Edição 521

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Diário da Cuesta NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU ANO II Nº 521 SÁBADO E DOMINGO, 09 E 10 DE JULHO DE 2022

90 ANOS da REVOLUÇÃO

CONSTITUCIONALISTA

DE 1932 Páginas 2, 7 e 8

JUBILEU DE OURO DA ABL - ACADEMIA BOTUCATUENSE DE LETRAS 1972 - 2022 Páginas 3, 4, 5, 6, 9 e 10


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Diário da Cuesta

9 DE JULHO E A GRANDE VITÓRIA PAULISTA!!!

A vitória da Revolução Constitucionalista de 1932 só aconteceu em 1933/34, com a nomeação de um civil e revolucionário para o Governo Paulista e a realização da CONSTITUINTE!! “Quero que compreendam a extensão e o significado deste ato, pois, com este decreto, entrego o governo de São Paulo aos revolucionários de 32”. (Getúlio Vargas) Os paulistas queriam a CONSTITUIÇÃO e a AUTONOMIA DOS ESTADOS e, na luta pela volta do país ao Estado de Direito, na luta cívica de 1932, queriam a convocação da Assembléia Nacional Constituinte. Esse foi o compromisso claro na mobilização para o Movimento de 1930, descumprido pelo Governo Provisório e que levou São Paulo a pegar em armas em 1932: a volta ao Estado de Direito e a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte para a elaboração de uma Constituição Democrática. Foi o maior movimento cívico vivido pelo povo brasileiro. Apesar do movimento revolucionário de 1930 ter recebido amplo apoio das forças e lideranças políticas paulistas, os seus objetivos foram fraudados pelo caudilhismo, representado por Getúlio Vargas. Uma vez instalado no Poder, Vargas passou a governar fora do Estado de Direito, violando as mais elementares regras democráticas. O Congresso Nacional, as Assembléias Estaduais e as Câmaras Municipais foram fechadas, todos os Governadores dos Estados (Presidentes) foram depostos e a Constituição de 1891 (preparada por Rui Barbosa) foi revogada. O caudilho Vargas passou a governar o Brasil através de Decretos-Leis (1930/32). São Paulo assumiu a liderança de exigir o retorno do país ao pleno Estado de Direito. A insatisfação grassava por toda parte e a permanência, que não era provisória, dos governantes federais no poder era a negativa do ideário pregado para o sucesso do movimento de 30. De início, com o apoio de vários Estados da Federação, principalmente do Rio Grande do Sul e Minas Gerais, sendo certo que os gaúchos tiveram papel significativo no incentivar, mobilizar e apoiar a tomada de posição dos paulistas. No entanto, o grande poder de cooptação do Poder Central conseguiu isolar São Paulo. Sozinhos, os paulistas levantaram a Bandeira da Constituição. A Revolução Constitucionalista objetivava, tão somente, autonomia administrativa, eleições e Constituição, ou seja, a volta do país ao pleno Estado de Direito. E, a partir daí, realizar a tarefa de modernizar o país, erradicar as injustiças e os erros que um regime político em descompasso com a evolução da humanidade não havia conseguido captar na Primeira República. Nada de separatismo como apregoavam os asseclas do Ditador... A mobilização foi unânime! As diferenças político-partidárias ficaram para traz. São Paulo soube compreender o momento cívico que estava vivendo e soube levantar, bem alto, a Bandeira da Legalidade! E o coração de São Paulo havia sangrado no final de maio/32 quando, numa manifestação da população paulistana com a presença de muitos estudantes de direito, pela autonomia de São Paulo e a favor da Constituinte, houve violenta repressão policial. Da ação violenta contra a população, quatro estudantes paulistas foram assassinados: Euclides Miragaia, Mário Martins de Almeida, Dráusio Marcondes de Sousa e Antônio Camargo de Andrade. As siglas dos nomes dos mártires (Miragaia, Martins, Dráusio e Camargo) deram origem ao MMDC, entidade que passou a representar a “alma dos paulistas” na luta que se iniciou a 9 de julho de 1932 contra um Governo Provisório (e que nada tinha de provisório) que não respeitava a autonomia de São Paulo e nem o Estado Democrático de Direito. A participação da intelligentzia paulista na mobilização da população foi fundamental. A nossa intelectualidade tomou posição firme, quer através do trabalho da pena, quer pela força da palavra, assumindo com a clareza de suas ideias a imprensa, a tribuna parlamentar, os pronunciamentos nos comícios e nos microfones radiofônicos. Resumindo: a mobilização cívica da população! Todos sabem o desfecho dessa que foi a mais importante ruptura da unidade nacional: a guerra civil de 32, levando irmãos ao mais grave enfrentamento. Os gaúchos – salvo algumas lideranças democráticas que mantiveram a palavra de incentivo e apoio irrestrito – abandonaram os paulistas. O mesmo ocorreu com os mineiros e com as forças militares da capital federal. São Paulo ficou sozinho na batalha para poder gerir a si próprio e pelas eleições e pela Constituição Democrática.

