Edição 474

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Diário da Cuesta NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU ANO II Nº 474 SEGUNDA-FEIRA, 16 MAIO DE 2022

HUMILHOU SÃO PAULO E DESRESPEITOU OS BRAVOS COMBATENTES DA REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA DE 1932!!! EDITORIAL�PÁGINA 2


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Diário da Cuesta

Editorial

A Revolução Constitucionalista de 1932 representou a fibra dos paulistas a favor do Estado de Direito e a favor do Regime Constitucional. E Botucatu participou intensamente dessa epopeia paulista. O cenário era patriótico: a juventude botucatuense entusiasmada e pronta para defender São Paulo da Ditadura de Getúlio Vargas que havia traído os ideais da Revolução de 1930. A participação de Botucatu na Revolução Constitucionalista de 1932 foi maciça e brilhante. Até um Batalhão do Bispo foi formado. E na mobilização dos jovens, as palavras patrióticas dos jovens professores Sylvio Galvão e Amaral Wagner foram decisivas. Nessa mobilização, conseguiram deixar a sociedade organizada para que tivesse uma participação cidadã na Revolução Constitucionalista. E o registro dessa epopéia cívica está no livro do Dr. Sebastião de Almeida Pinto (leia na página 4), que também foi revolucionário juntamente com seu irmão Jayme de Almeida Pinto que, anos depois, viria a ser deputado estadual e Secretário da Agricultura do Estado no início dos anos 50. É exemplo para os dias de hoje!!!! A SOCIEDADE ORGANIZADA consegue participar dos grandes momentos da cidadania. A SOCIEDADE ORGANIZADA conseguiu ter uma participação marcante na Revolução de 32! Agora, a SOCIEDADE ORGANIZADA haverá de mobilizar-se para que seja repudiada as palavras irresponsáveis contra São Paulo e os Paulistas! O INIMIGO PÚBLICO Nº 1 DOS PAULISTAS Luiz Ignácio Lula da Silva é o seu nome! Retirante de Garanhuns/Pernambuco encontrou em São Paulo a oportunidade de construir a sua vida ... Mas esse personagem nocivo da história política brasileira

teria que macular sua relação com o MAIOR ESTADO NORDESTINO DO BRASIL... Em encontro realizado em Campinas, na UNICAMP, em 05/05, o ex-presidiário Lula, dirigindo-se de público a Fernando Hadadd, seu candidato a governador de São Paulo (!!!) pelo PT, disse o seguinte: “- algumas pessoas me disseram, Hadadd – eu não sei se é verdade – que São Paulo perdeu a Revolução de 32 – que eu acho que não foi revolução, eu acho que foi um golpe que os paulistas tentaram dar no governo federal – quando eles perderam a guerra, eles resolveram ganhar a elite, e resolveram criar a USP para fazer da USP um centro de excelência para que a USP fizesse a inteligência desse país...” Mostrou todo o ódio que ele e seus aliados do PT tem por São Paulo! Tripudiou sobre o orgulho e a honra de todo paulista! Que o repúdio ao que disse Lula contra São Paulo seja por cada um de nós mostrado a todo país ! Que o repúdio ao que disse esse político ligado ao Foro de São Paulo seja externado de hoje até as eleições de outubro. Cuspiu no prato que comeu!!! SÃO PAULO MOSTRARÁ A ESSE POLÍTICO DO MAL E A ESSA ESQUERDA ENTREGUISTA E CORRUPTA TODA A FIBRA DO PAULISTA E ORGULHO QUE TEMOS POR NOSSA BANDEIRA DE TREZE LISTAS QUE REPRESENTA TODA A CORAGEM DOS VALOROSOS SOLDADOS DE 1932! SÃO PAULO: NON DUCOR, DUCO! A Direção.

Revolução Constitucionalista de 1932 Melhor relato histórico da REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA DE 1932, obra de Hernâni Donato e o registro da HISTÓRIA DA VITÓRIA PAULISTA DE 1934. PÁGINA 3 EXPEDIENTE NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU WEBJORNALISMO DIÁRIO

DIRETOR: Armando Moraes Delmanto EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes Contato@diariodacuesta.com.br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689

