão.”. Numa mesa ao lado, dois monitores-DJs estão assessorando o Koba. Aproveitam uma parada do professor para pegar um copo d`água e incluem um som ambiente nas caixas espalhadas pela sala. Ouve-se a canção “Rio Amazonas” de Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro, cantada por Renato Braz e Zé Renato. “Nas águas do Rio Amazonas. O meu coração se banhou. No fundo encantado. Do lado de lá. A voz da Iara chamou. Ouvi chamar. Seu canto. Cruzou o Amazonas. No bico de um sabiá.” Koba volta, levanta a mão dando um sinal aos monitores, que abaixam o som até fade out para ele retornar à explicação. (KOBA) “O Amazonas é também o rio que apresenta o maior volume de água do mundo, provocando um choque e grande barulho ao encontrar o mar. Esse fenômeno em sua foz, recebe o nome de pororoca. Para movimentar tanta água, vocês imaginam quantos afluentes tem o Amazonas? Vou dar algumas opções. Que tal oitenta e dois? Trezentos e vinte? Quatrocentos e cinquenta e três? Setecentos e trinta e sete. Ou um mil e cem? Quem acha que são oitenta e dois afluentes levante a mão. Aqueles que pensam que são trezentos e vinte... A resposta certa é um mil e cem afluentes, sendo os principais o Negro, que fica na sua margem esquerda e tem 2.250 km. E o Rio Madeira, na margem direita, com 3.240 km “. Em seguida, os monitores entram com “Imagens”, uma composição de Marlui Miranda e Otávio Afonso, cantada por Marlui Miranda que cita o Rio Madeira. A um novo sinal do Koba, monitores abaixam a música para ele voltar ao tema. (KOBA) “Concentração geral para um outro grande rio. Conhecido como rio da integração nacional, o São Francisco tem 2.830 km de extensão, atravessando 521 municípios de cinco estados: Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. Sua água é usada na irrigação da agricultura da região, especialmente no semiárido, onde são cultivadas diversas frutas. Nas margens do São Francisco vivem os ribeirinhos, que representam cerca de 10% da população do país. Muitos dos quais são pescadores, lutam pela preservação do rio e vivem da dieta feita à base das 152 espécies nativas de peixe. Além disso, o São Francisco abriga seis usinas hidrelétricas: Três Marias, Paulo Afonso, Moxotó, Sobradinho, Xingó e Itaparica.” Os monitores avisam Koba e, pelo microfone, anunciam “Sobradinho” de Sá e Guarabyra, uma canção lançada em 1977, destacando uma mensagem de protesto contra a construção da usina hidroelétrica do mesmo nome. Na sequência, lembram como o São Francisco é reverenciado por vários outros cantores. Geraldo Aze-
vedo, por exemplo, dedicou o álbum “Salve São Francisco” ao rio que passa em sua cidade natal Petrolina. Escolhem a canção “Barcarola do São Francisco”, de Geraldo Azevedo e Carlos Fernando. “É a luz do sol que encandeia. Sereia de além mar. Clara como o clarão do dia. Mareja o meu olhar. Olho d’água, beira de rio. Vento, vela a bailar. Barcarola do São Francisco. Me leve para o mar”. O horário de aula já está acabando e Koba retoma a palavra para lembrar mais um rio gigante. (KOBA) “E pra completar a primeira parte das Bacias Hidrográficas Brasileiras quero falar sobre um dos mais importantes rios da América do Sul, o rio Paraná.” Desta vez, Koba pede música e os monitores atendem prontamente com “Rio Paraná”, de Ary Toledo, nas vozes e toada de Tonico e Tinoco. “Paraná, correndo sempre, vem descendo a cabeceira. Rolando terra vermeia, cavando praia de areia. Rola espuma, rio grande, vem e sarta a cachoeira. Ai, barranca do Rio Paraná”. Koba faz novamente o gesto pra abaixar o som e continua. (KOBA) “O Paraná é também um rio imenso, com 4.880 km. Nasce da confluência dos rios Paranaíba e Grande, nas divisas de São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso. E corre para o sul do país, criando a divisa natural entre a Argentina e o Paraguai. Tem quatro usinas hidrelétricas, sendo Itaipu a mais importante e a segunda maior do mundo. Então o Paraná segue pelo território argentino até desaguar no estuário do rio da Prata. Com o seu principal afluente, o Rio Tietê, forma a hidrovia Tietê-Paraná. Então, pra completar, quem pode indicar um dos principais afluentes do rio Tietê?” Lá do fundo da classe alguém grita, forçando um sotaque caipira: - Rio de Piracicaba, mestre. (KOBA) “Resposta correta. Tem música saideira?” - Sim, responderam juntos os monitores, colocando a canção Rio Piracicaba de Lourival Dos Santos, Piraci e Tião Carreiro, com Tião Carreiro e Pardinho. Nota: Singela homenagem ao professor Paulo Kobaiashi, o grande Koba.
