Edição 496

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Diário da Cuesta NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU ANO II Nº 496 SEXTA-FEIRA, 10 JUNHO DE 2022

SALVE PORTUGAL, CAMÕES E AS COMUNIDADES PORTUGUESAS É extremamente prazeroso fazer um trabalho como este. Pelo tema e pelo conteúdo. É praticamente uma revisitação à história de nossa língua, um olhar atento à construção da cidadania brasileira (dia 10 de junho é comemorado como o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas).

O destino do Brasil, já o dissemos na edição da revista cultural Peabiru n°24, de maio/ junho de 2008, dedicada a Dom João VI, nas comemorações dos 200 Anos da redescoberta do Brasil (1808/2008), estava ligado a Portugal. O nosso Descobrimento, em 1500. A nossa Redescoberta, em 1808! Sim, redescoberta! Porque o Brasil passou a ter outro destino após a vinda de Dom João VI e de toda a corte portuguesa para o nosso país. De colônia, passamos a sede do Reino Português. Todo o progresso daí advindo (Faculdade de Medicina, Biblioteca Nacional, os portos abertos, os costumes europeus, etc.) moldou uma Nação especial: unida, mesma língua, com território continental, objetivos definidos que levariam à implantação do Império Brasileiro, com Dom Pedro I. E todos sabemos, pois é da nossa história, que D. Pedro I teve que abdicar do trono brasileiro a favor de seu filho D. Pedro II, pois o trono de Portugal, destinado a sua filha - futura rainha D. Maria II - , havia sido usurpado por seu irmão D.Miguel. E foi tão carinhoso e determinado o apoio que recebeu da população portuguesa ao desembarcar no Porto, em 1832, que o ex-Imperador do Brasil, Dom Pedro I (Dom Pedro IV, de Portugal), em reconhecimento, deixou, após sua morte, seu coração, que se encontra encerrado numa urna de prata, na Igreja da Lapa, na cidade do Porto.


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Diário da Cuesta

SALVE PORTUGAL, CAMÕES E AS COMUNIDADES PORTUGUESAS

No dia 10 Junho, na Casa de Portugal, o orador convidado, Armando Moraes Delmanto, proferiu um discurso onde buscou, exaltando Camões - como a alma de Portugal! -, historiar a importância da construção da língua portuguesa, sendo hoje língua oficial em 8 países: “Falar de Camões e de Portugal com o sobrenome Delmanto pode parecer estranho. Mas, não é. É que tenho também o Moraes que já é brasileiro desde o Império, mas que veio de PORTUGAL, da região de Viseu. E tem mais, sendo Delmanto de origem italiana e Moraes de origem portuguesa, existem mais semelhanças entre as duas origens do que se possa imaginar. O ITALIANO originou-se do LATIM VULGAR pela criatividade de um grande POETA : DANTE ALIGUIERI. O PORTUGUÊS também originou-se do LATIM VULGAR pela criatividade de outro grande POETA: LUÍS VAZ DE CAMÕES. Na Itália, na Idade Média, o grande e genial poeta Dante Aliguieri, escreveu no dialeto de Florença, região da Toscana, norte da Itália, “A DIVINA COMÉDIA”, que definiu o idioma italiano moderno. A península itálica nessa época era um mosaico de pequenos reinos, com dialetos próprios, que não compartilhavam sequer a mesma língua e cultura. No Império Romano, falava-se o latim clássico e o latim vulgar, este falado pelos soldados e pelos povos dominados. E Dante Aliguieri preferiu escrever sua obra no dialeto de Florença ao invés do latim vulgar. E acertou. Estava criado o idioma italiano moderno. Em Portugal, também primeiro se fala-