São Paulo não ganhou a guerra civil, desproporcional sob todos os aspectos, mas saiu vitoriosa, indiscutivelmente, saiu vitoriosa: o Ditador Getúlio Vargas teve, essa é a verdade, teve que convocar as Eleições Constituintes ! Haviam conseguido “brecar” São Paulo pelas armas, mas o povo brasileiro já havia sido “contaminado” pelo patriotismo e pelo desejo de ver o Estado de Direito reimplantado no país! Os ideais constitucionalistas da Revolução de 32 fincaram profundas raízes no sentimento patriótico do povo brasileiro. O Ditador Vargas não teve outra opção se não a convocação da Assembléia Nacional Constituinte. A nível nacional e nos Estados, foram eleitos os Deputados Constituintes com a missão de elaborar a Constituição de cada unidade federativa. E na Nova Constituição, o VOTO SECRETO e o VOTO FEMININO foram consagrados! Com o objetivo de resgatar a atuação valorosa dos paulistas é que fizemos esta interpretação histórica da epopéia cívica de 1932. Esse o cenário real em que se desenvolveu a luta armada e é a mais bela página do exercício da cidadania pelo povo paulista. A Assembléia Nacional Constituinte Getúlio Vargas, por Decreto, regulamenta o funcionamento da Assembléia Nacional Constituinte. Com a vitória militar, Vargas se sentia forte o suficiente para amenizar o clima e o espírito constitucionalista que a Revolução Constitucionalista de 32 criara em todo o pais. Assim, através de Decreto Lei, dispunha as atribuições da ANC e, entre muitas, a que deveria eleger o Presidente da República. Pelos paulistas conseguiu-se o que parecia impossível: a união de suas forças políticas: o PD – Partido Democrático e o PRP – Partido Republicano Paulista, com o apoio da Federação de Voluntários (dos ex-combatentes de 32) e da Associação Comercial de São Paulo, fizeram a “Chapa Única por São Paulo Unido”. Foram mantidas as estruturas partidárias independentes. As eleições para a Constituinte, foram realizadas no dia 03/05/1933. A Chapa Única elegeu 17 dos 22 representantes do Estado. Logo após as eleições, Vargas conseguiu aproximar-se da oposição paulista e fazer a tão desejada aliança. No dia 21/08/1933, um “civil e paulista”, combatente de 32, toma posse como Interventor Federal em São Paulo: o Engº Armando de Salles Oliveira. “Quero que compreendam a extensão e o significado deste ato, pois, com este decreto, entrego o governo de São Paulo aos revolucionários de 32”. Com essas palavras, Getúlio Vargas procurava garantir o seu futuro político. O esperto gaúcho mostrava que não era por acaso que estava no comando do país. Sabia fazer política e tinha visão clara do futuro e da importância de compor e dar, como vitorioso, tratamento adequado aos adversários de ontem... No Palácio Tiradentes, no dia 16 de julho de 1934, era oficialmente promulgada a nova Constituição da República. A partir daí, a Assembléia Nacional Constituinte se transforma provisoriamente em Câmara dos Deputados. No dia seguinte, 17/07/34, é eleito Getúlio Vargas como Presidente da República do Brasil, com mandato de 4 anos. E no dia 20 de julho, toma oficialmente posse do cargo. Finalmente, a 14 de outubro de 1934 são realizadas eleições para a Câmara de Deputados e para as Assembléias Constituintes dos Estados. Além de elaborarem as respectivas Constituições Estaduais, elegeriam os governadores e senadores, transformando-se provisoriamente em assembléias ordinárias. A esperteza e a capacidade do Ditador Getúlio Vargas em cooptar seus adversários políticos sempre foi reconhecida. E Vargas soube compreender a dimensão da patriótica mobilização paulista: um perigo que poderia contaminar todo o povo brasileiro. Assim, em agosto de 1933, em um gesto próprio de quem tem a inteligência e a sagacidade para ficar discricionariamente 15 anos no poder central (1930/45), estendeu aos paulistas, sem

limitações, as reivindicações mais prementes que levaram à deflagração do movimento insurrecional paulista: a autonomia na gestão do governo paulista e a fixação das datas das eleições constituintes. Armando de Salles Oliveira foi nomeado, em 1933, Interventor Federal até a sua eleição, pelos Deputados Estaduais Constituintes, eleitos em 1934, como Governador do Estado de São Paulo, em abril de 1935. Uma das condições para que Armando Salles aceitasse o convite foi a da concessão de anistia aos revoltosos de 32, que puderam retornar do exílio. Mesmo derrotados na luta armada, os constitucionalistas alcançaram os seus objetivos políticos. O escritor Hernâni Donato, em seu livro “A Revolução de 32”, edição Círculo do Livro/Livros Abril, 1982, pág.177, destacou a importância dessa escolha: “Particularmente aos paulistas, que seguiam amargando a rendição particular, Getúlio quisera fazer provar a 21 de agosto de 1933 o sabor aliciante, desarmante, de alcançar um objetivo obstinadamente perseguido. Nomeou Armando de Sales Oliveira – civil e paulista – para a interventoria federal em São Paulo. Assinando o decreto, enfatizava: “Quero que compreendam a extensão e o significado deste ato, pois, com este decreto, entrego o governo de São Paulo aos revolucionários de 32”. “Quero que compreendam a extensão e o significado deste ato, pois, com este decreto, entrego o governo de São Paulo aos revolucionários de 32”. Jogada de mestre do caudilho gaúcho, mas que representou a possibilidade de reagrupamento da cidadania paulista e a efetiva possibilidade de se provar a capacidade administrativa dos revolucionários constitucionalistas e o indiscutível sentimento de unidade nacional que sempre os motivou. Fruto da Revolução de 32, a mobilização dos paulistas para as eleições presidenciais de 1937 foi o maior acontecimento político da época. Com as eleições estaduais para a Constituinte Paulista de 1934 e o governo arrojado e inovador de Armando de Salles Oliveira, o Brasil passou a se espelhar e a esperar que o grande democrata paulista levasse para todo o Brasil, as novas e modernas técnicas de bem gerir o serviço público que implantou em São Paulo, além da verdadeira revolução educacional com a criação pioneira da USP – Universidade de São Paulo. O governador Armando Salles trouxe para a gestão pública a experiência que tivera ao criar, na iniciativa privada, moderna empresa voltada ao treinamento e formação de gestores. Essa sua atuação no setor produtivo repercutiu muito em todo o país, especialmente com a criação bem sucedida do IDORT – Instituto de Desenvolvimento Organizacional do Trabalho. O IDORT preparava lideranças para a boa e eficiente gestão administrativa, além do ensinamento das modernas e eficientes técnicas organizacionais de trabalho. Ao mesmo tempo e também em iniciativa pioneira e revolucionária, Armando Salles investiu maciçamente na educação e implantou as Escolas Profissionais (posteriormente, denominadas Escolas Industriais) na capital e no interior do estado. Assim, estavam elencados os objetivos imediatos: modernizar o serviço público, investir na educação prioritariamente e implantar novas e produtivas técnicas organizacionais para a otimização da máquina estatal. O Estado Novo. O Exílio. A Derrota da Democracia... Em 1937, Getúlio Vargas dá o Golpe de Estado e implanta o Estado Novo (10/11/1937). A democracia é derrotada. A Constituição de 1934 é revogada. As Casas Legislativas (Congresso Nacional, Assembléias Legislativas e Câmaras de Vereadores) são fechadas. Os Governadores e Prefeitos são depostos; são nomeados os Interventores Federais. As Bandeiras dos Estados são queimadas em praça pública pelo Ditador Vargas! O caudilho Vargas passa a governar por Decretos Leis... Esse filme já foi visto em 1930... No mesmo dia do golpe, Armando é preso em seu apartamento do Rio de Janeiro. É enviado para Minas Gerais onde fica isolado até maio de 38. Em novembro (03/11/1938), segue de navio para a Europa. Era o desterro. Era o exílio que duraria até 07 de abril de 1945, quando regressaria, já muito doente, falecendo em São Paulo (17/05/1945). Em sua última homenagem, na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, a presença dos amigos e familiares. O caixão é fechado. Carregam o esquife os profs. Jorge Americano, Gabriel Rezende, André Dreyfus, Benedicto Montenegro, Teotônio Monteiro de Barros, Soares de Faria, Fonseca Telles, Pacheco e Silva, Zeferino Vaz e Waldemar Ferreira. Os discursos do prof. Jorge Americano, Reitor da USP, do prof. André Dreyfus, Diretor da FFCL e do acadêmico Waldir Troncoso Peres, orador do Centro Acadêmico XI de Agosto. No cemitério da Consolação, Otávio Mangabeira proferiu, de improviso, ao baixar o corpo à sepultura, belíssimo e comovente discurso. (AMD)


