Edição 539

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Diário da Cuesta NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU ANO II Nº 539 SÁBADO/DOMINGO, 30/31 DE JULHO DE 2022

Mário Quintana

Um mural assinado pelo artista Eduardo Kobra em uma fachada do Colégio Farroupilha, em Porto Alegre, homenageou o poeta.

Mário Quintana

(1906-1994), nasceu em Alegrete/Rio Grande do Sul, no dia 30 de Julho de 1906. Foi um poeta, tradutor e jornalista brasileiro. Foi considerado um dos maiores poetas do século XX. Mestre da palavra, do humor e da síntese poética, em 1980 recebeu o Prêmio Machado de Assis da ABL e em 1981 foi agraciado com o Prêmio Jabuti. Página 3

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Diário da Cuesta

O PERDÃO DO PASSIONAL Roberto Delmanto Os jornais deram a trágica notícia com grande destaque: o marido desferira cerca de trinta facadas na mulher, dez no irmão e uma nele próprio. Ninguém morrera. Preso em flagrante logo após ter sido medicado em um hospital, o acusado, um jovem comerciante, deu sua versão: viera do Nordeste com a esposa; depois de alguns anos, já estabelecido, trouxera o irmão mais moço para morar com eles; no início ia tudo bem, até que recentemente começou a notar algo estranho entre ambos; na data dos fatos, ao acordar de madrugada, não encontrou a mulher no leito; ao procurá-la, achou-a na cama do irmão com este; desesperado, pegou uma faca na cozinha, golpeou-os, não se recordando por quantas vezes, e depois tentou se matar. Ouvidos no inquérito policial, a mulher e o irmão desmentiram sua versão. Segundo eles, o acusado, depois que começara a frequentar um terreiro de umbanda, passara a se comportar de forma esquisita; na noite do ocorrido, estavam dormindo, cada um em seu quarto, quando foram acordados, passando a serem esfaqueados. Tendo assumido a defesa do comerciante, constatei, pelos laudos de exame de corpo de delito, que só a facada desferida nele próprio tinha sido profunda; as dadas na mulher e no irmão haviam sido todas superficiais, evidenciando que ele não queria realmente matá-los. Com essa prova, foi-lhe concedida liberdade provisória. Em Juízo, o acusado manteve a mesma versão que dera na polícia. Já a mulher e o irmão não foram encontrados; tinham voltado para seu Estado natal. Ao término da instrução judicial, a esposa enviou uma carta ao marido, manuscrita por ela, confirmando que a versão dele era verdadeira. Juntei-a ao processo, tendo o Promotor duvidado de sua autenticidade; o Instituto de Criminalística, ao compará-la com a assinatura dela no depoimento policial, comprovou, entretanto, que a mesma era autêntica. Naquela época, aqueles que eram mandados a júri deviam apresentar-se à prisão, ainda que fossem primários

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e de bons antecedentes. Pronunciado, antes de se apresentar, o acusado disse-me que gostaria de visitar os pais no Nordeste, pois não sabia a quantos anos iria ser condenado. Ponderei que não seria bom que ele se encontrasse com a mulher e o irmão, que estavam residindo na mesma cidade dos seus genitores, afim de evitar uma nova tragédia. Ele insistiu em viajar e eu não consegui dissuadi-lo. O dia do julgamento chegou e ele não apareceu, nem deu qualquer justificativa. O Juiz decretou, então, a sua prisão preventiva. Os meses se passaram e não tive mais informações suas. Até que um dia, um primo dele me deu a surpreendente notícia: ele e a mulher tinham voltado a viver juntos, passando a morar na cidade vizinha. Como o Brasil é grande, o comerciante até hoje não foi preso nem julgado, continuando o mandado de prisão em aberto na Delegacia de Capturas de São Paulo. Embora, por terem se passado mais de vinte anos, o processo esteja prescrito...

DIRETOR: Armando Moraes Delmanto EDITORAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Gráfica Diagrama/ Edil Gomes Contato@diariodacuesta.com.br Tels: 14.99745.6604 - 14. 991929689

O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.


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Luiz Alberto Sanz

Mário Quintana

Voando para o colorido da vida Quando preparo esta mensagem, caminho por um declive. A lógica (observar para onde se caminha) puxa meu olhar para baixo, mas lá não há horizonte, só o fundo da depressão. Já é noite, as cores se esvaíram, primeiro na penumbra, depois nas trevas. O olhar é atraído para o leve lilás que ainda persiste acima das montanhas. Quer luz, quer cores. Assim, escolho os poemas que sairão das gaiolas esta madrugada, livrando da poeira as asas. Versos que buscam o colorido da vida, arejando as feridas, cicatrizando as chagas. Falar assim, é falar de Mário Quintana, cuja poesia - dizendo poesia, digo ethos - tanto apavorava os acadêmicos que estes jamais o aceitaram em seu clube fechado, ali na Esplanada do Castelo. Em 30 de julho passado, Mario de Miranda Quintana teria cumprido 100 anos, não tivesse comparecido ao encontro com a morte em 5 de maio de 1994, em Porto Alegre. Do gaúcho, de Alegrete, que amava a solidão e a ironia, conhecido como o poeta das coisas simples, começo recolhendo poema que Rosana Zucolo enviou-me no começo de setembro (penso, só agora, será que não foi esse o mote para que, três dias depois, eu me lançasse aos “diálogos poéticos”?):