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ARTIGO

A REVOLUÇÃO DE 32 DE HERNÂNI DONATO

Elda Moscogliato Fomos a primeira – segundo nosso amigo Carlos Rosa – a receber, em Botucatu, o livro de Hernâni Donato. Um grande prazer, sem dúvida, pelos laços de velha amizade e de admiração profunda que torna seu Autor credor autentico do imenso clã. Mesmo porque, a nosso modo e, segundo a faixa etária, nós vivemos também, a grande epopéia. Cada página e cada foto evoca cenas e fatos, perto ou longe, vividos através da imprensa entusiasta de então. Um belo trabalho de pesquisa e elaboração. Com a chancela de autenticidade que caracteriza a já rica obra de Donato, eis que, minerador apaixonado, programa o trabalho, inicia meticulosa e apurada pesquisa quando então consome de sua intensa atividade intelectual, anos e anos de consciente, aprofundado e minucioso estudo. E aí está mais um resultado de sua já firmada e vitoriosa vida de escritor nato : “A Revolução de 32”. É, na nossa entusiasta interpretação, a maior e mais bem organizada fonte elucidativa do que foi a grande epopéia paulista. Outros escreveram sobre ela. Mas falta muito ainda a ser transformado em romance, livro de crônicas, memorial do Interior, sem aquela preocupação única de um relato cronológico autentico. Donato já mantém em suas duzentas e vinte e quatro páginas, o prima-

do de um roteiro o mais completo e elucidativo até agora impresso. É a comunicação moderna em que a fotografia completa os textos sóbrios e nem por isso menos ricos e conteúdo e de historicidade. Mas Donato tem reservas maiores para explodir, de repente, com um riquíssimo romance. Ele já o fez, no romance biográfico, para nós, o seu “cappolavoro” : “Rio do Tempo”. E porque não, sobre a epopéia de 32, o maior poema épico da contemporaneidade paulista? O interior guarda em sua crônica rica memória daqueles dias de euforia patriótica em que tudo convergia para o “Bem de São Paulo”. Botucatu viveu seus dias de glória. Nunca, como então, a figura do professor avultou numa delineação carregada das tintas fortes do “varão” romano. As escolas vieram à rua para contagiar o povo num movimento cívico jamais registrado antes ou depois, da grandeza do mestre frente aos seus discípulos. A revolução partiu do alto para baixo, sem

discriminação de classes ou pensares. Assoberbou tudo. Homogenizou e levantou, num bloco só, uno e coeso, o Estado Paulista. Mal estourado o movimento, eis a Normal de então, mobilizando os professores, transformada num foro cívico onde borburinhava o incitamento, o entusiasmo à luta. Silvio Galvão abandona a cátedra, e assume em sua casa, o posto de alistamento do voluntariado. Organiza o primeiro Comitê Revolucionário. Não para ali. Desce à esplanada do Espéria e numa tribuna improvisada concita o botucatuense à luta. É um rastilho que se incendeia. Sucedem-se os oradores: Sebastião de Almeida Pinto, José do Amaral Wagner. Dilia Ribeiro deixa a Biblioteca e vem à praça. É a primeira mulher a falar pela mulher botucatuense. A Normal se transforma. É agora um Hospital. Conclamou e organizou o Serviço Médico e o de Enfermagem. Há um burburinho continuo. Todos estão a postos. Surge o Batalhão Diocesano. E as ruas se enchem dos uniformes caqui e os “bibis” de guerra. A Banda Municipal de Amilcar Montebugnoli desfila pela Rua Amando. É o primeiro Batalhão que parte. À frente, na primeira linha, cantando a pleno peito, os mestres inesquecíveis: Silvio, Tião e Wagner. Tendo ao ombro os pavilhões nacional e paulista, lá desceram eles, o garboso primeiro batalhão botucatuense – a cerca de quarenta jovens impertigados e ufanos – a caminho do primeiro comboio que os levaria à Capital para o engajamento certo. Atrás, em brados de entusiasmo e de tristeza, os estudantes botucatuenses e o povo coesos, na despedida aos que partiam para a luta, para a conquista, para a vitória.


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9 DE JULHO E A GRANDE VITÓRIA PAULISTA!!!

A vitória da Revolução Constitucionalista de 1932 só aconteceu em 1933/34, com a nomeação de um civil e revolucionário para o Governo Paulista e a realização da CONSTITUINTE!! “Quero que compreendam a extensão e o significado deste ato, pois, com este decreto, entrego o governo de São Paulo aos revolucionários de 32”. (Getúlio Vargas) Os paulistas queriam a CONSTITUIÇÃO e a AUTONOMIA DOS ESTADOS e, na luta pela volta do país ao Estado de Direito, na luta cívica de 1932, queriam a convocação da Assembléia Nacional Constituinte. Esse foi o compromisso claro na mobilização para o Movimento de 1930, descumprido pelo Governo Provisório e que levou São Paulo a pegar em armas em 1932: a volta ao Estado de Direito e a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte para a elaboração de uma Constituição Democrática. Foi o maior movimento cívico vivido pelo povo brasileiro. Apesar do movimento revolucionário de 1930 ter recebido amplo apoio das forças e lideranças políticas paulistas, os seus objetivos foram fraudados pelo caudilhismo, representado por Getúlio Vargas. Uma vez instalado no Poder, Vargas passou a governar fora do Estado de Direito, violando as mais elementares regras democráticas. O Congresso Nacional, as Assembléias Estaduais e as Câmaras Municipais foram fechadas, todos os Governadores dos Estados (Presidentes) foram depostos e a Constituição de 1891 (preparada por Rui Barbosa) foi revogada. O caudilho Vargas passou a governar o Brasil através de Decretos-Leis (1930/32). São Paulo assumiu a liderança de exigir o retorno do país ao pleno Estado de Direito. A insatisfação grassava por toda parte e a permanência, que não era provisória, dos

