Edição 519

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Diário da Cuesta NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU ANO II Nº 519 QUINTA-FEIRA, 07 DE JULHO DE 2022

Neste Dia do Voluntário Social (07.07), parabenizamos todas as pessoas que se dedicam a esta causa. Mas você sabe o que é trabalho voluntário? Doar o tempo, trabalho e talento a favor de uma boa causa e de coração, sem ganhos financeiros, é uma boa forma de definir o que é essa ação tão importante, que possui interesses sociais e comunitários, melhorando a qualidade de vida do ambiente onde se vive. De acordo com a Organização das Nações Unidas, o voluntariado traz benefícios não apenas para a sociedade, mas também para o indivíduo que realiza as tarefas. Entre as atividades, podem estar inclusas ajudar em ações sociais, na arrecadação de alimentos, organização de eventos especiais ou auxiliar uma instituição em tarefas diárias ou não. É uma forma de aprender e dignificar a alma.


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Diário da Cuesta

Engº Camillo Fernandes Dinucci e o sonho da APAE

“INSTITUIÇÃO MODELO Não há, caros leitores, não pode haver, em relação a obra assistencial como essa, opinião contrária ou a favor na população botucatuense. O que há é toda a cidade – una e coesa -, a tributar o seu culto a uma das realizações mais brilhantes e nobres de nossa gente: a APAE. A veneração é uma decorrência natural das obras que se tornaram sagradas pela benemerência. Assim, a nossa população venera o Asilo Padre Euclides, a Casa das Meninas “Amando de Barros”, a Vila dos Meninos “Sagrada Família”, a AssociaCamillo Fernandes Dinucci ção de Promoção Humana, a Creche e Berçário “Criança Feliz”, o Albergue Noturno “Governador Abreu Sodré”, a Casa da Esperança, a APAE e muitas obras assistenciais de Botucatu. Essas obras são cercadas do afeto, do apreço, do carinho de todos os botucatuenses, quaisquer que sejam a condição, a classe, ou mesmo o partido político de que façam parte. A abnegação dessas pessoas que se dedicam a esse apostolado social deve ser reconhecida. Todos esses rasgos de dedicação, todos esses brios de magnanimidade de que tem dado mostras os Mecenas da Benemerência Social em nossa cidade não passaram, não passam e não passarão desapercebidos pelos botucatuenses que se interessam pelas coisas de sua terra e pelo sofrimento de sua gente. É inútil querer negar, ou antes e melhor, nem se trata da possibilidade de se poder negar, tal é a grandiosidade dessas obras, que no seu humanismo revelam-se e ostentam-se a todos os olhos e a todas as vistas como a mostrarem a importância da ajuda ao próximo, da necessidade de darmos um pouco do que temos para minorar o sofrimento alheio. Essas obras falam por si. A APAE é uma obra que dispensa definições: ela é toda bondade, ela é amor, ela é vida. Recordo-me da luta empreendida pelo Dr. Jair e Dona Lola Rodrigues Alves e pelo Dr. Camillo Fernandes Dinucci, que encabeçavam uma plêiade de idealistas a contribuir com todas as suas forças para tão salutar e meritória obra.

Prédio da APAE em construção (acervo Delmanto)

EXPEDIENTE NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU WEBJORNALISMO DIÁRIO

