Diário da Cuesta São Pedro – 29/06 NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU ANO II Nº 512 QUARTA-FEIRA, 29 DE JUNHO DE 2022
São Pedro: o 1º Papa!
Esta data ainda é considerada o Dia do Papa, pois São Pedro, segundo os católicos, foi o primeiro Papa da Igreja, além de ter sido o que permaneceu por mais tempo com esse título (37 anos). Pedro era um pescador no Mar da Galileia e largou sua vida para seguir Jesus, sendo apontado como seu sucessor entre os doze apóstolos e teve a missão de construir uma igreja que continuasse a obra do Messias. Uma das histórias mais conhecidas sobre a vida de Pedro foi a ocasião em que o apóstolo negou Jesus três vezes ao seu mestre ao ser preso, sendo tomado pelo arrependimento em seguida. Para os católicos, São Pedro recebeu a missão de ser líder da Igreja de Cristo, assim como diz as escrituras: “Tu és pedra, e sobre essa pedra edificarei a minha igreja” (Mateus 16:18).
“TU ES PETRUS, ET SUPER HANC PETRAM AEDIFICABO ECCLESIAM MEAM, ET PORTAE INFERI NOT PREVALEBUNT ADVERSUS EAM”
Foi numa hora amarga da vida de Cristo que surgiu o problema de confiar a direção da Igreja a um chefe. A pessoa do Chefe não importava em si. Poderia ter sido João, o discípulo amado. Foi escolhido, porém, Pedro, aquele que deveria negar, por três vezes consecutivas, a seu mestre. Por que não importava o nome e a pessoa do líder? Porque, simplesmente, o poder que teria sobre os demais apóstolos não adviria de suas qualidades, mas da determinação divina, e da assistência direta do Espírito Santo. Assim, Pedro, o negador, foi escolhido chefe dos apóstolos. Quando Cristo lhe disse: apascenta minhas ovelhas; apascenta meus cordeiros, por dois mil anos se teve como a designação do velho pescador como chefe inconcusso dos fiéis e dos demais pastores”. (“A Juventude: Participação ou Omissão”, AMD – 1970)
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OS ARRAIÁ DI JUINHO NANDO CURY
Óie cumpadi e cumadi, o meis di juinho tá passannno qui nem rojão. Ah, ma num vâmo deixá iscapá as festa junina. “Fagulhas, pontas de agulhas, brilham estrelas de São João... Festa do interior” (Abel Silva e Moraes Moreira). Lembro do tempo em que os dias santos de junho eram feriados. Num inverno gelado, com cheiro de pólvora, lenha queimada e muitos balões soltos pelo céu. Lá no interior em Botucatu, nos anos 60 e 70, íamos correndo comprar os fogos de artifício (estalinhos ou traqui de véia, busca-pé, espiral, cone) e outros apetrechos juninos exclusivos da Casa Carvalho, na rua Amando de Barros. Como tradição de família, havia um roteiro de festanças no mês, que incluía arraiás no quintal da casa dos meus avós maternos Adélia e Antonio Donato, no Sítio Roseira dos tios Odila e Carmelo Taddey, na casa dos primos Lurdes e Toninho Leão. E havia os armados ao lado das paróquias, com disputados correios elegantes. BG: Ao fundo, no gravador do equipamento de som, tocava a sanfona de Mario Zan, com Festas Juninas e o medley: Noites de Junho (Alberto Ribeiro, Braguinha), Chegou a hora da fogueira (Lamartine Babo), Pedro, Antonio e João (Oswaldo Santiago e Benedito Lacerda). O comandante do arraiá avisava ao microfone cada prenda encomendada: Loc.: “Nhô Renê oferece uma prenda secreta pra sua noiva Nhá Lia. Nhá Lia retire sua prenda aqui na central do Serviço de Alto falante da Paróquia.” Ainda nos anos 70, 80 e indo pra meados de 90, as comemorações continuaram firmes também em São Paulo, com as memoráveis festas juninas nas casas dos tios Maysa e Renato Leão, Nenê e Salviano Nogueira. E regadas com brincadeiras, doces, pipoca, quentão, fogueira na rua, batata doce e pinhão na brasa da fogueira, nas festas com meus pais na casa de Itanhaém. Os anos 2000 trouxeram outras festas juninas muito especiais. Munido de máquina fotográfica analógica, fotografei as quadrilhas com meu