governantes federais no poder era a negativa do ideário pregado para o sucesso do movimento de 30. De início, com o apoio de vários Estados da Federação, principalmente do Rio Grande do Sul e Minas Gerais, sendo certo que os gaúchos tiveram papel significativo no incentivar, mobilizar e apoiar a tomada de posição dos paulistas. No entanto, o grande poder de cooptação do Poder Central conseguiu isolar São Paulo. Sozinhos, os paulistas levantaram a Bandeira da Constituição. A Revolução Constitucionalista objetivava, tão somente, autonomia administrativa, eleições e Constituição, ou seja, a volta do país ao pleno Estado de Direito. E, a partir daí, realizar a tarefa de modernizar o país, erradicar as injustiças e os erros que um regime político em descompasso com a evolução da humanidade não havia conseguido captar na Primeira República. Nada de separatismo como apregoavam os asseclas do Ditador... A mobilização foi unânime! As diferenças político-partidárias ficaram para traz. São Paulo soube compreender o momento cívico que estava vivendo e soube levantar, bem alto, a Bandeira da Legalidade! E o coração de São Paulo havia sangrado no final de maio/32 quando, numa manifestação da população paulistana com a presença de muitos estudantes de direito, pela autonomia de São Paulo e a favor da Constituinte, houve violenta repressão policial. Da ação violenta contra a população, quatro estudantes paulistas foram assassinados: Euclides Miragaia, Mário Martins de Almeida, Dráusio Marcondes de Sousa e Antônio Camargo de Andrade. As siglas dos nomes dos mártires (Miragaia, Martins, Dráusio e Camargo) deram origem ao MMDC, entidade que

passou a representar a “alma dos paulistas” na luta que se iniciou a 9 de julho de 1932 contra um Governo Provisório (e que nada tinha de provisório) que não respeitava a autonomia de São Paulo e nem o Estado Democrático de Direito. A participação da intelligentzia paulista na mobilização da população foi fundamental. A nossa intelectualidade tomou posição firme, quer através do trabalho da pena, quer pela força da palavra, assumindo com a clareza de suas ideias a imprensa, a tribuna parlamentar, os pronunciamentos nos comícios e nos microfones radiofônicos. Resumindo: a mobilização cívica da população! Todos sabem o desfecho dessa que foi a mais importante ruptura da unidade nacional: a guerra civil de 32, levando irmãos ao mais grave enfrentamento. Os gaúchos – salvo algumas lideranças democráticas que mantiveram a palavra de incentivo e apoio irrestrito – abandonaram os paulistas. O mesmo ocorreu com os mineiros e com as forças militares da capital federal. São Paulo ficou sozinho na batalha para poder gerir a si próprio e pelas eleições e pela Constituição Democrática. São Paulo não ganhou a guerra civil, desproporcional sob todos os aspectos, mas saiu vitoriosa, indiscutivelmente, saiu vitoriosa: o Ditador Getúlio Vargas teve, essa é a verdade, teve que convocar as Eleições Constituintes ! Haviam conseguido “brecar” São Paulo pelas armas, mas o povo brasileiro já havia sido “contaminado” pelo patriotismo e pelo desejo de ver o Estado de Direito reimplantado no país! Os ideais constitucionalistas da Revolução de 32 fincaram profundas raízes no sentimento patriótico do povo brasileiro. O Ditador Vargas não teve outra opção se não a convocação da Assembléia Nacional Constituinte. A nível nacional e nos Estados, foram eleitos os Deputados Constituintes com a missão de elaborar a Constituição de cada unidade federativa. E na Nova Constituição, o VOTO SECRETO e o VOTO FEMININO foram consagrados! Com o objetivo de resgatar a atuação valorosa dos paulistas é que fizemos esta interpretação histórica da epopéia cívica de 1932. Esse o cenário real em que se desenvolveu a luta armada e é a mais bela página do exercício da cidadania pelo povo paulista. A Assembléia Nacional Constituinte Getúlio Vargas, por Decreto, regulamenta o funcionamento da Assembléia Nacional Constituinte. Com a vitória militar, Vargas se sentia forte o suficiente para amenizar o clima e o espírito constitucionalista que a Revolução Constitucionalista de 32 criara em todo o pais. Assim, através de Decreto Lei, dispunha as atribuições da ANC e, entre muitas, a que


