Diário da Cuesta NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU
ano I Nº52
SEXTA-FEIRA, 08 de janeiro de 2021
Igrejinha de Santo Antônio de Rubião Jr. Histórico e Tradição Página 4
Escavação na Ponte da Rua Rafael Sampaio para colocação das vigas de apoio
Durante o mês de janeiro a Prefeitura Municipal pretende instalar as vigas para apoio ao tabuleiro da super ponte que é uma das mais movimentadas da cidade. Assim, a prefeitura pretende liberar em breve essa ponte que dá vasão para a Vila Maria, Boa Vista, Bairro Alto e para toda a parte alta da cidade no entorno da avenida Conde de Serra Negra.
VOCÊ SABIA?
Que teria sido brasileiro o famoso herói inglês que marcou presença na Primeira Grande Guerra Mundial? Teria sido botucatuense esse herói? Teria nascido na Cuesta de Botucatu esse herói que encantou gerações com sua bravura e idealismo? A Revista Peabiru apresentou minucioso estudo sobre a trajetória desse herói mundial. Na história ou na “lenda” de Lawrence da Arábia, temos como berço natal do herói a Cuesta de Botucatu, mais precisamente, a Fazenda do Conde de Serra Negra, localizada em Vitoriana. Verdade ou lenda ?!? Segredo guardado ou sonho “botucudo” surgido antes da virada do século passado?!? Mas fica – com certeza! – a imagem positiva e heroica de Lawrence da Arábia: um brasileiro nascido na CUESTA DE BOTUCATU.
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Ilustração do Mestre Vinício da Igrejinha de Rubião Jr.
Preciosidade cultural da cidade! Um dos símbolos de Botucatu!!!
Durante dez anos fui diretor do jornal VANGUARDA DE BOTUCATU (1970/1980). Em 1980, ele não acabou... Foi transformado no bi-semanário “JORNAL DE BOTUCATU”. O novo jornal surgia, bi-semanário, sem engajamento político, mas com uma linha definida de defesa da comunidade. Foi o primeiro jornal feito no “linotipo” em Botucatu a partir dos anos 70. Até 1980, os nossos jornais eram feitos no “tipo”, artesanalmente, com exceção do “Vanguarda”, sempre feito fora de
Botucatu por perseguições políticas dos poderosos de então. Pois bem, em 1980, trouxemos para Botucatu a Gráfica completa do Ariosto Campiteli, de Bauru, que imprimia o “Vanguarda” e passou a ser sócio do “JORNAL DE BOTUCATU”. Ele veio com a gráfica e a família, além do Dalvo Davanço e família. Foi um grande passo da mídia botucatuense. Hoje, o “linotipo” já foi substituído pela off-set. Tudo ficou mais fácil, democratizando o jornalismo. Buscamos a inspiração gráfica e de
diagramação para o “JORNAL DE BOTUCATU” no moderno veículo do Grupo do Estadão: o “JORNAL DA TARDE”. Foi um sucesso em Botucatu. Pedimos ao professor Vinício Aloise – Mestre da Ilustração – que eternizasse a Igrejinha de Santo Antônio, em Rubião Júnior, como logotipo do jornal. Até meados dos anos 90, permaneceu como o melhor jornal e com a maior tiragem da cidade. Circulou até 2005/6. A ilustração permanece como uma preciosidade cultural de Botucatu. (AMD)
Que a Embaúba é uma árvore típica do cimo da Cuesta de Botucatu? Pois é, a Embaúba que também é conhecida por Umbaúba, Ambaíba, Ambaúba, Imbaúva ou Imbaúba, é árvore da família das Moráceas (cecropia palmata); é árvore de tronco indiviso. Embaubal é o bosque de embaúbas. Também é chamada de árvore-dos-macacos ou árvore-da-preguiça ou torém. O antigo traçado férreo da Sorocabana passava por Vitória (Vitoriana), Lageado e...Embaúba... Sim, Embaúba é uma pequena Vila pertencente a Botucatu que até hoje é procurada pelos amantes da pesca por ser um local ideal e piscoso. Hoje, o descuido e o desrespeito à natureza reduziu muito o número de Embaúbas em nossa região, mas podem ser encontradas na Cuesta e em vários pontos verdes de nossa cidade.