O começo foi difícil. Nada era fácil e muitos eram os obstáculos. As idéias e o entusiasmo nunca faltaram. A planta original da sede da APAE eu a vi na prancheta do Dr. Camillo: era uma promessa. Os planos eram muitos. A colaboração do Governo do Estado era indispensável. Essa colaboração veio em parcelas, não há dúvida, mas veio. Pouco a pouco, passo a passo, delineava-se a nova sede da APAE. Hoje, a APAE de Botucatu é uma realidade. Modernos equipamentos estrangeiros; intercâmbio educacional com suas congêneres; métodos aprimorados de recuperação; dedicação de seus dirigentes e de suas mestras fazem da APAE uma instituição modelo. A população botucatuense deve colaborar para a continuidade e engrandecimento dessa instituição. Já dissemos que em relação a essa obra assistencial não há opinião contrária ou a favor: toda a cidade, como um todo, tributa o seu culto e expressa a sua gratidão. Mas é preciso mais, muito mais. É preciso que cada botucatuense faça a sua visita à sede da APAE e dê a sua contribuição e a divulgue entre seus amigos e proclame onde possa e como possa que essa entidade assistencial não é senão uma obra de amor. Só e sempre amor, nas mais variadas facetas, mas por toda a parte o amor.” (jornal “Vanguarda de Botucatu”, setembro de 1976). Eu comecei com essa crônica escrita em 1976 – há 40 Anos! – sobre a APAE e a participação do Dr. Camillo, para mostrar que a exuberante instituição modelo que hoje é a APAE, foi fruto de muito sonho, muita luta e muita dedicação. A APAE – Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais surgiu do trabalho de um grupo de abnegados. Em 1969, o “Pupo”, Álvaro Line Ceriliani, fez a doação de uma área para a APAE. Em seu loteamento “Vila Sônia”, fez a doação de terreno de 11,668m2, para a construção da sede da entidade. Em 1973, a construção foi concluída em sua planta original, com 3.500m2. A planta feita pelo engenheiro Camillo Fernandes Dinucci, previa a capacidade para 300 matriculados, operando em sete blocos, mais quadra esportiva e área de recreação. A primeira Diretoria da APAE, era composta pelo presidente William Jorge e Jair Rodrigues Alves, Álvaro de Carvalho Azanha, Walter Losi, Walter Aristides Fávero, Vanderci Gaste, Alcino de Toledo Pisa Rodrigues Alves, Jaime Burini, José Edy Carmello, Aracy dos Santos Temer, Jamil Adib Antonio. A sede foi solenemente inaugurada no aniversário de Botucatu, 14 de abril de 1972.

Hoje, a APAE continua cumprindo, de forma modelar, a sua nobre missão. E Botucatu tem, na APAE, a certeza da atuação cidadã positiva da comunidade botucatuense. É Registro Histórico. (AMD) DIRETOR: Armando Moraes Delmanto EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes

Contato@diariodacuesta.com.br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689

O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.


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"Trabalho voluntário"

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Maria De Lourdes Camilo Souza

Nos aproximamos do dia 07 de julho, dia em que se comemora o Dia do Voluntariado. Sabe aquele trabalho que você faz sem ser remunerado, para alguma instituição ou para a comunidade? Fiz algum desse tipo de trabalho para o Natal Solidário, junto com algumas amigas da Ação da Cidadania, pedindo alimentos nos supermercados da cidade antes do Natal. Foi gratificante ver como as pessoas colaboram, suas fisionomias alegres e sua boa vontade em ver que os menos favorecidos possam contar com uma ceia de Natal melhor. Mas era uma ou duas horas num dia ou dois. Não tinha um vínculo. Há uns três anos quando foi criada a Loja Mundo do Apae, eu soube que precisavam de voluntários para ficar lá vendendo, organizando enfim colaborando, durante as tardes, de segunda a sexta-feira. Eu já estava pensando em como poderia prestar algum serviço voluntário vinculado a alguma instituição da cidade. Como moro ao lado do Apae, foi a oportunidade perfeita, para mim e penso que para eles. Participei dos shows de prêmios, Festa das Nações e outros eventos, ajudando a arrecadar fundos para que a entidade possa dar continuidade ao seu nobre trabalho. Devo dizer popularmente “vesti a camisa”. No dia a dia da Instituição você vai assimilando o seu nobre objetivo social de dar a essas pessoas e crianças especiais uma melhor qualidade de vida, propiciando até mesmo trabalho para alguns desses jovens. Acaba convivendo com alguns, com suas familias, sabendo das dificuldades que passam, ouvindo suas expressões pelos corredores. Vibrando com suas vitórias. Torcendo para que possam ter melhoras no seu quadro. Tenho muitas amigas que sempre admirei por seu desprendimento, e algumas tem em seu currículo inclusive a realização de projetos sociais de sucesso tanto para as crianças da cidade como para os adultos. Nossa cidade tem um povo maravilhoso nesse sentido. Gente de coração muito generoso. Pudemos ver na época das grandes chuvas de verão, quando muitos dos nossos cidadãos perderam tudo levado pelas águas, o que tinham, e como a sociedade se mobilizou para ajudar com roupas, móveis, alimentos. E não foi só nessa fase. Sabemos de anônimos que se mobilizam todos os anos para arrumar brinquedos e doces para o Dia das Crianças. Grupos de voluntários que fornecem café da manhã para os doentes de câncer que vem fazer quimioterapia no HC da UNESP. Poderia ficar aqui enumerando e sempre deixaria de citar aquele cidadão que como formiguinha solitária arruma um tempo, um dinheiro e socorre o seu irmão necessitado, e muitas vezes nem mesmo quer ser reconhecido, porque sente que o que sua mão direita faz, a esquerda não precisa saber como bem dizia o Mestre dos Mestres. Faz o bem, sem ver a quem, sem esperar retorno algum, somente pelo dever de ajudar.