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ABL – Academia Botucatuense de Letras 9/7/1972 – 9/7/2022

Tudo começou em 1972 - a data escolhida 09 de julho: homenagem à REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA DE 1932 ! -, conforme podemos ver na Edição Especial Comemorativa da revista PEABIRU, quando da comemoração dos 30 anos da ABL: “O passado nunca conhece o seu lugar. O passado está sempre no presente”. Mário Quintana O 50º aniversário da ABL é um grande marco. É uma vitória! É a Botucatu cultural mostrando a sua sólida formação. Está completada mais uma caminhada peabiruana. A Peabiru - revista botucatuense de cultura - não poderia deixar de participar, trazendo à nossa comunidade uma edição especial comemorativa de tão importante acontecimento. Desde a primeira tentativa, em 1936, até a segunda tentativa, em 1958, quando o idealismo de nossos intelectuais soube escolher o lema da Academia: “ Non Omnis Moriar”, ou seja, “não morrerei de todo”, é que Botucatu vem tentando viabilizar a

sua Entidade Cultural Maior: a sua Academia de Letras ! Finalmente, a terceira tentativa, em 1972... Surgia, então, a Academia Botucatuense de Letras, sob o comando firme do Dr. Antonio Gabriel Marão à frente de ilustres botucatuenses e - grande privilégio! - contando com 3 Patronos vivos, 3 botucatuenses que representavam a nossa cultura na Academia Paulista de Letras: Alceu Maynard Araújo, Francisco Marins e Hernâni Donato. E a ABL surgia com suas particularidades de vanguarda: tinha, além dos 3 Patronos vivos, a presença inédita de 2 mulheres como Membros Efetivos: Elda Moscogliato e Dinorah Silva e Alvarez (e nesse aspecto, antecedeu em alguns anos iniciativa idêntica da Academia Brasileira de Letras). A ABL tem apresentado uma atuação positiva e constante na vida de nossa sociedade. Quer como parceira do Poder Público nas datas cívicas quer como promotora da cultura, cultuando datas, divulgando nossos intelectuais e resgatando a nossa história e a atuação prestante de nossos antepassados. A ABL tem sabido representar a cultura de Botucatu. A ABL tem sabido bem representar a cultura da “Cidade dos Bons Ares e das Boas Escolas...” Nesta edição, a Peabiru apresenta matéria especialmente escrita pelo Prof. José Celso Soares Vieira, Presidente da Academia Botucatuense de Letras, além do trabalho elaborado pelo Acadêmico José Antonio Sartori, escrito por ocasião do Jubileu de Prata da Academia e, também em comemoração àquela data, a poesia de Vanice Camargo Alves, Membro Correspondente da Academia. O histórico da implantação da ABL , de autoria do Acadêmico Armando Moraes Delmanto, mostra em detalhes a caminhada intelectual dos botucatuenses nestes quase 70 anos. A Peabiru presta uma homenagem especial destinada à memória da Acadêmica Elda Moscogliato - a maior cronista de Botucatu ! Além do “Concurso de Crônicas Elda Moscogliato”, patrocinado pela ABL, Centro Cultural e Poder Público,

era indispensável a compilação das crônicas de Elda à respeito da ABL. Selecionamos alguns de seus trabalhos que servem como registro das principais características de nossa Entidade Cultural. É preciso sempre lembrar a vitoriosa caminhada intelectual de Elda Moscogliato. Na “Folha de Botucatu”, era a única colaboradora a ter os seus escritos indo diretamente para a gráfica sem necessidade de revisão, segundo as ordens do Mestre Pedro Chiaradia. Colaborou com o jornal “Vanguarda de Botucatu”. Na “A Gazeta de Botucatu”, foi festejada cronista com coluna lida sempre com admiração por seus leitores. Colaborou com a “Folha de Botucatu”, em sua 2ª fase no final dos anos 80 e, na Peabiru, foi articulista certa em todos os números da revista. Na ABL foi a alma mater a impulsionar e consolidar nossa Entidade Cultural. Foi, na verdade, uma vencedora! Uma vencedora que dignificou a cultura de Botucatu ! Raridade digna de registro é a Galeria dos Patronos da ABL, trabalho de Mestre de Hugo Pires que retratou, ou melhor, imortalizou os intelectuais que compõem o quadro de patronos da ABL. Essa galeria de quadros pertencente à Academia está na sede da ABL. Hoje, a ABL é presidida pela Acadêmica Carmem Slvia Martin Guimarães. (AMD)


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SESSÃO MAGNA CONJUNTA DA APL -ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS E DA ABL - ACADEMIA BOTUCATUENSE DE LETRAS. (29/03/2001). Flor Roxa de Taquara-Póca”. Com a presença de 16 acadêmicos da APL: Miguel Reale, Erwin Theodor Rosenthal – Secretário Geral representando o Presidente Israel Dias Novaes, Célio Debes, Benedito Ferri de Barros, Sólon Borges dos Reis, Anna Maria Martins, Crodowaldo Pavan, Cyro Pimentel, Fábio Lucas, Geraldo Pinto Rodrigues, Hernâni Donato, João de Scantimburgo, Lygia Fagundes Telles, Nilo Scalco, Paulo José da Costa Júnior, Francisco Marins e a bibliotecária Maria Luiza. A programação das festividades de comemoração dos 146 anos de Botucatu começou com a SESSÃO MAGNA CONJUNTA DA APL E DA ABL, realizada no Teatro Municipal “Camillo Fernandes Dinucci”. Sucesso total. Pela primeira vez, a tradicional Academia Paulista de Letras fazia sua reunião fora da capital . Certamente, uma vitória do escritor botucatuense , membro da APL e patrono da ABL, FRANCISCO MARINS! A Sessão Magna durou cerca de 3 horas, sendo dirigida pelo presidente da ABL, prof . José Celso Soares Vieira e secretariada pela profa. Carmem Silvia Martin Guimarães. Como destaque, tivemos a leitura, pelo acadêmico Hernâni Donato, de uma poesia do príncipe dos poetas brasileiros e membro da APL, Paulo Bomfim, intitulada “EU VOU PRA BOTUCATU”. A entrega do troféu “A Flor Roxa de Taquara-Póca” homenagem do “Convivium – Espaço Cultural Francisco Marins” aos botucatuenses merecedores desse reconhecimento: prof . Pedreti Neto (in memorian) e acadêmico Hernâni Donato. A entrega do troféu e a saudação aos homenageados coube, respectivamente, aos Drs. Adolpho Dinucci Venditto e Armando Moraes Delmanto. (Diário da Serra, sábado/domingo, 31 de março/1º de abril de 2001 – A Gazeta de Botucatu, 06/04/2001))