EXPEDIENTE NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU WEBJORNALISMO DIÁRIO
DIRETOR: Armando Moraes Delmanto EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes Contato@diariodacuesta.com.br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689
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artigo
O Milagre – Rubião Júnior
Elda Moscogliato Muito raramente ela subia o morro. Mas o seu diálogo com o Santo era diário e frequente. À tarde, quando o dia findava, ela dava cabo das trabalheiras do Hotel e então se recolhia, num suspiro de cansaço e de desafogo. Punha-se recostada no vasto leito, janela aberta frente à massa espessa do morro, lá bem lá encima, e terço na mão, começavam os diálogos muitas vezes entrecortados pela irreverência dos netos que lhe invadiam o merecido repouso. Ele bem a entendia. E como dialogavam! Dispensava-lhe outros sacrifícios. Pois sabia que daquela mesa alva de louça rebrilhante e talheres luzidios saia, mais do que de listões e quermesses concorridas o certo subsídio seguramente pingado na construção lenta, porém continua, de seu novo templo em ereção cujo primitivo modêlo vinha de distante aldeia medieval, berço lusitano do Sr. Guimarães, o construtor. Ela herdara dos antepassados peninsulares aquela fé ingênua de devoção sincera arraigada num coração puro, aberto à crença simples e profunda nos poderes celestiais. I Vangelii, soletrados desde a infância remota em Pontremole, trazidos entre o ondear inseguro da travessia, acompanharam-na pela vida em fora como sinal firme de esperança no novo mundo. Aqui, na modesta Vila, ela mantinha aquela mesma crença pura de uma alma simples. O Santo a amparava e lhe dava força. Agora, os tempos estavam difíceis. Havia falta de material para a construção. Não havia dinheiro e os materiais subiam de preço a cada dia. Estava ameaçada a obra. Ela não esmoreceu. Vencera tantas dificuldades. Intrépida por temperamento, não se apercebia do feminismo imanente que lhe acalorava os ímpetos. Era preciso que o
Santo a ajudasse. Já pedira demais, aos hóspedes. Agora, era preciso um auxilio do céu. De que jeito? O Santo que resolvesse. Já ganhara tantas lutas com a comissão das obras. Veja-se : quando se cogitou da construção do novo templo, surgiram os entendidos locais com os óbices : não há máquina que suba a vereda íngreme para aplainar o cimo do morro. A tração ferroviária abalará os alicerces. Ela não teimou. Não era da sua alçada. Mas convocou os engenheiros de fora e ofereceu-lhes um suculento “minestrone” à moda pontremolesa regado a finos vinhos estrangeiros. No meio do ágape, ela propôs-lhes o duplo problema. Eles riram-se gostosamente da sua simplicidade. Mas quinze dias depois, a planta foi aprovada e as obras começaram. Pois agora, esse impasse. O Santo entendia a sua preocupação. E haveria de socorre-la. Os horários, naquele tempo, eram assim: às dezesseis e meia da tarde, subiam de São Paulo via Tibagi – Noroeste, dois trens de passageiros. À noite, às vinte e três horas, desciam os trens do Interior para a Capital. Na pequena Vila, esse era o momento que congregava na Estação os moradores frente ao Botequim aberto para o café, os pastéis, vez por outra, a água tônica. Caninha não havia. Então, era o trança-trança de passageiros que desciam para a pousada