Inscrição para uma Lareira A vida é um incêndio: nela dançamos, salamandras mágicas... Que importa restarem cinzas se a chama foi bela e alta? Em meio aos toros que desabam, cantemos a canção das chamas! Cantemos a canção da vida, na própria luz consumida... Embarco em seus versos nessa viagem verdadeira da qual Maria do Carmo Cabral me lembrou em sua tese “Encontros que nos movem”, citando A Verdadeira Arte de Viajar, ao dizer:

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Segundo Deleuze o escritor vive à espreita. Mario Quintana (1989) traduz muito bem essa atitude de estar no mundo à espreita, de “alma aberta”, quando escreve: A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa, Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo. Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali... Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando! Por se colocar à espreita e por sua sensibilidade, o escritor é capaz de andar pelos vários caminhos do mundo e de ver e ouvir, nessas andanças, coisas excessivas, que o desgastam (Deleuze, 1997). Consegue captar mistérios, entrar em contato com os interstícios, com a respiração do mundo. Tudo isso o cansa, o ameaça, o afeta. Por sua saúde, para continuar vivendo, ele escreve. Acrescento mais um poema, exercício sobre as próprias palavras e o amor que as incendeia, buscado no sítio Releituras.

Eu queria trazer-te uns versos muito lindos Eu queria trazer-te uns versos muito lindos colhidos no mais íntimo de mim... Suas palavras seriam as mais simples do mundo, porém não sei que luz as iluminaria que terias de fechar teus olhos para as ouvir... Sim! Uma luz que viria de dentro delas, como essa que acende inesperadas cores nas lanternas chinesas de papel! Trago-te palavras, apenas... e que estão escritas do lado de fora do papel... Não sei, eu nunca soube o que dizer-te e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento da Poesia... como uma pobre lanterna que incendiou! E encerro com:

Das utopias

Se as coisas são inatingíveis... ora! não é motivo para não quere-las... Que tristes os caminhos, se não fora a mágica presença das estrelas! Saudações a todos, mesmo que as nuvens ainda ocultem as estrelas.


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Diário da Cuesta

LEITURA DINÂMICA

– O DIÁRIO tem resgatado sua memória e prestado homenagem ao poeta-passarinho. Sempre trazendo seu famoso “Poeminha do Contra”.

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– Considerado como o poeta do amor, o Poeta-passarinho foi rejeitado por 3 vezes na ABL, na quarta vez, convidado pela ABL, rejeitou... No entanto, a ABL sempre foi objeto da vaidade dos políticos brasileiros: 3 ex-Presidentes da República ingressaram na Academia: Getúlio Vargas, José Sarney e Fernando Henrique Cardoso. E mais os políticos: João Neves da Fontoura, Anibal Freire da Fonseca, Cândido Motta Filho, Afonso Pena Júnior, Hermes Lima, João Luís Alves, Luís Viana Filho, Octávio Mangabeira, José Américo de Almeida e Barbosa Lima Sobrinho. Outros foram também políticos, como a maior cultura do Brasil: Ruy Barbosa.

- Um dos hóspedes ilustres foi o poeta Mario Quintana, que viveu por longos períodos no hotel entre 1968 e 1980. O escritor residia com frequência no quarto 217. Na época, Quintana trabalhava no jornal Correio do Povo, localizado a algumas quadras do Majestic. Segundo Groisman, diretor da CCMQ, Quintana não pagava pelo aluguel do quarto, vivendo no hotel em troca de favores. Foi o que aconteceu em 1980, quando Quintana foi despejado do Majestic. Nessa época, o hotel já estava em decadência e não tinha mais como arcar com os custos de um hóspede morando gratuitamente. O hotel foi transformado em CASA DE CULTURA MÁRIO QUINTANA (CCMQ), pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul.

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– O escritor botucatuense, Francisco Marins, Presidente Emérito da APL – Academia Paulista de Letras que dirigiu por 2 gestões, também foi rejeitado em sua tentativa de entrar na ABL. Escritor regionalista (ciclo do café) e autor de livros infantis, Marins é mais uma injustiça contra a cultura brasileira.

– Após ser despejado do Majestic, Quintana se mudou para o Hotel Royal. O proprietário era o comentarista esportivo e ex-jogador da seleção Paulo Roberto Falcão, que cedeu um quarto para o poeta. Solitário, Mario Quintana passou grande parte da sua vida vivendo em hotéis. Atualmente, a Casa de Cultura Mario Quintana possui uma reconstituição do quarto ocupado pelo poeta, feita com base em fotos da época e utilizando objetos pessoais do escritor.


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