Na quinta-feira, dia 29/03/2001, as duas Academias realizaram memorável Sessão Magna, quando foi entregue o troféu “A

OS 90 ANOS DE MIGUEL REALE O discurso proferido pelo então Decano dos Acadêmicos da APL, o festejado Professor Miguel Reale, repercutiu muito bem entre a seleta platéia. Com uma brilhante e vibrante oratória, Reale homenageou os acadêmicos botucatuenses, Francisco Marins e Hernâni Donato e relembrou as suas passagens pela cidade de Botucatu . Professor Catedrático da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, ex-Secretário da Justiça e da Educação do Estado, ex-Reitor da USP, Membro Efetivo das Academias Paulista e Brasileira de Letras, o Professor Miguel Reale, nas palavras do acadêmico João de Scantimburgo “é uma das principais figuras da inteligência brasileira”. Botucatu, com certeza, recebeu um grande presente com a visita da APL – Academia Paulista de Letras e a presença e manifestação de seus membros na festejada Sessão Magna. (Revista Peabiru, edição nº 28 de 2009)


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Há oitenta e nove anos as lanças da nossa bandeira são de paz. Mas não tenho dúvidas de que se o Estado de Direito Democrático vier a ser ameaçado por uma nova ditadura – seja de direita ou de esquerda – elas, que continuam a tremular, não hesitarão em, mais uma vez, defender a democracia... *em memória dos que tombaram pelos ideais de 32 e do engenheiro Elias Machado de Almeida, meu sogro, que integrou a Segunda Diretoria do MMDC.

“Bandeira da minha terra, Bandeira das treze listas. São treze lanças de guerra, Cercando o chão dos paulistas!”.

No pátio das Arcadas, no monumento com a luz sempre acesa lembrando seus estudantes, a frase que se tornaria o mais conhecido dos cantos acadêmicos: “Quando se sente bater, no peito a heroica pancada, deixa-se a folha dobrada, enquanto se vai morrer”. De Guilherme de Almeida são também os versos que traduzem a coragem e determinação dos revolucionários:

ção, Guilherme de Almeida foi seu poeta. É dele a inscrição na parte externa do Obelisco que, fazendo referência aos combatentes moços lá sepultados, diz: “Viveram pouco, para morrer bem. Morreram jovens, para viver sempre”.

O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.

paulista: tanto as mulheres ricas quanto as pobres deram suas joias à nobre causa, estas as únicas que tinham: suas alianças de casamento ou de noivado. Jovens de menos de 18 anos fugiam de casa para tentar se alistar... O emocionante e unânime apoio popular desmente uma das difamações que 32 tem sofrido: a de que teria sido uma revolução das elites, principalmente cafeeira. Outro ultraje restou igualmente desmentido: o de que seria um movimento separatista, pois jamais se ouviu de um só de seus líderes tal propósito. Derrotada nas armas, a Revolução saiu moralmente vitoriosa. Em 1934, o ditador outorgava a Constituição Federal e, em 1935, eram promulgadas as Constituições Estaduais. Ante o pouco caso da imprensa e das infâmias de seus detratores, 32 é lembrado pelo nome de duas das mais importantes Avenidas da capital paulista: a 23 de Maio e a 9 de Julho. Junto ao Parque do Ibirapuera, um dos primeiros Viadutos sobre a 23 de Maio tem o nome do General Euclides Figueiredo, último dos revolucionários a baixar suas armas. Defronte ao Obelisco que guarda os corpos dos heróis que caíram, a estátua de Ibrahim Nobre, promotor público que com sua formidável oratória recebeu o título de “Tribuno da Revolução Constitucionalista”. Se Ibrahim foi o tribuno da Revolu-

(em comemoração ao dia 9 de Julho)

A REVOLUÇÃO ESQUECIDA

ARTIGO

A Revolução Constitucionalista de 1932, momento maior da história paulista, cada vez mais vem sendo esquecida. Nos últimos anos, os jornais a têm mencionado apenas em pequenos espaços de páginas secundárias. Quando o ditador Getúlio Vargas, traindo os ideais da Revolução de 1930, recusou-se a outorgar uma Constituição, São Paulo se rebelou. O estopim se deu no dia 23 de maio, quando populares tentaram invadir a sede do partido governista, sendo recebidos à bala. Quatro jovens, dois estudantes da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, um comerciário e um menor, caíram mortos: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo. As iniciais de seus nomes – MMDC – deram origem à organização secreta que preparou a Revolução. Seu início militar ocorreu no dia 9 de julho. Abandonado por aliados de outros estados, São Paulo lutou heroicamente por cerca de três meses. Batalhas sangrentas ocorreram no município de Cunha, vizinho a Parati, de onde vinham as tropas federais. Um dos revolucionários – Paulo Virgínio – foi preso e torturado até a morte sem revelar a posição em que se encontravam os companheiros. Seu nome foi dado à Rodovia Cunha-Parati. Quando a munição acabou, o gênio bandeirante inventou um simulacro de arma – apelidado de matraca – cujo barulho assemelhava-se ao de uma metralhadora, assustando os soldados governistas. Os ideais revolucionários atingiram todas as camadas da população

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Ao fazer uso da palavra, Ibrahim disse aos jurados: “Eu, Ibrahim Nobre, paulista de quatrocentos anos, vos garanto que o acusado é inocente”. Em lendário aparte, César retrucou, igualmente se dirigindo aos jurados: “Eu, César Salgado, paulista de quatrocentos anos, vos garanto que o acusado é culpado”. E, para deleite da assistência, aduziu: “E vamos aos debates...”