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a r t i g o O Cenobita do Peabiru José Sebastião Pires Mendes Bancário, Professor e Artista Plástico. eu amigo sempre foi um excêntrico. Enquanto distribuia vulgar ciência a seus alunos, subia até as alturas estelares para contemplar o outro lado do Universo. E ele era assim mesmo: um homem de baixa estatura, mais idoso do que jovem, sujeito às gripes de uma forma alérgica. Mas conseguia esticar o pescoço e mergulhar a branca cabeleira para fora das nuvens de nossa profana mediocridade. Lá ele respirava uma atmosfera mais pura, e por isso mesmo, mais fantástica. Era exatamente a pessoa a quem costumo dizer: “Quem quer andar firme com os pés no chão, anda também com a cabeça nas nuvens”. E foi assim, nessa atmosfera nebulosa, que meu amigo certa feita revelou-me um sonho. Talvez não fosse um sonho, fosse sim uma daquelas fantásticas experiências que, conforme os entendidos, o eu corpóreo penetra em outros estados de consciência, da mesma forma que um submarino rasga as profundezas oceânicas. Nessa ocasião, nosso personagem havia lido sobre os antigos jesuítas, preocupado em redescobrir um caminho natural, que os teria levado do baixo vale de Piratininga até as alturas dos chapadões do interior. Havia um, descoberto e pisado pelos índios, que o chamavam de “peuá-boró”, isto é, pesado chapadão. Singular caminho aberto em picadas na selva, aproveitando os valos e aclives do terreno, que ziguezagueavam por entre as rochas, até atingir o topo da serra e demandar os recônditos inexplorados do interior. Em sua experiência psíquica, meu amigo arvorou-se em guia dos veneráveis padres, desejosos que estavam de encontrar-se com as comunidades indígenas para os altos de “tuitu-catu”, isto é, o vento bom, que soprava sobre as serras. Ele já tinha ouvido falar de um serpenteante caminho chamado pelos seus contemporâneos de “caminho do peabiru”, nome que se tornou célebre na literatura regional. “Caminhavamos em meio à chuva narrou ele - e parecia-me que um dos padres, a quem chamavam de cenobita, porque levava vida de monge, trazia consigo uma velha arca. Podia-se avaliar o seu peso pela força que o monge fazia ao transportá-la. Uma voz sussurava ao meu ouvido que naquela arca havia um precioso tesouro. Como num filme, passei de protagonista a espectador, e vi com interesse quando os padres, após escalar