va o latim vulgar, que foi introduzido na Lusitânia pela conquista da Península Ibérica pelo Império Romano. A língua portuguesa teve uma evolução do Latim para o Português de hoje: 1-) Latim Lusitânico (falado na Lusitânia) que vai até o século V; 2-) Romanço Lusitânico (falado na Lusitânia), que vai do século V ao século IX. Sendo que o português ainda não existia; 3-) Português Proto-histórico -que vai do século IX ao século XII. Nessa época o português já existe como língua falada, não, porém, como língua escrita; 4-) Português Arcaico - do século XII ao século XVI; 5-) Português Moderno - do século XVI até hoje “OS LUSÍADAS” é o marco divisor mais importante a separar a época arcaica da época moderna. Este poema épico de Camões é mundialmente reconhecido. A obra “OS LUSÍADAS” representa o Português Moderno ! Hoje, o PORTUGUÊS é falado por mais de 260milhões de pessoas, sendo o 5° Idioma mais falado em todo o mundo! A obra “OS LUSÍADAS” é considerada a epopéia portuguesa por excelência. Seu próprio título já sugere suas intenções nacionalistas, sendo derivado da antiga denominação romana de Portugal, Lusitânia. É um dos mais importantes épicos da época moderna devido à sua grandeza e universalidade. A epopéia narra a história de Vasco da Gama e dos heróis portugueses que navegaram em torno do Cabo da Boa Esperança e abriram uma nova rota para a índia. A intuição da alma popular portuguesa encontrou em CAMÕES o representante de uma literatura inteira e a síntese da nacio-

EXPEDIENTE NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU

DIRETOR: Armando Moraes Delmanto EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes Contato@diariodacuesta.com.br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689

nalidade. No TRICENTENÁRIO da morte do poeta, em 10 de junho de 1880, toda a população de PORTUGAL já se alinhava no preito à memória do homem que foi a síntese grandiosa da alma portuguesa. E o Brasil, durante o 2° Império, não poderia ficar ausente. O “Hino Triunfal a Camões”, foi composto, nesse ano, o ano do TRICENTENÁRIO, pelo maior compositor brasileiro: CARLOS GOMES! LUÍS VAZ DE CAMÕES, nasceu provavelmente em Lisboa, por volta de 1524 e faleceu nessa mesma cidade em 10 de junho de 1580. “Os Lusíadas” é um poema épico dividido em dez cantos repartidos em oitavas. O poema começa assim: Canto I - Lusíadas “As armas e os barões assinalados Que, da ocidental praia lusitana, Por mares nunca de antes navegados Passaram ainda além da Taprobana, Em perigos e guerras esforçados, Mais do que prometia a força humana, E entre gente remota edificaram Novo reino, que tanto sublimaram.” Além da grande obra “OS LUSÍADAS”, Luiz Vaz de Camões escreveu poesias líricas e peças teatrais. Quem de nós não tem sempre em mente o... “Alma minha gentil, que te partiste Tão cedo desta vida descontente, Repousa lá no céu eternamente, E viva eu cá na terra sempre triste.” É, com justiça, considerado o maior poeta da língua portuguesa e um dos maiores da literatura mundial. Desde 1924 é comemorado o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, oficializando o dia 10 de junho, dia do falecimento de Camões, como a data das comemorações. E a Câmara Municipal de Botucatu oficializou o 10 de junho também como o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, numa iniciativa do Vereador Fontão. Ao saudar a Comissão Organizadora deste evento, nas pessoas de Isabel Maria Cardoso Benine, Maria de Lourdes da Graça Macoris e Terezinha Silveira Lima de Luca, queremos apresentar os nossos cumprimentos ao EXMO. SR. MANUEL ROSA CARDOSO - competente e dinâmico CÔNSUL DE PORTUGAL EM BOTUCATU HÁ QUASE MEIO SÉCULO!!! e grande amigo da comunidade botucatuense! Salve, Portugal! Salve, Camões! Salve, as Comunidades Portuguesas! Muito obrigado. !” (AMD).

O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.


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ARTIGO

HOJE É DIA DE PORTUGAL, DE CAMÕES E DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS! MAS É MESMO?