4
Diário da Cuesta
Numa agência bancária... Maria De Lourdes Camilo Souza
O trabalho numa agência bancária pode ser tudo, menos monótono. Tínhamos dias de muito trabalho, principalmente nos dias de pagamento dos trabalhadores. tínhamos mais tranquilos também. Cada um de nós tínhamos nossos clientes especiais e fiéis. Quem conheceu o Sr. Prado, com seus cabelos brancos, fala mansa, pessoa boníssima. Adorava um bacalhau e um bom vinho. Ele tinha muitos clientes que muitas vezes formavam filas á frente de sua mesa para serem atendidos. Desde gente rica até os muitos mais humildes. Uma muito conhecida dos funcionários da agência era uma senhora dos seus sessenta anos que vinha acompanhada de sua mãe de mais de oitenta. Chegava e ficava à espera do Sr. Prado, e mesmo sem ter ninguém ali para atendê-la, o aguardava impaciente. Era uma mulher magrinha, cabelos castanhos curtos. Uma expressão severa de gente exigente. Quem trabalhou comigo vai se lembrar de quem era, mesmo sem que eu mencione o seu nome. Falava alto com sua voz de contralto : “calma mamãe, vamos esperar o Sr. Prado chegar”. O pessoal do atendimento que trabalhava ali na frente comigo, quando a via, sumia ou disfarçava estar muito ocupada. Como eu era chefe de atendimento, cargo que ocupei por alguns anos, tinha a obrigação de ir até ela, enquanto alguém ligava para o Sr. Prado que residia numa das casas na parte superior da agência, para avisar. Em geral ela dispensava a atenção dizendo que aguardaria. A senhora aceita um cafézinho? Ao que ela respondia: “não, obrigada, meu bem, café me dá azia”. Uma água então? Perguntava eu. “Não, muito obrigada, meu bem, senão vou ter que ir ao banheiro” Não querem se sentar, sua mãe deve estar cansada. “Não meu bem, ( e me respondia baixinho perto do ouvido) mamãe tem hemorróidas.” E sorria aliviada quando via a figura do Sr. Prado chegando. E eu me afastava, não menos aliviada. Outro era o Sr. Chiquitin, muito magrinho e alto. Ele já aceitava o café agradecido e me seguia até a mesinha do café, conversando animado. Tínhamos também um senhor, que tinha um sitio nas
redondezas de Anhembi. Esse era o Mazzaropi escarrado. Tinha muito dinheiro que investia em vários bancos. Não conseguia conter o riso ao vê-lo chegando. Enfrentamos enxurradas nos dias de temporais, que desciam da Rua Monsenhor Ferrari e batendo na calçada entravam caudalosamente agência adentro. Um dia escutamos um barulho igual a uma explosão e vimos a porta de entrada, de um vidro grosso, voar em cacos diante dos nossos olhos estupefatos. Muitas vezes vi gente que nem era cliente, entrar correndo e de repente jogar-se ao chão batendo-se em ataque epilético. Tínhamos que chamar uma ambulância enquanto tentávamos proteger a pessoa para que não se ferisse. E me ocorreu um dia, ver entrar envolto em uma aura muito branca, meu médico pediatra, Dr. Mário Soares, com seu sorriso bonachão, dirigindo-se a mim. Foi uma visão inesquecível que nunca contei a ninguém, pois me achariam louca, afinal ele já tinha falecido há muitos anos.