Acadêmico Cesar Salgado discursando na posse festiva da ABL – Academia Botucatuense de Letras. No próximo dia 9 de Julho, a ABL estará comemorando mais um aniversário de fundação.

AOS DEBATES

DIRETOR: Armando Moraes Delmanto

César Salgado e Ibrahim Nobre foram os dois grandes promotores do júri paulista na primeira metade do século passado. Oradores brilhantes, de enorme cultura, não só jurídica, e moral inatacável, eram debatedores praticamente invencíveis. A história de ambos se confunde com a própria história do Ministério Público bandeirante. O busto de Ibrahim encontra-se hoje no Plenário do antigo Tribunal do Júri paulistano, atual Museu do Tribunal de Justiça, junto com o de meu pai, Dante Delmanto. No Salão dos Passos Perdidos da mesma Corte, situado entre a entrada principal e o Museu, o busto de Rui Barbosa, o maior dos advogados brasileiros. Em outras dependências do Palácio da Justiça, os bustos de César Salgado, de Nilton Silva, famoso promotor de meados do século passado, e dos criminalistas Antonio Covello, Marrey Júnior, Américo Marco Antonio, Euvaldo Chaib e Antonio Augusto de Almeida Toledo. César Salgado, certa vez, referindo-se à palavra, disse que ela era tão importante, que Deus, antes de criar o mundo, ao dizer, “cria-te mundo”, a havia criado... Depois de se aposentar, Ibrahim, um dos líderes da Revolução Constitucionalista de 1932, foi defender, como advogado, um acusado de homicídio. Na outra tribuna do júri, pela acusação, estava seu amigo e ex-colega César Salgado, ainda na Promotoria.

Roberto Delmanto

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Botucatu e a Epopeia de 32

do livro “Gente de Dantes”, de Luiz Baptistão, 2004. Da esquerda para a direita, o 3º é o Jayme e o 4º é o Sebastião, os irmãos Almeida Pinto. Os festejos de 9 de Julho – feriado estadual – correram de forma bem modesta, como sempre, neste ano de 2013. É sempre bom repetir que a Secretaria Estadual da Educação precisa colocar na grade curricular o histórico da Revolução Constitucionalista de 1932 e toda a importância cívica que teve para a construção da Democracia no Brasil. É preciso que lembremos da Revolução Constitucionalista de 1932 para que possamos homenagear os heróis daquela epopeia paulista por uma CONSTITUIÇÃO! Perdeu-se a guerra, mas o Brasil ganhou a sua CONSTITUIÇÃO, fruto da Assembléia Constituinte de 1934. A REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA atingiu seu objetivo de dar uma Constituição ao Brasil. Hoje, outros são os tempos. E a SOCIEDADE ORGANIZADA está mobilizada para as MUDANÇAS necessárias para que o país viva a plenitude de um ESTADO DE DIREITO! Abaixo, o artigo “Botucatu e a Epopéia de 32”, que escrevemos para a revista cultural PEABIRU, nº 16 – Ano II – Julho/Agosto de 1999:

BOTUCATU E A EPOPÉIA DE 32

“A nossa cidade participou com destaque do maior movimento cívico vivido pelo nosso povo: A Revolução Constitucionalista de 1932. Apesar de o movimento revolucionário de 1930 ter recebido amplo apoio das forças paulistas, com expressivo apoio também em Botucatu, os seus objetivos foram fraudados pelo caudilhismo que foi representado pela liderança de Getúlio Vargas. Uma vez instalado no Poder, o caudilho Vargas passou a governar fora do Estado de Direito, violando as mais elementares regras do Estado de Direito. São Paulo, como sempre, assumiu a liderança de exigir o retorno do País ao pleno Estado de Direito. De início, com o apoio de vários Estados da Federação. No entanto, o poder de cooptação do Poder Central conseguiu isolar o nosso Estado. Sozinhos, os Paulistas levantaram a Bandeira da Constituição. A Revolução Constitucionalista objetivava,

tão somente, a volta do Brasil ao pleno Estado de Direito. Nada de separatismo como apregoavam os asseclas do Ditador... A mobilização foi unânime! As diferenças político-partidárias ficaram para traz. São Paulo soube compreender o momento cívico que estava vivendo e soube levantar - bem alto! -, a Bandeira Paulista! Nesse contexto é que queremos situar a participação de Botucatu. A mobilização foi geral, mas, entre os jovens, o entusiasmo atingiu o ponto máximo. Mobilizados por brilhantes oradores, a nossa juventude atendeu prontamente ao chamado, indo em defesa da CONSTITUIÇÃO! Sobre a participação dos botucatuenses na Revolução Constitucionalista de 32, nós tivemos inúmeros depoimentos de ex-integrantes do MMDC e, inclusive, um livro escrito pelo Dr. Sebastião de Almeida Pinto, participante da Revolução: “Botucatuenses no Setor Sul”.

No entanto, para melhor desenhar o cenário que abrigou essa explosão da juventude botucatuense em apoio ao ideário da Revolução, nada como trazer a palavra abalizada de um dos baluartes desse movimento e que ocupava à época o importante cargo de Juiz de Direito da Comarca de Botucatu, o Dr. Joaquim Cândido de Azevedo Marques, que posteriormente encerrou a sua brilhante carreira jurídica como Desembargador. Em memorável artigo, sob o título de “Honra ao Mérito”, publicado no jornal “Correio de Botucatu”, de 22/07/1932, o ilustre magistrado destaca o perfil dos principais líderes na mobilização da juventude, com credibilidade, civismo e competência: “O exemplo, que vou citar, é digno de registro e louvor públicos. Assim que irrompeu no Estado o movimento cívico a que assistimos, Botucatu, como se lembram, fremiu de entusiasmo, numa congregação de todas as suas forças, para os preparativos da luta, a que não podíamos deixar de concorrer. À frente da propaganda patriótica que urgia empreender; se puseram logo dois expoentes da nossa intelectualidade.