Eduardo J. R. Santos, Universidade de Coimbra

Outrora foi dia de Camões, de Portugal e da Raça… Também, suplementarmente, dia do Santo Anjo da Guarda de Portugal, que segundo rezam os crédulos apareceu em Fátima. Hoje também se comemora o dia das Forças Armadas Portuguesas, para seu consolo, pois tão depauperadas estão, que já não conseguiam fazer outra revolução. Dia de Portugal: mas é mesmo? Ainda existimos? Hoje num mundo onde os estados-nação desapareceram e apenas temos macrorregiões globalizadas, onde a Europa reina a partir da Alemanha, que impõe tratados económicos, cuja única ideologia é o do controlo financeiro totalitário da soberania dos países europeus, e das suas leis constitucionais, o que resta? O que é Portugal? Uma loja dos trezentos em que a China nos transformou, um paraíso fiscal para os generais angolanos? Uma ampliada Olivença espanhola? E o que é a Europa? Um sítio onde um dia se destroem muros e mais tarde se constroem outros de arame farpado e miséria? Onde muitos membros da EU querem agora fugir? É um mundo à deriva, onde os fluxos financeiros de dinheiro sujo deixaram de ter regulação e punição, onde os fluxos humanos de refugiados e migrantes se tornaram num inferno dantesco. E agora Portugal? Fazer como dantes? Venderes-te uma vez mais aos USA e à NATO, agora que a guerra fria dos ocidentes com a Rússia voltou, e o Islão entrou em caos completo. Já o fizeste antes, pois não “estávamos orgulhosamente sós”, como mentia Salazar: deram-te 48 anos de fascismo, quando o mundo clamava por democracia, deram-te a colonização vergonhosa de África, pois havia outros “amigos”, como a África do Sul, a Rodésia, o Zaire, etc. E em troca ofereceste as nossas ilhas açorianas… como alvo, entre outros bens. Mas fizeste uma Revolução depois… Parabéns! E agora? Dia de Camões, também: um arquétipo bem português! Ele que morreu injustiçado e pobre, génio da literatura e poesia mundiais, glorificado como herói depois de morto… Eis a atual situação da cultura e da ciência no nosso país. Dia das Comunidades Portuguesas, ou daqueles que para terem um mínimo de dignidade tiveram de migrar sem vontade? Pois se há vocação, que se façam as malas, mas não deste modo lamentável, enquanto se convidam corruptos estrangeiros para aplicarem as suas fortunas à beira-mar… Mas o espetáculo continua: ontem voou para o Euro 2016 a seleção portuguesa de futebol, em busca da quimera do campeão. Partiu num avião da TAP, que já não é companhia na-

cional, de nome Eusébio, e cujo comandante se chamava Viriato!!! Simbólica caravela… Ao pormenor a encenação… Vamos, na tarefa nobre de, em terras francesas martirizadas pelo terrorismo e pelas políticas do seu governo, engalanar a montra bilionária de um desporto ferido de morte por atos criminosos. Enquanto se chutam bolas e milhões, bem perto morrem afogados milhares de refugiados do terrorismo. Para esses, a Europa não tem solução, passa a bola à Turquia, da NATO ora bem. Pois como se pode ser a solução de algo, quando se é parte integrante do problema??? Se gosto de Portugal? Amo-o! E por isso, luto aqui e em toda a parte por ele, para que, no meio de uma desastrosa e anedótica ignorância histórica de muitos portugueses, possamos vencer o verdadeiro jogo, o único que interessa, o da Vida! Não o de muitos políticos, dirigentes, patrões, sindicalistas, e outras “raças”, que não passam de gente de 3ª classe, como bem nos lembra o livro de leitura no tempo do fascismo! Camões, sim: também ele se indignou com o seu El-Rei D. Sebastião, e contra o poder político perverso. Do Canto IX da Ilha dos Amores, ficam estas três estrofes: 27 E vê do mundo todo os principais Que nenhum no bem púbrico imagina; Vê neles que não têm amor a mais Que a si sòmente, e a quem Filáucia ensina; Vê que esses que frequentam os reais Paços, por verdadeira e sã doutrina Vendem adulação, que mal consente Mondar-se o novo trigo florecente. 28 Vê que aqueles que devem à pobreza Amor divino, e ao povo caridade, Amam sòmente mandos e riqueza, Simulando justiça e integridade; Da feia tirania e de aspereza Fazem direito e vã severidade; Leis em favor do Rei se estabelecem, As em favor do povo só perecem. 29 Vê, enfim, que ninguém ama o que deve, Senão o que sòmente mal deseja. Não quer que tanto tempo se releve O castigo que duro e justo seja. Seus ministros ajunta, por que leve Exércitos conformes à peleja Que espera ter co a mal regida gente Que lhe não for agora obediente.