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deveria eleger o Presidente da República. Pelos paulistas conseguiu-se o que parecia impossível: a união de suas forças políticas: o PD – Partido Democrático e o PRP – Partido Republicano Paulista, com o apoio da Federação de Voluntários (dos ex-combatentes de 32) e da Associação Comercial de São Paulo, fizeram a “Chapa Única por São Paulo Unido”. Foram mantidas as estruturas partidárias independentes. As eleições para a Constituinte, foram realizadas no dia 03/05/1933. A Chapa Única elegeu 17 dos 22 representantes do Estado. Logo após as eleições, Vargas conseguiu aproximar-se da oposição paulista e fazer a tão desejada aliança. No dia 21/08/1933, um “civil e paulista”, combatente de 32, toma posse como Interventor Federal em São Paulo: o Engº Armando de Salles Oliveira. “Quero que compreendam a extensão e o significado deste ato, pois, com este decreto, entrego o governo de São Paulo aos revolucionários de 32”. Com essas palavras, Getúlio Vargas procurava garantir o seu futuro político. O esperto gaúcho mostrava que não era por acaso que estava no comando do país. Sabia fazer política e tinha visão clara do futuro e da importância de compor e dar, como vitorioso, tratamento adequado aos adversários de ontem... No Palácio Tiradentes, no dia 16 de julho de 1934, era oficialmente promulgada a nova Constituição da República. A partir daí, a Assembléia Nacional Constituinte se transforma provisoriamente em Câmara dos Deputados. No dia seguinte, 17/07/34, é eleito Getúlio Vargas como Presidente da República do Brasil, com mandato de 4 anos. E no dia 20 de julho, toma oficialmente posse do cargo. Finalmente, a 14 de outubro de 1934 são realizadas eleições para a Câmara de Deputados e para as Assembléias Constituintes dos Estados. Além de elaborarem as respectivas Constituições Estaduais, elegeriam os governadores e senadores, transformando-se provisoriamente em assembléias ordinárias. A esperteza e a capacidade do Ditador Getúlio Vargas em cooptar seus adversários políticos sempre foi reconhecida. E Vargas soube compreender a dimensão da patriótica mobilização paulista: um perigo que poderia contaminar todo o povo brasileiro. Assim, em agosto de 1933, em um gesto próprio de quem tem a inteligência e a sagacidade para ficar discricionariamente 15 anos no poder central (1930/45), estendeu aos paulistas, sem limitações, as reivindicações mais prementes que levaram à deflagração do movimento insurrecional paulista: a autonomia na gestão do governo paulista e a fixação das datas das eleições constituintes. Armando de Salles Oliveira foi nomeado, em 1933, Interventor Federal até a sua eleição, pelos Deputados Estaduais Constituintes, eleitos em 1934, como Governador do Estado de São Paulo, em abril de 1935. Uma das condições para que Armando Salles aceitasse o convite foi a da concessão de anistia aos revoltosos de 32, que puderam retornar do exílio. Mesmo derrotados na luta armada, os constitucionalistas alcançaram os seus ob-