ou o lanche apressado de salgadinhos e doces reforçando o resto da viagem. Servidores da estrada, compradores de revistas e jornais, curiosos e tresnoitados trocavam palavras sobre a política, a vida, a noite e o frio. Foi quando, numa noite, desceu do trem noturno um senhor alto, belo, elegante e alinhado. Em contraste frisante com os passageiros que desciam via Capital. Dirigiu-se ao Botequim pedindo um café. Pousou no balcão, linda pasta de fino couro brilhante, resplendendo em seus metais. Enquanto tomava o liquido, circunvagou os olhos claros, límpidos, pelos circunstantes mais ou menos encabulados. Pagou, cumprimentou a todos com leve tocar do fino chapéu e dirigiu-se para os lados do Hotel. A Vila não tinha iluminação. E ele perdeu-se na escuridão da noite. Não constou, no livro de registro dos dois Hotéis da Vila, a passagem desse viajante. Ninguém discutiu o fato. Uma como que temerosa discrição abafou qualquer comentário. Mas dias depois, lá no morro, ao acender o lampião da tarde, o velho Frederico encontrou dentro do nicho da capelinha, uma linda pasta com milhares de notas de valor. À noitinha, invadindo o quarto da Nona, a criança travessa ouviu-a balbuciar risonha, olhando lá no alto, a capelinha iluminada pela luz da lua : - San Michele ou San Raffaello? . . . Acervo Peabiru
É bom saber. O artista plástico e conhecido webdesigner botucatuense Marco Antonio Spernega, foi quem idealizou a Cuesta de Botucatu estilizada e com todo o seu simbolismo: a escarpa, o verde representando as nossas matas e o azul do céu... A criação do Spernega valorizou a nossa CUESTA que teve, em sua estilização, o impacto que as obras dos grandes artistas tem. Vejam no Expediente o logotipo do Diário da Cuesta! Marco Spernega tem exposto seus trabalhos em concorridas exposições. Esta ilustração é uma obra de arte e de simbolismo histórico!
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A R T I G O História da Igrejinha de Santo Antônio, de Rubião Júnior
Foto de Antônio Delmanto - 1949 A Igrejinha de Santo Antônio, de Rubião Júnior, é um dos pontos turísticos mais visitados em Botucatu. Sua história sempre teve muitas versões, algumas até fantasiosas. O certo é que a Família Frederico esteve ligada à religiosidade e à preservação histórica da Igreja e do Morro de Rubião Júnior, desde sempre.
As fotos da Igrejinha são parte do patrimônio histórico de Botucatu. À noite, o morro e a Igrejinha formam um visual magnífico. E inesquecível! Todo ano, no dia de Santo Antônio – 13 de junho! – em Rubião Júnior acontece a Festa de Santo Antônio, com quermesse, festas, barracas de comidas típicas da época e barracas para lazer, além da procissão e da missa rezada na Igrejinha de Santo Antônio. Agora, a dedicação e a pesquisa do Toninho Sanches nos traz um trabalho, publicado em um folheto patrocinado pela Prefeitura Municipal e pela Gráfica Igral. Já dissemos ao entrevistá-lo, na TV Serrana, que ele é o “Secretário de Turismo de Botucatu”, escolhido pela comunidade, graças à sua incansável dedicação à frente do Grupo Papa-Trilhas. Na matéria sobre o Lageado ( 80 Anos da Fazenda Lageado (1934/2014)) e na matéria sobre o lendário Lawrence da Arábia ( O Herói de Botucatu: Lawrence da Arábia), publicamos fotos da famosa Casa do Conde de Serra Negra com os componentes do Grupo Papa Trilhas. É inestimável a colaboração que esse cidadão vem dando para a cidade de Botucatu. Vamos à história pesquisada por ele:
IGREJA DE RUBIÃO JUNIOR HISTÓRIA DE RUBIÃO JUNIOR “O primeiro nome de Rubião Junior – foi Capão Bonito – devido a uma fazenda existente na região com o mesmo nome. Esse recanto entrou para a história em 1855 – quando ogoverno criou um Posto Fiscal para recolher taxas das tropas de gado e burros que vinham do Rio Grande do Sul rumo à Minas Gerais e Bahia. O Posto existiu até 1891 – quando foi extinto pela Constituição Republicana. O Chefe desse Posto Fiscal – Antonio Pais Madureira – se encantou com esse recanto, tanto é que após a extinção do Posto o mesmopermaneceu por lá, adquirirndo terras e formando uma grande fazenda, tanto fez pela localidade que muitos o consideravam o fundador de Capão Bonito. Por volta de 1910 – a Ferrovia – faz de Capão Bonito, um polo importante de entroncamento ferroviário para as regiões de São Paulo – Paraná e Mato Grosso. Em 1916 – com o falecimento do Senador Paulista João Alvares Rubião Junior – o Governo de São Paulo muda o nome de Capão Bonito para