Uniram-se, captaram outros elementos de influência; organizaram e logo entraram a executar um programa de ação, vasto, multiforme e trabalhoso. O resultado está na memória de todos: alistamento, comícios, predicas cívicas e toda sorte de atividades em prol da causa sagrada. Nos comícios, notadamente, foi preponderante o papel desses moços, pelo prestígio e fecúndia do seu verbo. Oradores completos, no fundo e na forma, as suas orações calavam, seduziam, arrastavam e estimulavam a palavra de outros. Nesse terreno, o que se viu foi uma verdadeira batalha de eloquência, soberba de frutificação. Um dia, soube que os dois arautos iam partir, incorporados aos reservistas da terra. Sobressaltei-me ante a visão da lacuna sensível que íamos sofrer. Temi um esmorecimento no nosso trabalho de predicação cívica, necessário ainda para manter viva a chama patriótica em todas as camadas populares. E porque assim pensei, resolvi intervir, procurando primeiro as autoridades militares, a ver o que era possível no sentido de retardar um pouco a partida dos dois moços. E fui feliz nesse primeiro passo. De inteiro acordo os chefes militares, subordinaram o caso unicamente à vontade dos dois interessados. Fui, então, a eles, a cada um de per si, reservadamente. Expus-lhes a minha opinião, com os argumentos superiores que me animavam. Mostrei-lhes quanto a sua colaboração aqui, no trabalho que iniciaram e deviam prosseguir, pela palavra e pela pena, era indispensável, e muito mais eficiente e real, incomparavelmente que o tributo das armas, a que se propunham. Não se tratava de furtá-los, por sentimentalismo de amigo ou admirador, aos azares da guerra. Meu escopo era mais nobre, justo, superior, pois visava não perdermos aqui dois elementos à mantença do fogo sagrado. Nem só de soldados se precisa nos momentos como este, maximé quando há pletóra de guerreiros. O concurso intelectual, o trabalho da pena e, sobretudo, a força da palavra, são inestimáveis. Isso, o que estamos vendo na Capital, onde a flor da intelectualidade paulistana está a postos, dia e noite, na imprensa, na tribuna, nos comícios, nos microfones, em suma, no trabalho de exortação cívica, sem a qual pouco conseguiria a materialidade da guerra. Enfim, fui eloquente como pude para atingir o meu desideratum.Ouviram-me, entre sensibilizados e modestos. Afinal, quando lhes coube opinar, não hesitaram, e a resposta, de um como de outro, foi uma só: - “Dr., impossível acatar o seu apelo. Sentimos, não apenas pensamos, sentimos necessidade de partir, isto, em nós, é superior às razões que o Dr. nos apresenta, a despeito da superioridade bondosa em que são calcadas. Preferimos seguir. Talvez a nossa utilidade nas fileiras seja mesmo menor do que aqui. Mas, já demos um pouco da nossa inteligência à causa que esposamos. Queremos, agora, dar largas ao


8 coração... E assim foi que partiram esses dois moços que se chamam SYLVIO GALVÃO e AMARAL WAGNER. Se já eram grandes no meu conceito, agigantaram-se agora. A eles - este singelo tributo de incontida admiração!”

Esse artigo é o que podemos chamar de verdadeira interpretação histórica do movimento revolucionário, eis que é um testemunho de um dos líderes cívicos do movimento em nossa cidade, Juiz de Direito e Cidadão Prestante! Dessa forma, os nomes do Dr. Sylvio Galvão e do Prof. Amaral Wagner ficam em indiscutível destaque no histórico dessa epopeia cívica que marcou profundamente a cidade de Botucatu. À época, a vida intelectual de nossa cidade fluía da já famosa Escola Normal, de onde tanto Sylvio Galvão como Amaral Wagner tinham o seu campo de trabalho. Da Normal a cidade de Botucatu recebia os efluxos positivos do nacionalismo sadio, calcado na Lei. Da Normal a cidade recebia a palavra confiável, a convocação esperada e a mobilização patriótica! Era a “intelligentzia botucatuense” a marcar a sua presença, a dizer sim à convocação cívica em defesa da Pátria e do Estado de Direito! Também como interpretação histórica podemos incluir todo o trabalho do saudoso Dr. Sebastião de Almeida Pinto, ele mesmo um revolucionário a atestar a presença e o destaque desses dois botucatuense. Nas comemorações do 25º Aniversário da Revolução Constitucio-

nalista de 1932, o Dr. Sebastião escreveu para o “Jornal de Botucatu”, o artigo “Botucatuenses no Setor Sul”: (jornal “FOLHA DE BOTUCATU” - 15 de julho de 1988) “1932. Mês de Maio. São Paulo era um vulcão. Prestes a explodir. Os paulistas cheios,

Diário da Cuesta cansados da exploração pelos agentes ditatoriais, estavam por aqui... O povo paulista estava preparado, psicologicamente, para uma revolução. Nas ruas diziam, em tom de troça: “- O baiano Artur Neiva, afirmara certa vez, que São Paulo era a locomotiva que arrastava vinte vagões. Mas em 1932, o pobre São Paulo nada mais era que um vagão restaurante...” Bastava uma centelha para incendiar a massa saturada de prepotência e desmandos, ansiosa pela volta ao regime democrático. E veio o 23 de Maio. O povo, pisoteado e espingardeado na praça pública, clamava vingança. Os rapazes imolados à sanha dos agentes da ditadura, deram origem ao M.M. D.C., núcleo inicial do movimento que deveria explodir logo mais. Estava escrito. E Ibrahim Nobre, o Tribuno da Revolução, assim o proclamava. Chegou o dia 9 de Julho. A Capital, era um incêndio inestinguível. Em Botucatu, o ambiente era tranquilo. Uma calma impressionante. À noite, no “Clube 24 de Maio”, um retumbante baile, congregava a sociedade local. Era o Baile da Maioridade, onde só dançavam os maiores de 21 anos, os velhos galos de S. Roque, num acinte aos frangótes que imperavam os salões botucatuenses, obrigados a ficar de espera até depois da meia-noite... Na madrugada do dia 10, começaram a circular os rumores de levante na Capital. Os velhos rádios, rouquentos e cheios de estática, difundiam as primeiras notícias do grande movimento que iria empolgar S. Paulo todo: A Revolução Constitucionalista. Um entusiasmo louco dominou o Estado. Na Capital e no interior. Tudo foi relegado para um segundo plano. Só se falava, só se pensava, só se agia revolucionariamente. A velha fibra bandeirante, em toda sua plenitude, operou milagres. A gente de Piratininga demonstrou que o paulista não era apenas homem do trabalho. Bom somente para plantar café e ganhar dinheiro. Nas horas duras, a gente do altiplano também sabia lutar. E como lutaram, os laboriosos e pacíficos descendentes do Anhanguera! Na pacata Botucatu, com o correr dos dias, criou-se mentalidade guerreira. Com a previsão de que a luta iria se prolongar por longos meses, os homens válidos, reservistas ou não, entraram a se organizar militarmente. Para a defesa do brio paulista e da integridade de São Paulo, esqueceram-se ressentimentos. Olvidaram-se paixões políticas. E uma frente única se formou. Na residência do Dr. Silvio Galvão estabeleceu-se um pequeno quartel general, para apresentação de voluntários e recebimento de auxílios para o movimento que constituiria uma verdadeira epopeia nacional dezenas de moços, diariamente se apresentavam, ou melhor, iam diretamente para São Paulo e Quitaúna, de onde partiam os batalhões que no Norte , no Sul, na Mantigueira e outros setores, lutavam arduamente para o restabelecimento da legalidade. Estava morrendo gente a valer, mas isso não impedia que os voluntários acorressem em massa. Até o elemento feminino colaborava eficientemente, em múltiplas atividades. Mulheres mais decididas envergavam a farda e empunharam o fuzil, indo para