jetivos políticos. O escritor Hernâni Donato, em seu livro “A Revolução de 32”, edição Círculo do Livro/Livros Abril, 1982, pág.177, destacou a importância dessa escolha: “Particularmente aos paulistas, que seguiam amargando a rendição particular, Getúlio quisera fazer provar a 21 de agosto de 1933 o sabor aliciante, desarmante, de alcançar um objetivo obstinadamente perseguido. Nomeou Armando de Sales Oliveira – civil e paulista – para a interventoria federal em São Paulo. Assinando o decreto, enfatizava: “Quero que compreendam a extensão e o significado deste ato, pois, com este decreto, entrego o governo de São Paulo aos revolucionários de 32”. “Quero que compreendam a extensão e o significado deste ato, pois, com este decreto, entrego o governo de São Paulo aos revolucionários de 32”. Jogada de mestre do caudilho gaúcho, mas que representou a possibilidade de reagrupamento da cidadania paulista e a efetiva possibilidade de se provar a capacidade administrativa dos revolucionários constitucionalistas e o indiscutível sentimento de unidade nacional que sempre os motivou. Fruto da Revolução de 32, a mobilização dos paulistas para as eleições presidenciais de 1937 foi o maior acontecimento político da época. Com as eleições estaduais para a Constituinte Paulista de 1934 e o governo arrojado e inovador de Armando de Salles Oliveira, o Brasil passou a se espelhar e a esperar que o grande democrata paulista levasse para todo o Brasil, as novas e modernas técnicas de bem gerir o serviço público que implantou em São Paulo, além da verdadeira revolução educacional com a criação pioneira da USP – Universidade de São Paulo. O governador Armando Salles trouxe para a gestão pública a experiência que tivera ao criar, na iniciativa privada, moderna empresa voltada ao treinamento e formação de gestores. Essa sua atuação no setor produtivo repercutiu muito em todo o país, especialmente com a criação bem sucedida do IDORT – Instituto de Desenvolvimento Organizacional do Trabalho. O IDORT preparava lideranças para a boa e eficiente gestão administrativa, além do ensinamento das modernas e eficientes técnicas organizacionais de trabalho. Ao mesmo tempo e também em iniciativa pioneira e revolucionária, Armando Salles investiu maciçamente na educação e implantou as Escolas Profissionais (posteriormente, denominadas Escolas Industriais) na capital e no interior do estado. Assim, estavam elencados os objetivos imediatos: modernizar o serviço público, investir na educação prioritariamente e implantar novas e produtivas técnicas organizacionais para a otimização da máquina estatal. O Estado Novo. O Exílio. A Derrota da Democracia... Em 1937, Getúlio Vargas dá o Golpe de Estado e implanta o Estado Novo (10/11/1937). A democracia é derrotada. A Constituição de 1934 é revogada. As Casas Legislativas (Congresso Nacional, Assembléias Legislativas e Câmaras de Vereadores) são fechadas. Os Governadores

e Prefeitos são depostos; são nomeados os Interventores Federais. As Bandeiras dos Estados são queimadas em praça pública pelo Ditador Vargas! O caudilho Vargas passa a governar por Decretos Leis... Esse filme já foi visto em 1930... No mesmo dia do golpe, Armando é preso em seu apartamento do Rio de Janeiro. É enviado para Minas Gerais onde fica isolado até maio de 38. Em novembro (03/11/1938), segue de navio para a Europa. Era o desterro. Era o exílio que duraria até 07 de abril de 1945, quando regressaria, já muito doente, falecendo em São Paulo (17/05/1945). Em sua última homenagem, na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, a presença dos amigos e familiares. O caixão é fechado. Carregam o esquife os profs. Jorge Americano, Gabriel Rezende, André Dreyfus, Benedicto Montenegro, Teotônio Monteiro de Barros, Soares de Faria, Fonseca Telles, Pacheco e Silva, Zeferino Vaz e Waldemar Ferreira. Os discursos do prof. Jorge Americano, Reitor da USP, do prof. André Dreyfus, Diretor da FFCL e do acadêmico Waldir Troncoso Peres, orador do Centro Acadêmico XI de Agosto. No cemitério da Consolação, Otávio Mangabeira proferiu, de improviso, ao baixar o corpo à sepultura, belíssimo e comovente discurso. (AMD)


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Botucatu e a Epopeia de 32

do livro “Gente de Dantes”, de Luiz Baptistão, 2004. Da esquerda para a direita, o 3º é o Jayme e o 4º é o Sebastião, os irmãos Almeida Pinto. Os festejos de 9 de Julho – feriado estadual – correram de forma bem modesta, como sempre, neste ano de 2013. É sempre bom repetir que a Secretaria Estadual da Educação precisa colocar na grade curricular o histórico da Revolução Constitucionalista de 1932 e toda a importância cívica que teve para a construção da Democracia no Brasil. É preciso que lembremos da Revolução Constitucionalista de 1932 para que possamos homenagear os heróis daquela epopeia paulista por uma CONSTITUIÇÃO! Perdeu-se a guerra, mas o Brasil ganhou a sua CONSTITUIÇÃO, fruto da Assembléia Constituinte de 1934. A REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA atingiu seu objetivo de dar uma Constituição ao Brasil. Hoje, outros são os tempos. E a SOCIEDADE ORGANIZADA está mobilizada para as MUDANÇAS necessárias para que o país viva a plenitude de um ESTADO DE DIREITO! Abaixo, o artigo “Botucatu e a Epopéia de 32”, que escrevemos para a revista cultural PEABIRU, nº 16 – Ano II – Julho/Agosto de 1999:

BOTUCATU E A EPOPÉIA DE 32

“A nossa cidade participou com destaque do maior movimento cívico vivido pelo nosso povo: A Revolução Constitucionalista de 1932. Apesar de o movimento revolucionário de 1930 ter recebido amplo apoio das forças paulistas, com expressivo apoio também em Botucatu, os seus objetivos foram fraudados pelo caudilhismo que foi representado pela liderança de Getúlio Vargas. Uma vez instalado no Poder, o caudilho Vargas passou a governar fora do Estado de Direito, violando as mais elementares regras do Estado de Direito. São Paulo, como sempre, assumiu a liderança de exigir o retorno do País ao pleno Estado de Direito. De início, com o apoio de vários Estados da Federação. No entanto, o poder de cooptação do Poder Central conseguiu isolar o nosso Estado. Sozinhos, os Paulistas levantaram a Bandeira da Constituição. A Revolução Constitucionalista objetivava,

tão somente, a volta do Brasil ao pleno Estado de Direito. Nada de separatismo como apregoavam os asseclas do Ditador... A mobilização foi unânime! As diferenças político-partidárias ficaram para traz. São Paulo soube compreender o momento cívico que estava vivendo e soube levantar - bem alto! -, a Bandeira Paulista! Nesse contexto é que queremos situar a participação de Botucatu. A mobilização foi geral, mas, entre os jovens, o entusiasmo atingiu o ponto máximo. Mobilizados por brilhantes oradores, a nossa juventude atendeu prontamente ao chamado, indo em defesa da CONSTITUIÇÃO! Sobre a participação dos botucatuenses na Revolução Constitucionalista de 32, nós tivemos inúmeros depoimentos de ex-integrantes do MMDC e, inclusive, um livro escrito pelo Dr. Sebastião de Almeida Pinto, participante da Revolução: “Botucatuenses no Setor Sul”.

No entanto, para melhor desenhar o cenário que abrigou essa explosão da juventude botucatuense em apoio ao ideário da Revolução, nada como trazer a palavra abalizada de um dos baluartes desse movimento e que ocupava à época o importante cargo de Juiz de Direito da Comarca de Botucatu, o Dr. Joaquim Cândido de Azevedo Marques, que posteriormente encerrou a sua brilhante carreira jurídica como Desembargador. Em memorável artigo, sob o título de “Honra ao Mérito”, publicado no jornal “Correio de Botucatu”, de 22/07/1932, o ilustre magistrado destaca o perfil dos principais líderes na mobilização da juventude, com credibilidade, civismo e competência: “O exemplo, que vou citar, é digno de registro e louvor públicos. Assim que irrompeu no Estado o movimento cívico a que assistimos, Botucatu, como se lembram, fremiu de entusiasmo, numa congregação de todas as suas forças, para os preparativos da luta, a que não podíamos deixar de concorrer. À frente da propaganda patriótica que urgia empreender; se puseram logo dois expoentes da nossa intelectualidade.

Uniram-se, captaram outros elementos de influência; organizaram e logo entraram a executar um programa de ação, vasto, multiforme e trabalhoso. O resultado está na memória de todos: alistamento, comícios, predicas cívicas e toda sorte de atividades em prol da causa sagrada. Nos comícios, notadamente, foi preponderante o papel desses moços, pelo prestígio e fecúndia do seu verbo. Oradores completos, no fundo e na forma, as suas orações calavam, seduziam, arrastavam e estimulavam a palavra de outros. Nesse terreno, o que se viu foi uma verdadeira batalha de eloquência, soberba de frutificação. Um dia, soube que os dois arautos iam partir, incorporados aos reservistas da terra. Sobressaltei-me ante a visão da lacuna sensível que íamos sofrer. Temi um esmorecimento no nosso trabalho de predicação cívica, necessário ainda para manter viva a chama patriótica em todas as camadas populares. E porque assim pensei, resolvi intervir, procurando primeiro as autoridades militares, a ver o que era possível no sentido de retardar um pouco a partida dos dois moços. E fui feliz nesse primeiro passo. De inteiro acordo os chefes militares, subordinaram o caso unicamente à vontade dos dois interessados. Fui, então, a eles, a cada um de per si, reservadamente. Expus-lhes a minha opinião, com os argumentos superiores que me animavam. Mostrei-lhes quanto a sua colaboração aqui, no trabalho que iniciaram e deviam prosseguir, pela palavra e pela pena, era indispensável, e muito mais eficiente e real, incomparavelmente que o tributo das armas, a que se propunham. Não se tratava de furtá-los, por sentimentalismo de amigo ou admirador, aos azares da guerra. Meu escopo era mais nobre, justo, superior, pois visava não perdermos aqui dois elementos à mantença do fogo sagrado. Nem só de soldados se precisa nos momentos como este, maximé quando há pletóra de guerreiros. O concurso intelectual, o trabalho da pena e, sobretudo, a força da palavra, são inestimáveis. Isso, o que estamos vendo na Capital, onde a flor da intelectualidade paulistana está a postos, dia e noite, na imprensa, na tribuna, nos comícios, nos microfones, em suma, no trabalho de exortação cívica, sem a qual pouco conseguiria a materialidade da guerra. Enfim, fui eloquente como pude para atingir o meu desideratum.Ouviram-me, entre sensibilizados e modestos. Afinal, quando lhes coube opinar, não hesitaram, e a resposta, de um como de outro, foi uma só: - “Dr., impossível acatar o seu apelo. Sentimos, não apenas pensamos, sentimos necessidade de partir, isto, em nós, é superior às razões que o Dr. nos apresenta, a despeito da superioridade bondosa em que são calcadas. Preferimos seguir. Talvez a nossa utilidade nas fileiras seja mesmo menor do que aqui. Mas, já demos um pouco da nossa inteligência à causa que esposamos. Queremos, agora, dar largas ao