Rubião Junior – como homenagem a esse político. Durante os anos de 1920 e 1930 – com moléstia da tuberculose ainda sem cura pela medicina – descobriu-se que os ares deRubião Junior, eram benéficos aos males do pulmão. Transformou-se Rubião Junior – num centro de atração, com a criação de pensões familiares, hotéis e restaurantes para atender a demanda de famílias de doentes. Nessa mesma época começa a chegar na região colonos italianos imigrantes da Itália para sítios e fazendas. A Ferrovia Sorocabana – constrói um conjunto de casas ao lado da estação para alojar os ferroviários que prestavam serviço no local. Rubião Junior – teve nessa época, entre 1020 e 1930, mais hotéis, restaurantes epensões familiares, do que proporcionalmente, algumas cidades da região. A boa cozinha caipira e italiana, aliadas a uma perfeita hospitalidade – ficaram famosas. Afirma-se que a Sorocabana prolongava a parada de seus trens no local a pedido dos passageiros que sabiam que naquela parada era onde se comia bem. De 27 de julho a 1º de agosto de 1924 – Rubião Junior – viveu momentos angustiosos com a presença do exército revoltoso do General Isidoro Dias Lopes que avançava com a intenção
de invadir mato Grosso. Cerca de tres mil soldados ocuparam o povoado por esses dias aguardando a formação dos trens. As famílias conzinharam para o Exército e os estoques dos armazéns, dispensas dos restaurantes, galinheiros e chiqueiros foram esvaziados. A devoção também chegou a Rubião Junior através dos italianos. Arcângelo Frederico – após considerar milagrosa a cura de sua esposa gravemente doente – escolheu o ponto mais alto entre as rochas do pico do morro de Rubião Junior e ali cavou um nicho no qual colocou a imagem de Santo Antonio. Aos pés do Santo, colocou uma lamparina e fez a promessa de: todas as noites, qualquer que fosse o tempo, pelo resto de sua vida, subir no topo (naquele tempo não havia caminho, apenas trilhas) afim de acender a lamparina. Na tarde de 16/maio/1923 – correu noticia “Frederico morreu!” Com muita ansiedade, os olhos dos fiéis e de descrentes curiosos se voltaram para o nicho de Santo Antonio. Nem nos dias de grande agitação no povoadpo houve por ali ansiedade igual. Quando o escuro da noite chegou – a lamparina brilhou e Frederico estava morto. Um grito de espanto e maravilha, vindo de todos ao redor, sacudiu a noite e envolveu o monte. Essa é mais bonita das histórias não só de Rubião Junior, mas de toda a região. A história do quanto pode e consegue o empenho de um homem de fé e palavra. Com o crescido numero de fiéis no local, foi decidido a construção de uma capela em louvor a Santo Antonio – depois de entendimentos com a família de Jayme Pinto ´proprietário da terra – devotos voluntários abriram trilhas e transportaram nos ombros e lombos de burros, os primeiros materiais para o inicio da obra. Na época os irmãos Guimarães – Manoel e Álvaro – eram famosos construtores de igrejas e capelas em Botucatu e região. O construtor Manoel Guimarães – ao fazer as primeiras plantas da construção sobre o morro quase novecentos metros de altitude, teve a idéia de fazer a igreja parecida com os castelos que são vistos no alto de muitas montanhas na Europa. E sua escolha foi justamente em homenagem ao Castelo Medieval de Guimarães – Portugal – sua terra natal. Finalmente em 1931 –com grande festa – dia 13 de junho – Dia de Santo Antonio – é entregue à comunidade de Rubião Junior – essa maravilhosa obra de arquitetura e espiritualidade. O nicho do fiel Arcângelo Frederico – foi preservado na frente da igreja. Por volta de 1958 – a medicina tendo descoberto a cura dos males do pulão – o gigantesco prédio que seria sanatório de tuberculose perde sua finalidade. Mas como um milagre da lamparina – em 1963 – Botucatu é iluminada com a criação de sua Faculdade de Medicina justamente nos prédios dos bons ares de Rubião Junior.”