filho Tom e seus colegas, especialmente no jardim e primário. Rituais que se estenderam até o colegial, com eventos muito caprichados, e que continuam até hoje nas dependências do Colégio Santa Cruz. Tem inúmeras barracas patrocinadas, gerenciadas por pais e mães voluntários. Tem a hora do bingo e no final um show com cantores e músicos famosos. Neste ano, o arriá familiar da vez acontece no Sítio da Gimol e do Dedé Perosa, na Cuesta de Botucatu. Lá também rola correio elegante, comandado pelo DJ da rádio local. BG: Ao fundo, Quadrilhas Juninas de Luiz Gonzaga. Loc DJ.: “E agora Na Hora da Prenda, Nhô Thi oferece lindas flores pra amada Nhá Nati. Nhá Nati, venha retirar sua prenda na recepção da Rádio Alvorada.” Festa junina é bão dimais, sô. Alegra o coração. O arraiá pode sê muntado na sala, na rua, nu quintá, no terrêro, onde fô. Prepará o cenário é fáci. Basta estendê uma toaia xadreiz, daquelas “bem cheguei” sobre a mesa principar. Fica legar decorá o ambienti com bandeirinhas e balão de papér de seda coloridu. Nas intenção de bençoá mais fortemente us devoto, nas óra de reza e pedido pru santo protetô, é priciso juntá as image dus ho-
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menageado. Santo Antonio (13/6), o santo milagrero, conhecidu como protetô das coisa perdida e santo casamenteiro. São João Batista (24/6) apóstolo, amigo quirido di Jesus, que é Xangô, na visão do Candomblé. São Pedro (29/6) aquele que tem as chave do Céu, que cuida das chuva, o primêro papa da Igreja Católica. As image podem ser na forma de istandarti. Ou ficçada no tradicional mastro, um suporti triangulár de madeira. Forçoso é caprichá na rôpa caipira. As muié cum vestido de chita florido, trança e chapé de páia no cabelo, sapatinhos e meias colorida. Os óme cum camisa xadrez, carça faruesti e argum remendu di panu, chapé de páia e butina di coru. BG.: Pula fogueira (João Bastos Filho e Getúlio Marinho). “Pula fogueira Iaiá, pula fogueira Iôiô. Cuidado para não se queimar...”,com Mastruz com Leite. A fogueira é um lemento importanti na festa. Representa a proteção contra os mau spritos. E isquenta a moçada que fica in vorta dela. Pensandu nus quitute, o trabaio é maió. Providenciá várias bandeja de sargado: pipoca, pinhão, minduim di vários tipo, mini-cachorro quenti, mini-sanduichi de pernir, mini-cuscuiz, ... Comprá pratinho e taié di prasticu pra degustá os bolo de mio e de fubá. Largá doci diversu, ispaiadu pelus quatro cantu da mesa. A lista é grandi: paçoca, pé de moleque caseiro de bandeja, pamonha, curau, arroiz-doce, rapadura, canjica, doce de batata doce, de abóbra. Levá caneca de barru e de loça prus gorpe de vinhu quenti e di quentão. Hummm, qui dilícia. O repertóriu, com forró e shoti, deve privilegiá o rei das quadria, o sanfonero Mário Zan. E os cantor sanfoneiro e as banda de forró junino. É Gonzagão, é Dominguinhos, é Mastruz com Leite. E os istrumentista junino. É Sivuca. É Hermeto Paschoal. Os nordestino festero: É Elba Ramalho, É Alceu Valença. É Geraldo Azevedo. É os Doces Bárbaros de Gil, Caetano, Gal e Bethânia. E Viva Santo Antonio, Viva São João, Viva São Pedro. PS: Despois du meiu dia di segunda-fera, entri nu podcast pra orví as musca dus Arraiá di Juinho. Ah, e ajudi a comemorá o Episódiu 100 du Semônica.
DIRETOR: Armando Moraes Delmanto EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes Contato@diariodacuesta.com.br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689
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Pedro Delmanto (Pietro Del Manto)
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mercial, “Casa Del Manto”, de venda de sapatos, botas, luvas e chapéus, possuindo oficina própria para a feitura e conserto de calçados. No início do século XX, o cavalo era meio de transporte e Pedro Delmanto andava com orgulho pela cidade.