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Diário da Cuesta coração... E assim foi que partiram esses dois moços que se chamam SYLVIO GALVÃO e AMARAL WAGNER. Se já eram grandes no meu conceito, agigantaram-se agora. A eles - este singelo tributo de incontida admiração!”

Esse artigo é o que podemos chamar de verdadeira interpretação histórica do movimento revolucionário, eis que é um testemunho de um dos líderes cívicos do movimento em nossa cidade, Juiz de Direito e Cidadão Prestante! Dessa forma, os nomes do Dr. Sylvio Galvão e do Prof. Amaral Wagner ficam em indiscutível destaque no histórico dessa epopeia cívica que marcou profundamente a cidade de Botucatu. À época, a vida intelectual de nossa cidade fluía da já famosa Escola Normal, de onde tanto Sylvio Galvão como Amaral Wagner tinham o seu campo de trabalho. Da Normal a cidade de Botucatu recebia os efluxos positivos do nacionalismo sadio, calcado na Lei. Da Normal a cidade recebia a palavra confiável, a convocação esperada e a mobilização patriótica! Era a “intelligentzia botucatuense” a marcar a sua presença, a dizer sim à convocação cívica em defesa da Pátria e do Estado de Direito! Também como interpretação histórica podemos incluir todo o trabalho do saudoso Dr. Sebastião de Almeida Pinto, ele mesmo um revolucionário a atestar a presença e o destaque desses dois botucatuense. Nas comemorações do 25º Aniversário da Revolução Constitucio-

nalista de 1932, o Dr. Sebastião escreveu para o “Jornal de Botucatu”, o artigo “Botucatuenses no Setor Sul”: (jornal “FOLHA DE BOTUCATU” - 15 de julho de 1988) “1932. Mês de Maio. São Paulo era um vulcão. Prestes a explodir. Os paulistas cheios,

cansados da exploração pelos agentes ditatoriais, estavam por aqui... O povo paulista estava preparado, psicologicamente, para uma revolução. Nas ruas diziam, em tom de troça: “- O baiano Artur Neiva, afirmara certa vez, que São Paulo era a locomotiva que arrastava vinte vagões. Mas em 1932, o pobre São Paulo nada mais era que um vagão restaurante...” Bastava uma centelha para incendiar a massa saturada de prepotência e desmandos, ansiosa pela volta ao regime democrático. E veio o 23 de Maio. O povo, pisoteado e espingardeado na praça pública, clamava vingança. Os rapazes imolados à sanha dos agentes da ditadura, deram origem ao M.M. D.C., núcleo inicial do movimento que deveria explodir logo mais. Estava escrito. E Ibrahim Nobre, o Tribuno da Revolução, assim o proclamava. Chegou o dia 9 de Julho. A Capital, era um incêndio inestinguível. Em Botucatu, o ambiente era tranquilo. Uma calma impressionante. À noite, no “Clube 24 de Maio”, um retumbante baile, congregava a sociedade local. Era o Baile da Maioridade, onde só dançavam os maiores de 21 anos, os velhos galos de S. Roque, num acinte aos frangótes que imperavam os salões botucatuenses, obrigados a ficar de espera até depois da meia-noite... Na madrugada do dia 10, começaram a circular os rumores de levante na Capital. Os velhos rádios, rouquentos e cheios de estática, difundiam as primeiras notícias do grande movimento que iria empolgar S. Paulo todo: A Revolução Constitucionalista. Um entusiasmo louco dominou o Estado. Na Capital e no interior. Tudo foi relegado para um segundo plano. Só se falava, só se pensava, só se agia revolucionariamente. A velha fibra bandeirante, em toda sua plenitude, operou milagres. A gente de Piratininga demonstrou que o paulista não era apenas homem do trabalho. Bom somente para plantar café e ganhar dinheiro. Nas horas duras, a gente do altiplano também sabia lutar. E como lutaram, os laboriosos e pacíficos descendentes do Anhanguera! Na pacata Botucatu, com o correr dos dias, criou-se mentalidade guerreira. Com a previsão de que a luta iria se prolongar por longos meses, os homens válidos, reservistas ou não, entraram a se organizar militarmente. Para a defesa do brio paulista e da integridade de São Paulo, esqueceram-se ressentimentos. Olvidaram-se paixões políticas. E uma frente única se formou. Na residência do Dr. Silvio Galvão estabeleceu-se um pequeno quartel general, para apresentação de voluntários e recebimento de auxílios para o movimento que constituiria uma verdadeira epopeia nacional dezenas de moços, diariamente se apresentavam, ou melhor, iam diretamente para São Paulo e Quitaúna, de onde partiam os batalhões que no Norte , no Sul, na Mantigueira e outros setores, lutavam arduamente para o restabelecimento da legalidade. Estava morrendo gente a valer, mas isso não impedia que os voluntários acorressem em massa. Até o elemento feminino colaborava eficientemente, em múltiplas atividades. Mulheres mais decididas envergavam a farda e empunharam o fuzil, indo para