a serra isnópita, descansaram numa gruta natural. Alí, o estranho monge escondeu o seu tesouro e tudo acabou”. Habituado como estava às mirabolantes narrativas de meu amigo, não dei importância a essa. Mas ele tornou-se com o tempo taciturno e já não ministrava bem suas aulas. Para ajudá-lo, dei asas à sua imaginação e pedí-lhe novas histórias oníricas. Mas ele não queria mais falar no assunto e segredou-me que uma última experiência fora de uma tal vivacidade que lhe havia afetado os nervos. Passou-se o tempo. Um belo dia o professor veio procurar-me bastante afli-

to, dizendo que tinha a certeza de poder reencontrar o caminho perdido dos índios. “Para que?” respondi-lhe eu. Ao que ele, sacudindo nervosamente seus cabelos brancos, retrucou: “Para acharmos o tesouro do monge jesuíta !” Bem, confesso que não esperava por essa resposta, já que nunca havia pensado que meu amigo, tão absorto às idéias do fantástico, pudesse alimentar pensamentos de cobiça. Além disso, acreditar em sonhos não era lá do meu feitio. “Mas tenho a certeza de que podemos achar esse tesouro”, garantiu, e mostrou-me um traçado antigo que rebuscara em livros de topografia. Ali estava delineado um sinuoso caminho que, segundo a lenda, seria o tão famoso caminho do peabiru. Da persuasão de uma idéia à aventura de uma pesquisa não houve muito tempo, pois, apesar de incrédulo, sempre me atrairam assuntos de arqueologia. Decidi-me pois, a acompanhá-lo. Mochila às costas, lá fomos num domingo de verão, em busca de indícios da tal caverna. A cuesta terminava em intrincados sulcos e aparentes caminhos naturais, provocados talvez pela erosão, que

se perdiam penhasco abaixo, onde outrora vinham quebrar as ondas de um oceano antidiluviano. Realmente, à vista do grande vale além, descortinava-se diante de nós o que mais parecia um oceano interminável, de onde se elevavam massas de ar quente, confundindo o violáceo do horizonte com o tênue azul do céu. E a procura do tesouro terminou em cansativo passeio, ainda que pitoresco. Mas o professor não desanimou, e depois de vários dias de silêncio, interpretados por mim como cética desistência, comunicou-me ele que o cenobita lhe havia aparecido novamente e lhe indicara o local exato onde escondera o tesouro. Passaram-se meses e diante de minha recusa em tomar parte em tão insólito empreendimento, ele acabou por arrefecer nossa amizade. Mas continuou sozinho com suas buscas, das quais voltava sempre extenuado. Dizia-me que constantemente tinha visões nas quais distinguia uma caverna escondida no bojo da cuesta e que dentro dela jazia um vulto deitado sobre uma pedra. A seu lado, a arca do tesouro. Perante tal dicotomia da realidade, cheguei a temer pela saúde mental de meu amigo, e depois de aconselhá-lo inutilmente, achei melhor afastar-me. “Quem não ajuda não atrapalha”, pensei eu, e fiz uma oportuna viagem de férias. Quando voltei, soube que o velho professor havia morrido. Indagando a causa, disseram-me que ele havia sido acometido de moléstia de processo tão rápido quanto fatal. Um quadro estarrecedor, porquanto nos últimos dias de vida ele não cansara de falar de uma tal gruta do tesouro, e que só eu poderia encontrá-la. Mas eu estivera ausente, e tanto era a sua insistência, que pessoas curiosas foram verificar o local. Mas nada encontraram senão vestígios de picadas no mato, escavações toscas no arenito dos barrancos, tentativas de abertura nas rochas hostís, e uma desolada paisagem de galhos retorcidos, cascalhos e ferramentas quebradas e abandonadas. Não me contive, e movido por um inesperado impulso emocional, fui até lá. Realmente, não encontrei gruta alguma, mas fiquei muito surpreso ao descobrir, escondida sob as folhagens, uma rocha de grandes proporções. Ao examiná-la em detalhes, não pude conter um susto: gravadas em profundos caracteres latinos, tão antigos quanto o local, estavam estas nítidas palavras, desafiando o tempo e a razão: “NIPA ITA”, que na língua dos índios significa pedra ôca. O cenobita guardião havia deixado sua indelével marca.


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