Dia 29 de Junho – DIA DE SÃO PEDRO! – é a data natalícia do meu avô paterno, PEDRO DELMANTO (1870 – 1965). Nascido em 1870, em Zoppi/Castellabate, na região de Salerno/Itália, veio em 1887 para o Brasil, juntamente com seu irmão Costabile. Seguindo o desbravamento da Sorocabana que aqui chegava com suas paralelas poderosas, elegeu Botucatu como seu porto seguro. Aqui constituiu família e empreendeu com muita dedicação, sempre interagindo de forma positiva com a colônia italiana local. Venceu nos negócios, pertenceu à Loja Maçônica Italiana “Silvanno Lemmi”, tendo sido seu venerável, construiu e cedeu o prédio feito especialmente para essa finalidade. Com a construção da CASA DE SAÚDE “SUL PAULISTA”, atendeu a uma importante reivindicação dos imigrantes italianos de Botucatu: ter seu HOSPITAL! Além de propiciar ao seu filho, Aleixo Delmanto, a oportunidade de dirigi-la juntamente com o Professor Dr. Ludovico Tarsia – Catedrático de Cirurgia da Real Universidade de Nápoles – que estava exilado no Brasil por problemas políticos.
Casou-se com Maria Varoli, filha de Aleixo Varoli, em 1900. O patriarca Aleixo (Alessio) Varoli foi um dos pioneiros da industrialização em Botucatu. Primeiro Presidente da Società Italiana di Beneficenza e Agente Consular da Itália. Seus genros, todos italianos: Francisco Botti (Francesco Botti Caffoni), Pedro Delmanto (Pietro Del Manto) e Adeodato Faconti. Francisco Botti, casado com Albina Varoli, atuou no setor bancário e deu continuidade à atuação na cafeicultura do sogro, assumindo a sua grande propriedade rural. Botti chegou a ter seu próprio banco, o Banco Brasul (absorvido em meados da década de 1970, pelo Banco Itaú) em sociedade com a família Mellão, da vizinha cidade de São Manuel. Pedro Delmanto, casado com Maria Varoli, atuou no setor calçadista, possuindo Loja de Calçados, Fábrica de Calçados e o Curtume Bella Vista, especialmente montado para servir a Fábrica Delmanto.
Botucatu/Anos40 - Em pé: Antônio, Fióquinha, Fióca, Pedro Delmanto, Alice Delmanto, Orlando, Rina com Rubens no colo e Wanda. Sentadas: Maria Varoli Delmanto, Peggy e Glória.
Esse imigrante italiano alcançou seguidos sucessos até a grande crise de 1929/1930, quando encerrou seus negócios, transferindo-se, posteriormente, para a capital do estado. Antes disso, porém, em 1928, Pedro Delmanto viveu a realização de outro grande sonho: a inauguração da “Casa de Saúde - Sul Paulista”. Pedro Delmanto procurou reproduzir, em pequena escala, em Botucatu, na Casa de Saúde, as linhas arquitetônicas de um grande hospital de Florença. Assim, inaugurou a Casa de Saúde “Sul Paulista”, em 1928. Com a presença do Consul Italiano, representando o Rei da Itália, foi inaugurado com toda a pompa esse pequeno hospital. Estava orgulhoso esse imigrante italiano que possuía o mais antigo estabelecimento comercial da cidade (1891). Ele preparara esse pequeno hospital para o retorno de seu filho primogênito, Aleixo Delmanto, que fora com 9 anos para estudar em Parma (Itália), com seus primos Botti. Como era natural naquele tempo, seguiu para a terra natal de seu avô materno, Aleixo Varoli, Agente Consular da Itália em Botucatu. Voltava, formado médico pela Real Uni-
Casado com Maria Varoli Delmanto, teve 7 filhos: Aleixo, Antônio, Dante, Orlando, Berval, Wanda e Peggy (Imaculada Conceição). Como todo imigrante, sonhava vencer e ter seus sete filhos formados. Tutti dottori. E foi assim... Três médicos, dois advogados e duas professoras. Salve, nono! Salve, Pedro Delmanto!