o campo de luta. São Paulo ensanguentado e coberto de luto, era um gigante que impunha respeito e admiração. Integrado na Revolução, também me apresentei como voluntário. Com meus irmãos, meus parentes, meus companheiros de trabalho, com meus amigos e muitos desconhecidos, todos irmanados no ideal de paulistanismo e brasilidade, abandonamos interesses, família, comodidades e atiramo-nos à luta. Do quartelzinho na casa do Silvio Galvão, eu me lembro, partiram José do Amaral Wagner, Luiz Pinho de Carvalho, Jayme de Almeida Pinto, Américo de Souza e Silva, Brasílio Damato, Oscarlino Martins, Jorge Barbosa de Barros, Orlando Pinheiro Machado, Lucídio Paes de Almeida, Germinal Serrador, Maneco Paes de Almeida, Sinésio de Oliveira, Julião Pires de Campos Filho, Antonio Piccinin, Antonio Augusto Pedro ( Guarantã), Silvio Galvão, Olavo Ponciano, Edward Paes de Camargo, Salvador Assumção, e inúmeros outros, cujos nomes infelizmente me escapam. Numerosos botucatuenses, aliás, já estavam engajados no movimento e lutavam bravamente, incorporados a batalhões do Exército, da Polícia e de voluntários. O Exército Constitucionalista integrado por centenas de milhares de homens, vibrantes de patriotismo e entusiasmo, não tinha armas e nem munições suficientes. Mas, tinha patriotismo, civismo e ideal para dar e sobrar.” São Paulo não ganhou a guerra desproporcional mas saiu vitoriosa: o Ditador Getúlio Vargas teve, essa é a verdade, ele teve que convocar as tão desejadas Eleições Constituintes! Haviam conseguido “brecar” São Paulo pelas armas, mas o povo brasileiro já havia sido “contaminado” pelo patriotismo e pelo desejo de ver o Estado de Direito reimplantado no País! Os ideais constitucionalistas da Revolução de 32 fincaram raízes profundas no sentimento patriótico do povo brasileiro. O Ditador Vargas não teve outra opção se não a convocação da Assembléia Nacional Constituinte. A nível nacional e nos Estados, foram eleitos os Deputados com a missão maior de elaborar a Constituição Brasileira e as Constituições Estaduais. Nesse contexto, Botucatu também saiu vitoriosa: elegeu como Deputado Federal Constituinte, o Dr. Antonio Carlos de Abreu Sodré, que já havia exercido a vereança na cidade e era o Promotor Público da Comarca de Botucatu; e elegeu como Deputado Estadual Constituinte, o jovem advogado botucatuense Dr. Dante Delmanto, colega de escritório de advocacia do grande líder civil do movimento revolucionário Dr. Adriano Marrey Júnior. A Revista Peabiru procurou resgatar a atuação de destaque que tiveram esses dois ilustres educadores botucatuenses - Sylvio Galvão e Amaral Wagner ! - na preparação e mobilização dos botucatuenses para a Revolução Constitucionalista de 1932. E nesse resgate, procuramos trazer o cenário real onde toda essa mobilização ocorreu. Com testemunhos de absoluta imparcialidade, a mostrar como a nossa cidade soube integrar-se nessa campanha cívica. Dr. Sylvio Galvão, Prof. Amaral Wagner, saudades... (AMD – Blog do Delmanto).


Diário da Cuesta

“A Intelligentzia Botucatuense”!

Nas homenagens prestadas pela ACADEMIA BOTUCATUENSE DE LETRAS, em seus 44 anos de existência à intelectualidade botucatuense, – 09 de Julho de 1972/2016 – participamos e queremos destacar três dessas justas manifestações de nossa ACADEMIA.

HERNÂNI DONATO

Quando da histórica reunião conjunta da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – APL e da ACADEMIA BOTUCATUENSE DE LETRAS – ABL, idealizada pelo presidente emérito da APL, acadêmico Francisco Marins e presidida pelo acadêmico José Celso Soares Vieira, presidente da ABL, realizada no TEATRO MUNICIPAL “CAMILLO FERNANDES DINUCCI”, no dia 29 de março de 2001, foram homenageados dois ilustres botucatuenses: prof. José Pedretti Neto ( in memoriam – área da educação) e o escritor Hernâni Donato (historiografia). A emoção deu o tom à cerimônia de entrega do troféu “A Flor Roxa de Ta-

quara Póca” aos homenageados na segunda parte da Sessão Magna das APL e ABL. A premiação é uma realização do “Convivium – Espaço Cultural Francisco Marins”. Na ocasião, a viúva de Pedretti Neto, profa. Laurentina Peres Pedretti recebeu o troféu das mãos do Dr. Adolpho Dinucci Venditto e o escritor Hernâni Donato recebeu seu troféu das minhas mãos. Grande honra. Na ocasião, pude fazer o meu discurso em homenagem a esse saudoso e importante escritor botucatuense. O dramaturgo botucatuense, Alcides Nogueira, também discursou em seu nome e no de Leilah Assumpção. Ambos foram premiados com o troféu há 2 anos. (Diário da Serra, sábado/domingo, 31 de março/1º de abril de 2001 – A Gazeta de Botucatu, 06/04/2001))

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Na ocasião, como presidente da ABL, fiz a entrega do troféu ao ilustre botucatuense, ex-Diretor do Banco Sudameris, Milton Marianno e o prefeito municipal, Mário Ielo, fez a entrega do troféu à Sra. Lourdes Peduti Soares Batista, filha do homenageado e representante da família. (Diário da Serra, 25/05/2004 – A Gazeta de Botucatu, 28/05/2004)

GLORINHA DINUCCI

MILTON MARIANNO

Em mais uma realização da ACADEMIA BOTUCATUENSE DE LETRAS – ABL e do CONVIVIUM – ESPAÇO CULTURAL FRANCISCO MARINS, em 21 de maio de 2004, no TEATRO MUNICIPAL “CAMILLO FERNANDES DINUCCI”, foi entregue o prêmio “Flor Roxa de Taquara Póca”, a dois ilustres botucatuense: o economista Milton Marianno e o empresário e ex-prefeito de Botucatu, Emílio Peduti (in memoriam). A sessão foi presidida pelo Dr. Fernando Marins, representando o Convivium e tendo como apresentador oficial o acadêmico da ABL, Bahige Fadel.