VIVA PORTUGAL


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Diário da Cuesta

Florbela Espanca e Homenagem a Maria Lúcia Dal Farra

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a sua obra de estreia, Livro de Mágoas, publicada em 1919, Florbela inicia uma carreira literária que, durante longo tempo, reivindicará o seu lugar (e de outras escritoras) no cânone literário português, enfrentando inicialmente enormes resistências por parte da sociedade e da crítica. Décadas depois, é o trabalho pioneiro da académica e escritora Maria Lúcia Dal Farra que vem estabelecer o lugar de direito de Florbela entre os grandes nomes da literatura portuguesa. Nesse percurso, Maria Lúcia Dal Farra não só resgata a obra de Florbela, como também se afirma ao longo dos últimos vinte e cinco anos através de uma literatura já premiada no Brasil, agraciada com o Prémio Jabuti em 2012. A sua obra lírica e ficcional dialoga com a de Florbela e com a de muitos outros escritores; não deixa, contudo, de afirmar a sua plena singularidade expressiva, caracterizada pelo rigor e pela depuração formais e pelo fulgor poético do real que transfigura Biografia Florbela Espanca (Vila Viçosa, 8 de dezembro de 1894 — Matosinhos, 8 de dezembro de 1930),[1] batizada como Flor Bela Lobo, e que opta por se autonomear Florbela d’Alma da Conceição Espanca, [2] foi uma poetisa portuguesa. A sua vida, de apenas 36 anos, foi plena, embora tumultuosa, inquieta e cheia de sofrimentos íntimos, que a autora soube transformar em poesia da mais alta qualidade, carregada de erotização, feminilidade[3] e panteísmo. Há uma biblioteca com o seu nome em Matosinhos. Filha de Antónia da Conceição Lobo e do republicano João Maria Espanca (1866-1954), nasceu no dia 8 de dezembro de 1894 em Vila Viçosa, no Alentejo. O seu pai foi sobretudo um antiquário e um fotógrafo, tendo também ganho a vida com outras atividades, como a de projeção de filmes. De facto, foi um dos introdutores do “Vitascópio de Edison” em Portugal. O seu pai era casado com Mariana do Carmo Inglesa Toscano, que era estéril, sendo filho de José Maria Espanca (1830-1883) e Joana Fortunata Pires Espanca (1830-1917). Com a autorização da mulher, João Maria relacionou-se com a camponesa Antónia da Conceição Lobo, filha de pais incógnitos, criada de servir, mulher bela e vistosa. Assim nasceram Florbela e, três anos depois, Apeles, em 10 de março de 1897, ambos registados como filhos de Antónia e pai incógnito[4]. João Maria Espanca criou-os na sua casa. Apesar de Mariana ter passado a ser madrinha de batismo dos dois, João Maria só reconheceu Florbela como a sua filha em cartório 18 anos após a morte desta.[5] Entre 1899 e 1908, Florbela Espanca frequentou a es-

cola primária em Vila Viçosa.[4] Foi naquele tempo que passou a assinar os seus textos Flor d’Alma da Conceição. [6] As suas primeiras composições poéticas datam dos anos 1903-1904:[5] o poema «A Vida e a Morte», o soneto em redondilha maior em homenagem ao irmão Apeles e um poema escrito por ocasião do aniversário do pai «No dia d›anos», com a seguinte dedicatória: «Ofereço estes versos ao meu querido papá da minha alma» [7]. Em 1907, Espanca escreveu o seu primeiro conto: “Mamã!” No ano seguinte, faleceu a sua mãe, Antónia, com apenas 29 anos, vítima de nevrose.[5] Espanca ingressou então no Liceu Nacional de Évora, onde permaneceu até 1912.[8] Foi uma das primeiras mulheres em Portugal a frequentar um curso liceal. [6] Durante os seus estudos no Liceu, Espanca requisitou diversos livros na Biblioteca Pública de Évora, aproveitando então para ler obras de Balzac, Dumas, Camilo Castelo Branco, Guerra Junqueiro, Garrett. (Wikipedia)


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