o campo de luta. São Paulo ensanguentado e coberto de luto, era um gigante que impunha respeito e admiração. Integrado na Revolução, também me apresentei como voluntário. Com meus irmãos, meus parentes, meus companheiros de trabalho, com meus amigos e muitos desconhecidos, todos irmanados no ideal de paulistanismo e brasilidade, abandonamos interesses, família, comodidades e atiramo-nos à luta. Do quartelzinho na casa do Silvio Galvão, eu me lembro, partiram José do Amaral Wagner, Luiz Pinho de Carvalho, Jayme de Almeida Pinto, Américo de Souza e Silva, Brasílio Damato, Oscarlino Martins, Jorge Barbosa de Barros, Orlando Pinheiro Machado, Lucídio Paes de Almeida, Germinal Serrador, Maneco Paes de Almeida, Sinésio de Oliveira, Julião Pires de Campos Filho, Antonio Piccinin, Antonio Augusto Pedro ( Guarantã), Silvio Galvão, Olavo Ponciano, Edward Paes de Camargo, Salvador Assumção, e inúmeros outros, cujos nomes infelizmente me escapam. Numerosos botucatuenses, aliás, já estavam engajados no movimento e lutavam bravamente, incorporados a batalhões do Exército, da Polícia e de voluntários. O Exército Constitucionalista integrado por centenas de milhares de homens, vibrantes de patriotismo e entusiasmo, não tinha armas e nem munições suficientes. Mas, tinha patriotismo, civismo e ideal para dar e sobrar.” São Paulo não ganhou a guerra desproporcional mas saiu vitoriosa: o Ditador Getúlio Vargas teve, essa é a verdade, ele teve que convocar as tão desejadas Eleições Constituintes! Haviam conseguido “brecar” São Paulo pelas armas, mas o povo brasileiro já havia sido “contaminado” pelo patriotismo e pelo desejo de ver o Estado de Direito reimplantado no País! Os ideais constitucionalistas da Revolução de 32 fincaram raízes profundas no sentimento patriótico do povo brasileiro. O Ditador Vargas não teve outra opção se não a convocação da Assembléia Nacional Constituinte. A nível nacional e nos Estados, foram eleitos os Deputados com a missão maior de elaborar a Constituição Brasileira e as Constituições Estaduais. Nesse contexto, Botucatu também saiu vitoriosa: elegeu como Deputado Federal Constituinte, o Dr. Antonio Carlos de Abreu Sodré, que já havia exercido a vereança na cidade e era o Promotor Público da Comarca de Botucatu; e elegeu como Deputado Estadual Constituinte, o jovem advogado botucatuense Dr. Dante Delmanto, colega de escritório de advocacia do grande líder civil do movimento revolucionário Dr. Adriano Marrey Júnior. A Revista Peabiru procurou resgatar a atuação de destaque que tiveram esses dois ilustres educadores botucatuenses - Sylvio Galvão e Amaral Wagner ! - na preparação e mobilização dos botucatuenses para a Revolução Constitucionalista de 1932. E nesse resgate, procuramos trazer o cenário real onde toda essa mobilização ocorreu. Com testemunhos de absoluta imparcialidade, a mostrar como a nossa cidade soube integrar-se nessa campanha cívica. Dr. Sylvio Galvão, Prof. Amaral Wagner, saudades... (AMD – Blog do Delmanto).


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