CAMINHADA CORAJOSA
Pedro Delmanto (Pietro Del Manto) viera de Castellabate (Província de Salerno), cidade natal da família Matarazzo. Iniciou sua vida profissional como sapateiro com o Mestre Francisco Grandino, na cidade de Sorocaba, junto a Francisco Matarazzo que também iniciara lá a construção de seu império. De Sorocaba, acompanhando o crescimento da Estrada de Ferro Sorocabana, seguiu para Botucatu, então considerada “boca do sertão”. Estabelecido na cidade abriu (1891), juntamente com seu irmão Costabile, um estabelecimento co-
versidade de Parma, com especialização em Radiologia na mais antiga universidade do mundo, a Real Universidade de Bolonha. Homem de visão, Pedro Delmanto contratara para a Direção da Casa de Saúde, importante professor universitário, Catedrático da Real Universidade de Nápoles, na Cadeira de Clínica Cirúrgica: o Professor Doutor Ludovico Tarsia. Na Itália, o Professor Tarsia tivera problemas políticos, tendo que se exilar no exterior. (AMD)
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“A rifa” Maria De Lourdes Camilo Souza
Foi num dia 29 de junho, noite gélida de inverno. Fui numa daquelas quermesses deliciosas em comemoração a São Pedro lá na Igreja de São Benedito. Ainda não tinham salão de festas. E a festa foi ao ar livre. Muitas barraquinhas de comidas e de jogos. As crianças cheias de agasalhos e gorros acorriam á barraca de pesca para ganharem as cobiçadas caixinhas de traques, brinquedos, brindes diversos. Logo que conseguiam uma caixinha dos cobiçados traques, saiam jogando os papelotes com pólvora nos pés das pessoas que causavam pequenas explosões, assustando-as. Os adultos iam pegar um quentão para se aquecerem. Vez ou outro alguém soltava um rojão e todos gritavam :”Viva São Pedro”. Dona Belinha, mãe do padre circulava com a bandeja de sonhos. Comprei um enorme sonho recheado de goiabada e enterrei meus dentes naquela delícia açucarada generosamente recheada, ficando com o rosto sujo de açúcar até o nariz. Passei pelo carrinho do pipoqueiro que ficava sempre no horário das matinês, lá porta do Cine Paratodos, acabava de arrebentar as pipocas e o seu perfume enchia o frio ar noturno. Formavam fila para pegar um saquinho. Perto de uma árvore estava o homem já nosso conhecido, pois estava sempre próximo ao portão do Grupo Escolar Raphael de Moura Campos com seu carrinho de quebra-
-queixo, cocadas e outras delicias. Abracei D. Carola e D. Aurora que traziam as faces coradas e geladas pelo frio da noite. Logo atrás D. Dinda vinha vendendo cartelas de uma rifa. Comprei uma, sem nem mesmo saber o brinde. Fui buscar um espetinho lá na barraquinha do Seu Fortes, e continuei a me divertir vendo a quadrilha formada pelos casais da vizinhança enfatiotados a caráter. “Olha a chuva Olha a ponte “ E o trem formado pelas duplas ia trotando, trançando e dançando numa alegria sem fim. “E o sanfoneiro só tocava isso” A música alegre continuava. Trombei com a barriga da Biloca e pedi desculpas cumprimentando alegremente. Depois de tomar um vinho quente senti que estava corada e já até sentia calor. Aí anunciaram que ia correr a rifa e o Padre anunciou o nome do ganhador. Ou melhor: a ganhadora. Vi que os olhares se voltaram para mim e uma amiga do Raphael de Moura Campos gritou: “Maria você ganhou! Vai lá buscar.” Fui buscar meu prêmio. Fiquei ali olhando encantada para ele. Era um lindo casaco de veludo marrom com capuz e punhos de pele de coelho. Já vesti o casaco na hora para me proteger do frio e do sereno, cobrindo a cabeça com o gorro peludo. Me sentia a própria “Sissi, a imperatriz”! Foi o único prêmio que ganhei numa rifa em toda minha vida. Pipocou mais uns rojões no céu estrelado. “Viva São Pedro” “E o sanfoneiro só tocava isso”.