E, na terceira homenagem, a profa. Maria da Glória Guimarães Venditto – a Glórinha Dinucci, pioneira do colunismo social em Botucatu. Na ocasião, a professora, jornalista e colunista tomou posse na ABL – ACADEMIA BOTUCATUENSE DE LETRAS, em 04 de junho de 2004, em concorrida cerimônia realizada no Colégio Santa Marcelina. A apresentação da nova integrante da ABL foi feita pelo acadêmico Bahige Fadel. Em sua tese acadêmica, destacou o patrono de sua Cadeira nº 21, o poeta VICENTE DE CARVALHO, que tinha orgulho em ser poeta que gostava de escrever sobre o mar. A nova acadêmica destacou também a importância de seus antecessores na ABL: TRAJANO PUPO JÚNIOR e ÁLVARO JOSÉ DE SOUZA. O medalhão da ABL foi entregue por mim, como presidente da ABL, sendo que o Diploma de Membro Efetivo foi entregue pelo Secretário da ABL, acadêmico Marcos Luciano Corsatto. Na sessão, receberam o “Diploma de Honra ao Mérito”, a professora e socióloga Jair Conti e o economista Fúlvio Chiaradia. (Diário da Serra, 11/06/2004 – A Gazeta de Botucatu, 11/06/2004)


Diário da Cuesta

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LEITURA DINÂMICA DR. MARÃO

Na cátedra de magistrado ou na presidência da Academia Botucatuense de Letras; na direção das Ligas Esportivas ou nas aulas de Matemática das várias escolas; na coluna do jornal ou na oratória tranquila, no Lions entre os lionistas ou no lançamento da pedra fundamental da Sociedade Libanesa local, ele foi o homem sereno e convincente, foi o juiz humano e o professor compreensivo, foi o orador agradável e caudaloso que se sentia bem entre os amigos – e os teve muitos e copiosamente – e que agradou e atraiu seus admiradores. O Dr. Antonio Gabriel Marão era de Taquaritinga, onde possuia raízes fundas dos ancestrais. Lá cresceu, fez os primeiros estudos e lá se casou, a seu tempo, com a professora Lídia Menon Marão. Frequentou a Faculdade do Largo de São Francisco, em São Paulo, onde doutorou-se em Direito. Mediante concurso público promoveu-se a Juiz de Direito. Fez de Botucatu sua segunda terra natal. Na política foi aqui Vereador por treze anos

ELDA MOSCOGLIATO

consecutivos. Por indicação do então Vereador Antônio Delmanto , recebeu, por unanimidade de seus pares, o título de Cidadão Botucatuense. O Marão teve uma legião de amigos e admiradores, em todas as camadas sociais. Foi um benemérito. Só quem lhe frequentou a mansão belíssima, conheceu-lhe os dons do espírito e a sua imensa prodigalidade Profundamente humano, o Marão teve um proceder cavalheiresco, lhano, atencioso. No Lions Clube de Botucatu, fez-se Governador de Distrito por quatro vezes unanimemente reeleito, ferindo as severas regras do Lions Clube Internacional. Ainda no mundo lionístico, foi sócio-chave, detentor de um sem número de honrosas medalhas e diplomas honoríficos. Foi sócio fundador do Lions de São Manuel, Conchas e Avaré, por isso possuiu os chamados prêmios de extensão. Conselheiro da Associação Paulista dos Municípios. Foi ainda, Presidente de Entidades Literárias e Recrea-

Cronista Maior – O destaque fica para os ensinamentos e a postura profissional da saudosa cronista Elda Moscogliato. Uma das idealizadoras e Alma Mater da ABL – Academia Botucatuense de Letras e a mais respeitada militante da imprensa botucatuense, Elda fez escola em nosso meio cultural e jornalístico. Desde seu início na Folha de Botucatu, passando pela Gazeta de Botucatu, pelo Vanguarda de Botucatu e em todas as edições da revista cultural de Botucatu, a Revista Peabiru. Em todos esses órgãos de nossa

tivas de Taquaritinga, Itápolis, Pereira Barreto e Botucatu. Teve participação ativa na Revolução de 1932, o mais soberbo movimento de civismo da terra bandeirante, engrandecendo as páginas históricas do Brasil. Teve a Medalha Vital Brasil, do MMDC e da Assembléia Legislativa. Foi Comendador pela Ordem de Santo Amaro e Grande Oficial pela Ordem Bandeirante. Foi Membro Efetivo da Academia Piracicabana de Letras e Presidente Vitalício, por cinco vezes reeleito, da Academia Botucatuense de Letras. Graças à sua indiscutível atividade, ao seu grande entusiasmo e empenho em vê-la firmar-se sobre suas bases, a gloriosa ABL caminha para o seu Cinquentenário , assegurando aos seus membros absoluta estabilidade, constituindo-se para o Marão “filha predileta” que lhe propiciou momentos agradabilíssimos de estudos, prazeroso lazer e o mais fraterno e cordial convívio entre amigos.

imprensa, atuou como exemplo de jornalista e cronista. Possuidora de cultura admirável, possui no prelo inúmeras obras que só engrandeceriam Botucatu e mostrariam, de forma inconteste, o valor da mulher nas letras e na imprensa. A USC – Universidade do Sagrado Coração (Bauru), já mostrou interesse em adquirir todo o seu acervo e em editar seus livros. Com a palavra o setor cultural de nossa Prefeitura... PRESIDENTES DA ABL – ACADEMIA BOTUCATUENSE DE LETRAS Antonio Gabriel Marão José Celso Soares Vieira Maria Amélia Blasi de Toledo Piza Evanil Pires de Campos Newton Colenci Antonio Evaldo Klar Carmem Sílvia Martin Guimarães (atual)


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